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Esquadrão Imortal – Boavista 2000-2001

Boavista 2000-2001
Em pé: Ricardo, Litos, Pedro Emanuel, Rui Bento, Duda e Erwin Sánchez. Agachados: Quevedo, Frechaut, Silva, Petit e Martelinho.
 

Grandes feitos: Campeão do Campeonato Português de 2000-2001. Encerrou uma hegemonia de 55 anos do “trio de ferro” português no campeonato nacional.

Time-base: Ricardo; Rui Óscar (Frechaut), Litos, Pedro Emanuel e Erivan (Quevedo); Petit, Rui Bento e Erwin Sánchez; Martelinho, Elpídio Silva (Whelliton) e Duda. Técnico: Jaime Pacheco.

 

“A epopeia dos Panteras Negras”

 

Por Leandro Stein

 

Dentre as competições mais antigas do mundo, não há liga nacional mais polarizada que o Campeonato Português. O torneio é disputado há 80 anos, mas os títulos são divididos entre apenas cinco clubes. Isso porque Benfica, Porto e Sporting dividem entre si 78 taças. O primeiro a conseguir a proeza de quebrar a hegemonia do trio de ferro foi o Belenenses, ainda em 1946. Já o Boavista repetiu a façanha 55 anos depois, em 2001. Uma conquista que se desenhou por alguns anos, durante o período de ouro vivido pelos axadrezados. Para tamanho sucesso, o Boavista seguiu à risca um plano que parece generalizado aos clubes portugueses atualmente, no segundo escalão do futebol europeu: observar muito bem os jogadores para contratar a baixo custo e vender por muito. Durante alguns anos deu certo, em um sucesso aliado também ao investimento nas estruturas e à ascensão política de seus dirigentes. E o título veio, fruto do ótimo trabalho do técnico Jaime Pacheco e da bagunça vivida nos três grandes. No entanto, os Panteras calcularam mal o seu horizonte. A queda foi muito mais repentina que a ascensão. É hora de relembrar.

A segunda força da cidade subiu ao topo do país

Fundado em 1903 por jovens portugueses e ingleses, o Boavista cresceu como a segunda equipe da cidade do Porto. Primeiro clube a se profissionalizar no país, no entanto, os axadrezados estiveram distantes de ter a mesma força dos portistas. Embora o time tenha conquistado a primeira edição da segundona, passou as primeiras três décadas e meia do campeonato sem se firmar na elite. No máximo, chegou à quinta colocação, longe de ameaçar os grandes.

O momento de virada para o Boavista aconteceu nos anos 1970, quando o clube se firmou na primeira divisão e passou a desafiar o trio de ferro naquela década. Os Panteras foram vice-campeões portugueses em 1975-1976, apenas dois pontos atrás do Benfica. Naquele mesmo ano, a equipe também se sagrou bicampeã da Taça de Portugal, reconquistada em 1979. Tomando para si o papel de quarta força no país, os axadrezados também passaram a frequentar a Recopa Europeia e a Copa da Uefa.

Depois de uma queda de desempenho nos anos 1980, o Boavista voltou às manchetes a partir de 1989. Sob o comando de Manuel José, técnico que fez fama também no Al-Ahly-EGI, os alvinegros chegaram por duas vezes em terceiro no Campeonato Português e levantaram mais duas Taças de Portugal. Na Copa da Uefa de 1991-1992, alcançaram um feito enorme ao eliminarem na primeira fase a Internazionale de Matthäus, Brehme e Zenga. Tempos em que o Boavista revelava bons valores, como João Pinto e Nuno Gomes, futuras estrelas da seleção portuguesa.

 

O desmanche que possibilitou a mudança

Erwin Sánchez foi um símbolo no Bessa.
 

 

O primeiro passo para a afirmação do Boavista como uma força de Portugal pode ser considerado a conquista da Taça de Portugal de 1996-1997. Após cinco anos sem conseguir se meter entre o trio, os Panteras eliminaram Sporting e Benfica na campanha vitoriosa. Na decisão contra os benfiquistas, valeu a qualidade do craque daquele time: Erwin Sánchez, o “Platini dos Andes”. O meia boliviano marcou dois gols, e, depois de cinco anos estrelando os alvinegros, acabou contratado justamente pelo Benfica na temporada seguinte.

O título, porém, levou ao desmanche na temporada seguinte. O elenco perdeu seus principais destaques ofensivos. Além de Sánchez, também foram vendidos Hasselbaink, que marcara 20 gols no Portuguesão 1996-1997, e Nuno Gomes, seu principal parceiro no ataque, autor de 15 tentos. E o impacto nos resultados foi evidente. Eliminados pelo Shakhtar Donetsk-UCR logo na segunda fase da Recopa Europeia, os axadrezados fizeram um primeiro turno horrível na liga, fechando a metade inicial da campanha em 13º e flertando com o rebaixamento.

O insucesso abriu as portas para a mudança. Jaime Pacheco foi contratado como técnico em dezembro de 1997. Meio-campista da seleção portuguesa e campeão europeu pelo Porto em 1987, o veterano tinha começado sua carreira como treinador quando ainda atuava. Após pendurar as chuteiras em 1995, teve seu trabalho mais relevante no Vitória de Guimarães, mas nada que desse tanto respaldo assim. A chegada ao Boavista era uma aposta para ocupar a lacuna deixada desde a saída de Manuel José em 1996, e que não foi preenchida por Mário Reis, apesar da conquista da Taça de Portugal.

O técnico Jaime Pacheco.
 

 

Além disso, outra mudança significativa nos bastidores do Boavista aconteceu em 1997. João Loureiro herdou a presidência do pai, Valentim Loureiro, que estava no poder desde 1978. Militar e empresário, Valentim era defensor da ideia de montar a equipe a partir da venda dos jogadores do time. E o crescimento dos alvinegros em suas mãos o beneficiou politicamente, assumindo a presidência da Liga Portuguesa de 1989 a 1994, retornando ao cargo em 1996 – em um movimento que contou também com o apoio do Porto, visando descentralizar o controle de Lisboa. João assumiu a chefia para potencializar ainda mais os trabalhos do pai, que seguia próximo ao clube.

 

O início dos sucessos

A partir de 1998, os resultados do Boavista em campo melhoraram exponencialmente. Sob as ordens de Pacheco, os axadrezados venceram 13 de seus últimos 20 jogos pelo Campeonato Português. Em uma recuperação enorme, conseguiram subir dez posições na tabela e terminaram a campanha com o sexto lugar. Ainda não era o patamar sonhado pelo clube, mas já bastante satisfatório pelo cenário que se desenhava. Irmão de Abedi Pelé, o atacante Kwame Ayew foi o grande destaque da equipe com 16 gols marcados. Além disso, o técnico reforçou bastante a defesa. No gol, se firmava Ricardo, que aos 22 anos fazia sua primeira temporada como titular.

Para a temporada seguinte, o Boavista manteve as fórmulas já conhecidas no clube: apostar nas categorias de base e buscar jogadores em equipes portuguesas menores. Mais importante foi o tempo que Pacheco teve para realizar o seu trabalho e manter a sequência alcançada em seus primeiros meses. Desta vez, para a tabela do Campeonato Português refletir bem o crescimento dos alvinegros. Mesmo oito pontos atrás do Porto, o Boavista foi vice-campeão em 1998-1999, chegando até a liderar o certame por três rodadas. Contra os grandes, os Panteras bateram nos portistas dentro do Estádio das Antas, uma rodada antes de derrotarem o Benfica.

Alguns nomes importantes daquela geração já assumiam o protagonismo do time. Embora Ricardo tenha sido reserva do camaronês William Andem no gol, referências como Pedro Emanuel, Jorge Couto e Rui Bento estavam no grupo. Erwin Sánchez, que não vingou no Benfica, também voltou. E o time deixava bem claras as características do comando de Pacheco: a força nos jogos dentro de casa e a solidez defensiva. Os alvinegros ganharam 13 dos 17 jogos que disputaram no Estádio do Bessa. Além disso, sofreram apenas 29 gols em 34 jogos, donos da segunda melhor defesa, atrás apenas do campeão Porto.

O goleiro Ricardo catapultou seu espaço na seleção portuguesa muito por causa de suas atuações pelo Boavista.
 

 

Já em 1999-2000, o título esteve longe dos sonhos do Boavista. Classificado para a Liga dos Campeões da UEFA, o clube seguiu com a política de não gastar em contratações. E a manutenção do elenco não garantiu a consistência esperada. Na competição europeia, os Panteras acabaram na lanterna de seu grupo, que também contava com Rosenborg-NOR, Feyenoord-HOL e Borussia Dortmund-ALE. No Campeonato Português, por sua vez, oscilaram demais ao longo da campanha e não foram além do quarto lugar, com o Sporting levantando a taça.

 

O trabalho de estruturação e gastos baixos

Um passo importante para o Boavista em 2000-2001 foi a conclusão das obras de infraestrutura nas quais o clube tinha investido nos anos anteriores. O dinheiro da venda dos destaques do time tinham sido destinados para cobrir a construção de um moderno centro de treinamentos. O complexo esportivo do Bessa foi inaugurado em agosto de 2000, contando também com um estádio e um centro comercial para gerar lucros. “E como já teremos feitos todos os investimentos em termos de estruturas, podemos canalizar muito mais receitas para o futebol e vamos estar mais próximos dos grandes”, declarou João Loureiro à época.

O dirigente cumpriu a promessa, mas manteve a diretriz de observar bem o mercado sem gastar muito nas transferências. Sobretudo, buscando jogadores brasileiros pouco conhecidos, tática que se tornou praxe entre as equipes médias portuguesas. Naquela temporada, chegaram aos Panteras nomes essenciais para terminar de formar o elenco campeão e também para repor algumas perdas, em especial a do romeno Ion Timofte, destaque do meio-campo ao longo da década de 1990 que tinha se aposentado.

Para a defesa, vieram Mário Loja, Rui Óscar, Erivan e Nuno Frechaut – que despontou no Vitória de Setúbal como um dos melhores defensores do futebol local. Trazido do Gil Vicente, Petit chegou para tomar conta do meio-campo com apenas 23 anos. Já no ataque, os artilheiros passariam a ser dois brasileiros: Duda, um dos primeiros jogadores do Corinthians Alagoano a rumar para Portugal, e Elpídio Silva, promessa frustrada do Atlético Mineiro que tinha feito boa passagem pelo Braga. Uma legião de desconhecidos mesmo para o público que não acompanhava tão de perto o Campeonato Português, mas que veio bater de frente com os estrelados elencos do trio de ferro. 

Então campeão, o Sporting tinha perdido o volante Aldo Duscher para o Deportivo de La Coruña-ESP, mas contava com Schmeichel, Rui Jorge, André Cruz, Paulo Bento e João Pinto, em um grupo ainda muito forte. O Porto também tinha sentido demais a venda de Jardel, o melhor jogador do futebol português naquele momento, para o Galatasaray. Trouxe o atacante Pena para o seu lugar, artilheiro do time que via Deco despontar. Já o Benfica, em um período de entressafra depois de faturar alto com a ida de Nuno Gomes na Fiorentina, contava com Van Hooijdonk e João Tomás carregando o ataque nas costas.

 

Um time com os traços de seu treinador

Martelinho: fundamental na campanha do título.

 

 

Quando era jogador, Jaime Pacheco ficou conhecido por seu um volante sem muitos predicados técnicos, mas de grande dedicação. E foi assim que o técnico moldou o Boavista para ser campeão. O comandante disciplinador se aproximou dos atletas para montar um time sólido, com muita força defensiva e um jogo mais vertical com a bola. Por mais que o esquema 4-3-3 sugerisse uma aptidão ao ataque, a dedicação defensiva era fundamental. Foi suficiente para conquistar o Campeonato Português, em uma temporada em que os grandes demoraram muito tempo para resolver seus problemas internos.

A virtude na defesa é muito bem traduzida em números: o Boavista sofreu apenas 22 gols em 34 rodadas do Portuguesão. Nos 17 jogos em casa, foram somente seis tentos sofridos. Não à toa, a equipe acumulou 16 vitórias dentro do Estádio do Bessa. Uma fortaleza que tinha como principal liderança o goleiro Ricardo, o melhor de sua geração no país. Herói de Portugal especialmente na Eurocopa de 2004 e na Copa de 2006, o camisa 1 salvava a pátria com ótima elasticidade e reflexos. À sua frente, a dupla de zaga era formada por Litos e Pedro Emanuel, enquanto Frechaut era uma opção também para a cabeça de área. Já nas laterais, as opções preferidas eram Rui Óscar e Erivan.

A base do Boavista: time teve poucas mudanças ao longo da competição e foi premiado pela regularidade.
 

 

A principal referência do meio-campo era Petit. O volante era a personificação do time aguerrido do Boavista, primando também pela boa saída de bola. Ao seu lado, quem ajudava na proteção era Rui Bento, apelidado de “Pequeno Baresi”. Já a armação das jogadas e o toque de classe era garantido por Erwin Sánchez. Dono de uma ótima visão de jogo e boa precisão nos passes, o boliviano anotou oito gols ao longo da campanha. No ataque, Duda era o ponta esquerda e aparecia bastante para concluir, sendo o vice-artilheiro do time com 10 gols. Do outro lado, porém, Martelinho se consagrou por anotar os tentos mais importantes. E o principal encarregado de mandar as bolas para as redes era Elpídio Silva, que somou 11 gols, ainda que tivesse a sombra de Whelliton na posição.

 

O domínio na tabela, apesar das suspeitas

O Boavista demorou um pouco a demonstrar que realmente poderia ficar com a taça do Portuguesão em 2000-2001. A derrota para o Braga na quarta rodada derrubou o time para a sexta colocação, em uma recuperação que se iniciaria no jogo seguinte contra o Benfica, com o triunfo por 1 a 0. Mas, embora o time fizesse a sua parte no Estádio do Bessa, a falta de vitórias fora de casa segurou a ascensão. Com Pena anotando 13 gols nas primeiras 11 rodadas, o Porto era o time a ser batido.

E foi justamente vencendo o dérbi municipal que o Boavista conseguiu se alçar ao primeiro lugar. Martelinho marcou o gol decisivo em um jogo que ainda teve Deco expulso. Já na rodada seguinte, a derrota dos portistas no clássico contra o Benfica deixou os axadrezados com quatro pontos de vantagem na primeira rodada do segundo turno. A partir daquele momento, ninguém mais conseguiria tirá-los do topo.

Até a confirmação do título, o Boavista só perderia de novo para o Braga. A equipe de Jaime Pacheco segurou o 0 a 0 no reencontro com o Benfica, em Lisboa. Já contra o Sporting, Martelinho se consagraria como o autor dos gols decisivos, garantindo a vitória por 1 a 0 no Bessa aos 44’ do segundo tempo. Na penúltima rodada, uma antes da visita ao Porto no Estádio das Antas, os Panteras lideravam com quatro pontos de vantagem. Precisariam vencer em casa o já rebaixado Desportivo Aves para evitar a “decisão” na casa dos adversários. Sem maiores problemas: 3 a 0 para os alvinegros, com Elpídio Silva e Whelliton decidindo. Com a faixa no peito, o Boavista foi goleado por 4 a 0 pelos portistas com três gols de Deco. Um tropeço que não servia mais para derrubar o time da liderança, com um ponto de vantagem.

Houve, entretanto, quem questionasse o título do Boavista. A maioria dos torcedores adversários reclamou de uma complacência da arbitragem nos jogos dos axadrezados. Uma suspeita reforçada principalmente pela importância dos ex-dirigentes do clube nos quadros do futebol português. Além de Valentim Loureiro, que presidia a liga, também estavam em posições privilegiadas Pinto de Sousa (Conselho de Arbitragem) e Ângelo Brou (vice-presidente da federação). Nada que fosse comprovado ou que tirasse os méritos da equipe de Pacheco na campanha vitoriosa.

 

 

Mais duas temporadas em alta. E só

Classificado para a Liga dos Campeões mais uma vez, o Boavista preferiu manter suas forças a fazer extravagâncias no mercado. O clube não conseguiu segurar todos os seus destaques, como Litos, vendido ao Málaga-ESP. Todavia, a base foi mantida e os alvinegros foram buscar outros jogadores a baixo custo – a maioria no futebol brasileiro, entre eles Ávalos e Paulo Turra. Tanto que o principal reforço era o atacante Márcio Mixirica, então no Galatasaray-TUR.

Mesmo sem gastar, o Boavista foi além das expectativas na Champions. Classificou-se em um grupo que também tinha Liverpool-ING, Borussia Dortmund-ALE e Dynamo Kiev-UCR. Já na segunda etapa, acabou atrás de Manchester United-ING e Bayern München-ALE. E no Portuguesão os axadrezados ficaram com mais um vice-campeonato. Apesar da liderança no início da campanha, o time não conseguiu acompanhar o ritmo do Sporting, que buscou Jardel em Istambul e viu o artilheiro anotar 42 dos 74 gols da equipe na temporada.

Eram os últimos momentos de glória do Boavista. A debandada em 2002-2003 foi liderada por Petit – que disputou a Copa de 2002, acompanhado por Ricardo e Frechaut. Os Panteras caíram nas preliminares da Champions, eliminados pelo Auxerre-FRA, mas compensaram na Copa da Uefa. Deixando pelo caminho Paris Saint-Germain-FRA, Hertha Berlim-ALE e Málaga-ESP, os portugueses foram eliminados apenas nas semifinais, contra o Celtic-ESC. Perderam a chance de desafiar o Porto de José Mourinho na decisão. O esforço no torneio continental, porém, atrapalhou a campanha no Campeonato Português. A equipe foi apenas a 10ª colocada, com a metade dos pontos do Porto. Pacheco deixou o comando técnico naquela mesma temporada.

 

Da terceira divisão ao retorno pela justiça

A partir daquele momento, era impossível competir com o trio de ferro. Por mais que economizasse nas contratações, o Boavista tinha dado um passo muito maior do que as pernas. Desde 1997, o orçamento do time tinha aumentando de 3,5 para 12,5 milhões de euros. Já a ampliação do Estádio do Bessa para receber a Eurocopa de 2004 causou um rombo nos cofres dos alvinegros que se tornou irreversível em curto prazo.

A sangria definitiva no elenco aconteceu em 2004, com as aposentadorias de Erwin Sánchez e Jorge Couto, além das vendas de outros destaques, como Ricardo, Elpídio Silva e Bosingwa – firmado entre os titulares a partir do ano anterior. Quem se aproveitava da situação eram justamente os três grandes, que se dividiam nas compras. Desde então, o Boavista não foi além do sexto lugar no Campeonato Português. E as desgraças se acumulavam fora de campo.

Valentim Loureiro foi um dos implicados pelo escândalo do “Apito Dourado”, condenado a quatro anos de prisão. Por tentar coagir e subornar árbitros na temporada de 2003-2004, o Boavista foi rebaixado à segunda divisão em 2007-2008. Praticamente falido, o clube ainda cairia à terceirona no ano seguinte. E o retorno à elite só foi conquistado por via administrativa passando diretamente da 3ª para a 1ª divisão em 2014, curiosamente com Petit como treinador.

Mesmo cumprindo a primeira instância, os alvinegros recorreram à punição que decidiu o seu rebaixamento e venceram nos tribunais. Além disso, tiveram que quitar suas dívidas trabalhistas e fiscais para serem aceitos na primeira divisão. Atualmente, o Boavista mantém sonhos bem mais realistas do que na virada do século: passar longe da zona da degola. Um objetivo que certamente orgulha a torcida axadrezada, que não deixou de acompanhar o time mesmo nos momentos mais difíceis. E espera ver algum dia um novo esquadrão capaz de bater de frente com o trio de gigantes do país.

 

Os personagens:

Ricardo: começou a carreira no modesto Montijo e chegou ao Boavista em 1995. Ficou até 2003, disputou mais de 200 partidas pelo clube e herdou a titularidade de Vítor Baía na Seleção Portuguesa da virada do milênio. Com reflexos apurados e muito regular, foi um dos principais arqueiros do país e fundamental na conquista do título nacional dos axadrezados. Disputou duas Eurocopas e uma Copa do Mundo por Portugal, em 2006, esta com grandes atuações e memoráveis defesas durante a campanha dos lusos. 

Rui Óscar: foi absoluto na lateral-direita do clube e referência no setor defensivo. Compensava a baixa estatura com muita força e velocidade, além de levar perigo nos chutes de fora da área. Teve uma boa passagem pelo Marítimo.

Frechaut: o defensor jogou de 2000 até 2005 no Boavista e foi um dos mais versáteis jogadores daquele time campeão. Podia atuar na lateral-direita, no miolo de zaga e também no meio de campo, como volante. Suas atuações pelos axadrezados renderam algumas convocações para a Seleção Portuguesa.

Litos: formado nas categorias de base do Boavista, foi outro jogador muito importante para a força defensiva do time na campanha do título português. Mostrou bastante entrosamento com Pedro Emanuel e integrou a seleção olímpica de Portugal nos Jogos de 1996. Foi o grande líder do time e esbanjava raça em campo. Após sete anos no Boavista, passou pelo futebol espanhol e também pelo austríaco.

Pedro Emanuel: outra grande referência defensiva do Boavista, contrastava com Litos em campo por ser mais tranquilo que o companheiro de zaga. Era eficiente no desarme e na colocação. Após brilhar no clube, foi para o rival Porto e também se destacou no grande time multicampeão nacional e europeu dos anos 2000.

Erivan: o brasileiro foi titular na lateral-esquerda e completava o paredão defensivo dos axadrezados. Chegou em 2000 e ficou até 2003 no clube portista, mas nunca ganhou a simpatia da torcida, que criticava sua irregularidade e erros de passes. 

Quevedo: era titular na lateral-esquerda, mas se lesionou e perdeu boa parte da temporada do título português. Jogou de 1997 até 2001 no Boavista. Podia atuar, também, no meio de campo.

Petit: ótimo na marcação, nos passes e nas roubadas de bola, o “Pitbull” era o principal nome do meio de campo do Boavista campeão português. Incansável, era o responsável pela ligação entre a defesa e o ataque. Embora tenha nascido na França, mudou-se ainda criança para Portugal e construiu sua carreira inteira no futebol português, com apenas uma breve passagem pelo futebol alemão entre 2008 e 2012.

Rui Bento: experiente, com boa técnica e apto para jogar também no miolo de zaga, Rui Bento ajudava Petit na marcação do meio de campo e dava segurança à defesa. Jogou quase uma década no clube axadrezado e ganhou breves convocações para a seleção portuguesa.

Erwin Sánchez: grande finalizador, com boa visão de jogo e habilidoso, o “Platini Boliviano” foi um dos principais nomes do ataque axadrezado, com passes precisos e gols decisivos. Viveu a melhor fase da carreira exatamente no Boavista. Pela seleção boliviana, marcou 15 gols em 57 jogos e também o único gol da Bolívia em uma Copa do Mundo, na derrota por 3 a 1 para a Espanha, no Mundial dos EUA em 1994.

Martelinho: jogou praticamente a carreira inteira no Boavista e usava e abusava da velocidade pelas pontas para abrir espaços nas zagas rivais e dar passes ou mesmo marcar gols, vários decisivos, como no dérbi contra o Porto. Atuou no Boavista de 1993 até 2005. 

Elpídio Silva: com 11 gols em 21 jogos, o brasileiro atuava mais centralizado no ataque axadrezado e se destacava pelo porte físico e boa colocação dentro da área. Começou no Atlético Mineiro e passou também pelo futebol asiático.

Whelliton: atacante brasileiro, atuou em alguns jogos da campanha do título nacional, mas não foi titular absoluto. Começou a carreira no Santos e passou pelo futebol goiano e alagoano antes de chegar ao Boavista, em 1999.

Duda: outro brasileiro do time, Duda atuava mais aberto no ataque, pela esquerda, e foi o vice-artilheiro do time com dez gols. Era bom na conclusão a gol e viveu grande fase na temporada 2000-2001.

Jaime Pacheco (Técnico): mesmo identificado com o Porto por causa de seus tempos de jogador, Pacheco não deixou o torcedor do Boavista lembrar daquele passado graças ao seu trabalho no comando técnico dos axadrezados. Explorando a força defensiva e a organização do meio de campo, o técnico conseguiu um feito histórico com aquele título de 2001, algo que não era visto no futebol português desde os anos 1940. Pacheco treinou o Boavista de 1997 até 2003.

 

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Comentários encerrados

4 Comentários

  1. Texto espetacular, parabéns!

    Boavista é o time que eu mais simpatizo em Portugal até hoje, devido a este título, a antipatia minha pelo Porto e pala belíssima camisa axadreizada.

    Em relação ao rebaixamento, até hoje as coisas estão mal explicadas, pois o Porto também estava envolvido no escândalo e não sofreu tal punição, foi como atacar a “formiga” com uma bazuca e o elefante com bala de chumbinho.

  2. Tem aí algumas coisas que devem ser retificadas:

    – Marco Aleixo nunca foi jogador do Boavista FC. Talvez quisesse dizer Mário Loja.

    – O escândalo de arbitragem que houve em Portugal em 2004 chamou-se “Apito Dourado” e não “Apito de Ouro”.

    – Em 2014, o Boavista não conseguiu o acesso à Segunda. Eles subiram à Primeira por via administrativa e passaram diretamente da 3ª para a 1ª em 2014, com Petit, esse mesmo, a treinador.

    Cumprimentos.

Esquadrão Imortal – Chelsea 2011-2013

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