Nascimento: 16 de Janeiro de 1935, em Bosemb, na antiga Prússia Oriental, território alemão na época (hoje, uma região da Polônia). Faleceu em 31 de janeiro de 2015, em Colônia, Alemanha.
Times que treinou: Bayern München-ALE (1970-1975 e 1983-1987), Borussia Mönchengladbach-ALE (1975-1979), Borussia Dortmund-ALE (1979-1981 e 2000), Barcelona-ESP (1981-1983), Köln-ALE (1991) e Schalke 04-ALE (1992-1993).
Principais títulos por clubes: 1 Liga dos Campeões da UEFA (1973-1974), 6 Campeonatos Alemães (1971-1972, 1972-1973, 1973-1974, 1984-1985, 1985-1986 e 1986-1987) e 3 Copas da Alemanha (1970-1971, 1983-1984 e 1985-1986) pelo Bayern München.
1 Copa da UEFA (1978-1979) e 2 Campeonatos Alemães (1975-1976 e 1976-1977) pelo Borussia Mönchengladbach.
1 Recopa da UEFA (1981-1982) pelo Barcelona.
Principal feito individual: foi o primeiro técnico da história a conquistar os maiores torneios organizados pela UEFA (Liga dos Campeões, Copa da UEFA e Recopa da UEFA). Além disso, conseguiu tal façanha por três clubes diferentes.
“Der Größte Lehrer”
Por Guilherme Diniz
Como diz o título deste texto, ele foi o “grande professor” do futebol alemão. Nenhum outro venceu tantos títulos por clubes germânicos como ele e nenhum outro treinador daquela terra conseguiu vencer os três principais torneios organizados pela UEFA, muito menos por três clubes diferentes. Até Franz Beckenbauer, o maior jogador de toda a história da Alemanha, se rendeu aos talentos, às táticas e ao estilo clássico de ensinar futebol de Udo Lattek, um homem que nasceu para os esportes, que sempre teve o porte e o físico de atleta e que esbanjou inteligência durante três décadas. Um dos muitos adeptos do “Futebol Total”, Lattek montou um dos maiores esquadrões que a Alemanha – e o mundo – já viu: o Bayern München dos anos 70, aquele multicampeão europeu e que foi a base da Alemanha campeã da Copa de 1974 com Sepp Maier, Schwarzenbeck, Gerd Müller, Uli Hoeness e, claro, Beckenbauer.
Alguns anos depois, Lattek comandou outro timaço: o Borussia Mönchengladbach de Vogts, Schäffer, Nielsen, Simonsen e Danner, único time capaz de bater de frente com o próprio Bayern naquele final de década. Campeão de quase tudo por essas duas equipes, o técnico ainda conseguiu títulos no Barcelona e foi o primeiro a ousar em dizer que as interferências externas prejudicavam o ambiente desportivo do clube naquele começo de anos 80. Perto do novo milênio, o Borussia Dortmund apelou para a sabedoria de Lattek para escapar do rebaixamento no Campeonato Alemão. Em apenas cinco jogos, Lattek livrou os aurinegros da queda e pôde, enfim, se aposentar. É hora de relembrar a carreira de um dos mais brilhantes mestres do futebol.
Vocação para o esporte. E para ensinar
Nascido na antiga região da Prússia Oriental, território alemão nos anos 30, Udo Lattek começou desde cedo a demonstrar enorme interesse e vocação para a prática esportiva. Em provas de atletismo, o jovem se sobressaía perante os colegas com uma velocidade estupenda e era capaz de correr 100 metros em menos de 11 segundos. Tanta rapidez lhe levou ao futebol, onde se tornou um atacante de chutes precisos, grandes investidas em direção à área e excelente impulsão nas jogadas aéreas. A vida de futebolista, no entanto, não foi lá tão promissora e Lattek só jogou por pequenos clubes do país como Marienheide, VfR Wipperfürth, VfL Osnabrück, e uma só passagem por um clube de destaque – o Bayer Leverkusen. Com o dinheiro que ganhava jogando futebol, Lattek pagava seus diversos estudos com foco na docência. Em Münster, Lattek estudou Matemática e Física entre 1955 e 1958. Em seguida, o jovem estudou e lecionou Educação Física no Engelbert-von-Berg-Gymnasium, em Wipperfürth, região oeste da Alemanha. Tanto estudo despertou no jovem o interesse em aplicar os conhecimentos adquiridos no futebol, e Lattek decidiu pendurar as chuteiras com apenas 30 anos, em 1965, para assumir as equipes juvenis da seleção da Alemanha e se tornar assistente técnico de Helmut Schön, treinador da equipe principal.
Em 1966, Schön levou Lattek e Dettmar Cramer, seu outro assistente, para a Copa do Mundo daquele ano com o intuito de mostrar aos jovens aprendizes as particularidades que envolviam o treinamento e a preparação de um grande time. Naquele Mundial, a Alemanha fez uma ótima campanha, passou por equipes como Espanha, Suíça, Uruguai e URSS e chegou até a final, perdida por 4 a 2 para a Inglaterra, dona da casa. Mesmo com o vice, a Alemanha saiu de cabeça erguida da Copa e com a certeza de que alguns daqueles jogadores – incluindo um jovem promissor chamado Franz Beckenbauer – poderiam levantar a taça no futuro.
O melhor dos convites
Após a Copa de 1966, Lattek percebeu que não poderia tomar o lugar do mestre Schön e começou a ficar de plantão em busca de sua primeira oportunidade real em um clube. Foi então que, em 1970, Franz Beckenbauer perguntou ao novato técnico se ele não queria assumir o Bayern München, clube do “Kaiser” na época. Lattek não pestanejou e aceitou o desafio, que virou real em março daquele ano. A chegada do treinador foi cercada de desconfiança pelo fato de ele não ter nenhuma experiência em clubes e ter passado pouco tempo sob a sombra de Helmut Schön. Mas a indicação de Beckenbauer, bem como a fama de o Kaiser raramente errar no que fazia ou falava pesaram.
A base de jogadores que o Bayern ofereceu à Lattek era a melhor possível. O time contava, além de Beckenbauer, com Sepp Maier e Gerd Müller, que ganharam as companhias de Uli Hoeness e Paul Breitner naquele ano de 1970, ambos incorporados por Lattek. Aos poucos, Lattek foi mostrando aos seus comandados a importância do preparo físico para a prática do Futebol Total, no qual os jogadores não tinham posição fixa e percorriam todos os espaços do campo com dinamismo e muitas variações. Era o início de tempos prósperos na Baviera.
Os primeiros louros
A primeira taça conquistada por Lattek no Bayern foi a Copa da Alemanha de 1970-1971, após uma vitória por 2 a 1 sobre o Köln. Na temporada seguinte, o time mostrou muita força ofensiva e faturou a Bundesliga com uma campanha irrepreensível: 24 vitórias, sete empates, três derrotas, 101 gols marcados e apenas 38 sofridos em 34 jogos. Logo no primeiro turno, a equipe de Lattek ficou 14 rodadas seguidas sem perder e venceu 11 dos últimos 12 jogos disputados no campeonato. O maior responsável pela quantidade de gols foi, claro, Gerd Müller, que marcou 40 vezes e se tornou o artilheiro da competição. Outro destaque da campanha foi a incrível goleada de 11 a 1 sobre o Borussia Dortmund, que seria a maior aplicada pelo clube em sua casa na história da Bundesliga. Foi naquela temporada, mais precisamente nos 5 a 1 sobre o Schalke 04, na última rodada, que o Bayern jogou pela primeira vez no recém-inaugurado estádio Olímpico de Munique, construído em 1972 para as Olimpíadas daquele ano (e, claro, para a Copa do Mundo que estava prestes a acontecer, em 1974).
O título nacional deu ao Bayern uma vaga na Liga dos Campeões de 1972-1973. A equipe caminhou fácil nas primeiras fases após eliminar Galatasaray-TUR (7 a 1 no agregado) e Omonia-CHP (13 a 0 no agregado). Porém, nas quartas de final, o time teria pela frente o esquadrão do Ajax-HOL, então bicampeão europeu. No primeiro jogo, em Amsterdã, goleada dos alvirrubros por 4 a 0. Os alemães ficaram atordoados naquela partida tamanha a superioridade de Cruyff, Neeskens, Rep, Krol e Haan. Na volta, a vitória do Bayern por apenas 2 a 1 não evitou a eliminação.
O Ajax se sagrou tricampeão europeu naquela temporada e o sentimento dos bávaros foi de decepção mesmo com o consolo de ver Gerd Müller como artilheiro do torneio com 12 gols em apenas cinco jogos. Eles sabiam que eram ótimos, mas não esperavam que o Ajax fosse dar um vareio daqueles. A inexperiência em competições europeias talvez fosse uma explicação, mas Udo Lattek não deixou a derrota consumir seus jogadores. Com seus habituais discursos motivacionais e conversas amigas e francas com os atletas, o técnico levou confiança e ótimas vibrações para a temporada que estava por vir.
Se na Europa o Bayern não conseguiu evitar o tricampeonato do Ajax, na Alemanha o time sobrou novamente e venceu o bicampeonato alemão em 1972-1973. O time fez uma nova campanha brilhante, com 25 vitórias e apenas cinco derrotas em 34 jogos, com 93 gols marcados e 29 sofridos. As grandes goleadas da vez foram: 7 a 2 no Hannover, 6 a 0 no Kaiserslautern e 5 a 0 no Schalke 04. Mais uma vez, classificação assegurada para a Liga dos Campeões.
A conquista da Europa
Mantendo a base vencedora, o Bayern partiu com tudo em busca de seu primeiro título na Liga dos Campeões. O time avançou no sufoco na primeira fase, nos pênaltis, ao bater o desconhecido Åtvidabergs, da Suécia. Na segunda fase, o time passou pelo Dynamo Dresden, da então Alemanha Oriental, depois de uma enxurrada de gols: 4 a 3 para o Bayern no primeiro jogo e empate em 3 a 3 no segundo. A surpresa ficou por conta do Ajax, que foi eliminado pelo CSKA Sofia, da Bulgária. Sem o titã holandês, o caminho alemão ficaria mais fácil. Nas quartas de final, o time respirou aliviado ao enfrentar o algoz do Ajax. Os alemães trataram de espantar a zebra e venceram o primeiro jogo, em casa, por 4 a 1, e perderam o segundo por apenas 2 a 1, o que garantiu a vaga nas semifinais. O adversário era outro desconhecido, o Újpest, da Hungria. O confronto foi mais fácil e o Bayern empatou o primeiro jogo em 1 a 1 e venceu o segundo por 3 a 0.
A final seria contra o Atlético de Madrid, da Espanha. O primeiro jogo terminou empatado em 1 a 1. Como não havia disputa por pênaltis, foi marcada uma nova partida. E foi nela que o Bayern mostrou toda a sua força e arrasou os espanhóis: 4 a 0, com dois gols de Müller e dois de Hoeness. Udo Lattek conquistava seu primeiro troféu europeu, bem como o primeiro do Bayern na Liga dos Campeões e de um clube alemão no torneio na história. Tempo depois, a equipe não aceitou disputar o Mundial Interclubes e cedeu sua vaga ao Atlético, vice-campeão.
Ainda naquela temporada, Udo Lattek conduziu o Bayern ao tricampeonato alemão com 20 vitórias, nove empates, cinco derrotas, 95 gols marcados e 53 gols sofridos em 34 partidas. Os bávaros não perderam nenhum jogo em casa e ainda golearam o Hamburgo por 5 a 0 jogando fora de Munique. Gerd Müller foi mais uma vez artilheiro do torneio com 30 gols marcados, mas teve a companhia do atacante Jupp Heynches, do Borussia Mönchengladbach, também com 30.
Mudança de ares
O trabalho desenvolvido por Lattek em Munique foi amplamente elogiado pela mídia da época e pelos jogadores comandados pelo treinador, incluindo Beckenbauer, que disse certa vez:
“Lattek foi mais do que um golpe de sorte. Ele sabia exatamente o que necessitávamos e sempre tocava a tecla correta”.
Com praticamente uma taça conquistada por ano, Lattek parecia ter vida longa em Munique, mas deixou o comando da equipe em 1975, sem tempo de levantar o bicampeonato europeu que seria conquistado pelo Bayern. O substituto do técnico foi Dettmar Cramer, antigo companheiro de Lattek na seleção Alemã. O curioso é que Beckenbauer foi o responsável por levar Cramer à Munique após sugerir o técnico ao presidente do Bayern. Sem perder tempo, Lattek foi comandar o Borussia Mönchengladbach, segunda força do país na época e único capaz de bater de frente com o Bayern que o próprio técnico havia montado.
Os alvinegros queriam manter a sina de chegada após a saída do ídolo Hennes Weisweiler, treinador da equipe entre 1964 e 1975 e responsável por três campeonatos nacionais, uma copa nacional e uma Copa da UEFA conquistados pelo Borussia. Com vários nomes de peso e craques em todas as posições do campo, Udo Lattek manteve a pegada competitiva da equipe e faturou logo de cara, na temporada 1975-1976, o Campeonato Alemão após 16 vitórias, 13 empates e apenas cinco derrotas em 34 jogos. O destaque foi a goleada de 4 a 1 sobre o Bayern, em casa, numa atuação memorável que teve um doce sabor de vingança para Lattek.
A Europa por um triz
Na temporada 1976-1977 o Borussia de Lattek atingiu o seu auge e por muito pouco não se tornou o maior time do planeta. Em casa, a equipe repetiu o feito do Bayern e foi tricampeã consecutiva do Campeonato Alemão com 17 vitórias, 10 empates e sete derrotas em 34 jogos, com 58 gols marcados e 34 sofridos. Simonsen e Heynckes se entrosavam cada vez mais e eram as estrelas maiores do ataque. Na Liga dos Campeões, a equipe fez sua melhor campanha na história. Eliminou na primeira fase o Austria Vienna-AUT com derrota no primeiro jogo por 1 a 0 e vitória em casa por 3 a 0 (gols de Stielike, Bonhof e Heynckes). Nas oitavas, vitória fora de casa sobre o Torino-ITA por 2 a 1 (gols de Vögts e Klinkhammer) e empate sem gols na Alemanha. Nas quartas de final, empate em casa contra o Brugge-BEL por 2 a 2 (gols de Kulik e Simonsen) e vitória apertada por 1 a 0 na Bélgica (gol de Hannes). Na semifinal, a equipe superou a derrota no primeiro jogo para o Dynamo Kyiv-URSS por 1 a 0 e venceu por 2 a 0 em casa (gols de Bonhof e Wittkamp), garantindo os alemães numa inédita final. O adversário, porém, não trazia boas recordações: era o Liverpool, algoz da derrota na Copa da UEFA de 1973.
Em Roma, na Itália, o Liverpool tinha a chance de conquistar seu segundo título continental seguido, somando a conquista da Copa da UEFA de 1976. O time entrava em campo já com o título de bicampeão da Inglaterra, conquistado em cima do Manchester City. Os Reds marcaram o primeiro gol logo aos 28´do primeiro tempo com Terry McDermott. No segundo tempo, empate do Borussia com Simonsen. Na sequência, Tommy Smith deixou os ingleses na frente e Phil Neal, de pênalti, marcou o gol do título do Liverpool.
A cidade de Roma via o esquadrão vermelho conquistar pela primeira vez o título máximo do futebol europeu e igualar o feito do Manchester United. Já o Borussia perdia pela segunda vez uma final para os ingleses e a chance de coroar um trabalho magnífico com a maior taça da Europa. Uma boa notícia depois do revés foi a escolha do craque Allan Simonsen como o Melhor Jogador da Europa de 1977. Meses depois, o time disputou o Mundial Interclubes de 1977 contra o Boca Juniors-ARG graças à desistência do Liverpool, que “não encontrou datas disponíveis” para a realização das partidas. Os alemães acabaram derrotados pelos argentinos após empate em 2 a 2 na Argentina e derrota por 3 a 0 na Alemanha.
Máquina de gols
Na temporada 1977-1978 o Borussia de Lattek não conquistou o tetracampeonato alemão por causa de três gols. Isso mesmo. O time terminou a competição com o mesmo número de pontos do Köln, mas ficou com o vice pelo fato de o rival de Colônia ter saldo maior em três gols. Isso porque o Borussia anotou 86 gols em 34 jogos (mesmo número do Köln), mas levou 44 (o Köln, 41). Uma curiosidade foi que as equipes chegaram à última rodada com o Borussia 10 gols atrás do Köln. Para reverter o resultado, apenas uma goleada homérica pra cima do Borussia Dortmund poderia dar chances de título ao Mönchengladbach. E não é que os comandados por Udo Lattek conseguiram a proeza de aplicar a maior goleada da história da Bundesliga? O jogo foi 12 a 0 para o Borussia em cima do rival de Dortmund! Mas o esforço foi em vão. No mesmo dia, o Köln fez 5 a 0 e ficou com a taça…
Nova glória continental
Após o vice, o Borussia começou a perder sua intensidade e fez uma péssima campanha na Bundesliga de 1978-1979 (levando inclusive um chocolate de 7 a 1 do Bayern München em casa), ficando apenas na décima colocação. Jupp Heynckes, ídolo e um dos maiores artilheiros da década, se aposentou naquele ano. Porém, faltava o último canto do cisne, que aconteceu na Copa da UEFA. Depois de eliminar Sturm Graz-AUT, Benfica-POR, Slask Wroclaw-POL, Manchester City-ING e Duisburg-ALE, o time alcançou sua quarta final continental na década (e a terceira de Lattek). O adversário foi o Estrela Vermelha-IUG. No primeiro jogo, na Iugoslávia, empate em 1 a 1, com o gol alemão marcado por Jurisic, contra.
Na volta, mais de 45 mil torcedores empurraram o Borussia rumo à vitória por 1 a 0, gol de pênalti marcado por Simonsen. O Borussia era bicampeão da Copa da UEFA e coroava definitivamente aquela geração como a melhor da história do clube. Já Lattek conquistava sua segunda taça continental e mostrava que não era famoso apenas por ter tido a honra de comandar um time repleto de talentos como o do Bayern do começo dos anos 70. Ele tinha, sim, uma qualidade formidável para conduzir times até os seus limites (que eram, quase sempre, levantando troféus).
Professor na Catalunha
No final da temporada 1978-1979, Lattek deixou o comando do Mönchengladbach e assinou com outro Borussia, mas o de Dortmund. Por lá, não teve destaque nem a “mão-de-obra” qualificada para ganhar títulos e viajou até a Espanha para treinar seu primeiro (e único) clube estrangeiro da carreira: o Barcelona. Intelectual, Lattek fez questão de aprender o idioma local durante todo o verão de 1981 e deixou uma ótima impressão ao se apresentar falando um castelhano impecável para quem estava habituado a falar “nur die deutsche Sprache” (“apenas a língua alemã”). A recíproca do Barça também existiu naquela temporada e Lattek encontrou na Catalunha um elenco muito bom e que poderia dar ao treinador mais algumas taças. Migueli, Alexanco, Quini, o ótimo alemão Bernd Schuster e o companheiro dos tempos de Mönchengladbach, o dinamarquês Allan Simonsen, eram alguns dos atletas que brigariam por títulos não só na Espanha, mas também na Europa.
O “campeão total”
No Campeonato Espanhol, Lattek manteve o Barcelona entre os primeiros da competição durante toda a temporada, mas faltou fôlego ao time na reta final e o título acabou ficando com a Real Sociedad de Pedro Uralde. O Barça ficou com o vice-campeonato e apenas dois pontos atrás dos campeões. Foram 19 vitórias, sete empates, oito derrotas, 75 gols marcados (melhor ataque) e 40 sofridos em 34 jogos. O atacante Quini foi o artilheiro da equipe e do torneio com 27 gols. Mas, se não teve taça em casa, o Barcelona foi buscar a glória fora dela. Na Recopa da UEFA de 1981-1982, a equipe passou pelo Botev Plovdiv-BUL, na primeira fase, com um 4 a 2 no placar agregado; eliminou o Dukla Praga-RCH, nas oitavas, com 4 a 1 no agregado, e passou pelo Lokomotive Leipzig, da Alemanha Oriental, com um novo 4 a 2 no placar geral (com destaque para a vitória por 3 a 0 fora de casa). Na semifinal, duelo complicado contra o Tottenham Hotspur-ING. No primeiro duelo, em Londres, empate em 1 a 1. Na volta, Simonsen marcou o único gol da vitória por 1 a 0 que colocou o Barça na decisão.
Os espanhóis deram sorte em 1982 e disputaram a grande final da Recopa em casa, no Camp Nou, no dia 12 de maio. O adversário dos espanhóis foi o forte Standard Liège-BEL de Michel Preud´homme, Eric Gerets, Arie Haan e o técnico Raymond Goethals. Logo aos oito minutos, Vandersmissen abriu o placar para os belgas, mas Simonsen manteve a esperança espanhola com um gol nos acréscimos da primeira etapa. No segundo tempo, o time da casa voltou com tudo e entusiasmado após a motivação extra oferecida por Udo Lattek, especialista em inflar seus atletas em decisões.
Aos 18´, Quini fez o gol da virada e do título histórico do Barcelona, que se tornou bicampeão da competição. Udo Lattek se tornou, naquele dia, o primeiro técnico a conquistar todos os principais torneios organizados pela UEFA e, acima de tudo, por três equipes diferentes. Uma história que começou com a Liga dos Campeões de 1974, com o Bayern, teve uma Copa da UEFA, em 1979, com o Mönchengladbach, e ganhava o ponto final no Camp Nou, em 1982, com a Recopa.
De volta pra casa
Na temporada 1982-1983, Lattek viveu momentos ruins no Barça. O treinador percebeu que não iria continuar por muito tempo no comando pelo fato de a diretoria catalã ter em mente a vinda do argentino César Luis Menotti para extrair o melhor de Diego Maradona, grande contratação da equipe naquele ano. Para piorar, o alemão causou irritação na diretoria catalã ao alertar sobre os problemas que o ambiente externo, a cobiça e a inveja traziam aos atletas e prejudicavam o rendimento do time em campo. Tais fatores fizeram com que Lattek deixasse os blaugranas em 1983. Tempo depois, a equipe retribuiu à distância o trabalho de seu antigo mestre conquistando o título da Copa do Rei (já sob o comando de Menotti). Naquele mesmo ano, o alemão voltou ao Bayern München e já foi levantando uma taça: a Copa da Alemanha, vencida em um duelo cheio de nostalgia contra o Borussia Mönchengladbach do técnico Jupp Heynches, treinado pelo próprio Lattek nos anos 70. A decisão terminou empatada em 1 a 1 e o Bayern venceu nos pênaltis por 7 a 6.
Os Bávaros tinham mais uma vez um ótimo elenco, com Pfaff, Augenthaler, Dremmler, Karl-Heinz Rummenigge e Matthäus, nomes que conduziram o time a três campeonatos nacionais seguidos (1984-1985, 1985-1986 e 1986-1987) e outra Copa da Alemanha, em 1985-1986. A campanha do time no campeonato de 1986-1987 foi simplesmente fantástica: 20 vitórias, 13 empates e apenas uma derrota em 34 jogos, com 67 gols marcados e 31 sofridos. Os comandados de Lattek ficaram da 13ª rodada até a 34ª sem perder um jogo sequer, incluindo oito vitórias seguidas no período. A segunda passagem do treinador em Munique só não foi melhor por causa da derrota na final da Liga dos Campeões de 1987, diante do Porto-POR de Madjer, por 2 a 1. O revés doeu pelo fato de o Bayern ser o favorito absoluto para ficar com o título após ter feito uma campanha mágica antes da decisão, que teve vitória por 2 a 0, fora de casa, sobre o forte PSV-HOL, goleada por 5 a 0 sobre o Anderlecht-BEL e triunfo por 4 a 1 sobre o Real Madrid-ESP de Butragueño, Santillana, Camacho, Sanchís e Míchel.
Idas, vindas e o último truque
Após a dolorosa derrota continental, Lattek decidiu se retirar do futebol e permaneceu ausente dos holofotes por alguns anos até a paixão futebolística voltar a falar mais alto e levá-lo a uma rápida passagem pelo Köln, onde teve mais trabalhos gerenciais do que à beira do gramado. Em 1992, o treinador comandou o Schalke 04 durante algumas partidas e voltou a se aposentar. Até o final da década, Lattek trabalhou como comentarista de TV e colunista de veículos impressos, entre eles a prestigiada revista “Kicker”. Mas um novo desafio ainda restava para que Lattek desse adeus definitivamente às pranchetas e concentrações.
Na temporada de 1999-2000, o Borussia Dortmund fez uma tentadora proposta financeira ao técnico para que ele conseguisse livrar o time do rebaixamento na Bundesliga. Restavam apenas cinco rodadas para o fim e os aurinegros estavam prestes a cair três anos depois de conquistarem a Europa e o Mundo. Lattek, já com 65 anos, aceitou a tarefa e mostrou que tinha mesmo estrela. Em cinco jogos, o Borussia venceu dois, empatou outros dois e perdeu apenas um (para o campeão Bayern), retrospecto que manteve o time na primeira divisão. O canto do cisne de Lattek foi na última rodada, contra o Hertha Berlim, fora de casa, diante de 75 mil torcedores. Os aurinegros venceram por acachapantes 3 a 0 (dois gols de Barbarez e um de Dedê) e silenciaram a capital alemã. Após aquele jogo, Lattek pôde, enfim, descansar. Em 2015, aos 80 anos, o alemão faleceu em Colônia (ALE), após complicações causadas pelo Mal de Parkinson.
Lendário e multicampeão
Primeiro campeão maiúsculo do futebol europeu e responsável por montar o Bayern do começo dos anos 70, considerado um dos maiores esquadrões de todos os tempos, Udo Lattek deixou para os amantes do futebol uma história rica em títulos, grandes façanhas e o brilho de ser profissional ao extremo. Mesmo cercado de estrelas por vários dos clubes que passou, Lattek conseguiu coibir possíveis estrelismos e formou times unidos, dinâmicos e que jogavam sempre para frente, sem retrancas ou medo de perder. Foi tudo isso que tornou o alemão o primeiro técnico a vencer todas as copas organizadas pela UEFA, uma façanha que só foi igualada pelo italiano Giovanni Trapattoni, que faturou as mesmas taças com a Juventus. Mas Lattek ainda leva vantagem por ter vencido os troféus por três clubes diferentes. Coisa de professor. E de imortal.
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Borussia Mönchengladbach anos 1970
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