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Craque Imortal – Josef Masopust

Foto: Zdenek Havelka / AP

Nascimento: 09 de fevereiro de 1931, em Strimice, Tchecoslováquia. Faleceu em 29 de junho de 2015, em Praga, República Tcheca. 

Posição: Meio-campista

Clubes: Technomat Teplice-TCH (1950-1952), Dukla Praga-TCH (1952-1968) e Crossing Molenbeek-BEL (1968-1970).

Principais títulos por clubes: 8 Campeonatos Tchecoslovacos (1953, 1956, 1957–58, 1960–61, 1961–62, 1962–63, 1963–64 e 1965–66), 3 Copas da Tchecoslováquia (1960–61, 1964–65, 1965–66), 1 International Soccer League (1961) e 3 American Challenge Cups (1962, 1963 e 1964) pelo Dukla Praga.

Principais títulos por seleção: 1 Copa Internacional da Europa Central (1955-1960) e 1 Vice-campeonato da Copa do Mundo da FIFA (1962) pela Tchecoslováquia.

Principais títulos individuais: 

Ballon d’Or: 1962

Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1962

Bola de Prata da Copa do Mundo da FIFA: 1962

Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 1960

World Soccer World XI: 1962 e 1964

Futebolista do Ano da Tchecoslováquia: 1966

UEFA Golden Player: 2003

FIFA 100: 2004

UEFA President’s Award: 2014

 

“Cerebral e Eterno”

Por Guilherme Diniz

 

Um dos mais talentosos jogadores do século XX e tido como maior jogador tchecoslovaco de todos os tempos, Josef Masopust foi um craque incontestável que marcou época com um futebol primoroso. Atuando majoritariamente pelo lado esquerdo do meio de campo, Masopust municiava os atacantes com passes precisos, distribuía bem a bola, iniciava contra-ataques e ainda protegia o miolo central com eficiência na marcação e desarmes precisos. Jogador extremamente moderno para sua época, conquistou a marca de oito títulos nacionais pelo Dukla Praga, maior esquadrão do país nos anos 1950 e 1960, levantou três copas nacionais e, de quebra, a Bola de Ouro da France Football de 1962. Naquele ano, inclusive, o craque conduziu a seleção tcheca à final da Copa do Mundo e marcou um gol na decisão, mas sua equipe acabou com o vice diante do forte Brasil de Garrincha. É hora de relembrar a carreira dessa lenda tcheca.

Refúgio no esporte

Foto: Keystone/Getty Images

 

Nascido em Střimice, um pequeno vilarejo na então Tchecoslováquia (atualmente parte da República Tcheca), Masopust teve uma infância marcada pelas dificuldades econômicas e pelo impacto da Segunda Guerra Mundial. Filho de uma família humilde, desde cedo ele se interessou por futebol, jogando nas ruas e campos locais – quando existiam, quando não, em meio aos escombros. A paixão pelo esporte foi um refúgio das dificuldades do cotidiano e ele conseguiu escapar do serviço militar no período da guerra graças à pouca idade – quando a Guerra terminou, ele tinha 14 anos. 

A carreira de Masopust no futebol começou em clubes menores, onde ele rapidamente se destacou devido à sua habilidade técnica, visão de jogo e capacidade de abrir espaços nas zagas rivais. Sua dedicação e talento chamaram a atenção de clubes maiores, levando-o a ingressar no ZSJ Technomat Teplice em 1950, quando tinha 19 anos. Mas, já em 1951, o meio-campista foi convocado para o serviço militar e passou a jogar no time do exército, na época chamado de ATK Praga, rebatizado como ÚDA Praga em 1953 até virar Dukla Praga no inverno de 1956. Embora tenha jogado por pouco tempo no Teplice, Masopust marcou 10 gols em 54 jogos vestindo a camisa do clube e, no Dukla, passou a sofrer com a indiferença dos torcedores de outros clubes pelo fato de o Dukla “roubar” jogadores jovens de outras equipes por causa dessa obrigatoriedade do serviço militar. 

Foto: CTK / Alamy

 

A transferência de Masopust, aliás, foi uma das mais notáveis do Dukla naquele começo de anos 1950. Mesmo tão novo, o meio-campista era visto como um dos grandes talentos da Tchecoslováquia. Pepik, como também era conhecido, tinha ótima visão de jogo, precisão nos passes, voracidade para tomar conta da meia-cancha. Por isso mesmo, era um dos destaques do Teplice, equipe que passara pelo controle de várias indústrias estatais. O problema é que o ATK queria Masopust. E ninguém poderia fazer nada contra o artifício do exército. 

O prodígio foi convocado para o serviço militar aos 21 anos e se juntou à equipe de Kolsky. Masopust passou a ser repudiado por torcedores de vários clubes, não só do Teplice – algo que só mudaria com seus serviços prestados à seleção a partir de 1954, ano de sua primeira convocação, na derrota para a Hungria por 4 a 1. A partir dali, a carreira do cerebral meio-campista mudaria para sempre.

 

Dominando o país e shows pela seleção

Masopust (ao fundo) e Pluskal. Foto: CTK / Alamy

 

Pelo Dukla, Masopust rapidamente virou titular e ajudou a equipe a vencer o campeonato nacional de 1953, quando o Dukla perdeu apenas um jogo. Jogando ao lado de Pluskal, outro jogadoraço daquele time, Masopust ditava o ritmo e era o grande termômetro do Dukla nas partidas. Aliás, o próprio Pluskal definiu bem o companheiro certa vez: “Não importava quem era o adversário, Masopust sempre se destacou. Ele nunca deu um chutão na bola, sempre jogava com passes curtos e tabelas até que os espaços se abrissem. Então, ele iria destruir. Passava um, dois, três adversários, um depois do outro, como se fossem cones nos treinos. Era um jogador incrível”.

Entre 1956 e 1958, o craque faturou mais dois títulos nacionais e foi convocado para a seleção que disputou a Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Na estreia, pelo Grupo 1, a Tchecoslováquia acabou perdendo para a Irlanda do Norte por 1 a 0 e, no duelo seguinte, empatou em 2 a 2 com a então campeã Alemanha, resultado que obrigou o time tchecoslovaco a derrotar a Argentina na última partida e torcer por uma combinação de resultados se quisesse sonhar com a vaga na fase final – na época, as vitórias valiam apenas dois pontos, por isso as disputas eram mais acirradas. 

Com muita força ofensiva e atuação magistral de Masopust, a Tchecoslováquia goleou a albiceleste por 6 a 1 e impôs a maior derrota da Argentina na história das Copas, jogo que ficou conhecido como “Desastre da Suécia” e mergulhou o país em uma crise de identidade quanto ao seu futebol. A Tchecoslováquia conseguiu terminar com a mesma pontuação da Irlanda do Norte e disputou uma partida desempate com a equipe britânica para ver quem iria para a etapa seguinte. Após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar, os norte-irlandeses fizeram mais um gol e o triunfo de 2 a 1 eliminou os tchecoslovacos. 

Mesmo com o revés, Masopust saiu ainda mais reconhecido pelo ótimo futebol apresentado. Logo após o Mundial, o tchecoslovaco ajudou sua seleção a garantir uma vaga na edição inaugural da Eurocopa de 1960, após eliminar Irlanda (4 a 2 no agregado), na Dinamarca (7 a 3 no agregado) e Romênia (5 a 0 no agregado, com um gol de Masopust no primeiro jogo). Na semifinal da Euro, a equipe acabou perdendo para a forte URSS da época, que terminou campeã. Na disputa pelo terceiro lugar, a Tchecoslováquia bateu a França por 2 a 0 e terminou com o bronze. Masopust foi eleito para o All-Star Team da competição. 

Ainda em 1960, o meio-campista foi um dos destaques na consolidação do título da Tchecoslováquia na Copa Internacional da Europa Central, antigo torneio disputado no sistema de pontos corridos, com jogos de ida e volta, que reunia, além da Tchecoslováquia, Hungria, Áustria, Iugoslávia, Itália e Suíça. Masopust marcou dois gols ao longo da campanha e a Tchecoslováquia terminou o torneio com 16 pontos, sendo sete vitórias, dois empates, uma derrota, 24 gols marcados e 14 gols sofridos.

 

Auge na Copa e Ballon d’Or

Na década de 1960, Masopust viveu os melhores anos de sua carreira. Cada vez mais decisivo e aparecendo constantemente no ataque, ele transformou o Dukla em um esquadrão imparável e multicampeão não só na Tchecoslováquia, mas também em torneios internacionais, como a International Soccer League de 1961, um dos muitos torneios que envolviam clubes de vários países e ajudou a forjar o Mundial de Clubes. Mas foi em 1962 que o craque provou de vez que era um dos maiores do mundo. 

Pela seleção, Masopust deu show na Copa do Mundo do Chile e conduziu a equipe à final. Depois de superar a Escócia nas Eliminatórias, a seleção deu azar no sorteio dos grupos: caiu ao lado dos favoritos Brasil e Espanha, além do México. Ainda assim, o time venceu os espanhóis e passou na segunda colocação da chave. Depois, passou por Hungria (1 a 0) e Iugoslávia (3 a 1), até a final contra os brasileiros. Masopust abriu o placar, mas os tchecoslovacos não seguraram Garrincha e Amarildo, e o Brasil venceu por 3 a 1

Pelé e Masopust, na primeira partida entre Brasil e Tchecoslováquia na Copa do Mundo de 1962. Foto: Getty Images.

 

Masopust foi eleito para o All-Star Team da Copa e ganhou a Bola de Prata do Mundial, cravando de vez seu nome na história dos Mundiais. Além disso, ele deu exemplo de profissionalismo lá na fase de grupos. Durante o empate em 0 a 0 contra o Brasil, Pelé sofreu uma distensão muscular que impossibilitou o Rei de continuar a jogar normalmente. Com isso, Masopust ordenou aos seus companheiros que não fizessem faltas no Rei. Quando Pelé não conseguia mais andar, Masopust ajudou o craque brasileiro a deixar o gramado.

 

“É um gesto que eu nunca me esquecerei. Masopust é um dos maiores jogadores que eu vi. Ele tinha dribles explosivos, parecia até mesmo um jogador brasileiro. O Brasil foi melhor na final, mas certamente ele não merecia estar do lado perdedor”, comentou Pelé, anos depois.

 

Por suas atuações pelo Dukla e pela seleção, o meio-campista foi eleito o melhor jogador da Europa pela France Football. Ele foi ainda o primeiro jogador de um país da chamada “Cortina de Ferro” a receber o Ballon d’Or.

 

“Primeiramente, eu devo aquele prêmio ao sucesso dos meus companheiros no clube e na seleção. O impacto do Dukla e da Tchecoslováquia naquele me garantiram a escolha”, afirmou, tempos depois.

 

O meio-campista recebeu 65 votos, 12 a mais que Eusébio e deixando para trás também outros mitos como Gianni Rivera, Denis Law, Omar Sívori, Raymond Kopa e Luis Suárez Miramontes. No ano seguinte, em 1963, o craque foi convidado para vestir a prestigiada camisa da seleção do Resto do Mundo da FIFA em um amistoso contra a Inglaterra e, em 1965, vestiu a camisa da Seleção da Europa em um amistoso especial para homenagear a despedida dos gramados de Sir Stanley Matthews.

O “timinho” da FIFA no amistoso contra a Inglaterra. Em pé: Puskás (de blusa), Djalma Santos, Pluskal, Yashin, Popluhar, Schnellinger, Soskic, Masopust, Eyzaguirre e Baxter. Agachados: Kopa, Law, Di Stéfano, Eusébio, Gento e Seeler.

 

Ele marcou um gol, mas a seleção da Grã-Bretanha venceu por 6 a 4. Masopust jogou ao lado de lendas como Yashin, Schnellinger, Pluskal, Kubala, Di Stéfano e Puskás, enquanto a Grã-Bretanha teve nomes como George Cohen, Ronald Flowers, John Haynes, Jim Baxter, Stanley Matthews e Jimmy Greaves. Entre 1952 e 1968, Masopust disputou 386 jogos de liga pelo Dukla e marcou 79 gols, além de contabilizar 63 jogos e 10 gols pela seleção até 1966, seu último ano vestindo a camisa tchecoslovaca.

 

Aposentadoria e o fim

Masopust encerrou sua carreira no futebol tchecoslovaco no Dukla Praga em 1968, mas continuou jogando por mais alguns anos no Crossing Molenbeek, na Bélgica, onde também começou sua carreira como treinador após pendurar as chuteiras. O tchecoslovaco dirigiu vários clubes e a seleção tchecoslovaca entre 1984 e 1987, mas não conseguiu grandes êxitos como obteve como jogador. Ao longo das décadas, o tchecoslovaco recebeu uma série de prêmios e homenagens, ganhou uma estátua em Praga e foi eleito pela IFFHS o maior jogador tchecoslovaco do Século XX. Masopust faleceu em 29 de junho de 2015, aos 84 anos, mas seu legado continua vivo, inspirando novas gerações de jogadores e fãs de futebol. Masopust é um exemplo de como o talento, combinado com dedicação e paixão, pode superar adversidades e criar uma trajetória inesquecível no esporte. Um craque imortal.

Foto: MICHAL CIZEK / AFP

 

 

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