
Grandes feitos: Vice-campeã da Copa do Mundo da FIFA de 1994 e 3ª colocada da Copa do Mundo da FIFA de 1990.
Time-base: Pagliuca (Zenga); Mussi (Bergomi / Apolloni / Tassotti), Baresi (Costacurta / Vierchowod), Maldini e Benarrivo (Ferri); Dino Baggio (De Napoli / Evani), Albertini (Giannini), Berti (Antonio Conte) e Donadoni (De Agostini); Roberto Baggio (Serena / Vialli / Signori) e Massaro (Casiraghi / Schillaci / Carnevale / Zola). Técnicos: Azeglio Vicini (1990 – 1991) e Arrigo Sacchi (1991-1994).
“Maledette penalità!”
Por Guilherme Diniz
Após conquistar o título da Copa do Mundo da FIFA de 1982, a Itália passou por uma natural entressafra. Mas, ao contrário do que acontece com várias seleções, a equipe azul conseguiu se renovar e seguir competitiva ao invés de perder qualidade e não brigar por títulos. Tudo começou em 1988, quando os italianos alcançaram as semifinais da Eurocopa. A boa campanha inspirou o time comandado por Azeglio Vicini a desempenhar um bom papel na Copa do Mundo de 1990, que seria realizada em solo italiano depois de 56 anos. Com um sistema defensivo estupendo formado por Zenga, Bergomi, Baresi, Ferri e Maldini, aquela Itália se recusava a levar gols e passou cinco jogos seguidos sem ser vazada. Zenga alcançou um recorde de 517 minutos sem buscar a bola em sua meta, algo jamais repetido na história dos Mundiais. E só não foi maior porque os italianos tiveram pela frente a Argentina de Maradona, que conseguiu empatar em 1 a 1, e, nos pênaltis, eliminou a Azzurra, que teve que se contentar com o terceiro lugar.
Quando a seleção não conseguiu se classificar para a Eurocopa de 1992, muitos pensaram que a boa fase havia terminado. Mas Arrigo Sacchi, mentor do super Milan do final dos anos 1980, recolocou a Azzurra nos eixos novamente e a equipe, com altos e baixos, conseguiu alcançar a final da Copa do Mundo de 1994 mesmo com vários problemas físicos e muito drama. Na decisão, segurou o Brasil de Romário, Bebeto e companhia durante 120 minutos angustiantes. Mas, nos pênaltis, o time canarinho venceu por 3 a 2 e outra vez a marca da cal destruiu o sonho do tetra azul. Mesmo sem títulos, aquela geração marcou época como uma das mais talentosas da história da Azzurra. É hora de relembrar.
Sumário
Os sucessores do tri

Após o inesquecível tricampeonato mundial na Copa de 1982, a Itália decepcionou no Mundial de 1986 e caiu já nas oitavas de final diante da França de Platini. A eliminação fez com que o técnico Enzo Bearzot deixasse o comando da equipe e seu assistente, Azeglio Vicini, assumiu a seleção a partir de 1986. O novo técnico tinha experiência no comando das equipes de base da Itália e foi o responsável por dar chances a jovens talentos do Calcio na época como Giuseppe Bergomi, Roberto Mancini e Daniele Massaro, além de Walter Zenga, Gianluca Vialli, Fernando De Napoli, Roberto Donadoni, Paolo Maldini e Giuseppe Giannini.
O primeiro desafio de Vicini foi a Eurocopa de 1988, na qual a Itália superou a fase de grupos após empatar em 1 a 1 com a Alemanha, vencer a Espanha por 1 a 0 e a Dinamarca por 2 a 0. Na semifinal, porém, a Azzurra acabou derrotada pela URSS por 2 a 0 e o sonho do bicampeonato europeu foi adiado. Mesmo com o revés, Vicini viu com bons olhos a geração que tinha em mãos e que poderia dar liga na Copa do Mundo de 1990. No gol, Zenga já era titular absoluto, garantindo a segurança com defesas arrojadas, enorme senso de colocação e muita regularidade. Nas laterais, Vicini costumava utilizar Bergomi na direita (defensor de extremo talento, campeão do mundo em 1982 e que podia jogar também na zaga) e um jovem Paolo Maldini na esquerda, diamante do Milan que iria colecionar títulos a partir daquele final de anos 1980.



No miolo da zaga, Ferri e Baresi eram as escolhas que iriam garantir números baixíssimos de gols sofridos pela Itália. No meio, Ancelotti e De Napoli seriam os volantes, enquanto Donadoni, pela direita, e Giannini, pela esquerda, os meias mais abertos que iriam municiar o ataque formado por Vialli e Mancini naquele primeiro momento, com Baggio e Carnevale também aparecendo como opções. Após a Euro, Vicini passou a trabalhar o elenco já com foco na Copa do Mundo de 1990, que seria realizada na Itália e, com isso, pouparia a Azzurra das Eliminatórias. Seriam 15 amistosos em pouco menos de dois anos até a competição, uma quantidade considerável de partidas para Vicini ter seu time ideal.
Tudo começou em outubro de 1988, na vitória por 2 a 1 sobre a Noruega. Na sequência, vieram grandes vitórias sobre a campeã europeia Holanda (1 a 0), um 2 a 0 sobre a Escócia e 1 a 0 sobre a Dinamarca, todos os jogos em casa. Em março de 1989, a Itália venceu a Áustria, fora, por 1 a 0 e perdeu por 1 a 0 para a Romênia de Hagi, Popescu, Lacatus e companhia. Àquela altura, Vicini já tinha seus jogadores preferidos e intocáveis, mas nutria algumas inimizades. No meio de campo, não dava muitas chances a Carlo Ancelotti, do Milan, por ele não render na seleção o que rendia no clube. Outro que não jogava o que merecia era o craque Roberto Baggio, que “não tinha espírito de equipe” e era “muito individualista” segundo o treinador. Mesmo com essas picuinhas, Vicini tinha a sorte de contar com uma safra estupenda de jogadores, qualidade que refletia no sucesso dos clubes italianos na época.
O Milan foi bicampeão europeu em 1989 e 1990 com um dos maiores esquadrões de todos os tempos e um elenco com maioria italiana e que jogava na seleção – Baresi, Tassotti, Maldini e Donadoni os principais. A Sampdoria voava com a dupla de ataque Vialli e Mancini, que também repetiam a parceria em alguns jogos pela seleção, além do zagueiro Vierchowod (reserva na seleção, mas sempre convocado) e o goleiro Pagliuca (reserva de Zenga na seleção). A Internazionale foi campeã italiana quebrando recordes na Série A com nomes como Zenga, Bergomi, Ferri, Berti e Serena, todos presentes na Azzurra. E tinha ainda o Napoli, vivendo seus últimos grandes momentos e com Ferrara, De Napoli e Carnevale convocados para a seleção.
A zaga infalível

Depois de perder para a Romênia, a Itália empatou em 1 a 1 com o Uruguai, goleou a Hungria por 4 a 0, a Bulgária também por 4 a 0 e perdeu para o Brasil por 1 a 0 (gol do zagueiro André Cruz, no segundo tempo). Na sequência, a Azzurra venceu a Argélia por 1 a 0 e emendou uma sequência de três empates sem gols com Inglaterra, Argentina e Holanda até vencer a Suíça por 1 a 0 no último jogo antes da estreia na Copa. Naquela série de 15 amistosos, ficou claro que a Itália era um time extremamente forte defensivamente: foram apenas quatro gols sofridos e muita qualidade com Zenga, Bergomi, Baresi, Ferri e Maldini compondo a zaga titular, com pequenas variações.
O estilo de jogo mais ofensivo da seleção italiana foi combinado com aquela sólida linha defensiva e elementos da Zona Mista (ou “Gioco all’Italiana”), caracterizado pela marcação por zona e os sistemas de marcação individual, como o catenaccio. Apesar de ter uma abordagem ofensiva relativamente moderna, Vicini ainda fazia daquela Itália pragmática. A equipe poderia render mais no ataque se o treinador não fosse tão teimoso e deixasse o comando do setor com Baggio e Vialli, além de deixar Ancelotti como cérebro pensante no meio de campo a exemplo do que o experiente jogador fazia no super Milan da época.
Roberto Mancini, apesar do temperamento, também era um nome que merecia mais espaço. Enfim, era uma seleção competitiva, forte, mas que não rendia tudo o que podia – exceto na zaga, esta perfeita e praticamente imbatível graças às ótimas fases de todos no setor. Cheia de expectativas, a torcida abraçou a seleção e queria ver a Azzurra ser a primeira na história a levantar o tetra e a primeira a celebrar dois Mundiais em sua casa (a primeira foi em 1934).
As Noites Mágicas

Diante de mais de 73 mil pessoas no Estádio Olímpico de Roma, a Itália estreou na Copa de 1990 contra a Áustria. Tomando a iniciativa desde o início, a Azzurra teve grandes chances apra abrir o placar em jogadas muito bem trabalhadas e construídas por Vialli, Carnevale, Donadoni e Giannini, os principais nomes do esquema ofensivo do time naquela noite. Porém, a equipe pecava demais nas finalizações, principalmente nas bolas dentro da área – Carnevale desperdiçou uma chance clara no primeiro tempo dentro da pequena área! No segundo tempo, Vicini sacou Ancelotti, colocou De Agostini e a intensidade ofensiva da Itália continuou, mas a falta de pontaria seguia. Vialli, De Napoli e Donadoni perderam mais chances e o jogo poderia estar uns 4, 5 a 0, facilmente. A Áustria pouco assustava e só tinha chutado apenas duas vezes ao gol. Até que, aos 75’, Carnevale deu lugar a Schillaci e o atacante da Juventus marcou o gol da vitória, de cabeça, três minutos depois de entrar!
A vitória foi merecida, mas era clara a falta de efetividade do ataque da Itália, que não poderia desperdiçar tantas chances em uma fase eliminatória, por exemplo. Na partida seguinte, a Azzurra encarou os EUA mais uma vez no Estádio Olímpico e abriu o placar logo aos 11’, em lindo gol de Giannini, após tabela com Vialli. A Azzurra ainda desperdiçou um pênalti tempo depois, em chute na trave de Vialli, mas o placar de 1 a 0 seguiu e a vitória deixou a equipe da casa perto da vaga. Vicini só fez uma mudança no segundo tempo, ao colocar Schillaci no lugar de Carnevale, e começou a partida com Nicola Berti no lugar de Ancelotti, já dando mostras de que o meia do Milan não iria mais jogar naquele Mundial.

Na última partida do grupo, a Itália teve pela frente a Tchecoslováquia, que também lutava pelo primeiro lugar. Nessa partida, Vicini mudou o ataque da Azzurra e colocou desde o início Schillaci e Roberto Baggio. E a equipe foi totalmente outra: logo aos 9’, Schillaci apareceu na área e tocou de cabeça uma bola chutada da entrada da área para fazer 1 a 0. O atacante, que vinha de uma boa temporada pela Juventus, na qual anotou 15 gols em 30 jogos no Campeonato Italiano, mostrava oportunismo e mais poder de finalização do que Carnevale, por exemplo, titular nos dois primeiros jogos. E, de quebra, já tinha dois gols na Copa. A Azzurra ainda teve chances claras de gol com Berti e Roberto Baggio, duas vezes.
No segundo tempo, a Itália seguiu pressionando e atacando como nunca, além de pouco ser agredida no campo de defesa. Era bonito de ver aquele time, que abusava dos ataques rápidos, tabelinhas e chegadas na área com qualidade. O problema era a pontaria, de fato muito ruim. Bem, isso até os 78’, quando Roberto Baggio recebeu um pouco depois do meio de campo, no lado esquerdo, tabelou, recebeu de volta, avançou, passou por um, foi levando a bola até a grande área, entortou a espinha do segundo e chutou forte, rasteiro, na saída do goleiro, para marcar um dos mais belos gols daquela Copa: 2 a 0.


O Covino Divino TINHA que ser titular! Só que, acredite, o técnico Azeglio Vicini criticou o craque após o jogo e disse que ele foi muito individualista no lance e precisava ser mais jogador do time! Pois é… Era dura a vida do torcedor italiano, que via um craque do tamanho de Baggio ser contestado de maneira tão ingênua por pura birra do treinador. Aquele foi o melhor jogo da Itália na Copa e fez a equipe terminar na primeira colocação com três vitórias em três jogos, quatro gols marcados e nenhum sofrido. Era hora da fase final.
Intransponível e vaga na semi

Nas oitavas, a Itália teve pela frente o Uruguai de Hugo De León, Francescoli, Rubén Sosa e Alzamendi. O técnico Vicini colocou mais uma vez a dupla de ataque Schillaci e Baggio, deixando Vialli no banco – que começou a entrar em conflito com o técnico por causa disso, apesar de o atacante estar contundido. Em campo, a Itália teve um rival mais forte, mas conseguiu neutralizar as boas investidas dos sul-americanos e o perigoso Francescoli. No ataque, a Itália seguia ativa, mas não balançou as redes de Álvez no primeiro tempo. Na etapa final, Berti e Baggio saíram para as entradas de Aldo Serena e Vierchowod, respectivamente, e o time melhorou. Iluminado, Schillaci seguia como referência ofensiva e, aos 65’, o atacante recebeu na entrada da área e mandou um petardo para fazer um golaço e abrir o placar para os italianos: 1 a 0. Explosão no Olímpico!


Aos 83’, em cobrança de falta na área, Aldo Serena subiu livre para fazer 2 a 0 e classificar a Azzurra para as quartas de final, quando a dona da casa teve pela frente a Irlanda, comandada pelo técnico Jack Charlton e com nomes como Kevin Sheedy, John Aldridge e David O’Leary. A Itália mais uma vez foi a dona do jogo e teve as melhores chances, mas a Irlanda se defendia bem. Baggio até abriu o placar, aos 34’, mas o gol foi anulado por impedimento. Até que, aos 38’, Donadoni chutou forte de fora da área, o goleiro Packie Bonner espalmou e, no rebote, Schillaci, sempre ele, fez o gol. No segundo tempo, Schillaci ainda mandou uma falta no travessão e quase ampliou. A Irlanda levou perigo, mas a zaga italiana mais uma vez não foi vazada, Zenga seguiu impecável no gol e o placar de 1 a 0 colocou a Itália na semifinal. Só faltava um desafio antes da sonhada final. E ele seria gigante: a Argentina de Maradona, Caniggia e o iluminado goleiro Goycochea.
O drama de Nápoles

Pela primeira vez na Copa, a Itália teve que mudar de cidade para disputar uma partida. Após cinco jogos em Roma, a Azzurra foi até Nápoles encarar a Argentina de Maradona, ídolo do Napoli e que nos dias anteriores ao jogo tentou trazer para si a torcida napolitana. Não era à toa, afinal, com Dieguito, o Napoli venceu quatro títulos em seis anos, incluindo uma Copa da UEFA, e ele transformou para sempre a história do clube. O argentino ainda apimentou o jogo com uma declaração pesada em entrevista à RAI (ITA).
“Pedem para os napolitanos serem italianos por um dia, enquanto, durante os outros 364, se referem a eles como terroni. Eu, por outro lado, sou Napolitano os 365 dias do ano”, rechaçando o notório preconceito do norte com o sul do país, no qual a palavra “terroni” tinha cunho xenófobo para se referir aos napolitanos, do sul do país.
Maradona foi certeiro na entrevista e conseguiu balançar os torcedores indecisos no dia do jogo. O argentino salientou que “não queria a torcida dos napolitanos, mas o respeito deles”, a fim de evitar vaias ao hino da Argentina, por exemplo. O presidente da Federação Italiana, temendo por um apoio maciço do povo local à Argentina, chegou a ir à TV pedir para que os torcedores ficassem ao lado da Itália, tamanha a influencia de Dieguito.

No dia do jogo, quase 60 mil pessoas lotaram o Estádio San Paolo (hoje chamado Diego Armando Maradona…) e o clima era de respeito e de apoio ao mesmo tempo. Nas arquibancadas, a faixa mais notável dizia: “Maradona, Nápoles te ama, mas Itália é a nossa pátria”. Sabendo do peso do craque argentino naquela seleção, Azeglio Vicini deveria impor uma marcação especial e individual no camisa 10, mas não o fez. Ele seguiu com seu esquema de jogo e ainda sacou Roberto Baggio para a entrada de Vialli, que fez dupla com o iluminado Schillaci. Não ter alguém grudado em Maradona seria um erro, algo crucial para a derrocada da Azzurra. Roberto Mancini, desprezado por Vicini naquela Copa, comentou:
“Era só colocar Vierchowod para marcar Maradona que teríamos mais chances. Até um cego veria isso”, disse o atacante ao Storia del Calcio, em dezembro de 2015.
O pior é que o próprio Maradona falou sobre o zagueiro da Sampdoria anos depois, à revista El Gráfico (ARG): “Fisicamente ele era um animal, tinha músculos até nas sobrancelhas. Era fácil passar por ele, mas quando eu levantava a cabeça ele estava na minha frente novamente. Tentava duas, três vezes e ele continuava no meu encalço. Aí, eu tinha que tocar para algum companheiro porque não aguentava mais vê-lo”.

Pois é. Sem marcação individual, Dieguito teve a liberdade que queria para pensar o jogo e criar problemas que até então a Itália não havia tido. Antes, porém, a Azzurra abriu o placar aos 17’ do primeiro tempo, em jogada que começou com Gianluca Vialli, que tocou para Giuseppe Giannini, este deu um chapéu e tocou de cabeça para Vialli, que chutou forte, Goycochea espalmou e Schillaci, sempre ele, tocou para marcar 1 a 0 e fazer seu quinto gol no Mundial! Melhor na etapa inicial, a Azzurra parecia destinada à final, ao tetra, à consagração de um grande time e uma defesa sensacional. Só que aí veio o segundo tempo…


A Argentina começou a dominar as ações e ficar mais com a bola nos pés. Sobretudo, Maradona. O camisa 10 fez a jogada que quase originou um gol de Burruchaga. Depois, o camisa 10 deu um passe perfeito para Burruchaga tocar para Caniggia, que cortou Baresi e chutou prensado. A bola foi por cima e quase surpreendeu o goleiro Zenga. Na sequência, outra enfiada de bola do camisa 10 para Caniggia e Zenga saiu para encaixar. A Itália sofria. O San Paolo não sabia se torcia ou se vaiava. Era Don Diego clamando pelo gol. Parecia o do Napoli, mas com a camisa da Argentina. Isso tudo em apenas 20 minutos.
Até que, aos 22’, depois de tanto insistir, a Argentina conseguiu algo que ninguém havia conseguido: marcar um gol na tão impenetrável zaga italiana. No meio, a albiceleste foi trabalhando a bola até chegar nos pés de Maradona. O craque deixou na esquerda com Olarticoechea, que olhou para a área e viu Caniggia no meio dos titânicos zagueiros italianos. Mesmo assim, ele cruzou. A redonda voou e Zenga foi de encontra a ela. Só que o goleiro saiu mal e Caniggia aproveitou para subir mais alto e cabecear para o gol abandonado: 1 a 1. Era o fim da “zaga à zero”. Zenga permaneceu 517 minutos sem sofrer gols, um recorde ainda intacto na história das Copas.


A Azzurra sentiu o golpe e, mesmo com um time melhor tecnicamente, jogava com o medo de ser eliminada em casa. Vicini colocou Baggio e Serena nos lugares de Giannini e Vialli, respectivamente, no intuito de ter mais presença de ataque. A Azzurra foi pra cima e De Agostini, pela esquerda, teve uma grande chance de fazer o segundo gol, mas chutou em cima de Goycochea e desperdiçou. O jogo seguiu dramático e foi para a prorrogação. Nela, Baggio teve as melhores chances, ambas de fora da área. Na primeira, seu chute acabou indo para fora. Na segunda, em cobrança de falta no ângulo, Goycochea fez uma defesa magistral e impediu o golaço do camisa 15. Perto do final do primeiro tempo, Giusti foi expulso e deixou a Argentina com um a menos em toda segunda etapa do tempo extra.
Mesmo assim, a Itália não conseguiu ficar à frente diante da falta de bons chutes e da zaga argentina, que soube neutralizar o lado esquerdo italiano com cortes, desarmes e as defesas de Goycochea. Ao apito do árbitro Michel Vautrot, a decisão da vaga teria que ser nos pênaltis. Baresi começou a série para a Itália e fez o seu. Serrizuela converteu a primeira da Argentina, em lance que quase Zenga pegou. Baggio fez o segundo da Itália, com Goycochea ainda resvalando na bola. Burruchaga fez o segundo sem sustos e De Agostini fez o terceiro. Olarticoechea empatou até que Donadoni chutou muito mal, fraco, e Goycochea defendeu. Maradona foi para a quarta cobrança e, craque, deslocou Zenga. O San Paolo emudeceu. Se Aldo Serena errasse, a Argentina estava na final. O atacante chutou forte, mas Goycochea, de novo, defendeu.

A Argentina estava na decisão. E a Itália, com drama e muita melancolia, eliminada. Nem com a melhor defesa da Copa, nem com tantos bons jogadores, nem jogando em casa, foi possível vencer. Claro que a eliminação poderia ser explicada de várias maneiras, mas Vicini tinha grande parcela de culpa por colocar Roberto Baggio tarde demais na partida, não insistir em Ancelotti no meio de campo e não dar um minuto sequer a Roberto Mancini, erros que custaram gols e criatividade à Itália. Ao jornal La Repubblica (ITA), logo após a Copa, o técnico comentou.
“Merecíamos mais, mas eu não mudaria nada. Se eu pudesse, tentaria mudar, é claro, o resultado de Itália x Argentina. Porque, repito, nesta aventura enorme e maravilhosa, sempre merecemos muito mais, do que finalmente colecionamos. Após a derrota nos pênaltis, o ambiente literalmente se desintegrou. A verdade é que todos nós estamos um pouco infelizes. Estou orgulhoso do compromisso e seriedade”.
Dias depois, em Bari, a Itália enfrentou a Inglaterra, eliminada pela campeã Alemanha em um igualmente dramático jogo semifinal, pela disputa do 3º lugar e venceu por 2 a 1, com gols de Baggio e Schillaci, com Platt descontando para os ingleses. A Itália terminou o Mundial com seis vitórias e um empate em sete jogos, 13 pontos conquistados (um a mais do que a própria campeã Alemanha!), 10 gols marcados e 2 gols sofridos (melhor defesa).


Schillaci, com 6 gols, foi o artilheiro da Copa do Mundo e Chuteira de Ouro, além de ser eleito para o All-Star Team do Mundial juntamente com Paolo Maldini, Giuseppe Bergomi, Franco Baresi, Roberto Donadoni e Roberto Baggio – a Itália foi a seleção com mais atletas no time ideal.
“Foi um torneio fantástico, nós não perdemos e a única lamentação é que não fomos campeões. Nós tínhamos um grande elenco, eu vim da Serie B no ano anterior, enquanto todo mundo era muito experiente”, comentou Schillaci alguns anos depois.
“Em 1990, nós merecíamos o título, mas não tivemos sorte. Vencemos seis jogos e empatamos um, mas quem chegou à final foi a Argentina. Porém, aquelas noites conquistaram os italianos. O afeto demonstrado pelas pessoas foi incrível”, comentou Vicini tempo depois. O fato é que a Itália de 1990 está para os italianos como o Brasil de 1982 está para os brasileiros: uma seleção maravilhosa, cheia de craques, mas que não conseguiu conquistar uma Copa do Mundo.
A vez de Sacchi

Apesar das críticas quanto ao setor ofensivo do time, Azeglio Vicini seguiu no comando da Itália e teve como missão classificar a equipe para a Eurocopa de 1992. O grupo de jogadores seguiu o mesmo, mas a Itália não conseguiu a única vaga que seu grupo das Eliminatórias concedia. A Nazionale ficou em segundo lugar, com 10 pontos, à frente de Noruega, Hungria e Chipre, mas com três pontos a menos do que a classificada URSS. A Azzurra venceu três jogos, empatou quatro e perdeu um. A eliminação custou o emprego de Vicini, que foi demitido em 1991 e deu lugar a Arrigo Sacchi, técnico mais badalado do país na época por conta do seu trabalho no Milan. Ele havia deixado o rossonero naquele ano e aceitou a proposta da Federação Italiana para assumir o comando da Squadra Azzurra. Era a primeira vez que a FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio) pagava um salário acima da média para um treinador, tamanha a badalação de Sacchi na época.
A missão do risonho carequinha era remontar a seleção e classificá-la para a Copa do Mundo de 1994. Sacchi tentou rapidamente implantar seu estilo e suas táticas no selecionado azul e torná-lo uma cópia do Milan, mas a tarefa seria bem difícil. Para começar, não ter Rijkaard, Gullit e Van Basten vestindo azul era uma enorme perda. Sem o trio, seria preciso buscar jogadores que tivessem um pouco da genialidade dos holandeses. Sacchi testou Signori, Casiraghi, Vialli, Eranio, Dino Baggio, Roberto Mancini… Mas a Itália não conseguia repetir o Milan e sua pressão, beleza e “Calcio Totale”.

Mesmo assim, o treinador conseguiu bons resultados no início de seu trabalho (vitória por 1 a 0 sobre a então campeã mundial Alemanha, 2 a 0 na Irlanda, 3 a 2 na Holanda e 2 a 0 no México) e classificou a Itália para a Copa com uma sólida campanha nas Eliminatórias – mesmo em um grupo bastante complicado com Portugal, Suíça, Escócia, Malta e Estônia. Na estreia, em casa, contra a Suíça, a equipe começou perdendo por 2 a 0, mas foi buscar o empate com gols de Roberto Baggio e Eranio. Após novo empate (0 a 0 com a Escócia, fora de casa), a Itália derrotou Malta por 2 a 1, fora, e bateu Portugal em pleno Estádio das Antas por 3 a 1, com gols de Roberto Baggio, Casiraghi e Dino Baggio. Na sequência, vieram triunfos sobre Malta (6 a 1), Estônia (2 a 0) e a única derrota (1 a 0 para a Suíça).

Para completar, a Azzurra derrotou Estônia (3 a 0), Escócia (3 a 1) e Portugal (1 a 0) e se garantiu no Mundial com 16 pontos em 10 jogos, sendo 7 vitórias, dois empates, uma derrota, 22 gols marcados e 7 gols sofridos. Outro fator positivo, além da vaga, foi fazer o torcedor italiano voltar a vibrar pela seleção depois do fiasco da equipe pós-Copa de 1990. Antes do Mundial, Sacchi comandou a Itália em cinco amistosos, com três vitórias – 2 a 0 na Finlândia, 1 a 0 na Suíça e 1 a 0 na Costa Rica – e duas derrotas – 1 a 0 para a França e 2 a 1 para a Alemanha. Com o grupo formado, Sacchi levou aos EUA uma equipe que mesclava a experiência de atletas que já tinham disputado a Copa de 1990 com novos nomes que queriam a afirmação. O Milan dominava mais uma vez a lista com sete atletas, enquanto o Parma, vivendo grande fase, teve cinco. Os convocados foram:
Goleiros: Pagliuca (Sampdoria), Marchegiani (Lazio) e Bucci (Parma);
Defensores: Apolloni (Parma), Benarrivo (Parma), Minotti (Parma), Baresi (Milan), Costacurta (Milan), Maldini (Milan), Tassotti (Milan) e Mussi (Torino);
Meio-campistas: Albertini (Milan), Donadoni (Milan), Dino Baggio (Juventus), Conte (Juventus), Berti (Internazionale) e Evani (Sampdoria);
Atacantes: Signori (Lazio), Casiraghi (Lazio), Zola (Parma), Massaro (Milan) e Roberto Baggio (Juventus).

Sacchi armaria sua Itália num 4-4-2 clássico que também viraria um 4-2-3-1, com Pagliuca no gol, Maldini na esquerda e Benarrivo (ou Mussi) na direita, e a zaga formada por Costacurta e Baresi. Na intermediária, Albertini teria a função mais defensiva, enquanto Dino Baggio não só iria ajudar na marcação como também iria aparecer no ataque, graças à sua habilidade e boa condução. Mais à frente, Donadoni jogaria pela ponta direita, como sempre fazia no Milan, e Evani pela esquerda, com o ataque formado por Roberto Baggio e Giuseppe Signori. Sacchi ainda teria como opções ofensivas o jovem e talentoso Massaro (em ótima fase no Milan, pelo qual foi campeão europeu naquele ano de 1994) e o experiente Berti.
À moda italiana

Em 1990, a Itália quebrou a escrita de sofrer em fases de grupos de Copas e venceu todos os seus jogos. Mas, em 1994, a Azzurra voltou com sua “tradição” de penar na briga por uma vaga na etapa final. Os comandados de Sacchi começaram da pior maneira possível: derrota na estreia para a Irlanda por 1 a 0, em jogo pífio da equipe italiana que fez o jornal Corriere della Sera estampar em sua reportagem do dia seguinte o título: “Se este é o início, o fim está próximo”. Isso porque a Irlanda abriu o placar logo aos 11’ do primeiro tempo! Foi uma doce vingança irlandesa pela eliminação na Copa de 1990 e um alerta para o futuro azul na Copa.
Renzo Vianello, psicólogo da seleção, teve até que se dedicar à reanimação de vários jogadores, em especial o arqueiro Gianluca Pagliuca, abatido depois de ver sua falha no gol de Roy Hoghton. “Gianluca é um `ragazzo’ bastante sensível. Mas se recuperará completamente antes da partida contra a Noruega”, disse Vianello à Folha de S. Paulo, em junho de 1994. O técnico Sacchi sabia que só a vitória interessava no duelo contra a Noruega, algoz da equipe nas Eliminatórias para a Euro de 1992.
“O meu time precisa ganhar sempre. E a Noruega tem uma seleção ainda mais forte do que a Irlanda. Creio, porém, que já aprendemos nossas lições. Com a Irlanda, pagamos o preço das más atuações de jogadores muito importantes”. Por isso, Sacchi mexeu no time e colocou Berti no lugar de Evani e Casiraghi no lugar de Donadoni, com Dino Baggio solto no meio de campo e aparecendo mais à frente.

Diante da Noruega, novo drama: logo no começo do jogo, o goleiro Pagliuca pegou a bola com a mão fora da área e foi expulso. Obrigado a tirar um jogador de linha para colocar o goleiro reserva Marchegiani, Sacchi sacou… Roberto Baggio! Ninguém entendeu nada e o atacante, estrela da Azzurra, tornou pública sua insatisfação. Para a sorte de Sacchi, a Itália venceu por 1 a 0, gol de Dino Baggio. Só que teve outro fato ruim: Franco Baresi sofreu uma grave ruptura do menisco (cartilagem nas articulações do joelho) e se tornou desfalque da seleção por tempo indeterminado. Ele teve que fazer uma cirurgia às pressas e, no melhor dos cenários, o craque só voltaria na final da Copa, e ainda sim longe de sua melhor forma.
O líbero era uma peça-chave na defesa da seleção, pois cobria os espaços deixados por seus companheiros, se antecipava aos adversários e liderava a equipe em momentos difíceis. “A contusão é gravíssima sob todos os aspectos, humano, técnico e tático e nos obrigará a realizar uma pequena revolução na defesa da equipe”, afirmou o treinador Arrigo Sacchi. Sem Baresi, Sacchi escalou Apolloni no miolo de zaga ao lado de Costacurta e manteve o mesmo time para o duelo decisivo contra o México, em Washington, no dia 28 de junho.

O problema é que o time também tinha jogadores que se queixavam de problemas físicos como Roberto Baggio e Dino Baggio, o lateral Paolo Maldini, o volante Demétrio Albertini e o atacante Signori. Contra os mexicanos, Maldini, mesmo com dores no tornozelo, foi a campo e vestindo a braçadeira de capitão. Após um primeiro tempo morno, Sacchi colocou Massaro no lugar de Casiraghi e o atacante abriu o placar logo aos 3’ minutos da etapa final, após receber belo passe de Albertini, um gol com assinatura milanista.
Massaro quase fez o segundo na sequência, mas foi o México que fez o seu, aos 12’, causando mais medo na torcida italiana. A Itália foi para o ataque, mas pecou demais na finalização, a exemplo do time de 1990. No final, o empate em 1 a 1 acabou garantindo a Itália nas oitavas de final mesmo com o terceiro lugar no grupo. Uma curiosidade é que todos terminaram com 4 pontos e a definição ficou no número de gols e confronto direto. O México avançou em primeiro, com três gols marcados e três sofridos; a Irlanda em segundo, com dois gols marcados e dois sofridos; e a Itália em terceiro, com dois gols marcados e dois sofridos, mas atrás dos irlandeses por ter perdido o confronto direto. A Noruega, com apenas um gol marcado e um sofrido, acabou eliminada.
A hora do craque

Na segunda fase, Sacchi teve de abrir mão de sua filosofia do coletivo e do 4-4-2 ofensivo para apostar no talento individual de um homem: Roberto Baggio. Era visível que a Itália era uma com Baggio fazendo o que sabia e outra com Baggio preso às táticas de Sacchi. Dito e feito. No confronto contra a Nigéria, o treinador colocou Maldini na função de zagueiro, quase líbero, enquanto Mussi e Benarrivo seriam os laterais. No meio, mais mudanças: Berti, Donadoni e Albertini no meio de campo e um trio de ataque formado por Baggio, Massaro e Signori.
“Copa não é campeonato, não exige regularidade. Copa é vida ou morte. Cada partida pede um conceito, um projeto, uma solução. Como a Nigéria atua num 4-3-3 quase fixo, eu posso me permitir o mesmo esquema. Com uma vantagem: os meus três avantes auxiliam na pressão”, comentou Arrigo Sacchi antes do jogo.
A equipe nigeriana era muito forte, com o goleiro Rufai, o ótimo Finidi George, o forte Amunike e os talentosos Okocha, Amokachi e Oliseh, base do elenco que seria campeão olímpico em 1996. E, aos 25’, os africanos abriram o placar com Amunike. No segundo tempo, Sacchi colocou Dino Baggio e Zola, mas viu este ser expulso e o drama aumentou. Mesmo assim, a Azzurra foi insistente e, aos 43’, Mussi fez boa jogada pela direita e passou a Baggio, que finalizou e empatou.

O jogo foi para a prorrogação, que exigiria ainda mais do físico combalido dos italianos. Mesmo assim, a Azzurra conseguiu a virada. Aos 12’, Benarrivo sofreu um pênalti de Augustine Eguavoen. Roberto Baggio partiu para a cobrança, chutou colocado à esquerda, a bola tocou a trave, mas terminou dentro: 2 a 1 e classificação para as quartas de final! Johan Cruyff, técnico do Barcelona na época e colunista especial da Folha de S. Paulo durante o Mundial, foi muito crítico ao jogo da Itália.
“Esta seleção não tem nada do Milan fabricado por Arrigo Sacchi. Não tem nem a qualidade técnica nem a pressão sufocante que fez daquela equipe a melhor da Europa. O jogo entre Itália e Nigéria foi, de longe, o pior das oitavas-de-final. Muito provavelmente os nigerianos se lembrarão pelo resto da vida que perderam a vitória que já tinham nas mãos única e exclusivamente porque acreditaram que podiam assegurar a classificação com um mínimo de esforço. A Nigéria foi conformista demais. Pensou que a Itália seria incapaz de marcar. E faltou um minuto para fazer deste sonho realidade. O único problema é que nunca se pode tirar uma conclusão definitiva por uma, duas ou três partidas, porque, de repente, aquela equipe que parecia fácil se transforma em um adversário difícil. E Itália é Itália”.
Nas quartas de final, a Itália teve um duelo difícil contra a Espanha, rival histórico da Azzurra em grandes competições. Sacchi mais uma vez mexeu no time e colocou Tassotti na lateral-direita, Conte no meio de campo, dando proteção pelo lado direito, voltou a escalar Donadoni em uma das pontas, dessa vez na esquerda, e retornou Dino Baggio mais centralizado ao lado de Albertini. No ataque, Massaro ganhou a vaga de Signori e fez dupla com Roberto Baggio. A Espanha, se não encantava, tinha seus predicados e contava com o experiente goleiro Zubizarreta, os laterais Ferrer e Sergi e os atacantes Bakero e Luis Enrique, além de Hierro já aparecendo bem.
A partida, de novo, foi um drama. A Itália até começou bem e acuou a Espanha em seu campo de defesa, com bons ataques pelas pontas. E foi assim que saiu o primeiro gol, aos 25’, quando Donadoni recebeu pela esquerda, passou bem pela marcação e rolou para Dino Baggio, na intermediária. O volante resolveu arriscar o chute de longe e mandou no fundo do gol de Zubizarreta. Ao invés de controlar o jogo, a Itália perdeu o meio de campo. No intervalo, Sacchi retirou Albertini e colocou o atacante Signori a fim de retornar ao 4-3-3 e tentar agredir mais a Espanha.

Bem, quem agrediu foi Tassotti, que acertou uma cotovelada em Luis Enrique, que começou a sangrar e queria partir pra cima do italiano. O árbitro nem cartão aplicou e os espanhóis começaram a reclamar bastante. Após a partida, o italiano acabou punido pela FIFA com oito jogos de suspensão e uma multa de US$ 15 mil. Só aos 13’ que Caminero empatou para os espanhóis, para o desespero de Sacchi, que pedia à “Azzurra” que não concedesse mais espaços. Os jogadores, no entanto, mal se locomoviam, exaustos, estáticos, moralmente batidos.
A Espanha ainda teve a bola do jogo, aos 36’, quando Julio Salinas (que saiu do banco) apareceu de frente para o gol, cara a cara com Pagliuca, mas errou miseravelmente, chutando em cima do goleirão. Quem não faz, toma. E, aos 43’, um lançamento de Berti caiu para Signori, que lançou Roberto Baggio, em diagonal. Com um drible de corpo, Baggio se desvencilhou da marcação, deixou Zubizarreta no chão e, do ângulo da pequena área, chutou para o gol. Abelardo, desafortunado, na linha da meta, não conseguiu evitar o 2 a 1. Itália na semifinal! De novo, sob os pés de seu craque! Mesmo combalido, mesmo longe da melhor forma, Roberto Baggio decidia. Era de se imaginar o que ele poderia fazer se estivesse bem. Sacchi, após o jogo, comentou sobre seu time.
“Eu não me sentirei especialmente contente se continuarmos jogando mal e realizando os nossos gols no encerramento das partidas. Os meus rapazes são capazes de performances superiores. De todo modo, a cada novo jogo, nós superamos um trauma diferente. Contra a Espanha, erramos centenas de passes, inclusive na defesa. Felizmente, tivemos Pagliuca”.
Só faltava um desafio antes da decisão: a surpreendente Bulgária, do craque Stoichkov, que havia eliminado a campeã Alemanha nas quartas e estava pronta para continuar a fazer história.
Enfim, na final!

Com um time muito bem treinado por Dimitar Penev, a Bulgária não tinha apenas Stoichkov. Era uma seleção talentosa, que havia tirado a França da Copa nas Eliminatórias e contava ainda com o zagueiro Ivanov, os meio-campistas Balakov e Letchkov e o atacante Kostadinov. Arrigo Sacchi salientou que “ninguém entra de graça no grupo dos quatro melhores da Copa, enfrentaremos mais um adversário dificílimo”, pregando cuidado com os búlgaros. Como de praxe, o carequinha mudou pela sexta vez seguida a escalação da Itália, tirando Massaro e colocando Casiraghi e sacando Conte do meio de campo, que cedeu seu lugar a Berti.
Quando a bola rolou em Nova York, surpreendentemente a Itália jogou bem, de maneira consistente e sem sofrer como nos outros jogos. Estava mais concentrada, objetiva, focada. Sem ser agredida, a Azzurra abriu o placar logo aos 21’, quando Roberto Baggio recebeu, girou para cima do primeiro marcador, deixou o segundo no chão e, da meia-lua, chutou cruzado para marcar um lindo gol. A Itália foi pra cima e quase fez o segundo em duas boas chances de Albertini, uma delas em chute de fora da área que carimbou a trave do goleiro. Até que, aos 25’, Albertini, impecável naquele jogo, fez um lançamento perfeito e Roberto Baggio escapou por entre os zagueiros, invadiu a área, esperou o momento certo e chutou de primeira para ampliar: 2 a 0.
Só no final do primeiro tempo que a Bulgária acordou e descontou em pênalti cobrado por Stoichkov. Na segunda etapa, o calor de 35o não permitiu que as equipes pudessem desempenhar um bom jogo. Roberto Baggio deixou o gramado com dores faltando 20 minutos para o fim e a Itália se segurou, com Paolo Maldini simplesmente perfeito na leitura de jogo, antecipações e liderando a zaga. O placar de 2 a 1 permaneceu e a Itália, com muito suor, estava na final da Copa. Após a partida, Roberto Baggio disse que, mesmo com dores, queria jogar a decisão.
“Estou contente por toda essa gente. Jogamos com o coração. Foi mais um sofrimento, mas vencemos. Nós fizemos um primeiro tempo com muita garra, no qual podíamos ter anotado mais um gol para não sofrer tanto depois. De qualquer forma, vencemos. Mas a parte mais difícil vai começar agora. Vou jogar de qualquer jeito a final, nem que seja só por 45 minutos”.

Johan Cruyff, em sua coluna na Folha, foi taxativo: “a Itália disputará o título mundial sem que ninguém consiga entender como alcançou o grande objetivo. Agora terão que fazer o possível e o impossível para recuperar Roberto Baggio. Ele é o único, junto com Maldini, que interpreta o futebol tal como fazem os que amam este esporte”, disse o holandês. O sonho do tetra, destroçado quatro anos antes, ainda era possível. Dificílimo, diante das dificuldades da equipe, da falta de preparo físico e dos tantos problemas que as estrelas enfrentavam. Mas, se eles haviam chegado até ali, não custava sonhar. Duro era ter pela frente o Brasil, com Taffarel, Branco, Aldair, Dunga, Mauro Silva, Romário, Bebeto e companhia.
A batalha do Rose Bowl e um novo drama nos pênaltis

Emblemática, a final de 1994 consagraria a primeira seleção tetracampeã mundial. E, assim como em 1970, quando decidiram quem seria o primeiro tri, Brasil e Itália eram os protagonistas. Mas o jogo seria bem complicado para os italianos. O craque Roberto Baggio sofreu uma distensão no músculo da coxa após a semifinal e os médicos italianos davam apenas 50% de chances de o Codino Divino jogar a final. “Possivelmente, só vamos conseguir avaliar suas condições de jogo horas antes da partida”, comentou Andrea Ferretti, da comissão médica da seleção. Outro que não poderia jogar a final era Costacurta, suspenso pelo excesso de cartões amarelos. Por outro lado, quem voltaria como uma fênix era Franco Baresi, recuperado em pouco mais de 20 dias da cirurgia no joelho e capaz de disputar a decisão, mesmo sem estar 100%.
Sacchi iria apostar no entrosamento entre Baresi e Maldini no Milan e escalaria a dupla no miolo de zaga, deslocando Benarrivo para a lateral-esquerda. Embora tivesse um meio de campo mais ofensivo do que o Brasil, a equipe italiana não tinha a força das laterais nem a proteção da zaga que o time canarinho possuía. Além disso, a dupla Bebeto e Romário chegava melhor e mais entrosada do que Baggio e Massaro, muito por conta da lesão do camisa 10, que iria para o jogo, mas longe do ideal.
Na decisão, no estádio Rose Bowl, em Los Angeles (EUA), Itália e Brasil fizeram uma das finais mais dramáticas dos Mundiais, disputada sob um calor descomunal que passava dos 35 graus Celsius. Sacchi viu sua equipe pouco agredir o Brasil, que tinha vantagem justamente onde a Itália era carente: no ataque. Romário e Bebeto eram perigosos, amparados por Zinho e Cafu. Mas o setor defensivo italiano era intransponível. Maldini tirava todas com técnica, classe e segurança. Baresi não desgrudava de Romário por um segundo, rendendo elogios do próprio baixinho como “a maior marcação que recebera em toda carreira”. Para coroar, o goleiro Pagliuca tinha a sorte (e as traves) ao seu lado.


No primeiro tempo, Sacchi percebeu que Cafu (que entrou no lugar do lesionado Jorginho aos 21’) tinha liberdade pela direita e decidiu mudar o time ao colocar Apolloni na zaga e deslocar Maldini para a lateral. E, já aos 43’, Apolloni impediu uma tabela no ataque brasileiro e levou cartão amarelo. Na cobrança, Branco mandou a bomba, mas Pagliuca mais uma vez fez grande defesa. Aos 45’, pouco depois de mais um corte de Maldini em cruzamento de Cafu, o árbitro húngaro encerrou o primeiro tempo, com amplo domínio brasileiro – a equipe de Parreira teve 66% de posse de bola -, mas muitos erros na finalização e grande desempenho defensivo da Itália.
Sem modificações, os times voltaram ao segundo tempo da mesma maneira, com o Brasil aparecendo mais ao ataque e a Itália tentando o contragolpe. Sem grandes emoções nos primeiros 15 minutos, só aos 16’ que o time brasileiro teve uma boa chance quando Branco tabelou com Zinho, mas, ao invés de cruzar, preferiu cavar pênalti e o árbitro não caiu na malandragem do lateral. Aos 20’, mais uma tabela entre Bebeto e Romário, mas antes que a bola pudesse chegar ao Baixinho, Maldini tirou e Pagliuca fez a defesa.

Aos 29’, Mauro Silva chutou de longe, Pagliuca tentou encaixar a bola e ela escapuliu. Quando parecia que o goleiro italiano iria levar um frango histórico em plena final da Copa, a redonda beijou a trave e voltou para ele. Impressionante! Como agradecimento, o goleiro beijou a trave e respirou aliviado. Aos 36’, Roberto Baggio recebeu a primeira bola limpa no jogo. Mas, na hora do chute, ela foi bem longe do gol.
Com o cansaço cada vez mais aparente, os times reduziram o ritmo nos minutos finais e o árbitro encerrou o jogo aos 45’, sem acréscimos. Teríamos prorrogação, a 4ª na história e a primeira desde a final da Copa de 1978 entre Argentina e Holanda. No limite de suas capacidades físicas, os jogadores foram para mais meia hora de jogo no Rose Bowl. E, logo aos 3’, o Brasil apareceu com perigo. O lateral Cafu cruzou, a bola sobrou limpa para Bebeto, mas sabe se lá o que raios ele tentou fazer e não concluiu a gol. A resposta da Itália veio aos 6’, quando Roberto Baggio recebeu de fora da área, chutou forte e Taffarel mandou para escanteio.

Aos 9’, Zinho recebeu de Bebeto na esquerda e chutou, mas Pagliuca defendeu. No segundo tempo extra, aos 4’, o Rose Bowl viu provavelmente o gol mais perdido da final. Cafu disparou pela direita, tocou para Bebeto, este devolveu para Cafu e o lateral cruzou. A bola passou pela pequena área, nenhum italiano conseguiu cortar e sobrou para Romário. Aahh, agora vai! O Baixinho não perderia ali! Pois perdeu… Na hora do chute, ele não pegou de jeito, a bola foi fraca e passou raspando a trave, com Benarrivo por ali para tentar o bloqueio.
Naquela etapa, Parreira sacou Zinho e colocou o atacante Viola em busca de fôlego extra e mais poder de finalização. E, aos 5’, o atacante fez boa jogada individual e tocou para Romário, mas o chute de pé esquerdo do craque explodiu na marcação. Aos 8’, Roberto Baggio tabelou, mas chutou fraco. Aos 11’, Viola tirou a marcação de sua cola, ajeitou para o pé esquerdo e chutou, só que a redonda passou à direita do gol de Pagliuca. Foi a última chance. E, aos 15’, apito final. Pela primeira vez na história, a Copa do Mundo seria decidida nos pênaltis.
LEIA MAIS – Jogos Eternos – Brasil 0x0 Itália 1994
Sacchi preferiu apostar na experiência na hora de escolher os batedores, mas não levou em consideração o cansaço físico e as condições de suas estrelas. Por isso, Baresi e Baggio eram opções arriscadas. E, quando Baresi iniciou a disputa, mandou a bola longe do gol de Taffarel. Na sequência, para amenizar a dor do capitão, Márcio Santos foi vencido por Pagliuca, que defendeu. Na segunda cobrança italiana, Albertini, enfim, balançou as redes do Rose Bowl, deslocando Taffarel. O Brasil empatou com Romário.

O batedor seguinte foi Evani, que havia entrado no decorrer da partida. O jogador da Sampdoria bateu firme, no meio do gol, e deixou a Azzurra em vantagem. Na sequência, Branco foi para a bola e não deu chance alguma para Pagliuca: 2 a 2. A Itália foi para o quarto chute, com Massaro. O italiano teve a melhor chance de gol dos europeus no tempo regulamentar e perdeu para Taffarel. Na marca da cal, outra vez o atacante não conseguiu superar o brasileiro: chute no canto esquerdo e defesa do camisa 1.
Se Dunga fizesse, o Brasil teria a vantagem pela primeira vez. E, com frieza, o capitão mandou a bola no fundo do gol: 3 a 2. A última cobrança era decisiva para a Itália. Se Roberto Baggio fizesse, ainda haveria esperança por um erro final do Brasil e início das cobranças alternadas. Se ele errasse, era o fim do sonho italiano e o início da festa brasileira. O atacante não era a melhor escolha. Estava exausto, lesionado. Mas tinha em si a responsabilidade. O camisa 10 pensou em um chute forte, no meio do gol, ao perceber o deslocamento de Taffarel para o canto. Só que o italiano exagerou na força e a bola foi muito, mas muito longe do gol. O Brasil era tetracampeão mundial. A Itália, assim como em 1970, vice diante do time canarinho. Marcado pelo erro no pênalti decisivo, Roberto Baggio foi profundo certa vez, em entrevista à So Foot, em 2016.
“Aquele pênalti está preso em mim. E assim vai ficar pelo resto da minha vida. Quando eu era pequeno, sonhava em conquistar uma Copa do Mundo com a Itália, contra o Brasil. Era o sonho perfeito, meu sonho favorito. Só que eu não sabia como esse sonho terminava. Acabou da pior maneira possível. Eu sempre pensei que seria melhor perder a final por 3 a 0 do que nos pênaltis. É meu maior arrependimento, minha maior amargura. Se você perder um jogo, perdeu, acabou. Mas houve um erro, um erro de que? De centímetros. Fica para toda a sua vida. E não só para mim. Toda vez que vejo uma disputa de pênaltis, me boto no lugar de quem vai perder. Está marcado em mim para o resto da vida.
Eu nunca vou superar esse episódio, aprendi a conviver com isso. Tento não sofrer muito, pelo menos não além do que já sofri. Mas, toda vez que eu penso, isso volta. Minha filosofia de vida me ajudou, porque me ensinou a pensar para frente, sem olhar para trás. Mas é algo que está lá. É uma ferida dormente. Então você fala sobre isso, e ela volta a doer”.


Apesar de tudo, a Itália terminou a Copa com 14 pontos, quatro vitórias, dois empates, uma derrota, oito gols marcados e cinco sofridos em sete jogos. Roberto Baggio foi o vice-artilheiro do Mundial com 5 gols e eleito para o All-Star Team da Copa, ao lado de Paolo Maldini, titânico na defesa. Na volta para casa, nenhum jogador foi criticado, pois a imprensa reconheceu o esforço descomunal de todos naquele verão escaldante dos EUA. O único que não foi poupado das críticas foi mesmo Arrigo Sacchi, que sofreu seu primeiro grande baque na carreira e viu sua filosofia e aclamada tática não darem certo. Ficava a lição: se você não tem as peças certas, de nada adianta possuir a melhor e mais eficiente tática. Aquela Itália tinha tática de sobra, transbordavam ideias da cabeça de Sacchi, mas faltava algo essencial: um conjunto de talento e inteiro fisicamente.
Tetra? Só em 2006

A Itália seguiu dirigida por Arrigo Sacchi até 1996, quando foi eliminada da fase de grupos da Eurocopa. O treinador deixou a seleção e, na Copa de 1998, a Azzurra alcançou as quartas de final, na qual foi eliminada, adivinhe, nos pênaltis novamente, dessa vez contra a França – Roberto Baggio cobrou uma das penalidades e converteu. Em 2002, o time foi vítima da péssima arbitragem e caiu nas oitavas de final diante da Coreia do Sul. Só em 2006, com uma nova e talentosa geração, que a Itália voltou a celebrar um grande título e venceu a Copa do Mundo da Alemanha diante da França, nos pênaltis, uma doce ironia que coroou o timaço de Buffon, Cannavaro, Nesta, Pirlo, Totti e companhia, que fizeram uma justiça tardia a tantos atletas de talento que perderam a chance do tetra em 1990 e 1994, tempos de uma Itália sem títulos, mas que merecia sorte melhor. E, mesmo assim, foi imortal.
Os personagens:
Pagliuca: cria das categorias de base da Sampdoria – e também com passagem pelo Bologna -, Pagliuca se tornou em pouco tempo uma das maiores revelações do futebol italiano na virada da década de 1980 e início dos anos 1990. Ágil, sortudo, seguro e capaz de fazer defesas espetaculares (além de pegador de pênaltis), Pagliuca foi convocado para a Copa de 1990 como reserva de Zenga e assumiu a titularidade em 1994. Embora tenha sido expulso de maneira infantil, se redimiu no decorrer da competição e manteve a boa fase. Na decisão, defendeu um pênalti, mas insuficiente para garantir o tetra. Após a Copa, o arqueiro deixou a Sampdoria em 1994 para continuar sua grande carreira na Internazionale, assumindo a titularidade com muita regularidade e grandes defesas mesmo quando a zaga não ia bem – principalmente na temporada 1998-1999. Pagliuca disputou também a Copa de 1998 e deixou a Inter em 1999 para atuar no Bologna, até encerrar a carreira no Ascoli em 2007. O camisa 1 disputou 39 jogos pela Itália na carreira entre 1991 e 1998.
Zenga: muito eficiente nas bolas aéreas e preciso nas saídas do gol, Zenga foi um dos melhores goleiros da Itália nos anos 1980 e 1990, conquistando por três vezes consecutivas o prêmio de Melhor Goleiro do Mundo pela IFFHS (1989, 1990 e 1991), sendo o arqueiro titular da Itália na Copa do Mundo de 1990, quando bateu um recorde ao ficar 517 minutos sem sofrer gols, da estreia italiana contra a Áustria até a semifinal contra a Argentina – feito que segue inigualável até hoje. Jogou de 1982 até 1994 na Inter de Milão até encerrar a carreira no New England Revolution-EUA, em 1999. Foram 58 jogos pela Nazionale.
Mussi: grande nome do Torino que venceu a Copa da Itália de 1992-1993, o defensor entrou no radar do técnico Arrigo Sacchi e ganhou uma vaga na seleção para a Copa de 1994. Disputou três jogos e deu o passe para Roberto Baggio empatar o jogo no duelo contra a Nigéria. Foi outro que sofreu com problemas físicos durante o torneio.
Bergomi: foram exatos 20 anos de Internazionale, vários títulos, 757 partidas disputadas, 28 gols marcados e a idolatria eterna da torcida. O capitão da Itália na Copa de 1990 já tinha um título do Mundial de 1982 e usou sua experiência e talento para ajudar a Nazionale a alcançar a semifinal. Giuseppe Bergomi foi um dos mais completos zagueiros de sua geração, além de poder atuar como lateral-direito. Raçudo, eficiente e competitivo, brilhou no setor defensivo tanto da Itália quanto da Inter, pela qual conquistou seis títulos. Pendurou as chuteiras em 1999, aos 36 anos. Foram 81 jogos e 6 gols pela Itália na carreira.
Apolloni: defensor muito eficiente na marcação e com boa leitura de jogo, brilhou no Parma multicampeão do começo dos anos 1990. Começou a jogar pela seleção exatamente em 1994 e disputou três jogos no Mundial – a vitória sobre a Noruega, o empate diante do México e a final contra o Brasil. Vestiu a camisa da Nazionale em 15 oportunidades até 1996.
Tassotti: mais velho do elenco na Copa de 1994 – 34 anos -, o lateral-direito foi uma lenda do Milan multicampeão do final dos anos 1980, mas não teve o mesmo desempenho pela seleção por conta da enorme concorrência da época. Em seu auge, não foi para a Copa de 1990 e em 1994 acabou marcado pela cotovelada que deu em Luis Enrique, no duelo contra a Espanha, que lhe rendeu uma pesada suspensão. Foram apenas sete jogos pela seleção na carreira, dois deles na Copa de 1994.
Baresi: sinônimo de líbero e de zagueiro, Baresi foi um dos maiores zagueiros de todos os tempos e é, para muitos, o maior na posição. A grande área era praticamente tomada por ele seja com a camisa do Milan (a única de clubes que vestiu na carreira), seja com a da Itália. Baresi desarmava, iniciava contra-ataques, tinha raça, controle de bola, liderança e técnica. Esteve no grupo italiano campeão do mundo em 1982 e disputou as Copas de 1990 e 1994. Nesta última, mesmo voltando de uma séria contusão, foi o responsável por marcar ninguém mais ninguém menos do que Romário na decisão do Mundial. E ele o fez com maestria, a ponto de o próprio Baixinho dizer que foi a “marcação mais implacável que recebeu em toda a carreira”. Imagine se Baresi estivesse 100% então… Baresi disputou 81 jogos pela Itália entre 1982 e 1994 e também teve sua camisa (de número 6) aposentada pelo Milan. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Costacurta: outro lendário zagueiro rossonero, foi titular da equipe a partir de 1987 e só jogou no Milan até 2007. Tinha raça e às vezes apelava para as faltas para parar os adversários. Mesmo assim, era extremamente eficiente e tinha uma inteligência tática formidável. Foi o companheiro perfeito de Baresi naquele super Milan do final dos anos 1980 por possibilitar as investidas do defensor ao ataque e jogar na maioria das vezes próximo ao companheiro Maldini, distribuindo a bola para o lateral iniciar jogadas ofensivas com o meio de campo. Costacurta era eficiente, também, como lateral-direito, posição que exerceu em várias ocasiões no Milan. Marcou presença na seleção italiana entre 1991 e 1998 com 59 jogos realizados e presença nas Copas de 1994 – como titular no lugar do lesionado Baresi – e 1998. Foram 58 jogos pela seleção.
Vierchowod: presente no grupo campeão da Copa de 1982, o zagueiro foi um dos mais temidos e implacáveis de seu tempo e protagonizou embates marcantes contra os principais atacantes do Calcio nos anos 1980 e início dos anos 1990. Mesmo assim, Azeglio Vicini não deu espaço para ele no duelo contra a Argentina, que exigiria uma marcação mais dura em Maradona, e manteve Ferri ao lado de Baresi. Deu no que deu… Vierchowod disputou apenas três jogos naquela Copa – contra a Tchecoslováquia, Uruguai e Inglaterra.
Maldini: absoluto na lateral-esquerda do melhor Milan de todos os tempos, ele também exerceu tal função com maestria na seleção italiana em três Copas do Mundo – 1990, 1994 e 1998. Nos anos 2000, virou zagueiro. E também exerceu essa função em uma Copa pela Azzurra (2002). Paolo Maldini é uma lenda incontestável e referência da clássica escola de zagueiros da Itália, além de ser um dos mais completos defensores de todos os tempos. Durante muito tempo, ele foi o recordista em jogos pela Nazionale com 126 partidas disputadas (e sete gols marcados) entre 1988 e 2002. Maldini era perito em desarmar adversários, sabia sair jogando com uma classe impressionante, cobria os espaços, recuava, atacava, enfim, era o lateral dos sonhos de qualquer time. Mas apenas o Milan teve o privilégio de contar com essa lenda. Sua camisa número 3 foi aposentada tamanha importância do capitano ao clube rossonero. Maldini foi também capitão da Itália entre 1994 e 2002. Uma pena o jogador não ter vencido uma Copa do Mundo – justamente após sua aposentadoria da seleção, a Azzurra venceu o Mundial, em 2006. Mesmo assim, o craque foi eleito para o Time dos Sonhos das Copas do Mundo, em eleição da própria FIFA realizada em 2002. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Benarrivo: um símbolo do Parma, o lateral-direito esteve presente em todos os melhores momentos da história do clube, de 1991 até 2004. Polivalente, jogava nas duas laterais e ajudava tanto na marcação quanto no ataque. Seu futebol de qualidade o levou à Copa do Mundo de 1994, quando foi titular em vários jogos, com destaque para o duelo contra a Nigéria, na qual sofreu o pênalti convertido por Roberto Baggio. Disputou 23 jogos pela Itália na carreira.
Ferri: outro zagueiro de muita qualidade, disputou 45 jogos pela Itália na carreira, foi uma lenda na Internazionale e compôs a zaga titular da Azzurra na Copa de 1990 ao lado de Baresi, Bergomi e Maldini. Um gigante na marcação individual, no combate e na cobertura, Ferri foi uma referência defensiva naquela época.
Dino Baggio: sem dúvida, um dos maiores meio-campistas da história do futebol italiano nos anos 1990. Raçudo, com espírito de liderança e muito técnico, Dino Baggio foi um dos maiores jogadores do Calcio e um dos mais decisivos também. Armava jogadas, marcava gols e ainda ajudava na marcação do meio de campo, jogando sempre para o time. O craque anotou os gols que deram ao Parma a Copa da UEFA de 1995 e fez parte das duas eras de ouro do time, de 1994 a 1995 e de 1997 até 2000. Disputou duas Copas do Mundo pela Itália, em 1994 e 1998, acumulando 60 jogos e 7 gols vestindo a camisa da seleção na carreira.
De Napoli: o meio-campista vestiu a camisa da Itália em 54 jogos e esteve nas Copas de 1986 e 1990. De Napoli costumava atuar como volante ou meia. Era habilidoso em recuperar a posse de bola para dar suporte aos seus companheiros mais criativos, além de atuar como um armador recuado, graças à sua habilidade para os passes curtos e longos. Foi um dos destaques do Napoli bicampeão italiano em 1986-1987 e 1989-1990 e campeão da Copa da UEFA de 1988-1989.
Evani: meio-campista eficiente na distribuição da bola, nos cruzamentos e com boa dinâmica de jogo, Evani brilhou o Milan e vestiu a camisa da Itália em 15 oportunidades, número baixo por causa da enorme concorrência da época. Devido à sua inteligência tática, versatilidade, profissionalismo e resistência, Evani cobria muito bem as corridas dos laterais, além de ele também poder jogar como lateral.
Albertini: Sacchi não repetiu nenhuma escalação ao longo daquela Copa de 1994. Mas um jogador permaneceu intacto em todos os sete jogos da equipe: Albertini. E não foi à toa, afinal, o craque do Milan era um dos mais completos e talentosos volantes da década de 1990. Armava jogadas, desarmava com extrema facilidade e chutava muito bem. Ditava o ritmo do meio de campo e foi essencial para o sucesso da Itália naquela Copa. Na decisão, converteu seu pênalti. Ele jogou ainda a Copa de 1998 e as Eurocopas de 1996 e 2000. Foram 79 jogos e 3 gols pela Nazionale entre 1991 e 2002.
Giannini: único jogador da Roma (onde foi ídolo) na seleção da Copa de 1990, o habilidoso meia foi titular da Nazionale e um dos principais nomes do meio de campo da equipe de Azeglio Vicini. Il Principe marcou o gol da vitória sobre os EUA na fase de grupos e deu as assistências para os gols de Roberto Baggio contra a Tchecoslováquia e de Aldo Serena no duelo contra o Uruguai. Giannini disputou 47 jogos e marcou 6 gols pela Azzurra na carreira.
Berti: tinha um fôlego incrível e atuou em quatro partidas da Azzurra na Copa de 1990, contribuindo para as jogadas ofensivas. Na Copa de 1994, foi escalado regularmente por Sacchi e alternou partidas como titular e também entrando no decorrer dos jogos. Brilhou na Internazionale, pela qual conquistou o Campeonato Italiano de 1988-1989 e a Copa da UEFA de 1990-1991. Foram 39 jogos e três gols pela seleção na carreira.
Antonio Conte: um dos grandes jogadores da Juventus nos anos 1990, Conte não foi titular absoluto da Itália na Copa de 1994 e só jogou duas partidas: contra a Espanha, como titular, e contra a Bulgária, entrando no decorrer da partida. Era um meio-campista de muita movimentação, aplicado taticamente e que tinha características mais defensivas, apesar de aparecer vez ou outra no campo de ataque. Vestiu a camisa da Itália em 20 jogos.
Donadoni: ponta que infernizava as defesas adversárias com dribles e investidas em velocidade, o italiano foi titular em cinco jogos da campanha da Copa de 1990 e participou também de seis jogos da campanha do vice-campeonato mundial de 1994. Velho conhecido de Sacchi nos tempos de Milan, Donadoni atuou nas duas pontas ao longo daquela trajetória e fez bons jogos, em especial contra a Espanha. Foram 63 jogos e cinco gols pela Nazionale.
De Agostini: reserva no Mundial de 1990 e atleta da Juventus, entrou em seis dos sete jogos da Itália e ajudava a recompor a zaga quando o time estava na frente do placar. Muito seguro e polivalente, podia atuar mais centralizado, nas laterais e como volante. Foram 36 jogos e 4 gols pela Azzurra na carreira.
Roberto Baggio: criativo, rápido, driblador, técnico, decisivo, perigoso em bolas paradas e artilheiro. Além de tudo isso, foi o Melhor Jogador do Mundo em 1993, eleito o 16º Melhor Jogador do Século XX pela World Soccer, para o FIFA 100, é um dos maiores artilheiros da Itália na história das Copas com nove gols em três Mundiais disputados (1990, 1994 e 1998) e um dos maiores artilheiros da Azzurra com 27 gols em 56 jogos. Roberto Baggio é um craque imortal do futebol italiano e um dos mais talentosos atacantes de seu tempo. Esqueça a fatalidade do pênalti perdido na final da Copa de 1994. Baggio jamais se resumiu àquilo e nunca foi crucificado em seu país. Ele foi um ídolo e os italianos sempre souberam valorizar e respeitar o craque. Estivesse ele 100% fisicamente na Copa de 1994, a história da Azzurra provavelmente seria bem diferente. Isso porque mesmo longe de sua melhor forma ele jogou muito e carregou a Itália até a final com maestria. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Serena: o atacante deu show na temporada 1988-1989 e foi o artilheiro da Inter e do Campeonato Italiano com 22 gols marcados em 32 jogos. Depois de uma temporada tão exuberante, Serena foi a esperança da Itália na Copa de 1990, mas marcou apenas um gol, perdeu o protagonismo para Salvatore “Totó” Schillaci e ainda desperdiçou um pênalti na semifinal contra a Argentina. Estava sacramentado o pesadelo do atacante, que não encontrou mais o futebol decisivo de 1989 e ainda se queimou com a torcida. Foram 24 jogos e cinco gols pela seleção entre 1984 e 1990.
Vialli: um dos mais talentosos atacantes de seu tempo, Gianluca Vialli integrou a seleção na Copa de 1990, mas seus atritos com o técnico Vicini prejudicaram sua trajetória naquele Mundial, além da boa fase de Schillaci, que o mandou para a reserva principalmente na reta final. Na verdade, Vialli não fez uma boa Copa e esteve muito abaixo do que jogava na Sampdoria, onde foi ídolo e multicampeão. O atacante jogou pela Itália entre 1985 e 1992, disputou 59 jogos e marcou 16 gols.
Signori: um dos mais prolíficos atacantes da história da Lazio, pela qual anotou 126 gols em 195 jogos, Signori despontou na seleção em 1992 e foi convocado regularmente por Sacchi, que viu nele o companheiro ideal para Roberto Baggio. A dupla de fato fez bons jogos, mas as obrigações táticas exigidas pelo treinador, que gostava de escalar Signori mais recuado, acabaram minando bastante o futebol do rápido e arisco atacante. Ele disputou seis jogos no Mundial e deu os passes para os gols das vitórias sobre Noruega e Espanha.
Massaro: de volante para ala até chegar a centroavante. Massaro foi um polivalente da bola antes de encontrar sua vocação verdadeira com o técnico Fabio Capello, no Milan: fazer gols. Na ausência de Van Basten, o italiano era a maior referência do rossonero e foi um dos maiores artilheiros do time naquele período, marcando dois gols na final da Liga dos Campeões de 1994. Na Copa de 1994, jogou em seis das sete partidas, marcou um gol no empate contra o México, mas perdeu um pênalti na final contra o Brasil. Jogou apenas 15 partidas pela Azzurra na carreira.
Casiraghi: outro bom atacante dos anos 1990 e que se destacou na Lazio, Casiraghi atuou em três jogos na Copa de 1994, mas não conseguiu repetir o bom futebol que desempenhou pelo clube romano. Foram 44 jogos e 13 gols pela Itália entre 1991 e 1998.
Schillaci: o atacante viveu um sonho na Copa de 1990 e conseguiu uma fama meteórica ao sair do banco e virar o protagonista ofensivo da Itália no Mundial, desbancando Vialli e Carnevale. Com seis gols, foi o artilheiro da Itália, Chuteira de Ouro e Bola de Ouro do Mundial. Schillaci nunca foi um craque, mas era oportunista, rápido e se colocava muito bem, o típico atacante no lugar certo no momento certo. Jogou mais algumas partidas pela seleção em 1991, mas nunca mais foi convocado. Foram 7 gols em 16 jogos pela Azzurra, seis na Copa de 1990. Schillaci faleceu precocemente, aos 59 anos, em 2024, por complicações de um câncer no cólon diagnosticado em 2022.
Carnevale: atacante do Napoli, começou como titular da seleção ao lado de Vialli, mas a falta de efetividade e a ascensão meteórica de Schillaci minaram o jogador da equipe principal. Ele disputou apenas 10 jogos pela Nazionale entre 1989 e 1990 e marcou dois gols.
Zola: o meia / atacante despontou no Napoli, mas foi no Parma e no Chelsea os clubes onde brilhou de vez no mundo do futebol com gols, atuações decisivas e títulos. Na seleção, não teve tanto destaque e sua participação na Copa de 1994 foi um desastre: entrou em apenas uma partida, foi expulso e não jogou mais.
Azeglio Vicini e Arrigo Sacchi (Técnicos): Vicini tinha enorme experiência nas seleções de base da Itália e tinha tudo para brilhar na equipe principal. Ele até conseguir montar uma grande seleção, principalmente no setor defensivo, mas algumas escolhas equivocadas no decorrer da Copa, em especial contra a Argentina, custaram a vaga na final e um possível título. Mesmo assim, sua seleção sempre é lembrada como uma das mais talentosas da história da Azzurra. Em 54 jogos, foram 32 vitórias, 15 empates, sete derrotas, 76 gols marcados e apenas 24 gols sofridos, um aproveitamento de 59,2%.
Seu sucessor, Arrigo Sacchi, vinha de um trabalho estupendo no Milan e todos esperavam o mesmo na Azzurra. Porém, Sacchi jamais conseguiu fazer sua Itália jogar um futebol ofensivo, que reduzia os espaços do campo, marcando por zona e na base do pressing como no Milan. Ele conduziu a Itália até a decisão, mas graças ao brilho de Roberto Baggio (mesmo longe de sua capacidade física ideal), de Maldini e Albertini. Mesmo sem títulos, Sacchi teve um dos melhores aproveitamentos da seleção na história: 64%. Foram 53 jogos, 34 vitórias, 11 empates e apenas oito derrotas, além de 90 gols marcados e 36 sofridos. Leia mais sobre ele clicando aqui!
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.