Grande feito: Campeã da Eurocopa em 1984.
Time-base: Joël Bats (Jean Luc Ettori); Amoros (Battiston), Bossis, Trésor (Le Roux) e Domergue; Fernández, Giresse, Tiganá e Platini; Bellone (Six) e Lacombe (Rocheteau). Técnico: Michel Hidalgo.
“Enfim, campeões”
Por Guilherme Diniz
O futebol mundial se encantou plenamente de 1982 até 1986 com o futebol exuberante da segunda geração de ouro da França (a primeira foi na década de 1950, em especial na Copa de 1958), comandada em campo pelo gênio Michel Platini, por seus aliados Giresse, Tiganá, Fernández, Bossis e Trésor, e no banco pelo ótimo Michel Hidalgo. Os “Bleus” deram show com um futebol ofensivo, belo e muito competitivo. Foi maravilhoso ver aquela equipe na Copa do Mundo de 1982, que alcançou depois de anos a fase semifinal de um Mundial ao protagonizar uma das partidas mais emocionantes das Copas: o empate em 3 a 3 contra a poderosa Alemanha, de Rummenigge. Uma pena que os pênaltis e a polêmica arbitragem do holandês Charles Cover tenham acabado com o sonho da final. Porém, dois anos depois, os franceses se redimiram e fizeram uma campanha impecável na Eurocopa de 1984, sediada na França, e venceram o primeiro título de peso da história do futebol do país. Platini se tornou o maior artilheiro da história do torneio ao marcar incríveis 9 gols em 5 partidas. O craque foi, sem dúvida alguma, o maior símbolo daquela geração. É hora de relembrar.
De volta aos bons tempos
A França, em 1982, tinha novamente um plantel que poderia ir muito bem em qualquer competição, ainda mais em uma Copa do Mundo. O time treinado por Michel Hidalgo contava com uma espinha dorsal muito forte e competitiva, com o acréscimo do talentoso meia Michel Platini. Depois de se garantir no Mundial da Espanha, era hora de mostrar novamente a força do time francês, que ainda devia ao planeta um bom futebol desde os tempos de Just Fontaine e Raymond Kopa, na Copa de 1958, na Suécia.
A França estreou na Copa de 1982 contra a Inglaterra, em Bilbao. Os ingleses venceram por 3 a 1 e deram um susto nos franceses. Porém, a derrota serviu para acordar os Bleus, que golearam a seleção do Kuwait por 4 a 1, com gols de Genghini, Platini, Six e Bossis. No jogo seguinte, empate em 1 a 1 contra a Tchecoslováquia, com outro gol de Six, e vaga na segunda fase da Copa garantida. No Grupo D da segunda fase, a França conseguiu duas vitórias: 1 a 0 sobre a Áustria (gol de Genghini) e 4 a 1 na Irlanda do Norte (com dois gols de Giresse e dois de Rocheteau). Líder, a equipe se garantiu nas semifinais ao lado de Itália, Alemanha e Polônia.
Eliminada no apito
Nas semifinais, a França encarou a sempre perigosa Alemanha em uma das mais emocionantes partidas da história das Copas. Littbarski abriu o placar para os alemães aos 17´do primeiro tempo. Tempo depois, Platini empatou, de pênalti, aos 26´. Mesmo jogando melhor, a França não conseguiu furar a retranca alemã. Para piorar, o brucutu goleiro Schumacher nocauteou, literalmente, o jogador francês Battiston em um lance deplorável, que deixou o jogador inconsciente e com o maxilar quebrado. O juiz holandês Charles Corver entendeu (?) que a jogada foi normal e deu apenas tiro de meta para os alemães. O caso revoltou demais os franceses e a todos no estádio, que passaram a torcer contra a Alemanha.
Na prorrogação, a França abriu 3 a 1 com Trésor e Giresse, mas Rummenigge e Fischer igualaram o placar. Pela primeira vez na história das Copas, uma partida eliminatória teria que ser decidida nos pênaltis. E foi nela que o goleiro alemão Schumacher, que deveria ter sido expulso, fez a diferença e pegou (se adiantando demais…) os pênaltis de Six e Bossis. Acabava ali o sonho francês de conquistar o tão sonhado título mundial. Na disputa pelo terceiro lugar, extremamente abatida, a França foi derrotada pela Polônia por 3 a 2.
Volta por cima
Depois da dolorida eliminação na Copa do Mundo, ainda mais da maneira como aconteceu, a França teve de esperar dois anos para poder dar a volta por cima. O time manteve a base do Mundial e partiu em busca de seu primeiro grande título: a Eurocopa, que seria realizada em 1984 na própria França. Como o país era o anfitrião, não teve que disputar as eliminatórias e já entrou na fase de grupos. A equipe tinha o famoso “carré magique”, com Fernández, Tigana, Giresse e Platini, que dava a qualidade e identidade necessárias ao meio de campo francês para brilhar. O time era o grande favorito. E estava pronto para levantar a tão sonhada taça.
Platini comanda o show
A França estreou na Euro contra a forte Dinamarca, que em 1986 daria show na primeira fase da Copa do Mundo do México. O jogo foi difícil para os anfitriões, que venceram por apenas 1 a 0, gol de Platini aos 78´. A segunda partida foi contra a Bélgica (que chegaria ao quarto lugar na Copa de 1986). A França, enfim, pôde demonstrar todo o seu futebol e goleou por 5 a 0, num show de Platini (que marcou 3 gols), Giresse e Fernández. No jogo final da primeira fase, mais uma vitória com a assinatura de Platini, que fez simplesmente todos os gols do triunfo francês por 3 a 2 sobre a Iugoslávia.
Nas semifinais, a França não teve vida fácil contra Portugal, do artilheiro Rui Jordão. A equipe azul abriu o placar com Domergue, aos 24´. No segundo tempo, Jordão empatou para Portugal. O placar se manteve até o final da partida, que foi para a prorrogação. Nela, Jordão virou o jogo para Portugal. Quando todos achavam que os franceses iriam, de novo, cair em uma semifinal, Domergue, aos 114´, e Platini, aos 119´, virou o jogo de maneira heroica para a França, que se garantiu na decisão da Euro. Muita festa em Marselha! O título estava muito mais perto.
Campeões!
O estádio Parc des Princes, em Paris, recebeu mais de 47 mil torcedores para a final da Eurocopa de 1984. De um lado, a França e seu time extremamente criativo, técnico e goleador, com Platini transbordando magia. Do outro, a Espanha, que se apoiava na eficiência de Maceda, Carrasco e Santillana. A Espanha lutava pelo bicampeonato, já a França queria de uma vez por todas seu primeiro título. No primeiro tempo, o jogo foi disputado, mas as equipes não saíram do zero.
No segundo tempo, a França se impôs e o craque maior definiu a partida: Platini. O astro abriu o placar aos 57´, cobrando falta, em um frangaço histórico do goleiro espanhol Arconada. Perto do final do jogo, Bellone marcou o gol do título: 2 a 0. A França, pela primeira vez em sua história, conquistava um título de peso: a Eurocopa. Para deixar a festa ainda maior e melhor, a conquista era em casa e com jogadores fantásticos. O título serviu para apagar o drama vivido na Copa de 1982, onde de maneira injusta a França foi eliminada pela Alemanha.
Faltou uma Copa…
Se a França conseguiu encantar a todos com o seu futebol e levar a Euro de 1984, o mesmo não aconteceu na Copa do Mundo. A equipe, que já havia sucumbido diante da Alemanha em 1982, repetiu a dose em 1986, perdendo por 2 a 0. O time não foi brilhante como em 1982, mas ainda sim conseguiu deixar pelo caminho os tricampeões mundiais Itália (vitória por 2 a 0, nas oitavas de final) e Brasil (empate em 1 a 1 e vitória nos pênaltis por 4 a 3, nas quartas de final). O único fator positivo daquela Copa foi o fato de a França vencer a disputa pelo terceiro lugar contra a Bélgica por 4 a 2. Terminava ali a trajetória da segunda geração de ouro da França, responsável por colocar o país novamente no rol dos protagonistas do futebol mundial e proporcionar à sua torcida a realização do sonho de gritar, enfim, é campeão.
Os personagens:
Joël Bats: foi o goleiro da França na Euro de 1984 e na Copa do Mundo de 1986. Disputou 50 partidas pela seleção e teve destaque na partida contra o Brasil na Copa do Mundo de 1986, quando defendeu dois pênaltis.
Jean-Luc Ettori: foi o goleiro titular na ótima campanha da França na Copa de 1982. Jogou toda a carreira no Monaco, onde disputou 754 partidas. Perdeu a vaga na seleção para o ágil Bats.
Amoros: um dos maiores laterais da história da França, Manuel Amoros fez carreira no Monaco e, principalmente, no Olympique de Marselha, onde conquistou a Liga dos Campeões da UEFA de 1993. Muito preciso na defesa e no ataque, integrou a França nas Copas de 1982 e 1986 e na Eurocopa de 1984.
Domergue: o zagueiro e lateral Jean-François Domergue jogou apenas 9 partidas pela França, sendo algumas delas as mais importantes da história do país, durante a Euro de 1984. Foi dele dois dos três gols da França na disputada semifinal contra Portugal, que colocou os “Bleus” na final. Teve papel mais do que fundamental no título europeu.
Bossis: foram 76 partidas pela França e atuações memoráveis do zagueirão a frente do time azul. Viveu seu auge jogando no Nantes, onde faturou vários títulos nacionais. Uma pena ter perdido o pênalti decisivo na semifinal da Copa do Mundo de 1982.
Battiston: ótimo zagueiro e lateral da França presente em Copas e na conquista da Euro, Battiston ficou marcado pelo nocaute sofrido pelo goleiro alemão Schumacher nas semifinais do Mundial de 1982. O incidente deixou todos em choque pelo fato de o jogador ter ficado inconsciente e tido várias fraturas. Mesmo assim, deu a volta por cima, assim como toda a França, e foi crucial na conquista da Euro de 1984.
Trésor: um “tesouro” na zaga da França na Copa de 1982. Técnico, com ótima visão de jogo e muito forte fisicamente, Trésor foi uma das estrelas da equipe que brilhou naquele mundial. Pena que não esteve presente na conquista da Euro de 1984. Foi lembrado na lista da FIFA 100, em 2004.
Le Roux: outro bom defensor francês, esteve na Euro de 1984 e na Copa de 1986. Brilhou, principalmente, no Nantes e no Monaco na década de 80.
Fernández: o nome espanhol entrega que Fernández não é francês (nasceu em Tarifa, na Espanha), mas o jogador foi sublime e a torcida francesa nem ligou ao ver o espanhol com a camisa azul. Ele foi um dos principais jogadores do ótimo meio de campo da França na Copa do Mundo de 1982 e na Eurocopa de 1984. Jogou 60 partidas e marcou 6 gols pela seleção, além de ser ótimo tanto na marcação quanto no apoio ao ataque.
Giresse: conseguia despistar seus marcadores com muita velocidade e agilidade em curtos espaços do campo. Alain Giresse foi outro membro do “Carré Magique” da França campeã da Europa em 1984. Fez fama no Bordeaux, onde jogou por 16 anos.
Tigana: outro super craque no meio de campo francês, Jean Tigana brilhou demais na década de 80 na seleção francesa campeã da Europa. Dono de um físico privilegiado e cheio de fôlego, Tigana era certeza de velocidade, qualidade e muito futebol.
Platini: antes de surgir Zidane, foi Platini o rei do futebol na França. O meia prodígio simplesmente arrasou no futebol europeu e mundial na década de 80, que é sempre lembrada como a década dele. Ídolo na Juventus, Platini foi a referência máxima na França com seus chutes poderosos, dribles primorosos, cobranças de falta perfeitas e muitos e muitos gols. Seu estilo era bem parecido com o de Zico, até mesmo na parte física. A única decepção na carreira do jogador foi não ter vencido uma Copa do Mundo com seu país. Ele teria que ver a terceira geração de ouro da França conquistar a sonhada taça e ainda ver seu trono ser “roubado” pela joia Zidane. Foi gênio. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Bellone: atacante na conquista da Euro em 1984, Bellone marcou um dos gols da final contra a Espanha, que deu o primeiro título da história dos Bleus. Era ponta, tinha velocidade e boa técnica.
Six: jogou duas Copas (em 1978 e 1982) e ainda fez parte do grupo que levou a Euro de 1984. Foi um bom atacante e marcou gols importantes pela seleção. Ficou manchado, porém, ao perder um pênalti na semifinal contra a Alemanha, em 1982.
Lacombe: foi um dos grandes atacantes da França nas décadas de 70 e 80 e referência no ataque de times como Lyon e Bordeaux. Se destacava pela velocidade e pelo bom posicionamento em campo. Pela seleção, conquistou a Euro de 1984 e marcou 12 gols em 38 partidas com a camisa azul.
Rocheteau: outro bom atacante francês nas décadas de 70 e 80, Dominique Rocheteau ficou conhecido como o “Anjo Verde” pelo destaque que teve jogando pelo Saint-Étienne. Pela seleção, disputou 49 partidas e marcou 15 gols. Esteve no grupo que venceu a Euro de 1984.
Michel Hidalgo (Técnico): um dos grandes treinadores franceses, Michel Hidalgo revolucionou para sempre o futebol no país ao montar uma seleção brilhante, que jogava com Inteligência, categoria e muita técnica, baseada, claro, no talento de seus jogadores e do gênio Platini. Por mais incrível que possa parecer, o único título de Hidalgo como técnico foi a Eurocopa de 1984, já que ele não chegou a treinar clubes, apenas a França, de 1976 até 1984. É uma lenda no futebol francês e uma inspiração até hoje.
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Timaço esse da França de 82 e 84
Estenderia o período até 1986, quando a França terminou a Copa do México na 3ª colocação.
Muito legal o texto pelas informações, como sempre.