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Esquadrão Imortal – Magdeburg 1971-1975

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Bildnummer: 00035778 Datum: 00.00.1969 Copyright: imago/Werner Schulze Der 1.FC Magdeburg Ende der 60er Jahre u.a.: Jürgen Sparwasser (h.R.l.), Wolfgang Abraham (h.R.2.v.l.), Trainer Heinz Krügel (m.R.l.), Ohm (m.R.3.v.l.), Wolfgang Seguin (m.R.4.v.l.), Manfred Zapf (m.R.2.v.r), Torwart Ulrich (Uli) Schulze (v.R.3.v.r.); DDR - Oberliga, Saison 1969/1970: 1.FC Magdeburg, Mannschaftsbild, Mannschaftsfoto Magdeburg Fußball Herren Mannschaft DDR Totale Randmotiv Personen
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Em pé: Hermann, Seguin, Tyll, Mewes, Ohm, Zapf e Abraham. Agachados: Enge, Gaube, Raugust, Heine, Schulze, Hoffmann, Pommerenke e Sparwasser.
 

Grandes feitos: Campeão da Recopa da UEFA (1973-1974), Tricampeão do Campeonato Alemão Oriental (1971-1972, 1973-1974 e 1974-1975) e Campeão da Copa da Alemanha Oriental (1972-1973). Foi o primeiro e único clube da antiga Alemanha Oriental a vencer um título europeu.

Time-base: Ulrich Schulze; Detlef Enge, Manfred Zapf (Jörg Ohm), Helmut Gaube (Günter Fronzeck / Klaus Decker) e Wolfgang Abraham; Jürgen Pommerenke, Wolfgang Seguin (Siegmund Mewes) e Axel Tyll; Detlef Raugust, Jürgen Sparwasser e Martin Hoffmann (Jürgen Achtel). Técnico: Heinz Krügel.

 

“A Estrela da Alemanha Oriental”

Por Guilherme Diniz

Durante a hostil época da Guerra Fria, a Alemanha ficou dividida entre Ocidental e Oriental. E essa divisão afetou também o esporte do país, que teve duas seleções e clubes separados em ligas diferentes – Bundesliga (Ocidente) e Oberliga (Oriente). Ao longo dos anos, as equipes do Ocidente conseguiram campanhas de destaque no cenário continental, além, claro, da seleção, campeã da Copa de 1954 e vice em 1966. Mas, no começo dos anos 1970, o lado Oriental também conseguiu brilhar graças a clubes repletos de craques do mais alto nível, em especial o FC Magdeburg, que não só venceu títulos do campeonato alemão oriental como foi o único clube do Oriente a conquistar um título europeu: a Recopa da UEFA, segundo maior torneio do Velho Continente na época, derrotando na final o poderoso Milan de Gianni Rivera e do técnico Giovanni Trapattoni

Aquele Magdeburg fez história por ter grandes atletas como o goleiro Ulrich Schulze, o artilheiro Jürgen Sparwasser, o atacante veloz e criativo Martin Hoffmann, e os ótimos meio-campistas Jürgen Pommerenke e Wolfgang Seguin. No comando técnico, Heinz Krügel, com passagens por clubes do país e pela seleção da Alemanha Oriental, foi o responsável por fazer do Magdeburg pioneiro e multicampeão. É hora de relembrar.

Das mudanças à consolidação

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A origem e fundação do Magdeburg estão profundamente ligadas à Alemanha no pós-Segunda Guerra Mundial, especialmente no contexto da Alemanha Oriental (RDA). O clube surgiu de um processo de reorganização esportiva, típico das mudanças políticas e sociais da época. Após a Segunda Guerra, em 1945, a Alemanha foi dividida em zonas de ocupação. A cidade de Magdeburg, localizada na zona controlada pela União Soviética, tornou-se parte da futura Alemanha Oriental. O esporte no país também foi reorganizado e muitos clubes tradicionais foram dissolvidos pelas autoridades ocupantes. Na RDA, as novas equipes eram frequentemente associadas a empresas, instituições ou organizações estatais, alinhando-se ao modelo socialista.

Antes de se chamar Magdeburg, o clube surgiu em 1945 como SG Sudenburg, cuja base era formada por trabalhadores e cidadãos locais. Em seus primeiros anos, o Sudenburg mudou de nome várias vezes, algo comum na época. Entre as mudanças estavam BSG Fortuna Magdeburg (1949) e BSG Motor Mitte Magdeburg. Até que, em 1957, tornou-se SC Aufbau Magdeburg, sinalizando sua afiliação a setores industriais da cidade. Em 1965, o departamento de futebol do SC Aufbau Magdeburg foi separado para formar um clube independente focado exclusivamente no futebol. Essa prática era comum na RDA para promover o profissionalismo nos esportes de alto rendimento e aumentou principalmente com o título da seleção da Alemanha Ocidental na Copa de 1954, o que fez com que o lado Oriental quisesse provar seu valor e sua superioridade perante o vizinho.

Com a separação do departamento de futebol, o novo clube foi nomeado 1. FC Magdeburg, com o “1” simbolizando a ambição de ser a principal equipe de futebol da região. O Magdeburg estava ligado a instituições governamentais e tinha um forte apoio estatal, que incluía infraestrutura esportiva e o recrutamento de jovens talentos. Aliás, uma das características do clube seria a formação de jovens jogadores, muitos dos quais se tornariam fundamentais para seu sucesso nas décadas seguintes.

Volta por cima e a chegada de Krügel

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Heinz Krügel, técnico do Magdeburg. Foto: IMAGO / Werner Schulze
 

Naturalmente, o Magdeburg herdou a herança futebolística do Aufbau Magdeburg, que incluía dois títulos da Copa da Alemanha Oriental. Só que aquela mudança acabou em desastre na temporada inicial dos alviazuis: último lugar na Oberliga de 1965-1966 e rebaixamento para a segunda divisão. Mas a equipe conseguiu dar a volta por cima já na época seguinte graças ao técnico Heinz Krügel, experiente e responsável pela criação de uma equipe coesa e competitiva. Ele tinha um estilo de jogo ofensivo e focado no coletivo. Com essa mentalidade, venceu o campeonato da segunda divisão e, na temporada 1967-1968, brigou até o fim pelo título da Oberliga, mas o time terminou na terceira posição, um ponto atrás do vice, Hansa Rostock, e seis pontos atrás do campeão, o Carl Zeiss Jena.

Já com uma base de jogadores muito boa, com destaque para os defensores Manfred Zapf e Jörg Ohm, os meio-campistas Wolfgang Seguin e Wolfgang Abraham e o atacante Jürgen Sparwasser, o Magdeburg começou a se destacar no país com um futebol de transições rápidas e grande ênfase no trabalho defensivo e ofensivo coordenado. E tais virtudes ajudaram os alviazuis a vencerem a Copa da Alemanha Oriental de 1968-1969. 

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Jürgen Sparwasser, craque do Magdeburg.
 

A equipe eliminou o ASG Vorwärts Neubrandenburg com um 6 a 0, fez 4 a 1 no BSG Sachsenring Zwickau, 2 a 1 no BSG Chemie Leipzig, nas quartas de final, e 2 a 1 no Berliner FC Dynamo, nas semis. Na final, contra o FC Karl-Marx-Stadt, o Magdeburg se impôs e venceu por categóricos 4 a 0, gols de Ohm (2), Joachim Walter e Sparwasser, celebrando o primeiro título da elite desde a subida à primeira divisão.

O título da Copa deu ao Magdeburg uma vaga na Recopa da UEFA de 1969-1970, mas os alemães acabaram eliminados já na segunda fase diante do Académica-POR, após vitória por 1 a 0, em casa, e derrota por 2 a 0, fora. Mas seria a partir de 1971 que o time de Krüger entraria de vez para o pelotão de elite do lado oriental.

O primeiro título da Oberliga e nova Copa

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Na temporada 1971-1972, o Magdeburg viu o amadurecimento dos jovens de outrora e fez uma campanha memorável na Oberliga. Dominante em casa, a equipe venceu simplesmente todos os 13 jogos que disputou em seu estádio, com apenas seis gols sofridos e 30 gols marcados. Com importantes vitórias também fora de casa e alguns empates, os alviazuis levantaram o primeiro título do Campeonato Alemão Oriental de sua história com três pontos de vantagem sobre BFC Dynamo e cinco sobre o Dynamo Dresden, um dos principais concorrentes do Magdeburg na época. Em 26 jogos, foram 17 vitórias, quatro empates, cinco derrotas, 48 gols marcados (segundo melhor ataque) e 23 gols sofridos (segunda melhor defesa). O esquadrão do Magdeburg foi o campeão com o elenco mais jovem da Oberliga na época – a média de idade era de 22 anos.

Com o título, a equipe disputou pela primeira vez a Copa dos Campeões da Europa (atual Liga dos Campeões da UEFA) em 1972-1973, mas teve que enfrentar logo na segunda fase a Juventus de Dino Zoff, Salvadore, Anastasi, Capello e Bettega. Os alemães competiram bastante, mas a Velha Senhora venceu os dois jogos por 1 a 0 e ficou com a vaga – ela alcançou a final, mas perdeu para o Ajax de Cruyff. O alento veio na Copa da Alemanha Oriental, na qual o Magdeburg passou por BSG Motor Babelsberg (2 a 0), SG Dynamo Schwerin (6 a 0 no agregado), Hansa Rostock (4 a 2 no agregado) e Rot-Weiß Erfurt (3 a 0 no agregado). Na final, o Magdeburg derrotou o Lokomotive Leipzig, de virada, em um jogo memorável.

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Magdeburg e Lokomotive Leipzig, na final de 1973. Foto: Acervo / FC Magdeburg
 
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Foto: Acervo / FC Magdeburg
 

O Leipzig abriu o placar aos 5’, com Frenzel. Dez minutos depois, Achtel, do Magdeburg, salvou a bola em cima da linha do gol. Isso foi um alerta para o clube alviazul, que teve sua primeira oportunidade logo em seguida, mas Sparwasser errou por pouco, aos 18 minutos. Apenas um minuto depois, o líbero do Magdeburg, Zapf, fez melhor e cabeceou para o gol após um escanteio cobrado por Seguin.

O jogo então virou a favor do Magdeburg, com sua defesa ganhando controle sobre os atacantes do Leipzig, Matoul e Frenzel. Por outro lado, o atacante Sparwasser começou a levar mais perigo à zaga rival. Como consequência, foi Sparwasser quem colocou o Magdeburg na frente após um passe em profundidade de Enge. O Leipzig voltou a pressionar e chegou ao empate quando Altmann interceptou um recuo de Enge. Ambas as equipes demonstraram disposição para resolver o jogo no tempo regulamentar, criando oportunidades dos dois lados. Dez minutos antes do fim, Enge e Sparwasser, do Magdeburg, iniciaram mais uma bela jogada ofensiva. O defensor Enge começou sua corrida na linha de fundo de seu próprio campo, cruzou impecavelmente para Sparwasser, e o atacante marcou o gol da vitória, garantindo ao seu clube o quarto título da Copa da Alemanha Oriental, após os triunfos em 1964, 1965 e 1969. De quebra, ainda deu uma vaga na Recopa da UEFA da temporada seguinte ao clube alviazul. 

Hora de brilhar na Europa (e em casa também!)

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Na época 1973-1974, o esquadrão do Magdeburg chegou ao seu ápice. Com os atletas ainda mais entrosados e super identificados com o clube – todos eram formados nas categorias de base -, a equipe tinha totais condições de brilhar não só na Recopa, mas também no Campeonato Alemão Oriental. A luta pelo título nacional foi acirrada contra Carl Zeiss Jena, Dynamo Dresden e Vorwärts Frankfurt. Até a pausa de inverno, os alviazuis permaneceram na segunda posição, mas conseguiram assumir a liderança com uma campanha invicta no segundo turno. Ao longo de sua trajetória, o Magdeburg fez jogos notáveis tanto em casa quanto fora. Na fase final do campeonato, a equipe do técnico Krügel enfrentou o Jena e o Dresden longe de seus domínios, em confrontos diretos pelo topo. E, mesmo diante de forte concorrentes, a equipe venceu: 2 a 1 contra Jena e 1 a 0 contra Dresden.

Os alviazuis venceram ainda outros seis jogos fora de casa e derrotaram o Jena em casa por 3 a 0. Com três pontos de vantagem, o Magdeburg foi campeão da Alemanha Oriental com 16 vitórias, sete empates, apenas três derrotas, 50 gols marcados e 27 gols sofridos. A boa campanha em solo germânico ajudou o Magdeburg a fazer bonito, também, na Recopa da UEFA. A trajetória da equipe começou diante do NAC Breda-HOL, com empate em 0 a 0 na Holanda e vitória por 2 a 0 em casa. Nas oitavas de final, os alviazuis enfrentaram o Baník Ostrava-TCH e perderam por 2 a 0 o duelo de ida, na Tchecoslováquia. 

Precisando de gols na volta, os alemães orientais foram pra cima e fizeram 1 a 0 com Abraham, aos 30′ do primeiro tempo. Na segunda etapa, Hoffmann, aos 84′, ampliou e levou a partida para a prorrogação. Nela, o ídolo Sparwasser fez 3 a 0, no último minuto do primeiro tempo extra, e classificou o Magdeburg, que teve pela frente o surpreendente PFC Beroe Stara Zagora, da Bulgária, que havia eliminado pelo caminho um dos favoritos ao título, o Athletic Bilbao-ESP. 

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Na ida, em Magdeburg, os anfitriões venceram por 2 a 0 – gols de Hermann e Mewes – e foram para Stara Zagora precisando apenas de um empate. Os búlgaros abriram o placar no segundo tempo, em pênalti convertido por Ivan Vutov, mas Hermann deixou sua marca outra vez e o 1 a 1 colocou o Magdeburg na semifinal. No último desafio antes da decisão, os alemães enfrentaram o Sporting-POR, que martelou constantemente os alviazuis no primeiro jogo, em Lisboa, e poderia ter saído com a vitória se a trave não tivesse atrapalhado os leoninos. Com isso, o placar ficou 1 a 1, em gols de Sparwasser, pelo Magdeburg, e Manaca, pelo Sporting. 

Na volta, em casa, diante de quase 35 mil pessoas, o Magdeburg abriu o placar logo aos 9’, com Pommerenke. No segundo tempo, Sparwasser, em grande fase, fez 2 a 0. Marinho ainda descontou para o Sporting, mas o placar de 2 a 1 colocou o clube alemão pela primeira vez em uma final europeia. Faltava pouco para o feito inédito de levantar um caneco continental. Mas eles teriam que derrotar o Milan, campeão da Recopa do ano anterior e com o astro Gianni Rivera.

A glória inesquecível

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Detentor do título e vindo de uma década recheada de títulos, o Milan era o favorito naquela final de Recopa da UEFA de 1973-1974. Treinado por um novato Giovanni Trapattoni e com Gianni Rivera, os rossoneros tinham nomes de destaque como o ótimo defensor Schnellinger, o lateral Anquiletti, o polivalente Maldera e o atacante Bigon. Com a partida em campo neutro, no De Kuip, em Roterdã, apenas 4.461 torcedores estiveram na casa do Feyenoord para ver aquela final. Esse número deprimente pode ser explicado pela certeza dos torcedores do Milan de que o time não daria chances para a “zebra” e pela dificuldade dos cidadãos da DDR em obter permissão para sair do país – o governo permitiu que apenas 200 torcedores do Magdeburg viajassem para a Holanda.

Só que os italianos não imaginaram que os alemães tivessem um esquadrão entrosado, técnico e muito competente taticamente. Quando a bola rolou, a partida foi equilibrada e com chances para ambos os lados até que Enrico Lanzi, defensor rossonero, marcou um gol contra aos 43’, na tentativa de cortar um cruzamento. O 1 a 0 no placar deu mais tranquilidade aos alemães, que viram o Milan partir pra cima no segundo tempo, mas sem efetividade. Mais organizado, o Magdeburg não ficou recuado e também levou muito perigo em várias oportunidades. Até que, aos 74’, Seguin aproveitou cruzamento da esquerda, recebeu dentro da área, tirou do zagueiro e chutou alto, sem qualquer chance para o goleiro, para fazer um belo gol: 2 a 0.

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Foto: IMAGO
 
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O time da final
 

Era o gol da vitória e do título! O Milan ainda tentou descontar em cobrança de falta, mas sem sucesso. Nos minutos finais, o Magdeburg esteve mais perto de fazer o terceiro do que levar um gol, na verdade. E só não fez porque o goleiro Pizzaballa realizou grandes defesas. Ao apito do árbitro, a festa na Holanda foi dos alviazuis! O clube tornou-se o primeiro e único da Alemanha Oriental a conquistar um título europeu. Além disso, o Magdeburg, junto com os “Lisbon Lions” do Celtic, é um dos únicos clubes na história do futebol europeu a vencer um troféu com um elenco formado exclusivamente por jogadores locais.

A peculiaridade de todos os jogadores serem originários do distrito de Magdeburgo era notável, mesmo no contexto do futebol da Alemanha Oriental. Até hoje, o Magdeburg é um dos seletos clubes alemães que conquistaram um título europeu, ao lado de Bayern München, Hamburgo, Borussia Dortmund, Borussia Mönchengladbach, Eintracht Frankfurt, Bayer Leverkusen, Werder Bremen e Schalke 04.

Tricampeonato e o fim de uma era de ouro

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Magdeburg e Bayern München, em 1974. Foto: Bundesarchiv / Bild
 

Na temporada 1974-1975, o Magdeburg consolidou sua hegemonia na Oberliga e venceu mais um título nacional, dessa vez com uma campanha ainda mais notável. Em casa, o Magdeburg permaneceu invicto, com 11 vitórias e dois empates, enquanto fora de casa os alviazuis só perderam dois jogos, venceram seis e empataram cinco. Em 26 jogos, foram 17 vitórias, sete empates e duas derrotas, com 57 gols marcados (melhor ataque) e 28 gols sofridos. A equipe ainda contava com a participação na Supercopa Europeia contra o vencedor da Copa dos Campeões, o Bayern München, mas o duelo foi vetado ao Magdeburg pela federação de futebol da Alemanha Oriental – na época, a desculpa foi “falta de datas”. 

Contudo, o acaso fez com que o confronto acontecesse nas oitavas de final da Copa dos Campeões daquela mesma temporada 1974-1975. No jogo de ida, no Estádio Olímpico de Munique, o Magdeburg abriu vantagem de 2 a 0 no primeiro tempo. Porém, na etapa complementar, o Bayern, com o maior esquadrão de sua história e base da seleção campeã da Copa do Mundo da FIFA de 1974, virou o jogo com dois gols de Gerd Müller e um de Wunder e venceu por 3 a 2. No jogo de volta, uma derrota por 2 a 1 em casa eliminou o Magdeburg.

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Um fato em destaque naquela época foi a campanha da Alemanha Oriental na Copa do Mundo da FIFA, a única disputada pela equipe na história. O selecionado teve quatro atletas do Magdeburg – Pommerenke, Sparwasser, Seguin e Hoffmann – e terminou na primeira colocação do Grupo A, à frente inclusive da Alemanha Ocidental, derrotada pelos vizinhos por 1 a 0, com gol de Sparwasser. A vitória foi um marco para o lado Oriental, mas até hoje dizem que os ocidentais não se esforçaram muito para vencer a fim de evitar um grupo difícil na etapa seguinte. De fato, a Alemanha Oriental teve que encarar Brasil, Argentina e a Holanda de Rinus Michels na fase final e acabou eliminada após duas derrotas e um empate, enquanto a Alemanha Ocidental passou sem grandes complicações com três vitórias sobre Polônia, Iugoslávia e Suécia. 

Após 1975, o Magdeburg começou a enfraquecer no cenário futebolístico por conta de uma série de fatores políticos e a saída de seus principais atletas. Nem a chegada do prolífico atacante Joachim Streich foi suficiente para manter o clube competitivo. Como o esporte na Alemanha Oriental era fortemente controlado pelo Estado, o título europeu de 1974 fez com que o foco político mudasse para outras áreas esportivas. O sucesso contínuo do Magdeburg não era necessariamente uma prioridade estatal, e os recursos eram redistribuídos. 

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Beckenbauer, da Alemanha Ocidental, e Bransch, da Alemanha Oriental, no duelo pela Copa do Mundo de 1974.
 

Clubes como Dynamo Dresden e Dynamo Berlin, por exemplo, tinham forte apoio da Stasi (a polícia secreta), o que lhes dava vantagens em termos de recrutamento de jogadores e arbitragem. O Magdeburg, sem o mesmo nível de suporte político, enfrentava desvantagens. 

Além disso, o futebol da Alemanha Oriental era amador em comparação com o modelo profissional do Ocidente. Embora o Magdeburg tivesse jogadores talentosos, eles não podiam competir financeiramente com clubes da Alemanha Ocidental e outros países europeus. A infraestrutura esportiva e os recursos para treinamento não evoluíram no mesmo ritmo que em outras nações e o clube caiu no ostracismo. 

Após a reunificação da Alemanha em 1990, os clubes da Alemanha Oriental enfrentaram uma enorme disparidade financeira e estrutural em relação aos clubes da Alemanha Ocidental. O Magdeburg, como outros clubes do Leste, sofreu com a falta de recursos, patrocinadores e infraestrutura para competir no novo cenário unificado. Muitos talentos da Alemanha Oriental migraram para clubes do Oeste, deixando os clubes do Leste em desvantagem. Com isso, o Magdeburg vive sob as lembranças da equipe dos anos 1970, que conseguiu levantar títulos, conduzir atletas à seleção e colocar a Alemanha Oriental em um patamar jamais imaginado no continente europeu. Um esquadrão imortal.

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A estátua de Heinz Krügel em Magdeburgo.
 

Os personagens:

Ulrich Schulze: o goleiro chegou ao Magdeburg em 1968 e rapidamente se consagrou como um dos maiores da história do clube, ganhando a concorrência com Hans-Georg Moldenhauer. Schulze foi essencial nas conquistas nacionais do clube no período e também no troféu da Recopa. Ele jogou até 1976 no Magdeburg e disputou 176 jogos pela equipe.

Detlef Enge: debutou no time principal com apenas 17 anos, em 1969, durante a caminhada do Magdeburg na Recopa da UEFA daquele ano. Lateral-direito muito eficiente na marcação e no apoio, jogou no clube até 1977 e foi titular em boa parte das campanhas vencedoras, embora tenha sofrido com algumas lesões.

Manfred Zapf: vestiu apenas a camisa do Magdeburg em toda carreira, entre 1964 e 1979, acumulando 467 jogos e 46 gols – um número notável para um defensor. Podia jogar como zagueiro central e também líbero, condição esta que lhe dava liberdade para ajudar nos passes e também investidas no setor ofensivo. Foi capitão do time naqueles tempos de ouro e responsável por levantar os grandes troféus da época, incluindo a Recopa da UEFA.

Jörg Ohm: o defensor é lembrado principalmente por sua versatilidade em campo e pelas contribuições significativas aos títulos do Magdeburg no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Ganhou destaque rapidamente por suas habilidades e inteligência tática. Ohm marcou dois gols na final da Copa da Alemanha Oriental de 1969.

Helmut Gaube: Embora não tenha sido um titular absoluto, participou de momentos importantes, contribuindo para o sucesso da equipe, em especial na Recopa de 1974. Podia jogar como lateral-direito e também zagueiro central.

Günter Fronzeck: ele começou a carreira bem tarde, aos 26 anos (!), em 1963, e mesmo assim conseguiu se destacar como um dos principais defensores do Magdeburg nos anos 1960, participando dos títulos das Copas da Alemanha Oriental de 1964, 1965 e 1969. Além de atuar como zagueiro central, jogava bem como lateral-direito.

Klaus Decker: com 369 jogos pelo Magdeburg, Decker foi um dos principais nomes do sistema defensivo do clube entre 1970 e 1983. Tinha bons passes e ótima leitura de jogo. Brilhou, também, pelas seleções de base da Alemanha Oriental.

Wolfgang Abraham: atacante que foi recuando para o meio de campo e até para a defesa ao longo da carreira, Abraham brilhou com a camisa do Magdeburg tanto nos primórdios do clube quanto no período de ouro, entre 1967 e 1975. Em 274 jogos, marcou 75 gols, levantou três títulos do campeonato nacional e a Recopa da UEFA. Técnico e com chutes poderosos, foi um dos mais polivalentes do elenco alviazul e ídolo da torcida.

Jürgen Pommerenke: outra lenda da Alemanha Oriental, o meio-campista foi um dos maiores craques do país naquela época e anotou 82 gols em 301 jogos pelo Magdeburg, seu único clube na carreira, entre 1970 e 1985. Sua visão de jogo, técnica apurada e habilidade para criar jogadas fizeram dele um dos melhores meio-campistas da RDA. Embora não fosse um jogador fisicamente imponente, ele compensava isso com sua capacidade de leitura do jogo e liderança em campo. Além de brilhar pelos alviazuis com gols decisivos, passes e lançamentos, vestiu a camisa da seleção da Alemanha Oriental em 53 oportunidades (marcou três gols), além de ter participado da campanha do time na Copa do Mundo de 1974. Em 1975, foi eleito o melhor futebolista da Alemanha Oriental do Ano.

Wolfgang Seguin: autor do gol do título mais importante não só do Magdeburg, mas de todo o futebol da Alemanha Oriental, Seguin é uma lenda do clube e do esporte de um país que não existe mais. O jogador era conhecido por sua versatilidade, podendo atuar como meio-campista e, ocasionalmente, como defensor. Ele combinava força física, resistência e inteligência tática, características que o tornaram indispensável ao time. Sua leitura de jogo, capacidade de distribuição de passes e contribuição defensiva o tornaram um meio-campista completo. Seguin detém os recordes de atleta com mais jogos pelo Magdeburg na Oberliga – 403 jogos -, na Copa da Alemanha Oriental – 69 jogos – e em competições europeias – 57 jogos. Ele acumulou 529 jogos e 64 gols pelo Magdeburg e foi outro integrante da seleção da Alemanha Oriental na Copa do Mundo de 1974.

Siegmund Mewes: um dos principais nomes ofensivos do Magdeburg entre 1971 e 1985, Mewes se impunha nas jogadas aéreas – tinha 1,85m de altura – e também se posicionava bem no ataque, jogando por vezes mais recuado. Em 386 jogos, marcou 75 gols pelos alviazuis.

Axel Tyll: outro jovem de muito talento, Tyll começou aos 17 anos na equipe principal do Magdeburg e deu muitas alternativas ao meio de campo da equipe ao compor um trio inesquecível ao lado de Seguin e Pommerenke. Foram 317 jogos e 41 gols pelo clube na carreira entre 1971 e 1982.

Detlef Raugust: o meia jogou no Magdeburg entre 1972 e 1986, acumulou 304 jogos e sete gols pelo clube. Podia jogar mais aberto, como ponta-direita, ou mais recuado, ajudando na armação de jogadas. Além de futebolista, foi professor de educação física e também se formou em fisioterapia.

Jürgen Sparwasser: um dos mais famosos futebolistas da Alemanha Oriental, Sparwasser é o segundo maior artilheiro da história do Magdeburg com 173 gols em 386 jogos, atrás apenas de Joachim Streich, que marcou 216 gols em 313 partidas entre 1975 e 1985. Sparwasser só vestiu a camisa do Magdeburg na carreira, entre 1966 e 1979, e brilhou com gols, passes e atuações decisivas em todas as conquistas do clube no período. Sparwasser era conhecido por sua técnica refinada, inteligência em campo e capacidade de marcar gols em momentos decisivos. Sua habilidade de se movimentar entre as linhas adversárias e finalizar com precisão fazia dele uma ameaça constante aos defensores. Além disso, foi um dos grandes nomes da seleção da Alemanha Oriental, pela qual disputou 49 jogos e marcou 14 gols, um deles o da vitória sobre a Alemanha Ocidental na Copa do Mundo de 1974. Na época, muitos disseram que ele teria enriquecido por conta do gol, mas ele sempre desmentiu tal afirmação. Ele conquistou 8 títulos pelo Magdeburg.

Martin Hoffmann: outra estrela ofensiva do Magdeburg, Hoffmann marcou 103 gols em 340 jogos pelo clube entre 1972 e 1985. Rápido, oportunista e muito eficiente na hora de abrir espaços nas zagas rivais, foi outro que esteve na campanha da Alemanha Oriental na Copa do Mundo de 1974. Hoffmann disputou 62 jogos e marcou 15 gols pela seleção.

Jürgen Achtel: teve uma breve carreira pelo Magdeburg, entre 1971 e 1974, e fez bons jogos até sofrer graves lesões que abreviaram sua carreira. Ele tentou retornar, mas teve que pendurar as chuteiras em 1976. Disputou 63 jogos pelo Magdeburg.

Heinz Krügel (Técnico): foram 10 anos no comando técnico do Magdeburg e a consagração de um trabalho notável e que jamais foi repetido na Alemanha Oriental. Com foco total nas categorias de base e em um futebol coletivo e muito eficiente e competitivo, Krügel conduziu com maestria o esquadrão alviazul aos títulos dos campeonatos nacionais de 1972, 1974 e 1975, às copas nacionais de 1969 e 1973 e à Recopa da UEFA de 1974, este um feito inédito, único e inigualável. Ele ganhou uma estátua segurando a taça da Recopa, anos depois, em Magdeburgo. Simplesmente imortal no clube alviazul.

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2 Comentários

  1. Belo texto, Imortais! Sabe, eu sempre quis saber um pouco de histórias e feitos da antiga Alemanha Oriental! Só ouvia a respeito do lado Ocidental! O Magdeburg fez bonito e mostrou que os alemães orientais tinham, sim, futebol para mostrar à Europa!

    Mandou bem, Imortais! Inclusive, eu tinha uma sugestão de texto: podia falar dos maiores jogadores de futebol nascidos na Alemanha Oriental! Abraço para você!

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