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Jogos Eternos – Internazionale 0x2 Fluminense 2025

Internazionale 0x2 Fluminense 2025
Foto: Reuters

Data: 30 de junho de 2025

O que estava em jogo: uma vaga nas quartas de final da Copa do Mundo de Clubes da FIFA de 2025.

Local: Bank of America Stadium, Charlotte, EUA

Árbitro: Iván Bartón (El Salvador)

Público: 20.030 pessoas

Os Times:

Internazionale-ITA: Sommer; Darmian, De Vrij e Bastoni (Carlos Augusto); Dumfries (Carboni), Barella, Asllani (Sucic), Mkhitaryan (Luis Henrique) e Dimarco; Lautaro Martínez e Marcus Thuram (Esposito). Técnico: Cristian Chivu.

Fluminense-BRA: Fábio; Samuel Xavier, Ignácio, Thiago Silva, Freytes e Renê; Martinelli (Hércules), Bernal (Thiago Santos) e Nonato (Lima); Arias e Cano (Everaldo). Técnico: Renato Gaúcho.

Placar: Internazionale 0x2 Fluminense. Gols: (Cano-FLU, aos 3′ do 1ºT; Hércules-FLU, aos 45’+3’ do 2ºT).

 

“Guerreiros de Charlotte”

Por Guilherme Diniz

Ao término da fase de grupos da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, o Fluminense passava por um momento de incertezas. O clube vinha de dois jogos abaixo das expectativas contra os adversários relativamente mais fracos de seu grupo e gerava dúvidas se iria conseguir superar as oitavas de final. Principalmente pelo fato de o adversário ser a Internazionale, que também não vinha jogando bem, mas ainda sim contava com um elenco poderoso e vice-campeão europeu. Em Charlotte, o Flu teria que jogar com a mesma intensidade que havia jogado contra o Borussia Dortmund, na estreia, mas marcar gols, pois naquele jogo o placar não saiu do zero. Pois o time brasileiro realizou uma partida inesquecível, digna da história tricolor e do esquadrão campeão da América em 2023. 

Sem medo, o Flu atacou a Inter e abriu o placar com apenas três minutos, em gol de seu ídolo, Germán Cano, que precisou de apenas um toque – como na maioria de seus gols – para balançar as redes de Sommer. Os cariocas tinham organização, aplicação tática, concentração. Tinham Fábio, intransponível e irretocável aos 44 anos. No segundo tempo, a partida ficou mais tensa, a Inter acertou a trave duas vezes, mas o Flu se segurou, valente. E, em um contra-ataque, marcou o segundo gol, com Hércules, e garantiu a classificação tricolor às quartas de final. Um jogo histórico, de orgulho, para entrar direto ao almanaque de façanhas dos Guerreiros. É hora de relembrar. 

Pré-jogo

Cano fluminense 2023 afp
Flu, de Cano, se garantiu no Mundial graças ao título da Libertadores de 2023. Foto: Carl de Souza/AFP.
 

O Mundial de Clubes tinha significados distintos para Inter e Flu. Do lado italiano, o torneio poderia servir como volta por cima após a catástrofe ocorrida na final da UCL, quando a nerazzurri, mesmo após eliminar o Barcelona em duas semifinais espetaculares, foi devastada pelo PSG com uma goleada de 5 a 0. O revés fez o técnico Simone Inzaghi partir para o futebol árabe e deixou a sensação de terra arrasada em Milão. Perder daquela maneira abalou demais o emocional do time e isso ficou evidente na estreia, contra o Monterrey-MEX, jogo em que os mexicanos abriram o placar no primeiro tempo e forçou a Inter correr atrás do empate. Na segunda partida, outra vez os italianos saíram atrás diante do Urawa Red Diamonds-JAP e só conseguiram a vitória nos minutos finais do segundo tempo, em gols de Lautaro e Carboni (este aos 90’+2’). Só no último jogo, contra o River Plate-ARG, que a Inter acordou e venceu por 2 a 0, placar que classificou os italianos em primeiro lugar.

Inter Inter de Milao x River Plate
Contra o River, Inter fez seu melhor jogo, mas ainda sim longe do esperado.
 

Comandados por Chivu, ex-jogador do time campeão mundial em 2010, a Inter mantinha seu estilo de jogo, com três zagueiros, uma linha de cinco no meio e dois atacantes. No entanto, a nerazzurri era diferente do time vice-campeão europeu e demonstrava uma apatia nítida, ainda consequência do revés na final de Munique. Do lado tricolor, a missão do técnico Renato Gaúcho era ir o mais longe possível com um time que não tinha a folha salarial de vários concorrentes nem a variedade de jogadores que o técnico desejava. Dos brasileiros, o Flu era o menos badalado, mas demonstrou na estreia contra o Borussia Dortmund-ALE que jamais se daria por vencido. O empate de 0 a 0 foi enganoso, pois o Flu teve mais volume de jogo e criou as melhores chances de gol.

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Nonato ajudou o Flu a iniciar a reação contra o Ulsan. Foto: Franck Fife/AFP
 

Na partida seguinte, contra o Ulsan, da Coreia do Sul, Arias abriu o placar, mas os asiáticos viraram ainda no primeiro tempo. Renato teve que mexer com o brio de seus jogadores e a postura foi outra no segundo tempo, quando o Flu empatou, em gol de Nonato, e virou para 4 a 2, com gols de Freytes e Keno. Precisando apenas de um ponto para se classificar, o Flu enfrentou o hostil Mamelodi Sundown-AFS e só empatou em 0 a 0 um jogo decepcionante e que ligou o alerta no torcedor, pois fez com que o tricolor terminasse em segundo lugar. Se jogasse daquela maneira contra a Inter, a derrota era certa.

Sabendo do estilo de jogo do rival, Renato Gaúcho iria espelhar seu time de maneira semelhante à Inter, com três zagueiros e uma linha de cinco no meio, que na verdade seria 5-3-2, pois os laterais não iriam avançar tanto como no lado nerazzurri. O Flu jogaria apostando no contra-ataque e também na marcação sobre os atacantes Lautaro e Thuram, além de conter as investidas de Dumfries e Dimarco, pelas pontas. Uma curiosidade é que o jogo contra a Inter seria o segundo na história entre as duas equipes. O primeiro duelo aconteceu em 1961, em amistoso no San Siro que terminou 1 a 1. A partida marcou a estreia do craque Luis Suárez Miramontes na Inter e o gol tricolor foi ao artilheiro Waldo, maior goleador da história do clube. Anos depois, aquela Inter seria bicampeã do mundo e da Europa e ficaria conhecida como Grande Inter. Ou seja: se o Flu empatou com o mais emblemático esquadrão nerazzurri, por que não poderia vencer a vice-campeã europeia em 2025?

Primeiro tempo – Canoooo!

cano flu 2025 Grant Halverson FIFA FIFA via Getty Images
O primeiro gol tinha que ser dele! Foto: Grant Halverson / FIFA / FIFA via Getty Images
 

Se existe um começo de jogo perfeito, ele foi invocado pelo Fluminense naquela tarde quente de Charlotte. Tudo começou lá no campo de defesa, quando Martinelli recebeu e partiu para o ataque. Após ganhar de De Vrij, o meio-campista deixou com Arias, pela direita, que saiu em disparada e tentou o cruzamento rasteiro, mas a bola bateu no pé de Bastoni e subiu. A bola foi para a pequena área e Cano, sozinho, apareceu para tocar de cabeça e colocar a bola por entre as pernas de Sommer: 1 a 0. Em seu jogo de número 200 pelo tricolor, o argentino marcou seu gol de número 106. Mais um com apenas um toque, como tantos que ele fez em 2023, ano mágico do título da Libertadores. E como 73% dos gols que marcou pelo tricolor! 

Sair na frente do placar deixou o Flu mais tranquilo e aliviou a natural tensão que um jogo daquele tamanho causa. Os cariocas seguiram no ataque e deixaram a Inter desconfortável, o que gerou o primeiro cartão amarelo para os italianos já aos 8’, quando Asllani fez falta em Nonato. Só aos 10’ que a Inter chegou com perigo pela primeira vez, quando Dimarco recebeu de Mkhitaryan dentro da área e fuzilou, mas Fábio fez uma defesaça! A Inter tentou pressionar, mas seus atacantes ficavam presos nas linhas defensivas do tricolor, que aplicava o jogo preparado pro Renato com perfeição.

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Os times em campo: Renato espelhou o Flu com a Inter e conseguiu vencer.
 
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Foto: Buda Mendes / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
 

Aos 23’, Thuram recebeu de Barella e arriscou o chute, mas a bola foi por cima. Aos 25’, Freytes cometeu falta no limite da área e quase cedeu um pênalti à Inter. Na cobrança de falta, a bola explodiu na zaga e foi para escanteio, desviado por Ignácio na sequência. A resposta tricolor veio minutos depois, quando Arias passou de calcanhar e tabelou com Cano antes de chutar de fora da área. Sommer espalmou e Samuel Xavier chegou sozinho pela direita da área. O chute do lateral passou rente à trave da Inter! A partir dos 32’, o Flu trocou passes com paciência, buscando espaço, e demonstrava muita frieza e controle do jogo. Aos 36’, Dimarco cobrou falta perigosa da entrada da área e Fábio defendeu.

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Renato Gaúcho levou amarelo após confusão. Foto: Suzana Vera / Reuters
 

Aos 39’, o Fluminense desmantelou a zaga nerazzurri. Arias cobrou uma falta na área e Thuram afastou de cabeça. A bola sobrou com Martinelli, que tocou com Samuel Xavier. O lateral cruzou na área, Thiago Silva cabeceou, Renê tocou e Ignácio mandou no fundo das redes da Inter! Os tricolores celebraram, mas o gol foi anulado por impedimento de Ignácio. Nos acréscimos, um lance na lateral gerou confusão. Renato Gaúcho deu um leve toque na bola para impedir que Mkhitaryan cobrasse o lateral com rapidez. O armênio não gostou nada da atitude do brasileiro e o empurrou com o ombro. 

O bate-boca começou e a turma do deixa-disso teve que interferir. Lautaro Martínez, capitão da Inter, também apareceu para encarar Renato e os bancos de reservas de Inter e Flu tiveram que conter todo mundo. O treinador do Fluminense recebeu cartão amarelo e ganhou mais alguns minutos preciosos para o tricolor. Ao fim do primeiro tempo, o equilíbrio era visto nos números: 5 finalizações para cada lado, 8 faltas cometidas para cada lado, 6 a 5 nos desarmes para a Inter e mais posse para os italianos – 60% a 40%. Mas o placar era todo do Flu.

Segundo tempo – Vence o Fluminense!

Internazionale 0x2 Fluminense 2025
 

Com a mesma concentração e tática, o Flu seguiu bloqueando a Inter, que continuava sem conseguir chegar na área tricolor. Chivu decidiu mudar o time aos 7’ e sacou logo três de uma vez: saíram Asllani, Mkhitaryan e Dumfries para as entradas de Sucic, Carboni e Luis Henrique, respectivamente. O trio tentou construir uma jogada no minuto seguinte, mas o time brasileiro recuperou a bola e evitou o perigo. Aos 11’, Arias levantou na área e a redonda passou por todo mundo antes de parar nos pés de Cano. O camisa 14 ajeitou e finalizou, mas a bola saiu pela linha de fundo. Para dar mais fôlego no meio de campo, Renato Gaúcho mexeu duas vezes na sequência e colocou Hércules e Lima nos lugares de Nonato e Martinelli. A marcação tricolor seguia perfeita e, quando atacava, o Flu levava perigo. Foi assim aos 16’, quando Renê cobrou lateral, Cano fez o corta-luz e deixou para Arias. O camisa 21 mandou uma bomba de fora da área, mas Sommer se esticou e defendeu!

Aos 23’, a Inter perdeu sua melhor chance no jogo. Lautaro subiu para ajeitar de cabeça e levou a melhor sobre Thiago Silva. A bola caiu com De Vrij, na pequena área, que mandou de primeira para fora. Lautaro não acreditou e reclamou demais com o zagueirão. Em outra boa chance italiana, aos 28’, Dimarco cobrou falta e ela passou trincando a trave de Fábio. Tempo depois, aos 34’, Lautaro teve outra chance para empatar após dominar dentro da área e chutar rasteiro, mas Fábio impediu o gol nerazzurri. 

Dois minutos depois, Esposito cruzou e a bola chegou nos pés de Lautaro. De primeira, o argentino mandou a bomba e Fábio, de novo, defendeu! O goleirão tricolor era um gigante naquela tarde. Não passava nada! Um minuto depois, Luis Henrique cruzou da esquerda para Lautaro, que dominou, girou e bateu de esquerda. Dessa vez, a bola carimbou a trave do Fluminense! No contragolpe, o tricolor desperdiçou a chance de liquidar quando Lima chutou entre dois marcadores, mas a bola subiu demais e passou por cima do travessão de Sommer.

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Flu inter Michael Reaves Getty Images
Delírio tricolor! Foto: Michael Reaves / Getty Images
 

A partida se encaminhava para o final. O árbitro sinalizou mais sete minutos. Desesperada, mas muito cansada, a Inter tentava do jeito que dava e se mandava para o ataque, enquanto o Flu seguia a cartilha plena de defender e engatilhar um contra-ataque. Até que, aos 45’+3’, Samuel Xavier cobrou lateral, Dr Vrij cortou de cabeça e a bola passou por todo mundo até sobrar para Hércules. Ele dominou, invadiu a área e chutou de esquerda, no cantinho de Sommer: 2 a 0. Ele não precisou de 12 trabalhos. Apenas um: marcar o gol da classificação tricolor para as quartas de final da Copa do Mundo de Clubes da FIFA!

A Inter ainda teve tempo para mandar outra bola no travessão, dessa vez com Dimarco. A sorte, de fato, era do Fluminense. O dia era do Fluminense. A vaga era do Fluminense. E a história era do Fluminense! Com autoridade, vontade, personalidade e futebol, o tricolor despachava a vice-campeã da Europa e seguia firme rumo ao sonho do título. Um jogo enorme, com atuações memoráveis dos veteranos, dos jovens e do técnico Renato Gaúcho, os Guerreiros de Charlotte naquela tarde de 30 de junho de 2025. 

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

Internazionale: a eliminação nerazzurri encerrou de vez uma temporada trágica para a equipe italiana, que perdeu todos os títulos que disputou e escancarou os problemas do elenco, principalmente os psicológicos, afinal, a derrota na final da UCL ainda ecoava nos atletas, algo claro e visto em todos os jogos da equipe no Mundial. O capitão Lautaro Martínez foi bem duro nas palavras ao publicar uma declaração no pós-jogo: “Eu quero brigar pelos principais títulos. Quem quiser permanecer na Internazionale, muito bem, vamos lutar. Mas quem não quiser ficar pode ir embora. Precisamos de jogadores que queiram estar aqui. Estamos vestindo uma camisa importante. Precisamos de uma mentalidade de alto nível ou, por favor, vá embora”. O torcedor nerazzurri, de fato, tem muito com o que se preocupar na próxima temporada.

prensa inter flu 2025
 
gazetta prensa inter flu 2025
 
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Fluminense: a festa do lado brasileiro foi enorme, obviamente, e seguiu por mais alguns dias. Nas quartas de final, o tricolor encarou outro adversário complicado: o Al-Hilal, que vinha de vitória sobre o Manchester City de Guardiola por 4 a 3. Seria tão difícil quanto o duelo contra a Inter, mas o Flu foi enorme: abriu o placar em golaço de Martinelli, no primeiro tempo, levou o empate e conseguiu a vitória em outro gol de Hércules, talismã tricolor naquela reta final. 

O time das Laranjeiras foi o único sul-americano nas semifinais, enquanto Chelsea, PSG e Real Madrid completaram o quarteto semifinalista. No duelo contra o Chelsea, o Fluminense teve desfalques importantes como Martinelli e Freytes (suspensos) e Samuel Xavier (com dores musculares). E, sem o trio, a equipe acabou derrotada por 2 a 0, com dois gols de João Pedro, ironicamente cria de Xerém e ex-jogador do Flu. Foi dolorido, mas ficou o orgulho de uma campanha histórica, única e que será bem difícil de ser igualada ou superada por um clube sul-americano tão cedo.

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João Pedro, cria de Xerém, foi o carrasco do Flu nas semis do Mundial. Foto: Darren Walsh/Chelsea FC via Getty Images
 

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