Nascimento: 11 de Novembro de 1983, em Munique, Alemanha.
Posições: Lateral-Direito, Lateral-Esquerdo e Volante
Clubes: Bayern München-ALE (2002-2017) e Stuttgart-ALE (2003-2005 empréstimo).
Principais títulos por clubes: 1 Mundial de Clubes da FIFA (2013), 1 Liga dos Campeões da UEFA (2012-2013), 1 Supercopa da UEFA (2013), 8 Campeonatos Alemães (2005-2006, 2007-2008, 2009-2010, 2012-2013, 2013-2014, 2014-2015, 2015-2016 e 2016-2017), 6 Copas da Alemanha (2005-2006, 2007-2008, 2009-2010, 2012-2013, 2013-2014 e 2015-2016), 3 Supercopas da Alemanha (2010, 2012 e 2016) e 1 Copa da Liga Alemã (2007) pelo Bayern München.
Principais títulos por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (2014) pela Alemanha.
Principais títulos individuais:
Silberne Lorbeerblatt – mais alta distinção esportiva concedida pelo Governo da Alemanha: 2006, 2010 e 2014
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 2006, 2010 e 2014
Eleito para o Time do Ano da UEFA: 2006, 2008, 2012, 2013 e 2014
Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 2008 e 2012
Eleito para o Time do Ano da ESM: 2013 e 2014
2º Melhor Jogador do Mundial de Clubes da FIFA: 2013
FIFA FIFPro World XI: 2013 e 2014
Eleito para o Time do Ano da Liga dos Campeões da UEFA: 2013-2014
UEFA Ultimate Team of The Year: 2015
Eleito para a Seleção de Todos os Tempos da Eurocopa: 2016
Futebolista do Ano da Alemanha: 2017
Cidadão Honorário de Munique: 2019
Eleito para o Time da Década do Mundo 2011-2020 da IFFHS
Eleito para o Time da Década da Europa 2011-2020 da IFFHS
Eleito para o 3º Time dos Sonhos do Ballon d’Or da revista France Football: 2020
Eleito para a Seleção dos Sonhos da Alemanha do Imortais: 2020
“Lahmteral completo”
Por Guilherme Diniz
Com uma técnica apurada e privilegiada, ele se sobressaía nas categorias de base do Bayern nos anos 1990. Naquele início, criava jogadas pelo meio e, aos poucos, foi recuando para as laterais, sendo apto a atuar tanto pela direita quanto pela esquerda. Quando conseguiu uma vaga entre os profissionais do Bayern, logo foi emprestado ao Stuttgart, algo que certamente deixaria outro jogador bravo e desmotivado por ser jogado para escanteio. Só que ele agarrou aquela oportunidade para amadurecer e crescer. Retornou ao seu clube do coração e provou seu valor. E, em 2006, fez seu debute em uma Copa do Mundo marcando um golaço logo na estreia da Nationalelf.
De fato, ele não era um jogador comum. Era especial. Ano a ano foi vencendo títulos tanto pelo Bayern quanto individuais até alcançar o auge entre 2013 e 2014, quando venceu o Treble que apagou o drama da perda do título europeu em casa para o Chelsea, em 2012, e capitaneou a Alemanha rumo ao tetra na Copa do Mundo de 2014. Líder, profissional, craque, completo. Um jogador que jamais foi expulso em toda a carreira. Eleito para três All-Star Teams de Copas do Mundo (2006, 2010 e 2014), recorde restrito apenas a ele, Djalma Santos e Franz Beckenbauer. Um impecável lateral-direito e um estupendo lateral-esquerdo. O Lahmteral perfeito. Philipp Lahm cravou seu nome na história como um dos melhores laterais de todos os tempos. Isso não é exagero algum. Afinal, você encontrará dificuldades para listar quantos laterais ao longo da história conseguiam jogar com perfeição nos dois lados do campo e ainda “tirar onda” no meio de campo. É hora de relembrar.
Sumário
Respirando futebol
Nascido em Munique, Lahm dificilmente teria outro esporte que não fosse o futebol em sua vida. Ele cresceu nos arredores do belo estádio Olímpico da cidade, palco da conquista da Copa do Mundo de 1974 da Alemanha e de tantos títulos do lendário Bayern dos anos 1970. Com apenas cinco anos, chutou suas primeiras bolas no FT Gern, um clube poliesportivo da cidade onde seu pai costumava jogar. “Eu ainda me lembro de meu primeiro gol, era garotinho, foi no dia de meu aniversário, mas meu time perdeu por 20 a 1…”, comentou o lateral. Os reveses não afetaram a competitividade do jovem, que continuou a se destacar no Gern e foi descoberto aos 11 anos por Jan Pieta, que perguntou se ele queria ir ao Bayern. Claro que o jovem aceitou, mas decidiu partir sem falar muito sobre o assunto com seus amigos, pois ele foi o único escolhido do Gern para migrar ao clube bávaro, em 1995.
Pelo Bayern, Lahm rapidamente mostrou seu talento e técnica com a bola nos pés e foi presença constante nos times juvenis dos bávaros como meia, criando jogadas de ataque e aparecendo na frente como opção para finalizar ao gol. Por sua personalidade e dedicação, ganhou até a braçadeira de capitão das equipes de base, venceu títulos, e, com 17 anos, já estava no time II do Bayern, conhecendo nesse período seu futuro companheiro de profissionais, o meio-campista Bastian Schweinsteiger, que seria integrado ao time profissional na mesma temporada que Lahm (2002-2003).
No time II do Bayern, Lahm foi alçado à posição de capitão pelo técnico Hermann Gerland, que disse que o jovem era o mais talentoso jogador que ele havia treinado na carreira. Também pudera, pois ele já começava a atuar mais recuado com igual qualidade, ora na direita, ora na esquerda, tomando gosto por ajudar na saída de bola e iniciar jogadas pelas laterais. Lahm começou a espelhar sua carreira no compatriota Mehmet Scholl, meio-campista campeão da Eurocopa de 1996 pela Alemanha e presença constante no Bayern dos anos 1990. Depois, ficou atento ao estilo de jogo consagrado do lateral Paolo Maldini, um dos maiores de todos os tempos na posição, e tomou o italiano como modelo a ser seguido. Não demorou muito para o então técnico do time principal dos bávaros na época, Ottmar Hitzfeld, chamar o garoto para o elenco profissional. Enfim, Lahm ganhava a chance definitiva de se firmar no elenco A. Bem, isso foi o que ele imaginou…
O empréstimo que veio para o bem
Lahm foi integrado ao Bayern na temporada 2002-2003, e fez sua estreia no estádio que ele tanto sonhou na juventude, o Olímpico de Munique, no empate de 3 a 3 contra o Lens-FRA pela fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA, entrando nos minutos finais da partida no lugar de Markus Feulner. Embora nutrisse grandes expectativas e tivesse o apoio de vários membros das comissões técnicas dos times juvenis por seu desempenho fantástico, Lahm não teria espaço naquele time. O Bayern vinha de grandes glórias tanto em casa quanto na Europa, em especial com os títulos da Liga dos Campeões da UEFA de 2000-2001 e do Mundial de 2001, e para as laterais o técnico Hitzfeld já contava com os titulares Sagnol e Lizarazu, além de ter várias peças para o meio de campo, incluindo os recém-contratados Michael Ballack, Zé Roberto e Sebastian Deisler. Com isso, o minguado jogo pela UCL foi o único do jogador naquela temporada, que acabou emprestado ao Stuttgart por dois anos.
Ao invés de ficar chateado com aquela saída abrupta, Lahm viu a oportunidade de mostrar seu valor e ter a certeza de que poderia ser titular do time comandado por Felix Magath, ex-craque da seleção da Alemanha dos anos 1980 e do Hamburgo campeão da Europa em 1983. Percebendo a técnica que Lahm tinha na perna direita, Magath decidiu escalar o jovem na lateral-esquerda, para aproveitar os chutes em diagonal e cruzamentos do lateral. A tática deu certo e Lahm disputou 31 jogos na Bundesliga, marcando seu primeiro gol na goleada de 5 a 1 sobre o Freiburg, em abril de 2004. Com uma consciência tática impressionante para um jovem de 20 anos, muita regularidade, técnica e velocidade, Lahm ficou em 2º lugar na eleição do Futebolista do Ano na Alemanha de 2004, atrás apenas do brasileiro Aílton, artilheiro com 28 gols e campeão da Bundesliga de 2003-2004 pelo Werder Bremen.
Ainda em 2004, Lahm foi convocado pela primeira vez à seleção principal da Alemanha pelo técnico Rudi Völler, que ficou impressionado com o jogador e suas atuações pelas seleções de base, em especial a que ficou com o vice-campeonato no Campeonato Europeu Sub-19 de 2002. Lahm estreou na vitória sobre a Croácia por 2 a 1 em 18 de fevereiro de 2004, jogando os 90 minutos e sendo eleito o homem do jogo pela prestigiada revista Kicker. O lateral marcou presença, também, na equipe que disputou a Eurocopa de 2004 e foi o lateral-esquerdo titular da Alemanha em todos os jogos da fase de grupos. Porém, a Nationalelf acabou eliminada após empates contra Holanda (1 a 1) e Letônia (0 a 0) e derrota por 2 a 1 para a República Tcheca – neste jogo, Lahm foi escalado no meio de campo, pela esquerda, compondo uma linha de três ao lado de Hamann e Frings, no curioso esquema 3-3-3-1 do técnico Völler.
Lesões, a volta ao lar e primeira Copa
No início de janeiro de 2005, Lahm sofreu uma lesão no metatarso do pé direito que o tirou dos gramados por 12 semanas. Em maio, outra lesão, dessa vez no ligamento do joelho direito, que encerrou abruptamente sua passagem pelo Stuttgart, pois o empréstimo acabaria na metade daquele ano. Após passar por um intenso processo de recuperação, Lahm retornou ao futebol em novembro de 2005, primeiro pelo time B, depois na equipe principal do Bayern. Ao todo, foram 20 jogos na Bundesliga pelos bávaros na temporada 2005-2006, demonstrando a ótima recuperação do jogador e a confiança do técnico da Alemanha, Jürgen Klinsmann, que convocou o lateral para a disputa da Copa do Mundo de 2006 como titular da lateral-esquerda.
Para comprovar o moral que tinha, Lahm fez de seu debute na Copa uma ocasião especial. Dona da casa, a Alemanha disputou a partida de estreia do Mundial contra a Costa Rica e Lahm teve o privilégio de anotar o primeiro gol da Copa. E que golaço! Ele aproveitou uma sobra pela esquerda do campo de ataque, conduziu a bola até a ponta da grande área, cortou para dentro, deixou um zagueiro no chão e chutou de perna direita no ângulo do goleiro José Porras. Que pintura! Veja abaixo:
O golaço inspirou a Alemanha, que venceu por 4 a 2 e fez a festa da torcida na Allianz Arena, a então nova casa do Bayern e um dos principais estádios daquele Mundial. Na partida seguinte, vitória por 1 a 0 sobre a Polônia e Lahm foi eleito o “Man of the Match” pela FIFA. A campanha na primeira fase foi encerrada com vitória por 3 a 0 sobre o Equador, resultado que confirmou a Alemanha nas oitavas e os 100% de aproveitamento. Nas oitavas, os anfitriões despacharam a Suécia (2 a 0), e, nas quartas, eliminaram a favorita Argentina após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar e prorrogação e vitória nos pênaltis por 4 a 2.
Nas semis, a adversária foi a asa-negra Itália, no jogo mais emocionante daquele Mundial. Após 0 a 0 no tempo normal, a Azzurra fez uma prorrogação fantástica e venceu por 2 a 0, eliminando os alemães. Na disputa pelo terceiro lugar, a Alemanha venceu Portugal de Felipão por 3 a 1 (com dois gols de Schweinsteiger e Lahm atuando na lateral-direita) e ficou com o bronze. Lahm foi o único jogador da Nationalelf que disputou todos os 690 minutos jogados pela Alemanha na Copa e também eleito para o All-Star Team do Mundial! De fato, o maior torneio de futebol do planeta foi a maior vitrine para a carreira de Lahm, que já estava entre os melhores e mais destacados laterais do mundo. E tudo isso jogando com uma proteção no cotovelo esquerdo, lesionado – e operado! – dias antes da Copa em um jogo-treino. Lahm foi eleito, também, para o Time do Ano da UEFA de 2006.
Absoluto e um dos símbolos da renovação alemã
A partir da temporada 2006-2007, Lahm cravou de vez seu espaço entre os titulares do Bayern e passou a disputar no mínimo 40 partidas por temporada, ajudando o clube a vencer a Bundesliga e a Copa da Alemanha de 2007-2008. Em 2008, o lateral foi titular da Alemanha já comandada por Joachim Löw na Eurocopa, atuando como lateral-direito nos dois primeiros jogos e depois na lateral-esquerda, em substituição a Jansen, no último jogo da fase de grupos. Essa última função foi exercida por Lahm até a decisão, com Friedrich atuando na lateral-direita. Porém, a Alemanha acabou perdendo para a Espanha o título continental com derrota por 1 a 0 na final, em lance infeliz que envolveu Lahm e o goleiro Lehmann, que não se comunicaram adequadamente e deram ao atacante Fernando Torres a oportunidade de fazer o gol do caneco espanhol. Passada a decepção, Lahm recusou uma proposta do Barcelona, permanecendo fiel ao Bayern, e continuou como parte integrante daquele processo de renovação do futebol alemão como um todo.
O técnico Joachim Löw convocou para a Copa da África do Sul, em 2010, uma seleção puramente jovem e com várias promessas. Para o gol, ele levou Manuel Neuer, do Schalke 04, de 24 anos. Para a defesa, destaque para Jansen (24 anos), Badstuber (21 anos), Mertesacker (25 anos) e Jérome Boateng (21 anos), além de Lahm (26 anos), que assumiu a braçadeira de capitão após o corte de Michael Ballack. Isso fez de Lahm o mais jovem capitão da Alemanha em uma Copa do Mundo em toda a história! Para o meio de campo, Löw levou Schweinsteiger (25 anos), Khedira (23 anos), Özil (21 anos) e Kroos (20 anos). Para o ataque, os jovens da vez foram Thomas Müller (20 anos) e Mario Gómez (24 anos).
Com uma geração desconhecida para muita gente na época, o técnico tirou a responsabilidade de seus atletas e fez com que o time jogasse sem medo nem a obrigação de ser campeão – tal peso era praticamente todo da Espanha, a favorita ao troféu. Na primeira fase, os alemães começaram da melhor maneira possível e golearam a Austrália por 4 a 0, com gols de Podolski, Klose, Müller e Cacau. Na partida seguinte, contra a Sérvia, o time perdeu Klose, expulso, logo no começo do primeiro tempo, e acabou prejudicado. Com isso, a Sérvia aproveitou os espaços e venceu por 1 a 0. No último e decisivo duelo, os alemães venceram Gana por 1 a 0 (gol de Özil) e avançaram para as oitavas de final na liderança do Grupo D. Nas oitavas, show contra a Inglaterra e goleada por 4 a 1. Nas quartas, nova goleada, dessa vez contra a freguesa Argentina: 4 a 0.
Nas semis, outra vez os alemães foram vítimas da Espanha, que venceu por 1 a 0 e seguiu rumo ao título mundial. O consolo veio com o terceiro lugar após vitória por 3 a 2 sobre o Uruguai de Forlán, partida esta que Lahm não jogou por conta de uma infecção. Assim como em 2006, Lahm foi eleito para o All-Star Team da Copa, ao lado do companheiro Schweinsteiger. O técnico Joachim Löw manteve Lahm como capitão da Alemanha a partir dali, pois Michael Ballack não iria mais fazer parte dos planos do treinador para o futuro da seleção.
Aprendendo com os tropeços
Reconstruir sempre foi o mote alemão na história. E isso vale também para o futebol e para a carreira de Lahm. Os revezes seguidos pela seleção em Copas e na Euro ajudaram o lateral a amadurecer bastante e exercer de maneira plena sua liderança entre os companheiros de seleção, tirando aquele peso de obrigação pela vitória que sempre perseguiu os esquadrões da Nationalelf. Com Podolski e Thomas Müller, teve uma relação não só de união fora de campo como de talento puro dentro dele, criando jogadas e ações de ataque por ambos os lados do campo. Isso aconteceu, também, no Bayern, pelo qual Lahm começou a colecionar títulos nacionais a partir de 2009, mas viu a chance de uma glória europeia ruir por duas vezes.
A primeira foi na temporada 2009-2010, quando o Bayern alcançou a final da Liga dos Campeões da UEFA, mas perdeu por 2 a 0 para a Internazionale de Mourinho. Depois, a mais sentida, em 2011-2012, quando o Bayern superou vários titãs pelo caminho – entre eles o Real Madrid – e chegou à final em casa, na Allianz Arena, contra o Chelsea-ING. Favorito absoluto, o time bávaro vencia por 1 a 0 até os 43’ do segundo tempo, quando Didier Drogba empatou. Após a prorrogação, vieram os pênaltis e foi Lahm quem converteu o primeiro gol do Bayern. Porém, Olic e Schweinsteiger erraram e o título ficou com o Chelsea (venceu por 4 a 3), no “pai de todas as derrotas” do clube bávaro em competições europeias.
Para piorar, foi também em 2012 que Lahm viu a Alemanha ser eliminada mais uma vez em uma fase semifinal de um grande torneio, dessa vez na Eurocopa, na derrota por 2 a 1 para a Itália. “Foi uma derrota muito amarga, mas foi culpa nossa, porque cometemos alguns erros”, comentou o capitão após a partida contra a Azzurra. Questionado na época sobre a sina do “quase” que já marcava aquela geração, ele disse: “temos um potencial enorme, mas precisamos explorá-lo, porque se isso não acontecer, não vamos conquistar troféus”. E, de fato, tanto a Alemanha quanto o Bayern começaram a explorar tais potenciais.
As duas equipes passaram a usar parte da troca de passes aprendida com a Espanha aliada a precisão nas finalizações. Era preciso se impor, controlar o jogo e jamais deixar a soberba tomar conta, muito menos tirar o pé. O apetite deveria estar sempre aguçado e o faro por gols a mil. No caso do Bayern, a equipe passou a usar e abusar ainda mais das pontas do campo e a melhorar a pontaria e o poder de decidir um jogo, características que tanto faltaram na temporada 2011-2012, principalmente na final contra o Chelsea. E a temporada 2012-2013 seria um divisor de águas na carreira de Lahm e do Bayern.
Treble e Copa
A consagração do Bayern como um dos maiores esquadrões da década de 2010 aconteceu em 2012-2013. Com reforços pontuais e as principais jogadas de ataque sendo construídas pelo lado direito, com Lahm, Ribéry e Robben, o time de Munique levantou seu primeiro Treble na história com “requintes de crueldade”. Na Bundesliga, empilhou recordes – foram 29 vitórias, quatro empates, apenas uma derrota, 98 gols marcados e 18 sofridos! – e ainda enfiou impiedosos 9 a 2 no Hamburgo fora de casa, sem contar outras sete goleadas aplicadas ao longo da campanha por quatro gols ou mais. Na Copa da Alemanha, a taça veio com triunfo por 3 a 2 sobre o Stuttgart, no Estádio Olímpico de Berlim.
E a cereja no bolo foi a Liga dos Campeões da UEFA, quando a equipe alemã passou pela fase de grupos, eliminou o Arsenal-ING, nas oitavas, a Juventus-ITA, nas quartas, com duas vitórias por 2 a 0, e atropelou o temido Barcelona-ESP na semifinal com uma goleada de 4 a 0 na Allianz Arena e um 3 a 0 em pleno Camp Nou, estabelecendo a “nova ordem mundial” e encerrando de vez a hegemonia recente dos blaugranas no cenário europeu na época. Lahm disse após a partida que “foi uma grande atuação, um pouco histórica. É fantástico ganhar assim da equipe que dominou a Europa nos últimos cinco anos”, enaltecendo a classificação bávara.
Na decisão, em Wembley, não havia adversário melhor para os bávaros: o Borussia Dortmund, pedra na chuteira da equipe nos últimos anos nos torneios nacionais. E, com gols de Mandzukic e Robben, o Bayern venceu por 2 a 1 e faturou, enfim, a Velhinha Orelhuda pela 5ª vez, com o capitão Lahm erguendo o troféu. O craque comentou tempo depois que aquela final foi a partida mais complicada dentre todas as que ele disputou pelo Bayern na Liga dos Campeões.
“Na Champions, nenhuma partida é fácil. Todas foram muito complicadas, mas, pessoalmente, a mais difícil para mim foi a final de 2013, em Londres. Tínhamos muita pressão, não foi simples, o time chegava de duas derrotas em finais, a pressão era enorme realmente.” – Philipp Lahm, em entrevista publicada no globoesporte.com, 22 de fevereiro de 2016.
Após levantar o título do Mundial de Clubes da FIFA também em 2013, Lahm seguiu com a seleção da Alemanha rumo à disputa da Copa do Mundo de 2014. E, em solo brasileiro, foi o capitão da campanha histórica que rendeu o tetracampeonato à Nationalelf. Nas três partidas da fase de grupos e nas oitavas de final, o craque foi meio-campista, ajudando na marcação e também na criação de jogadas. Os europeus venceram Portugal (4 a 0), empataram com Gana (2 a 2) e venceram os EUA (1 a 0) na primeira fase e eliminaram a Argélia (2 a 1) nas oitavas. Nas quartas, Lahm voltou à lateral-direita e a Alemanha venceu a França por 1 a 0. E, na semifinal, manteve-se na posição no massacrante 7 a 1 da Alemanha pra cima dos chorões do Brasil. Aliás, Lahm revelou ao Daily Mail que a equipe europeia tirou o pé no segundo tempo.
“No intervalo, nós conversamos sobre continuar jogando apropriadamente e mostrando respeito. Todo mundo no time tomou aquela atitude no segundo tempo. Nós não queríamos nos exibir ou ridicularizar os adversários. Se acabou com uma vantagem maior, não era tudo o que queríamos. Nosso objetivo era mostrar respeito aos nossos rivais e aos fãs”.
Na final, Lahm seguiu na lateral-direita e a Alemanha venceu a Argentina por 1 a 0, no Maracanã, selando a conquista e consagrando de vez aquela geração que começou a ser formada na Copa de 2006, brilhou em 2010 e entrou para a história em 2014. Lahm conseguiu expor toda sua experiência no dia a dia daquela seleção e foi fundamental para o sucesso da Nationalelf ao lado dos também experientes Klose e Schweinsteiger. Quando chegaram ao Brasil, os alemães fugiram dos grandes centros, das capitais e até das opções de alojamento mostradas pela FIFA para buscarem um local próprio. A Federação Alemã decidiu se hospedar na comunidade de Santo André, na belíssima Santa Cruz Cabrália, na Costa do Descobrimento (BA), a 20 km de Porto Seguro e 15 km do aeroporto mais próximo.
Com praias ao redor e a tribo Pataxó como recepcionista, a delegação alemã encontrou os mais prósperos ares para treinar e se concentrar nos desafios que teria na caminhada rumo ao tetra. Simpáticos e longe de mostrarem aquele ar frio de várias nações europeias, os alemães conquistaram o povo local e, após a estadia em solo baiano, doaram 10 mil euros à comunidade Pataxó que tão solícita foi a eles. Com todo aquele clima, a retribuição do time não poderia ser outra: bom futebol, organização tática e ofensividade. Em 2014, Lahm foi mais uma vez eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo e se igualou às lendas Djalma Santos e Franz Beckenbauer como um dos únicos atletas a ser eleito para três All-Star Teams de Copas!
Últimos louros com o Bayern e aposentadoria
Após o auge pela seleção, Lahm decidiu anunciar sua aposentadoria da Nationalelf em 18 de julho de 2014, dias após a conquista do Mundial. Foram 113 jogos e cinco gols em 10 anos de serviços prestados à Alemanha. Com o foco restrito ao Bayern, Lahm desfilou suas virtudes no meio de campo na equipe comandada por Pep Guardiola. Atuando praticamente como cabeça de área, o capitão demonstrou suas qualidades com atuações fantásticas ao lado de Schweinsteiger e Xabi Alonso, algo que fez o técnico catalão rasgar elogios ao craque. “Ele é o jogador mais inteligente que eu já comandei. É simplesmente impossível jogar melhor nessa posição do que ele fez”, comentou Guardiola sobre o alemão. Líder do time, Lahm comandou o Bayern em uma impressionante sequência de cinco títulos seguidos da Bundesliga, algo inédito na história da competição.
Ele e o Bayern só derraparam nas tentativas de reconquistar a Europa, tropeçando seguidamente em 2014 (derrota para o Real Madrid nas semifinais), 2015 (derrota para o Barcelona do trio MSN, nas semis), 2016 (derrota para o vice-campeão Atlético de Madrid, nas semis) e 2017 (derrota para o Real Madrid, nas quartas de final). Em fevereiro de 2017, o craque anunciou sua aposentadoria do futebol, aos 33 anos, no mesmo ano em que venceu a Bundesliga e a Supercopa da Alemanha, levantando a Salva de Prata diante da fanática torcida na Allianz Arena, que lhe rendeu uma belíssima homenagem com cânticos, bandeirões e a idolatria plena de um capitão que honrou as cores do Bayern e foi um símbolo de anos inesquecíveis em Munique. A precoce aposentadoria pegou a todos de surpresa, mas Lahm foi sincero ao dizer que a rotina dos treinamentos já lhe cansava e que sentia falta de aproveitar mais a vida e a família. E preferiu pendurar as chuteiras por cima, multicampeão, consagrado, como vários grandes craques já fizeram. Ele deixou o Bayern após 517 jogos, 16 gols e 21 títulos.
Para sempre entre os melhores
Capitão do Bayern entre 2011 e 2017, da Alemanha entre 2010 e 2014 e sem jamais ter levado um único cartão vermelho em toda a carreira – isso por ser um jogador de defesa! -, Philipp Lahm já está na história como um dos maiores laterais de todos os tempos e também um dos mais polivalentes jogadores do futebol. Seus títulos, seu profissionalismo e sua regularidade foram exemplares e um norte para os jovens atletas alemães que buscam repetir a trajetória do garoto de Munique que conquistou praticamente tudo no futebol e também fora dele, incluindo honrarias do Governo Alemão como a Silberne Lorbeerblatt, mais alta condecoração esportiva do país. Além disso, ser eleito entre os melhores de três Copas diferentes, sendo duas como lateral e uma como meio campista, é algo impressionante e raríssimo, mas digno de um craque imortal.
Números de destaque:
Disputou 517 jogos e marcou 16 gols pelo Bayern München. É o 8º jogador com mais partidas pelo clube na história.
Disputou 113 jogos e marcou 5 gols pela Alemanha. É o 5º jogador com mais partidas pela seleção na história.
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Parabéns aos imortais do futebol, pelas postagens do futebol mundial e quando vai colocar esquadrão imortal palmeiras 2015-2020
Obrigado! Vamos esperar mais um pouco e ver até onde esse Palmeiras vai chegar! 😉
Ótimo trabalho Imortais. E aí que tal o desafio: qual o melhor lateral direito alemão de todos os tempos – Phillip Lahm, Manfred Kaltz ou Berti Vogts?
Vixe… Ambos foram fantásticos, mas fico com o Lahm!
A postura dele como capitão na final em Munique em 2012 foi algo exemplar. Um dos grandes da história. Ótimo texto!
Imortais, você se lembra do texto “5 lendários futebolistas do Bayern München” que está na seção “Curiosidades Históricas”? Lá tem 5 ícones bávaros e o Philipp Lahm era quem estava faltando na galeria dos craques. Que bom que você não demorou a colocá-lo no rol dos imortais. Polivalente, talentoso, técnico… Tinha que ser craque imortal, não é mesmo?
Parabéns, Guilherme! E, claro, que venham mais craques imortais! Abraço!