Por Guilherme Diniz
Outubro de 2018. As semifinais da 59ª Copa Libertadores estavam definidas. Brasileiros e argentinos iriam duelar por um lugar na última final decidida em dois jogos da história da competição. Culpa da Conmebol, que traçou a decisão em jogo único a partir de 2019 e assassinou toda a catarse e festa que só as torcidas sul-americanas conseguem fazer. Por isso, a final de 2018 ganhou uma importância histórica ainda maior. Seria a última da maneira como a conhecemos tão bem por tanto tempo. Do lado brasileiro, Palmeiras e Grêmio queriam ser os protagonistas, expor ao continente uma rivalidade moldada lá nos anos 90 justamente na Libertadores. Mas eles teriam que superar a concorrência dos titãs da Argentina: Boca Juniors e River Plate. Sim, com um de cada lado, havia a chance de uma final portenha.
O presidente argentino Mauricio Macri dizia que uma decisão entre ambos seria “uma loucura, com semanas sem dormir e o risco de o perdedor demorar 20 anos para se recuperar”. Mas, para a felicidade dele e de várias autoridades, a Superfinal parecia mesmo utópica após o Grêmio vencer o invicto River Plate em pleno Monumental no primeiro jogo por 1 a 0. Atual campeão, o tricolor dificilmente perderia a volta em sua arena. Do outro lado, o Palmeiras já não teve tanta sorte: perdeu a ida por 2 a 0 em La Bombonera.
Porto Alegre, 30 de outubro. Jogo da volta. O Grêmio sai na frente. Confortável, vê a final nítida. Mas Éverton embaça a vista quando perde uma chance clara de fazer 2 a 0. O River aproveita a bobeada e empata. Das tribunas proibidas, o técnico Gallardo (suspenso) vibra. Mais um gol e o River conseguiria a classificação improvável. Faltando pouco para o fim, um pilhado defensor tricolor comete pênalti marcado pelo VAR. Pity Martínez marca. E classifica o River para a final. No dia seguinte, o Palmeiras tentou reverter a vantagem xeneize, mas outra vez sucumbiu e só empatou. Pronto. Estava consolidada a final inédita, antes possível apenas no video game. A maior rivalidade das Américas explícita na decisão da maior competição do continente. Era o Superclásico.
O ápice de uma história centenária, que começou em La Boca, com embates entre vizinhos de bairro, e ganhou o mundo mesmo com a mudança do time Millonario à área nobre de Buenos Aires. A Argentina parou. A imprensa se mobilizou como nunca antes. Mais de 70% dos torcedores do país vestiam as cores daqueles times. Era a final perfeita para encerrar com chave de ouro uma era na Libertadores. Um jogo em La Bombonera. Outro no Monumental. Dois templos do futebol para dois momentos únicos no esporte. Dois eventos de dimensões imensuráveis. E assim seriam até suas consumações. Privilegiados eram as testemunhas oculares e presenciais daquelas finais, aptas a dizer num futuro longínquo “eu vi uma final de Libertadores entre Boca e River”. Bem, parte dela.
Apenas La Bombonera teve o privilégio de ver a decisão dos sonhos em solo argentino. Os nervos estavam tão aflorados, o evento era tão grande, que entorpeceu a cabeça de todos, de torcedores a policiais, passando por dirigentes e presidente da nação. A violência, a negligência, a incompetência e a ignorância destruíram a maior final que a Libertadores poderia ter e o torcedor sonhar. Mais de 60 mil pessoas no Monumental tiveram que voltar para casa no dia do segundo jogo. Um ataque bárbaro ao ônibus do Boca feriu os jogadores xeneizes. E a final virou caso de polícia e vergonha.
A Conmebol decidiu mandar a decisão para outro continente. Madrid, Espanha, no Santiago Bernabéu. A Copa Libertadores da América virou “Copa Colonizadores da América”. Que piada! Pelo menos tivemos futebol por lá. Mas o estrago já estava feito. Neste texto especial, o Imortais conta agora as histórias, curiosidades e os estapafúrdios detalhes de um dos maiores acontecimentos da história do futebol. Que começou alegre e até interferiu nas condições climáticas da Terra, teve um anticlímax vexatório e deprimente, e terminou com contornos épicos, mas aquele gostinho de “poderia ser melhor”.
Jogo de Ida
Data: 11 de novembro de 2018
Local: La Bombonera, Buenos Aires, Argentina
Juiz: Roberto Tobar (CHI)
Público: 49 mil pessoas
Os Times:
Club Atlético Boca Juniors: Rossi; Jara (Buffarini, aos 38’ do 2º T), Izquierdoz, Magallán e Olaza; Nández, Wilmar Barrios e Pablo Pérez; Villa (Tévez, aos 28’ do 2º T), Ábila e Pavón (Benedetto, aos 27’ do 1º T). Técnico: Guillermo Barros Schelotto.
Club Atlético River Plate: Armani; Montiel, Maidana, Lucas Martínez Quarta (Ignácio Fernandéz, aos 13’ do 2º T), Pinola e Casco; Palacios, Enzo Pérez (Zuculini, aos 30’ do 2º T) e Gonzalo Martínez (Quintero, aos 32’ do 2º T); Borré e Lucas Pratto. Técnico: Matías Biscay (substituto de Marcelo Gallardo, suspenso).
Placar: Boca Juniors 2×2 River Plate. Gols: (Ábila-BOC, aos 34’, Pratto-RIV, aos 35’, e Benedetto-BOC, aos 46’ do 1º T; Izquierdoz, contra, para o River, aos 16’ do 2º T).
“90 minutos dos Sonhos”
Pré-jogo
Muito antes da maior final da história da Libertadores acontecer, é importante lembrar que ela quase nem sequer teve a possibilidade de existir. E por dois motivos! O primeiro deles aconteceu lá no começo de 2018, durante a fase de grupos da competição. No Grupo 8, o Boca Juniors esteve próximo da eliminação na 5ª rodada, quando perdia para o Júnior-COL em Barranquilla e conseguiu um empate no finalzinho que o manteve vivo. Na última rodada, os xeneizes precisavam vencer o Alianza Lima-PER e torcer para o Palmeiras bater o Júnior. Dito e feito. Goleada do Boca por 5 a 0 em casa e vitória do alviverde por 3 a 1 sobre os colombianos.
O Palmeiras terminou com 16 pontos, cinco vitórias e um empate em seis jogos e avançou como um dos favoritos. Já o Boca passou com nove pontos, duas vitórias, três empates e uma derrota. Só no mata-mata que a equipe, como sempre, acordou. Passou fácil pelo freguês Libertad-PAR, superou o Cruzeiro-BRA e reencontrou o Palmeiras, dessa vez vítima dos xeneizes, que triunfaram e abocanharam a vaga na final, além de aumentar ainda mais o histórico de vitórias sobre brasileiros em mata-matas de Libertadores – 15 vitórias em 18 duelos. Certamente muito palmeirense deve ter lamentado aquela vitória sobre o Júnior na fase de grupos…
O outro fator que quase evitou o Superclásico na final aconteceu no duelo entre River Plate e Grêmio. Na partida de ida, em outubro, no Monumental, o River tinha plena certeza da vitória e confiava no retrospecto favorável de quase um ano sem derrotas jogando em casa – a última havia acontecido no dia 26 de novembro de 2017, contra o Newell’s Old Boys, pelo Campeonato Argentino. Além disso, os millonarios vinham de duas classificações marcantes sobre os compatriotas Racing e Independiente com vitórias acachapantes no Monumental (3 a 0 na Academia e 3 a 1 nos Rojos). No entanto, o Grêmio fez uma grande partida, neutralizou as principais jogadas do rival e venceu por 1 a 0.
Além do prejuízo no placar, o River ainda viu seu técnico, Marcelo Gallardo, ser punido pela Conmebol por atrasar a entrada de seus jogadores no segundo tempo daquele duelo. Ele não poderia ficar no banco de reservas na partida de volta, no Brasil. Mas o técnico millonario deu um jeitinho, foi à tribuna e se comunicou com seu assistente por rádio. E, durante o intervalo do duelo em Porto Alegre, conseguiu ir ao vestiário – outra ação proibida pela suspensão que levou – disfarçado e passar as instruções necessárias aos seus jogadores. Tudo em prol da virada e da sonhada vaga na decisão. O final dessa história: vitória do River de virada por 2 a 1, que veio após um pênalti assinalado pelo VAR no finalzinho e anotado por Pity Martínez.
Inconformado, o Grêmio imediatamente foi à Conmebol reivindicar uma severa punição ao técnico Gallardo e até a eliminação do River da competição. Antes do julgamento, a apreensão era nítida tanto no Brasil quanto na Argentina. Por um momento, a classificação do River ficou na berlinda. Até na divulgação oficial da Conmebol constavam apenas o nome do Boca e o local do primeiro jogo, sem definição concreta do estádio da finalíssima nem o rival dos xeneizes. Só quando aconteceu o julgamento, que sacramentou a punição ao treinador em 50 mil dólares e três jogos de suspensão, incluindo o banimento de Gallardo da primeira partida da final, que a América se deu conta de que a final de 2018 seria a maior de todas: Boca Juniors x River Plate. O maior clássico sul-americano, um dos maiores do mundo, em plena decisão de Libertadores.
Com poucos dias para a primeira partida, a Argentina ficou em polvorosa. Um amplo esquema de segurança foi montado e até a data dos jogos foi mudada para evitar problemas, principalmente pelo fato de uma reunião da cúpula do G20 acontecer em Buenos Aires justamente no final de novembro e exigir todos os esforços policiais da cidade. Por isso, as finais, que iriam acontecer nos dias 7 e 28 de novembro, passaram para os dias 10 e 24 de novembro. Como acontece desde 2013 nos clássicos do país, o jogo seria com torcida única.
O peso daquela partida interferiu diretamente no cotidiano de toda a Argentina e também do mundo do futebol. Os noticiários só debatiam as possíveis escalações, as táticas dos treinadores, o peso que a ausência de Gallardo poderia causar no River, entre muitos outros fatores. E muitas histórias começaram a surgir por causa daquele jogo. A comunidade judaica, por exemplo, pediu – em vão – para que a partida acontecesse no domingo, dia 11, para que não atrapalhasse o Shabat, período entre o anoitecer da sexta e o anoitecer do sábado respeitado pelo judaísmo que abstém os judeus de coisas como trabalhar, mexer com dinheiro, dirigir, ver TV, enfim, repouso absoluto que exige a desconexão com tudo o que acontece no mundo exterior. Mas um grupo de 35 fanáticos encontrou um jeito: viajou até a Espanha só para ver o jogo! Por causa do fuso horário, a partida começaria de noite por lá e aí sim eles poderiam vê-la tranquilamente.
Aquele acontecimento esportivo também acendeu o alerta, acredite, nos médicos. A Fundação Cardiológica da Argentina divulgou um aviso para que os torcedores suscetíveis a fortes emoções e com histórico de problemas cardíacos tomasses seus medicamentos e evitassem stress principalmente durante os jogos. Além disso, o efetivo de cardiologistas foi reforçado nos plantões dos hospitais de Buenos Aires justamente para possíveis torcedores cardíacos. O jornal Clarín divulgou até dicas para os torcedores ficarem mais calmos antes dos jogos, entre elas:
- Consultar um cardiologista para ver se está apto a ver o jogo ou não;
- Pensar no jogo alguns dias antes de forma graciosa e entender que se trata apenas de uma partida de futebol e que um vai ganhar e outro vai perder, por isso, é preciso estar preparado para qualquer um dos cenários;
- Se tem problemas cardíacos e vai ver o jogo, assista ao lado de alguém que não gosta de futebol. Isso vai balancear a situação e a diminuir o stress (por exemplo, você grita após um erro do juiz e o outro ao seu lado diz “ah, para de gritar, é só um jogo!”)
- Não fumar três horas antes nem três horas depois do jogo;
- Evitar comidas gordurosas e álcool para evitar problemas de circulação sanguínea e consequentemente infartos.
O duro era dizer tudo isso a um xeneize e a um millonario…
Quando chegou o dia 10 de novembro, a grande data da partida, acredite, um verdadeiro dilúvio caiu em Buenos Aires. Aquele jogo era tão enorme, tão grande, que mexeu com a meteorologia. Mexeu com a Terra. Quiseram os deuses do futebol adiar aquela peleja. Adiar o inacreditável. Adiar o superclásico do século. Ou melhor, “dos séculos”. A arbitragem até tentou rolar a bola no gramado. Ela nem quicou. Nas arquibancadas, os pouco mais de 10 mil torcedores em La Bombonera por volta das 15h da tarde nem ligavam. Cantavam e cantavam sem parar. Lavavam a alma, que tanto sofria com aqueles minutos que pareciam horas. Que se arrastavam ao invés de correr.
Nem a ótima drenagem de La Bombonera foi capaz de conter tanta água. A chuva começou de madrugada, por volta das 1h. E não parou. Foram 95 milímetros de chuva! Até uma estrutura metálica caiu do terceiro andar até o primeiro. Felizmente ninguém se feriu. Ou seja, sem chance de final naquela tarde de 10 de novembro de 2018. A Conmebol adiou para o dia seguinte, domingo, 11 de novembro. Mas a previsão era de mais chuva. Será que os deuses do futebol tinham prazer em fazer o torcedor sofrer? Por que raios tanta angústia com aquela espera? Era sufocante ter de aguardar tanto – até para quem não torcia nem para um nem para outro, mas que adorava futebol. Agora, imagine para os torcedores? Era um Deus nos acuda! Por Dios! Santa Madre!
No dia seguinte, enfim, os céus cessaram. Nada de chuva. O gramado drenou toda a água do dia anterior e as lágrimas de quem chorou o adiamento da partida do sábado. Era domingo. Dia tradicional para um bom jogo de futebol. Desde 1979, no duelo de ida entre Olimpia 2×0 Boca Juniors, que não acontecia uma partida final de domingo na Libertadores. No fim, nunca deu tão certo. La Bombonera estava linda. Com bexigas azuis e amarelas. Nos anéis superiores, balões azuis. No meio, amarelos. No inferior, azuis. As cores do Boca. Impressionante. Faltando 10 minutos para começar, a torcida começou a cantar a música tradicional, da “hinchada que te quiere campeón!”.
Veja o recibimiento:
Às 16h50 a taça chegou. Brilhante, límpida. E toda alegre diante daquela multidão tão característica e que tanto adora aquele troféu. Para provocar o rival, a torcida do Boca jogou penas de galinhas perto do banco do River. Era o claro e nítido clima de um Superclásico, com o tempero extra de ser em uma épica decisão da América. Antes dos times entrarem nos gramados, a polícia entrou no vestiário do River à procura de Marcelo Gallardo. Vai que ele estava lá escondido, não é mesmo? Depois de vasculharem tudo, aí sim o ok foi dado para o início do jogo. Os times entraram separados, mas depois se uniram para a entrada oficial. Nas transmissões da TV, os locutores não ousaram narrar o inarrável. Só a festa da torcida e os times em campo já exemplificavam o que era aquele momento único e inédito na história do futebol mundial. Era hora do “início do fim do mundo”, como diziam. Da maior final de Libertadores de todos os tempos.
Primeiro tempo – Bendito seja Benedetto!
La Bombonera só emudeceu quando um minuto de silêncio foi respeitado em homenagem aos quatro torcedores do Boca que morreram em um acidente automobilístico no sábado, dia 10 de novembro. Quando a bola rolou, a primeira chegada foi do Boca, que ganhou logo de cara um escanteio. A torcida já começou a pulsar na tradicional arquibancada atrás do gol. Mas tudo aquilo logo de cara em nada assustou o River, único clube no mundo capaz de manter o sangue frio quando joga em La Bombonera. Afinal, ele nasceu ali, em La Boca. Sabe todas as artimanhas, conhece todos os trejeitos de seus moradores. Sabe como se portar e como neutralizar toda e qualquer investida de seu mais que centenário rival. O River começou marcando muito, e, aos 4’, teve uma falta perigosa perto da área xeneize a seu favor. Pity Martínez bateu direto e ganhou escanteio. Na cobrança, Quarta cabeceou e quase fez. Foram os primeiros lances de perigo do jogo. E justamente do River.
Aos 10’, Pavón tentou um chute de longe, mas a bola foi para fora. Cinco minutos depois, outra investida do River, cruzamento para a área, testada de Borré e grande defesa de Rossi, que ficou irado com sua zaga por permitir que o atacante millonario subisse sozinho. Aos 21’, Pavón, uma das grandes esperanças ofensivas do Boca, sentiu dores na coxa esquerda. Ele tentou caminhar, não conseguiu e saiu para ser atendido. Aos 22’, o primeiro lance de faísca do jogo. Em jogada na linha lateral, próximo ao banco de reservas, Casco briga pela bola e acaba caindo em lance com Nández e Villa. O jogador do River se desentende com Villa e empurra o boquense, que responde com um novo empurrão. Jara chega para ajudar o companheiro e também discute com o lateral do River. O juiz tem que usar de sua parcimônia para conter os nervos à flor da pele dos jogadores.
Aos 26’, Pavón realmente tem que sair de campo. A dor era insuportável. Ele deixa o gramado chorando para a entrada de Benedetto, talismã xeneize que simplesmente se entorpece quando vê um gol. Por ironia, era dele que o Boca precisava para tentar equilibrar as coisas, que pendiam para o lado millonario até aquele momento. Armani era um mero espectador. O River parecia jogar em casa. O Boca não era Boca naquela final. Ele precisava de um ânimo extra. Sua torcida cantava, mas ao mesmo tempo demonstrava preocupação com aquele rival tão hostil. Até que, aos 33’, o Boca, enfim, foi Boca. Os xeneizes chegaram no ataque com Nández, que tocou em Olaza na esquerda e este deixou com Ábila. O atacante passou pelo zagueiro e chutou. Armani espalmou. A bola procurou mais uma vez Ábila, que mandou outro petardo no mesmo canto. Armani até tentou defender, mas a redonda estava tão quente que passou pelas luvas do camisa 1 e entrou. Explosão em La Bombonera. Gol. Avalanche de gente atrás do gol. O barulho era ensurdecedor.
Com a bola no centro do campo para o recomeço, o River pensou na arma que poderia utilizar para esfriar todo aquele caldeirão. Lembra que falei que o clube millonario é o único no planeta que sabe como escapar das armadilhas de La Bombonera? Pois é. Quando deu a saída, o River estudou a zaga boquense para preparar um bote rápido, daquele que foge do olhar comum. Pity Martínez caminhou pelo meio de campo e, num só passe, encontrou Lucas Pratto em velocidade. Como uma flecha, o atacante se infiltrou no meio de três defensores do Boca, entrou na área e chutou do lado oposto do goleiro Rossi, que não alcançou a bola e a viu correr e se aconchegar nas redes do gol: 1 a 1. Em menos de um minuto, o River empatava o jogo. Jogava gelo e mais gelo naquele caldeirão. Parte da torcida xeneize continuava cantando, mas a maior dela emudeceu, pois sabia que um gol daquele jeito era muito, mas muito perigoso.
O Boca tentou uma nova resposta, aos 38’, com Ábila, mas o chute do atacante explodiu na zaga. Um minuto antes, o primeiro cartão amarelo do jogo, para Jara, numa prova clara de que a partida tinha mais futebol e menos porrada, um prêmio aos torcedores e ao futebol que engrandeceram ainda mais a decisão. Aos 39’, o River avançou pela direita com Montiel, ele cruzou e Pity Martínez chutou para grande defesa de Rossi, com as pernas. Na sequência, Borré tentou de trivela, mas o assistente já anotava impedimento do atacante millonario. Quando o primeiro tempo caminhava para o fim, o Boca tentou um último suspiro. Aos 45’, após sofrer falta pouco depois do meio de campo, Benedetto foi para a grande área. Villa percebeu o companheiro por lá e mandou a bola exatamente para o voraz boquense.
No ar, Benedetto cabeceou sem nenhum problema e fez o segundo do Boca: 2 a 1. Outra vez o atacante saía do banco para mudar um jogo naquela fase final de Libertadores. Quatro gols em três jogos! No banco, Schelotto atentava seus jogadores de que o primeiro tempo estava acabando, para o erro de marcação do gol do River não ser repetido. Quando deu a saída e planejava o mesmo bote, o River sofreu falta no meio de campo e o Boca conseguiu preciosos segundos até o árbitro apitar o fim da primeira etapa. Os primeiros 45 minutos da superfinal estavam encerrados. Foram intensos. Emocionantes. Frenéticos. Com predomínio do River, mas vencidos pelo Boca.
Segundo tempo – Silêncio e o quase
A etapa complementar começou com o Boca mais incisivo no ataque e o River em seu campo de defesa, ainda estudando uma melhor maneira de empatar sem correr o risco de levar um terceiro gol – algo que àquela altura seria catastrófico. Os millonarios só chegaram pela primeira vez com perigo aos 10’, quando Montiel engatilhou um contra-ataque e cruzou rasteiro para a área boquense, mas Rossi conseguiu interceptar. Dois minutos depois, Pratto escorou um cruzamento e deixou com Casco, que encheu o pé, mas a bola subiu demais e passou por cima do gol. Aos 13’, o River tirou um zagueiro (Lucas Martínez) e colocou um meia (Ignacio Fernández) para ser mais agressivo no ataque. Dois minutos depois, o time millonario teve uma falta a seu favor. Na cobrança, Pity Martínez mandou na área, Izquierdoz e Pratto foram nela, e o zagueiro do Boca acabou tocando primeiro. Acontece que esse toque mandou a bola para o fundo do gol. Empate do River: 2 a 2. La Bombonera ficou muda. A tensão aumentou ainda mais. O empate não era bom resultado para o Boca, embora não fosse o fim do mundo. Mas era inegável que deixava o River em situação mais confortável para o duelo de volta.
O jogo ficou acelerado de novo, mas com menos espaços, os times marcando muito e um nítido medo de errar. Um estudava o outro. Um espiava o outro. Nas disputas de bola, mais fibra, mais encontrões e mais faltas. Ambos mexeram de novo, com as entradas de Zuculini e Quintero do lado do River e de Tévez do lado do Boca. E o veterano atacante quase fez o seu, aos 32’, quando recebeu de calcanhar de Ábila, dominou na entrada da área e chutou, mas a bola passou por cima do travessão. Aos 35’, Casco cruzou da esquerda para a área, Pratto tentou de calcanhar, mas a bola foi longe do gol. O jogo seguia tão angustiante e imperdível que até o sol apareceu, tímido, entre nuvens, para espiar. Aos 39’, Jara sentiu dores na perna e foi substituído por Buffarini. O time xeneize ficava mais no ataque. O River, comedido, esperando a brecha para contra-atacar.
Aos 44’, o Boca teve uma chance para matar o jogo. A chance para vencer e poder cantarolar de alegria por duas semanas até o segundo jogo. Tévez recebeu, correu em direção à área, escapou do carrinho do zagueiro e viu Benedetto livre na área. O veterano tocou para o camisa 18, o atacante que mais demonstrava apetite naquela reta final de Libertadores. Era ele e Armani. Nenhum zagueiro por ali. Ninguém para atazanar. Era a chance do gol. A torcida atrás da meta millonaria já preparava a avalanche. Benedetto deu um tapa na bola. Mas Armani apareceu como um muro, como um bloqueio em uma estreita ruazinha de La Boca. A bola explodiu na coxa esquerda do arqueiro e se mandou dali. Foi a defesa do jogo. Quem sabe a defesa do título do River. Um gol feito não feito inacreditavelmente pelo bendito Benedetto. ¡Más que maledetto!, deve ter pensado o torcedor boquense.
Com mais cinco minutos de acréscimos, o Boca se mandou desesperadamente ao ataque, mas o experiente River marcou a partir do meio de campo e não deu espaços. Conseguiu gastar aquele tempo restante. E o apito do árbitro soou como uma doce melodia aos millonarios. Era o fim dos últimos 45 minutos da final em La Bombonera, vencidos pelo River por 1 a 0. O primeiro capítulo da final terminava empatado em 2 a 2. La Bombonera aplaudiu. Os jogadores do Boca estavam apáticos. Rapidamente, o banco de reservas xeneize foi levar ânimo aos atletas. Nada estava perdido. Mais 90 minutos seriam peleados. Era hora de jogar em território inimigo e se portar como o River havia se portado por ali. Do outro lado, o inegável sorriso maroto dos millonarios brilhava até Belgrano. O empate estava ótimo para eles. Era só ganhar no coliseu do Monumental. Por 1 a 0. Meio a zero. Mas, claro, com todo o cuidado do mundo para não cair nas armadilhas que o Boca sempre tem em suas entranhas, ainda mais em Libertadores.
Jogo de volta
Data: 09 de dezembro de 2018
Local: Santiago Bernabéu (!), Madrid (!!), Espanha (!!!)
Juiz: Andrés Cunha (URU)
Público: 62.282 pessoas
Os Times:
Club Atlético River Plate: Armani; Montiel (Mayada, aos 28’ do 2º T), Maidana, Pinola e Casco; Enzo Pérez e Ponzio (Quintero, aos 12’ do 2º T); Ignacio Fernández (Zuculini, aos 5’ do 2º T da prorrogação), Exequiel Palacios (Álvarez, aos 6’ do 1º T da prorrogação) e Gonzalo Martínez; Lucas Pratto. Técnico: Matías Biscay (substituto de Marcelo Gallardo, suspenso).
Club Atlético Boca Juniors: Andrada; Buffarini (Carlos Tévez, aos 5’ do 2º T da prorrogação), Izquierdoz, Magallán e Olaza; Nández, Barrios e Pablo Pérez (Gago, aos 43’ do 2º T); Villa (Jara, aos 5’ do 1º T da prorrogação), Benedetto (Ábila, aos 16’ do 2º T) e Pavón. Técnico: Guillermo Barros Schelotto.
Placar: River Plate 3×1 Boca Juniors. Gols: (Benedetto-BOC, aos 43’ do 1º T; Pratto-RIV, aos 22’ do 2º T; Quintero-RIV, aos 3’, e Gonzalo Martínez-RIV, aos 16’ do 2º T da prorrogação).
“Da super destruição à festa eterna”
Pré-jogo
Para o duelo de volta, o River tinha problemas no ataque. Borré, suspenso, não jogaria. Outra grande esperança millonaria, Scocco, também foi descartado por causa de uma lesão. E justo ele que havia marcado gols em dois jogos contra o Boca em 2018. Do lado do Boca, só Pavón era ausência certa devido à lesão sofrida no primeiro duelo. Entre os preparativos do superjogo, o River anunciou que iria triplicar o número de postos de atendimento médico no dia da final. Foi o recorde de ambulâncias, postos médicos e equipes em uma só partida de futebol na história da Argentina. Afinal, o Monumental seria o maior reduto para possíveis infartos no mundo naquele dia 24 de novembro, data do jogo da volta. Ao todo, foram nove ambulâncias de alta complexidade (com UTI móvel); 24 postos com 35 médicos e 17 enfermeiros, além de 45 macas. Espalhados pelas tribunas, estariam à disposição desfibriladores externos.
Dois dias antes do jogo, a torcida do Boca lotou La Bombonera em treino aberto para apoiar o time. No dia do jogo, nada de previsão de chuva. Um alívio para aqueles ressabiados que temiam uma nova interferência divina para adiar outra vez a decisão. Mas, horas antes do jogo, uma cena lamentável aconteceu durante o trajeto do ônibus do Boca até o Monumental, quando torcedores do River jogaram paus, pedras, latas e tudo o que viam pela frente contra o veículo. E isso acabou quebrando vários, isso mesmo, vários vidros do ônibus. E, através desses buracos, os selvagens travestidos de torcedores jogaram gás de pimenta dentro do veículo. Isso causou mal estar óbvio em vários jogadores e, quando o ônibus chegou ao Monumental, mais confusão: alguns jogadores relataram mais agressões. A polícia teve que conter os torcedores com gás de pimenta e a ação acabou atingindo alguns atletas do Boca. O zagueiro Izquierdoz disse que “nos jogaram tudo, pedras, gás de pimenta, tudo”.
A questão é que tudo isso poderia ter sido evitado. Foi um claro e patético erro de segurança. Ao invés de fazer um caminho totalmente seguro e com bloqueios previamente organizados pelo policiamento da partida, o ônibus do Boca, que tinha escudo e cores do clube, passou por um local repleto de torcedores millonarios e sem policiamento. A cena correu o mundo. Eles foram direto por uma avenida que terminava em uma curva tomada por torcedores. Por que ir por ali? Custava virar a esquina anterior? A reação dos selvagens não poderia ser outra, infelizmente. Foi como arremessar uma suculenta carne num rio cheio de piranhas. Com tudo aquilo, adivinhe: começaram a suspeitar do cancelamento do jogo por causa dos incidentes.
Médicos foram aos vestiários do Boca para examinar os jogadores e ver se havia a necessidade de adiamento do jogo. Almendra, Tévez, Villa e Pérez foram os mais afetados. Justamente o capitão teve que sair do estádio por causa de estilhaços de vidro que atingiram seu olho esquerdo. O tempo passava e a partida não começava. Sob sol forte, os mais de 60 mil torcedores no Monumental não aguentavam mais de ansiedade. Faltava menos de meia hora e toda a multidão estava lá, quieta, olhando para as cabines de TV tentando um alento tipo “vai ter jogo?”. Diante daquela situação, ficava a dúvida: se o jogo fosse mesmo cancelado, como fazer para que as mais de 60 mil pessoas saíssem dali pacificamente?
Não bastasse toda aquela selvageria, outra cena de profundo pesar correu o mundo. Uma mãe foi flagrada colocando sinalizadores amarrados com fita adesiva na filha só para não passar na revista policial. Detalhe: sinalizadores são proibidos. Era lamentável – depois, a tal mãe foi detida. Havia ódio. Já tinha passado do limite. Não era mais rivalidade. Parecia guerra. Depois de muita conversa e especulação, o jogo foi adiado em uma hora. Com isso, começaria às 19h de Brasília (18h no horário de Buenos Aires). Quando o anúncio foi feito no estádio, a torcida imediatamente começou a cantar aliviada, pois o clima antes era de consternação e silêncio. Depois, mudaram para 19h20. Depois, para 20h20. Era uma angústia absurda. Muitos torcedores começaram a sair das arquibancadas para comer alguma coisa, espairecer ou até mesmo ir embora. Afinal, a maioria estava lá desde às 12h. Mais de seis horas sob sol, tensão, ansiedade.
Às 19h27, os xeneizes Tévez e Gago saíram para falar com a imprensa. Eles disseram que havia uma pressão dos dirigentes da Conmebol obrigando os jogadores a jogar mesmo com três atletas, incluindo o capitão, sem condição alguma de entrar em campo. Além disso, já havia passado muito tempo desde a última refeição dos jogadores. Eles estavam há cinco horas dentro do vestiário. Toda a preparação antes da partida foi destruída. Tévez disse: “É um problema da sociedade que vivemos e por isso querem que nós jogamos. Estão nos obrigando a jogar a partida. O presidente da Conmebol e da FIFA querem que o jogo aconteça”. Depois de muita especulação, eis que o jogo foi cancelado. Mas, se dependesse da senhora Conmebol, teria jogo e se bobeasse até com Pablo Pérez em campo com tampão no olho e tudo! Era um absurdo!
A final foi remarcada para o dia seguinte, 25 de novembro, no mesmo horário. Mas, óbvio, o Boca não via condição alguma de disputar o jogo sem seu capitão e depois de tanta bagunça. Não havia igualdade de condições e o clube xeneize enviou um comunicado à Conmebol dizendo exatamente isso. Por volta das 14h50 da tarde do dia 25, o jogo foi oficialmente adiado. Detalhe: os portões já haviam sido abertos e milhares de torcedores já se dirigiam ao estádio (!) e estavam no estádio (!!). Ou seja: voltaram de novo. Por que raios não decidir isso na noite anterior!!!? Por que fazer com que pessoas e mais pessoas fossem até lá!!!!?
A maior final da história foi destruída pela selvageria, pelos barras bravas, pela escória humana e pela Conmebol. Nunca na história do futebol se viu algo assim. Uma coisa absurda. Uma série de equívocos jamais permitidos por autoridades como aquelas. Ninguém, em nenhum momento, pensou nos hinchas, nas famílias, nas pessoas de bem que iam curtir apenas o esporte, o futebol. E quem foi naquele domingo ao Monumental já foi triste. E, quando saiu, mais triste ainda. Foi uma cena lamentável, deplorável, vergonhosa e o retrato mais profundo de um triste momento social da Argentina. E tudo aconteceu na mesma semana em que a polícia confiscou cerca de 7 milhões de pesos e 300 ingressos na casa de um barra brava do River…
Muitas especulações começaram a surgir sobre o rumo daquela final, principalmente o fato de o Boca querer o título nos tribunais usando como exemplo o insólito gás de pimenta de 2015, quando torcedores do Boca jogaram esse tipo de gás em jogadores do River e o clube xeneize foi desclassificado da Libertadores. Mas tal apelação foi negada. Até que, no dia 27 de novembro, a Conmebol anunciou que a partida iria ser jogada, sim, no fim de semana dos dias 8 e 9 de dezembro. Mas fora da Argentina, cogitando lugares como Catar, Paraguai ou EUA. Sim, caro leitor (a), a final da Libertadores poderia ser disputada no CATAR!
O presidente da entidade disse que “a administração, junto com o conselho da Conmebol, decidiu que a partida, sujeita à decisão da comissão disciplinar (…) será disputada fora do território argentino porque entendemos que as condições não estão dadas”, e que “o futebol não é o que se viu neste fim de semana, isso é uma doença que precisa ser erradicada”. O duro era erradicar a final para longe dos torcedores que esperavam por aquela final, que haviam comprado ingressos e que queriam desfrutar daquele momento único do futebol. A Conmebol iria pagar a passagem de todos eles até o Catar? Pois é…
Até que, no dia 29 de novembro, a Conmebol deu o veredicto: a final seria disputada em Madrid, no Santiago Bernabéu, dia 09 de dezembro, domingo, às 17h30, horário de Brasília (20h30 hora de Madrid e 16h30 hora da Argentina). A escolha se deu pelo fato de a colônia argentina na Espanha ser grande e por questões de logística mais palpáveis. Além, claro, de a cidade ser muito mais vidrada e respirar futebol do que a petroleira Doha. O River foi penalizado por dois jogos com portões fechados em torneios da Conmebol e levou uma multa de 400 mil dólares, além de sua apelação de jogar em sua casa ou na Argentina também ter sido negada. Aquela bagunça toda destruiu os ânimos de todos. Riquelme disse que a partida seria o amistoso mais caro da história.
“O Superclássico, em algum momento, tem que ser jogado novamente na Argentina. O que vamos fazer para jogar o próximo Boca-River? Vamos ter que jogar em outro país? Por mais que queira que o Boca vença, acho que a final deveria ser jogada em nosso país. Nos tiraram ela”.
O sentimento de todos os argentinos era de vergonha. Até o presidente Maurício Macri pediu uma profunda reflexão social após aqueles problemas. Não era para menos. O maior evento esportivo da história do país desde a Copa do Mundo de 1978 foi simplesmente destruído por causa da selvageria de alguns e incompetência de organizadores, da segurança pública e dos barra bravas. E tinha mais: diante de um evento daqueles em seu território, a Espanha pediu reforço policial da Argentina para o jogo, em ofício enviado ao Diretor Nacional de Segurança em Espetáculos Futebolísticos. Mas veja que curioso: se iriam realizar a partida em outro país por causa da falta de segurança, por que raios estavam pedindo reforço do país que supostamente não oferecia segurança adequada??? É ou não é uma piada pronta? Diziam até que a Copa Libertadores da América tinha virado “Copa Colonizadores da América”, pelo fato de a final ser justamente na Espanha. San Martín, Simón Bolívar e tantos outros devem ter ficado bastante decepcionados com aquela pirotecnia de erros.
Já na semana do jogo, os barra bravas que ousavam viajar até a Espanha sentiram na pele que ali eles não tinham vez nem voz. O número 2 da principal torcida do Boca, Maxi Mazzaro, foi deportado assim que desembarcou em Madrid. A polícia espanhola tinha uma lista com os mais perigosos pseudo torcedores do Boca e não iria hesitar em mandá-los de volta a Buenos Aires. E, sob forte (e pensado) esquema de segurança, tudo ocorreu bem.
Voltando ao jogo, toda essa confusão foi benéfica ao Boca, pois o tempo ganho ajudou na recuperação de atletas que antes eram dúvida, como Ábila e Pavón, que chegaram em condições de jogo. Pérez, ferido no fatídico dia 24, também estava pronto. Só o River que tinha os mesmo problemas de antes, com as ausências de Scocco, Borré e de seu técnico, ainda suspenso, além de vir de uma eliminação na Copa Argentina pelo Gimnasia La Plata. Mas o River sabia de seu potencial e do grande jogo que fizera em La Bombonera. Ele tinha convicção da vitória. E queria o triunfo para aqueles mais de 60 mil torcedores que não puderam ver a final no Monumental.
O técnico Gallardo também foi preciso nos detalhes. Logo quando chegou a Madrid, ele foi conversar com Solari, técnico do Real e que jogou ao lado do meia entre 1996 e 1998 no próprio River. Gallardo quis falar com ele a respeito dos gandulas, para que eles fossem rápidos e “jogassem” a favor do River no dia do jogo. Além disso, a cidade de Madrid era mais simpática ao River pelo fato de o maior ídolo da história do Real, Alfredo Di Stéfano, ter sido revelado pelo clube millonario.
A capital espanhola se dividia entre o medo da violência e a alegria de receber um jogo tão importante. Eles diziam que era como se o Maracanã recebesse um Barcelona x Real Madrid, por exemplo. Era um verdadeiro acontecimento, mas que não tinha mais o clima de êxtase e entusiasmo visto lá no final de novembro. O reflexo disso foi nos torcedores. Eles não eram os mesmos fanáticos que frequentam La Bombonera ou Monumental. Eram em sua maioria da Europa. Por ser em campo neutro, a regra de torcida única não foi aplicada, e cada clube teve direito a uma carga de 25 mil ingressos. Os outros 22 mil disponíveis foram destinados a patrocinadores e público em geral, além de sócios do próprio Real Madrid. E apenas 10 mil ingressos foram vendidos aos residentes na Argentina, restringindo ainda mais a presença dos hinchas característicos dos clubes.
No dia 09 de dezembro, enfim, a final aconteceu. Os times chegaram inteiros ao estádio. Os torcedores estavam comportados nas arquibancadas. Mas, de fato, não parecia final de Libertadores. Não teve a linda cobertura da torcida do River como no Monumental. Não teve chuva de papéis picados. Não teve fumaça. Foi uma final europeizada, elitizada. Sem aquele calor, sem aquela paixão que só a Libertadores tem. Por mais que as torcidas fizessem o barulho característico do torcedor portenho, faltava um algo a mais.
E esse algo a mais só poderia ser compensado pelos próprios gigantes que iriam entrar no gramado do Santiago Bernabéu: River e Boca. Eles deveriam assumir o protagonismo. Eles deveriam chamar a atenção. Todo aquele cenário deveria ser deixado em segundo plano. As instituições e suas camisas eram as grandes vedetes da noite espanhola. E privilegiados deveriam se sentir os que ali estavam. Que tudo o que aconteceu nos dias 24 e 25 de novembro, pelo menos naquele instante, fosse esquecido. Era a última esperança de torcer por um Superclásico do bem. Com futebol. Emoção. E gols.
Perfilados e sob o som do hino argentino, os jogadores eram a personificação de mais de 100 anos de rivalidade. E estavam prontos para fazer história. Não era o cenário ideal. Mas eles tinham o poder de transformar o ocaso em espetáculo. Ali, na beira do gramado, a taça da Libertadores, avessa a tudo aquilo, só esperava ansiosa e reluzente pelo seu novo dono. Pela nova plaquinha em sua imponente base. E pela imortalidade adquirida após o apito final do maior Superclásico (em todos os sentidos!) de todos os tempos.
Primeiro tempo – Nova vitória xeneize
Com menos de um minuto de bola rolando, Enzo Pérez mostrou seu cartão de visitas ao capitão do Boca, Pablo Pérez, na primeira falta do jogo. O jogador xeneize sentiu bastante e ficou mancando um bom tempo. Depois disso, o jogo seguiu com os times errando muito, visivelmente desnorteados. E não era para menos. Eles estavam em território incomum e buscavam alguma referência de sua querida Argentina. Ela vinha apenas nos sons, nas cantorias das arquibancadas normalmente merengues, mas naquele diz tingidas de azul, ouro, vermelho e branco. Só aos 10’ que aconteceu o primeiro grande lance do jogo, do Boca, com Pablo Pérez emendando de primeira após escanteio, mas a bola foi fraca em direção ao goleiro Armani. O River mantinha a bola em seus pés, mas não conseguia criar com o enorme bloqueio do Boca.
O relógio corria feito maratonista até que, aos 29’, Benedetto cobrou falta rasteira, a bola bateu na barreira, sobrou com o capitão Pérez, que chutou em direção à pequena área, mas a redonda subiu demais e não alcançou a cabeça de Nández. O gol teimava em não sair. O jogo era muito truncado, algumas faltas, mas sobretudo limpo, sem a ira que muitos pensaram que iria aparecer. Aos 39’, Armani voou para evitar uma bola na cabeça de Benedetto. Nández comandava as ações no meio e o River só ameaçava em contra-ataques, mas o passe final era falho. Tantos erros poderiam ter um preço muito alto em breve. Ainda mais em uma final com o rival de toda vida. Aos 41’, Pablo Pérez devolveu a entrada que sofreu de Enzo Pérez dando um pisão no volante. Dessa vez, o árbitro mostrou cartão amarelo, apenas o segundo no jogo – o primeiro foi para o capitão do River, Ponzio, aos 27’.
Mas, antes do relógio chegar aos 45’, o Boca encontrou um contra-ataque. Pérez recuperou e deixou com Nández, incansável, o dono do meio de campo xeneize naquele primeiro tempo. O camisa 15 viu um sujeito sedento por gols na ponta direita e fez o lançamento exatamente para ele. Adivinhe quem? Benedetto. A maior víbora daquele mata-mata de Libertadores. Entorpecido, ele recebeu, deu uma finta extraordinária em Maidana, que ficou estatelado no chão, ficou no mano a mano com Armani, e, por um momento, relembrou aquele gol perdido em La Bombonera. Mas ele tinha aprendido a lição. E não errou. Deu um tapa na bola típico de matador e fez 1 a 0. E seu quinto gol em quatro jogos naquela reta final. Na comemoração, o atacante fez careta para Montiel como quem diz “¡Soy su terror!”. E era mesmo!
O Santiago Bernabéu foi brindado com o famoso e característico grito de gol portenho pela primeira vez. Aquele grito clássico. Quase ensaiado. “Goooooooooooooooooool”. Só ouvindo para entender. E, naquele momento, os espanhóis entenderam e se arrepiaram. O lado azul e ouro era loucura pura. O River tentou a resposta, mas a etapa inicial ficou mesmo 1 a 0. Assim como no primeiro jogo, vitória do Boca no primeiro tempo mesmo com amplo domínio do River, que teve 67% da posse de bola e 192 passes contra 70 do rival. No entanto, foi o Boca que finalizou mais: 5 a 2.
Segundo tempo – Sem medo de cara feia
Na etapa final, o Boca claramente entrou para segurar o resultado. Trouxe o River para seu campo. Era o jeito Boca de jogar. Mas era perigoso. Incisivo, o River passou a perambular ainda mais pelo campo do rival. Aos 10’, Andrada foi nas pernas de Pratto, mas o árbitro marcou falta de ataque. O VAR não foi acionado, mas foi falta do arqueiro. Dois minutos depois, Ponzio deu lugar a Quintero, e o colombiano melhorou bastante o toque de bola no elo entre o meio de campo e ataque. E, depois de tanto insistir, eis que o River assinou uma obra prima com a mais pura essência do futebol argentino. Aos 22’, na base dos passes perfeitos e de primeira, o time millonario chegou com Fernández, que tocou para Palacios, que devolveu para Fernández, que deu a bola para Pratto e este mandou pro gol. Que gol! Foi a vez do lado millonario gritar e pulsar no Bernabéu.
O River emergiu. Inflamou sua torcida. Jogava pela hinchada na Argentina e “pelos 66 mil”, como disse o capitão Ponzio, que ansiavam pela final no Monumental. O Boca ficava encolhido, querendo a decisão por pênaltis. O River era superior, com cinco ataques até os 25’ contra apenas dois do Boca. Mas os xeneizes se seguravam como podiam. O jogo tinha mais faltas e mais cartões. Aos 34’, Fernández levou amarelo. Aos 37’, Maidana também foi amarelado. E, aos 41’, Barrios foi advertido com a tarjeta amarilla. Faltando dois minutos para o fim do tempo regulamentar, Pablo Pérez deixou o gramado para a entrada de Fernando Gago, que conhecia muito bem aquele gramado do Bernabéu dos tempos em que jogou no Real. O capitão ficou furioso por ter de sair, mas ele não tinha mais condições físicas de jogo. Os nervos ficavam ainda mais à flor da pele. Já pensou levar um gol naquele finalzinho? Ninguém tinha coragem. Era melhor deixar tudo para a prorrogação.
Prorrogação – Superioridade millonaria, desespero xeneize e a consagração
Nos primeiros segundos da prorrogação, o Boca gastava o tempo, tocava no meio, recuava. Mas o River não queria saber daquilo. Oras, o Boca tinha vencido três de suas seis Libertadores nos pênaltis – 1977, 2000 e 2001. A chance de ele vencer mais uma era enorme! Por isso, o River queria resolver tudo no tempo normal. Ele sabia que tinha mais técnica e mais futebol. E mais fôlego. E a missão millonaria começou a ser facilitada quando, aos 2’, Barrios levou o segundo cartão amarelo e foi expulso. O Boca ficaria 28 minutos com 10 jogadores. E com o meio de campo fragilizado ao máximo. Nández estava exausto. O capitão Pérez já tinha saído. Era o cenário perfeito para o River.
Aos 8’, Quintero recebeu, chutou, mas a bola subiu. Dois minutos depois, outra chance do colombiano, mas sem efeito. Aos 11’, Álvarez chutou de primeira da entrada da área, mas a redonda subiu demais. O Boca estava bem cansado. O River, mais inteiro e ávido pela vitória. Tentava em cruzamentos, tentava nos passes em profundidade. O Boca não conseguiu chegar uma vez sequer na primeira etapa do tempo extra. A última tentativa do River foi de Pity Martínez, aos 15’, mas não tinha ninguém no meio da área para receber o passe do meia.
No segundo tempo, as torcidas começaram a fazer ainda mais barulho. Elas não paravam de cantar. Nunca em sua história o Bernabéu tinha recebido uma sinfonia daquelas. Intensa. Apaixonada. E tanta melodia inspirou o jogador que mais chutava naquele tempo extra: Quintero. Aos 3’, o colombiano recebeu na entrada da área e chutou forte. A bola explodiu no travessão, fez aquele barulho seco, bonito, e foi pro fundo do gol: 2 a 1. Era o prêmio ao time que mais atacava, que mais tentava. E o estopim para o jogo pegar fogo de novo.
Dois minutos depois, Ábila tentou no meio dos zagueiros, mas a bola ficou com Armani. Aos 5’, Tévez entrou e se transformou na esperança xeneize de uma nova arte do atacante, como naquele clássico de 2004. Aos 8’, Pratto tentou, no quatro contra três, mas o passe não saiu bom e Andrada ficou com a bola. O goleiro, desesperado, saiu jogando como se fosse um líbero! Era loucura! Tudo por um gol. Tudo pela glória eterna, histórica, para as enciclopédias, para o século. O mesmo Andrada foi para a área, aos 9’, em cobrança de escanteio. Com 1,93m de altura, ele era a esperança. Mas, depois de duas tentativas de tiro de canto, nada de gol. Ao invés de voltar, o camisa 1 ficou ali, para depois do meio de campo. Para tentar concluir a jogada, Gago chutou de fora da área, mas Armani pegou.
Andrada já era goleiro linha. E o Boca, entrega total. Mas parecia tarde demais. Por que não ter aquela mesma raça com 1 a 0 no placar? Por que o comodismo da segunda etapa? Quando tinha a bola, o River tentava caprichar demais em busca do terceiro gol. Passados dez minutos do segundo tempo da prorrogação, o jogo era uma bagunça. Não tinha mais esquema. Não tinha tática. A torcida millonaria até arriscava um grito de “olé”. Aos 11’, o volante Gago se machucou sozinho e, um minuto depois, deixou o gramado e o Boca com nove jogadores. O River aproveitou e atacava sempre no três contra três ou até quatro contra três, mas a finalização deixava a desejar. O relógio chegava perto dos 15’. O grito de campeão estava entalado. Ninguém ousava gritar.
Aos 14’, Jara chutou no pé da trave direita do goleiro Armani, com desvio, e a bola foi para escanteio. Se aquela bola entrasse… O Boca talvez venceria nos pênaltis por 3 a 0 tamanho desastre psicológico que aquilo poderia causar no River! Mas a bola estava lá, para a cobrança de escanteio. Andrada foi outra vez para a área. O jogo era infartante. Escanteio cobrado, mas o árbitro mandou voltar. Veio o segundo. E outra vez ele mandou voltar. Quanta angústia! Na terceira, Armani tirou de soco, a bola sobrou com Quintero e ele tocou para Pity Martínez. O gol estava escancarado.
Martínez saiu em disparada, sozinho, ele e o gol do Bernabéu. O único gol que teve suas redes balançadas naquela noite. Justamente o gol amparado pela torcida do Boca. Ela estava ali e via o atacante vestido de branco com a faixa vermelha. Uns choravam. Outros fechavam os olhos para não ver aquele golpe no coração. Alguns jogavam zica. Ou simplesmente viam, com os olhos marejados, a vinda cada vez mais próxima de Martínez. Era o cenário perfeito. Que hincha do River não queria estar no lugar dele? Era só fazer de qualquer jeito. Mas era contra o Boca. Sem pestanejar, Martínez olhou para trás primeiro, viu que o rival estava sob uma distância segura, e, na linha do pênalti, chutou no meio do gol. Pronto. 3 a 1. River campeão. De virada. O que poderia ser maior? Absolutamente nada. Era a glória eterna. Imensurável. Medi-la? Talvez amanhã. Mas, ao certo, nunca.
O árbitro nem se deu ao trabalho de recomeçar. O jogo acabou ali mesmo. O Santiago Bernabéu via a festa do tetracampeão da Libertadores mais confusa e bagunçada de todos os tempos. Mas que, felizmente, foi encerrada com uma ótima partida de futebol, com todos os ingredientes de uma grande final. Na hora da premiação, claro, os xeneizes desdenharam de suas medalhas. Queriam sumir dali. Para não voltar nunca mais. Já os millonarios eram festa, euforia. Maidana, Ponzio e Gallardo – enfim, no gramado -, foram os protagonistas na hora de levantar o troféu. Justamente o trio que virou símbolo da reconstrução do River após a página mais negra de sua história. Maidana, remanescente do descenso de 2011. Ponzio, capitão e presente desde 2012. E Gallardo, o técnico que se transformou naquele dia no maior de toda a história do River, com duas Libertadores conquistadas e outras sete taças.
O desfecho da Libertadores 2018 não foi o sonhado. Destruíram a maior final possível da competição com uma série de erros crassos e violência. A debilidade do poder público, da sociedade e da Conmebol ficou mais em evidência do que o futebol em si. Foi uma pena. Uma final que durou um mês. Mas, no fim das contas, vista por milhões em todo o mundo. Por várias estrelas do futebol no Bernabéu e pela TV. Aquela final parece ter ficado pequena demais a um só continente. Virou uma final mundial. E, de fato, foi. E já está cravada na história por vias retas e tortas como uma das maiores de todos os tempos.
Pós-jogo – O que aconteceu depois?
River Plate: como não poderia deixar de ser, o River tratou aquela conquista como a maior de toda sua mais que centenária história. As celebrações duraram dias, teve muita festa no Obelisco da avenida 9 de julio, em Buenos Aires, e torcedores de todo o planeta compartilharam suas emoções em redes sociais, jornais e revistas. O clube nem teve tempo de voltar para celebrar com seu torcedor, pois de Madrid já viajou para os Emirados Árabes Unidos para a disputa do Mundial de Clubes da FIFA. Por lá, a desconcentração foi tanta que o time acabou perdendo já nas semifinais para o Al Ain-EAU após empate em 2 a 2 e derrota por 5 a 4 nos pênaltis. Talvez fosse a vontade de voltar para casa logo e comemorar com seus hinchas… A final das finais já havia sido jogada. E vencida.
Boca Juniors: a dor de perder uma final como aquela vai demorar para passar. Na volta para casa, o time xeneize não encontrou explicações, e desmentiu qualquer possibilidade de ainda tentar algo nos tribunais. No dia 12 de dezembro, Dia del Hincha de Boca na Argentina, uma festa seria feita em La Bombonera, mas os portões não foram abertos mesmo com vários hinchas por lá, por “motivos de segurança”. O fato é que não havia clima para celebração. Dias depois, Schelotto foi demitido do comando técnico. Por mais que aquela final em nada diminuísse a história do clube, ainda soberano em número de títulos internacionais diante do rival, aquela página estava marcada com tinta permanente. Impagável. Como dar o troco? Só em uma ocasião igual, na mesma competição, nos mesmos termos. O problema é quando isso vai acontecer. Se acontecer… E esse “se” vai perambular a consciência dos xeneizes por tempo indeterminado. Depois dizem que é só futebol…
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Na minha opinião foi a oportunidade de terem feito a final da Libertadores para ficar na história e portanto ficou o vexame histórico. Os argentinos não souberam fazer a final dos sonhos. Se houvesse punição severa por parte da Conmebol o River teria perdido esse título e sequer haveria a segunda partida.
Numa final que poderia ter sido Brasileira com dois dos times mais copeiros do nosso País.Quiseram os deuses do futebol que os dois gigantes argentinos decidissem essa já espetacular final.
Para nós fãs do futebol tivemos o prazer inenaravel de nos deleitar com 2 jogos cardíacos e eletrizantes.
Sou um confesso simpatizante dos que vestem a banda Roja mas é difícil ficar inerente a famosa avalanche da Bombonera quando saem os gols do seu time azul y oro.
Quando Maledetto (carrasco do meu Palmeiras) abriu o placar no Bernabeu pensei: Mais uma libertadores para os Xeneizes e mais uma freguesia sem precedentes para o River.
Pratto a personificação da raça empata e quando Juan Fernando Quintero entra na cancha e eu meu patrão logo comentamos esse zurdo joga muita bola!!!
E o resto? Bom o resto ficou para história, desfecho melhor? Talvez não.
River copou o seu maior rival e o resultado dessa final vai ecoar pra sempre no coração dos apaixonados hinchas hermanos para o bem e para mal.
Muito Bom imortais !! parabens , Jogo Eterno !! Esse River de 2014 a 2018 se tornou um esquadrão imortal !! espero que venha o Mundial Interclubes para eternizar !!
No 2º jogo – Grêmio 1 x 2 River Plate pelas semifinais da Libertadores 2018, jogo este em que o técnico do River- Marcelo Gallardo, estava impedido de estar nas dependências da Arena devido a suspensão, houve sim um erro grande do Gallardo ao entrar em contato com os seus assistentes, bem como a sua ida aos vestiários para falar com seus jogadores. Mas, devemos sempre destacar a garra que a equipe Millonaria encarou aquela semifinal de Libertadores. Foi um jogo em que o River foi dominante na maior parte, sofreu o gol no início e por muito pouco quase fora eliminado, e se não fosse a Muralha Armani parar o Éverton quando o jogo ainda estava 1 x 0 a favor do Grêmio tudo estaria perdido. E devido a esta incompetência do Grêmio em não matar o jogo e as inúmeras ceras do goleiro Marcelo Grohe , o castigo veio merecidamente ao fim da partida e quando muitos não acreditavam. Primeiro com o oportunismo de Borré marcando de cabeça igualando o placar e logo após com o pênalti bem convertido por P.Martinez, consolidando assim a virada épica com o River jogando um grande futebol. E assim, depois de passar pelos seus grandes rivais- Racing (oitavas) e Independiente (quartas), e logo após bater o Grêmio nas semifinais, o River Plate chegou a final da Libertadores contra o eterno rival Boca. E mesmo o Superclássico do Século pela Final da Libertadores 2018 ter tido os trágicos incidentes antes do 2º jogo que seria realizado no Monumental , digo que no campo como não deveria deixar de ser, na Grande Final River 3 x 1 Boca em Madrid, o River mereceu levar a Taça. Este River de Gallardo é um time organizado taticamente, bastante competitivo e apresenta um grande futebol, possui também um forte elenco e tem jogadores que desequilibram como P. Martinez e Quintero, além do sempre temido trio de atacantes: Pratto-Borré+ Scocco.
E esta conquista da 4ª Libertadores do River Plate é fruto de um excelente trabalho que técnico M.Gallardo vem realizando a frente dos Millonarios desde 2014. De 2014 até o momento já são 9 conquistas: 2 Copas Libertadores -2015, 2018, 1 Copa Sulamericana- 2014, 2 Recopas Sulamericanas- 2015,2016, 2 Copa Argentina- 2016,2017 , 1 Copa Suruga Bank- 2015, 1 Supercopa Argentina -2018, além de *1 Supercopa Euroamericana-2015. E um detalhe importante: O River que tivera grandes traumas com o Boca, como em 2000 e 2004 , agora aprendera jogar com este rival. Isto é o que muitos dizem: O River sabe como fazer o Boca sofrer!. E de 2014 até o momento são 4 duelos decisivos e nestes 4 duelos: ou o River eliminou o Boca e foi campeão (Sulamericana 2014 e Libertadores 2015) ou ainda melhor que isso, teve o poder de levantar se sagrar campeão em cima do arquirrival (Supercopa Argentina 2018 e recentemente Conmebol Libertadores 2018).
Dicas: Esquadrão Imortal: River Plate 2014-2018, Craque Imortal: Edmundo e Mauro Galvão.
Muito obrigado pelo toque e pelo comentário! Esse River será relembrado sim! E os craques também! Aguarde!
Vendo aquele jogo sabia que ele entraria no site como jogo eterno. Mas que tal colocar como jogo eterno a final da copa do Brasil de 2011 3×2 para o Coritiba com o Vasco campeão foi uma das mais emocionantes finais de copa do brasil