Por Guilherme Diniz
Nome: Estádio Giuseppe Meazza
Localização: Milão, Itália
Inauguração: 19 de setembro de 1926
Partida Inaugural: Internazionale 6×3 Milan, 19 de setembro de 1926
Primeiro gol: Giuseppe Santagostino, do Milan, no jogo Internazionale 6×3 Milan
Proprietário: Prefeitura de Milão
Capacidade: 80.018 pessoas
Recorde de público pagante: infelizmente, o San Siro não possui dados concretos sobre recorde de público. Algumas fontes, como a Gazzetta dello Sport, afirmam que o recorde é de 83.381 pessoas no segundo jogo da final da Copa da UEFA entre Internazionale-ITA 1×0 Schalke 04-ALE, no dia 21 de maio de 1997. Por outro lado, a final da Liga dos Campeões da UEFA entre Internazionale-ITA 1×0 Benfica-POR, disputada no dia 27 de abril de 1965, teve 89.000 pessoas segundo a UEFA. E há também o amistoso Itália 3×0 Brasil, do dia 25 de abril de 1956, na inauguração do segundo anel de arquibancadas, com registros de 100 mil pessoas naquele jogo.
Alguns dizem que ele se parece com uma nave espacial, cheio de detalhes, cores e contornos futuristas. Moderníssimo aos olhares arquitetônicos. Mas, em sua essência, com uma aura retrô, octogenária. Ele não nasceu “nave espacial”. Nasceu simples, como os vários estádios que eram construídos pelo mundo nos anos 20. Ao longo das décadas, a paixão dos milanistas pelo calcio fez com que ele crescesse mais e mais. Além disso, os times da cidade ousavam em formar esquadrões cada vez mais fortes e vencedores. Eles precisavam de uma casa autêntica, imponente, única. Depois de muito concreto, ferro e tinta, ele tomou a forma ideal para abrigar as apresentações de escretes históricos. Ali, a Grande Inter enfileirou taças nos anos 60. A Nerazzurri dos recordes abocanhou os rivais na virada dos anos 80. E a mais Internazionale de todas reconquistou a Europa e dominou o país.
Naquele mesmo gramado, o Milan da trinca Gre-No-Li abriu caminho para o timaço de Nereo Rocco ganhar praticamente tudo nos anos 60. Nos anos 80, foi a vez de um trio de holandeses e outras estrelas comandarem um dos maiores esquadrões de todos os tempos. E, nos anos 2000, uma nova leva de craques recolocou o rossonero no topo do mundo. E um adendo: ele foi o palco para a seleção alemã construir seu caminho rumo à final e ao título da Copa do Mundo de 1990.
Amado por duas torcidas e gigante a ponto de abrigar histórias e títulos de dois clubes imensos, verdadeiros patrimônios do esporte mundial. É assim que o Estádio San Siro, ou Giuseppe Meazza, é conhecido e admirado. Destino de milhares de turistas que visitam Milão e palco de jogos das principais competições de futebol do mundo, o estádio é um dos mais importantes da Europa e um dos seletos a receber classificação máxima da UEFA. Espectador da evolução do calcio, o San Siro é o retrato de uma cidade apaixonada pelo futebol e sinônimo de derby entre Milan e Inter. É hora de conhecer a história do tempio del calcio.
Sumário
Uma nova casa de Calcio
A construção do San Siro começou em 1925, quando Piero Pirelli, presidente do Milan, decidiu levantar um estádio de futebol próximo ao hipódromo de San Siro, bairro de Milão, que pudesse abrigar quatro tribunas retilíneas, das quais uma delas coberta, com capacidade para 35 mil pessoas. Com projeto do engenheiro Alberto Cugini e do arquiteto Ulisse Stacchini, o estádio seria apenas para futebol, sem as tradicionais pistas atléticas em volta, com plena visão ao campo de jogo e arquibancadas bem próximas ao gramado. Com 120 operários trabalhando de 1º de agosto de 1925 até 19 de setembro de 1926, a obra saiu do papel em apenas 13 meses e meio ao custo de aproximadamente 5 milhões de liras (1,5 milhão de euros).
Com estilo típico de estádio inglês, a nova casa do calcio da cidade foi inaugurada sob nome Nuovo Stadio Calcistico San Siro, e teve como primeiro jogo um derby entre Milan e Inter, com vitória da nerazzurri por 6 a 3. Um mês depois, o estádio recebeu seu primeiro jogo oficial, na vitória do Sampierdarenese sobre o Milan por 2 a 1. Como era de propriedade do clube rossonero, o estádio foi utilizado apenas por ele nos anos seguintes, com a Inter ainda mandando seus jogos na Arena Civica.
Em 1934, o estádio foi uma das sedes da Copa do Mundo da FIFA, realizada na Itália naquele ano. Três partidas foram disputadas em Milão: Suíça 3×2 Holanda, Alemanha 2×1 Suécia e a semifinal entre Itália 1×0 Áustria, com a lotação máxima de 35 mil pessoas no estádio. Após o Mundial, ficou claro que o estádio precisava de uma ampliação, que começou a ser feita após a aquisição do San Siro pela prefeitura de Milão, em 1935. Em 1937, foi aprovado um novo projeto de expansão do estádio para aproveitar as estruturas existentes, que serviriam como base para os novos anéis de arquibancadas.
Em 1939, a obra terminou e o San Siro chegou aos 55 mil lugares. Durante a II Guerra Mundial, o Milan teve que jogar na Arena Civica por causa dos problemas de energia elétrica que dificultavam o acesso dos torcedores até o San Siro pelos bondes. Só após o conflito bélico que o rossonero voltou para seu lar. E não foi só ele: a Inter decidiu mandar seus jogos por lá também e o estádio passou a ser a casa dos dois rivais de Milão a partir de 1947. Sabendo disso, a prefeitura já imaginou uma nova reforma para deixar o San Siro ainda maior.
Nasce o gigante
Em 1955, o engenheiro Ferruccio Calzolari e o arquiteto Armando Ronca mudaram drasticamente a estrutura do San Siro com o projeto do segundo anel de arquibancadas. A capacidade aumentou para 100 mil pessoas, posteriormente reduzida para pouco mais de 85 mil por medidas de segurança. A reinauguração aconteceu no já citado amistoso entre Itália e Brasil, em 1956, com triunfo italiano por 3 a 0. A imagem arquitetônica foi modernizada pelas rampas helicoidais que permitiam acesso ao segundo anel. Em 1957, foram iniciados os trabalhos de iluminação noturna. Uma década depois, em 1967, o San Siro recebeu seu primeiro placar eletrônico.
Consolidado como um dos maiores estádios da Europa, o palco milanista recebeu em 1965 a primeira final de Liga dos Campeões da UEFA de sua história. E, curiosamente, um dos times presentes naquela partida foi a Internazionale, que teve a honra de levantar o caneco europeu em casa na vitória por 1 a 0 sobre o Benfica-POR. A principal competição de clubes do continente seria decidida outras três vezes no estádio:
- 1970 – Feyenoord-HOL 2×1 Celtic-ESC;
- 2001 – Bayern München-ALE (5) 1×1 (3) Valencia-ESP;
- 2016 – Real Madrid-ESP (5) 1×1 (3) Atlético de Madrid-ESP.
Foi nos anos 60 que o estádio passou a ser interligado com o Metrô da cidade, graças à parada Lotto – em 2015, o estádio ganhou uma estação exclusiva com a San Siro Stadio, na linha M5. Em 1980, o estádio mudou de nome pela primeira vez e passou a se chamar Giuseppe Meazza, em homenagem ao ex-craque da seleção italiana e da Inter falecido um ano antes. Mesmo com essa nova nomenclatura, o nome San Siro permaneceu no cotidiano, mas alguns interistas mais fanáticos passariam a chamá-lo apenas como Giuseppe Meazza (leia uma matéria bem legal da Trivela sobre esse tema clicando aqui).
Naquele mesmo ano, o Templo do Calcio abrigou três jogos da fase de grupos da Eurocopa. Mais alguns anos se passaram e, de novo, o San Siro iria passar por uma nova reforma. Motivo? Ser uma das sedes de outra Copa do Mundo.
A criação da “nave”
Com a Itália como anfitriã da Copa de 1990, a prefeitura de Milão decidiu dar uma nova roupagem ao estádio a partir de 1986 não só para deixá-lo mais moderno, mas também para cumprir com as exigências da FIFA. O projeto dos arquitetos Giancarlo Ragazzi e Enrico Hoffer e do engenheiro Leo Finzi deu ao San Siro um terceiro anel de arquibancadas e uma imensa cobertura sustentada por quatro torres cilíndricas de concreto armado, que seriam somadas a outras sete construídas ao redor do estádio. Além disso, todos os assentos, em policarbonato, seriam numerados e divididos por cores: vermelho e laranja para as arquibancadas retas, verde e azul para as curvas.
Só o gramado que não teria cobertura, para possibilitar jogos com condições naturais, climáticas e de luz. Falando em luz, o sistema de iluminação foi modernizado com 256 projetores que trabalham com lâmpadas de 3.500 watts. Vale lembrar que, para realizar as principais operações de reestruturação, dois guindastes de 64 metros cada foram construídos especificamente para as obras. Com essas mudanças, o templo milanista ficou muito mais bonito e ganhou ares modernos, mas sem deixar sua aura clássica de lado.
Na Copa de 1990, o San Siro abrigou seis partidas do Mundial, curiosamente cinco delas envolvendo a campeã Alemanha – três na fase de grupos e duas no mata-mata. Um dos jogos foi simbólico: no Alemanha 2×1 Holanda, nas oitavas, a torcida da cidade viu um duelo entre estrelas da Inter (Matthäus, Brehme e Klinsmann, pela Alemanha) contra ídolos do Milan (Van Basten, Gullit e Rijkaard, da Holanda). Melhor para os nerazzurris, que fizeram a festa com a classificação alemã.
Naquela década, o estádio foi sede de quatro finais de Copa da UEFA: 1991 (Internazionale-ITA 2×0 Roma-ITA, primeiro jogo da final), 1994 (Internazionale-ITA 1×0 Austria Salzburg-AUT, segundo jogo da final), 1995 (Juventus-ITA 1×1 Parma-ITA, segundo jogo da final) e 1997 (Internazionale-ITA 1×0 Schalke 04-ALE, segundo jogo da final, com vitória alemã nos pênaltis por 4 a 1). Em 1996, para atrair ainda mais fãs em todo mundo, foi inaugurado um amplo museu com as histórias, camisas e conquistas de Milan e Inter, para o deleite do fã de futebol – e as clássicas discussões entre os torcedores sobre quem é mais vencedor, quem teve mais craques…
Um patrimônio do esporte
Com mais de 80 anos, o San Siro segue como um verdadeiro tesouro do futebol e proporciona um espetáculo único a quem o visita para assistir a uma partida de futebol. Mais do que isso, ele já abrigou lutas de boxe, partidas de rúgbi da seleção italiana e shows musicais de artistas como Bob Marley, Bruce Springsteen, David Bowie, Michael Jackson, Robie Williams, Madonna, Rihanna e bandas como Genesis, Duran Duran, Red Hot Chilli Peppers, U2, Bon Jovi, Pearl Jam e Coldplay, além de vários artistas italianos. Mesmo com Inter e Milan longe de seus melhores tempos, o San Siro é um símbolo da cidade e privilegiado por ter visto a maioria dos grandes craques da história desfilarem suas virtudes por lá – até Pelé, com 50 anos, voltou a vestir a camisa do Brasil em um amistoso no dia 31 de outubro de 1990, em homenagem ao seu aniversário de meio século de vida.
Sempre em constantes mudanças, o estádio abriga hoje pouco mais de 80 mil pessoas e a prefeitura de Milão e os próprios gigantes da cidade estudam (adivinhe) novas reformas para torná-lo ainda mais moderno. Isso não será novidade, afinal, se tem um estádio que sempre resistiu ao tempo e se adequou perfeitamente às mudanças foi o San Siro. Um verdadeiro imortal do futebol.
Veja a disponibilidade de assentos atual do San Siro:
Primeiro lance de arquibancadas: 28.107
Segundo lance de arquibancadas: 32.366
Terceiro lance de arquibancadas: 19.545
Capacidade: 80.018 torcedores
Áreas especiais:
Sky Box: 300
Área VIP: 304
Área de Imprensa: 223
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Estádio lindo e totalmente à frente de seu tempo.
O incrível também é que a Arena Civica, citada no texto ainda está de pé, super bem conservada, e recebendo alguns eventos.Um tal de Brera Calcio, 3° time de Milão chegou mandar jogos lá. O detalhe é que a Arena Civica foi construida em 1807, há mais de 200 anos!!!