Nascimento: 15 de maio de 1970, em Hoorn, Holanda.
Posições: zagueiro, líbero e lateral-esquerdo
Clubes: Ajax-HOL (1988-1999), Barcelona-ESP (1999-2003), Galatasaray-TUR (2003-2004), Rangers-ESC (2004), Al Rayyan-CAT (2004-2005) e Al-Shamal-CAT (2005-2006).
Principais títulos por clubes: 1 Mundial Interclubes (1995), 1 Liga dos Campeões da UEFA (1994-1995), 1 Copa da UEFA (1991-1992), 1 Supercopa da UEFA (1995), 5 Campeonatos Holandeses (1989-1990, 1993-1994, 1994-1995, 1995-1996 e 1997-1998), 2 Copas da Holanda (1992-1993 e 1997-1998) e 3 Supercopas da Holanda (1993, 1994 e 1995) pelo Ajax.
1 Campeonato Espanhol (1998-1999) pelo Barcelona.
Principal título individual: Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1998
Eleito para a Seleção dos Sonhos da Holanda do Imortais: 2020
“Camisa 10 da zaga”
Por Guilherme Diniz
Ele tinha técnica de sobra e uma facilidade para dominar a bola que impressionava a todos que o viam em campo. Lançamentos de longa distância, sua especialidade, eram efetuados com uma classe digna de um camisa 10. Nas cobranças de falta, não usava força nem apelava para “canhões”. Ele batia na bola com leveza e precisão, parecendo colocar a redonda no gol adversário com a mão. Porém, mesmo com todas essas qualidades, ele jamais vestiu a camisa 10. Era mais comum vê-lo com a camisa 3, 4 ou 5. Franciscus de Boer, mais conhecido como Frank de Boer, foi um dos maiores zagueiros da história do futebol holandês e mundial e um dos principais defensores na década de 90, quando brilhou com a camisa do Ajax e da seleção holandesa.
Campeão de praticamente tudo o que disputou pelo clube de Amsterdã, de Boer merecia sorte maior com a camisa da Holanda, principalmente na Copa do Mundo de 1998, quando jogou absurdamente demais, anulou diversos atacantes e ainda participou de um dos gols mais belos daquele mundial, quando fez um lançamento de mais de 40 metros para seu compatriota, Dennis Bergkamp, liquidar a Argentina nas quartas de final. Líder, cheio de classe e vencedor, Frank de Boer marcou seu nome para sempre no futebol mundial e foi um exemplo de zagueiro eficiente, leal e tecnicamente perfeito. É hora de relembrar.
Sumário
Gêmeos do futebol
Nascido na cidade de Hoorn, localizada há 35 quilômetros de Amsterdã, Frank de Boer não veio ao mundo sozinho. O futuro craque trouxe consigo o irmão gêmeo, Ronald, primogênito por questão de minutos. A dupla começou a gostar de futebol ainda na infância e ambos começaram suas carreiras futebolísticas no Ajax, principal clube da Holanda e localizado bem mais próximo à cidade dos irmãos. Mesmo com uma estatura relativamente baixa para um zagueiro (1,79m), Frank decidiu se aventurar à frente dos goleiros enquanto seu irmão preferia marcar gols e jogar mais no ataque.
No entanto, Frank de Boer começou a se destacar nos treinamentos do clube alvirrubro por possuir uma incrível técnica, muita calma, espírito de liderança e uma visão de jogo muito acima da média dos companheiros. Além de tudo isso, Frank de Boer tinha uma precisão cirúrgica na perna esquerda de dar inveja a muito jogador. Com tantas qualidades, não demorou muito para que o então lateral-esquerdo (sua primeira posição na carreira) começasse a ser escalado nas equipes principais do Ajax, em 1988, mais precisamente no dia 21 de setembro, em uma partida contra o PEC Zwolle.
Reconstruindo um campeão
Naquele final de anos 80, o Ajax vivia um momento de transição após conquistar títulos importantes sob o comando de Johan Cruyff, sendo o mais importante deles a Recopa da UEFA de 1986-1987, com jogadores como Silooy, Frank Rijkaard, Aron Winter, Jan Wouters, Rob Witschge e Marco van Basten. A taça europeia fez com que os gigantes Barcelona e Milan visitassem Amsterdã e levassem as principais estrelas da equipe holandesa. Cruyff foi comandar o Barça e Rijkaard e van Basten migraram para o clube de Milão, onde fariam história em um dos maiores times de todos os tempos.
Com isso, o Ajax apostou nos irmãos de Boer, em Aron Winter e num novato atacante chamado Dennis Bergkamp para voltar a brilhar não só em solo europeu, mas também na Holanda, que vivia sob o domínio do grande PSV de van Breukelen, Ronald Koeman, Gerets, Vanenburg e Romário. A partir da temporada 1988-1989, de Boer começou a jogar regularmente pelo Ajax e virou titular do time, atuando sempre com segurança e muita categoria. Na temporada 1989-1990, o jogador venceu seu primeiro título do Campeonato Holandês, que significou o fim da sequência de quatro taças seguidas do PSV.
O ponto negativo daquela conquista foi a desclassificação da equipe na Liga dos Campeões da UEFA de 1990-1991 após um incidente em uma partida pela Copa da UEFA da temporada anterior, quando o goleiro do Austria Wien-AUT foi atingido por uma barra arremessada pela torcida do clube holandês. A UEFA baniu o Ajax de qualquer competição organizada por ela durante uma temporada. Em 26 de setembro de 1990, Frank de Boer foi convocado pela primeira vez para a seleção holandesa, no amistoso contra a Itália, em Palermo, que terminou com vitória da Azzurra por 1 a 0. A estreia com o “pé esquerdo” não abalou de Boer, muito menos seu futebol, que continuou em alta e evoluindo a cada dia. Mas a evolução completa só aconteceria em 1991, quando o Ajax ganhou um novo técnico: Louis van Gaal.
Zagueiro completo
A chegada de van Gaal ao comando do Ajax foi crucial para que Frank de Boer progredisse em sua plenitude como defensor. O jogador deixou de atuar na lateral-esquerda para jogar como legítimo zagueiro, às vezes até como líbero, dando segurança para o setor defensivo do time e tendo vários truques que os zagueiros comuns não tinham como sair jogando com classe e técnica, efetuar lançamentos absurdamente precisos de longa distância e ser uma arma nas cobranças de falta e também em ataques mais incisivos. O craque ganhou mais e mais convocações para a seleção, virou peça chave no esquema tático de van Gaal e começou a colecionar títulos.
Na temporada 1991-1992, o zagueiro conquistou sua primeira taça internacional: a Copa da UEFA, quando o Ajax despachou pelo caminho o Örebro-SUE (4 a 0 no agregado), o Rot-Weiss Erfurt-ALE (5 a 1 no agregado), Osasuna-ESP (2 a 0 no agregado), KAA Gent-BEL (3 a 0 no agregado) e Genoa-ITA (4 a 3 no agregado). Na decisão, os holandeses tiveram pela frente o ótimo Torino-ITA de Marchegiani, Luca Fusi, Roberto Mussi, Enzo Scifo e Walter Casagrande. No primeiro jogo, em Turim, o Ajax conseguiu empatar em 2 a 2 e foi para a partida de volta, na Holanda, podendo até empatar sem gols ou em 1 a 1 que mesmo assim ficaria com o título. Diante de mais de 42 mil pessoas no estádio Olímpico de Amsterdã, o clube alvirrubro segurou o 0 a 0, Frank de Boer garantiu a eficiência na zaga com uma grande atuação (principalmente por não deixar o brasileiro Casagrande aprontar das suas) e a Copa da UEFA ficou na Holanda.
Na temporada seguinte, Frank de Boer ajudou a Holanda a se classificar para a Copa do Mundo ao participar de nove partidas das Eliminatórias e conquistou a Copa da Holanda com o Ajax, título que veio com direito a goleada de 6 a 2 pra cima do Heerenveen na final (com dois gols de Overmars, um de Davids, um de Pettersson, um de Bergkamp e outro de Petersen). Ainda em 1993, o zagueiro marcou um dos gols da goleada de 4 a 0 sobre o Feyenoord na decisão da Supercopa da Holanda.
Primeira Copa
Em 1994, Frank de Boer vivia uma fase magnífica com o Ajax. O time só crescia de produção com a enxurrada de craques que tinha em seu elenco (van der Sar, Reiziger, Blind, Rijkaard, Seedorf, Davids, Litmanen, Finidi George, Overmars, Ronald de Boer, Bogarde, Kluivert…) e começava uma dinastia marcante e histórica no futebol holandês e europeu. Antes disso, porém, de Boer viajou até os EUA para disputar a primeira Copa do Mundo de sua carreira. A Holanda tinha um bom time, mas já não contava mais com van Basten (aposentado) e Ruud Gullit (abandonou a seleção por desavenças com o técnico Dick Advocaat). Na primeira fase, a equipe ousou com o esquema tático 3-3-1-3, com Frank de Boer jogando na zaga ao lado de Valckx e Ronald Koeman.
A tática era extremamente ofensiva e expunha demais os defensores da Holanda, o que gerou vários descontentamentos no elenco. Mesmo assim, a equipe passou em primeiro lugar na fase de grupos após vencer Arábia Saudita (2 a 1) e Marrocos (2 a 1) e perder para a Bélgica (1 a 0). Nas oitavas de final, os holandeses não tiveram dificuldades para bater a Irlanda por 2 a 0 e se classificaram para as quartas de final. No duelo contra o Brasil de Romário e Bebeto, Frank de Boer não jogou e a Holanda perdeu por 3 a 2. Era o fim para a equipe laranja. E o amargo gosto da eliminação para Frank de Boer, que teve de assistir do banco sua seleção dar adeus ao sonho do título mundial.
Imbatível no Ajax
Após o revés na Copa, Frank de Boer voltou suas energias para seu clube, o Ajax, em especial ao Campeonato Holandês. No mês de agosto de 1994, a equipe alvirrubra começou com o pé direito a temporada europeia com uma vitória por 3 a 0 sobre o Feyenoord, gols de Litmanen, Oulida e Kluivert, na decisão da Supercopa da Holanda. A vitória foi um aviso do que estava por vir. O time não tomou conhecimento dos rivais no Campeonato Holandês e conquistou o torneio de maneira invicta, com 27 vitórias e sete empates em 34 jogos, marcando 106 gols e sofrendo 28, melhor ataque e melhor defesa do torneio (ao lado do Roda JC, que também levou 28 gols).
O time deu verdadeiros bailes nos rivais, com direito a goleadas de 5 a 0 (fora) e 4 a 1 (casa) sobre o Feyenoord; 4 a 1 no PSV fora de casa; 8 a 0 no Sparta (casa) e 7 a 0 no Willem II (casa). Sem rivais no país, o time só conheceu o revés na Copa da Holanda, quando foi eliminado pelo Feyenoord nas quartas de final. Campeão na Holanda invicto, o Ajax daria um show ainda maior na Liga dos Campeões da UEFA.
A volta da mística
Na Liga dos Campeões da UEFA de 1994-1995, o Ajax começou o torneio já na fase de grupos, como campeão holandês. Os holandeses começaram a caminhada rumo ao tetracampeonato contra o poderoso Milan-ITA, e venceram por 2 a 0. Na partida seguinte, vitória por 2 a 1 sobre o AEK, na Grécia, gols de Litmanen e Kluivert. Na sequência, empate sem gols contra o Casino, na Áustria, e em 1 a 1 na Holanda. Para fechar com chave de ouro, vitória por 2 a 0 sobre o Milan em pleno San Siro (gols de Litmanen e Baresi, contra) e 2 a 0 sobre o AEK, na Holanda.
Nas quartas de final, o time empatou o primeiro jogo sem gols com o Hajduk Split, da Croácia, e venceu por 3 a 0 a partida de volta, na Holanda, com ótima atuação de Frank de Boer, que marcou dois gols. Na semifinal, nostalgia pura no duelo contra o Bayern München (ALE), que colocou frente a frente os dois maiores titãs do continente nos anos 70. No primeiro jogo, na Alemanha, nó tático de van Gaal e empate sem gols. Na volta, na Holanda, um espetáculo: Ajax 5×2 Bayern, com Litmanen abrindo o placar aos 12´, Witeczek empatando aos 36´, Finidi colocando o Ajax na frente aos 41´e Ronald de Boer ampliando aos 44´.
Na segunda etapa, com um minuto, Litmanen fez 4 a 1, e Scholl diminuiu aos 75´. Faltando dois minutos para o final do jogo, Overmars fechou a conta e o show de gols que fez valer a tradição dos gigantes europeus: 5 a 2. Depois de 22 anos, o Ajax estava de volta a uma final de Liga dos Campeões da UEFA. E, por ironia do destino, ele reencontrava o Milan, “freguês” naquela Liga, mas responsável por derrotar o Ajax na final do torneio em 1969, a primeira disputada pelo time holandês na história. Era hora da vingança.
Rei da Europa
O Ernst-Happel-Stadion, na cidade de Viena, na Áustria, foi o palco da grande final da Liga dos Campeões da UEFA de 1994-1995. De um lado, o talentoso Ajax recheado de jovens estrelas (que davam ao time uma média de idade de 23 anos) como van der Sar, Reiziger, os irmãos de Boer, Davids, Seedorf, Overmars e Kluivert (além de Blind, Rijkaard e Litmanen), que viam naquela final a grande chance de mostrar para o mundo as verdadeiras estrelas que eles eram. Do outro, o sempre copeiro Milan, de Panucci, Maldini, Baresi, Albertini, Donadoni, Desailly, Massaro e Boban, presente em sua terceira final consecutiva de Liga e campeão da edição anterior do torneio. O duelo, como era de se esperar, foi extremamente disputado, com o Milan impecável na defesa e perigoso no ataque. O Ajax tinha as principais chances, era mais rápido, mas não conseguia furar a retranca armada pelo técnico Fabio Capello. Louis van Gaal apostava tudo na velocidade e tinha a certeza que aquele “ferrolho envelhecido” não duraria muito tempo, além de não ter o fôlego da “garotada total” de Amsterdã. Foi então que um amuleto decidiu o jogo e fez história.
O atacante Patrick Kluivert, que entrara na segunda etapa no lugar de Litmanen, recebeu de Rijkaard na entrada da área do Milan, teve a chance de fazer uma tabelinha, mas avançou, trombou e chutou sem chances para o goleiro Rossi, fazendo o primeiro e único gol do jogo aos 40´do segundo tempo: Ajax 1×0 Milan. Era o bastante para que o time holandês fizesse história e se tornasse tetracampeão europeu, vencendo o segundo torneio da temporada também de maneira invicta. A festa foi enorme. Os jovens talentos holandeses, incluindo Frank de Boer, tinham a sua consagração. E o gigante de Amsterdã voltava, depois de 22 anos, ao topo do continente.
Hegemonia em casa e título mundial
Depois da festa merecida e do caneco invicto da Liga dos Campeões da UEFA, o Ajax de Frank de Boer começou a temporada 1995-1996 com foco total nos principais torneios do continente, aproveitando a base vencedora e cultivando os pratas da casa. O time venceu a Supercopa da UEFA ao derrotar o Zaragoza (ESP) na final, com empate em 1 a 1 na Espanha e goleada por 4 a 0 em Amsterdã, conquistou a Supercopa da Holanda com uma vitória por 2 a 1 sobre o Feyenoord por 2 a 1 e faturou mais um título do Campeonato Holandês com 26 vitórias, cinco empates e três derrotas, marcando 97 gols e sofrendo 24.
Em dezembro de 1995, no estádio Nacional de Tóquio (JAP), o Ajax encarou o forte Grêmio (BRA) de Rivarola, Arce, Adílson, Roger, Dinho, Carlos Miguel, Paulo Nunes e Jardel na final do Mundial Interclubes. O tricolor gaúcho era o campeão da América e apostava na forte defesa, aliada ao ataque oportunista, para conquistar o troféu. Já o Ajax tinha no entrosamento, velocidade e toque de bola as armas para bater o rival brasileiro. O duelo foi muito equilibrado, com Kluivert, principal atacante holandês, sofrendo demais nas mãos de Rivarola, que acabou sendo expulso na segunda etapa. O jogo seguiu sem gols durante os 90 minutos e na prorrogação, forçando a disputa de pênaltis. Nela, brilhou a estrela de van der Sar, que defendeu a cobrança de Dinho. Kluivert e Arce chutaram para fora e na trave, respectivamente, os irmãos de Boer, Finidi George e Blind fizeram para o Ajax, com Magno, Gélson e Adílson convertendo para o Grêmio, decretando o placar de 4 a 3 e a vitória holandesa.
Juventus acaba com sonho do bi
Jogando cada vez melhor e com uma liderança impressionante em campo, Frank de Boer via sua carreira decolar mais e mais com a camisa do Ajax e esperava conquistar o bicampeonato europeu na final da Liga dos Campeões de 1996. No entanto, o time holandês perdeu nos pênaltis para a Juventus-ITA de Peruzzi, Ferrara, Pessotto, Vierchowod, Deschamps, Conte, Vialli, Ravanelli e Del Piero.
O revés na decisão continental foi uma das muitas decepções de Frank de Boer naquele ano, incluindo uma contusão que o tirou da disputa da Eurocopa de 1996 e de várias partidas do Ajax na temporada 1996-1997 e o fim da grande fase do clube alvirrubro por causa da debandada de vários craques do time como Rijkaard, Davids, Reiziger, Finidi George, Kanu, Seedorf, Kluivert, Overmars, Bogarde entre outros. No entanto, Frank de Boer estava se preparando para a disputa daquela que seria a principal competição de sua carreira: a Copa do Mundo de 1998.
Capitão da Super Seleção
Entre todas as equipes que disputavam o título mundial de 1998, a Holanda era uma das maiores favoritas, igual ou até mais que o Brasil. A equipe laranja tinha um elenco absolutamente fantástico e repleto de craques que brilharam no grande Ajax dos anos 90 tais como van der Sar, Reiziger, Bogarde, Ronald de Boer, Seedorf, Bergkamp, Kluivert, Davids, Overmars e ainda Stam, Jonk, Cocu, Zenden, van Bronckhorst e Jimmy Floyd Hasselbaink. Era uma Seleção com letra maiúscula comandada pelo técnico Guus Hiddink que não lutaria por outra coisa que não fosse o título da Copa.
Com 28 anos de idade e no auge da forma física e técnica, Frank de Boer foi nomeado o capitão daquela seleção fantástica. Na primeira fase, a equipe estreou com empate sem gols contra a Bélgica, resultado que desapontou muita gente. No entanto, tudo voltou ao normal com uma goleada de 5 a 0 sobre a Coreia do Sul. Na última partida do grupo, empate em 2 a 2 contra o forte México de Campos, Suárez, Ramírez, García Aspe, Blanco e Hernández. Invicta, a Holanda avançou até as oitavas de final e conseguiu uma vitória suada diante da Iugoslávia de Mihajlovic, Petrovic, Jugovic, Stojkovic e Mijatovic por 2 a 1. Era hora das quartas de final. E de encarar a Argentina de Zanetti, Ayala, Sensini, Almeyda, Simeone, Verón, Ortega, Claudio López e Batistuta.
A participação em uma obra de arte
Com mais de 55 mil pessoas no estádio Vélodrome, em Marselha, Holanda e Argentina fizeram um dos jogos mais esperados daquela Copa. A partida foi intensa e um puro deleite ao público pela quantidade absurda de craques em campo, uma verdadeira apoteose para qualquer amante do futebol. Bem melhor no começo do jogo com uma marcação adiantada e eficiente, a Holanda abriu o placar com Kluivert, após este tabelar com Bergkamp e estufar as redes do goleiro Roa. Minutos depois, a Argentina empatou com Claudio López e o jogo seguiu equilibrado, com chances de todos os lados e Frank de Boer jogando tudo o que sabia para anular a maior estrela argentina – Gabriel Batistuta. Aos 32´do segundo tempo, Numan foi expulso e deixou a Holanda no aperto. No entanto, Ortega também foi expulso, aos 42´, e ambas as equipes ficaram com 10 homens cada. Quando todos pensavam que aquele duelo épico iria para a prorrogação, eis que dois gênios do futebol decidiram a partida.
Frank de Boer, com a bola dominada à seu estilo, cabeça erguida e olhar fixo lá na frente, avistou Dennis Bergkamp na ponta direita em condições de receber uma bola e poder marcar o gol da vitória. Mas fazer um lançamento de 40 metros era algo para poucos. Algo para Frank de Boer. O craque olhou e lançou com uma precisão sublime e rápida, fazendo a bola percorrer aqueles 40 metros em pouquíssimos segundos. Bergkamp recebeu a bola na área argentina e dominou a redonda com a mesma classe e beleza do lançamento de seu companheiro. A sequência do lance foi pura arte. Com um só corte por entre as pernas do zagueiro Ayala, Bergkamp tirou o argentino completamente da jogada e teve o gol escancarado à sua frente. O atacante chutou com o canto direito do pé, no alto, e não deu chance alguma para Roa: golaço! Obra-prima em Marselha! Holanda 2×1 Argentina. Aquilo não foi apenas um gol. Foi um dos gols mais belos de toda a história da seleção holandesa, algo confirmado por vários jornalistas e torcedores da Holanda até hoje. Mais do que isso, Frank de Boer provou a todos que aquela era sua Copa e que ele era um dos maiores zagueiros do mundo. Mas ainda tinha um desafio pela frente: o Brasil de Ronaldo.
A classe do capitão. E a decepção na marca da cal
Depois de eliminar um titã sul-americano, a Holanda teve a ingrata missão de encarar mais um, dessa vez o maior deles. Contra o Brasil, a equipe europeia teria que derrotar uma equipe fortíssima, entrosada e ainda com um craque no auge da forma: Ronaldo, à época ainda conhecido como Ronaldinho. Rápido, com explosão e inteligentíssimo, o atacante era o legítimo Fenômeno e seria o maior teste de qualidade que Frank de Boer poderia ter. E o zagueiro conseguiu passar no “exame”, mesmo com um pequeno desnível. Naquela partida, Ronaldo teve várias chances de gol, mas só conseguiu aproveitar uma, logo com um minuto do segundo tempo. Em todas as outras, lá estava Frank de Boer e seus companheiros para impedir o camisa 9 do Brasil de marcar.
Aos 42´da segunda etapa, Kluivert, que também fazia uma grande partida, testou firme para empatar o jogo e levar a decisão para a prorrogação. Nela, a partida ganhou ainda mais emoção com várias chances para as duas equipes, sendo as principais delas com participação de Frank de Boer. Pelo lado do Brasil, Ronaldo recebeu uma bola livre no segundo tempo, teve tudo para fazer o gol, mas o capitão holandês deu um carrinho preciso, na bola, e evitou um gol certo da equipe canarinho. Pelo lado da Holanda, o zagueiro fez mais um de seus lançamentos para Kluivert, mas o atacante chutou rente à trave de Taffarel.
Depois de o empate persistir, as duas seleções tiveram que partir para a disputa de pênaltis. Frank de Boer converteu sua cobrança, a primeira da Holanda, mas viu seu irmão, Ronald, ser uma das vítimas do gigante Taffarel, que defendeu o chute dele e de Cocu, decretando o placar em 4 a 2 para o Brasil. A talentosa geração do futebol holandês estava eliminada. E Frank de Boer perdia a chance de disputar uma final de Copa e, quem sabe, erguer a taça mais cobiçada do planeta. Abalada, a Holanda mal jogou bola na disputa pelo terceiro lugar e perdeu para a Croácia de Suker por 2 a 1. Mesmo com a eliminação, Frank de Boer foi eleito um dos melhores jogadores do mundial e fez parte do All-Star Team da Copa ao lado do paraguaio Gamarra. Um prêmio mais do que justo ao grande craque holandês.
Tempos em azul e grená
Após a Copa, Frank de Boer deixou o Ajax juntamente com seu fiel companheiro, o irmão Ronald, para começar uma nova era no Barcelona-ESP, que investia fortemente em grandes jogadores da Holanda naquela época. Já na temporada 1998-1999, o craque conquistou seu primeiro e único título pelo clube – o Campeonato Espanhol, quando o Barça venceu 24, empatou sete e perdeu sete dos 38 jogos disputados, com 87 gols marcados e 43 sofridos.
Na Catalunha, Frank de Boer teve algum destaque com sua experiência e habitual classe com a bola nos pés, mas não repetiu os tempos de Ajax muito por causa da idade, de contusões e também pela força que Real Madrid e Valencia tinham na época, algo que impossibilitou grandes triunfos do zagueiro com a camisa do clube espanhol. Ainda sim, o craque participou de outro grande gol do futebol mundial na época, pela última rodada do Campeonato Espanhol de 2000-2001, contra o Valencia, no Camp Nou.
O time catalão precisava de um resultado positivo para se garantir na Liga dos Campeões da UEFA do próximo ano. Com 2 a 2 no placar e 43´do segundo tempo no relógio, Frank de Boer fez um lançamento maravilhoso para Rivaldo, que matou a bola no peito de fora da área e emendou uma bicicleta perfeita, impecável, plástica e exuberante, que foi morrer no canto esquerdo do goleiro valenciano: Barcelona 3×2 Valencia. O resultado classificou o clube catalão para a competição europeia da temporada seguinte e Frank de Boer aumentou ainda mais seu status de exímio lançador de bolas.
Tempos difíceis e aposentadoria
Em março de 2001, Frank de Boer sofreu um abalo em sua carreira com uma suspensão imposta pela UEFA pelo uso de Nandrolana, substância detectada em um exame antidoping realizado após a partida do Barcelona contra o Celta de Vigo pela Copa da UEFA. O zagueiro tomou pílulas multivitamínicas cedidas pela KNVB (federação holandesa de futebol) e não sabia que na quantidade ingerida havia um excesso na dose de Nandrolana (ligada ao aumento de testosterona, energia e recuperação física) permitida. Frank de Boer foi suspenso de partidas internacionais por um ano pela UEFA, mas depois teve sua pena reduzida após apelação de sua defesa.
Com a não classificação da Holanda para a Copa de 2002, de Boer se despediu da seleção laranja em 2004, após empate sem gols contra a Suécia pela Eurocopa. O craque se tornou um dos recordistas de jogos com a camisa holandesa ao disputar 112 partidas e marcar 13 gols. Em 2003, o jogador deixou o Barcelona e jogou no Galatasaray-TUR, Rangers-ESC e ainda no futebol do Catar até se aposentar definitivamente dos gramados em 2006.
Sina de campeão
Depois de pendurar as chuteiras, Frank de Boer decidiu se aventurar na carreira de técnico de futebol, começando como auxiliar de Bert van Marwijk na campanha do vice-campeonato mundial da Holanda na Copa do Mundo de 2010. Após o torneio, de Boer assumiu o comando do seu clube de coração, o Ajax, e mostrou seu talento fora das quatro linhas ao conquistar três títulos do Campeonato Holandês de maneira consecutiva. Tentando construir uma sólida carreira fora das quatro linhas, Frank de Boer tem em sua própria vida futebolística dentro dos gramados a inspiração necessária para brilhar. Afinal, com inúmeros títulos, liderança, inteligência, técnica e uma habilidade fantástica para dominar e fazer lançamentos com a mais pura elegância, o craque é uma lenda do futebol holandês e mundial e sinônimo de zagueiro para qualquer um. Mas de zagueiro com classe e que vista uma camisa 10 por baixo da 3, 4 ou 5. Um craque imortal.
Números de destaque:
Vestiu a camisa da seleção da Holanda em 112 partidas e marcou 13 gols.
Disputou 329 jogos do Campeonato Holandês pelo Ajax entre 1988 e 1999.
Disputou mais de 700 jogos na carreira e marcou pouco mais de 70 gols.
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.
Frank de Boer era disparado um dos melhores defensores da década de 90, ao lado de Gamarra e Maldini….
Descrever sobre Frank de Boer,é nos fazermos voltar na chamada “época de ouro do futebol”.Que classe este craque holandês exibia nos gramados,formou junto com Gamarra, a zaga ideal do ALL STAR TEAM-Copa da França 98(certamente a última grande copa) pelo o espírito competitivo e de grandes esquadrões presente na mesma.A própria Holanda merecia o título,com um elenco recheado de craques “do goleiro ao ponta esquerda”,sucumbiu diante da Seleção Brasileira,da fera Ronaldo e do célebre Taffarel,nas penalidades máximas,partida na qual merece ser retratada na galeria Jogos Eternos,pela sua dramaticidade e pelo drama vivido pelos holandeses e aos adeptos da laranja mecânica de ver toda aquela geração de grandes jogadores não ter ganho aquele mundial,foi como se fosse as perdas sofridas para a Alemanha do mito Franz Beckenbauer em 74 e para a Argentina de Mário Kempes quatro anos depois.
Muito bom esse texto.
Voce nao tem o link dos jogos Holanda x Brasil de 1998 e 1994.
abç…
será que alguém vai desistir ou já desistiu da Holanda ?