Nascimento: 22 de maio de 1953, em Hwaseong, Coreia do Sul
Posições: Meia e Atacante
Clubes: Gyeongshin High School-COR (1969-1971), Korea University-COR (1972-1975), Korea Trust Bank-COR (1976), ROK Air Force FC-COR (1976-1979), Darmstadt 98-ALE (1979), Eintracht Frankfurt-ALE (1979-1983) e Bayer Leverkusen-ALE (1983-1989).
Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Sul-Coreano (1974) pelo Korea University.
1 Campeonato Semi-profissional da Coreia do Sul (1976) pelo Korea Trust Bank.
1 Copa da UEFA (1979-1980) e 1 Copa da Alemanha (1980-1981) pelo Eintracht Frankfurt.
1 Copa da UEFA (1987-1988) pelo Bayer Leverkusen.
Principais títulos por seleção: 1 Jogos Asiáticos (1978) e 1 Torneio de Merdeka (1972) pela Coreia do Sul.
Principais títulos individuais:
60º Maior Jogador do Século XX pela IFFHS
IFFHS Legends: 2016
Jogador Asiático do Século XX pela IFFHS
Eleito para o Time do Século XX da Ásia pela IFFHS
Eleito para o Dream Time de todos os tempos da Ásia pela IFFHS: 2021
Eleito o Melhor Jogador de todos os tempos da Ásia pela ESPN: 2015
Eleito para o Korean Best XI: 1972, 1973, 1974, 1975, 1976, 1977 e 1978
Futebolista do Ano da Coreia do Sul: 1973
Eleito para o Hall da Fama da Coreia do Sul: 2005
Eleito para o Time do Ano da revista Kicker: 1979-1980 e 1985-1986
Eleito para o Time dos Sonhos de todos os tempos do Eintracht Frankfurt: 2013
Futebolista mais jovem a alcançar a marca de 100 jogos por uma seleção nacional: 24 anos e 35 dias
Jogador com mais jogos na história da seleção da Coreia do Sul: 136 jogos
Maior Artilheiro da história da seleção da Coreia do Sul: 58 gols
“Cha-BOOM!”
Por Guilherme Diniz
Sir Alex Ferguson disse certa vez que aquele sul-coreano era “imparável”. Lothar Matthäus disse que um dos melhores atacantes do mundo era aquele sul-coreano. E Jürgen Klinsmann se colocou abaixo daquele mesmo sul-coreano. Ao longo de mais de uma década, o futebol mundial viu a ascensão e brilho de um jogador que marcou época com golaços, disparadas pela ponta-direita, assistências e lances que ajudaram seus clubes a conquistarem títulos inéditos e emblemáticos. Pela seleção, também foi longe ao se transformar no recordista em jogos, em gols e ainda disputar uma Copa do Mundo em 1986, a primeira da equipe asiática desde 1954. Cha Bum-kun foi uma lenda da Coreia do Sul e é até hoje considerado o maior jogador asiático do século XX e um dos primeiros a brilhar no futebol europeu. Ídolo do Eintracht Frankfurt, ajudou o clube a vencer a Copa da UEFA de 1979-1980 e repetiu a dose anos depois pelo Bayer Leverkusen. E foi justamente no país que Cha ganhou o apelido de Cha-Boom, graças ao chute poderoso que disparava contra os rivais. É hora de relembrar a trajetória desse craque.
Sumário
Perseverança e talento
Nascido em Hwaseong, na província de Gyeonggi, Cha Bum-kun sempre foi apaixonado por esportes e entrou já na infância na Yeongdo Middle School com o objetivo de jogar futebol, mas a equipe foi desfeita antes mesmo que ele pudesse vestir o uniforme. Com isso, ele se tornou jogador de hóquei de campo, mesmo sem saber como jogar. Percorrer longas distâncias para a escola em Yeongdeungpo sem sequer chutar a bola era doloroso para Cha. E sair de casa de madrugada e voltar tarde da noite era uma tarefa árdua. Mas o jovem estava determinado a ser um futebolista. Seu pai, um humilde agricultor que enxergou o espírito esportivo e a determinação de seu filho, vendeu parte da terra que sustentava a família e Cha Bum-kun se mudou para a Gyeongshin Middle School e, após muito esforço, seu talento cresceu consideravelmente. Rápido, habilidoso e driblador, o garoto se destacava diante dos colegas e até mesmo dos mais velhos.
Porém, por causa da habilidade acima da média, Cha Bum-kun acabou sofrendo com a hostilidade dos mais velhos quando se mudou para a Gyeongshin High School. Isso quase fez com que o jovem deixasse os treinos.
“Eu estava com muito medo dos veteranos, então fugi. Passei uma semana escondido na casa de um amigo em Seul. Mas, como meu amigo ia para a escola e eu não, a mãe dele percebeu e não pude continuar escondido.” – Cha Bum-kun, em entrevista ao site chosun.com (Coreia do Sul), 14 de agosto de 2009.
Embora seu pai tivesse vendido terras para pagar sua mudança de escola, fugir de casa era um ato de desobediência inaceitável. No fim, Cha Bum-kun entrou em contato com seu irmão mais velho e voltou para casa, onde seu pai o entregou ao treinador da Gyeongshin High School. A situação de Cha se resolveu melhor do que o esperado. O treinador da equipe de futebol da escola declarou aos veteranos da equipe: “Se alguém tocar em Bum-kun, vou repreendê-lo severamente”. Esta declaração serviu como um escudo protetor. E inspirou Cha a se revelar um fora de série.
Títulos e o famigerado serviço militar
Jogando muito e com a proteção do técnico, Cha Bum-kun virou o principal jogador do Gyeongshin High School e foi convocado para a seleção da Coreia do Sul sub-20 em 1970. Dois anos depois, entrou na Korea University e começou a jogar no time da Universidade. E foi por ele que o jovem começou a vencer títulos individuais, ser eleito o MVP do país em 1973 e vencer o título do campeonato coreano de 1974. Em 1972, Cha vestiu a camisa da seleção principal pela primeira vez, em duelo contra o Iraque pela Copa das Nações da Ásia.
Em sete temporadas seguidas, Cha Bum-kun foi eleito para o time do ano do país e, em 1978, ajudou a Coreia do Sul a vencer os Jogos Asiáticos, após seis vitórias e um empate em sete jogos. Cha disputava uma série de partidas pela seleção na época e, por isso, se tornou rapidamente o atleta mais jovem a alcançar a marca de 100 partidas por uma equipe nacional em todo o mundo: ele atingiu 100 jogos em 1977, com apenas 24 anos! A Coreia do Sul disputava várias competições, sendo as principais a President’s Cup, a Copa da Ásia, a Copa Merdeka, Eliminatórias para a Copa, entre outras.
Além dos compromissos no futebol e os estudos, Cha Bum-kun também integrou o serviço militar da Coreia, obrigatório a todos os homens do país. Em outubro de 1976, enquanto servia o exército, Cha passou a defender o time do ROK Air Force FC, embora preferisse jogar pelo time da Marinha. Cha foi persuadido após receber garantias de que seria dispensado do serviço militar depois de dois anos. Com isso, o jogador defendeu o ROK, ajudou o clube a ficar com o vice-campeonato nacional e, em meados de 1978, passou a chamar a atenção do futebol alemão, principalmente após suas atuações nas Eliminatórias para a Copa – mesmo com a não-classificação da Coreia – e seus shows nas copas asiáticas, em especial uma partida na edição da Korea Cup de 1976, quando marcou três gols nos seis minutos finais (!) para empatar em 4 a 4 um jogo dramático contra a Malásia – ele foi o artilheiro daquela edição com 7 gols e a Coreia foi campeã.
Em 1978, durante a Korea Cup, um olheiro do Eintracht Frankfurt chamado Dieter Schulte ficou abismado com o talento de Cha Bum-kun e tentou convencer a federação sul-coreana a liberar o jogador para atuar na Alemanha. Schulte cogitou até a naturalização de Cha para que ele pudesse defender a seleção alemã, mas tal possibilidade foi rejeitada pelas forças armadas. A assinatura do contrato com o Eintracht não foi bem sucedida naquele momento, porém, Cha Bum-kun conseguiu um acordo de seis meses com outro clube alemão, o Darmstadt.
O craque foi para a Alemanha em dezembro de 1978 e fez sua estreia no Darmstadt no dia 30 daquele mês. Mas, em janeiro de 1979, a força aérea coreana mudou os planos sem maiores explicações e exigiu o retorno de Cha ao país. Com isso, ele não seguiu no Darmstadt e acabou novamente no serviço militar até maio de 1979. Só em julho de 1979 que Cha Bum-kun, enfim, conseguiu “se livrar” do exército e pôde assinar um contrato com o Eintracht Frankfurt. Era hora de mostrar ao grande público seu talento.
Glórias e estrelato
Cha Bum-kun fez valer todo o esforço do Eintracht em seu futebol e marcou gols em três jogos seguidos da Bundesliga de 1979-1980, arrancando elogios da imprensa do país e da exigente e prestigiada revista Kicker. O campeão nacional daquela temporada foi o Bayern München, mas o Eintracht terminou na 9ª colocação e Cha Bum-kun anotou 12 gols em 31 jogos, além de ser escolhido para o time da temporada pela Kicker. Mas o grande momento do coreano foi na Copa da UEFA. No primeiro compromisso do time, contra o Aberdeen de Alex Ferguson, foi de Cha Bum-kun o gol que garantiu o empate em 1 a 1 na partida de ida, em pleno estádio de Pittodrie. Na volta, o Eintracht venceu por 1 a 0 e se classificou, fazendo com que Alex Ferguson demonstrasse respeito e veneração pelo sul-coreano ao dizer que ele era “imparável”.
Na fase seguinte, o Eintracht perdeu por 2 a 0 para o Dinamo de Bucareste-ROM no duelo de ida, mas reverteu o placar com um 3 a 0 na volta, em vitória que começou, claro, com um gol de Cha Bum-kun. Nas oitavas de final, os alemães golearam o Feyenoord-HOL no duelo de ida, em casa, por 4 a 1, com mais um gol de Cha. Na volta, em Roterdã, o revés de 1 a 0 foi incapaz de tirar a vaga do Eintracht, que eliminou os checos do FC Zbrojovka Brno na etapa seguinte com um 6 a 4 no agregado. Nas semis, o Eintracht encarou o vizinho Bayern e perdeu por 2 a 0 o duelo de ida, em Munique. Na volta, em Frankfurt, os águias devolveram os 2 a 0 no tempo normal e fizeram mais três gols na prorrogação. O Bayern marcou um, mas o placar foi todo do Eintracht: goleada de 5 a 1 e vaga na final.
Nela, a equipe encarou outro time alemão – o Borussia Mönchengladbach – e, após derrota por 3 a 2 na ida, venceu por 1 a 0 em casa e ficou com o título graças aos gols marcados fora. Foi a glória que tanto Cha buscava e merecidíssima, afinal, ele jogou muito, fez gols, deu passes e foi crucial para a campanha daquele título histórico. Em agosto de 1980, Cha sofreu uma lesão nas costas e ficou pouco mais de um mês parado.
Na temporada 1980-1981, o craque marcou seis gols em seis jogos da campanha do título do Eintracht na Copa da Alemanha e deixou o dele na vitória por 3 a 1 na decisão contra o Kaiserslautern. Cha Bum-kun foi o artilheiro do Eintracht naquela temporada com 16 gols em 38 jogos. Ele repetiu a artilharia máxima do clube na época seguinte ao anotar 12 gols em 38 partidas. Vivendo o auge da carreira, Cha Bum-kun abriu caminho para outros jogadores da Ásia no Velho Continente – ele foi provavelmente o pioneiro a conseguir brilhar no futebol europeu. Por outro lado, o craque acabou sacado da seleção naquela época e não foi mais convocado por jogar no exterior. Ele só voltaria à seleção em 1986.
Nova glória no Bayer e o fim
Unanimidade na Alemanha, Cha-Boom, como passou a ser chamado por causa dos chutaços que disparava, despertou o interesse do Bayer Leverkusen em 1983, que aproveitou a dificuldade financeira pela qual o Eintracht passava na época e que iria impossibilitar a manutenção do contrato com Cha Bum-kun. Com isso, o coreano foi para o Bayer na temporada 1983-1984 e continuou com a ótima média de gols e grandes jogos. Em seu debute, o atacante anotou 12 gols em 34 jogos na Bundesliga. Na época seguinte, foram 10 gols em 29 jogos e, na temporada 1985-1986, viveu sua melhor temporada na Alemanha ao marcar 17 gols em 34 jogos e ajudar o Bayer a conseguir uma vaga na Copa da UEFA de 1986-1987. Rápido, talentoso e com grande visão de jogo, Cha era uma das principais armas ofensivas do Bayer e podia atuar em qualquer setor do campo ofensivo. Em contra-ataques, o coreano era perigosíssimo e sempre conseguia vencer os rivais em velocidade, tinha ótimo domínio de bola e, além dos chutes fortes de perna esquerda ainda podia surpreender os goleiros com toques sutis por cobertura.
Ainda em 1986, Cha Bum-kun foi relembrado pela seleção da Coreia do Sul e integrou o elenco do país na Copa do Mundo do México, a primeira da equipe asiática desde 1954. Ele foi titular na estreia, contra a Argentina de Maradona, mas a Coreia perdeu por 3 a 1. Ele seguiu no time no empate contra a Bulgária (1 a 1) e no revés de 3 a 2 para a Itália. A Coreia acabou eliminada, mas Cha Bum-kun deixou o México aplaudido pelos bons jogos e profissionalismo, além de sua disciplina exemplar em campo. Aqueles três jogos foram os últimos do craque pela seleção. Ele se despediu naquele ano como o recordista tanto em jogos quanto em gols pelo time coreano.
Na Copa de UEFA de 1986-1987, o Bayer acabou eliminado na segunda fase, mas voltou ao torneio continental em 1987-1988 e chegou à final contra o Espanyol-ESP. No primeiro jogo, em Barcelona, os alemães não jogaram bem e perderam por 3 a 0. Só um milagre daria o título ao time de Cha. Pois ele aconteceu. Na volta, em Leverkusen, o Bayer fez 2 a 0 (gols de Götz e do brasileiro Tita) e precisava de mais um gol para levar o jogo para a prorrogação. E o tento veio com Cha Bum-kun, aos 81’, de cabeça! A torcida foi à loucura e o Bayer levou o jogo para os pênaltis. Na marca da cal, os alemães venceram por 3 a 2 e ficaram com o título. Foi o segundo troféu de Copa da UEFA de Cha Bum-kun e o único dele com a camisa do Bayer. Na temporada 1988-1989, já com 36 anos, Cha Bum-kun decidiu se aposentar do futebol e deixou números expressivos no futebol alemão: foram 98 gols em 308 jogos.
Após pendurar as chuteiras, Cha Bum-kun virou técnico e comandou o Ulsan Hyundai FC entre 1991-1994, pelo qual foi vice-campeão da Copa da Liga Coreana de 1993. Em 1997, assumiu o comando da seleção da Coreia do Sul e conduziu a equipe à Copa do Mundo de 1998. Na França, porém, o time asiático não resistiu a um grupo com Argentina, Holanda e Jamaica e foi eliminada. Cha Bum-kun acabou deixando a seleção antes mesmo de acabar a campanha na fase de grupos, pois foi demitido após o revés de 5 a 0 sofrido para a Holanda no segundo jogo. A demissão, aliada às desavenças com a federação, fizeram com que Cha Bum-kun deixasse a Coreia do Sul com sua família. Após 18 meses no futebol chinês, ele retornou ao país e trabalhou como comentarista esportivo.
Só em 2003 que o craque voltou a treinar um clube e brilhou no Suwon Samsung Bluewings, pelo qual conquistou 8 títulos, entre eles dois campeonatos nacionais e prêmios de melhor técnico do país. Uma resposta digna aos que criticaram seu trabalho lá em 1998. Desde então, Cha Bum-kun segue como uma personalidade esportiva da Coreia no mundo e foi eleito pela IFFHS o melhor jogador asiático do século XX. Um prêmio mais do que justo a um craque que rompeu barreiras, foi ídolo de lendas como Klinsmann e Michael Ballack e marcou seu nome na história. Um craque imortal.
Números de destaque:
Disputou 156 jogos e marcou 58 gols pelo Eintracht Frankfurt.
Disputou 215 jogos e marcou 63 gols pelo Bayer Leverkusen.
Disputou 136 jogos e marcou 58 gols pela seleção da Coreia do Sul.
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