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Craque Imortal – Félix

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Nascimento: 24 de Dezembro de 1937, em São Paulo, SP, Brasil. Faleceu em 24 de agosto de 2012, em São Paulo, SP, Brasil.

Posição: Goleiro

Clubes: Juventus-BRA (1953-1955), Portuguesa de Desportos-BRA (1957-1968) e Fluminense-BRA (1968-1976).

Principais títulos por clube:

1 Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1970) e 4 Campeonatos Cariocas (1969, 1971, 1973 e 1975) pelo Fluminense.

 

Principal título por seleção:

1 Copas do Mundo (1970) pelo Brasil.

 

 

“O guardião do tricampeonato mundial”

Por Guilherme Diniz

“Pelo menos quando eu morrer que parem de dizer que o Brasil ganhou a Copa de 70 `apesar do Félix´. O Barbosa foi crucificado por não ter ganhado a Copa de 50 e eu por ter ganhado a Copa de 70. Duas grandes injustiças!”

A frase acima, reproduzida pelo site Terceiro Tempo, foi o último pedido do eterno goleiro do trimundial da seleção brasileira, Félix Mielli Venerando, um dos grandes nomes da história do futebol brasileiro e, como ele mesmo disse, injustiçado sem razão pelos que se acham donos da verdade ou “experts” em futebol. O goleiro foi muito contestado durante a campanha do tri do Brasil no México, em 1970, pelo fato de não demonstrar segurança em algumas partidas e por ter levado gols bobos, como contra o Uruguai e contra a Itália, na semifinal e final, respectivamente. Porém, qual goleiro não falha? Qual goleiro não se equivoca? É proibido errar debaixo do gol? Lev Yashin, Dino Zoff, Taffarel… Todos eles engoliram frangos homéricos, cometeram falhas e mesmo assim foram geniais em suas funções, ídolos e lendas do esporte. Félix também. Falhou em alguns jogos na carreira, mas demonstrou extrema frieza, dedicação, agilidade e calma quando mais a Portuguesa, o Fluminense e o Brasil precisaram dele. Crescia em momentos decisivos, pegava bolas fantásticas e foi exemplo de longevidade ao jogar até pouco mais de 39 anos de idade. É hora de relembrar as façanhas e conquistas desse grande nome de nosso esporte.

 

Início na Lusa

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Nascido em São Paulo, Félix começou no futebol aos 15 anos de idade nas categorias de base do tradicional Nacional, da capital. Tempo depois, se profissionalizou no Juventus, da Mooca, demonstrando muita agilidade no gol. Não era alto para a posição, mas compensava sempre com sua boa colocação, frieza nos momentos decisivos e “voos”, que rapidamente lhe renderam o apelido de “papel”. Jogou no Juventus até 1955 até ser contratado pela Portuguesa. Só foi estrear pela Lusa no ano seguinte, graças à ausência do goleiro titular da equipe, Cabeção, que estava defendendo a seleção brasileira. Porém, Félix teve poucas chances no clube em seus primeiros anos, sendo emprestado ao Nacional até 1960.

Em 1960, a pedido do técnico da Lusa, retornou ao clube e vestiu, enfim, a camisa 1. Foi titular absoluto até 1963. De 1964 até 1968, seguiu como titular, mas teve que revezar a posição com o recém-contratado Orlando, o que lhe deixou magoado. Parecia que a Lusa não gostava de seu futebol e o goleiro não conseguia engatar uma grande sequência de jogos. Mas os problemas de Félix acabariam em julho de 1968, quando o Fluminense decidiu contratá-lo, a pedido do técnico Telê Santana, por 150 mil cruzeiros, mesmo o goleiro já ostentando 30 anos de idade.

 

Paredão tricolor

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No Flu, Félix conseguiu assumir a vaga de titular sem intervenções ou disputas, provando seu valor. Jogou muito, fez defesas primorosas e ajudou o tricolor a conquistar o Campeonato Carioca de 1969, quando derrotou o Flamengo na decisão por 3 a 2. Jogando num grande clube e tendo boas atuações, o goleiro era figura constante, também, na seleção brasileira, onde participou de todos os jogos das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, além de vários torneios amistosos.

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Félix levou um susto, porém, na lista dos convocados para o Mundial pouco antes da Copa, quando o então técnico da equipe, João Saldanha, cortou o jogador. Mas com a saída de Saldanha e a chegada de Zagallo, o “Gato” voltou à meta do esquadrão verde e amarelo. Com isso, chegava o maior e mais decisivo momento da carreira do goleiro: a disputa de uma Copa do Mundo.

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Ao lado das estrelas

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Na maior e melhor Copa de todos os tempos, o Brasil tinha um selecionado dos sonhos, com Piazza, Carlos Alberto, Brito, Rivellino, Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e, claro, Félix. A seleção começou seu show contra a Tchecoslováquia ao vencer por 4 a 1. O jogo seguinte foi contra a temida Inglaterra, atual campeã mundial e com o mito Bobby Moore. O jogo foi duro, Moore marcou de maneira implacável Pelé, mas o Brasil tinha Tostão e Jairzinho, autor do único gol do jogo, após jogada de Tostão, e, claro, Pelé: Brasil 1 x 0 Inglaterra. Naquela partida, Félix pegou muito e deu exemplo de força, principalmente uma cabeçada de Lee. Com a classificação assegurada, o Brasil queria vencer para continuar na cidade de Guadalajara e evitar grandes deslocamentos na segunda fase. Dito e feito, Brasil 3 x 2 Romênia, e o estádio Jalisco continuaria sendo a casa da seleção. Sair dali, apenas para a final.

 

Passaporte para a final

Na segunda fase, a seleção eliminou a forte equipe do Peru, comandada pelo técnico Didi, ao vencer por 4 a 2. Na semifinal, o time superou o fantasma do Uruguai no primeiro confronto em copas desde a fatídica final de 1950. O jogo foi duro, com o Uruguai saindo na frente com um gol de Cubilla, meio que sem querer, após o chute do uruguaio sair meio que torto e enganar Félix. Com a liderança no placar, o Uruguai cozinhava a partida e não deixava o Brasil jogar. Foi então que Zagallo mexeu na maneira do time jogar, recuando Gérson e liberando Clodoaldo ao ataque. Deu certo, o santista empatou, e deu mais tranquilidade ao Brasil. No segundo tempo, o Brasil virou após ótima jogada do trio de ouro Pelé-Tostão-Jairzinho, com este último fuzilando para o gol.

Em seguida, Félix mostrou sua grandiosidade na “defesa que valeu por um título”. Aos 40 minutos do segundo tempo, uma bola levantada da esquerda por Cortés foi cabeceada por Cubilla, com endereço certo, no canto esquerdo do gol, à meia altura. Quem achava que seria gol ficou estupefato quando Félix voou para espalmar a bola, com a zaga afastando o perigo na sequência. Aquela foi a última chance uruguaia para levar o jogo para a prorrogação. Depois disso, o Brasil liquidou a fatura com Rivellino, fechando o placar em 3 a 1. Graças às suas estrelas, e a Félix, o Brasil enterrava o fantasma de 1950 e carimbava o passaporte para a final, no estádio Azteca.

 

No topo do mundo!

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Brasil e Itália é um dos maiores clássicos do futebol mundial. E ambos, então bicampeões mundiais, duelaram pela posse definitiva da taça Jules Rimet. De um lado, o talento e o brilho do Brasil de Jairzinho, Pelé, Tostão, Gérson, Rivelino. Do outro, exímios defensores de técnica absoluta e atuais campeões europeus, como Cera, Facchetti e Burgnich, além de Rivera e Luigi Riva. Era o jogo perfeito para encerrar uma copa perfeita, com o melhor nível técnico de todos os tempos. Mas, parece até que não avisaram o Brasil que era um jogo final… A seleção não tomou conhecimento dos italianos e exibiu um futebol vistoso, alegre, preciso, rápido, elegante, lindo. O Brasil abriu o placar com um golaço de Pelé, de cabeça, após subir quase um metro de altura para marcar 1 a 0 (em um lance que deixou o “beija-flor” Dadá Maravilha com um pouco de inveja…). A Itália empatou com Boninsegna, mas, no segundo tempo, o Brasil deu seu show.

Gérson fez 2 a 1 com um petardo de sua canhota de ouro. O terceiro saiu após passe preciso de Gérson para Pelé, que deixou Jairzinho livre para marcar seu sexto gol na copa. O último gol… Ah… O último gol… Foi simplesmente uma obra prima do futebol arte e coletivo, daquelas que você vê, volta, vê de novo, volta, vê em câmera lenta, e assim sucessivamente. A jogada começa lá na defesa, com Clodoaldo driblando QUATRO jogadores italianos, e tocando na esquerda para Rivellino. O craque lança Jairzinho, que dribla Facchetti e passa para Pelé. O rei, sem olhar, antevê a corrida na direita de Carlos Alberto. Com um passe sutil e açucarado como quem diz “toma, faz o seu e fecha a conta”, ele rola para o melhor lateral direito da história encher o pé: 4 a 1. O estádio enlouquece, o México enlouquece, o Brasil enlouquece, o mundo enlouquece: Brasil tricampeão de futebol. O futebol, naquela tarde, nunca ficou tão emocionado e feliz. E Félix escrevia para sempre seu nome na história como o goleiro da melhor seleção brasileira de todos os tempos. Era um “cala a boca” nos críticos e “experts”, que preferiam Leão ou Ado no lugar do “Gato”.

 

Mantendo a sina das vitórias

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Depois da conquista da Copa do Mundo, Félix voltou a levantar troféus no Fluminense, que virava cada vez mais sua casa. Naquele mesmo ano de 1970, o goleiro ajudou o tricolor a conquistar o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Campeonato Brasileiro da época, quando a equipe despachou Palmeiras, Atlético-MG e Cruzeiro no quadrangular final e ficou com o caneco. No ano seguinte, nova conquista no Campeonato Carioca, sobre o super favorito Botafogo, que perdeu para o tricolor na decisão por 1 a 0. Depois de um ano sem taças, o Fluminense voltou a gritar “é campeão” em 1973, numa noite memorável de Félix e Manfrini, que garantiram uma vitória primorosa por 4 a 2 sobre o Flamengo e o título estadual da temporada.

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Fazendo parte da Máquina

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Em 1975, Félix teve o privilégio de fazer parte da “Máquina Tricolor”, considerado o melhor time da história do Fluminense. A equipe deu show com as atuações de craques como Carlos Alberto, Paulo César, Doval e Rivellino. Se no Campeonato Brasileiro a equipe não resistiu ao Internacional de Figueroa e Falcão, no Carioca o Flu deu show. O time faturou mais uma taça e Félix foi novamente decisivo, principalmente na Taça Guanabara, em um jogo contra o Botafogo. Num lance épico, o alvinegro Nílson Dias matou a bola no peito na meia-lua da grande área e deu uma bicicleta, defendida de maneira espetacular por Félix, que saltou do meio do gol e encaixou a bola no ângulo direito, perante os mais de 109 mil torcedores no Maracanã. A defesa foi crucial para garantir a vitória tricolor por 2 a 1 e a vaga na final, vencida diante do América. O Carioca de 1975 seria, porém, o último de Félix como profissional. A idade começava a pesar.

 

O fim de um ídolo

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Em 1976, Félix decidiu se aposentar e abriu espaço para o talentoso goleiro Renato assumir o gol tricolor. Depois de pendurar as luvas, Félix seguiu no meio esportivo como preparador de goleiros e até técnico. Ao longo dos anos, sua saúde começou a enfraquecer, teve enfisema pulmonar e faleceu no dia 24 de agosto de 2012, aos 74 anos. Félix deixou o mundo da bola, mas o goleiro permanece no coração de todos os tricolores, que jamais esquecerão seus voos, suas defesas e sua calma sem igual debaixo das traves. Muito menos os brasileiros, que vibraram com seus milagres contra Inglaterra, Uruguai e Itália na Copa de 1970. Mesmo com as injustiças que teve que engolir e superar na carreira, uma coisa é certa: jamais poderão contestar ou mesmo superar seu grande feito: ter sido o goleiro da melhor e mais brilhante seleção brasileira de todos os tempos. Obrigado, Félix. Um craque imortal.

 

Números de destaque

Disputou 319 jogos com a camisa do Fluminense

É o terceiro goleiro menos vazado da história do Fluminense ao ficar 136 jogos sem levar gols

Disputou 47 partidas pela seleção brasileira

O que disseram sobre Félix (fonte: UOL > http://goo.gl/eUYLu):

 

“O Félix foi um grande companheiro nosso, goleiro dos melhores, tanto que fez por merecer a convocação: foi titular tanto nas eliminatórias quanto na Copa do Mundo. Lembro que muita gente não concordava que ele fosse titular, mas ele mostrou dentro do campo que era merecedor. Ele me ajudou muito, porque tínhamos jogadores jovens, e conversávamos muito com todos os companheiros. Sem dúvida nenhuma ele me ajudou como capitão. Nós tínhamos na nossa equipe jogadores com muita experiência, e isso nos ajudou muito a manter o grupo unido e chegar sem problemas à conquista do campeonato. O legado dele é daquele cara que nunca se deixava se levar pelas críticas. Ele foi um cara muito criticado, muita gente era contra sua titularidade, mas ele sempre se e conseguiu se manter.”Carlos Alberto Torres, capitão do tri.

“Foi considerado um dos maiores goleiros do mundo, e deu para mim o título mais valioso da historia do futebol mundial, onde ele teve uma atuação conjunta extraordinária. Fez, para mim, duas partidas fora de sério. A primeira contra a Inglaterra, quando ele e o Gordon Banks foram considerados os grande expoentes da partida, e a própria imprensa prestou homenagem dizendo que a decisão da Copa foi naquele jogo. E depois, com o Brasil chegando à final, ele fez duas defesas fenomenais logo no começo do jogo contra a Itália, e no decorrer do jogo pegou muito.” – Jairzinho, o “Furacão” da Copa do Mundo de 1970.

 

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Comentários encerrados

2 Comentários

  1. Tinha 18 aos em 1970 e tive o privilégio de ver ao vivo e ( pela primeira vez ) em cores aquele esquadrão fenomenal do Brasil. Estou com 65 e nunca me esqueço daquele time mágico., apesar da ditadura em que vivíamos. E lembro Félix fazendo defesas impressionantes contra Inglaterra, o próprio Uruguai e contra a Itália. Esses “analistas” do caos, que conseguiram condenar o grande Barbosa à pena eterna, também tentaram fazer o mesmo com o grande Félix. Não conseguiram, ainda bem! Saudades, Félixão! Saudades, seleção de 70!

Qual é a relação entre poker e futebol?

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Craque Imortal – Gylmar dos Santos Neves