Grandes feitos: Campeão da Recopa da UEFA (1997-1998), Campeão da Supercopa da UEFA (1998), Bicampeão da Copa da Inglaterra (1996-1997 e 1999-2000), Campeão da Copa da Liga Inglesa (1997-1998) e Campeão da Supercopa da Inglaterra (2000). Encerrou um jejum de 26 anos sem grandes conquistas do clube londrino.
Time-base: Ed de Goey (Frode Grodas); Steve Clarke (Albert Ferrer / Mario Melchiot), Frank Lebouef (Ruud Gullit), Frank Sinclair (Michel Duberry / Marcel Desailly) e Graeme Le Saux (Danny Granville); Dan Petrescu (Deschamps), Dennis Wise, Gus Poyet (Eddie Newton / Celestine Babayaro) e Roberto Di Matteo; Gianluca Vialli (Mark Hughes / Pierluigi Casiraghi / George Weah) e Gianfranco Zola (Tore Andre Flo). Técnicos: Ruud Gullit (1996-1998) e Gianluca Vialli (1998-2000).
“Os bons e gloriosos tempos da normalidade”
Por Guilherme Diniz
Há muito tempo atrás, o tão midiático Chelsea FC respirava os puros ares da normalidade. Naquela segunda metade dos anos 1990, não havia centenas de repórteres de todos os cantos do mundo pelas bandas de Stamford Bridge, os garotos não queriam saber da camisa azul do clube londrino e preferiam o vermelho e branco predominante no Arsenal, no Manchester United e no Liverpool, o clube não tinha nem de longe a fama internacional que possui neste século XXI e nem à sua disposição bilhões de dólares de origem russa. Enfim, o Chelsea FC era um clube normal. Contratava jogadores sob valores não tão estrondosos, não seduzia jovens promessas e só pensava em encerrar um jejum de 26 longos anos sem títulos de expressão. Foi então que dois jogadores ídolos da torcida ajudaram não só a acabar com aquele marasmo, mas também a levar o clube azul a façanhas que nem o mais fanático torcedor esperava. Com Ruud Gullit como jogador-treinador, o Chelsea venceu a Copa da Inglaterra de 1996-1997, sapecou o Liverpool pelo caminho com um histórico 4 a 2 e jogou bem à holandesa, tocando a bola com qualidade e sempre em busca de gols e mais gols.
Posteriormente, com Gianluca Vialli também acumulando as funções de jogador e treinador, a equipe foi ainda mais longe e levantou mais títulos nacionais, duas taças continentais e participou pela primeira vez da Liga dos Campeões da UEFA com um elenco entrosado e reforços pontuais. Foram tempos de glórias como há tempos os Blues não vivenciavam. Era época de contemplar o toque de bola e a forte esquema de jogo exercido por jogadores como Petrescu, Lebouef, Le Saux, o sempre líder Denis Wise, Di Matteo, Hughes, Babayaro, Poyet e, claro, o super-herói Gianfranco Zola, até hoje considerado o mais adorado jogador de toda a história do clube e que foi um dos principais símbolos daquele time que brigou com os gigantes do país em busca de um lugar no topo. E tudo isso sem megalomanias milionárias nem contratações beirando o absurdo. É hora de relembrar.
Revolução à holandesa
Após passar por sérios problemas financeiros nos anos 70 e 80 e quase perder seu estádio, o Stamford Bridge, o Chelsea começou uma importante reestruturação a partir do momento em que venceu a segunda divisão do futebol inglês na temporada 1988-1989 e que Matthew Harding e Ken Bates, os principais nomes da diretoria executiva do clube, injetaram capital para modernizar as instalações do clube como um todo e, tempo depois, saíram em busca de jogadores que pudessem manter o time na elite inglesa e, quem sabe, encerrar o jejum de mais de duas décadas sem títulos – vale lembrar que Ken Bates era o acionista principal do Chelsea naqueles anos 90 e havia comprado o clube em 1982 por uma libra (!), mas ele não tinha nem 1/16 do poder de Roman Abramovich, o dono dos Blues desde 2003.
Em 1995, o Chelsea trouxe a estrela holandesa Ruud Gullit, que chegou já em fim de carreira, mas a tempo de levar novos e diversos fãs ao centro de treinamento do clube só para ver sua habilidade, seu carisma e os clássicos dreadlocks tão famosos nos tempos do super Milan do final dos anos 80 (leia mais clicando aqui). Pelo Chelsea, Gullit atuou como zagueiro e meio-campista, algumas das muitas posições que ele podia atuar graças às suas polivalência e inteligência em campo, mas não conseguiu levar o Chelsea a um tão sonhado título. A partir da temporada 1996-1997, a diretoria do clube decidiu que o holandês seria jogador e também treinador do time, sendo a pessoa ideal para comandar os novos jogadores que chegariam ao clube tais como os atacantes italianos Gianfranco Zola e Gianluca Vialli, o zagueiro francês Frank Lebouef e o meia italiano Roberto Di Matteo, todos trazidos por indicação do próprio Gullit, que conhecia várias estrelas por sua experiência no futebol internacional. Como não poderia deixar de ser, Gullit fez questão de seus comandados praticarem um futebol com muita troca de passes e velocidade, bem ao estilo holandês. Se aquela tática iria funcionar sob jogadores de diversas nacionalidades, ninguém sabia dizer. Mas não custava nada tentar.
A inesquecível copa que enterrou o jejum
No Campeonato Inglês, o Chelsea não conseguiu brigar pelo título por causa da inconstância apresentada no returno, mas ainda sim terminou a competição em um ótimo sexto lugar, com destaque para as atuações de Gianfranco Zola, que ganhou o prêmio de melhor jogador da Inglaterra pela FWA (Football Writers’ Association) por seus gols (a maioria golaços), dribles e ótimo domínio de bola. Mas foi na Copa da Inglaterra que o futebol divertido dos Blues de Gullit ganhou forma e força. A equipe eliminou o West Bromwich após vitória por 3 a 0 no primeiro compromisso no torneio e conseguiu um resultado inesquecível contra o Liverpool no chamado 4º round. Após estar perdendo por 2 a 0 no primeiro tempo e escapar de levar uma goleada, a equipe azul mostrou enorme poder de reação e um futebol extremamente ofensivo e convincente na segunda etapa e virou para 4 a 2, com gols de Hughes, Zola e dois de Vialli.
A vitória épica sobre o Liverpool embalou os Blues. No duelo seguinte, empate em 2 a 2 e vitória por 1 a 0 sobre o Leicester City. Nas quartas e semifinais, vitórias por 4 a 1, sobre o Portsmouth, e 3 a 0, sobre o Wimbledon, respectivamente, e classificação para a final, contra o Middlesbrough. Em um Wembley tomado por mais de 79 mil pessoas, o Chelsea venceu por 2 a 0, com direito a um golaço de Roberto Di Matteo, e foi campeão da Copa da Inglaterra, a primeira grande taça do clube após 26 anos. O título foi dedicado ao diretor Matthew Harding, que faleceu naquela temporada após um acidente de helicóptero. Além disso, o troféu provou que a tática dos passes, da velocidade e do futebol ousado do técnico Gullit tinham dado certo e inspiravam boas perspectivas para a próxima temporada. Será que dava para tentar o Campeonato Inglês?
Reforços e mesma postura
Para a temporada 1997-1998, o Chelsea trouxe mais reforços com o intuito de poder disputar várias competições com reais chances de vencê-las. Chegaram o lateral inglês Graeme Le Saux, o grandalhão atacante norueguês Tore Andre Flo, o meio-campista uruguaio Gustavo “Gus” Poyet, o polivalente nigeriano Celestine Babayaro e o goleiro holandês Ed de Goey, que tinha como principal missão acabar com a “zaga-peneira” do time (só no Campeonato Inglês da temporada anterior, a equipe levou 55 gols em 38 jogos). Gullit se manteve no cargo e ganhou ainda mais a confiança do elenco, além do maciço apoio da torcida que lotava a casa azul para ver seu time brigar de igual para igual com os gigantes Manchester United e Arsenal.
No Campeonato Inglês, o time fez um bom primeiro turno e ficou no pelotão de frente graças ao entrosamento do setor ofensivo e ao meio de campo comandado por Wise. Entre os destaques da campanha estiveram o empate fora de casa em 2 a 2 contra o Manchester United, a vitória por 2 a 0 fora de casa sobre o Aston Villa, o 2 a 0 sobre o Everton, em casa, e um 6 a 1 sobre o Tottenham Hotspur, fora de casa, com três gols de Tore Andre Flo. Paralelo à disputa do torneio nacional, o Chelsea também superava os desafios na Copa da Liga Inglesa e na Recopa da UEFA (na Copa da Inglaterra, o time caiu já na primeira fase diante do Manchester United). Na copa nacional, os Blues passaram pelo Blackburn Rovers, Southampton e Ipswich Town nas três primeiras fases e encontraram o rival Arsenal nas semifinais. Já na Recopa, a equipe eliminou o Slovan Bratislava-ESQ (4 a 0 no agregado) e o Tromso-NOR com uma acachapante vitória por 7 a 1 na partida de volta após perder por 3 a 2 na ida. Entre os primeiros no campeonato inglês, bem na Recopa e bem na Copa da Liga Inglesa, o Chelsea tinha as melhores perspectivas para o ano de 1998 e a consequente reta final da temporada. Mas uma mudança no comando técnico quase atrapalhou o andar da carruagem azul.
Sai Gullit, entra Vialli
Após perder o primeiro jogo da semifinal da Copa da Liga Inglesa para o Arsenal, por 2 a 1, perder para o Everton (3 a 1) e de novo para o Arsenal (2 a 0), estes dois pelo Campeonato Inglês, o Chelsea levou mais um baque naquele mês de fevereiro de 1998 ao ver seu treinador, Gullit, ser demitido pela diretoria após um conflito contratual entre o ex-craque e os cartolas. Foi o término de uma conturbada aliança entre o holandês e o genioso Ken Bates, que nomeou logo em seguida para o comando técnico mais um jogador-treinador: Gianluca Vialli, que teria que se virar da maneira que fosse possível para continuar o trabalho de Gullit e manter o Chelsea vivo nas competições que disputava. No Campeonato Inglês, o pique foi perdido após três derrotas seguidas entre 21 de fevereiro e 8 de março e faltou sorte melhor para engatar uma sequência de pelo menos quatro vitórias na reta final (o time conseguiu apenas três, em abril, incluindo um 4 a 1 sobre o Liverpool, mas não foi suficiente). Os Blues terminaram a competição na 4ª posição com 20 vitórias, três empates, 15 derrotas, 71 gols marcados (segundo melhor ataque, atrás apenas do Manchester United), 43 sofridos e 63 pontos em 38 jogos.
Com a força goleadora a pleno vapor e ainda participando de duas competições, o Chelsea de Vialli voltou totalmente o foco para as disputas de mata-mata. No dia 18 de fevereiro, a equipe encarou o Arsenal no duelo de volta da Copa da Liga Inglesa e, com o apoio de mais de 34 mil pessoas em Stamford Bridge, os Blues devolveram o revés da partida de ida e venceram por 3 a 1, com gols de Hughes, Di Matteo e Petrescu, resultado que colocou o clube na final. Um mês depois, no dia 29 de março, os londrinos voltaram ao estádio de Wembley, palco do fim do jejum de 26 anos sem títulos, e fizeram a festa diante do Middlesbrough. Após um 0 a 0 no tempo normal, a equipe azul mostrou fôlego e venceu por 2 a 0 na prorrogação com gols de Sinclair e Di Matteo, que provou ser mesmo um homem de decisão (ele também fez um gol na final da Copa da Inglaterra de 1997). Era mais uma taça para a galeria dos Blues e o segundo título da equipe no torneio (o primeiro havia sido conquistado na temporada 1964-1965).
Naquele mês de março, o Chelsea também teve compromissos pela Recopa da UEFA. Nas quartas de final, a equipe viajou até a Espanha para enfrentar o Real Betis e venceu por 2 a 1, com dois gols de Tore Andre Flo. Na volta, em Londres, nova vitória, dessa vez por 3 a 1, com gols de Sinclair, Di Matteo e Zola. Na semifinal, os ingleses enfrentaram o Vicenza-ITA e perderam o duelo de ida, na Itália, por 1 a 0. Seria preciso uma vitória por dois gols de diferença no duelo seguinte para garantir a vaga na final.
Com a força da torcida, na decisão!
No dia 16 de abril, os mais de 33 mil torcedores que lotaram o Stamford Bridge levaram um susto tremendo quando Pasquale Luiso, artilheiro daquela Recopa, marcou o primeiro gol do Vicenza, aos 32´do primeiro tempo, e aumentou para dois gols a vantagem dos italianos no placar agregado. O Chelsea teria alguns minutos e mais o segundo tempo para marcar os três gols necessários para a classificação. Jogando com um exótico uniforme amarelo com tons azuis, o time da casa conseguiu empatar dois minutos depois, após Gus Poyet aproveitar a sobra de um chute de Zola e estufar as redes do goleiro Brivio. Na segunda etapa, o Chelsea foi só pressão e logo aos dez minutos, o “professor” Vialli fez um cruzamento fantástico para Zola cabecear sem chance alguma para o goleirão e virar o placar: 2 a 1. Aos 31´, após uma bola longa de Ed de Goey, Mark Hughes mostrou oportunismo e astúcia para ganhar do zagueiro e marcar um belo gol que selou a vitória por 3 a 1 e a dramática classificação dos azuis para a final continental. Era hora de buscar uma glória internacional que não vinha desde os anos 70.
Estocolmo pintada de azul
Na grande final, no estádio Råsunda, em Estocolmo (SUE), o Chelsea teve pela frente os alemães do Stuttgart, que apostavam em jogadores como Thomas Schneider, Thomas Berthold, Zvonimir Soldo, Krasimir Balakov e o nigeriano Jonathan Akpoborie. Os azuis tinham como desfalques o zagueiro Sinclair e o lateral Le Saux, substituídos por Duberry e Granville, respectivamente. Vialli se colocou em campo, claro, mas preferiu deixar Zola no banco por precaução pelo fato de o italiano ainda estar se recuperando de uma contusão na virilha (Tore Andre Flo entrou como titular). O jogo foi muito disputado e o futebol ofensivo do time inglês encontrou muita dificuldade diante do ferrolho alemão. Na segunda etapa, Vialli decidiu sacar Flo para a entrada de Zola. E, como a torcida do Chelsea tanto sonhava, seu maior ídolo fez a diferença. Após receber um passe açucarado do capitão Dennis Wise, Zola esperou o quique certo da bola para mandar um petardo sem chances para o goleiro Wohlfahrt e marcou o único gol do jogo: 1 a 0.
Era o suficiente. O Chelsea conquistava a Recopa da UEFA pela segunda vez em sua história e coroava a meteórica carreira de Vialli como treinador. Em poucos meses, o italiano já era campeão de dois torneios diferentes e com altas doses de emoção, superação e bom futebol – além de tudo isso, ele foi o artilheiro da equipe na temporada com 19 gols. Zola foi eleito o homem do jogo e o Chelsea foi premiado por ter sido mais incisivo no ataque (foram 19 chutes contra 11 dos alemães), principalmente no segundo tempo. Depois de décadas de ostracismo, enfim, o Chelsea voltava às manchetes e ao mais alto patamar do futebol europeu.
Maturidade e sempre entre os primeiros
Para a temporada de 1998-1999, o Chelsea buscou mais alguns nomes para reforçar seu elenco e trouxe três atletas de destaque: Marcel Desailly, brilhante zagueiro campeão do mundo com a França na Copa de 1998 e multicampeão no Milan-ITA e no Olympique de Marselha-FRA, Albert Ferrer, lateral espanhol vindo do Barcelona, e Pierluigi Casiraghi, atacante italiano com passagem pela Lazio-ITA. O primeiro teste do novo time foi na disputa do título da Supercopa da UEFA, no dia 28 de agosto de 1998, contra o campeão da Liga dos Campeões daquele ano, o Real Madrid-ESP. Mesmo recheado de craques, os merengues não conseguiram superar a zaga formada por Lebouef e Desailly e viram o uruguaio Gus Poyet marcar o único gol do jogo e dar a vitória por 1 a 0 ao Chelsea, que venceu pela primeira vez a competição.
Mais experientes e entrosados, os jogadores do Chelsea demonstraram muita competitividade ao longo da temporada e perseguiram todos os títulos que disputaram. No Campeonato Inglês, a equipe permaneceu incríveis 21 rodadas sem perder, entre agosto de 1998 e janeiro de 1999, sequência que só foi quebrada pelo rival Arsenal, que venceu o duelo válido pela 23ª rodada por 1 a 0 (gol do astro holandês Bergkamp). Até o fim da competição, os Blues perderam apenas mais um jogo, mas abusaram dos empates e terminaram na 3ª posição, com 20 vitórias, 15 empates, três derrotas, 57 gols marcados e 30 sofridos em 38 jogos, totalizando 75 pontos ganhos (quatro a menos que o campeão, Manchester United). Apesar de não ficar com a taça, a equipe ganhou uma vaga inédita na Liga dos Campeões da UEFA (o clube poderia ter disputado a edição inaugural do torneio, em 1955-1956, mas declinou do convite) e fez sua melhor campanha na elite do futebol inglês desde a temporada 1969-1970, quando terminou exatamente na terceira posição, garantiu uma vaga na Recopa da UEFA de 1970-1971 e terminou campeão continental em cima do Real Madrid-ESP.
Nas competições de mata-mata, a equipe chegou até as quartas de final da Copa da Liga Inglesa e da Copa da Inglaterra e alcançou as semifinais da Recopa da UEFA. No entanto, os comandados de Vialli sucumbiram em ambas os torneios e terminaram a temporada com apenas um troféu na galeria. Gianfranco Zola foi o artilheiro da equipe com 15 gols e Gianluca Vialli decidiu permanecer apenas como treinador do clube, e não mais como jogador, pendurando as chuteiras no último jogo da temporada pelo Campeonato Inglês e marcando o gol da vitória por 2 a 1 sobre o Derby County.
O sonho ruiu no Camp Nou
A vinda de Didier Deschamps para o clube na temporada 1999-2000 animou a já exigente torcida do Chelsea, que esperava uma volta por cima com estilo naquela época e um meio de campo dos sonhos com o francês, o capitão Wise, o italiano Di Matteo e o uruguaio Poyet. A principal ambição do time era, sem dúvida, a Liga dos Campeões. Após superar a fase preliminar, o time inglês se classificou para a fase de grupos e terminou na primeira colocação do Grupo H, à frente de Hertha Berlim-ALE, Galatasaray-TUR e Milan-ITA. Os Blues venceram três jogos, empataram dois (ambos contra o Milan) e perderam apenas um (para o Hertha, fora de casa), e tiveram como principal triunfo a goleada histórica de 5 a 0 sobre o Galatasaray-TUR de Popescu, Belözuglu, Erdem, Hakan Sükür, Hagi e vários outros nomes de destaque em plena cidade de Istambul (vale lembrar que o time turco seria campeão da Copa da UEFA naquela temporada. Leia mais clicando aqui). Na segunda fase de grupos, nova classificação, dessa vez em segundo lugar no grupo, após três vitórias, um empate e duas derrotas. Os triunfos vieram sobre Feyenoord-HOL (3 a 1, em casa, e 3 a 1, fora) e Olympique de Marselha-FRA (1 a 0, em casa). A única equipe não derrotada pelos ingleses foi a Lazio-ITA, que segurou um empate sem gols em casa e venceu os Blues em Stamford Bridge por 2 a 1.
Muito próximos da final, os comandados de Vialli enfrentaram o Barcelona-ESP nas quartas de final. O time espanhol, comandado por Louis van Gaal e com estrelas como Figo, Cocu, Kluivert, Rivaldo e Frank de Boer, além de novatos como Xavi e Puyol, era tido como favorito. Mas, no duelo de ida, em Londres, os ingleses fizeram uma partida fantástica e venceram por 3 a 1, com dois gols de Tore Andre Flo e um de Zola, claro. Mas, no duelo de volta, no colossal Camp Nou, o Chelsea sucumbiu. Após Rivaldo e Figo abrirem 2 a 0 para o Barça, Flo descontou (o norueguês foi o artilheiro do time na Liga com oito gols) e manteve o Chelsea à frente do placar agregado com um 4 a 3. Só que Dani fez mais um e levou o duelo para a prorrogação.
Nela, a expulsão de Babayaro foi crucial para facilitar as coisas para o Barça, que fez mais dois gols (um de Rivaldo e outro de Kluivert) e venceu por 5 a 1, carimbando sua vaga para a semifinal e destruindo o sonho europeu do Chelsea. Se servia de alento para o clube inglês, o time espanhol seria eliminado na etapa seguinte para o brilhante Valencia-ESP de Mendieta e companhia (leia mais clicando aqui). Era o fim da temporada para os Blues? Que nada. Ainda tinha a Copa da Inglaterra…
A última glória antes do fim
Sem chances nos principais torneios da temporada, o Chelsea ainda encontrou uma oportunidade para celebrar em 2000. Na Copa da Inglaterra, o time superou Hull City (6 a 1), Nottingham Forest (2 a 0), Leicester City (2 a 1), Gillingham (5 a 0) e Newcastle United (2 a 1) até chegar à final, contra o Aston Villa. E, assim como no começo de toda esta história, o título veio em Wembley, com centenas de milhares de pessoas nas arquibancadas e mais um gol decisivo de Roberto Di Matteo, autor do tento da vitória por 1 a 0 que coroou o trabalho do técnico Vialli no comando do clube londrino e toda aquela equipe que ensinou uma torcida a vibrar com títulos que eles só tinham notícia por meio de livros ou jornais (bem) antigos ou por meio dos rivais.
Da normalidade à megalomania
O Chelsea ainda levantou a Supercopa da Inglaterra de 2000 com vitória por 2 a 0 sobre o Manchester United e contratou jogadores como Jimmy Floyd Hasselbaink, Bogarde, Jokanovic e Gronkjaer para a temporada 2000-2001, mas não teve o mesmo brilho dos anos anteriores e deu adeus ao técnico Vialli, substituído por Claudio Ranieri. Em 2003, o chairman Ken Bates mudou para sempre a história do clube ao vender o Chelsea ao magnata russo Roman Abramovich e tudo se transformou. O time londrino virou celebridade, passou a contratar apenas jogadores de nome, fama e com valores exorbitantes e nada virou impossível. A equipe ganhou novos torcedores motivados pelo marketing, os títulos, claro, apareceram.
Mas o “torcedor raiz” jamais se esquece do time “dos italianos”, do holandês de dreadlocks e do capitão Dennis Wise, um esquadrão que conseguiu, com a força de seu futebol, vencer títulos, encerrar jejuns e colocar o Chelsea entre os grandes times da Inglaterra no final dos anos 1990, tempos que os torcedores que iam ao Stamford Bridge tinham paixão e sabiam o que era ficar 26 anos sem celebrar uma taça sequer. Talvez por isso que jogadores como Di Matteo, Vialli, Lebouef, Wise e Zola sejam tão idolatrados e amados até hoje. E talvez por isso que Zola tenha sido eleito pela própria torcida do clube como o maior ídolo de toda a história do Chelsea FC no século XX. Naquela época, eles vestiam a camisa. E deixaram para sempre os títulos e os feitos de um esquadrão imortal.
Os personagens:
Ed de Goey: foi um dos principais goleiros do futebol holandês nos anos 90 e esteve na Copa do Mundo de 1994, nos EUA. Chegou em 1997 ao Chelsea e foi titular absoluto no período de ouro do clube. Fez grandes partidas, ficou dezenas de partidas sem sofrer gols e foi o porto seguro do sistema defensivo do time. Ídolo, jogou até 2003 no clube e encerrou a carreira no Stoke City, em 2006.
Frode Grodas: o norueguês jogou de 1996 até 1998 e foi titular na histórica conquista da Copa da Inglaterra de 1997. Na temporada seguinte, perdeu espaço com a chegada de Ed de Goey e deixou o clube.
Steve Clarke: o defensor atuou por mais de uma década no clube azul (de 1987 até 1998) e foi um dos maiores símbolos do time no período. Podia atuar como zagueiro ou como lateral-direito com muita eficiência e poder de marcação. Disputou 421 jogos com a camisa do Chelsea e é o 8º entre os que mais atuaram pelos Blues na história.
Albert Ferrer: seu auge já havia passado, mas ainda sim contribuiu para a boa campanha do time na Liga dos Campeões de 1999-2000 e na Copa da Inglaterra do mesmo período. O lateral só não teve mais oportunidades por causa do rodízio que Vialli costumava fazer com os jogadores de seu grande elenco. Ficou até 2003, ano em que encerrou a carreira.
Mario Melchiot: era apenas o reserva até aproveitar uma contusão de Ferrer na reta final da temporada 1999-2000 e assumir a titularidade na lateral-direita, fazendo uma boa partida na decisão da Copa da Inglaterra vencida sobre o Aston Villa. Ficou no clube até 2004 e disputou mais de 130 jogos pelos Blues.
Frank Lebouef: de 1996 até 2001, o francês foi o grande senhor da zaga do Chelsea e principal jogador do setor. Muito eficiente no jogo aéreo e na marcação individual, foi ídolo da torcida e vestiu a camisa azul em mais de 210 oportunidades. Esteve no grupo da Seleção Francesa campeã da Copa do Mundo de 1998.
Ruud Gullit: um dos craques do melhor Milan de todos os tempos deu algumas mostras de seu talento no período em que jogou pelo Chelsea. Embora tenha atuado por pouco tempo, Gullit virou um ídolo instantâneo e ajudou a conquistar muitos torcedores. Teve funções mais defensivas e foi muito importante nas trocas de passes e no estudo do jogo. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Frank Sinclair: o inglês de origem jamaicana foi revelado pelo próprio Chelsea, em 1990, e jogou na equipe até 1998, fazendo uma ótima dupla de zaga com Lebouef. Se arriscava no ataque de vez em quando, tinha boa impulsão e se colocava bem. Em 1998, disputou a Copa do Mundo pela Jamaica.
Michel Duberry: outra cria do Chelsea, o zagueiro alternou momentos como titular e reserva naquele período e esteve em campo na final da Recopa da UEFA de 1998, quando o clube londrino bateu o Stuttgart. Era forte na marcação e no jogo aéreo, mas perdeu espaço com as chegadas de Desailly e Lebouef.
Marcel Desailly: técnico, seguro, eficiente e habilidoso, o francês se tornou um dos maiores zagueiros (e também volante) do mundo naqueles anos 90 e brilhou com as camisas do Olympique de Marselha, do Milan e da Seleção da França. Atuava sempre de cabeça erguida e se consagrou como um dos atletas mais vitoriosos de seu tempo. No Chelsea, chegou consagrado e jogou de 1998 até 2004, virando ídolo da torcida e fazendo uma inesquecível dupla de zaga ao lado do compatriota Lebouef. Disputou mais de 150 jogos pelo clube londrino. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Graeme Le Saux: cria do Chelsea, o lateral-esquerdo deixou o clube em 1993 e retornou em 1997 para ficar até 2003 e participar de anos maravilhosos com a camisa azul. Eficiente na marcação e no apoio ao ataque, foi presença, também, na Seleção Inglesa, pela qual disputou 36 partidas.
Danny Granville: não era titular, mas encontrou brechas algumas vezes e atuou como lateral-esquerdo dos Blues entre 1997 e 1998. Disputou a final da Copa da Inglaterra de 1998 no lugar do lesionado Le Saux.
Dan Petrescu: com 95 jogos pela Romênia, o lateral é o quinto na lista dos que mais atuaram pela seleção. Fez carreira no Steaua Bucareste no final dos anos 80, brilhou na Copa do Mundo de 1994 e teve destaque no Chelsea entre 1995 e 2000, marcando vários gols decisivos e exercendo uma importante função tática no time. Petrescu podia jogar na zaga, na lateral e no meio de campo como um falso ponta, municiando o ataque com passes precisos e belos lançamentos. Muito querido pela torcida até hoje.
Deschamps: o capitão da França campeã da Copa do Mundo de 1998 chegou já consagrado ao Chelsea, em 1999, e jogou a tempo de ser campeão da Copa da Inglaterra e esbanjar sua tradicional categoria no meio de campo do time. Uma pena que tenha ficado apenas até 2000 no clube. Encerrou a carreira no ano seguinte vestindo a camisa do Valencia-ESP.
Dennis Wise: capitão, líder, ídolo, super identificado com o clube e presente em Stamford Bridge por mais de uma década, Dennis Wise foi, sem dúvida, um dos maiores jogadores da história do Chelsea e referência daquela era dourada que viveu o clube londrino. Extremamente competitivo, com ótima visão de jogo e brigador até o último minuto, o meio-campista encarnava os Blues como ninguém e era um xodó indiscutível da torcida. É presença certa em qualquer escalação do Chelsea do sonhos e figura na 7ª posição entre os que mais vestiram a camisa azul, com 445 jogos, além de ter anotado mais de dezenas de gols. Uma lenda.
Gus Poyet: o uruguaio jogou de 1997 até 2001 no clube londrino e conseguiu virar um dos grandes jogadores do Chelsea por sua habilidade, qualidade no passe, força na marcação e várias investidas ofensivas que resultavam em gols providenciais e decisivos, como o da vitória por 1 a 0 sobre o Real Madrid na decisão da Supercopa da UEFA de 1998. Disputou mais de 100 jogos pelo clube e foi lembrado para a Seleção Uruguaia em 26 oportunidades.
Eddie Newton: mais uma cria do Chelsea, começou no clube em 1990 e ficou até 1999. Foi titular em várias ocasiões, mas perdeu a posição com as chegadas de vários novos nomes após a escolha de Gullit como treinador. Atuava no meio de campo e também aparecia como elemento surpresa no ataque. Na final da Copa da Inglaterra de 1997, Newton anotou um dos gols da vitória por 2 a 0 sobre o Middlesbrough.
Celestine Babayaro: polivalente, Celestine Babayaro podia atuar como lateral-esquerdo, zagueiro ou volante com a mesma técnica e eficiência. Muito habilidoso, bons nos passes e tabelas e forte na marcação, Babayaro foi campeão olímpico em 1996 e disputou a Copa de 1998 pela Nigéria. O jogador conseguiu uma grande transferência para o Chelsea em 1997 e por lá ficou até 2005, conquistando uma Recopa da UEFA, uma Supercopa da UEFA e uma Copa da Inglaterra, além de ser muito querido pela torcida por suas clássicas piruetas.
Roberto Di Matteo: é um dos italianos (na verdade ele nasceu na Suíça, mas possui cidadania italiana) que compõe a santíssima trindade daquela era de ouro, ao lado de Vialli e Zola. O meio-campista chegou ao clube em 1996 após boas temporadas pela Lazio e virou peça intocável no esquema tático tanto do técnico Gullit como de Vialli. Com ótima visão de jogo, habilidoso, dono de chutes poderosos e perigoso nas investidas ao ataque, Di Matteo se consagrou não só pela regularidade e boas partidas, mas também por ter marcado gols que decidiram três troféus para o clube: as Copas da Inglaterra de 1997 e 2000 e a Copa da Liga Inglesa de 1998. “Só” por isso ele virou ídolo do clube e um “ser mitológico” anos depois, ao levar o Chelsea ao título da Liga dos Campeões da UEFA de 2011-2012 como treinador. Haja estrela!
Gianluca Vialli: goleador nato e um dos mais vitoriosos jogadores de seu tempo, Vialli também era veterano quando chegou ao Chelsea, em 1996, mas repetiu as belas partidas que fez com as camisas da Sampdoria e da Juventus em seus tempos áureos e foi fundamental para o renascimento do clube naqueles anos dourados. Vialli marcou vários gols decisivos e fez uma dupla inesquecível com Zola, sendo um providencial garçom para o compatriota estufar as redes rivais.
Mark Hughes: após brilhar no Manchester United, o galês desembarcou no Chelsea em 1995 e ficou até 1998, sendo uma das principais referências do time de Gullit por seu domínio de bola, astúcia e um imprescindível faro artilheiro. Era um perigo para as defesas rivais e decidiu vários jogos do Campeonato Inglês e nas competições de mata-mata vencidas pela equipe no período.
Pierluigi Casiraghi: chegou com boas perspectivas ao clube, mas sofreu uma grave contusão no joelho em novembro de 1998 que impossibilitou sua volta aos gramados em alto nível. disputou pouquíssimos jogos e foi obrigado a encerrar a carreira precocemente em 2000, aos 31 anos.
George Weah: o Melhor Jogador do Mundo em 1995 jogou por empréstimo no Chelsea em 2000, mas não teve tempo de mostrar o futebol que o consagrou. Mas só de vê-lo em campo, a torcida do Chelsea já ficou bastante feliz. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Gianfranco Zola: baixinho, troncudo, habilidoso e com “sangue azul” nas veias. É assim que podemos definir o italiano Gianfranco Zola. O atacante já tinha brilhado no Parma entre 1993 e 1996, mas foi no Chelsea que ele entrou para o rol dos maiores ídolos que um clube já teve. Zola foi artilheiro, decidiu títulos, marcou golaços, deu arrancadas fulminantes, entortou zagueiros e fez a alegria da torcida londrina como jamais outro jogador havia feito. Amante do esporte e brigador do começo ao fim, ele cativava não só a massa do Chelsea, mas também os adversários, que se rendiam ao talento de um jogador que nunca foi devidamente aproveitado na Seleção Italiana (para azar da própria Itália, que não convocou o atacante para a Copa de 1998 e se deu mal). Foram 312 jogos e 80 gols pelo clube, além de prêmios individuais e a honra de ser eleito o melhor jogador da história do Chelsea, em votação realizada com a própria torcida azul em 2003. Um mito em Stamford Bridge.
Tore Andre Flo: com mais de 1,92m de altura, o norueguês não era bom apenas no jogo aéreo por razões óbvias. Ele também se garantia com a bola nos pés. Foram 163 jogos, 50 gols, cinco títulos e ótimas atuações que encantaram a torcida. Flo se especializou em marcar gols decisivos, seja em mata-matas, seja em clássicos. Pela seleção, disputou 76 jogos e marcou 23 gols. Disputou a Copa do Mundo de 1998 e marcou um dos gols da vitória da Noruega sobre o Brasil por 2 a 1. Um ano antes, ganhou o apelido de “Flonaldo” por ter marcado dois gols na goleada de 4 a 2 da Noruega sobre o mesmo Brasil, em amistoso disputado em Oslo.
Ruud Gullit e Gianluca Vialli (Técnicos): ambos contribuíram dentro de campo para a saga de ouro daquele Chelsea, mas foi como treinadores que eles fizeram mais. A dupla tornou o clube um dos principais da Inglaterra de da Europa no período, fez os jogadores praticarem um futebol bonito e ofensivo e encheram o estádio Stamford Bridge como há tempos ele não enchia. Vencedores, Gullit e Vialli inverteram a lógica do futebol e conseguiram jogar e comandar ao mesmo tempo e com a mesma eficiência. Foram brilhantes com o elenco humano que tinham em mãos e só não foram mais longe por causa da imensa qualidade dos rivais na época.
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Muito legal o texto, e matéria, mas não entendi a “demonização” da compra do grupo pelo magnata. Tantos clubes fazem isso. Sempre fizeram. Não apaga a história que se teve e a história nova que se pode contar. Infelizmente é isto, o futebol moderno. Mas não significa diminuir o amor que os torcedores tem pelo time.
O melhor Chelsea antes da era Abramovic
Ótimo artigo como sempre mas, agora se o Chelsea de Mourinho ganhar qualquer coisa, fazer as mais incríveis campanhas ganhar títulos e títulos jogando um bom futebol, bonito e vistoso ele mesmo assim não iria merecer ser lembrado tanto no Site como no futebol em geral? Abramovich não deve ser flor q se cheire disso tenho quase certeza, mas o que o Chelsea fizer dentro das 4 linhas. Francisco Franco fez coisas para favorecerem Real Madrid não adianta ter incertezas sobre isso q muita coisa é fato, mas os feitos do Real Madrid dentro das 4 linhas naqueles anos nunca foram esquecidas e nem deveriam. O Chelsea não pode perder o respeito nem ser esquecido como um grande time de futebol.
Bem uma coisa já se via desde aqueles tempos : A preferência por jogadores estrangeiros a ingleses por parte dos blues.
Espetacular! Dá a real diferença entre o futebol de verdade e o negócio moderno que virou hoje. Triste.