Por Guilherme Diniz
Mar Del Plata, 10 de junho de 1978. Dia de sol. O estádio José Maria Minella recebia pouco mais de 23 mil pessoas para uma partida que não valia absolutamente nada naquele Grupo A da Copa do Mundo da Argentina. De um lado, a França, eliminada. Do outro, a Hungria, também eliminada. Mas, em um jogo com certeza de marasmo, um fato pitoresco transformou a tarde em um dia histórico: a Seleção Francesa teria que vestir a camisa de um modesto clube da cidade por causa de um incrível erro de planejamento e comunicação. Ela teria que jogar de meias vermelhas, calções azuis e camisa branca… Com listras verdes! Mas por que a França teve que vestir-se assim? Vamos entender.
Naqueles anos 70, a grande maioria das pessoas via TV em preto e branco. Poucas tinham o privilégio de ver jogos, filmes e programas em cores. Por isso, no futebol, sempre uma equipe deveria utilizar uma camisa clara, e, a outra, escura. Como França e Hungria tinham uniformes tradicionalmente escuros (camisa azul, do lado francês, e camisa vermelha, do lado húngaro), a FIFA determinou em fevereiro daquele ano que a Hungria deveria vestir vermelho e a França, branco. Mas, em maio, a entidade mudou de ideia e disse que a França deveria vestir sua camisa número um, azul, e a Hungria sua camisa reserva, branca. Mas o oficial da Federação Francesa de Futebol (FFF) à época, Henri Patrelle, não transmitiu claramente o recado…
O tempo passou e, no dia do jogo, estava tudo bonito. As equipes entraram em campo com seus agasalhos, a Hungria toda de vermelho, a França, de agasalho branco e calções azuis, os hinos foram executados, enfim, tudo normal. Mas, quando os franceses tiraram suas blusas… Voilà! Camisas brancas! E, quando os magiares tiraram seus agasalhos, adivinhe? Camisas brancas! O árbitro do jogo, o brasileiro Arnaldo Cezar Coelho, recusou-se a iniciar a partida e ordenou um consenso para que alguma seleção encontrasse uma camisa diferente. Quando perguntados sobre aonde estavam as camisas azuis francesas, os diretores da seleção disseram: “estão há mais de 400 km daqui (em Buenos Aires)”. Foi então que dois membros da FIFA saíram de carro até a sede do Club Atlético Kimberley, modesto e pequenino time da cidade, perguntar se eles poderiam emprestar camisas escuras ou listradas para a Seleção Francesa disputar uma partida de Copa do Mundo. Óbvio que a resposta foi sim! E, felizmente, a camisa da equipe era listrada em branco e verde.
Depois de 40 minutos, eis que a França estava devidamente vestida para o jogo com um dos uniformes mais curiosos e inusitados da história das Copas. Se antes era complicado distinguir as equipes, naquele momento não tinha como não notar a França/Kimberley de azul, vermelho, branco e verde. Engraçado é que aquela era a quarta – seria também a última – vez que uma confusão de uniformes acontecia em um Mundial. A primeira foi na Copa de 1934, na Itália, quando a Áustria, de camisas brancas, vestiu o azul do Napoli para enfrentar a Alemanha, que também vestia branco – os alemães acabaram vencendo por 3 a 2. Em 1950, na Copa do Mundo do Brasil, Suíça e México entraram em campo com camisas vermelhas. Com isso, o México pegou emprestada a camisa do Cruzeiro-RS, azul e branca – mais uma vez, quem não mudou de uniforme venceu: 2 a 1 para a Suíça. Em 1958, na Suécia, o terceiro caso envolveu Argentina e Alemanha. Na ocasião, os argentinos tiveram que vestir a camisa amarela do IFK Malmö. E, pela terceira vez, o time que mudou de vestimenta perdeu: terminou 3 a 1 para os europeus.
Em 1978, porém, a história mudou. Com a bola rolando, a França jogou com inspiração e praticamente toda a torcida local e venceu por 3 a 1, gols de Lopez, Berdoli e Rocheteau. Nas arquibancadas, alguns jogadores do Kimberley ficaram emocionados e orgulhosos ao verem a camisa de seu clube em uma Copa do Mundo, aos olhos de milhões de pessoas no planeta. Pela primeira e única vez, um clube “vencia” um jogo de Copa. Simplesmente histórico.
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Muy buena
Esperava a volta desse site desde 2015. Finalmente voltou.
Simplesmente o melhor local pra quem quer saber mais sobre as belas páginas do nosso amado esporte bretão