Nascimento: 24 de Maio de 1966, em Marselha, França.
Posição: Atacante
Clubes: Auxerre-FRA (1983-1988), Martigues-FRA (1985-1986 – empréstimo), Olympique de Marselha-FRA (1988-1991), Bourdeaux-FRA (1989 – empréstimo), Montpellier-FRA (1989-1990 – empréstimo), Nîmes Olympique-FRA (1991), Leeds United-ING (1992) e Manchester United-ING (1992-1997).
Principais títulos por clubes:
1 Campeonato Francês (1990-1991) pelo Olympique de Marselha.
1 Copa da França (1989-1990) pelo Montpellier.
1 Campeonato Inglês (1991-1992) e 1 Supercopa da Inglaterra (1992) pelo Leeds United.
4 Campeonatos Ingleses (1992-1993, 1993-1994, 1995-1996 e 1996-1997), 2 Copas da Inglaterra (1993-1994 e 1995-1996) e 3 Supercopas da Inglaterra (1993, 1994 e 1996) pelo Manchester United.
Principais títulos por seleção: 1 Campeonato Europeu Sub-21 (1988) pela França.
Principais títulos individuais:
Eleito para o Time do Ano da PFA: 1993-1994
Jogador do Ano da PFA: 1993-1994
Jogador do Ano da FWA: 1995-1996
Onze d´Or: 1996
Eleito para o Hall da Fama do Futebol Inglês: 2002
Eleito o 42º Melhor Jogador do Jubileu da UEFA: 2004
FIFA 100: 2004
“O Red Devil em pessoa!”
Por Guilherme Diniz
Entre 1992 e 1997 ele foi a própria encarnação do diabo. Vermelho. Foi a mascote viva da ressurreição do Manchester United no futebol inglês. Era indomável, tanto em campo quanto fora dele. Seus dribles e chutes sempre resultavam em jogadas exuberantes e gols estrondosos, transformando o Old Trafford em um verdadeiro carnaval de alegria. De tão eufórica, a torcida elegeu aquele francês imponente e com cara de poucos amigos como o jogador do século XX da equipe, além de ganhar o apelido de “Rei Éric”. E discorde para ver! Éric Daniel Pierre Cantona foi um dos maiores atacantes e bad boys dos anos 90 e símbolo de como alguém pode ser tão genial e tão genioso nas mesmas proporções.
Revelado pelo Auxerre, Cantona desde cedo arrumava confusões e deixava claro não ter limites ou aceitar desaforos. Durante sua curta carreira, o francês aprontou de tudo: insultou técnicos, atirou camisa no chão depois de ser substituído, bateu em companheiro de time, xingou membros de federação, bateu em policial e, pasme, deu até voadora em um torcedor rival (!). Mas, mesmo com um temperamento explosivo, Cantona tinha um lado excêntrico e culto dentro de si que o transformou em ator de cinema, pintor, técnico da seleção francesa de futebol de areia e até palestrante. É hora de relembrar a carreira de um dos grandes craques do futebol mundial.
Sumário
Bad boy desde sempre
Nascido em Marselha, filho de um pintor e uma costureira, Éric Cantona começou sua carreira no pequeno SO Caillols, de sua cidade natal. O garoto jogou em várias posições, inclusive como goleiro, até descobrir sua real função: fazedor de gols. Cantona demonstrava em campo seus instintos criativos e muita habilidade, principalmente no controle de bola, graças à força física e altura. Depois de se tornar presença constante na equipe, o jovem conseguiu sua primeira chance profissional no Auxerre, em 1983, graças ao intenso trabalho de revelação de jovens talentos proposto pelo técnico do time na época, Guy Roux. Em 1984, teve de interromper seu cotidiano futebolístico para prestar o serviço militar. Em 1985, foi emprestado ao Martigues, retornando ao Auxerre em 1986. No clube, disputou 68 jogos e marcou 21 gols, feito que o levou já em 1987 a primeira convocação para a seleção francesa, que buscava se recompor depois de duas eliminações dolorosas nas Copas do Mundo de 1982 e 1986, e que já não tinha mais as estrelas de anos anteriores, incluindo Platini.
Justo no ano de seu debute pela seleção, Cantona apresentou seu “cartão de visitas” ao agredir o goleiro do Auxerre, Bruno Martini, e receber uma punição. No ano seguinte, foi outra vez suspenso (três meses) depois de uma falta dura em um jogador do Nantes. Explosivo, mas ao mesmo tempo craque, o jogador ganhava cada vez mais atenção dos adversários e da mídia. Em 1988, fez parte do elenco da França campeão europeu sub-21 e, em uma transferência recorde (£2,3 milhões), foi negociado com o Olympique de Marselha, uma realização pessoal do atacante, que poderia jogar no principal clube de sua cidade natal.
“Tour de France”
Quando chegou ao Olympique, Cantona tinha a chance de brilhar definitivamente graças à talentosa geração de craques que começava a despontar no time azul e branco. Aquele esquadrão dominaria o futebol francês na virada da década e chegaria ao auge em 1993, com o título da Liga dos Campeões da UEFA em cima do poderoso Milan-ITA. Mas, o que era para ser sua ascensão virou mais um show de problemas. No começo de 1989, o craque explodiu após ser substituído, chutou a bola na arquibancada e jogou sua camisa no chão, ganhando uma punição de um mês do Olympique. Tempo depois, insultou o então técnico da seleção francesa Henri Michel, fato que o afastou do selecionado francês por um ano. As polêmicas começavam a custar muito caro ao atacante, que perdia com o passar do tempo a chance de ser a estrela do time e tentar ajudar a seleção em busca de uma vaga na Copa de 1990, o que não aconteceu. Para piorar, Jean-Pierre Papin, atacante do OM, crescia como um foguete e virou o principal artilheiro do país naquela época.
Sem espaço, Cantona foi emprestado e jogou no Bourdeaux e no Montpellier, com destaque para este último, quando, em 1990, ajudou a equipe a conquistar a Copa da França, marcando o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Saint-Étienne na semifinal que garantiu o time na decisão, vencida por 2 a 1 contra o Racing Club de Paris. No Campeonato Francês, o craque marcou 10 gols e retornou ao Olympique graças ao bom desempenho na temporada.
Em 1991, conquistou o Campeonato Francês pelo Olympique, mas passou grande parte da campanha na reserva. Depois do título, deixou em definitivo o OM para jogar no Nîmes. E, pra variar, aprontou de novo. Em dezembro de 1991, depois de não concordar com uma marcação, Cantona jogou a bola no árbitro e recebeu uma suspensão de um mês. Bem, ela seria de apenas um mês não fosse a atitude de Cantona no julgamento, quando xingou todos os membros da corte de “idiotas” e viu a suspensão aumentar para dois meses. O caso fez com que Cantona, cansado de tudo aquilo anunciasse sua aposentadoria precoce do futebol.
Voltando atrás
Em 1992, Cantona repensou a decisão da aposentadoria após ouvir conselhos de amigos, de seu psicanalista e até de Michel Platini e aceitou voltar aos gramados. Naquele ano, assinou contrato com o Leeds United, da Inglaterra, após uma rápida passagem pelo Sheffield Wednesday-ING. Os ares ingleses começaram a surtir efeito no futebol de Cantona, que logo em sua temporada de estreia deu show e ajudou o Leeds a conquistar o Campeonato Inglês. Cantona disputou 15 partidas e marcou apenas três gols, mas foi essencial com suas assistências e presença de área marcante que resultaram em vários gols de Lee Chapman, o artilheiro do time. O ápice de Cantona naquele ano foi em agosto, na final da Supercopa da Inglaterra. No mítico Wembley, Cantona marcou um hat-trick e ajudou o Leeds a golear o Liverpool por 4 a 3.
Depois do título, já no Campeonato Inglês de 1992-1993, ele foi o primeiro jogador a marcar um hat-trick na Premier League, como foi batizado o campeonato naquela temporada, na goleada do Leeds por 5 a 0 sobre o Tottenham Hotspur. O talento do francês aflorava na terra da rainha e despertou o interesse de ninguém mais ninguém menos que Alex Ferguson, técnico do Manchester United. Ferguson precisava urgente de um atacante para sua equipe e perguntou à época se Cantona estava disponível. Depois de telefonemas e conversas, o acordo foi feito por £1,2 milhão. Pobre Leeds: o time acabava de vender ao United o jogador que seria responsável pela ressurreição do time de Old Trafford…
Surge o diabo vermelho
Muitos duvidaram que Cantona pudesse dar alguma retribuição ao Manchester, que vivia um tortuoso jejum de 26 anos sem títulos no Campeonato Inglês. Mas o francês provou em campo que todos estavam enganados. Com Cantona no ataque, o United ganhou mais qualidade e referência para jogadas, gols e dribles. O francês foi o grande destaque do time já no fim do jejum em 1993, quando United venceu a primeira Premier League – novo nome do campeonato do país. Era a primeira conquista desde os tempos do timaço de George Best, Bobby Charlton e companhia, lá em 1967. O time ficou 10 pontos à frente do Aston Villa, com 24 vitórias, 12 empates e seis derrotas em 42 jogos. Cantona marcou 15 gols no torneio (alguns ainda pelo Leeds) e mostrou que iria fazer história pelo United. Mais calmo, mas ainda sim capaz de cuspir em torcedor rival e ganhar uma multa de mil libras da FA, o craque crescia muito graças ao técnico Ferguson, que seria um dos maiores amigos do francês no futebol, como ele mesmo comentou anos depois:
“Alguns técnicos na Inglaterra não dão exemplo. São gordos e tomam cerveja. Ele era o treinador perfeito. Estava sempre preocupado com o que tínhamos de fazer nos treinos, com o que tínhamos de beber e com o nosso sono.” – Cantona, sobre Ferguson.
Na final da Supercopa de 1993, Cantona ajudou o United a bater o Arsenal nos pênaltis e levar o título com a vitória por 5 a 4. Na temporada seguinte, o francês foi outra vez decisivo para o bicampeonato inglês, marcando 18 gols na campanha de 27 vitórias, 11 empates e somente quatro derrotas em 42 partidas. Mesmo assim, Cantona arranjou novos problemas com vários cartões vermelhos, tanto no campeonato nacional quanto em outros torneios, como na Liga dos Campeões da UEFA, quando foi expulso no empate sem gols contra o Galatasaray-TUR, partida esta que eliminou os ingleses da competição.
Outra glória de Cantona em 1993-1994 foi a Copa da Inglaterra, vencida sobre o Chelsea. Na decisão, em Wembley, Cantona marcou dois gols de pênalti e ajudou a construir a goleada de 4 a 0 dos vermelhos. Com o “Double” garantido, o United ainda faturou a Supercopa de 1994, com uma vitória por 2 a 0 sobre o Blackburn Rovers (com mais um gol de pênalti de Cantona). Para coroar uma temporada quase perfeita, o francês foi eleito o jogador do ano pela PFA (Professional Footballer´s Association).
A ausência na Copa
Naqueles anos 90, Cantona foi mais um craque a nunca disputar uma Copa do Mundo, assim como George Best e George Weah, só para citar alguns. A França não conseguiu se qualificar para os torneios de 1990, na Itália, e 1994, nos EUA. Pela seleção, Cantona disputou 43 partidas e marcou 20 gols. O atacante foi ainda o capitão da equipe que se preparava para a Eurocopa de 1996, mas a trajetória do craque seria abreviada para sempre por conta de sua mais famosa fúria em campo.
UFCantona
Na temporada 1994-1995, Cantona seguia bem no United, levando a crer que conquistaria o tricampeonato seguido do Inglês. Mas o atacante colocou tudo por água abaixo no fatídico dia 25 de janeiro de 1995. Em uma partida contra o Crystal Palace, na casa do adversário, Cantona foi expulso depois de acertar um chute no zagueiro Richard Shaw. Enquanto se dirigia para os vestiários, um torcedor do Palace provocou o francês. Aquilo despertou a ira do “diabo vermelho”, que não pensou duas vezes e acertou um chute de kung fu surreal no peito do torcedor. A cena correu o mundo, todos ficaram atônitos e o francês levou a mais severa punição de sua carreira: oito meses de suspensão, uma multa de 10 mil libras e 120 horas de trabalho comunitário. Cantona, na época, filosofou sobre o caso:
“As gaivotas seguem o barco de pesca porque acham que vão ganhar umas sardinhas.”
E explicou a frase tempo depois:
“Aquelas palavras não tinham nenhum significado real. Havia muita pressão e queria que ela acabasse. Sabia que todos tentariam analisar o que eu disse. Você precisava ter visto a incompreensão no rosto de todos à minha volta. Sensacional!”
A suspensão de Cantona fez o Manchester perder o título inglês e a Copa da Inglaterra daquele ano, além de custar ao craque o consequente adeus à seleção francesa, já que o técnico Aimé Jacquet começaria a pincelar novos talentos e promover a ascensão de jogadores como Petit, Zidane, Henry e Trezeguet.
O craque volta. E os títulos também!
Depois de cumprir suspensão, Cantona voltou e trouxe consigo as glórias para o Manchester United. Com ele em campo, o time venceu mais um Campeonato Inglês em 1995-1996, com 14 gols de Cantona. O time vermelho ficou quatro pontos à frente do forte Newcastle de Alan Shearer, com 25 vitórias, sete empates e seis derrotas em 38 jogos. O grande momento, no entanto, veio na final da Copa da Inglaterra, contra o Liverpool. Como o capitão do United, Steve Bruce, estava contundido, Cantona herdou a braçadeira de capitão. E ela lhe caiu muito bem!
Em um jogo tenso e disputado, o United só encontrou o caminho da vitória aos 40´do segundo tempo com um gol de… Cantona! O 1 a 0 deu ao clube mais um “Double”, fazendo do time de Ferguson o primeiro a alcançar o feito por duas vezes. Cantona recebeu naquele ano o prêmio de Melhor Jogador do Ano da Football Writer´s Association (FWA). Em agosto, veio mais uma Supercopa nos 4 a 0 sobre o Newcastle, com um gol de Cantona. Justamente depois de quase ver a carreira ruir, o craque vivia um de seus melhores momentos como profissional.
Últimas glórias e aposentadoria
Capitão definitivo do Manchester na temporada 1996-1997, Cantona viu seu time começar a campanha do Campeonato Inglês da pior maneira possível, com derrotas acachapantes por 5 a 0 para o Newcastle e 6 a 3 para o Southampton, além da perda da invencibilidade de 40 anos em casa em competições europeias com a derrota para o Fenerbahce por 1 a 0, pela Liga dos Campeões. Mas o time conseguiu se reerguer e manteve a hegemonia em casa, vencendo a quarta Premier League em apenas cinco anos, com 75 pontos, 21 vitórias, 12 empates e cinco derrotas em 38 jogos.
Na Liga dos Campeões, o United fez pela primeira vez na “Era Cantona” uma campanha com reais chances de título, mas caiu na semifinal para o futuro campeão, o Borussia Dortmund-ALE. Rei e consagrado em Manchester, mas muito magoado por não ter chances de disputar a Copa do Mundo de 1998 (que, ironicamente, seria vencida pela França), Cantona decidiu naquele final de temporada encerrar sua carreira com apenas 30 anos. Para ele, seu trabalho já estava feito: renascer o Manchester United e levá-lo aos caminhos das glórias.
Ídolo eterno e celebridade
Depois de pendurar as chuteiras, Cantona seguiu no mundo do esporte e mostrou um lado até então desconhecido: o de estrela de cinema. O ex-jogador virou ator e fez um papel de destaque no filme “Elizabeth”, além de estrelar o filme “À Procura de Éric”, quando fez o papel dele mesmo. Cantona segue estrelando outros filmes e várias campanhas publicitárias, além de ter sido técnico da seleção francesa de futebol de areia e conquistado a Copa do Mundo da categoria em 2005. O ex-craque segue também no mundo esportivo por meio de palestras e fóruns. Bad boy, polêmico e sem papas na língua, Cantona poderia ter sido muito mais do que foi como jogador naqueles loucos anos 90. Mesmo tendo pouco tempo como profissional, o francês escreveu seu nome para sempre na história por impor respeito e temor nos adversários com seu futebol decisivo e genial.
Com a camisa do Manchester, fez o torcedor sorrir como há mais de duas décadas ele não sorria, conquistando quatro de cinco campeonatos ingleses disputados. No começo dos anos 2000, a torcida elegeu Cantona o maior jogador do time no século, à frente inclusive de George Best, Bobby Charlton e Denis Law, tamanha a reverência e importância que os fanáticos de Manchester tinham e ainda têm sobre o francês, um craque imortal e responsável direto pela ressurreição do Red Devil. Vida longa ao “King Éric”!
Números de destaque:
Disputou 185 jogos e marcou 82 gols pelo Manchester United.
Disputou 43 jogos e marcou 20 gols pela seleção da França.
Frases marcantes:
“Não acho que os jogadores recebam dinheiro demais. O futebol é extremamente popular e, sem os jogadores, não existiria.”
“No futebol você tem um adversário; no cinema, o adversário é você mesmo.”
“Não quero nada escrito na minha lápide. Gostaria de deixar uma imagem de mistério.”
“Não planejei. Um dia estava frio e levantei a gola. Ganhamos, então virou um hábito jogar com a gola levantada.”
“Nenhum. Sou eu.” – Quando perguntado se o melhor jogador francês de todos os tempos era Platini ou Zidane.
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Valeu Imortais!!!
Maravilhoso trabalho do Blog, recomendarei aos amigos fans do futebol do passado. Parabéns!
Obrigado pelos elogios, Raphael!
Esse foi o melhor jogador que vi atuando pelo Manchester United! Não é a toa que digo: comecei a torcer pelo Man Utd por causa dele!
Sensacional ! Craques como Cantona fazem falta no futebol atual, tanto na bola, quanto na personalidade forte, ser polêmico assim como foi o baixinho genial Romário. Tem que ter mais jogadores assim, o futebol além de ruim tecnicamente atualmente, está muito chato ! Parabéns a todos por esse trabalho excelente ! Uma sugestão, poderia fazer sobre uma lenda inglesa, o também craque : Gary Speed, esse marcou época.