Grandes feitos: Bicampeão da Copa da UEFA (1981-1982 – invicto e 1986-1987), Tetracampeão do Campeonato Sueco (1982, 1983, 1984 e 1987) e Tricampeão da Copa da Suécia (1978-1979, 1981-1982 e 1982-1983). Foi o primeiro (e até hoje único) clube sueco a conquistar títulos continentais na história.
Time-base: Thomas Wernersson; Ruben Svensson (Mats Ola Carlsson), Glenn Hysén (Peter Larsson / Per Edmund Mordt), Conny Karlsson (Roland Nilsson) e Stig Fredriksson; Tord Holmgren, Glenn Strömberg (Magnus Johansson), Jerry Carlsson (Michael Andersson) e Tommy Holmgren; Torbjörn Nilsson (Stefan Pettersson / Håkan Sandberg) e Dan Corneliusson (Johnny Ekström / Jari Rantanen / Lennart Nilsson). Técnicos: Sven-Göran Eriksson (1979-1982), Gunder Bengtsson (1982 e 1985-1987) e Björn Westerberg (1983-1984).
“Os soberanos da Escandinávia”
Por Guilherme Diniz
Até os anos 80, o futebol sueco só tinha algum peso na Europa graças ao talento de jogadores como Gunnar Gren, Gunnar Nordahl, Nils Liedholm, Kurt Hamrin, Lennart Skoglund, entre outros, e à Seleção Sueca vice-campeã da Copa do Mundo de 1958. No mais, o futebol do país escandinavo jamais conseguiu bater de frente com os vizinhos continentais e o mais perto que chegou com seus clubes foi em 1979, quando o Malmö FF alcançou a final da Liga dos Campeões da UEFA, mas perdeu para o Nottingham Forest-ING de Brian Clough. Foi então que um clube homônimo da cidade de Gotemburgo conseguiu feitos nunca antes atingidos por nenhum outro time da Suécia em um curto espaço de tempo e com jogadores de talento, força, inteligência e gosto pelas cores do clube: o IFK Göteborg.
Entre 1979 e 1987, a equipe escreveu páginas douradas após anos de muita turbulência e venceu de maneia épica duas Copas da UEFA, tornando-se o primeiro clube de toda a história da Suécia a levantar títulos em solo continental. Mais do que isso, o clube azul e branco foi hegemônico em sua própria casa e revelou ao futebol o técnico Sven-Göran Eriksson, que levantaria títulos e mais títulos nos anos 90. Entusiasmada com o crescimento meteórico de seu time, a torcida do Göteborg também foi um caso à parte na época lotando os estádios, empurrando seu time da maneira que fosse possível e até emprestando dinheiro para que o clube continuasse disputando a Copa da UEFA de 1981-1982, justamente a vencida pelos azuis e brancos. É hora de relembrar.
Tempos de reconstrução
Após o título sueco de 1969, o IFK Göteborg começou a viver momentos de muita turbulência e de total seca. Logo no ano seguinte à conquista do campeonato nacional, o clube fez uma péssima campanha na Allsvenskan (nome do campeonato nacional por lá) e foi rebaixado para a segunda divisão com direito a um papelão de sua torcida: no último jogo, contra o Örebro SK, vendo que seu time estava perdendo e indo para a segundona, cerca de 4 mil torcedores invadiram o gramado e começaram a depredar os gols e destruir o campo na tentativa de forçar um cancelamento do jogo e a realização de uma nova partida. Tudo foi em vão. O Göteborg perdeu o jogo, a vaga na série A e ainda foi eliminado logo na primeira fase da Liga dos Campeões, após revés de 6 a 1 no agregado para o Legia Warszawa-POL.
Em busca da elite, o clube contratou mais de 30 novos jogadores e fez de tudo para subir, mas permaneceu na segunda divisão até 1976, ano em que o atacante Torbjörn Nilsson comandou as ações ofensivas do time e praticamente garantiu o acesso à elite com grandes atuações e muitos gols. Foi naquela temporada que o estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, recebeu um de seus maiores públicos na história (e um recorde para a segunda divisão na época), quando mais de 50 mil pessoas viram a vitória do IFK Göteborg sobre o rival GAIS (abreviação de Göteborgs Atlet- och Idrottssällskap, ou Associação Atlética de Esportes de Gotemburgo, em tradução livre) por 3 a 1.
Ainda sem possuir um time competitivo para vencer o título nacional e se manter entre os primeiros na elite, o clube de Gotemburgo contratou mais alguns nomes para o elenco como Tommy Holmgren e Glenn Strömberg, além de trazer para o comando técnico Sven-Göran Eriksson, um novato treinador com apenas uma breve passagem pelo Degerfors IF e nenhuma experiência. Mesmo assim, a diretoria apostou em Eriksson, que já incorporou ao elenco profissional jovens das categorias de base como o atacante Dan Corneliusson e o zagueirão Glenn Hysén. Eriksson fez seu time jogar em duas linhas de quatro clássicas, com foco total na marcação sobre pressão e no pouco espaço ao oponente, algo que viraria moda na virada dos anos 80 e início da década de 90.
Além disso, ele trabalhou bastante a consciência tática dos jogadores e maneiras de evitar a todo custo cartões bobos e faltas duras, tornando o time um dos mais disciplinados do país. Após perder seus três primeiros jogos e até oferecer seu cargo à diretoria (iniciativa coibida pelos próprios jogadores do clube, que encorajaram o treinador a permanecer), Eriksson levou o Göteborg ao vice-campeonato sueco em 1979 (apenas um ponto atrás do campeão, o Halmstads BK) e ao título inédito da Copa da Suécia do mesmo ano, após vencer o Åtvidabergs FF por 6 a 1 na final disputada no estádio Rasunda, em Estocolmo.
O título deu ao Göteborg uma vaga na Recopa da UEFA de 1979-1980, torneio que o clube disputou pela primeira vez. Naquela ocasião, os azuis e brancos eliminaram o Waterford-IRL (2 a 1 no agregado) e o Panionios-GRE (2 a 1 no agregado), mas caíram nas quartas de final diante do Arsenal-ING após derrota por 5 a 1 na Inglaterra e empate sem gols na Suécia. Em 1980, o time voltou a ficar entre os três primeiros no Campeonato Sueco e teve o segundo melhor ataque do torneio com 45 gols em 26 jogos. A terceira colocação na tabela classificou o Göteborg para a Copa da UEFA de 1981-1982. E mal sabiam os escandinavos que aquela competição seria inesquecível para eles.
Rico no campo, pobre fora dele
Em 1981, o Göteborg mais uma vez passou perto do título do Campeonato Sueco e ficou com o vice, quatro pontos atrás do campeão (Östers IF), mas com o melhor ataque (60 gols em 26 jogos), segunda melhor defesa (24 gols sofridos) e ainda o artilheiro do torneio, Torbjörn Nilsson, com 20 gols. Disputado entre abril e outubro daquele ano (o campeonato sueco não compreendia dois anos como a maioria dos torneios europeus), o Göteborg teve um tempo razoável para se preparar com cuidado para a disputa da Copa da UEFA de 1981-1982, que começou em setembro de 1981 e terminaria em maio de 1982. Os escandinavos começaram o torneio muito bem após eliminar o FC Haka-FIN com duas vitórias (3 a 2 e 4 a 0) e passar pelo Sturm Graz-AUT com um 5 a 4 no placar agregado. Nas oitavas de final, a equipe sueca bateu o Dinamo Bucaresti-ROM por 3 a 1, em casa, com dois gols do artilheiro Torbjörn Nilsson, e venceu por 1 a 0, fora de casa, para se classificar para as quartas de final.
O problema é que para enfrentar seu próximo adversário (o perigoso Valencia-ESP, que vinha de uma recente conquista da Recopa da UEFA de 1979-1980), o Göteborg não tinha dinheiro para viajar até a Espanha por causa de vários problemas internos e uma drástica mudança no corpo administrativo do clube que quase levou o time à falência. A permanência da equipe na competição e o pagamento dos custos da viagem só foram possíveis graças a um empréstimo junto à associação de torcedores do clube, que mostraram enorme fidelidade e paixão pelo bem do Göteborg. Aquela boa ação era apenas uma das muitas que transformaram os torcedores do time azul e branco em seres “intocáveis” e um verdadeiro combustível para o sucesso do time dali em diante. Era a volta por cima de uma gente que parecia se desculpar do papelão protagonizado no rebaixamento do clube lá em 1970.
No grito e na bola, campeão!
Com as contas pagas, o Göteborg viajou até a Espanha e enfrentou o Valencia e seu imponente estádio Mestalla. A partida foi frenética e os espanhóis abriram o placar logo aos seis minutos, com Arnesen. Aos 13´, Svensson empatou e um minuto depois o atacante Nilsson virou o jogo para os suecos. Aos 18´, Arnesen deixou tudo igual de novo, mas o Göteborg conseguiu segurar o empate e levou um ótimo resultado para a partida de volta, em Gotemburgo. Em casa, mais de 50 mil torcedores lotaram o estádio Nya Ullevi e explodiram de alegria logo aos 4´, quando Tommy Holmgren fez o primeiro gol do jogo. No segundo tempo, Fredriksson, de pênalti, fechou o placar em 2 a 0 e colocou o Göteborg na semifinal.
Nela, a equipe sueca encarou o Kaiserslautern-ALE de Brehme e Briegel, e empatou em 1 a 1 o primeiro jogo, na Alemanha, com o gol salvador marcado por Corneliusson. Na volta, muito equilíbrio e novo empate em 1 a 1 que forçou a prorrogação. Aos 12´, o lateral Fredriksson foi mais uma vez decisivo e marcou o gol da vitória e da vaga na sonhada final, para delírio dos torcedores no estádio Nya Ullevi.
Na época, a Copa da UEFA era decidida em duas partidas, uma na casa de cada time. O Göteborg faria o primeiro jogo diante de sua torcida contra um adversário extremamente complicado: o Hamburgo-ALE do técnico Ernst Happel e de jogadores como Jakobs, Groh, Félix Magath, Lars Bastrup e Hrubesch, um elenco de peso que conquistaria a Liga dos Campeões da UEFA na temporada seguinte (leia mais clicando aqui). Com mais de 40 mil pessoas no estádio, o Göteborg tentou a todo custo marcar a maior quantidade de gols possível para viajar até a Alemanha com uma boa vantagem, mas o técnico Happel fechou seu time na defesa e parecia satisfeito com o empate sem gols, ainda mais em um campo castigado pela chuva e cheio de lama. Só aos 42´do segundo tempo que Tord Holmgren furou a retranca alemã e fez o único gol do jogo: 1 a 0.
Na volta, no Volksparkstadion, quase 60 mil pessoas acreditavam plenamente na virada do Hamburgo e no título continental. Só que aquela gente toda se esqueceu de que haviam suecos bons de bola e um técnico muito inteligente do outro lado. No primeiro tempo, o time escandinavo controlou bem o jogo, se armou na defesa e explorou os contra-ataques com muita precisão. Em um desses momentos, Corneliusson aproveitou um lançamento longo e fuzilou o goleiro Uli Stein para abrir o placar para o Göteborg: 1 a 0. No segundo tempo, com muitos espaços por causa do desespero dos alemães, o time sueco viu sua vida ficar mais fácil e ampliou o placar com autoridade e talento. Após uma brilhante roubada de bola, Nilsson recebeu no ataque e só teve o trabalho de tocar na saída do goleiro para fazer 2 a 0.
Quatro minutos depois, Fredriksson, de pênalti, fechou a conta e a goleada: 3 a 0. Estava escrita a história! Pela primeira vez, um clube sueco vencia uma competição europeia. E na casa do adversário e contra todos os prognósticos! Era a consagração do trabalho iniciado lá em 1979 e a vitrine para o continente conhecer o brilhante feito do técnico Eriksson, que armou um time muito competitivo e que levantou a Copa da UEFA de maneira invicta: 12 jogos, 9 vitórias e três empates, com destaque para Torbjörn Nilsson, o artilheiro da competição com nove gols.
Sai Eriksson, mas ficam a base e os títulos
Como sempre acontece no futebol europeu, um técnico que consegue grandes façanhas comandando uma equipe de menor expressão sempre é cobiçado por clubes gigantes. E, com Sven-Göran Eriksson, não foi diferente. O técnico do Göteborg recebeu diversas propostas após o título da Copa da UEFA e optou por comandar o Benfica-POR já no ano de 1982. Para o lugar dele, o clube de Gotemburgo trouxe o técnico Gunder Bengtsson, que tinha como objetivo comandar o time no Campeonato Sueco. Com a base campeã e um time montado, Bengtsson não teve grandes desafios para conduzir os azuis e brancos ao título nacional daquele ano, que marcou a estreia do mata-mata – os times (eram apenas 12) jogavam entre si na primeira fase em turno e returno e os oito melhores se classificavam para a fase eliminatória.
O Göteborg foi absoluto e liderou a primeira fase com 11 vitórias, sete empates e quatro derrotas em 22 jogos. Nas quartas, despachou o Halmstad (1 a 1 e 3 a 1), e humilhou o Malmö FF, na semifinal, com um 3 a 0 na ida, fora de casa, e um histórico 5 a 1 na volta, em Gotemburgo. Na final, o time azul e branco superou o revés no primeiro jogo contra o Hammarby (2 a 1) e levou o título com uma vitória por 3 a 1 fora de casa, encerrando o jejum de títulos na competição que durava mais de uma década. Dan Corneliusson foi o artilheiro do campeonato com 12 gols e mostrou à torcida que a saída de Nilsson para o PSV-HOL não seria tão sentida assim. Para coroar um ano perfeito, o Göteborg também venceu a Copa da Suécia com uma vitória por 3 a 2 sobre o Östers IF na final. Era um quase “treble” para a alegria da torcida, que viu os rivais do país morrerem de inveja pelas façanhas inéditas e marcantes dos azuis de Gotemburgo.
Em 1983, o Göteborg repetiu a dobradinha nacional e foi campeão da Copa da Suécia (vitória por 1 a 0 sobre o Hammarby IF na final) e do Campeonato Sueco após terminar a fase de classificação na terceira posição (11 vitórias, cinco empates e seis derrotas) e eliminar o Elfsborg (6 a 3 no agregado), nas quartas, e o AIK (3 a 2 no agregado), na semifinal. Na decisão, o time de Gotemburgo bateu o freguês Östers IF por 4 a 1 no agregado e ficou com o bicampeonato.
Naquela época, o time disputou mais uma vez a Liga dos Campeões (em 1983-1984), mas caiu já na primeira fase para a forte Roma-ITA de Falcão. Os escandinavos também disputaram o torneio em 1984-1985 e aplicaram 8 a 0 e 9 a 0 no fraco Avenir Beggen-LUX, na primeira fase, totalizando um 17 a 0 no placar agregado (um dos maiores na história da competição). Na fase seguinte, a equipe despachou o Beveren-BEL por causa do critério de gols marcados (2 a 2 no agregado, mas vaga para os suecos por terem feito um gol na casa do adversário), mas caiu nas quartas de final diante do Panathinaikos-GRE (3 a 2 no agregado).
Em 1984, sob o comando de Björn Westerberg, os azuis e brancos ficaram com o tricampeonato sueco e mostraram que eram os soberanos do país. Na primeira fase, liderança com 14 vitórias, quatro empates e quatro derrotas em 22 jogos. No mata-mata, triunfos sobre Halmstads (2 a 1 no agregado) e IK Brage (7 a 3 no agregado) e classificação para a final. Nela, o time não tomou conhecimento do IFK Norrköping e aplicou 5 a 1 no duelo de ida, fora de casa, além de um 2 a 0 na volta, em Gotemburgo, totalizando um incontestável 7 a 1 no agregado. Sem rivais em casa, era hora de mudar o foco para o continente.
Pênaltis destroem o “sonho de Sevilha”
Na temporada 1985-1986, o Göteborg estava maduro e calejado em competições continentais. Após a glória de 1982 e os tropeços posteriores, o time sabia muito bem o que fazer para ir mais longe na Liga dos Campeões. Comandado novamente pelo técnico Gunder Bengtsson, os escandinavos fizeram da competição europeia o objetivo principal e minimizaram o prejuízo em solo nacional no período (o time foi vice em 1985 e semifinalista em 1986). Na primeira fase da Liga dos Campeões, o Göteborg enfrentou o Botev Plovdiv-BUL e venceu os dois jogos (3 a 2, em casa, e 2 a 1, fora).
Nas oitavas de final, os turcos do Fenerbahce não resistiram à força sueca em Gotemburgo e perderam por 4 a 0, com show de Nilsson, que marcou três vezes. Na volta, o Göteborg perdeu por 2 a 1, mas conseguiu a classificação para as quartas de final, na qual eliminou o Aberdeen-ESC, do técnico Alex Ferguson, após empate em 2 a 2 na ida, fora de casa, e novo empate sem gols, na volta, resultados que colocaram os suecos em uma inédita semifinal por causa dos gols marcados fora.
A um passo da decisão da Liga, que seria disputada em Sevilha-ESP, o Göteborg teve pela frente o gigante Barcelona-ESP, que não tinha grandes nomes, mas ainda sim causava temor pela tradição e pela camisa, além de ter em seu elenco nomes como Alexanco, Migueli e Schuster. Na ida, em um estádio Nya Ullevi com mais de 40 mil pessoas, o Göteborg jogou muito e fez 3 a 0 nos catalães, com dois gols de Nilsson e um de Tommy Holmgren. A torcida não pensava em outra coisa que não fosse a final e só um desastre poderia tirar a vaga dos suecos. Pois o tal desastre aconteceu.
No dia 16 de abril de 1986, o Göteborg foi até o Camp Nou e viu Pichi Alonso marcar os três gols que deram sobrevida ao Barcelona. Pior do que isso, a partida ficou marcada pela péssima arbitragem de Paolo Casarin (ITA), que prejudicou os suecos apitando lances duvidosos e beneficiando o time da casa. Após a manutenção do placar, o Göteborg caiu nos pênaltis e perdeu por 5 a 4, dando adeus ao sonho de uma incrível final de Liga dos Campeões. Como alento, o Barcelona perdeu a decisão para o histórico Steaua Bucareste-ROM também em uma decisão por pênaltis (leia mais clicando aqui). Como resultado da bela campanha do time sueco naquela temporada, o artilheiro da competição foi Torbjörn Nilsson, com sete gols, que provou mesmo ter nascido para brilhar com a camisa do Göteborg.
Novo ano de ouro e o histórico bicampeonato na Copa da UEFA
Após a dolorosa derrota na Liga, o Göteborg voltou suas atenções para as competições nacionais e para a Copa da UEFA de 1986-1987, que seria disputada pelo clube pela primeira vez desde a temporada do título de 1982. Em solo nacional, a equipe venceu mais um Campeonato Sueco ao terminar a fase de classificação em terceiro lugar e eliminar o IFK Norrköping, na semifinal, com vitória por 3 a 0 e empate em 2 a 2 e faturar o título em cima do Malmö, que perdeu a partida de ida, em Gotemburgo, por 1 a 0, e até venceu a volta, mas por 2 a 1, placar que deu a taça ao Göteborg graças ao critério de gols marcados fora de casa. Stefan Pettersson foi o artilheiro do time com 10 gols e brilhou ao lado de Michael Andersson (7 gols), dos irmãos Holmgren, do finlandês Jari Rantanen e de Lennart Nilsson (9 gols).
Na Copa da UEFA, o Göteborg passou pelo Sigma Olomouc-TCH (5 a 1 no agregado), pelo Stahl Brandenburg-ALE (3 a 1 no agregado), e pelo Gent-BEL (5 a 0 no agregado) nas primeiras etapas da competição. Nas quartas de final, os suecos tiveram mais um desafio “daqueles”: enfrentar a fortíssima Internazionale-ITA do técnico Giovanni Trapattoni e de jogadores como Zenga, Bergomi, Ferri, Mandorlini, Marco Tardelli e Altobelli, a base do time que iria fazer história na Itália conquistando o “Scudetto dos recordes” (leia mais clicando aqui).
Na ida, em Gotemburgo, a Internazionale armou seu tradicional ferrolho e impediu qualquer ação ofensiva do time da casa, que não saiu do empate sem gols. Na volta, em Milão, Fredriksson, no comecinho do segundo tempo, abriu o placar, contra, e deixou a Inter muito perto da classificação. Mas o time sueco não se abateu, colocou a bola no chão e tapou os ouvidos para as centenas de milhares de pessoas no estádio Giuseppe Meazza. Aos 32´, Pettersson aproveitou uma bobeada do goleiro Zenga e mandou a bola para o fundo das redes italianas, empatando o jogo e dando a classificação para o time azul e branco! Embalado, o Göteborg foi para a semifinal com a confiança lá em cima e eliminou facilmente o Swarovski Tirol-AUT após vencer a ida, em casa, por 4 a 1, e a volta, na Áustria, por 1 a 0.
Em maio de 1987, o time sueco começou a decidir mais uma Copa da UEFA, dessa vez contra os escoceses do Dundee United, treinados por Jim McLean. Assim como em 1982, o Göteborg começaria a decisão jogando em casa e decidindo fora, um bom presságio para a torcida, que compareceu em peso ao estádio Nya Ullevi (mais de 50 mil pessoas!) e viram Pettersson marcar o gol da vitória por 1 a 0. Na volta, em Dundee, Lennart Nilsson fez 1 a 0 para o Göteborg, aos 22´do primeiro tempo, e deixou uma decisão tensa muito mais tranquila. Na segunda etapa, Clark ainda empatou, mas o placar ficou mesmo em 1 a 1.
Era o bicampeonato continental do Göteborg, que se consagrava como o mais competitivo e vencedor clube sueco de todos os tempos em nível internacional. Nunca um clube escandinavo havia chegado em um patamar tão portentoso. E nunca a Europa tinha visto um esquadrão sueco com tanta força e confiança sobre os mais diversos adversários como aquele Göteborg, que não sentiu em nenhum momento a saída de Sven-Göran Eriksson e manteve uma rara base de jogadores adeptos do clube e que não se deixaram levar pelas ofertas de outros times. Para a alegria da fanática torcida de Gotemburgo.
Emoldurado para sempre
Após o auge, o Göteborg começou a se enfraquecer e não conseguiu mais repetir os feitos de antes, nem em solo europeu, nem em solo nacional. O time ficou na ressaca no final da década e só voltou a brilhar entre 1992 e 1996, quando foi tetracampeão sueco e venceu uma Copa da Suécia. Nesse período, foi a Suécia quem conseguiu brilhar ao alcançar o terceiro lugar na Copa do Mundo dos EUA, em 1994, como você pode ler mais clicando aqui. Desde então, a torcida do clube azul e branco aguarda a aparição de mais um técnico novato e com muita vontade de mostrar serviço, zagueiros fortes e seguros, e atacantes habilidosos e oportunistas como os que surgiram e brilharam naquela dourada década de 80, a que consolidou o time mais competitivo da história da Suécia. Um Göteborg imortal.
Os personagens:
Thomas Wernersson: foi o titular absoluto no gol do Göteborg principalmente após a chegada do técnico Sven-Göran Eriksson. Jogou no clube entre 1981 e 1987 e participou de todos os grandes momentos do time no período. Tinha muita segurança e se colocava muito bem no gol. Foi ídolo da torcida e vestiu a camisa da Seleção Sueca em nove oportunidades.
Ruben Svensson: soberano na lateral-direita, Svensson ganhou a confiança do técnico Eriksson e cumpriu com maestria sua função pelo setor com bons passes, aparições perigosas no ataque e chegou até a marcar gols. Jogou no clube de Gotemburgo de 1978 até 1986.
Mats Ola Carlsson: o defensor chegou em 1986 e ficou apenas até 1988, mas o suficiente para vencer a Copa da UEFA de 1987 e ser titular em alguns jogos no lugar de Svensson. Não tinha a mesma eficiência do “concorrente”, mas cumpriu seu papel.
Glenn Hysén: é um dos maiores ídolos da história do Göteborg e também o maior zagueiro que já vestiu a camisa do clube. Cria das categorias de base, estreou nos profissionais em 1978 e permaneceu até 1983, quando foi emprestado ao PSV-HOL e retornou já em 1985 para continuar a levantar títulos (agora como capitão). Disputou 319 jogos e marcou 26 gols. Aliava força no jogo aéreo, boa recuperação e ótimo senso de colocação, além de ser eficiente nos passes e até marcar gols de vez em quando. Pela Seleção Sueca, disputou 68 jogos e marcou oito gols.
Peter Larsson: ao lado de Hysén, formou um verdadeiro paredão no miolo de zaga e foi essencial nas conquistas de 1987, em especial a Copa da UEFA. Não brincava em serviço e se destacava pelo poder de marcação e pela boa visão de jogo. Disputou 47 jogos e marcou 4 gols pela Seleção Sueca.
Per Edmund Mordt: o norueguês jogou de 1986 até 1993 no clube de Gotemburgo e podia atuar como zagueiro ou volante. Com apenas 21 anos, teve o amargor de perder o pênalti decisivo que eliminou o Göteborg da Liga dos Campeões de 1985-1986, na semifinal diante do Barcelona-ESP. Mesmo assim, deu a volta por cima, seguiu no grupo e foi campeão nacional e da Copa da UEFA no ano seguinte.
Conny Karlsson: outro que começou bem jovem no Göteborg, o defensor iniciou sua carreira profissional em 1975 e permaneceu em Gotemburgo até 1982, vencendo títulos marcantes e a Copa da UEFA daquele ano. Foi o companheiro de zaga de Hysén na época e esbanjou eficiência. Disputou 402 jogos pelo clube e marcou dez gols.
Roland Nilsson: jogou de 1983 até 1989 no Göteborg, mas não conseguiu ser titular absoluto por causa da concorrência no setor. Nas vezes que jogou, foi bem e mostrou eficiência na lateral-direita e também no miolo de zaga. Viveu seu melhor momento nos anos 90, quando brilhou juntamente com seus companheiros de Seleção Sueca na Copa do Mundo de 1994.
Stig Fredriksson: era o jogador mais ofensivo do sistema defensivo do Göteborg. Pela esquerda, adorava se mandar para o ataque e marcava muitos gols, principalmente em momentos decisivos, como bem soube a torcida azul e branca. Muito técnico e com ótimos passes, Fredriksson jogou de 1979 até 1987 no clube e vestiu a camisa da Suécia em 56 oportunidades. Disputou 363 jogos e marcou 45 gols pelo Göteborg.
Tord Holmgren: chegou ao Göteborg juntamente com seu irmão, Tommy, em 1977, e construiu uma aliança que durou uma década. Meio-campista, ajudava na marcação e também na construção de jogadas de ataque com muita velocidade (na época, ganhou o apelido de “Turbo Tord”) e visão de jogo.
Glenn Strömberg: com 1,90m de altura, fôlego de menino e ampla visão de jogo, o “Marathon Man” foi o grande senhor do meio de campo daquele Göteborg imortal. O sueco ganhava quase todas as divididas, desarmava com precisão e engatilhava preciosos contra-ataques para a turma de frente fazer a festa. Cria das bases, Strömberg jogou de 1976 até 1983 na equipe e foi fundamental para os títulos na era Eriksson. Foi para o Benfica em 1983 e encerrou a carreira no futebol italiano, onde virou ídolo na Atalanta. Disputou 52 jogos e marcou sete gols pela Seleção Sueca.
Magnus Johansson: após a primeira era de ouro do clube, Johansson debutou no time profissional do Göteborg em 1984 e jogou até 1990 na equipe, participando como titular de várias conquistas nacionais e da Copa da UEFA de 1987. Atuava no meio de campo como marcador e dando suporte ao sistema defensivo.
Jerry Carlsson: ficou mais de uma década no Göteborg e foi um dos grandes nomes do meio de campo do time, fazendo uma notável dupla de volantes ao lado de Strömberg. Era irmão gêmeo de Conny Karlsson.
Michael Andersson: após ótimas temporadas pelo Hammarby, o meio-campista chegou à Gotemburgo em 1986 para ser campeão nacional e da Copa da UEFA e mostrou muita eficiência na marcação e nas roubadas de bola. Ficou até 1988 para voltar ao Hammarby.
Tommy Holmgren: enquanto seu irmão, Tord, atuava mais pela direita, Tommy gostava de jogar mais pela esquerda e de aparecer como um elemento extra no ataque. Jogou de 1977 até 1989 no clube azul e branco e virou ídolo da torcida por seu futebol técnico e de passes precisos. Em 1984, atuando pela seleção, o jogador sofreu um chute na cabeça em uma partida pelas Eliminatórias da Copa e, quando voltou a jogar, perdeu grande parte do ímpeto ofensivo que tinha e vários dos clubes que quiseram seu futebol antes do incidente voltaram atrás. Com isso, ele passou a carreira inteira no Göteborg, pelo qual disputou 510 e marcou 69 gols.
Torbjörn Nilsson: foi um dos maiores e mais talentosos atacantes da história do Göteborg e também do futebol sueco. Rápido, oportunista, inteligente e perigosíssimo dentro da área, Nilsson participou de todos os maiores momentos daquele Göteborg imortal e foi crucial para o desempenho da equipe no período. Foi artilheiro do Campeonato Sueco de 1981 (20 gols), artilheiro da Liga dos Campeões da UEFA de 1984-1985 (7 gols) e 1985-1986 (7 gols), e vencedor do Guldbollen de Melhor Jogador da Suécia, em 1982. Teve três passagens pela equipe de Gotemburgo e em todas foi artilheiro. No total, disputou 444 jogos e marcou 329 gols pelo clube.
Stefan Pettersson: chegou ao Göteborg em 1984 e foi um dos destaques no setor ofensivo do time até 1988. Bom nas bolas aéreas e rápido nos passes e tabelas, disputou 344 jogos em suas duas passagens pelo clube e marcou 116 gols, sendo 58 apenas no Campeonato Sueco. Pela Seleção Sueca, disputou 31 jogos e marcou quatro gols.
Håkan Sandberg: o atacante revelado pelo Örebro chegou à Gotemburgo em 1981 e ficou até 1984, tempo hábil para deixar sua marca em vários jogos e vencer títulos. Não foi titular absoluto, mas anotou 34 gols em 71 jogos pelo clube.
Dan Corneliusson: outro revelado pelo próprio Göteborg, o atacante mostrou muita vontade e talento e se tornou em pouquíssimo tempo titular absoluto do ataque do time multicampeão naquele começo de anos 80. Esperto e rápido, fez a alegria da torcida e jogou de 1978 até 1983 em solo escandinavo, até ser contratado pelo Stuttgart-ALE. Em 62 jogos de Campeonato Sueco, marcou 29 gols. Pela Seleção Sueca, disputou 22 jogos e anotou 12 tentos.
Johnny Ekström: revelado pelo Göteborg, em 1984, o atacante ganhou notoriedade pela imensa velocidade e também pela eficiência no jogo aéreo. Ficou no clube até 1986 e ganhou o apelido de “Kallebäcks-Expressen”, o trem expresso de Kallebäcks, e de “ciclone”, em sua passagem pelo futebol italiano. Pela Seleção Sueca, disputou 47 jogos e marcou 13 gols. Uma pena que não esteve no time campeão nacional e da Copa da UEFA de 1987.
Jari Rantanen: o grandalhão finlandês jogou apenas entre 1986 e 1987 no clube, mas teve tempo de marcar gols decisivos na campanha do título da Copa da UEFA, sendo inclusive o artilheiro do torneio com cinco gols. Após o caneco, foi jogar o futebol inglês.
Lennart Nilsson: jogou de 1986 até 1991 no clube e não foi titular absoluto, mas marcou um gol fundamental na final da Copa da UEFA de 1987 e deixou seu nome na história.
Sven-Göran Eriksson, Gunder Bengtsson e Björn Westerberg (Técnicos): todos foram vencedores e tiveram méritos inquestionáveis no comando do Göteborg, mas foi Eriksson quem levou os maiores louros por ter montado a base daquele time competitivo e vencedor, além de ter trabalhado de maneira impecável o lado mental dos jogadores, que não temeram nenhum adversário e souberam superar adversidades e a falta de experiência para levantar uma histórica Copa da UEFA em 1982. Na sequência, Bengtsson mostrou estrela ao levantar vários títulos e quase levar o clube à final da Liga dos Campeões, e Westerberg ganhou tudo o que podia logo após a saída de Eriksson. Um trio eterno de Gotemburgo. Leia mais sobre Eriksson clicando aqui!
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O melhor site de futebol!!! Parabéns!!!
Parabéns pelo trabalho de vocês! O blog é espetacular e muito rico em detalhes! Um abraço!
Obrigado pelos elogios, Gabriel! Abs!
Parabéns pelo texto !!! falar com tant propriedade de um time sueco(!) dos anos 70 e 80 (!!) deve ser muito difícil e trabalhoso