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Esquadrão Imortal – Peñarol 1981-1983

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Em pé: Diogo, Gutiérrez, Bossio, Olivera, Morales e Gustavo Fernández. Agachados: Silva, Saralegui, Fernando Morena, Jair e Venancio Ramos.

 

Grandes feitos: Campeão Mundial Interclubes (1982), Campeão da Copa Libertadores da América (1982) e Bicampeão Uruguaio (1981 e 1982). Foi o primeiro clube da história a se tornar tricampeão mundial de futebol.

Time base: Gustavo Fernández; Víctor Diogo, Walter Olivera, Nelson Gutiérrez e Juan Vicente Morales; Miguel Bossio (Néstor Montelongo), Mario Saralegui e Jair Gonçalves; Venancio Ramos (Rubén Paz), Fernando Morena e Walkir Silva (Ernesto Vargas). Técnicos: Luis Cubilla (1981) e Hugo Bagnulo (1982-1983).

“A volta da mística aurinegra”

Por Guilherme Diniz

Como davam show aqueles mágicos uruguaios, multicampeões e pioneiros na cobiçada e imponente Copa Libertadores. Em apenas uma década, foram seis finais (1960, 1961, 1962, 1965, 1966 e 1970), três títulos (1960, 1961 e 1966) e esquadrões marcantes com craques do naipe de Luis Cubilla, Alberto Spencer, José Sasía, Juan Joya, Mazurkiewicz, Pablo Forlán, Omar Caetano, Cortés, Pedro Rocha, Néstor Gonçalves e muitos outros. Porém, nos anos 70, aquele gigante aurinegro repousou em seu leito de glórias e parece ter deixado de lado o protagonismo sul-americano e mundial para repor as energias, lustras suas taças e tornar mais competitivo o mundo da bola. No entanto, quando os rivais já nem lembravam mais do Club Atlético Peñarol, eis que o time de Montevidéu ressurgiu no ano de 1982 para conquistar nada mais nada menos que três títulos, incluindo a tal de Copa Libertadores e o Mundial Interclubes. Mais do que isso, o time despachou pelo caminho o Flamengo de Zico, o Grêmio de Tarciso e De León e o São Paulo de Waldir Peres e Mário Sérgio, além de enfiar 4 a 2 no River Plate-ARG em pleno estádio Monumental. A mística aurinegra estava de volta.

O supercampeão da América retornava com a força, a raça e o talento que tanto lhe foram característicos nos anos 60, dessa vez graças aos gigantes Olivera e Gutiérrez, aos eficientes Bossio e Saralegui, ao ótimo meia brasileiro Jair e ao maravilhoso atacante Fernando Morena, maior artilheiro da história do Campeonato Uruguaio, um dos maiores de toda a história da Libertadores e o autor do gol do título continental no último minuto do jogo contra o Cobreloa. Naquele ano de 1982, o Peñarol se tornou, também, o primeiro clube tricampeão mundial, ficando um passo à frente de Real Madrid-ESP, Milan-ITA, Nacional-URU, Internazionale-ITA, Bayern München-ALE, Ajax-HOL, Santos-BRA e tantos outros clubes. Mas não teve só isso não. Teve muito mais. É hora de relembrar.

 

Despertando

Fernando Morena, um dos maiores ídolos de toda a história do Peñarol.
Fernando Morena, um dos maiores ídolos de toda a história do Peñarol.

 

Mais de dez anos se passaram até o Peñarol conseguir montar um time competitivo e capaz de brigar de igual para igual com as outras potências da América do Sul. De 1970, ano em que a equipe foi vice-campeã da Libertadores ao perder para o Estudiantes-ARG, até 1981, foram anos de decepções, perda do trono sul-americano para o Independiente-ARG (tetracampeão consecutivo do torneio entre 1972 e 1975) e até as incômodas conquistas do maior rival, o Nacional-URU, nos anos de 1971 e 1980. Alegria, mesmo, a torcida carbonera só teve dentro de casa com os títulos uruguaios de 1973, 1974, 1975, 1978 e 1979, todos eles com o brilho e os gols de Fernando Morena, absoluto e prolífico atacante que quebrou todos os recordes no período com incríveis 157 gols em pouco mais de 135 jogos, incluindo a maior artilharia em uma só edição do torneio até hoje (36 gols em 1978), seis artilharias seguidas (de 1973 até 1978) e sete gols em um só jogo (nos 7 a 0 do Peñarol sobre o Huracán Buceo, em julho de 1978).

Em 1981, a torcida carbonera ajudou a diretoria do clube a repatriar o craque Morena, que estava no futebol espanhol na época.
Em 1981, a torcida carbonera ajudou a diretoria do clube a repatriar o craque Morena, que estava no futebol espanhol na época.

 

Em 1981, o clube contava com uma boa base comandada pelo técnico Luis Cubilla, mas já não tinha mais Morena, que deixara o clube uruguaio em 1979 para atuar no futebol espanhol. Foi então que a diretoria e a torcida do Peñarol fizeram de tudo para repatriar o craque, que voltou a Montevidéu por mais de US$ 1 milhão, valor astronômico na época. A quantia foi conseguida após uma intensa campanha de arrecadação de fundos dos torcedores, fundamentais para trazer o atacante de volta ao clube aurinegro. Morena formou, naquele ano, uma ótima dupla com Rubén Paz e ajudou o Peñarol a conquistar mais um Campeonato Uruguaio com 19 vitórias, seis empates e três derrotas em 28 jogos, com 63 gols marcados (melhor ataque) e 25 sofridos (melhor defesa). Paz foi o artilheiro da competição com 17 gols e um dos destaques de um time que contava, entre outros, com o viril e seguro zagueiro Walter Olivera, o defensor Gutiérrez, o rápido lateral Víctor Diogo, o volante Bossio, os pratas da casa Saralegui e Vargas, e o meia/atacante Venancio Ramos.

A conquista do título nacional colocou o Peñarol em mais uma Copa Libertadores no ano de 1982. Naquela temporada, o clube aurinegro ganharia reforços e a base necessária para ficar, enfim, forte. Hugo Bagnulo, velho conhecido da torcida em vitoriosas passagens de outrora, retornou ao comando técnico. No gol, Gustavo Fernández foi contratado junto ao Sevilla-ESP e assumiu a meta da equipe. Já no ataque os aurinegros fizeram uma troca envolvendo Rubén Paz, que foi jogar no Internacional-BRA, e Jair Gonçalves, que viajou para Montevidéu para assumir a vaga deixada pelo uruguaio. Aos poucos, o técnico Bagnulo foi dando uma faceta toda própria ao time e viu que as entradas de Jair e do jovem Walkir Silva no setor ofensivo renderiam ótimos frutos e grandes chances de gol para o matador Morena. Além disso, o meio de campo se mostrava bastante marcador e a zaga muito segura tanto nas bolas aéreas quanto nas jogadas por baixo. Com o time pronto, era hora de começar o árduo e imprevisível caminho da Libertadores.

 

Líderes e imponentes

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O grupo do Peñarol na Libertadores de 1982 não era nada convidativo, afinal, dos quatro times apenas um se classificaria para a segunda fase e entre esses times estavam o São Paulo-BRA e o Grêmio-BRA, este último campeão brasileiro de 1981 e que tinha jogadores como De León, Paulo Roberto, Tarciso e Renato. A estreia dos aurinegros foi um confronto local contra o Defensor-URU, no qual Morena, duas vezes, e Vargas marcaram os gols da vitória por 3 a 0. Na partida seguinte, o capitão Olivera marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo em Montevidéu, e Gutiérrez fez o tento do 1 a 0 diante do Grêmio também no Uruguai. No returno, empate sem gols contra o Defensor, vitória maiúscula por 1 a 0 sobre o São Paulo em pleno Morumbi (golaço de fora da área de Morena) e uma derrota por 3 a 1 para o Grêmio, em Porto Alegre, mas que não afetou de maneira alguma os aurinegros, afinal, eles já estavam classificados. Aquela seria a primeira e única derrota da equipe na competição.

Com quatro vitórias, um empate, uma derrota, sete gols marcados e três sofridos em seis jogos, o Peñarol se classificou para a segunda fase, que reuniria os cinco classificados mais o campeão do ano anterior, o fantástico Flamengo de Zico, Adílio, Andrade, Nunes e Cia. Os seis times seriam divididos em dois grupos de três e os campeões de cada grupo fariam a final. Para azar do Peñarol, os sorteados na chave da equipe seriam o River Plate-ARG e o Flamengo, com Cobreloa-CHI, Olimpia-PAR e Deportes Tolima-COL na chave 2.

 

Na força da camisa. E do futebol

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Embora estivesse no grupo mais forte e difícil daquela segunda fase, o Peñarol não se acovardou diante dos gigantes Flamengo e River. Muito pelo contrário. Foi exatamente diante da adversidade que o time de Hugo Bagnulo mostrou uma força notável e muito equilíbrio. A equipe tinha muita qualidade com a bola no pé, construía jogadas de efeito, sabia se defender com maestria e não pensava duas vezes antes de arriscar um lance de efeito, um contra-ataque fulminante ou tabelas rápidas em direção ao ataque. Muitas dessas qualidades foram vistas na partida contra o Flamengo, em Montevidéu, no dia 19 de outubro. Os aurinegros fizeram 1 a 0 (gol de Vargas), souberam neutralizar as principais jogadas de ataque dos brasileiros e somaram os primeiros pontos do grupo.

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Na partida seguinte, em Buenos Aires, contra o River Plate, o time teve sua melhor apresentação em toda Libertadores. Com muita força ofensiva, um Morena inspiradíssimo e sem se importar com a pressão da torcida adversária, o Peñarol goleou os argentinos por 4 a 2, com dois gols de Morena, um de Olivera e outro de Vargas. A equipe aurinegra jogou muito, deu aula de futebol e por muito pouco não marcou um gol épico num contra-ataque fulminante no qual a bola passou de pé em pé e em toques de primeira, com o arremate final beijando a trave do goleiro argentino. No duelo entre os dois times na capital uruguaia, Vargas marcou duas vezes e o Peñarol voltou a vencer os argentinos, dessa vez por 2 a 1.

No Maracanã, Jair cobrou uma falta na gaveta e colocou o Peñarol na final.
No Maracanã, Jair cobrou uma falta na gaveta e colocou o Peñarol na final.

 

Muito perto da vaga, o time uruguaio foi para a decisão da vaga na final contra o Flamengo em um Maracanã tomado por mais de 90 mil pessoas. O time brasileiro jogava com o que tinha de melhor e apostava no talento de Leandro, Figueiredo, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita e Nunes para seguir vivo na luta pelo bicampeonato. Já o Peñarol também contava com sua força total e um adendo – sua pesada e mística camisa. Em campo, os uruguaios jogaram de igual para igual contra os campeões do mundo, catimbaram, foram vítimas de faltas duras dos brasileiros, souberam revidar e jogaram o futebol competitivo e talentoso que sempre marcou a história do time de Montevidéu. O goleiro Fernández fez uma partida sensacional, a defesa e o meio de campo marcaram como nunca as peças chave do esquema rubro-negro e a dupla Jair / Morena infernizou os defensores brasileiros com toques de classe e jogadas de efeito. O Peñarol venceu por 1 a 0, golaço de falta de Jair, e calou o Maracanã, que foi obrigado a assistir a mais uma festa uruguaia num dia 16. Mas de novembro, e não de julho…

Jair: um dos expoentes do Peñarol em 1982.
Jair: um dos expoentes do Peñarol em 1982.

 

Será que vai?

Embalado e perto de um título que ele não via desde 1966, o Peñarol foi com tudo para a final da Libertadores contra o Cobreloa-CHI, vice-campeão do ano anterior. Para reforçar o entusiasmo da equipe, o elenco caminhava a passos largos rumo ao bicampeonato uruguaio, que seria concretizado tempo depois com uma campanha irrepreensível: 15 vitórias, nove empates, duas derrotas, 47 gols marcados (sendo 17 de Morena, o artilheiro do torneio) e 22 sofridos em 26 jogos, incluindo dois triunfos de 1 a 0 sobre o maior rival, o Nacional.

Na Libertadores, a partida de ida da final foi disputada em Montevidéu, com mais de 44 mil pessoas apoiando o time aurinegro no estádio Centenário. O Peñarol apostava muito na força de sua torcida para construir um bom resultado e viajar até Santiago com tranquilidade. Porém, tudo deu errado naquele duelo de 26 de novembro de 1982. O gol teimou em não sair, o Cobreloa soube neutralizar as investidas de Morena e a partida terminou empatada em 0 a 0. A torcida carbonera ficou temerosa pelo fato de os Laranjas de Calama precisarem de uma simples vitória para conquistar o título continental. Mas os jogadores uruguaios tinham a certeza do título e que tudo seria decidido fora de casa, assim como fora na segunda fase.

 

¡La más pura emoción!

O gol de Morena no minuto final do jogo contra o Cobreloa: Peñarol tetracampeão.
O gol de Morena no minuto final do jogo contra o Cobreloa: Peñarol tetracampeão.

 

Na noite de 30 de novembro de 1982, o Peñarol teve que invocar toda sua tradição histórica e futebolística para sair do estádio Nacional, em Santiago, com a taça de campeão da América. Mais de 70 mil pessoas lotavam o caldeirão chileno para apoiar o Cobreloa em busca do título perdido para o Flamengo em 1981. Poucos acreditavam que o raio cairia duas vezes no mesmo lugar e apostavam no título continental dos laranjas e na consagração de Óscar Wirth, Mario Soto, Rubén Gómez, Washington Olivera, Hugo Rubio e do técnico Vicente Cantarore. O jogo, como não poderia deixar de ser, foi pegado, tenso, com faltas duras e muita pressão dos dois lados. Morena não conseguia manter sua média de gols, Jair não encaixava um passe na medida e os contra-ataques pareciam não funcionar.

Aos 44´do segundo tempo, todos já começavam a pensar na terceira partida, a de desempate, em Buenos Aires, quando o improvável aconteceu. Bossio ganhou no meio de campo, deixou com Saralegui e este deixou na direita para Venancio Ramos. O atacante disparou em velocidade com uma verdadeira avenida em sua frente, levantou a cabeça e viu o matador Morena aparecer lá no meio da área. Ramos cruzou, Morena recebeu, dominou com a perna esquerda e com ela mesmo chutou meio sem jeito, mas com todo o jeito para marcar um gol chorado, mascado, que valia título, nos segundos finais da partida: 1 a 0. O estádio emudeceu. Quer dizer, parte dele. Porque a parte negra e amarela estava em polvorosa. Gritos, lágrimas, sorrisos, gargalhadas e todos os tipos de felicidades possíveis eram vistos nos jogadores, na comissão técnica e na torcida do Peñarol. Era o fim. O título já era dos aurinegros. Ao apito final, eis que o gigante de Montevidéu, enfim, despertara como tetracampeão da América.

O capitão Olivera segura a taça da Libertadores.
O capitão Olivera segura a taça da Libertadores.

 

Após 16 anos da célebre conquista de 1966, o Peñarol era campeão da Libertadores com um gol no último minuto de jogo. Era a taça para o time mais eficiente, mais competitivo e mais imponente do torneio. Os aurinegros venceram nove jogos, empataram dois e perderam apenas um, com 18 gols marcados e apenas seis sofridos (e nove partidas sem ter a meta vazada). Fernando Morena, ídolo e peça fundamental na conquista, foi o artilheiro da competição com sete gols e virou definitivamente um monstro sagrado do clube, fazendo valer cada centavo gasto em sua repatriação.

O Peñarol de 1982: com o avanço de Jair, a equipe uruguaia jogava muitas vezes com quatro atacantes. Mesmo assim, levava pouquíssimos gols.
O Peñarol de 1982: com o avanço de Jair, a equipe uruguaia jogava muitas vezes com quatro atacantes. Mesmo assim, levava pouquíssimos gols.

 

O primeiro tri mundial

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Poucos dias depois da conquista da América, o Peñarol já teve que arrumar as malas e viajar para o seu próximo compromisso, dessa vez lá do outro lado do mundo, no Japão, para a disputa do Mundial Interclubes. Era a primeira vez que o time aurinegro viajava ao Oriente para brigar por um título que ele conhecia apenas dos tempos de partidas de ida e volta lá nos anos 60. O adversário dos uruguaios era o Aston Villa-ING, campeão europeu e que havia derrotado o Bayern München-ALE de Augenthaler, Paul Breitner e Rummenigge. Os ingleses tinham uma equipe bem montada pelo técnico Tony Barton com o atacante Peter Withe, o ponta Tony Morley, o meio-campista Dennis Mortimer e o goleirão Jimmy Rimmer. Porém, quem deu as cartas naquele dia 12 de dezembro de 1982 foi o Peñarol.

Jogando com todas as virtudes que lhe fizeram campeão da América, o clube uruguaio mostrou força desde o início do jogo, não se assustou com uma bola na trave dos ingleses, e abriu o placar aos 27´do primeiro tempo, num “estranho” gol de falta marcado por Jair em que a bola quicou dentro do gol e saiu, gerando dúvidas se ela realmente havia entrado. Por via das dúvidas, Morena colocou a redonda para dentro e saiu para o abraço! Sem demonstrar nervosismo algum em campo e com seus jogadores concentrados ao extremo, o Peñarol ampliou a vantagem aos 23´do segundo tempo, quando Walkir Silva saiu em disparada desde o meio de campo, teve o chute prensado pelo zagueiro, mas pegou o rebote para fazer 2 a 0.

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Esbanjando personalidade e sangue frio, o time aurinegro não deixou os europeus levarem perigo nos minutos finais e o Japão viu naquele dia a consagração do primeiro clube tricampeão mundial de futebol: o Club Atlético Peñarol. O brasileiro Jair foi eleito o melhor jogador da partida e foi presenteado com um carro da companhia patrocinadora do torneio.

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Na volta ao Uruguai, milhares de torcedores receberam seus heróis e lotaram o mítico estádio Centenário para a exibição da taça de campeão do mundo. Em apenas um ano, o time da capital faturou tudo o que disputou: campeonato nacional, copa continental e mundial. Uma saborosa “tríplice coroa”.

 

Brigas, problemas e o fim

Jair e o "carro da discordia".
Jair e o “carro da discórdia”.

 

Em 1983, Jair foi colocado na geladeira do Peñarol por se recusar a dividir o prêmio ganho no Japão com os companheiros de clube. A situação do jogador ficou ainda mais insustentável depois de entrar em conflito direto com o atacante Morena, astro e um dos mais influentes dentro do time. A ausência de Jair foi apenas um dos problemas que prejudicaram o rendimento do Peñarol dentro de campo. Um dos mais graves foi a crise financeira pela qual passou o clube naquele ano, culpa da inflação que assolava o Uruguai (com picos de 110%), o dólar valendo três vezes mais que o peso uruguaio e o caixa aurinegro indo para o espaço por causa disso. Os jogadores chegaram a ficar sem receber salário durante três meses e a equipe ficou apenas na 7ª colocação no Campeonato Uruguaio.

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Mesmo com tantos fatores negativos, o time ainda alcançou mais uma final de Libertadores após eliminar o Atlético San Cristóbal-VEN (0 a 0 e 1 a 0) e o rival Nacional-URU (2 a 0 e 2 a 1). Na decisão, os aurinegros empataram em 1 a 1, em casa, contra o Grêmio-BRA, mas perderam a volta, em Porto Alegre, por 2 a 1 e deram adeus ao sonho do pentacampeonato. Somente em 1987 o clube voltaria a brilhar no cenário sul-americano com uma nova conquista continental de maneira bem parecida com a de 1982: uma vitória por 1 a 0 no jogo decisivo, contra o América de Cali-COL, com um gol no minuto final de jogo marcado por Diego Aguirre. No entanto, os aurinegros perderam a final do Mundial daquele ano para o Porto-POR (debaixo de muita neve) por 2 a 1.

 

Tríplice imortal

O time de 1982: Em pé: Victor Diogo, Nelson Gutiérrez, Miguel Bossio, Walter Olivera, Juan Vicente Morales e Gustavo Fernández; Agachados: Venancio Ramos, Mario Saralegui, Fernando Morena, Jair Gonçalves e Walkir Silva.
O time de 1982 – Em pé: Victor Diogo, Nelson Gutiérrez, Miguel Bossio, Walter Olivera, Juan Vicente Morales e Gustavo Fernández; Agachados: Venancio Ramos, Mario Saralegui, Fernando Morena, Jair Gonçalves e Walkir Silva.

 

As conquistas do Peñarol de 1982 seguem intactas e vivas na memória de qualquer torcedor carbonero. Desde aquele ano que o clube não consegue repetir a proeza de faturar a “tríplice” (campeonato nacional, copa continental e mundial interclubes) e reunir tantos bons jogadores num só elenco. Nem a conquista de 1987 pôde suplantar o peso e o talento que o esquadrão de 1982 teve na história do futebol e também do Peñarol, que rechaçou como nunca sua fama de “decano” e pioneiro com o inédito tricampeonato mundial. Um título que por si só transformou Olivera, Gutiérrez, Saralegui, Bossio, Jair, Ramos e Morena em mitos de um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

Gustavo Fernández: estava desde 1973 no Sevilla quando chegou ao Peñarol, em 1982. Com 30 anos, deu mais segurança ao gol do time e foi muito beneficiado pelo ótimo sistema defensivo montado pelo técnico Bagnulo. Fez uma grande Libertadores, realizou defesas fantásticas e teve seu papel de destaque naquela temporada histórica.

Víctor Diogo: lateral-direito de muito vigor físico, raça e velocidade, Diogo começou nas categorias de base do Peñarol e jogou na equipe profissional de 1979 até 1984. Foi absoluto no setor defensivo do time no período e foi fundamental para as conquistas nacionais e internacionais dos aurinegros. Depois de ganhar tudo em Montevidéu, foi jogar no Palmeiras e também teve destaque entre 1984 até 1989. Disputou mais de 30 jogos com a camisa do Uruguai.

Walter Olivera: foi o grande líder e capitão daquele esquadrão imortal. Ótimo nas antecipações, cheio de raça e nascido para jogar no Peñarol, Olivera levava para o campo todo o brio que a torcida carbonera sempre adorou ver. O zagueiro é considerado um dos maiores de toda a história do clube e foi revelado nas categorias de base do próprio Peñarol. Olivera jogou de 1972 até 1983 em Montevidéu, conquistou nove títulos, marcou vários gols em suas muitas subidas de cabeça nas áreas rivais e depois foi jogar no Atlético Mineiro-BRA, onde encerrou a carreira em 1985. Disputou 30 partidas pela seleção uruguaia.

Nelson Gutiérrez: outra cria das bases do Peñarol, Gutiérrez formou uma sólida e inesquecível dupla de zaga com Olivera entre 1980 e 1983 e mostrou muita eficiência nas jogadas aéreas, na marcação e também nos passes. Na carreira, colecionou títulos por onde passou e teve a honra de ser campeão continental e mundial tanto pelo Peñarol, em 1982, quanto pelo River Plate-ARG, em 1986, quando formou uma ótima zaga ao lado de Oscar Ruggeri. Disputou 57 partidas pela seleção uruguaia.

Juan Vicente Morales: jogava pelo setor esquerdo da defesa do time e ajudava na construção de jogadas de ataque e também na marcação. Jogou de 1978 até 1982 na equipe de Montevidéu.

Miguel Bossio: depois de jogar no Racing Montevideo-URU e no Sud América-URU, Bossio encontrou no Peñarol a chance que precisava para mostrar seu futebol eficiente e muito forte na marcação. Deu combate e segurança ao meio de campo da equipe entre 1980 e 1985 e foi uma das peças mais importantes no esquema tático do técnico Bagnulo. Após brilhar pela equipe aurinegra, Bossio foi jogar no futebol espanhol, onde encerraria a carreira em 1993. Disputou 30 partidas pela seleção uruguaia.

Néstor Montelongo: foi um exímio lateral que podia jogar tanto na esquerda quanto na direita. Era muito veloz, incisivo e eficiente na marcação e no apoio ao ataque. Brilhou tanto no Peñarol quanto no Nacional, algo para poucos. Disputou 36 jogos pela seleção uruguaia.

Mario Saralegui: corajoso, técnico e com muita qualidade nos passes, Saralegui foi outro talento no meio de campo do Peñarol naqueles anos de ouro. Jogou de 1977 até 1984 na equipe (teve ainda outras duas passagens nos anos 80) e ganhou oito títulos. Pela seleção, disputou 29 partidas.

Jair Gonçalves: depois de virar ídolo e multicampeão no Internacional, Jair encarou o desafio de jogar no futebol uruguaio, em 1982, e não se arrependeu. No auge da forma, o craque jogou muito, fez gols maravilhosos, deu passes formidáveis e foi uma das principais estrelas do time campeão da América e do mundo. Uma pena que tenha entrado em atrito com todos por causa de premiações e dinheiro após o título mundial. Depois do episódio que custou sua saída do clube, Jair jamais brilhou como antes e de maneira tão intensa como em 1982.

Venancio Ramos: tinha muita velocidade e força pelo lado direito do ataque do time, além de ser um dos principais “garçons” de Morena. Fez grandes partidas durante a Libertadores e também no Campeonato Uruguaio. Jogou no Peñarol de 1977 até 1983.

Rubén Paz: polivalente do meio de campo e podendo atuar como volante ou meia, Paz foi um dos principais jogadores do Peñarol no começo dos anos 80 e figura central do título nacional de 1981. Cerebral, com grande domínio de bola e muito habilidoso, o jogador deixou a torcida carente quando deixou o time aurinegro em 1981 para jogar no Internacional-BRA, onde também faria história.

Fernando Morena: patrimônio histórico do Peñarol, goleador nato, dono de uma técnica muito refinada, goleador dos jogos decisivos, constante, letal, ídolo e eterno. Fernando Morena foi tudo isso e mais um pouco no período em que vestiu a camisa negra e amarela do Peñarol (de 1973 até 1979, de 1981 até 1983 e em 1984). Seus gols foram fundamentais para o clube de Montevidéu conquistar seis títulos nacionais, um continental e um mundial. Nenhum torcedor esquecerá seu gol no último minuto de jogo na final da Libertadores de 1982, sua intuição para encontrar espaços nas defesas adversárias e sua vocação absoluta para colocar a bola dentro de qualquer rede. Morena é o maior artilheiro da história do Campeonato Uruguaio com 230 gols em 244 jogos (média de quase um gol por partida), é o 2º maior artilheiro da história da Copa Libertadores com 37 gols em 77 jogos, é o maior artilheiro da história do Peñarol com mais de 420 gols (sendo 203 só no Campeonato Uruguaio) e é um dos maiores artilheiros da seleção uruguaia com 22 gols em 54 jogos. Foi um ídolo incontestável do clube e do futebol uruguaio. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Walkir Silva: o jovem foi uma das grandes revelações do time naquele ano de 1982 e deu mais velocidade ao ataque com suas corridas pelas pontas e seus passes de primeira. No Mundial, marcou o gol que garantiu o título ao clube aurinegro. Tinha o apelido de “El Cartero” por trabalhar nos correios.

Ernesto Vargas: polivalente nato, Vargas podia jogar como atacante, zagueiro ou meio-campista e em todas as funções cumpria muito bem seu papel. Teve destaque na campanha do título da Libertadores com gols decisivos e também nas trajetórias dos títulos dos Campeonatos Uruguaios de 1981 e 1982.

Luis Cubilla e Hugo Bagnulo (Técnicos): Cubilla, ídolo aurinegro nos tempos de jogador, começou a organizar o time do Peñarol naquele começo de anos 80, mas foi Hugo Bagnulo o grande responsável por fazer do clube aurinegro a força que foi entre 1982 e 1983. Com um esquema de jogo que priorizava a força defensiva e a velocidade nos ataques, Bagnulo construiu um time extremamente competitivo, unido, forte dentro e fora de casa e que derrotou todos os rivais que enfrentou. Ao contrário de muitos times da época, o Peñarol de Bagnulo sabia o que fazer com a bola e priorizava o futebol ao invés das brigas ou porradas vistas em equipes chilenas e argentina , por exemplo.

 

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Esquadrão Imortal – Nacional 1969-1972

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