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Jogos Eternos – Barcelona 6×1 PSG 2017

Foto: Getty Images.
Foto: Getty Images.

 

Data: 08 de março de 2017

O que estava em jogo: uma vaga nas quartas de final da Liga dos Campeões da UEFA de 2016-2017

Local: Camp Nou, Barcelona, Espanha

Juiz: Denis Aytekin (ALE)

Público: 96.290 pessoas

Os Times:

Futbol Club Barcelona: Ter Stegen; Mascherano, Piqué e Umtiti; Rakitic (André Gomes, aos 39’ do 2º T), Busquets e Iniesta (Arda Turan, aos 20’ do 2º T); Messi; Rafinha (Sergi Roberto, aos 31’ do 2º T), Luis Suárez e Neymar. Técnico: Luis Enrique.

Paris Saint-Germain Football Club: Trapp; Meunier (Krychowiak, aos 48’ do 2º T), Marquinhos, Thiago Silva e Kurzawa; Rabiot, Matuidi, Lucas (Di María, aos 10’ do 2º T), Verratti e Draxler (Aurier, aos 30’ do 2º T); Cavani. Técnico: Unai Emery.

Placar: Barcelona 6×1 PSG. Gols: (Suárez-BAR, aos 3’, e Kurzawa-PSG, contra, aos 40’ do 1º T; Messi-BAR, aos 5’, Cavani-PSG, aos 17’, Neymar-BAR, aos 43’ e aos 46’, e Sergi Roberto-BAR, aos 50’ do 2º T).

 

“No Camp Nou, o impossível não existe”

Por Guilherme Diniz

Fim de jogo em Paris. Em uma de suas maiores atuações da história, digna dos tempos do grande time dos anos 90, o PSG faz 4 a 0 no Barcelona no duelo de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões da UEFA e coloca praticamente os dois pés nas quartas de final. Isso mesmo. O time francês aplicou sonoros quatro gols em um time que na maioria das vezes fazia essa quantidade. Foi um atropelamento que deixou os seguintes estragos: o Barça teria que reverter uma diferença jamais antes revertida em toda a história da Liga dos Campeões da UEFA, fazer uma partida perfeita no Camp Nou e torcer para que o PSG não jogasse com tanto ímpeto e apetite como o demonstrado no Parc des Princes. Quase um mês depois, o Barcelona pisou no gramado de sua casa sob uma atmosfera inesquecível. Quase 100 mil pessoas cantavam. Em uma das arquibancadas, um bandeirão mostrava o ano de 1899, a fundação do Barça, para clarear a todos o peso histórico daquele clube diante de um novato e endinheirado francês. O Barcelona evocou todo o seu passado vencedor. Calibrou a chuteira de seus jogadores. Fez valer da mística de ser um dos times com melhor pontaria do planeta, algo que César, Kubala, Evaristo, Cruyff, Romário, Stoichkov, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Eto’o tanto ajudaram a elucidar. Um gol com menos de cinco minutos de jogo seria magnífico. E ele apareceu, meio esquisito, de oportunismo, de Suárez.

O Barça encurralou o PSG em seu campo, recuperando a bola já no campo de defesa do adversário, tendo a bola por mais de 62% do tempo, como nos melhores tempos do já lendário time comandado por Guardiola. O problema é que o gol não queria mais sair. Com um ferrolho em sua área, o PSG dificultava as ações catalãs. Até que Iniesta usou o calcanhar como um truque de mágica para ludibriar os zagueiros franceses, que ficaram tontos e cometeram a falha que gerou o segundo gol, perto do finalzinho da primeira etapa. Bem, faltavam pelo menos dois gols. Em 45 minutos, era possível. Messi deixou o dele logo aos cinco minutos. Faltava apenas um! Só que Cavani fez um gol para o PSG… E o Barcelona precisava de mais três gols em pouco menos de meia hora de jogo. Um gol a cada dez minutos. Mas o relógio correu tanto que chegou aos 43’ e nada. Até que Neymar, de falta, fez o quarto. Faltavam dois. Em dois minutos? Quase impossível! Com os cinco minutos de acréscimos e sete minutos no total, dava um pingo de esperança, mas ainda sim era difícil.

Aos 46’, o árbitro marcou pênalti duvidoso para o Barça. Sem duvidar do canto que iria bater, Neymar fez mais um. O ponteiro do relógio deu mais três voltas até que o goleiro Ter Stegen, no meio de campo, quase como um volante, sofreu a falta que culminaria no improvável: o sexto gol. De Sergi Roberto, um reserva que fez explodir o Camp Nou e registrar perto dali um pequeno terremoto no sismômetro de um instituto de ciências a cerca de 500 metros do estádio. Foi uma apoteose. Mesmo com claros erros de arbitragem, pênaltis não marcados e outros totalmente discutíveis, foi uma façanha impressionante de um time que buscou a todo momento a virada e não desistiu jamais diante de um adversário atônito e deitado em sua confortável vantagem. Foi a maior virada da mais que sexagenária Liga dos Campeões da UEFA. Uma das maiores de toda a história do futebol. E curiosamente no mesmo estádio onde, em 1999, o Manchester United também protagonizou uma virada impossível na Liga dos Campeões, mas em uma final. Realmente, no Camp Nou, o impossível não existe. E aqueles 6 a 1 serviram para enfatizar tal aura. É hora de relembrar.

 

Pré-jogo

Na ida, PSG atropelou o Barça. Foto: AFP.

 

Barça e PSG não tiveram grandes problemas na fase de grupos da Liga dos Campeões de 2016-2017. Os espanhóis foram os líderes do Grupo C, com cinco vitórias e uma derrota, superando Manchester City-ING, Celtic-ESC e Borussia Mönchengladbach-ALE. Já os franceses foram os segundos colocados no Grupo A, com três vitórias e três empates, ficando atrás do Arsenal-ING e à frente do Ludogorets-BUL e do Basel-SUI. Quando o sorteio colocou catalães e parisienses frente a frente, todos trataram o duelo como o principal e mais equilibrado daquelas oitavas de final. Cheio de estrelas e buscando um espaço entre os titãs do continente, o Paris tratava a Liga dos Campeões como a grande vedete da temporada, afinal, o time não tinha adversários à altura no Campeonato Francês. Já o Barcelona não era o mesmo que havia vencido o Treble na temporada 2014-2015, mas continuava forte com seu trio MSN e esperava outra glória europeia para evitar o bicampeonato do rival Real Madrid. Mas, no primeiro jogo, em Paris, o time catalão levou um vareio de 4 a 0, com show de Di María, autor de dois gols, além de um gol de Draxler e outro de Cavani, e viu a classificação praticamente ir embora.

Reverter uma diferença de quatro gols era algo jamais visto na história da Liga dos Campeões. Outras competições europeias tinham em suas galerias grandes remontadas, como a Copa da UEFA (em 1985-1986: Borussia Mönchengladbach 5×1 Real Madrid / Real Madrid 4×0 Borussia; e em 1984-1985: Queens Park Rangers 6×2 Partizan / Partizan 4×0 Queens Park Rangers) e a Recopa da UEFA (1961-1962: La Chaux-de-Founds 6×2 Leixões / Leixões 5×0 La Chaux), mas na Liga dos Campeões, nunca. Para piorar a situação catalã, Luis Enrique anunciou que não iria continuar no comando do clube ao término da temporada alegando que precisava “descansar”. Com isso, todos acreditavam que o duelo no Camp Nou seria o primeiro adeus do treinador em um cenário praticamente irreversível.

Foto: AP

 

Mesmo assim, os jogadores tinham esperança. Luis Enrique iria abdicar dos laterais e escalar o time com três defensores e duas linhas de frente com foco total na marcação dentro do campo do PSG. O Barça iria sufocar o rival desde o primeiro minuto, roubar a bola e impor o pressing e a posse de bola tão comuns nos bons tempos do timaço de Guardiola entre 2008 e 2012. Acostumado a sempre ter grandes vantagens, daquela vez era o Barça que teria que buscar o resultado. O time testou o calibre de seus jogadores nos dois últimos jogos do Espanhol antes daquele duelo – 6 a 1 no Sporting Gijón e 5 a 0 no Celta de Vigo. Luis Enrique dizia que “se um time poderia marcar quatro gols, o Barcelona poderia muito bem fazer seis”. Por outro lado, o PSG entraria no Camp Nou com o regulamento embaixo do braço e quatro gols no placar, além de não perder por essa diferença há quase sete anos.

Torcida acreditava na virada. Foto: reprodução EI.

 

Camp Nou lotado e pronto para a história.

 

No dia do jogo, o Camp Nou estava simplesmente estonteante. Com mais de 96 mil pessoas, o templo catalão pulsava em busca da façanha histórica. A torcida tremulava bandeiras, bradava cânticos de apoio. De um lado da arquibancada, um bandeirão com o ano da fundação do clube buscava na mais que centenária história blaugrana os heróis e a mística para reverter o impossível. 1899. Era muita história. Muita camisa. Aquela virada seria pela honra. Pela hierarquia do futebol.

 

Primeiro tempo – Gols espíritas e primeiros erros

Primeiro gol de Suárez: a bola entrou!

 

Escalado em um ousado 3-3-1-3, sem laterais, com um volante na contenção e praticamente seis homens ofensivos, o Barcelona foi com tudo pra cima do PSG em um esquema de jogo quase suicida, mas apenas aplicável por equipes que têm em sua aura a ofensividade sem limites. A sina por marcar gols, por deliciar narradores e torcedores. O Barcelona podia jogar daquela maneira. Ele sabia como poucos o caminho. No pressing, no sufoco, manteve o rival em seu próprio campo de defesa e, com apenas três minutos, a bola foi levantada na área, Suárez apareceu no meio dos zagueiros, meteu a cabeça na bola e viu a redonda cruzar a linha do gol mesmo com a rifada de um defensor: 1 a 0. Ou 1 a 4. Era tudo o que o Barça precisava. Um golzinho logo no início.

Foto: Getty Images.

 

O PSG sentiu o baque. O Barça foi com tudo. Como um rolo compressor. O PSG simplesmente não conseguia criar. Matuidi levou amarelo com menos de seis minutos. Com a pressão de seus homens de frente, o Barça roubava a bola com facilidade. Dos 4’ aos 10’, o PSG ficou encurralado e a bola nem sequer passou do meio de campo. Pela esquerda, o Barça criava suas melhores chances. Aos 11’, o PSG chegou pela primeira vez com Draxler, que chutou em cima de Mascherano, a bola bateu no braço do argentino, mas o árbitro fez vista grossa – ele até poderia ter marcado pênalti… No escanteio, a zaga catalã tirou e a bola foi para fora. Novo escanteio. Lucas bateu, a zaga tirou, o PSG tentou o contragolpe, mas o Barça controlou as ações mais uma vez. Aos 13’, Messi avançou pelo meio e sofreu falta de Draxler, que levou cartão amarelo. A torcida embalou com palmas. Messi bateu, mas a bola foi para fora. Aos 16’, Rafinha recebeu de Piqué, inverteu para Neymar, que chutou de longe e a bola quase entrou no ângulo do goleiro Trapp.

Olha onde passou essa bola do Neymar!

 

Aos 21’, o Barça usava o campo todo para tentar se infiltrar na área francesa, mas ficava difícil. O time rival se postava muito bem. Aos 22’, Piqué deu um carrinho em Cavani e levou amarelo. Aos 24’, a posse era de 62% para o Barça. Aos 25’, Kurzawa derrubou Rafinha perto da área. O Barça jogava como nos tempos de Guardiola. Intenso, com a posse, compacto, ágil. Messi bateu a falta, mas pegou na barreira. Os jogadores pediram mão de Cavani, mas foi um lance normal. Na sequência, Iniesta bateu de fora da área e a bola passou por cima do gol. Aos 29’, o PSG flertou por alguns segundos no campo do Barça, mas o time catalão já voltou a atacar. Aos 30’, Lucas aproveitou uma furada de Rakitic, chutou de fora e Ter Stegen defendeu sua primeira bola no jogo. Aos 33’, Meunier derrubou Neymar e o árbitro não marcou pênalti, em um lance bem polêmico e que igualou a vista grossa no lance de Mascherano.

Os times em campo: Barça jogou sem laterais e mesmo assim conseguiu sufocar o rival.

 

Aos 40’, quando a torcida já temia por aquelas dezenas de minutos sem gols, Neymar avançou pela esquerda, mandou a bola para a pequena área, Iniesta apareceu e usou o calcanhar para se livrar do enorme contingente de defensores em sua cola. Ele esperava que a redonda fosse de encontro a alguém na pequena área, mas os zagueiros bobearam estranhamente, Kurzawa chutou depois que a bola espirrou no goleiro e saiu o segundo gol: 2 a 0. Ou 2 a 4. Eram dois gols atípicos, sem beleza, com toques sobrenaturais de uma noite diferente no Camp Nou. Não eram gols à la Barça. Eram gols chorados, sofridos, esquisitos. De sorte e persistência. A classificação ainda era possível.

Aos 42’, Cavani levou amarelo por reclamação. O Barça seguia intransponível, sem dar espaços para o rival e à espreita de uma nova chance, uma brecha. O árbitro deu três minutos de acréscimo. Os catalães corriam demais, enquanto o PSG ficava lá, todo postado com seus 10 homens em seu campo naqueles instantes finais. Quando o primeiro tempo terminou, o torcedor ficou aliviado com o jogo demonstrado por sua equipe. Com dois gols em 45 minutos, mais dois eram totalmente possíveis na segunda etapa. Do lado parisiense, Unai Emery precisava tirar seu time da zona de conforto e arriscar mais. Deixar de ter medo. Afinal, ficar apenas na defesa, em um campo enorme, com torcida toda contra, com uma vantagem que agora era de apenas dois gols e contra o Barcelona, era suicídio puro. A vaga estava escorrendo das mãos dos parisienses. E cairia de vez se nada mudasse na etapa complementar.

 

Segundo tempo – Prepare o capítulo na enciclopédia!

Pênalti de Meunier em Neymar: outra polêmica no jogo. Foto: UEFA via Getty Images.

 

Com menos de um minuto, o PSG já teve um escanteio a seu favor. A bola foi afastada pela zaga e, no rebote, Draxler, ao invés de esperar e ajeitar para bater, chutou lá no Parque Natural de la Serra de Collserola… Enquanto isso, Di María se aquecia para entrar. O Barça se organizou de novo, roubou a bola no campo de defesa, Iniesta recebeu na esquerda e lançou Neymar. Quando o brasileiro ia preparar o cruzamento, Meunier, sagaz marcador do camisa 11 blaugrana, escorregou, e, com o corpo, impediu Neymar de alcançar a bola. Lance polêmico, que o árbitro mandou seguir, mas o quarto árbitro marcou. Pênalti. Duvidoso. Na cobrança, Messi bateu forte, sem pestanejar, e marcou. O argentino pegou a bola e foi em direção ao meio de campo. Só faltava um!

Com mais 40 minutos de jogo pela frente, o PSG estava atônito. Era preciso atacar. Tentar explorar o ímpeto ofensivo do Barça, engatilhar um contra-ataque e matar de vez aquela fênix blaugrana que teimava em ressurgir. Aos 7’, Meunier fez linda jogada pela direita, cruzou e Cavani, de carrinho, mandou a bola na trave! Unai Emery empurrava seu time. O Barça voltou ao ataque e a torcida pulsava junto. Aos 9’, Rafinha roubou de Matuidi, cruzou e Trapp conseguiu evitar com uma boa saída de bola. Di María entrou aos 10’ no lugar de Lucas, para dar mais velocidade e oferecer alternativas com chutes de fora da área ao PSG.

A bola na trave de Cavani.

 

Aos 12’, o Barça encurralou de uma maneira claustrofóbica o rival. Quando Marquinhos tentava sair jogando, apareciam três marcadores e lhe roubavam a bola. Outro defensor tentava o toque, Iniesta roubava. Um outro parisiense conseguia um desarme, apareciam três catalães, que roubavam de novo. O time da casa ficava na intermediária francesa. Queria e queria o quarto gol. O problema é que Messi não estava “naqueeeles” dias e o último toque sempre falhava. Passaram dois minutos até o PSG, enfim, sair de seu próprio campo e tentar com Meunier, pela direita, que cruzou para Umtiti mandar para escanteio. Na cobrança, bate e rebate na área e a bola foi para fora. Aos 15’, Rakitic cometeu falta no meio de campo e levou amarelo. O PSG cobrou alto, para o canto esquerdo. Kurzawa ganhou na corrida do próprio Rakitic, tocou de cabeça e Cavani esperou o momento certo para encher o pé, de primeira, e fazer um golaço: 3 a 1. Era o desastre para o Barcelona. Antes, ele precisava de apenas um gol. Agora, eram necessários três.

Cavani marca seu golaço (Foto: Getty Images)…

 

E corre pro abraço!

 

A torcida emudeceu por um momento. O PSG engatilhou um contra ataque, aos 18’, Draxler tocou com Cavani, mas o uruguaio chutou rasteiro e Ter Stegen defendeu com os pés. Ali, era a chance do gol fatal. De fazer 6 a 3 no agregado. Mas continuava 5 a 3 para o Paris. Aos 20’, Iniesta saiu para a entrada de Arda Turan, que deu a braçadeira de capitão para Messi. A consternação era visível nas arquibancadas. Era preciso um gol a cada oito minutos pelo menos. E não dar nenhuma chance de contra ataque. Aos 21’, Arda Turan recebeu dentro da área, chutou na saída do goleiro e Marquinhos evitou um gol certo! Aos 22’, Verratti derrubou Suárez, mas o juiz não deu pênalti e ainda amarelou o uruguaio. Se ele deu penalidade no lance de Neymar, aquele era muito mais pênalti. Qual era o critério? Pois é, não existia…

Aos 27’, a torcida já não gritava tanto. O PSG marcava mais e praticamente não era agredido com chutes a gol. A perna esquerda de Messi era monitorada com precisão e o argentino continuava apagado. Só aos 29’ que o camisa 10 recebeu dentro da área, limpou, chutou com a perna esquerda, mas acabou não pegando em cheio e a bola foi para fora. Aos 31’, Sergi Roberto (guarde bem esse nome…) entrou no lugar de Rafinha, bem apagado na segunda etapa. O Barça seguiu com a posse de bola e cercando a área do Paris nos 10 minutos seguintes, mas nenhuma grande chance de gol de fato foi construída. A torcida parecia conformada com o esforço do time e certamente iria aplaudir aqueles 3 a 1. Mas, aos 42’, um alento. Di María fez falta em Neymar perto da área. Sozinho, o brasileiro ajeitou a bola. Pela posição, era mais previsto o cruzamento, mas ele bateu direto. No ângulo. Golaço. 4 a 1. Ou 4 a 5. A torcida aplaudiu. Meia que triste. Ninguém comemorou. Eles pareciam entregues. Mas o clima no Camp Nou começou a mudar.

Ventos do sobrenatural pairavam sobre o estádio. Sim, leitores e leitoras, algo iria acontecer naqueles minutos finais. O árbitro ainda não havia sinalizado quanto de acréscimo ia dar. Até que, aos 44’, bola alçada na área por Messi. O destino era Suárez, mas Marquinhos se enroscou com o uruguaio e o juiz deu pênalti. O defensor, estabalhado, colocou o braço na frente do atacante blaugrana. Não foi pênalti, de verdade. Por outro lado, Marquinhos não precisava chegar daquele jeito no jogador do Barça justo em um momento tão crucial do jogo. A bola seguramente iria para o goleiro! Faltou comunicação na zaga. E o juiz acabou marcando.

O fatídico pênalti…

 

… zagueiro do PSG nem encostou direito em Suárez, mas o jeito de ir acabou induzindo o juiz a marcar o pênalti…

 

… Neymar marcou e reacendeu o Camp Nou.

 

Neymar foi para a bola. Ele esperou o goleiro cair, chutou no canto oposto, marcou, pegou a bola e foi para o meio de campo. Estava 5 a 1. Ou 5 a 5. Ele pediu o apoio do torcedor. O Camp Nou voltou a pulsar. Bandeiras, a tremular. O árbitro sinalizou cinco minutos de acréscimo quando o relógio já estava perto dos 47’. E, naquele instante, Umtiti levantou para a área, Piqué tentou, mas Trapp pegou. O PSG ainda tentou ganhar alguns segundos com uma substituição. Mas o time francês suava frio. O coração ficava na boca. Aos 48’, Trapp cobrou tiro de meta de graça para o Barça. Messi tentou carregar pela esquerda, passou por um, dois e sofreu a falta. Todo mundo na grande área. Se pudesse, a Catalunha inteira iria se acomodar ali para tentar empurrar a bola para o gol. O goleiro Ter Stegen também foi até lá. A bola viajou até a área, mas foi afastada. Ter Stegen, como um volante, dominou a redonda no meio de campo e tocou na direita, mas levou carrinho de Verratti. O árbitro marcou a falta. Outra chance de bola na área. Faltavam poucos segundos. Neymar, grande nome e protagonista do jogo, cobrou a falta na área. A zaga deu rebote. Sobrou outra vez para o brasileiro, que levantou de perna esquerda. A zaga do PSG tentou a linha de impedimento. E errou. Sergi Roberto apareceu, se jogou na bola, chutou com ela ainda no ar e fez o gol: 6 a 1. Ou 6 a 5.

O primeiro lance que iniciou a virada histórica…

 

A bola alçada na área após a falta em Ter Stegen.

 

Sergi Roberto estava em posição legal na hora do gol.

 

O gol improvável (Foto: AFP)…

 

E a festa!

 

O Camp Nou quase veio abaixo. Todos os adjetivos que pudessem definir emoção eram poucos naquele momento. Torcedores berravam, pulavam, colocavam a mão na boca, as mãos na cabeça. Muitos choravam. Era simplesmente a virada improvável. Tida como impossível. Com o gol da apoteose anotado por um personagem que ninguém imaginava, vindo do banco de reservas. Os franceses eram desolação pura. Quando deram a saída para o recomeço, eles só queriam sumir dali. E nunca mais voltar. O árbitro apitou o final do jogo. E a festa do inimaginável explodiu.

Luis Enrique abraça Sergi Roberto. Foto: Albert Gea / Reuters.

 

Emoção da torcida…

 

E a desolação dos franceses.

 

O Barcelona marcou os três gols que precisava em sete minutos e 16 segundos. Foram seis chutes a gol e três gols. O PSG completou apenas quatro passes naquele meio tempo, três dando a saída no meio de campo. Estava sacramentada a maior virada da história da Liga dos Campeões da UEFA. Algo que nenhum esquadrão da sexagenária competição conseguiu. Uma virada com polêmicas, gols estranhos, golaços, trapalhadas de zagueiros e do senhor do apito, mas com todos os ingredientes necessários de um jogo épico, histórico, eterno. Depois daquele dia, se alguém ainda insistia que o “impossível” era uma palavra presente no futebol, aboliu a palavra. Em bom catalão: ¡L’impossible no existeix!

 

 

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

 

Barcelona: conseguir a classificação daquela maneira encheu o Barça de confiança para o restante da competição. A torcida já esperava mais um título europeu, todos acreditavam em uma tranquila caminhada até a final, mas eles tiveram pela frente a Juventus-ITA. No primeiro jogo, em Turim, vitória dos italianos por 3 a 0. “Ah, fichinha reverter na volta”, pensaram os culés. Só que o estoque de magia dos blaugranas havia se esgotado na noite de 08 de março de 2017. Mesmo com o Camp Nou fervendo e as mesmas 96.290 pessoas, o jogo terminou 0 a 0 e a Juve se classificou. E, na temporada 2017-2018, o Barça acabou provando de um veneno semelhante ao de 2017. Nas quartas de final da Liga dos Campeões, os catalães fizeram 4 a 1 na Roma-ITA com direito a dois gols contra e foram até a Itália com uma confortável vantagem. No entanto, os italianos conseguiram exatamente os três gols que precisavam, venceram por 3 a 0 e se classificaram para as semifinais de maneira surpreendente, eliminando o então invicto time catalão. É, o mundo do futebol dá voltas…

Em 2018, foi a vez da Roma “remontar” sobre o Barça. Foto: Paolo Bruno / Getty Images.

 

PSG: sabe o ditado “se não pode com ele, junte-se a ele?”. Pois bem. Após a fatídica temporada 2016-2017, o Paris abriu os cofres e decidiu comprar Neymar do Barcelona, na maior transação da história do futebol – 222 milhões de euros. Os franceses esperavam que o brasileiro fosse o protagonista que foi naquele duelo do Camp Nou em solo parisiense para buscar a inédita Velhinha Orelhuda na temporada 2017-2018, ainda mais com a companhia de Mbappé, Cavani entre outros. No entanto, Neymar se machucou justamente na fase de mata-mata do torneio europeu e o time francês foi presa fácil para o Real Madrid-ESP, que eliminou o PSG já nas oitavas de final. Com isso, o sonho de conquistar a Europa continua. Mas sem perspectivas tão palpáveis assim.

 

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Comentários encerrados

2 Comentários

  1. Jogão mesmo, ai o moleque pergunta para o avô: “E depois.” O Avô após isso muda de assunto rs. Agora, sobre viradas extraordinárias, acho a da já citada Roma 3 x 0 Barcelona mais impactante, por se tratar de um Davi fazendo o impossível sobre um Golias. Nessa do PSG x Barça, o Barça era muito mais time e sempre foi o mais forte, só teve que acordar.

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