Nascimento: 09 de novembro de 1960, em Hamburgo, Alemanha. Faleceu em 20 de fevereiro de 2024, em Munique, Alemanha.
Posições: Lateral-Esquerdo, Lateral-Direito e Meio-campista
Clubes: HSV Barmbek-Uhlenhorst-ALE (1978-1980), Saarbrücken-ALE (1980-1981), Kaiserslautern-ALE (1981-1986 e 1993-1998), Bayern München-ALE (1986-1988), Internazionale-ITA (1988-1992) e Real Zaragoza-ESP (1992-1993).
Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Alemão (1986-1987) e 1 Supercopa da Alemanha (1987) pelo Bayern München.
1 Copa da UEFA (1990-1991), 1 Campeonato Italiano (1988-1989) e 1 Supercopa da Itália (1989) pela Internazionale.
1 Campeonato Alemão (1997-1998), 1 Copa da Alemanha (1995-1996) e 1 Campeonato Alemão da Série B (1996-1997) pelo Kaiserslautern.
Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (1990) pela Alemanha.
Principais títulos individuais:
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1990
3º colocado no Ballon d’Or: 1990
Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 1984 e 1992
Eleito para o Time do Ano da Bundesliga: 1985-1986
Guerin d’Oro da Série A do Campeonato Italiano: 1989
“O Herói de 1990”
Por Guilherme Diniz
Com uma força física exemplar, chute venenoso com a perna esquerda (e também com a direita) e capaz de defender e atacar com precisão fantástica, ele foi um dos maiores jogadores alemães de todos os tempos e um dos maiores craques dos anos 1980 e 1990. Foi também um dos maiores batedores de faltas e pênaltis da história e um dos maiores especialistas em cruzamentos para a área. Ídolo do Kaiserslautern e da Internazionale, teve uma passagem marcante também pelo Bayern. Mas foi com a camisa da Alemanha que ele entrou para a história ao ajudar a Nationalelf a alcançar as finais das Copas do Mundo de 1986 e 1990. Na primeira, jogou muito, mas os germânicos não resistiram à iluminada Argentina de Maradona. E, em 1990, foi o melhor lateral-esquerdo do Mundial e marcou, de pênalti, o gol que deu o sonhado tricampeonato ao time alemão após duas finais perdidas, em 1982 e 1986.
Andreas Brehme, ou simplesmente Brehme, será sempre o herói de 1990 para os alemães e ganhou o respeito de todos no futebol pelas atuações marcantes e extremamente regulares que atingiu ao longo da carreira. Símbolo de uma era de grandes craques e de times altamente competitivos da Alemanha, Brehme manteve a grande qualidade de laterais-esquerdos tão latente no país, que tinha desde os anos 1960, com Schnellinger, passando por Breitner, nos anos 1970, e Briegel, no começo dos anos 1980, lendas no setor. E foi Brehme, no final dos anos 1980 e parte dos anos 1990, quem seguiu a dinastia dos laterais-esquerdos de renome da Nationalelf. É hora de relembrar a carreira dessa lenda.
Sumário
Direto para o topo
Nascido em Hamburgo, Brehme iniciou sua carreira no Barmbek-Uhlenhorst, de sua cidade-natal, onde jogou na equipe principal de 1978 até 1980. Foi nessa época que ele também começou a integrar as seleções de base da Alemanha e a demonstrar enorme técnica com a bola nos pés, rara habilidade em chutar com as duas pernas e ser eficiente tanto na marcação quanto no apoio ao ataque. Com tanta categoria, Brehme poderia ser um ótimo camisa 10, mas preferiu atuar mais recuado, na lateral-esquerda, ou mesmo como volante. Elegante, jogava de cabeça erguida e era tido como sucessor natural de Paul Breitner na seleção alemã.
Após um período no Barmbek-Uhlenhorst, Brehme jogou a segunda divisão alemã pelo Saarbrücken entre 1980 e 1981 e, titular, disputou 36 jogos e marcou três gols. Rapidamente o Kaiserslautern percebeu o talento do jovem e levou o lateral para integrar o elenco dos Red Devils a partir da temporada 1981-1982. Na primeira divisão, Brehme não encontrou qualquer dificuldade em se adaptar e foi titular do time por cinco temporadas, sempre atuando de maneira impecável no setor defensivo e ainda aparecendo no ataque para marcar gols. Na Bundesliga de 1981-1982, foram 27 jogos e quatro gols. Em 1983-1984, 33 jogos e oito gols. E, em 1984-1985, a conta aumentou para 11 gols em 33 partidas, números gigantes para um jogador de defesa.
Obviamente que tanto talento rendeu a Brehme convocações regulares para a seleção e, após integrar as equipes de base e o time olímpico, começou a aparecer no selecionado principal a partir de 1984, ano em que disputou a Eurocopa, competição que a Alemanha havia vencido em 1980. Embora a Alemanha não tenha chegado à final, Brehme foi eleito para o All-Star Team da competição continental, e ganhou naquele ano seu primeiro título individual da carreira. As boas atuações praticamente cravaram sua titularidade no time comandado após a Euro por Franz Beckenbauer. Aliás, o técnico alemão já era um fã do futebol de Brehme e brincava que “não sabia se ele era destro, canhoto ou ambidestro”, pois era impressionante como ele chutava bem com as duas pernas e alternava tais “ferramentas” em suas cobranças de pênaltis e faltas. Normalmente, Brehme batia pênaltis com a perna direita e cobrava faltas com a perna esquerda. Mas, de vez em quando, ele mudava e causava espanto nos adversários e nos próprios colegas de time.
Primeira Copa e ida ao Bayern
No comando da Alemanha, Beckenbauer passou a explorar bastante o talento individual de cada jogador e deu ainda mais oportunidades para nomes como Brehme, Matthäus, Völler e Littbarski, mas sem esquecer dos consagrados Rummenigge, Schumacher, Allofs, entre outros. Após passar sem sustos pelas Eliminatórias, a Alemanha foi para a Copa do Mundo de 1986 com um grande time e Brehme foi titular na partida de estreia, no empate em 1 a 1 com o Uruguai. No segundo jogo, o craque não jogou na vitória por 2 a 1 sobre a Escócia, mas retornou no duelo contra a Dinamarca, que terminou com vitória dos escandinavos por 2 a 0. Mesmo com o revés, os alemães se classificaram para a etapa seguinte.
Nas oitavas, Brehme acabou no banco e a Alemanha venceu Marrocos por 1 a 0, gol de Matthäus. Nas quartas, ele retornou para o duelo contra o anfitrião México e, após 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação, Brehme converteu seu pênalti na vitória por 4 a 1 que colocou os alemães na semifinal. O adversário seguinte foi um velho conhecido: a França, com vários craques e campeã da Eurocopa de 1984. Mas, diferente do drama de 1982, dessa vez a partida foi toda da Alemanha.
Logo aos 9’, Brehme cobrou falta ensaiada da entrada da área, o goleiro Joël Bats falhou e o placar foi inaugurado no estádio Jalisco: 1 a 0. Já aos 45’, em contra-ataque mortal, Allofs lançou Rudi Völler livre pelo centro, o atacante encobriu o goleiro e só teve o trabalho de tocar a bola para o gol vazio e liquidar de vez a partida: 2 a 0. Um lindo gol! De novo a Alemanha estava em uma final de Copa. Só que a equipe de Beckenbauer teria pela frente simplesmente a Argentina de Maradona…
Na decisão, Beckenbauer escalou sua força máxima, com Rummenigge, Völler, Allofs, Brehme e um trio de zaga composto por Karlheinz Förster, Jakobs e Briegel. A partida foi eletrizante, a Argentina abriu 2 a 0, a Alemanha empatou, mas na reta final do jogo, Maradona encontrou o espaço que precisava para dar um passe perfeito para Burruchaga fazer o gol da vitória argentina por 3 a 2. Brehme atuou os 90 minutos da decisão, foi lateral-esquerdo, deslocando o polivalente Briegel para a zaga. O revés não abalou o jogador, que tinha mais quatro anos para refazer o caminho da glória. E crescer ainda mais na carreira.
Em 1986, após outra boa temporada pelo Kaiserslautern e ser eleito para o time do ano da Bundesliga, Brehme foi contratado pelo Bayern München e, já em 1986-1987, faturou seu primeiro título como profissional: o Campeonato Alemão, quando os bávaros terminaram seis pontos à frente do Hamburgo. Brehme atuou em 31 dos 34 jogos da campanha do título e marcou quatro gols. No Bayern, ele manteve a parceria com Lothar Matthäus, companheiro que seria um grande amigo do craque e parceiro constante durante muitos anos. Ainda em 1987, o Bayern venceu a Supercopa da Alemanha e alcançou a final da Liga dos Campeões da UEFA, na qual Brehme atuou no meio de campo, pela esquerda, com Pflüger atuando na lateral-esquerda. Porém, os bávaros, favoritos, foram derrotados pelo Porto de Madjer, que venceu por 2 a 1 a final de Viena.
Chucrute à milanesa
Depois de duas temporadas pelo Bayern, Brehme aceitou uma oferta da Internazionale e foi jogar no clube nerazzurri ao lado de Matthäus. E, logo em sua temporada de estreia, Brehme fez valer cada centavo que a Inter gastou por seu futebol. O craque voou pelo lado esquerdo e armou diversas jogadas ofensivas graças à liberdade que tinha pelo esquema montado por Giovanni Trapattoni. Ele não tinha tantas funções defensivas como em seus outros clubes e jogava mais aberto, aparecendo de surpresa no ataque e levando perigo em seus chutes poderosos e passes precisos. Com ele, Matthäus, Serena, Bergomi e Zenga, a Inter venceu o Campeonato Italiano de 1988-1989 e a Supercopa Italiana de 1989 com recordes e números marcantes.
Os títulos foram ainda mais importantes pelo fato de o rival Milan ser um concorrente de peso na época, afinal, eles tinham “aqueeeeele” esquadrão comandado por Arrigo Sacchi e nomes como Baresi, Maldini, Rijkaard, Gullit e Van Basten. Nesse período, Brehme integrou também a seleção alemã que disputou a Eurocopa de 1988, mas acabou eliminada pela campeã Holanda na semifinal. Porém, a desforra estava próxima. A Copa do Mundo de 1990 chegava ao horizonte…
A glória inesquecível e o maior gol da vida
Em 1990, Brehme foi convocado para mais uma Copa e foi a arma mortal da Alemanha no lado esquerdo. Perito em atacar, ele também defendia fantasticamente bem e trouxe muita segurança aos zagueiros Augenthaler, Kohler e Berthold. Na fase de grupos, a Alemanha venceu a Iugoslávia (4 a 1, com passe de Brehme para um gol de Klinsmann), goleou os Emirados Árabes Unidos (5 a 1) e empatou em 1 a 1 com a Colômbia, garantindo o primeiro lugar do grupo. Nas oitavas de final, a Nationalelf reencontrou a Holanda e se vingou: vitória por 2 a 1, com o segundo gol alemão anotado por Brehme, em um chute cheio de efeito. Nas quartas de final, a Alemanha derrotou a Tchecoslováquia por 1 a 0 e carimbou sua vaga na semifinal.
Nela, os alemães enfrentaram a Inglaterra em um jogo histórico e Brehme, cobrando falta, abriu o placar para a equipe germânica. A Inglaterra empatou e, após empate também na prorrogação, a decisão foi para os pênaltis. Na marca da cal, Brehme deixou sua marca com a precisão absoluta que sempre tinha e a Alemanha venceu por 4 a 3, alcançando sua terceira final seguida de Copa do Mundo – algo inédito na história dos Mundiais.
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Na final, disputada no Olímpico de Roma, os alemães reencontraram a Argentina, que apostava no goleiro Goycochea, na genialidade de Maradona e no arisco Caniggia. O jogo foi sem grandes emoções, para falar verdade, e só acabou decidido aos 40’ do segundo tempo, em pênalti convertido, adivinhe, por Andreas Brehme, que pouco se importou com a fama de pegador de pênaltis de Goycochea e encheu o pé para fazer o gol do tricampeonato mundial dos alemães. Ele comentou ao site da FIFA sobre como conseguiu manter a calma naquele lance histórico.
“Se eu posso me lembrar no que pensei naquele lance? Não, claro que não. Eu limpei minha cabeça de todos os pensamentos. Tudo o que queria era colocar aquela bola dentro do gol”.
Brehme foi eleito para o All-Star Team daquela Copa, terminou com três gols marcados e entrou de vez para a história como um dos melhores laterais dos Mundiais. Lothar Matthäus, capitão e outro símbolo daquela seleção, comentou tempo depois que Brehme foi o melhor jogador com o qual ele jogou na carreira.
“O melhor jogador (com quem joguei) foi Andreas Brehme. A especialidade dele era que você não sabia se ele marcaria com o pé direito ou com o esquerdo. Ele poderia atirar com qualquer pé. Normalmente ele era lateral-esquerdo, o que significa que todos pensavam que ele era canhoto, o que ele era. Mas ele acertou o pênalti na final da Copa do Mundo de 1990 com o pé direito. Ele não era o jogador mais rápido, mas era muito inteligente. Joguei com ele na seleção, no Bayern de Munique e na Inter de Milão e conquistamos títulos juntos e tivemos uma grande amizade. Ele foi o melhor jogador com quem joguei”. Lothar Matthäus, em entrevista à revista Four Four Two, 17 de agosto de 2015.
Novos desafios, retorno ao Kaiserslautern e aposentadoria
Após o Mundial, Brehme ajudou a Internazionale a vencer a Copa da UEFA de 1990-1991, quando a nerazzurri derrotou a Roma na final após triunfo por 2 a 1 no agregado. Ele permaneceu até 1992 na Inter, quando passou brevemente pelo Real Zaragoza e, em 1993, retornou ao futebol alemão para jogar pelo Kaiserslautern. Nesse período, ele disputou outra Eurocopa, em 1992, e ajudou a Alemanha a alcançar a final. Porém, os germânicos foram surpreendidos pela Dinamarca, que venceu a decisão por 2 a 0 e ficou com um título histórico. Mesmo com o vice, Brehme foi mais uma vez eleito para o All-Star Team da competição. Em 1994, o lateral disputou mais uma Copa do Mundo, mas a envelhecida Alemanha não conseguiu ir bem e foi eliminada pela Bulgária nas quartas de final. Ele decidiu naquele ano de 1994 se aposentar da Nationalelf após 86 jogos e 8 gols.
No Kaiserslautern, o craque celebrou em 1995-1996 o título da Copa da Alemanha, quando os Red Devils venceram o Karlsruher na final por 1 a 0. Naquele time, Brehme atuava no meio de campo, ajudando na armação e contenção, ao lado de Axel Roos e Thomas Hengen. Na mesma temporada, porém, o Kaiserslautern acabou rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Alemão e disputou a Bundesliga 2 em 1996-1997. Ele atuou em 32 jogos da caminhada do título da segundona dos Red Devils e foi crucial para o retorno imediato do time à elite. E, em 1997-1998, como se estivesse em um conto de fadas, o Kaiserslautern venceu a Bundesliga exatamente após subir de divisão, na primeira vez que um clube promovido da série B conseguiu conquistar o título da série A.
O Kaiserslautern venceu a competição com uma rodada de antecedência e terminou com dois pontos à frente do Bayern München. Os destaques daquele time foram o goleiro Reinke, o atacante Kuka, o meia Thomas Riedl e o jovem meia Michael Ballack. Brehme atuou em apenas cinco jogos naquela campanha, mas foi suficiente para celebrar uma conquista histórica, a última dos Red Devils na Bundesliga desde então. Ao término da temporada, Brehme decidiu pendurar as chuteiras, aos 38 anos.
Após sua trajetória como futebolista, Brehme foi diretor do Kaiserslautern no começo dos anos 2000 e treinou o modesto SpVgg Unterhaching. Ele foi também embaixador do futebol alemão e figurou em muitos eventos esportivos. Ele passou também por momentos complicados em seus últimos anos e precisou de ajuda financeira dos amigos. Em fevereiro de 2024, Brehme sofreu um ataque cardíaco e foi levado às pressas a um hospital de Munique, mas não resistiu e faleceu precocemente, aos 63 anos, causando enorme comoção no mundo do futebol. No entanto, seu legado em campo, seus títulos e sua habilidade rara em criar tantas chances e marcar gols com as duas pernas, permanecerão para sempre. Assim como aquele gol na noite de 08 de julho de 1990, que tirou da garganta de milhões de alemães o grito de “campeão do mundo” depois de tantos anos de decepções. O gol heroico. O gol de uma vida. O gol de um imortal.
Números de destaque:
Disputou 319 jogos e marcou 53 gols pelo Kaiserslautern.
Disputou 80 jogos e marcou 8 gols pelo Bayern München.
Disputou 155 jogos e marcou 12 gols na Internazionale.
Disputou 86 jogos e marcou 8 gols pela seleção da Alemanha.
Disputou 709 jogos e marcou 88 gols na carreira.
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Parabens pelo post guilherme a velha escola de defensores versateis da alemanha capaz de produzir craques altamente competitivos e taticos ao mesmo tempo e brehme um dos exemplos disso.mas o curioso que depois do lahm a propria alemanha ja nao consegue mais essa producao com defensores comuns.mas falando de brehme craque extraordinario ambidestro forte fisicamente e com leitura de jogo mais com chute forte e cruzamentos precisos e um terror nas faltas e penaltis.e hoje em dia tem lateral que nao sabe cruzar uma misera bola no ataque heim.esse eu vi jogar descanse em paz andy.