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Craque Imortal – Pelé

Brazilian striker Pele, wearing his Santos jersey,

Nascimento: 23 de Outubro de 1940, em Três Corações (MG), Brasil. Faleceu em 29 de dezembro de 2022, em São Paulo (SP), Brasil.

Posições: Atacante / Ponta de lança / meia-atacante

Clubes: Santos-BRA (1956-1974) e Cosmos-EUA (1975-1977).

 

Principais títulos por clubes: 2 Mundiais Interclubes (1962 e 1963), 2 Copas Libertadores da América (1962 e 1963), 1 Recopa dos Campeões Mundiais (1968), 1 Recopa Sul-Americana dos Campeões Mundiais (1968), 5 Taças Brasil (1961, 1962, 1963, 1964 e 1965), 1 Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1968), 4 Torneios Rio-SP (1959, 1963, 1964 e 1965) e 10 Campeonatos Paulistas (1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973) pelo Santos.

1 Campeonato Norte-Americano (1977) pelo Cosmos.

 

Principais títulos por seleção: 3 Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970), 2 Copas Rocca (1957 e 1963), 1 Taça do Atlântico (1960), 3 Copas Oswaldo Cruz (1958, 1962 e 1968) e 1 Taça Bernardo O´Higgins (1959) pelo Brasil.

 

Principais títulos individuais:

Melhor jogador jovem da Copa do Mundo: 1958

Bola de Prata da Copa do Mundo: 1958

Chuteira de prata da Copa do Mundo: 1958

Craque do time das estrelas da Copa do Mundo: 1958

Bola de Ouro da Copa do Mundo: 1970

Craque do time das estrelas da Copa do Mundo: 1970

BBC Personalidade Esportiva do Ano: 1970 e 2005 (feitos da vida)

Melhor jogador Sul-americano do ano: 1973

Atleta do Século, eleito por jornalistas do mundo todo, na pesquisa realizada pelo jornal L’Équipe: 1981

Bola de Ouro Especial da revista Placar: 1987

Atleta do Século, eleito pelo Comitê Olímpico Internacional: 1999

Atleta do Século, eleito pelos jornalistas da Agência de Notícias Reuters: 1999

Jogador de Futebol do Século, escolhido pela UNICEF: 1999

Jogador de Futebol do Século, eleito pelos vencedores da Bola de Ouro da revista France Football: 1999

Maior jogador do Século XX pela IFFHS: 1999

Maior jogador Sul-americano do Século XX Pela IFFHS: 1999

Melhor Jogador do Século da FIFA: 2000

Laureus World Sports Awards, prêmio pela carreira, entregue pelo Presidente Sul-Africano Nelson Mandela: 2000

Eleito para o Dream Team do Ballon d’Or da revista France Football: 2020

Eleito para a Seleção dos Sonhos do Brasil do Imortais: 2020

Eleito para o Time dos Sonhos do Santos do Imortais: 2021

FIFA 100: 2004 e dezenas de outros títulos e honrarias…

 

Artilharias:

Artilheiro do Campeonato Paulista: 1957 (17 gols), 1958 (58 gols – recorde), 1959 (45 gols), 1960 (33 gols), 1961 (47 gols), 1962 (37 gols), 1963 (22 gols), 1964 (34 gols), 1965 (49 gols), 1969 (26 gols) e 1973 (11 gols).

Artilheiro da Copa América: 1959 (8 gols)

Artilheiro da Taça Brasil: 1961 (9 gols) e 1963 (12 gols)

Artilheiro do Torneio Rio-São Paulo: 1961 (7 gols), 1963 (15 gols), 1964 (3 gols) e 1965 (7 gols)

Artilheiro do Mundial Interclubes: 1962 (3 gols)

Artilheiro da Copa Libertadores da América: 1965 (8 gols)

“Rei do Futebol”

Por Guilherme Diniz

 

Atleta do Século. Deus. Rei. Mito. Maior de todos. Artilheiro incontestável. Imprevisível. Letal. Cerebral. Único. Podemos listar dezenas, centenas de adjetivos que podem tentar caracterizar Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, o maior jogador de futebol do século XX e um dos atletas mais incríveis que o mundo já viu, conhecido em todos os cantos do mundo, celebridade mundial, ícone brasileiro e referência no esporte. Pelé transformou um time mediano e sem expressão na maior força do planeta por mais de uma década, fez do Brasil tricampeão mundial de futebol, imortalizou a camisa 10 como manto de craque e reinventou o futebol com uma genialidade jamais vista na história do esporte. Pará-lo era quase impossível. Seus dribles eram objetivos e encantadores, sem firulas. E seus gols… Ah, eram simplesmente magníficos. Ele foi o primeiro homem a marcar mais de mil gols. O primeiro e único a vencer três Copas do Mundo. Foi o mais jovem a marcar gol (golaço, diga-se de passagem) em final de Copa, com apenas 17 anos. Foi o mais jovem jogador a ser campeão do mundo. Parou, junto com seu Santos, uma guerra civil. E conquistou todos os títulos que um jogador gostaria de ganhar. O maior gênio do nosso futebol fez de tudo um pouco em sua longa carreira, e tem tanta história que precisaríamos de páginas e páginas do blog para contar. Por isso, o Imortais traz os fatos mais marcantes da carreira do Rei, mas lembre-se que existe muito, mas muito mais sobre o maior mito do futebol mundial.

 

Mineirinho bom de bola

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O jogador de futebol Dondinho e Dona Celeste mal sabiam que naquele dia 23 de outubro de 1940 (data que o próprio Pelé confirma, embora em sua certidão esteja dia 21) eles haviam colocado no mundo a maior joia do futebol mundial, na cidade de Três Corações, em Minas Gerais. O garotinho Edson desde cedo dava mostras que iria, mesmo, seguir a carreira do pai, para desespero de Dona Celeste, que teria mais um para incluir em suas rezas antes das partidas. Com três anos de idade, Dico, apelido que ganhou da família, acompanhava o pai nas partidas de futebol da cidade e numa dessas idas ganhou o apelido que o fez conhecido no mundo inteiro. Em 1943, o pai de Pelé jogava no São Lourenço e seu filho ficava impressionado com as defesas do goleiro da equipe, que fazia o pequeno Edson gritar: “Defende Bilé!”, “Boa Bilé!”. As pessoas próximas começaram a chamar o pequeno fanático de “Bilé”. Porém, muitas crianças colegas do garoto Edson tinham dificuldade em pronunciar “Bilé” e diziam “Pilé”, “Pelé”, até que com o tempo o apelido virou “Pelé”, que muitos coleguinhas diziam para irritá-lo. Em 1945, Pelé e sua família foram para Bauru, em São Paulo, onde o garoto começou a dar seus primeiros chutes no Baquinho, time juvenil do Bauru Atlético Clube. Com apenas 11 anos, Pelé já mostrava que não era normal. Era de outro planeta! O garoto, mesmo franzino, era veloz, forte, inteligentíssimo e com uma capacidade de raciocínio absolutamente formidável. Seu desempenho crescia a cada dia e o futuro era muito promissor para o jovem. Dondinho ficava cada dia mais feliz e tinha certeza de que o filho lhe daria muitas alegrias.

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Em 1950, ano de Copa do Mundo, o garoto Pelé proferiu uma frase emblemática para o pai na tarde do dia 16 de julho, após a final entre Brasil e Uruguai, quando a Celeste Olímpica derrotou a seleção por 2 a 1 e ficou com o bicampeonato mundial. Ao ver Dondinho aos prantos por causa da inesperada derrota, Pelé disse:

“Não chore, papai. Eu vou ganhar uma Copa do Mundo para você”

Em apenas oito anos, aquele garotinho astuto cumpriria a promessa…

 

Desembarque na Vila

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Aos 15 anos, Pelé foi levado para o Santos Futebol Clube por Waldemar de Brito, ex-jogador e então técnico do Bauru. Ao chegar, Pelé foi apresentado por Waldemar de Brito, que disse em alto e bom som aos dirigentes do clube praiano que aquele jovem seria “o maior jogador de futebol do mundo”. E seria mesmo. Pelé já contabilizava muitos e muitos gols pelo Baquinho e pelas seleções juvenis, até fazer sua estreia com a camisa do peixe apenas um mês depois de sua chegada, num amistoso contra o Corinthians de Santo André (SP), quando marcou o sexto gol da goleada de 7 a 1. Ali, Pelé marcava seu primeiro gol com a camisa do Santos. O primeiro de centenas que ele ainda iria fazer.

Com 16 anos, Pelé passou de garoto promissor a titular indiscutível no Santos, ganhando experiência e participando de vários torneios amistosos, como num combinado Santos e Vasco, quando marcou três belos gols em uma das partidas, passando a ganhar admiração e curiosidade de todo país. Em 1957, o jovem ajudou a seleção brasileira a vencer a Copa Rocca e foi artilheiro do Campeonato Paulista do mesmo ano com 17 gols. Estrela com tão pouca idade, o garoto não tinha nem tempo de treinar tamanha a quantidade de jogos que disputava. Aí, o leitor deve se perguntar: como ele era tão bom então? Ora, pura genética, caro amigo. O Rei nasceu predestinado, sabido e lapidado. Nos campos, na hora do vamos ver, ele colocava tudo o que sabia em prática e no próprio jogo já aprendia alguns macetes, alguns atalhos e como se desvencilhar dos adversários. Mas o garoto que nasceu sabendo teria uma prova de fogo e também a grande chance da vida de mostrar que era, mesmo, diferente. Seria em 1958, quando foi convocado para sua primeira Copa do Mundo em uma aposta mais do que acertada do técnico da seleção, Vicente Feola.

 

O mundo conhece o Rei

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Na Suécia, o Brasil foi com força total e o que tinha de melhor para tentar o primeiro título mundial. Na estreia, com Pelé e Garrincha no banco, o Brasil passou pela Áustria e venceu por 3 a 0. Os gols foram de Mazzola (2) e Nilton Santos. Contra a Inglaterra, o Brasil, mesmo com a entrada de Vavá no lugar de Dida no ataque, não conseguiu marcar e a partida terminou empatada sem gols. Após o frustrante empate, um grupo de jogadores do Brasil teria ido falar com o técnico Feola exigindo a escalação de Pelé e Garrincha. O fato nunca foi confirmado, mas no jogo contra a URSS os dois entraram em campo. E o Brasil deu show. Com dois gols de Vavá, o Brasil venceu por 2 a 0, mas o placar não refletiu o que foi o jogo. A seleção só não goleou de maneira impiedosa os soviéticos porque na meta deles havia o maior goleiro de todos os tempos: Lev Yashin, o “Aranha Negra”. O goleirão salvou gols incríveis, e “garantiu” a magra derrota placar para a seleção europeia. A vitória encheu o Brasil de moral: hora das quartas de final.

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Novamente contra uma seleção britânica, o Brasil suou, mas dessa vez marcou um golzinho salvador, e venceu País de Gales por 1 a 0, num golaço de Pelé, que chapelou o zagueirão adversário e estufou a rede: histórico! O mundo conhecia o menino que faria história muito em breve. O resultado premiou a seleção brasileira, que atacou o tempo todo e não desistiu nenhum minuto. Na semifinal, o Brasil encarou a máquina de fazer gols da França, que tinha a dupla Fontaine (artilheiro daquela Copa com 13 gols, recorde até hoje em uma só edição de mundial) e Kopa. Mas a seleção não se intimidou e venceu com categoria. Vavá abriu o placar aos 2´, mas Fontaine empatou. Didi fez o dele aos 39´. No segundo tempo Pelé deu show, e marcou três gols, aos 8´, 19´e 31´. Fontaine ainda descontou aos 38´: 5 a 2 para o Brasil. A seleção estava pela segunda vez na história na final.

 

Promessa cumprida

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O Brasil decidiu contra a dona da casa, a Suécia, a Copa de 1958. A seleção poderia ter o gosto que o Uruguai teve em 1950 em tirar do anfitrião o gosto de ser campeão jogando em casa. Logo no começo do jogo, a Suécia abriu o placar, aos 4´. Era a primeira vez que a seleção saía atrás do marcador. Didi, gênio do meio campo brasileiro, teve toda a calma ao pegar a bola, caminhar com tranquilidade até o círculo central, e dizer, segundo o folclore da bola: “vamos encher esses gringos!”. E o Brasil encheu. Vavá, aos 9´ e aos 32´, virou o jogo e deixou o Brasil com a vantagem ao final do primeiro tempo. No segundo, um show. Pelé aos 10´ (outra pintura do menino-rei, chapelando o zagueiro, num de seus gols mais emblemáticos) e Zagallo aos 23´ fizeram 4 a 1. A Suécia ainda diminuiu aos 35´, mas Pelé marcou o quinto, de cabeça. Assim que saiu o gol, o juiz apitou o final do jogo: o Brasil, pela primeira vez em sua história, era campeão mundial de futebol. A euforia tomou conta de todos os jogadores, e as imagens de Pelé chorando como um bebê e do capitão brasileiro Bellini erguendo para os céus a taça ficaram marcadas para sempre. A seleção desfilou com uma bandeira da Suécia pelo gramado, e recebeu ovacionados aplausos: todos saudavam os melhores do mundo. E todos aplaudiam de pé o surgimento do Rei do Futebol. Pelé cumpria, apenas oito anos depois, a promessa feita para o pai em 1950: conquistar uma Copa do Mundo. E com apenas 17 anos!

 

Fazendo do Santos um gigante

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Depois da conquista da Copa, Pelé foi colocado no mais alto patamar do futebol brasileiro. Quem não o conhecia, passou a conhecê-lo, e a admiração pelo garoto simpático e humilde, que nunca negava uma conversa, um autógrafo ou uma entrevista, aumentou rapidamente entre torcedores e até rivais. O garoto era presença constante em jogos e mais jogos do Santos e sofria o assédio de times da Europa, mas o clube praiano fez questão de bancar o craque na Vila. Pelé foi peça chave na conquista do Campeonato Paulista de 1958 quando marcou absurdos 58 gols em 38 partidas, recorde até hoje na competição e que dificilmente será igualado ou superado. Com seu futebol mágico, o Rei foi requisitado, em 1959, pela seleção do exército brasileiro, quando ajudou a equipe a vencer a Argentina por 2 a 1 na final do campeonato sul-americano da categoria.

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De volta ao Santos, Pelé começou uma das mais famosas parcerias do futebol, com Coutinho ao seu lado no ataque do Santos. Muito bem municiados com craques como Pepe, Dorval e outros, a dupla foi a essência do sucesso do Santos naquele final de anos 50 e início dos anos 60. Em 1959, veio a conquista inédita do Torneio Rio-SP, com vitória em cima do Vasco. Pelé marcava gols e mais gols, ou melhor, golaços, que o diga o Juventus-SP, que viu o Rei marcar, segundo o próprio autor, seu gol mais bonito da carreira, quando aplicou quatro chapéus seguidos, deixando para trás três marcadores e o goleiro, antes de estufar as redes de cabeça. O gol foi tão bonito que o Rei pulou e socou o ar, em sua comemoração mais característica. Uma pena a obra prima não ter sido gravada. Mas é possível ter noção do gol em uma animação reproduzida no filme “Pelé Eterno”.

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Em 1960 o Santos continuou com seu futebol eficiente e vistoso em busca de mais. O clube venceu novamente o Campeonato Paulista, vingando a derrota no ano anterior para a academia do Palmeiras, que se mostraria ao longo da década o único time capaz de impedir um deca ou até mesmo eneacampeonato santista naquele período. O destaque ficou na reta final, quando o Santos massacrou o Corinthians por 6 a 1 e o Palmeiras por 5 a 0. O time mandava novamente no estado, o que garantia vaga na Taça Brasil de 1961. Na competição nacional, o Santos entrou nas semifinais por ser campeão estadual de São Paulo. Com esse privilégio, o time aproveitou e não tomou conhecimento do América-RJ, ao vencer dois jogos por 6 a 2 e 6 a 1 e perder um por 1 a 0. Na final, o time da Vila reencontrou o Bahia, algoz de dois anos antes. Na primeira partida, em Salvador, empate em 1 a 1. Na volta, o Pacaembu viu um show de Pelé e Coutinho, que marcaram os gols da goleada por 5 a 1 que garantiu o primeiro caneco nacional do clube, além da vaga para a Copa Libertadores da América de 1962. O peixe, em 1961, ainda venceu mais uma vez o Paulista e protagonizou um dos maiores bailes do ano no futebol nacional: fez 7 a 1 no Flamengo em pleno Maracanã pelo Torneio Rio SP, com gols de Pelé (3), Pepe (2), Coutinho e Dorval. Um show que fez os mais de 90 mil torcedores aplaudirem de pé o esquadrão do Rei.

O time do Santos campeão da Libertadores de 1962. Em pé: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar e Mauro Ramos. Agachados: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

 

 

O gol de placa

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Ainda em 1961, Pelé fez aquele que ficou conhecido como o Gol de Placa, que virou sinônimo de gol bonito, majestoso, incrível. Foi no Maracanã, contra o Fluminense, em partida válida pelo Torneio Rio-SP. O Santos venceu por 3 a 1 e Pelé fez um tento brilhante. O Rei arrancou, superando na caminhada Pinheiro, Clóvis e Altair. Na entrada da área, superou Jair Marinho e colocou a bola, com categoria, no canto direito, longe do alcance do goleiro Castilho. Golaço no Maracanã! Exaltados afirmavam que aquele gol teria que valer por dois. O gol foi tão espetacular que arrancou aplausos de todos os torcedores. Foram quase dois minutos de palmas e o nascimento da expressão Gol de Placa, criada pelo jornalista Joelmir Beting. Na época, Beting trabalhava no jornal “O Esporte” e ficou tão impressionado com o gol que pediu que fizessem uma placa de bronze para colocar no saguão do estádio. A placa foi feita uma semana depois, com os dizeres:

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Pronto. O lance estava imortalizado, assim como a relação do Rei com o Maracanã, que ainda veria muito mais do craque.

 

O primeiro grande ano

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Campeão nacional e estadual, Pelé e seu Santos quiseram repetir tudo de novo em 1962, mas, se possível, melhorar, com a participação na Libertadores da América. O time brasileiro caiu no Grupo 1, ao lado de Cerro Porteño-PAR e Deportivo Municipal-BOL. A equipe de Pelé, Pepe, Coutinho e companhia passou fácil pelos rivais, com destaque para as goleadas de 9 a 1 contra o Cerro e 6 a 1 contra o Deportivo. Depois de três vitórias e um empate, classificação assegurada para as semifinais. O adversário foi a Universidad Católica, do Chile. O primeiro jogo, em Santiago, terminou empatado em 1 a 1. Na volta, em Santos, o time da Vila venceu por um magro 1 a 0, gol de Zito, decretando a vaga na final. Antes dela, porém, o Rei tinha um compromisso: a Copa do Mundo.

 

Contusão e o bi graças a Garrincha

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Depois de 12 anos, a Copa do Mundo era disputada novamente na América do Sul, dessa vez no Chile. O Brasil estreou contra a seleção do México, e, sentindo demais o peso da estreia, venceu por apenas 2 a 0. E jogando muito mal. Os gols foram de Zagallo e Pelé. Na segunda partida, um empate sem gols contra a Tchecoslováquia que teve sabor de derrota: com uma distensão na perna, Pelé se contundiu e ficou fora da Copa. No lugar do Rei, Amarildo jogou e deu conta do recado, mas foi Garrincha quem carregou a seleção nas costas e garantiu o bicampeonato mundial ao país. Pelé, mesmo disputando apenas uma partida inteira, era bicampeão. O craque tinha, além de talento, estrela e sorte.

 

Páreo duro sem o Rei

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Depois da Copa, o Santos tinha pela frente o ótimo Peñarol em sua primeira decisão de Libertadores. Os uruguaios contavam com nomes de peso como Pedro Rocha, Spencer (maior artilheiro da história da Libertadores com 54 gols), Caetano e Maidana. Para piorar, o Santos não tinha Pelé, contundido. Mesmo assim, a equipe mostrou força no primeiro jogo, em Montevidéu, e venceu por 2 a 1, com dois gols de Coutinho. Na volta, o time aurinegro venceu por 3 a 2, mesmo com a bagunça que foi a partida disputada na Vila Belmiro, pois, após a torcida atirar uma garrafa no campo, o juiz suspendeu o jogo. Depois de mais de uma hora, a partida foi reiniciada, com o Santos marcando mais um gol. O empate dava o título ao Santos. O juiz apitou o final do jogo e a festa foi geral. Mas, dias depois, a Conmebol não acatou e forçou uma terceira partida. Esta, já com o Rei.

 

América alvinegra

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O jogo decisivo entre Santos e Peñarol aconteceu no mês de agosto em campo neutro, na Argentina. Pelé já estava recuperado da contusão que o tirou da Copa de 1962. E foi graças ao Rei que o Santos mostrou que era o melhor da América. Com dois gols de Pelé e um contra do uruguaio Caetano, a equipe colocou o Peñarol na roda e fez 3 a 0, conquistando pela primeira vez o título da Copa Libertadores. Era, também, a primeira conquista de um time brasileiro. O caneco credenciava o peixe à disputa do Mundial Interclubes, no final do ano.

 

A conquista do mundo. Pelo Santos.

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Depois de colecionar canecos em 1962 (Taça Brasil, Paulista e Libertadores), ainda faltava a cereja no bolo do Santos: o Mundial. Na época, o campeonato era disputado em duas partidas, uma em cada país. Se permanecesse a igualdade em pontos, não em gols, haveria uma terceira partida na casa do time que fazia o segundo jogo. Naquela decisão, Santos e Benfica iriam ver quem era o melhor time do mundo. Do lado brasileiro, o esquadrão que estava na ponta da língua dos torcedores de todo país, que jogava o fino da bola e tinha Pelé. Do lado português, outro esquadrão, que era bicampeão europeu e havia vencido o Real Madrid na decisão da Liga dos Campeões por acachapantes 5 a 3. A estrela do time de Lisboa era o “Pantera Negra” Eusébio, um monstro da bola. O primeiro jogo foi no Brasil, com o Maracanã lotado com mais de 90 mil pessoas. Não eram apenas santistas. Eram alvinegros, tricolores, rubro-negros. Ao contrário do que vemos hoje, na época, o Santos tinha a torcida de todos, afinal, era um time do Brasil em campo, e o respeito era outro. Hoje, tal fato é inimaginável. O jogo foi duro e disputado, mas o Santos venceu por 3 a 2, com gols de Pelé (2) e Coutinho, com Santana (2) descontando para o time português. Era hora de cruzar o atlântico para o jogo de volta.

 

Pelé comanda a maior apresentação da história

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O Estádio da Luz, em Lisboa, estava lotado. Os portugueses, animados com a dureza que o Benfica impusera ao Santos no Brasil, tinham a certeza de que haveria uma terceira partida, tanto é que até os ingressos já estavam prontos. Eles estavam muito confiantes. Porém, se esqueceram de que do outro lado estava o Santos. “O” Santos de Pelé, Coutinho, Pepe e companhia. E que o esquadrão santista faria naquela partida uma das maiores exibições de um time de futebol na história. O peixe jogou muito, mas muito, e não deu chances ao rival em nenhum momento. Pelé fez logo dois aos 15´ e aos 25´. Coutinho fez o terceiro, Pelé fez o quarto e Pepe fechou o caixão: 5 a 0. O Benfica ainda fez dois gols, para não ficar tão feio, no final do jogo, mas era tarde: Santos 5×2 Benfica. O time brasileiro conquistava pela primeira vez em sua história o título de campeão mundial de futebol. Era a consagração que aqueles brilhantes jogadores precisavam. E o ápice para o mundo conhecer de vez o time de Pelé e Cia.

 

Títulos e mais títulos

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Em 1963, o Santos estava no auge. Campeão de tudo no ano anterior, a equipe queria repetir a dose. E repetiu. Menos no campeonato paulista, que ficou com a Academia do Palmeiras. O Santos vacilou em muitas partidas naquele campeonato e foi prejudicado por uma contusão de Pelé, que não jogou na metade do segundo turno. Se não deu para levar o estadual, o Santos venceu o Torneio Rio SP e o tricampeonato da Taça Brasil. Na competição nacional, o time alvinegro reencontrou novamente o Bahia, repetindo a final de 1961. Dessa vez, os baianos não ofereceram resistência, e o Santos venceu fácil os dois jogos, por 6 a 0 em casa, gols de Pelé (2), Pepe (2), Coutinho e Mengálvio e por 2 a 0 em Salvador, com dois gols de Pelé. Sem rivais no Brasil, o Peixe foi em busca de mais um caneco continental.

Como campeão da Libertadores do ano anterior, o peixe teve a facilidade de entrar na competição já nas semifinais. O time fez um duelo doméstico contra o Botafogo. No primeiro jogo, em São Paulo, empate em 1 a 1. Na volta, no Rio, goleada do Santos por 4 a 0 e vaga na final. O adversário seria o Boca Juniors, da Argentina. Diferente do ano anterior, o Santos escolheu o Maracanã como sua casa para o primeiro jogo da decisão. A popularidade do time de Pelé no Rio era gigantesca, graças às apresentações brilhantes que o time proporcionava ao público carioca. E a torcida compareceu em peso (mais de 100 mil pessoas) e empurraram o time paulista rumo à vitória por 3 a 2, com dois gols de Coutinho e um de Lima. Sanfilippo fez os dois gols do Boca. A volta seria na temida La Bombonera.

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O matador Sanfilippo abriu o placar para o Boca na partida de volta e, como não poderia deixar de ser, a equipe argentina abusou das faltas e colocou nervos no time brasileiro. Mas o esquadrão santista, no segundo tempo, tratou de pôr a bola no chão e colocar os argentinos em seu devido lugar. Coutinho empatou aos 50´ e Pelé fez o gol da virada e do título aos 82´, com muita raiva na comemoração. O Santos era bicampeão da Libertadores e repetia o feito do Peñarol, também com dois títulos continentais. A equipe disputaria, mais uma vez, o Mundial.

 

Embate histórico

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Diferente de 1962, o Santos ia decidir o Mundial Interclubes de 1963 em casa. O adversário dessa vez seria o tradicional Milan, de Cesare Maldini (pai de Paolo Maldini), Trapattoni, Rivera e dos brasileiros Mazzola e Amarildo. O primeiro jogo, em Milão, teve vitória do Milan por 4 a 2. O Santos teve a perda de Pelé naquela partida, que se machucou (mesmo fazendo dois gols). Sem o Rei, o time teria que se virar no jogo (ou nos jogos) de volta com Almir Pernambuquinho. E o “Pelé branco” deu conta do recado. Com um gol dele, dois de Pepe e um de Lima, o Santos devolveu o placar aos italianos no Maracanã: 4 a 2. Haveria o terceiro jogo, também no estádio carioca. O jogo decisivo foi tenso, com muitas faltas, entradas duras e o clima de hostilidade prevalente. Mas, de novo, Almir fez a diferença. Foi ele quem sofreu o pênalti aos 29 minutos do segundo tempo, provocando a expulsão de Cesare Maldini, capitão do Milan. Dalmo bateu e fez o único gol do jogo: Santos 1×0 Milan, peixe bicampeão mundial de futebol. O Maracanã explodiu em alegria. Ninguém podia com o time brasileiro, que mostrava ter força em seu grupo mesmo sem Pelé. O Brasil estava pequeno para o Santos. Era hora de se exibir para quem quisesse ver.

 

Fama mundial

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Depois dos melhores anos do Santos na história, nas temporadas seguintes, o time passou a excursionar pelo mundo e se exibir, a fim de popularizar o nome do time fora do país, bem como popularizar o futebol brasileiro no geral. Talvez por conta disso, o clube não deu a devida importância às disputas seguintes da Copa Libertadores, torneio que voltaria a ganhar apenas em 2011. Uma pena, pois com o esquadrão que o time possuía, poderia ser o “Real Madrid das Américas” e vencer umas 4, 5 taças consecutivas. Mas o peixe não parou de ganhar títulos. Foram mais seis títulos estaduais entre 1964 e 1973, além de Torneios Rio SP, o penta da Taça Brasil e outros torneios internacionais.

 

Quando o Rei foi caçado

Em 1966, já com fama mundial e consagrado, Pelé era a grande esperança do Brasil em busca do tricampeonato na Copa da Inglaterra. Porém, o Rei foi caçado sem dó em campo, sofreu com as botinadas dos rivais e viu a seleção ser eliminada ainda na primeira fase, numa Copa onde a sensação maior foi o português Eusébio e o defensor Bobby Moore, capitão da Inglaterra, a campeã daquele ano. Pelé comentou, certa vez, sobre aquele Mundial e a responsabilidade depositada nele:

“Foi uma tristeza muito grande para mim, pois eu já era o Pelé e a cobrança era muito grande. Tanto que eu pensei até em desistir de jogar.”

Mas o Rei não tinha com o que se preocupar. A maior Copa de sua carreira estava prestes a chegar.

 

Parando guerras

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O ano de 1969 foi histórico para Pelé e para o Santos. Não por conta de títulos, pois o clube venceu apenas o Campeonato Paulista, completando mais um tricampeonato, o segundo da década. O ano foi histórico porque em uma de suas excursões pelo mundo, o time de Pelé foi capaz de parar duas guerras. Isso mesmo! Em uma visita à África, o time brasileiro provocou o cessar fogo na Guerra do Congo Belga entre as forças Kinshasa e Brazzaville, para que as cidades pudessem assistir aos jogos do peixe. Outro conflito paralisado por conta do Santos foi a Guerra de Biafra, na Nigéria. Porém, logo após as partidas, os conflitos recomeçaram… Mesmo assim, o fato foi marcante e estampou as páginas dos mais importantes jornais do planeta, além de inspirar a torcida do Santos a citar o fato em uma de suas cantorias sobre aquele timaço:

“O meu Santos é sensacional

Só o Santos parou a guerra

Com Rei Pelé, bi Mundial

O maior time da Terra”

Mas, o grande fato do ano seria protagonizado por Pelé: a chegada do esperado gol mil.

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1000 vezes Pelé

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À medida que Pelé marcava gols e mais gols na carreira, ele se aproximava de maneira incrível do gol de número 1000, algo inédito no futebol mundial. No ano de 1969, o Rei, enfim, chegou aos 990, ficando a apenas 10 do 1000, iniciando a contagem regressiva e a expectativa. O Rei esteve perto de marcar o milésimo num jogo contra o Botafogo da Paraíba, partida em que anotou um gol, mas teve de substituir o goleiro santista que teve uma suposta contusão. Porém, muitos creditam isso a uma “armação” do técnico Antoninho, que pediu para o arqueiro fingir uma contusão para que Pelé não fizesse o milésimo gol fora do eixo Rio-SP. O gol 1000 deveria ser no Maracanã. E foi.

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Em um jogo contra o Vasco, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, no dia 19 de novembro de 1969, mais de 65 mil pessoas estavam no Maracanã com a certeza de que veriam o Rei marcar seu gol 1000. Todos se perguntavam como ele seria. Driblando vários adversários? Partindo de uma arrancada fulminante que só ele sabia fazer? De cabeça? De bicicleta? De voleio? Não, de pênalti! O zagueiro Renê, do Vasco, cometeu falta dentro da área. Pênalti. Depois de muita contestação, Pelé pegou a bola e partiu para a cobrança. Ali, o Rei confessou que pela primeira vez na carreira tremeu. Mas quem é Rei se garante. Ele partiu e bateu com força, no canto direito. O goleiro vascaíno Andrada até relou na bola, mas não conseguiu defender: gol! Gol mil! O estádio explodiu em alegria! Dezenas de fotógrafos invadiram o gramado para registrar o momento histórico, enquanto o goleiro Andrada socava o chão de raiva. Pelé dedicou o gol às crianças carentes e pobres do Brasil, muito emocionado e beijando a bola. O craque chegava à marca tão histórica e quase impossível. Mas ele queria mais…

Há 40 anos, Pelé fazia história com um pênalti: o milésimo gol

 

A Copa do Rei

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Perto do Mundial de 1970, Pelé sabia que aquela seria sua última chance de disputar e vencer uma Copa do Mundo, podendo ser o primeiro e único jogador a vencer o torneio três vezes. Sabendo da chance que tinha, ele se preparou como nunca. Com 29 anos, o Rei estava tinindo e se preparou mentalmente e fisicamente para dar show no México. Nas eliminatórias, o Rei ajudou a seleção a dar show, com seis vitórias em seis jogos. Mas alguns resultados ruins na preparação para a Copa, desentendimentos, e contestações do então técnico João Saldanha com relação aos seus jogadores como “Gérson não tem espírito de seleção”, “Tostão teve um deslocamento de retina, não pode mais jogar” e “Pelé está ficando cego(!)”  deixaram o Rei e toda a nação preocupados. Os fatos culminaram com a demissão de Saldanha e a chegada de Zagallo, velho companheiro de Pelé nos tempos do bicampeonato mundial em 1958 e 1962. O grupo se ajeitou, Zagallo treinou muito bem a equipe e a seleção foi bem e calma ao país latino.

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No México, o Brasil começou a caminhada do tri contra a Tchecoslováquia. A equipe saiu atrás do placar, mas depois impôs seu jogo e venceu por 4 a 1, com direito a um cartão de visitas de Pelé: um chute de meio de campo, seco, que por pouco não entrou no canto esquerdo do goleiro europeu. Era o início das fantásticas obras que Pelé faria naquela Copa.

O jogo seguinte foi contra a temida Inglaterra, atual campeã mundial e com o mito Bobby Moore. A partida foi dura, Moore marcou de maneira implacável Pelé, mas o Brasil tinha Tostão e Jairzinho, autor do único gol do jogo, após jogada de Tostão, e, claro, Pelé: Brasil 1 x 0 Inglaterra. Nesse jogo, Pelé e o goleiro inglês Gordon Banks protagonizaram um lance eterno. Após cruzamento da esquerda, Pelé subiu mais alto que todos os ingleses e cabeceou forte, bola em direção ao chão, praticamente certa de que iria ao gol. Mas, com um reflexo alucinante, Banks conseguiu colocar a bola para escanteio. Aquela foi considerada a maior defesa da história das Copas, quiçá a maior de todas. Ambos se cumprimentaram após o lance. Com a classificação assegurada, o Brasil queria vencer a última partida da primeira fase para continuar na cidade de Guadalajara e evitar grandes deslocamentos na segunda fase. Dito e feito: a seleção venceu a Romênia por 3 x 2 (com dois gols de Pelé) e o estádio Jalisco continuou sendo a casa do Brasil. Sair dali, apenas para a final.

Nas quartas de final, a seleção despachou o surpreendente Peru de Cubillas e venceu por 4 a 2, se garantindo na semifinal. O adversário seria um fantasma: o Uruguai.

 

Vingança

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Quis o destino que aquela grande seleção tivesse um desafio emocional pela frente: enfrentar, pela primeira vez em copas, desde a fatídica final de 1950, o Uruguai. As equipes começaram cautelosas, se estudando. O Uruguai saiu na frente com Cubilla, após passe de Morales, num gol meio que sem querer, após o chute do uruguaio sair meio que torto. Com a liderança no placar, o Uruguai cozinhava a partida, não deixava o Brasil jogar. Foi então que Zagallo mexeu na maneira do time jogar, recuando Gérson e liberando Clodoaldo ao ataque. Deu certo, o santista empatou, e deu mais tranquilidade ao Brasil. No segundo tempo, o Brasil virou, após ótima jogada do trio de ouro Pelé-Tostão-Jairzinho, com este último fuzilando pro gol. O Brasil ainda faria mais um com Rivelino, fechando o placar em 3 a 1. Fantasma enterrado, e passaporte carimbado para a final, no estádio Azteca. Além da vitória, o destaque do jogo foi Pelé, claro, que mesmo sem marcar protagonizou dois lances incríveis.

O primeiro foi um chute de bate pronto após uma reposição errada do goleiro Mazurkiewicz. O goleiro uruguaio pegou, mas no susto. O outro foi fantástico. Pelé recebeu a bola da esquerda, Mazurkiewicz saiu do gol para tentar pegá-la, mas eis que ele viu o brasileiro chegando como um foguete. Sem saber o que fazer, ele vê o Rei passar por ele sem tocar na bola, num drible de corpo sensacional. Goleiro batido, Pelé chutou para o gol, mas um pedaço de grama raspado pela chuteira do uruguaio Ancheta, que corria desesperadamente em direção ao gol, tirou a bola, que foi pra fora. Ia ser um gol esplendoroso. Mas, quiseram os deuses do futebol que a obra prima ficasse apenas no “quase”…

 

Aula de futebol

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Brasil e Itália, então bicampeões mundiais, duelaram pela posse definitiva da taça Jules Rimet naquele 21 de junho de 1970, no estádio Azteca tomado por mais de 100 mil pessoas. Era o jogo perfeito para encerrar uma Copa perfeita, com o melhor nível técnico de todos os tempos. Mas, parece até que não avisaram o Brasil que era um jogo final… A seleção não tomou conhecimento dos italianos e exibiu um futebol vistoso, alegre, preciso, rápido, elegante, lindo. O Brasil abriu o placar com um golaço de Pelé, de cabeça, após subir quase um metro de altura para marcar 1 a 0.

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A Itália empatou com Boninsegna. Mas, no segundo tempo, o Brasil deu seu show. Gérson fez 2 a 1 com um petardo de sua canhota de ouro. O terceiro saiu após passe preciso de Gérson para Pelé, que deixou Jairzinho livre para marcar seu sexto gol na copa. O último gol… Ah… O último gol… Foi simplesmente uma obra prima do futebol arte e coletivo, daquelas que você vê, volta, vê de novo, volta, vê em câmera lenta, e assim sucessivamente. A jogada começa lá na defesa, com Clodoaldo driblando quatro jogadores italianos e tocando na esquerda para Rivellino. O craque lança Jairzinho, que dribla Facchetti e passa para Pelé. O Rei, sem olhar, antevê a corrida na direita de Carlos Alberto. Com um passe sutil e açucarado como quem diz “toma, faz o seu e fecha a conta”, ele rola para o melhor lateral-direito da história encher o pé: 4 a 1. O estádio enlouquece, o México enlouquece, o Brasil enlouquece, o mundo enlouquece: Brasil tricampeão de futebol. O futebol, naquela tarde, nunca ficou tão emocionado e feliz. E Pelé era coroado definitivamente como o maior jogador de futebol de todos os tempos, com lances, jogadas, passes e gols que o eternizaram no esporte e na vida de milhões de pessoas.

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Perto do adeus

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Depois da coroação definitiva no México, o ano de 1971 foi de lágrimas para o Rei. Mas lágrimas boas. Ele se despediu da seleção brasileira sob pedidos de “fica!” “fica!” de mais de cem mil pessoas durante mais de vinte minutos, no empate em 2 a 2 contra a Iugoslávia, no Maracanã. O Rei chorou muito, mas sabia que aquele era o momento de dar espaço a novos craques na seleção. Também em 1971, o Rei disputou sua milésima partida na carreira, no Suriname, num amistoso do Santos contra o Transvaal. O Peixe venceu por 3 a 0, com um gol do Rei.

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Em 1974, depois de ter conquistado seu último Campeonato Paulista pelo Santos, em 1973, Pelé decidiu aceitar uma aventura nos EUA e jogar pelo Cosmos, de New York. O jogo de despedida do Rei foi na Vila Belmiro, contra a Ponte Preta, com vitória por 2 a 0. Pelé não conseguiu marcar um golzinho, mas não importava.

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Num determinado momento do jogo, Pelé agarrou a bola, entregou-a ao juiz, se ajoelhou no centro do gramado, abriu os braços em cruz e virou-se para os quatro lados do campo, como quem agradece a tudo e a todos pelas glórias imensas que a Vila mais famosa do mundo lhe deu. Mais uma vez, o emotivo Pelé chorou, assim como todos os presentes e a torcida do Santos, que demoraria quase três décadas para ver seu time voltar a ser grande. Terminava ali a história construída nos mais diversos campos do planeta de 18 anos, seis meses e 26 dias. Antes de sua despedida, Pelé perguntou;

“Será que vão me esquecer?”

 

Acho que ninguém precisou responder, não é?

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Estrela americana

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Em 1975, já com 35 anos, Pelé não tinha mais o vigor de anos atrás, mas ainda sim fazia estragos homéricos, coisas de Rei mesmo. O craque marcou vários gols, fez jogadas que encantaram os norte-americanos e ajudou a plantar a semente do “soccer” por lá, além de abrir as portas para vários outros craques mundiais se aventurarem e ganharem uma grana vertiginosa nos EUA, caso de Beckenbauer, Carlos Alberto Torres entre outros. Em 1977, Pelé ajudou o Cosmos a conquistar o Campeonato Norte-Americano daquele ano, que seria também seu último como jogador de futebol.

Em outubro de 1977, Pelé deu adeus definitivamente ao mundo da bola, num amistoso contra o Santos. O Rei jogou um tempo por cada equipe, e marcou um gol pelo Cosmos, de falta, na vitória do time norte-americano por 2 a 1. O mundo dava adeus ao maior mito do esporte e ao atleta que reinventou o futebol como um todo.

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Lenda indiscutível

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Depois de pendurar as chuteiras, Pelé administrou sua vida financeira e pessoal com a mesma categoria dos gramados, indo no caminho oposto de seus companheiros, que não enriqueceram e chegaram até a viver na miséria e no esquecimento (caso de Garrincha). Sem vícios e sempre com alegria, o Rei participou de comerciais, criou empresas, lançou discos (!) e atuou em centenas de propagandas e ações de marketing, perpetuando sua imagem para fora dos gramados. Houve momentos ruins, claro, mas nada que abalasse o que o craque fez dentro de campo. No início dos anos 80, Pelé foi eleito por jornalistas do mundo inteiro o Atleta do Século XX, seu prêmio mais importante e imponente, que fez dele o maior mito do esporte mundial e colocou o Brasil definitivamente como o país do futebol.

Na tarde do dia 29 de dezembro de 1982, Pelé faleceu em São Paulo, aos 82 anos, após complicações ocasionadas por um câncer no cólon. A notícia devastou o mundo do futebol e repercutiu em todo o planeta, só comprovando o tamanho do Rei para o esporte e para a humanidade. Afinal, ele foi o ser humano mais conhecido que Jesus Cristo. Foi o Rei. Eterno. Seu corpo foi velado na Vila Belmiro, local onde tanto brilhou e transformou. Por mais dor e tristeza que tenha sido aquele momento de adeus, parecia até que ele estava presente naquele cortejo, saudando as pessoas que acenavam pelo caminhão de bombeiros que o conduziu até a Vila e, depois, até o cemitério.

A história de Pelé é rica, vasta e impressionante. O Imortais contou apenas os momentos mais marcantes de um jogador que superou as barreiras do tempo e que nasceu para jogar futebol, para dar espetáculo, show. Pelé foi um autodidata do esporte, que sabia o que fazer com a bola mesmo sem ter tempo de treinar. Tinha controle, explosão, precisão nos chutes (com ambas as pernas), cabeceios, passes e lançamentos. Driblava sempre para frente, sem firulas, com objetividade e um só objetivo: o gol, coisa que ele fez e celebrou 1.283 vezes em 1.363 jogos. Pelé foi, é e sempre será o Rei do futebol. Podem surgir outros? Como Pelé, não. Surgiram outros excelentes e preciosos e até um tal de Maradona e um certo Messi, mas o primeiro não conseguiu superar nem ao menos igualar o Rei. O segundo está traçando uma carreira impecável, mas ainda longe do Rei. Pelé é imortal, extraterrestre, de outro mundo, como muitos já disseram. Conheceu Papas, presidentes, fez a Rainha Elizabeth II quebrar o protocolo e pedir que ele jogasse em seu time do coração, o Liverpool, parou guerras, foi amado por (quase) todas as torcidas do país (exceto a do Corinthians, a que mais sofreu com o Rei…) e transformou um clube simples numa potência. A única coisa que podemos dizer é: obrigado por ter nascido, Rei. E obrigado por ser brasileiro, gênio imortal e majestade. Pelé se foi, mas ele reside em cada um, em cada amante do futebol. Ele é eterno. É o imortal dos imortais.

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Curiosidades e Extras:

O Rei, segundo algumas personalidades:

“O gol mais bonito que eu marquei saiu de uma tabelinha com a Celeste, e o batizamos Edson Arantes do Nascimento.”Dondinho, pai de Pelé.

 

“Antes do jogo, disse a mim mesmo que ele era feito de carne e osso como qualquer um. Mas eu estava enganado.”Tarcisio Burgnich, zagueiro da Itália encarregado de marcar Pelé na final da Copa do Mundo de 1970.

 

“O meu nome é Ronald Reagan, sou o presidente dos Estados Unidos. Mas você não precisa se apresentar, porque todos sabem quem é Pelé.”Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos

 

O difícil, o extraordinário não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé.”Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro.

 

“O melhor jogador da história foi o Di Stefano, pois me recuso a classificar o Pelé como jogador. Ele estava acima disso.”Ferenc Puskás, capitão e ídolo da seleção húngara na década de 1950.

 

“Em alguns países as pessoas queriam tocá-lo, em outros queriam beijá-lo. Em outros até beijaram o chão que ele pisava. Eu achava tudo isso maravilhoso, simplesmente maravilhoso.”Clodoaldo, ídolo do Santos e campeão do mundo com a Seleção Brasileira em 1970

 

“Depois do quinto gol, até eu tive vontade de aplaudi-lo.”Sigge Parling, zagueiro da Suécia na derrota por 5 a 2 para o Brasil na final da Copa do Mundo de 1958.

 

“Cheguei com a esperança de parar um grande jogador, mas fui embora convencido de que havia sido atropelado por alguém que não nasceu no mesmo planeta que nós.”Costa Pereira, goleiro do Benfica, sobre a derrota por 5 a 2 para o Santos no Mundial Interclubes de 1962, em Lisboa.

 

“Quando vi o Pelé jogar, fiquei com a sensação de que eu deveria pendurar as chuteiras.”Just Fontaine, ídolo da seleção da França e maior artilheiro de uma única edição de Copa do Mundo, com 13 gols marcados em 1958.

 

“O Pelé foi um dos poucos que contrariou a minha teoria: em vez de 15 minutos de fama, ele terá 15 séculos.”Andy Warhol, pintor e cineasta americano.

 

“Você pode estar certo, mas não sabe nada de futebol e eu vi o Pelé jogando.”Vicente Feola, técnico da Seleção Brasileira, ao psicólogo que afirmou que Pelé era jovem demais para jogar no Mundial de 1958.

 

“O Pelé foi o único jogador de futebol que superou as barreiras da lógica.”Johan Cruyff, ídolo, maior jogador da história do futebol holandês e um dos cinco maiores de todos os tempos.

 

“O grande segredo dele era o improviso, aquelas coisas que ele fazia do nada. Ele tinha uma percepção extraordinária do futebol.”Carlos Alberto Torres, capitão da Seleção Brasileira no Mundial de 1970 e companheiro de Pelé no Santos e no Cosmos.

 

“Às vezes fico com a sensação de que o futebol foi inventado para esse jogador fantástico.”Sir Bobby Charlton, ídolo da seleção da Inglaterra.

 

Malcolm Allison: “Como se escreve Pelé?”

Pat Crerand: “Fácil. D-E-U-S.” – Comentaristas da televisão britânica durante o Mundial de 1970.

 

 

Números do Rei:

Disputou 1.363 jogos e marcou 1.283 gols, uma média de 0,94 gol por jogo.

Disputou 812 jogos oficiais e marcou 757 gols, uma média de 0,93 gol por jogo.

Disputou 1.116 jogos pelo Santos e marcou 1.091 gols, uma média de 0,98 gol por jogo.

Disputou 114 jogos pela seleção brasileira e marcou 95 gols, uma média de 0,83 gol por jogo.

É o maior artilheiro da história do Santos.

É o maior artilheiro da história da seleção brasileira.

É o maior artilheiro da história do futebol mundial.

Foi 9 vezes artilheiro do Campeonato Paulista de maneira consecutiva, marcando um total de 342 gols. Ao todo, foi artilheiro em 11 oportunidades, somando 379 gols. Um recorde.

Anotou 49 gols em jogos contra o Corinthians, seu rival “favorito”.

Disputou 14 jogos de Copa do Mundo e marcou 12 gols, uma média de 0,86 gols por jogo.

 

História curiosa

Leia a seguir a história incrível contada por Michael Laurence, em reportagem da Revista Placar de 1990.

Certa vez, num jogo entre Santos e Noroeste, o time de Bauru precisava da vitória e tratou de arranjar a partida com o juiz. Quando o jogo começou, o Noroeste abriu 1 a 0 em um gol impedido, que o juiz, claro, validou. Logo depois, o Santos empatou. O primeiro tempo não terminou enquanto o juizão não desse um pênalti escandaloso a favor do Noroeste: 2 a 1. No segundo tempo, o Santos empatou. Perto do final do jogo, escanteio para o Santos. Pepe bateu e Pelé fez de cabeça. O juiz anula e manda voltar o escanteio, afirmando que ainda não havia autorizado a cobrança. Pepe bate de novo e Pelé faz outra vez de cabeça. O juiz anula dizendo que a bola estava fora do lugar na marca de escanteio. Depois de muita briga, Pepe coloca a bola outra vez na marca, espera o juiz apitar e cobra. Pelé sobe e… Impressionante, marca de cabeça. Aí, o juiz virou em direção ao banco do Noroeste e abriu os braços como quem diz: “Não tem jeito!”.

 

Leia uma homenagem especial do Imortais ao Rei clicando aqui!

 

O mais bonito, segundo o Rei

Veja a obra prima de Pelé contra o Juventus.

Gol de Placa

Veja uma matéria que reproduz o gol de placa do Rei no Maracanã

 

O Rei em ação

Veja imagens marcantes da carreira de Pelé, seus gols, seus lances, sua arte. É ver para crer.

 

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Comentários encerrados

7 Comentários

  1. No futebol, já houve Anjos, Kaisers, Imperadores, Reis, Príncipes, Gênios… Mas só um mudou o jogo e transformou o futebol na maior paixão esportiva do planeta. Pelé é (não foi, mas é) a encarnação do jogo bretão. Incomparável. O maior de todos, e que não foi superado, mesmo com toda a evolução de 150 anos. Por quê? Porque ele fez o que ninguém foi capaz. É um privilégio ainda termos ele conosco. No dia em que ele for embora, o mundo vai cair na real a respeito de quem é Edson Arantes do Nascimento.

  2. Fantástica homenagem ao Rei Pelé que alguns ainda tentam comparar com craques atuais como Messi. Jogar num time-seleção é uma coisa. Outra é ganhar o que Pelé ganhou de títulos inclusive três copas do mundo. Antes de todos esses que brilham no futebol europeu temos que pensar num Garrincha pouco lembrado mas um dos mais geniais jogadores de todos os tempos.

  3. Cara Sou Santista fiquei emocionado com o texto parabenns mil vezes Imortais ja li mtos artigos sobre o Rei Pelé mas esse foi Sensacional como disseram personalidades,Ex-jogadores,Artistas quem o viu jogar sabe que ele foi e será Unico impossivel existir um outro jogador com tds essas qualidades simplesmente perfeito

  4. Gênio..Monstro..Espetacular.Único falar oque desse jogador…e ainda é criticado por muito aqui no Brasil. mais digo uma coisa só ele nunca recusou dar um autografo para um fã nunca recusou uma entrevista fala muita merda AINDA BEM se não eu teria a convicção que ele não era Humano mesmo. obrigado por tudo ao REI do Futebol

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