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Craque Imortal – Gylmar dos Santos Neves

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Nascimento: 22 de Agosto de 1930, em Santos (SP), Brasil. Faleceu em 25 de Agosto de 2013, em São Paulo (SP), Brasil.

Posição: Goleiro

Clubes: Jabaquara-BRA (1945-1951), Corinthians-BRA (1951-1961) e Santos-BRA (1962-1969).

Principais títulos por clubes: 3 Campeonatos Paulistas (1951, 1952 e 1954), 2 Torneios Rio-SP (1953 e 1954) e 1 Pequena Taça do Mundo (1953) pelo Corinthians.

2 Mundiais Interclubes (1962 e 1963), 2 Copas Libertadores da América (1962 e 1963), 1 Recopa dos Campeões Mundiais (1968), 4 Taças Brasil (1962, 1963, 1964 e 1965), 3 Torneios Rio-SP (1963, 1964 e 1966), 1 Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1968) e 5 Campeonatos Paulistas (1962, 1964, 1965, 1967 e 1968) pelo Santos.

Principais títulos por seleção: 2 Copas do Mundo (1958 e 1962) pelo Brasil.

 

Principais títulos individuais:

Eleito para o Time dos Sonhos do Corinthians pela revista Placar: 2006

Eleito para o Time dos Sonhos do Santos pela revista Placar: 2006

Eleito para o Time dos Sonhos do Corinthians do Imortais: 2021

Eleito para o Time dos Sonhos do Santos do Imortais: 2021

“O goleiro pleno”

Por Guilherme Diniz

A maioria dos jogadores de futebol ficou conhecida por um nome, um apelido ou no máximo dois nomes tais como Pelé, Maradona, Cruyff, Lev Yashin, Beckenbauer, Gerd Müller… Porém, existiu um craque que virou lenda no esporte não apenas com um nome, mas com seu nome completo, grande, portentoso e digno de gênio da bola: Gylmar dos Santos Neves. Muitos o chamavam apenas de Gylmar, ou mesmo Gilmar, com “i”. Mas a sonoridade de seu nome completo era muito mais propícia e imponente tal qual foi seu futebol dentro de campo. Mítico com as camisas do Corinthians, do Santos e da Seleção Brasileira, Gylmar dos Santos Neves se tornou um dos maiores goleiros da história do futebol mundial e é considerado até hoje o maior que nosso futebol já produziu.

Elegante, esguio, cheio de agilidade e capaz de realizar defesas inimagináveis, o goleirão foi um ícone por onde passou e também um grande vencedor, tendo a capacidade e honra de se tornar bicampeão do mundo tanto por seleção quanto por clube. Dono da camisa 1 do Brasil por mais de uma década e goleiro de um dos maiores times da história – o Santos de Pelé, Gylmar dos Santos Neves é uma unanimidade quando o assunto é goleiro ou exemplo de atleta vencedor. É hora de relembrar.

 

“Girafa” no gol

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Nascido em Santos (SP), Gylmar começou desde cedo a tomar gosto pelo futebol ao jogar como ponta-esquerda nas peladas do Macuco, bairro onde morava, e na equipe do Ginásio Santista. Devido à altura e ao corpo atlético e magro, o jovem foi para o gol e começou a se destacar jogando pelo Portuário, clube dos funcionários da Companhia Docas de Santos. Ainda tratando o futebol como segunda opção, Gylmar decidiu levar a carreira à sério depois que ganhou, depois de muito apelo, apenas cinquenta cruzeiros de aumento em seu trabalho como cobrador de gelo da firma Vila Matilde. Indignado com a falta de reconhecimento do patrão, o jovem mergulhou com tudo na profissão de goleiro de futebol e passou em um teste no Jabaquara, clube da baixada santista, após ser indicado por Papa, descobridor de talentos do time amarelo e vermelho.

Foi nos tempos de Jabaquara que Gylmar ganhou o apelido de “Girafa” por ser alto e magro, e onde ele começou a dar mostras de sua qualidade em campo com grandes defesas e muita agilidade. Em 1950, o goleiro teve a “honra” de ser o mais vazado do Campeonato Paulista com 42 gols sofridos em 18 jogos, mas muito mais pela fraca qualidade do time do que por erros dele. Em 1951, o Corinthians queria a todo custo comprar o meio-campista do Jabaquara, Ciciá. O clube santista aceitou a oferta, mas tratou de colocar Gylmar como contrapeso na negociação. O time do Parque São Jorge aceitou só para fazer pressão em seus dois goleiros na época, Bino e Cabeção, que ainda não haviam renovado seus contratos. A chegada de Gylmar fez com que a dupla de goleiros acelerasse seus compromissos com o Timão para não sofrer com a concorrência do novato. Sem alarde e cercado de desconfiança por parte da diretoria alvinegra, Gylmar teria que provar, em campo, que era o grande craque daquela negociação toda. E não o tal de Ciciá.

 

Tempos difíceis e a volta por cima

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Novato e sem experiência, Gylmar passou por maus bocados em seu primeiro ano no Corinthians. A cada dois jogos do time paulista, o goleiro jogava como titular e tinha que se revezar com o goleiro Cabeção, algo que prejudicava o rendimento de ambos e o ritmo que tanto Gylmar queria adquirir. Esse rodízio acabou pesando de forma negativa justamente para o novato da história, que teve uma atuação desastrosa em um jogo contra a Portuguesa pelo Campeonato Paulista de 1951. A Lusa goleou o time alvinegro por 7 a 3 e toda a culpa pela derrota caiu em cima do jovem goleiro. Insinuações de que Gylmar teria amolecido o jogo choveram e o técnico do Corinthians na época, José Castelli (mais conhecido como “Rato”), não teve outra alternativa senão afastar o goleiro do time. A punição foi tão grande que nem entrar no clube Gylmar podia, algo que o deixou arrasado, mas com a imensa vontade de calar todos aqueles críticos.

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Depois de seis meses, Gylmar viu a sorte começar a sorrir. O Corinthians iria viajar para a Europa e participar de uma série de amistosos. Porém, às vésperas da viagem, a equipe não tinha goleiro. Cabeção estava machucado e Bino havia deixado o clube. Em pânico, os dirigentes começaram a caçar um camisa 1 quando lembraram que ainda tinham Gylmar, lá nas profundezas da “geladeira” alvinegra. Durante a excursão, Gylmar espantou a todos com atuações soberbas e dignas de um goleiro nato. O time paulista disputou 16 jogos em países como Turquia, Dinamarca, Suécia e Finlândia, venceu 12, empatou três e perdeu apenas um. Gylmar foi um dos destaques do time em solo europeu e arrancou aplausos dos torcedores e suspiros das mulheres por sua elegância dentro e fora de campo. De volta ao Brasil, o goleiro já era titular absoluto do clube alvinegro. Era hora de começar, enfim, a colecionar títulos.

 

Multicampeão e jogador de Seleção

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A partir de 1952, Gylmar viveu grandes momentos com a camisa do Corinthians. Privilegiado por jogar ao lado de grandes nomes da história do clube como Luizinho, Roberto Belangero, Idário, Baltazar e Cláudio, o goleiro conquistou os Torneios Rio-SP de 1953 e 1954, os Campeonatos Paulistas de 1952 e 1954 e a Pequena Taça do Mundo de 1953, esta de maneira invicta com seis vitórias em seis jogos, com direito a triunfos por 3 a 2 e 1 a 0 sobre o grande Barcelona de Rammalets, Segarra, César, Kubala e Basora, e um 3 a 1 sobre a Roma. Foi em 1953 que Gylmar ganhou pela primeira vez uma chance na Seleção Brasileira, em uma partida da Copa América. A estreia foi a melhor possível: vitória por 8 a 1 sobre a Bolívia e uma defesa de pênalti do goleiro. No entanto, ainda naquele ano, o goleiro sofreu uma séria luxação no ombro que o impossibilitou de viajar para a Suíça e disputar a Copa do Mundo de 1954, abrindo vaga para o concorrente de Corinthians, Cabeção.

Já recuperado da contusão, Gylmar voltou ao gol do Corinthians em 1954 justamente em uma partida contra a Portuguesa, a mesma que havia lhe assombrado em 1951. O goleiro não levou gols, Cabeção perdeu a posição de titular novamente e o Corinthians conquistou o histórico Campeonato Paulista de 1954, título muito almejado na época pelo fato de se tratar do torneio em homenagem ao IV Centenário da cidade de São Paulo. Com atuações de gala e defesas sensacionais, Gylmar foi uma das estrelas da campanha corintiana ao levar apenas 25 gols em 26 jogos (e ficar sete partidas sem levar gols), dos quais 18 foram vencidos pelo Timão (houve ainda seis empates e apenas duas derrotas, com 55 gols marcados). Com o prestígio nas alturas e já considerado o melhor goleiro do Brasil, Gylmar tinha grandes perspectivas para o futuro. Principalmente com a camisa da Seleção.

 

Titular absoluto

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Em 1956, Gylmar virou o dono da camisa 1 do Brasil e passou a evoluir cada vez mais como goleiro. Sempre bem postado debaixo do travessão, perito nas jogadas aéreas e extremamente seguro, o goleiro virou referência e manteve a sina de bons arqueiros do Brasil naquela década, assumindo o posto que fora de Barbosa e Castilho. Naquele ano, Gylmar teve um grande teste durante a excursão do time brasileiro pela Europa. A Seleção venceu Portugal (1 a 0), Áustria (3 a 2) e Turquia (1 a 0), empatou com Suíça (1 a 1) e Tchecoslováquia (0 a 0), e perdeu para Itália (3 a 0) e Inglaterra (4 a 2).

No jogo contra os ingleses, em Wembley, Gylmar foi o único destaque da equipe canarinho ao defender dois pênaltis e voltar a arrancar aplausos dos torcedores – e evitar um placar ainda mais elástico dos rivais europeus. Sem contusões para lhe atrapalhar, Gylmar ganhou, em 1958, a notícia que tanto esperava desde o começo de sua carreira: ele estava convocado para a disputa de uma Copa do Mundo.

 

Craque da camisa 3

Gylmar (centro) ao lado de Zito e Formiga.
Gylmar (centro) ao lado de Zito e Formiga.

 

No começo de 1958, Vicente Feola foi nomeado treinador da Seleção Brasileira e tratou de ajudar a colocar ordem na casa. Uma de suas medidas foi impor uma série de atitudes que não poderiam ser feitas pelos jogadores antes e durante a Copa, como não fumar em público trajando o uniforme da Seleção, por exemplo, ou falar com a imprensa fora dos locais permitidos. Tudo em prol da organização. Porém, a comissão brasileira se esqueceu de enviar à FIFA a lista com os números dos jogadores. Reza a lenda que Lorenzo Villizio, uruguaio membro do comitê organizador do mundial, definiu a numeração por conta própria, mas o ato nunca foi bem explicado. Com isso, o goleiro Gylmar teve de usar durante toda a Copa a camisa de número 3 (!), algo surreal nos dias de hoje. O fato mais intrigante foi a escolha da camisa 10 para um menino de apenas 17 anos que viajou até a Suécia graças à insistência do técnico Feola: Pelé…

Na estreia, o Brasil não encontrou dificuldades para vencer a Áustria por 3 a 0, com dois gols de Altafini e um de Nilton Santos. Antes da partida seguinte, contra a Inglaterra, Gylmar se encontrou com outra lenda do gol, Lev Yashin, soviético que se concentrava com sua seleção bem próximo ao local de estadia da equipe brasileira. Durante a conversa, Yashin (que falava um pouco de espanhol) alertou o colega de profissão sobre o atacante inglês Kevan, que costumava dar cotoveladas nos goleiros e havia vitimado o próprio Yashin na partida de estreia da URSS na Copa (terminou empatada em 2 a 2 com um gol de Kevan). Sempre elegante e leal, Gylmar teve de deixar sua cartilha de cavaleiro de lado e usar e abusar de seus joelhos a cada subida pelo alto, o que acabou afastando os ingleses de sua área. O sábio conselho de Yashin ajudou muito, Gylmar não levou gols novamente e o Brasil empatou em 0 a 0 contra os ingleses.

Contra o Brasil, Yashin sofreu diante de Garrincha e Cia. Do outro lado, Gylmar só admirava o show de seus companheiros.
Contra o Brasil, Yashin sofreu diante de Garrincha e Cia. Do outro lado, Gylmar só admirava o show de seus companheiros.

 

No último jogo da primeira fase, os colegas Gylmar e Yashin se reencontraram para o jogo entre Brasil e URSS, partida que marcava a estreia de Pelé e Garrincha na Copa após uma suposta pressão dos jogadores em cima do técnico Feola. Para azar de Yashin, o Brasil jogou muito e venceu por 2 a 0. Lá do outro lado, Gylmar apenas observou os estragos que a dupla fazia na zaga soviética, que só não levou uma goleada por causa, claro, do Aranha Negra.

Na fase de mata-mata, Gylmar celebrou a quarta partida na Copa sem levar gols depois da vitória brasileira por 1 a 0 sobre País de Gales. Na semifinal, porém, o goleiro não conseguiu sair ileso diante do devastador ataque da França, que tinha Kopa e Fontaine em grande fase. Felizmente, o Brasil venceu por 5 a 2 e se classificou para a final.

 

Rei do mundo

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O Brasil decidiu contra a dona da casa, a Suécia, a Copa de 1958. Naquele jogo, a Seleção teve de jogar de azul, já que a Suécia também vestia a cor amarela. Logo aos 4´, a dona da casa abriu o placar com Liedholm. Era a primeira vez que a seleção saía atrás do marcador. Didi, gênio do meio campo brasileiro, teve toda a calma ao pegar a bola, caminhar com tranquilidade até o círculo central, e dizer, segundo o folclore da bola: “vamos encher esses gringos!”. E o Brasil encheu. Vavá, aos 9´ e aos 32´, virou o jogo e deixou o Brasil com a vantagem ao final do primeiro tempo.

No segundo, um show. Pelé, aos 10´ (chapelando o zagueiro, num de seus gols mais emblemáticos), e Zagallo, aos 23´, fizeram 4 a 1. A Suécia ainda diminuiu aos 35´, mas Pelé marcou o quinto, de cabeça. Assim que saiu o gol, o juiz apitou o final do jogo: o Brasil, pela primeira vez em sua história, era campeão mundial de futebol. A euforia tomou conta de todos os jogadores, e as imagens de Pelé chorando como um bebê nos ombros do goleiro Gylmar e do capitão brasileiro Bellini erguendo para os céus a taça ficaram marcadas para sempre. Enfim, o Brasil era o melhor do mundo. E Gylmar dos Santos Neves entrava para o seleto rol dos campeões mundiais de futebol.

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Gylmar consola Pelé: dupla foi fundamental para o primeiro título mundial do Brasil.
Gylmar consola Pelé: dupla foi fundamental para o primeiro título mundial do Brasil.

 

Sinônimo de goleiro e ida ao Santos

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Quando voltou ao Brasil, Gylmar se consolidou como o maior de todos os goleiros do país, viu seu passe ser imensamente valorizado no Corinthians e o aumento de seu prestígio fora de campo a ponto de ganhar do governador de São Paulo na época, Jânio Quadros, um cargo na Secretaria da Fazenda do Estado. Além de todo seu sucesso em solo europeu, o goleiro virou ídolo da garotada, que passou a gritar “defeeeeende Gylmar!” nas peladas de rua pelo país, e serviu de inspiração para o surgimento de novos “Gilmar” (com “i” mesmo) nas certidões de nascimento pós-1958.

Mesmo com o sucesso iminente, o goleiro passou a sofrer contestações em seu clube, o Corinthians, por causa do jejum de títulos pelo qual passava a equipe alvinegra desde 1954 (e que duraria até 1977). O auge das críticas aconteceu no começo dos anos 60, quando Gylmar sofreu uma lesão no braço e foi acusado de estar fazendo corpo mole só para sair do clube. Certo dia, revoltado, Gylmar foi ao encontro do presidente Wadih Helou, arrancou a camisa e mostrou o braço totalmente inchado bradando: “aqui está o corpo mole! Mas não se preocupe, pois vou cuidar disso por conta própria”.

Sem clima nem vontade de continuar no Corinthians, Gylmar pensava em largar o futebol e começar a exercer o cargo de chefe de gabinete ganho pelo governador Jânio Quadros. Porém, antes que tomasse uma decisão precipitada, o Santos comprou o passe do jogador e levou Gylmar para a Vila Belmiro em 1962. O goleiro não ganhou um tostão com a negociação e iria receber exatamente o mesmo salário dos tempos de Corinthians. No entanto, ele voltaria a colecionar títulos jogando no maior time do planeta daquela época. Antes, porém, Gylmar teria mais um grande compromisso com a Seleção Brasileira: a disputa da Copa do Mundo de 1962, no Chile.

 

Milagreiro e bicampeão

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Depois de 12 anos, a Copa do Mundo era disputada novamente na América do Sul, dessa vez no Chile. O Brasil estreou contra a seleção do México, e, sentindo demais o peso da estreia, venceu por apenas 2 a 0 e jogando muito mal. Na segunda partida, um empate sem gols contra a Tchecoslováquia teve sabor de derrota pelo fato de Pelé, grande nome da equipe, se contundir e ter de abandonar o mundial. A ausência do craque não seria tão sentida pelo fato de a Seleção contar com Garrincha, grande nome daquela Copa, e Amarildo, o substituto do Rei, em grande fase.

Na primeira partida sem Pelé, contra a Espanha de Gento e Puskás, que se naturalizara espanhol, o goleiro Gylmar foi um verdadeiro santo para a Seleção. A Espanha vencia o time canarinho por 1 a 0 quando teve a chance de ampliar o placar num contra-ataque engatado por Gento. O craque espanhol cruzou na área para Puskás, mas o goleiro brasileiro conseguiu dar um soco na bola. No rebote, Peiró avistou Gylmar caído e emendou um chute forte de primeira. Na base do reflexo e da agilidade, o goleiro teve tempo de se levantar, desviar de Puskás e do zagueiro Mauro Ramos e espalmar espetacularmente a bola para fora. A enorme defesa foi o combustível para o Brasil virar o jogo e se classificar para a segunda fase, na qual despachou a Inglaterra e o anfitrião Chile.

Na decisão, o Brasil venceu a Tchecoslováquia por 3 a 1, Gylmar foi outra vez fundamental com grandes defesas e a Seleção conquistou o bicampeonato mundial de futebol. Ninguém podia com o Brasil! Muito menos com Gylmar, primeiro goleiro titular a se tornar bicampeão do mundo (o primeiro bicampeão, mas sem jogar como titular, foi o italiano Guido Masetti, em 1934 e 1938).

 

Anos de ouro

No Santos de Pelé, Gylmar não se cansou de conquistar títulos históricos.
No Santos de Pelé, Gylmar não se cansou de conquistar títulos históricos.

 

Após a conquista da Copa de 1962, Gylmar dos Santos Neves se consagrou em definitivo no Santos. Dono da camisa 1 de uma equipe fascinante e com jogadores como Mauro Ramos, Dalmo, Zito, Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe, o goleiro faturou uma enxurrada de títulos, com destaque para os dois Mundiais Interclubes de 1962 e 1963 e as duas Copas Libertadores dos mesmos anos. Vale destacar a brilhante atuação de Gylmar na partida final da Libertadores de 1963, contra o poderoso Boca Juniors-ARG em plena La Bombonera. O goleiro brasileiro pegou tudo e mais um pouco e garantiu a vitória santista por 2 a 1 que deu o título continental ao esquadrão brancaleone.

No Brasil, Gylmar comandou o Santos nos títulos das Taças Brasil de 1962, 1963, 1964 e 1965, nos Torneios Rio-SP de 1963, 1964 e 1966, no Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968) e nos Campeonatos Paulistas de 1962, 1964, 1965, 1967 e 1968, taças que transformaram aquele Santos em uma das equipes mais sensacionais de todos os tempos (e que o Imortais já relembrou, como você pode ler clicando aqui).

 

Última Copa e aposentadoria

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Novamente titular do Brasil em uma Copa do Mundo, dessa vez na Inglaterra, em 1966, Gylmar já começava a sentir o peso da idade e não conseguiu brilhar em solo europeu. Com dores no joelho, o goleiro só disputou as duas primeiras partidas da Seleção (vitória por 2 a 0 sobre a Bulgária e derrota por 3 a 1 para a Hungria) e viu do banco a equipe canarinho dar adeus ao sonho do tri com a derrota por 3 a 1 para a seleção portuguesa, de Eusébio.

Após o mundial, Gylmar disputou apenas mais duas partidas com a camisa da Seleção, uma em 1968 (derrota por 1 a 0 para o Paraguai) e outra em 1969, sua despedida oficial, na vitória sobre a Inglaterra por 2 a 1. Com quase quarenta anos de idade, o goleiro sabia que era hora de parar mesmo com uma proposta do América-RJ para jogar até 1970, o que certamente lhe daria uma vaga entre os convocados para a Copa do Mundo do México. No entanto, Gylmar recuou e decidiu dar espaço para a nova safra de goleiros que despontava tais como Félix, Leão, Ado e outros. Depois de ganhar tudo o que um jogador de futebol poderia ganhar, Gylmar pendurou as luvas em 1969 e trabalhou em uma revendedora de carros, como observador da Seleção Brasileira, administrador do estádio do Pacaembu entre outros afazeres.

Em 2000, o goleiro sofreu um AVC que paralisou metade de seu corpo e debilitou demais sua saúde. Treze anos depois, em agosto de 2013, o craque não resistiu a uma infecção urinária seguida de desidratação e infarto e faleceu três dias após completar 83 anos de idade.

 

Eterno camisa 1

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Vitorioso ao extremo e um exemplo de atleta e cavalheiro, Gylmar dos Santos Neves viverá eternamente nos corações dos torcedores brasileiros por suas enormes façanhas dentro de campo. Com atuações magistrais, defesas sensacionais e membro de equipes primorosas do esporte mundial, o craque virou um sinônimo de goleiro e um mito eterno do futebol nacional. Humilde, cavalheiro e sereno, Gylmar jamais perdeu a cabeça por coisas bobas, sempre levou o espírito esportivo consigo e soube como ninguém os macetes necessários para brecar as investidas de todo e qualquer atacante rival. Com seu nome completo e de craque, Gylmar dos Santos Neves será, para o todo e sempre, o melhor goleiro da história do futebol brasileiro. E um dos maiores que o planeta bola já viu. Um craque imortal.

 

Números de destaque:

Disputou 94 partidas com a camisa da Seleção Brasileira, das quais venceu 64, empatou 14 e perdeu apenas 16. Aproveitamento superior a 75%.

Disputou 395 partidas com a camisa do Corinthians.

Disputou 331 partidas com a camisa do Santos.

 

Leia mais sobre os grandes times que Gylmar defendeu clicando nos links abaixo!

Corinthians anos 1950

Brasil 1958-1962

Santos anos 1960

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Comentários encerrados

6 Comentários

  1. Gylmar estará sempre no coração dos torcedores brasileiros. Ele foi e é ainda hoje, o único goleiro a ser inteiramente titular em duas conquistas de copa do mundo seguidas. Está no panteão do planeta bola.

  2. Bela homenagem. Só algumas pequenas correções: o goleiro do Corinthians ao qual Gylmar foi contratado para fazer pressão ero Bino, goleiro que atuou no Corinthians por toda a década de 40 e início da década de 50, chamado de “Gato Preto”. O título da Pequena Taça do Mundo de Clubes, conquistado na Venezuela ocorreu no ano de 1953. Pelo Corinthians ele conquistou o importante Torneio Charles Muller de 1955 contra diversos adversários fortes do Brasil e do mundo todo, assim como a Copa Do Atlântico em 1956 (dividida com o Boca Juniors) , uma espécie de pré-libertadores, equivalente ao Sulamericano de 1948 conquistado pelo Vasco. No mais, um grande abraço. e obrigado pelo site excelente!!!

Craque Imortal – Félix

Jogos Eternos – São Paulo 2×3 Corinthians 1999