Por Leandro Stein
Basta olhar à tabela da Premier League de Botsuana para ser tomado por uma enorme curiosidade. E o impacto se dá simplesmente pelos nomes dos times. Equipes como o Township Rollers, o Police XI e o Security Systems dominam a classificação. As alcunhas peculiares quase sempre correspondem às origens dos clubes, muitos deles originados dentro de organismos públicos. No entanto, difícil encontrar algum outro que roube mais a atenção do que o Miscellaneous Sporting Club – ou, em uma tradução livre, o “Misturado SC”. O nome serve como chamariz a uma história ainda mais interessante.
O Miscellaneous nunca ganhou a Premier League de Botsuana. Durante os últimos anos, o time semi-amador costumava cumprir campanhas medianas na competição e o 4º lugar registrado na temporada 2017-2018 representou um desempenho histórico – ele nem sequer está na elite atualmente. O grande orgulho dos Tse Nala (Vermelho e Branco, na língua local) não está nos títulos, mas sim no seu apego às raízes e aos princípios. E isso se nota no caráter tribal de um clube que adotou o nome mais genérico possível, além de sequer possuir uma bandeira oficial.
Antes de começar a contar a história do Miscellaneous, porém, é necessário abrir parênteses e apresentar o seu fundador. Afinal, Sir Seretse Khama não é apenas o idealizador do clube de futebol: é também um rei que abdicou do seu trono por um amor proibido e ainda o primeiro presidente de Botsuana como um país independente.
Sumário
O romance que enfrentou a segregação racial
Nascido em 1921, na cidade de Serowe, Seretse Khama fazia parte da realeza dos Bamangwato, uma das oito principais tribos do atual Botsuana. A tribo se insere na etnia dos Tswana, grupo nativo que representa 85% da população botsuanense. Quando o herdeiro do trono nasceu, sua família administrava um dos maiores territórios da Bechuanalândia – então um protetorado do Império Britânico. E não demoraria para o garoto despontar na linha sucessória. Seu avô faleceu em 1923 e seu pai permaneceu apenas dois anos no poder, antes de também morrer. Assim, com quatro anos de idade, Seretse II se tornou rei, embora a regência ficasse sob a responsabilidade do tio, Tshekedi Khama, que assumiu sua criação.
Durante sua preparação para ascender à chefia da tribo, Seretse II estudou em colégios na Cidade do Cabo e concluiu sua formação em Direito na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha. E eis que a história política se transforma em romance a partir de 1947, quando Seretse II conhece Ruth Williams, funcionária de uma companhia de seguros, que atuara na Segunda Guerra Mundial como motorista de ambulância. Amantes do jazz e com outros tantos gostos em comum, ambos logo se apaixonaram e iniciaram um relacionamento. Contudo, o casal foi alvo de um conflito racial e diversos lados tentaram forçar o rompimento.
O casamento do rei negro de 27 anos com a escriturária branca de 25 anos não era aceito pelo tio regente do noivo na Bechuanalândia, que aguardava o retorno do herdeiro para casá-lo com uma mulher de sua etnia, e também pelo pai da noiva, um vendedor de peixes de classe média que rechaçava o pretendente por racismo. Paralelamente, o relacionamento também foi repudiado por governantes da vizinha África do Sul, que instaurava seu regime de Apartheid, assim como do Sudoeste Africano (atual Namíbia) e da Rodésia do Sul (atual Zimbábue).
Na época, a Bechuanalândia dependia economicamente da África do Sul e sua própria capital estava localizada no país ao sul. E não era só o protetorado que ficava refém destes laços. Por interesses políticos, até mesmo o governo britânico tentou impedir o matrimônio. Os sul-africanos, além de terem fornecido apoio aos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial, também vendiam urânio e ouro em larga escala ao Reino Unido.
Por sua paixão, Seretse II e Ruth Williams enfrentaram o racismo e as ameaças políticas. O casamento religioso foi impedido na Grã-Bretanha, mas eles conseguiram selar o matrimônio civil em setembro de 1948. Daniel Malan, primeiro ministro sul-africano, declarou que a união lhe causava “náuseas” e proibiu o casal de entrar no país. No entanto, Seretse II retornou à Bechuanalândia em 1949 e, apoiado pelos anciãos dos Bamangwato em assembleia geral, assumiu a liderança da tribo – ainda que sem a chancela do Reino Unido. Seu tio, Tshekedi Khama, admitiu a derrota e deixou Serowe, a capital tribal.
Em 1950, Seretse II viajou a Londres para discutir seu status político ante os empecilhos do Reino Unido. Mesmo sem bases legais, o governo britânico determinou que ele não estava apto para assumir a chefia dos Bamangwato e o impediu de retornar ao protetorado por um período de cinco anos. Seretse II ganhou apoio da opinião pública entre os britânicos, bem como de lideranças negras nos Estados Unidos. Enquanto isso, o povo em Serowe se rebelava e se recusava a aceitar o administrador branco designado pelo Reino Unido.
Existia uma esperança de que Winston Churchill, em seu retorno como primeiro ministro em 1951, encerrasse o banimento de Seretse II, após discursar favoravelmente sobre o rei. Pelo contrário, de volta ao poder, Churchill decretou um exílio vitalício. Já integrada à tribo após sofrer uma rejeição inicial, Ruth Williams (agora conhecida como Lady Khama) havia ficado grávida antes do exílio do marido. A rainha deu à luz à filha Jacqueline em Serowe, antes de se juntar a Seretse na Inglaterra. Tshekedi Khama, por sua vez, seria igualmente exilado pelos britânicos. O tio só pôde retornar à Bechuanalândia em 1952.
Com o passar dos anos, a pressão popular ao redor do retorno de Seretse II aumentou. Enquanto a opinião pública britânica via o exílio como uma forma de endossar o Apartheid na África do Sul, os Bamangwato defendiam seus interesses contra o domínio estrangeiro – ante as novas perspectivas de exploração mineral na região. Graças ao apoio de parlamentares no Reino Unido, bem como à revelação de um documento que deixava claro como as relações com a África do Sul interferiram na soberania de Bechuanalândia, o exílio teve fim em 1956. Uma carta assinada pelos Bamangwato à Rainha Elizabeth II também foi o elemento vital no processo.
Seretse II, enfim, ganhou a permissão de retornar a Serowe. O rei se reconciliou com seu tio, mas precisou renunciar ao trono após acordo com o Reino Unido, para que seguisse casado com Ruth Williams sem entraves. Em compensação, os dois líderes mantinham o poder de decisão da tribo sobre os interesses regionais, inclusive quanto à exploração mineral. Também iniciaram o processo de independência no protetorado de Bechuanalândia, focado num projeto democrático, que por consequência encerraria as leis segregacionistas impostas pelos britânicos em áreas administrativas.
Lady Khama, que já tinha concebido seu segundo filho no exílio, ganhou gêmeos em 1958. A família passou a viver em Serowe, criando gado. Mas, ainda visto como chefe legítimo da tribo, não demorou para que Seretse se envolvesse diretamente na política local. Em 1961, dois anos após da morte de seu tio, ele fundou o Partido Democrático. A nova instituição se tornou vital à fundação da República de Botsuana.
Surge o Miscellaneous Sporting Club
Além da vocação à liderança política, Seretse também era um apaixonado pelos esportes. Em seus tempos na Grã-Bretanha, costumava praticar boxe e disputar partidas de futebol, assim como acompanhava os jogos dos clubes ingleses. E, antes de liderar a independência de Botsuana, ele atuou como dirigente esportivo. Até o fim dos anos 1950, o Motherwell era o único time em Serowe. O antigo herdeiro queria representar a cidade com outra equipe competitiva e encabeçou a ideia de formar o Miscellaneous SC.
Seretse recrutou jogadores em diversas aldeias ao redor de Serowe, sobretudo jovens, convidando aqueles insatisfeitos com o Motherwell e os que buscavam sua primeira chance no esporte. Para não privilegiar qualquer localidade, o nome de “Miscellaneous” destacava justamente a diversidade entre os membros do elenco. A escolha mais genérica possível fez com que os alvirrubros passassem a ser tratados como “time sem nome” ou “aquele outro time”. Já o escudo trazia o desenho de um cervo, animal comum da região.
“Eu era estudante e capitaneava o time da escola quando Seretse me convidou. Ele veio até a mim e disse que gostaria de formar um clube de futebol. Como estudante, fiquei honrado em jogar nesse time, que cresceria para dominar o futebol em Serowe”, contou Segopodiso Lore, um dos veteranos do Miscellaneous, em entrevista ao Mmegi Online. Segundo o ex-jogador, a formação da equipe aconteceu em 1958, mas Seretse registrou o Miscellaneous apenas em 1960. E a agremiação manteve os princípios democráticos pregados por seu fundador: administrada pelos torcedores, qualquer membro da associação tinha direito a voto.
O mais notável é que Seretse não se colocava apenas como dirigente do Miscellaneous. Na realidade, ele tinha um envolvimento muito arraigado com a comunidade de Serowe e botava a mão na massa. O “ex-rei” chegou a atuar por anos como goleiro do Motherwell. Assim, quando o Miscellaneous surgiu, Seretse passou a defender a meta dos alvirrubros. Mas não só isso: era uma espécie de “faz tudo”, que também serviu como técnico e se responsabilizava por garantir os materiais esportivos aos companheiros.
Quando o Miscellaneous despontou, Seretse se aproximava dos 40 anos de idade. Por isso mesmo, suas aparições não eram tão constantes. O ex-colega Lore o descreve como um “goleiro semi-aposentado com experiência, que jogava muito bem e tornava difícil a vida dos atacantes”. Já como técnico, sua principal virtude estava nas preleções, injetando coragem nos comandados. “Seretse dizia que não deveríamos nos deixar intimidar pelos jogadores que eram mais experientes. Ficávamos ferozes em campo e não temíamos ninguém. Ele era um bom técnico. Comprava até mesmo uniforme e bolas”, complementa.
A partir dos anos 1960, o Miscellaneous passou a disputar os campeonatos nacionais em Bechuanalândia – com uma divergência nas fontes, se eram torneios de primeira ou segunda divisão. De qualquer forma, um aspecto importante ia além do mero caráter esportivo: o clube ainda serviu para a integração racial em Serowe, num momento de mudanças administrativas, com o fim das imposições segregacionistas dos britânicos. O futebol ajudou a aproximar negros e brancos na região. “Seretse realmente amava esse time. Foi através dele que as pessoas brancas em Serowe reconheceram que nós, negros, éramos iguais a eles. Que nós éramos pessoas e não animais”, enfatizou Lore.
Além disso, em suas duas primeiras décadas de existência, o Miscellaneous protagonizou uma intensa rivalidade com o Motherwell. A oposição entre os clubes também possuía um pano de fundo étnico. Enquanto o Miscellaneous concentrava o seu apoio na maioria Tswana (a etnia da qual os Bamangwato fazem parte), o Motherwell estava ligado à minoria Kalanga e aos funcionários do departamento veterinário de Serowe. Ainda assim, era uma relação amistosa fora das quatro linhas, com as disputas mais pegadas se limitando ao gramado.
A independência de Botsuana
Não demorou para que o Miscellaneous integrasse um país livre. A partir da década de 1960, o nacionalismo cresceu na Bechuanalândia e favoreceu uma agenda em prol do independentismo. Os recém-criados partidos foram importantes neste processo de pressão política sobre os britânicos e permitiram uma transição pacífica, em acordo com o Reino Unido. A capital seria transferida de Mafeking (a tal cidade localizada dentro do território da África do Sul) para Gaborone e uma nova constituição foi promulgada, promovendo a integração racial. Em 1965, Seretse Khama seria eleito primeiro ministro. Já em setembro de 1966, com a independência formalizada, ele assumiu como o primeiro presidente da República de Botsuana. Dez dias depois, receberia o título de Cavaleiro-Comendador da Rainha Elizabeth II.
A descoberta de diamantes em Botsuana impulsionou o desenvolvimento do país durante os primeiros anos de independência. Além disso, o presidente renegociou acordos com a África do Sul e tornou a economia dos botsuanenses gradualmente menos dependente dos vizinhos, enquanto se opunha à política racial aplicada pelo Apartheid.
Um dos grandes méritos de Seretse foi construir uma democracia estável e próspera, superando desconfianças sobre aquele que surgiu como um dos países mais pobres da África. Diante das liberdades que Botsuana garantia aos seus cidadãos, sobretudo as raciais, o crescimento local era visto inclusive como uma maneira de combater o Apartheid. Seretse ainda participou do processo de independência de vizinhos e criou um bloco econômico no sul da África, para que outros países se distanciassem do Apartheid. Botsuana tem hoje o 5º maior Índice de Desenvolvimento Humano da África – atrás apenas das Ilhas Maurícias, Seicheles, Argélia e Tunísia -, embora suas taxas de desigualdade sejam altíssimas.
A importância de Seretse, ainda assim, não implicou num crescimento descomunal do Miscellaneous. Os alvirrubros mantinham seu caráter local, sem brigar pelas principais taças. A partir da década de 1970, a equipe seguiria restrita a níveis inferiores, por mais que a influência de seu fundador crescesse. Seretse seria reeleito para mais três mandatos como presidente, até falecer em 1980, vítima de um câncer no pâncreas, aos 59 anos. Lady Khama permaneceu na fazenda em Serowe se dedicando às causas humanitárias, como o combate à Aids, até falecer em 2002. Já em 2016, o romance entre o rei negro e a escriturária branca seria representado nos cinemas através do filme “Um Reino Unido”, com David Oyelowo e Rosamund Pike.
Antes de morrer, Seretse passaria o seu cargo de presidente vitalício no Miscellaneous ao segundo filho. Nascido durante o período em que os pais viviam exilados, Ian Seretse Khama fez carreira militar no Reino Unido, antes de retornar a Botsuana em 1977 como general de brigada. Além de comandar o exército botsuanense, Ian viraria vice-presidente do país em 1998. Neste ínterim, manteve suas ligações com o Miscellaneous. Ávido por esportes como o pai, também dirigiu outros dois times de futebol do país, além de ocupar cargos nas federações nacionais de vôlei, softball e críquete.
Mesmo longe da elite, o Miscellaneous se tornou reconhecido por formar jogadores aos clubes mais importantes de Botsuana – como o Township Rollers e o Gaborone United, ambos da capital. Mas, em um futebol ainda semiamador, ficava difícil manter os principais destaques em Serowe, uma cidade de 40 mil habitantes sem tantas oportunidades de emprego e mesmo sem as melhores condições à agricultura e à criação de animais. Muitos pastores que também brilhavam no futebol acabaram migrando ao sul da região, em busca de pastagens mais verdes, enquanto outros atletas saíram a cidades maiores atrás de trabalho.
Na virada dos anos 1990 para os 2000, o Miscellaneous aparecia como um figurante na segunda divisão. Os alvirrubros chegaram a participar da criação de um campeonato dissidente no início do século, em iniciativa que não deu certo por conta do cerco da Fifa. Já o ano de 2008 se tornou significativo. Dentro de campo, o clube de Serowe brigou pelo acesso e alcançou as fases finais dos playoffs, mesmo sem concretizar a promoção à elite. Enquanto isso, Ian Seretse Khama chegou ao poder em Botsuana. O descendente da família real dos Bamangwato venceu as eleições pelo partido de seu pai e terminou empossado como presidente.
O sonho da Premier League
O momento era de euforia em Serowe. O envolvimento da população com o Miscellaneous aumentou, diante das esperanças quanto ao acesso. Os próprios anciãos dos Bamangwato incentivavam os membros da tribo a aumentarem a torcida pelo time. E a ascensão à primeira divisão do Campeonato Botsuanense se confirmou em 2010 – superando o TASC, rival mais recente, da cidade de Francistown.
“Aconteceram grandes casamentos, cerimônias oficiais e muitas outras alegrias, mas nada parece se comparar em esplendor com a nova febre em Serowe. A última vez que a capital dos Bamangwato estava tão empolgada coletivamente, alguns dizem, foi quando o falecido Sir Seretse colocou uma pele de leopardo em seu filho Ian Khama como chefe da tribo. Isso faz muito tempo. Hoje, Serowe está num grande clima de celebração de novo. Desta vez, a vila comemora o futebol. O principal clube local, o Miscellaneous, acaba de alcançar o que escapava dos outros times: o acesso à Premier League. O futebol, como dizem, não é apenas um modo de vida, é a própria vida. E o Miscellaneous está trazendo nova vida à vila”, descreveu o jornal Mmegi, após a promoção.
A diretoria do clube passou a adotar uma postura mais ativa para evitar que seus principais pratas da casa se mudassem a outros times. Na década de 2010, alguns atletas defenderam as seleções de base e até mesmo tiveram aparições esporádicas na equipe principal de Botsuana. Além disso, o Miscellaneous aproveitou o retorno de alguns de seus antigos jogadores a Serowe, inclusive para assumir a administração da associação. Um deles era Mogomotsi “Teenage” Mpote, que voltou em 2006, após deixar o exército. O veterano se tornou treinador e representou um ponto de virada nesta ascensão.
O Miscellaneous fez campanhas modestas nesta sequência a partir de 2010 dentro da Premier League. Os alvirrubros sempre lutaram contra o rebaixamento e terminaram caindo à segunda divisão em 2013/14. A presença de Ian Seretse Khama no palácio do governo, aliás, não significava apoio. O clube permaneceu administrado pela comunidade local de Serowe. “As pessoas devem pensar que Khama agora é o presidente e não pode ser visto abusando de sua influência em prol de um clube. Devemos lembrar que ele se tornou presidente vitalício ainda nos anos 1970”, explicou Goabamong Sethaba, então mandatário do Miscellaneous. Enquanto isso, o estadista travava uma queda de braço com a federação botsuanense.
Em 2008, Ian Khama formou uma liga paralela dividida entre territórios do país, que ganhou força especialmente no início da década passada. Com salários mais altos, a competição passou a tirar alguns dos principais jogadores da Premier League – cujo profissionalismo segue incipiente. Diferentemente de Sir Seretse Khama, Ian era criticado como uma figura autoritária e centralizadora. Assim, ele também usou o novo torneio como ferramenta à sua influência, sobretudo após a aparição inédita da seleção de Botsuana na Copa Africana de 2012. A situação se resolveu apenas quando a FIFA interferiu e determinou que a “liga pirata” deveria funcionar dentro das estruturas da federação, sob o risco de banir a seleção botsuanense.
O retorno do Miscellaneous à primeira divisão do Campeonato Botsuanense aconteceu em 2014/15, depois que o time reconquistou o acesso de imediato. Terminou na sexta colocação em 2015/16 e alcançou uma histórica quarta posição em 2017/18, apesar da distância em relação ao campeão Township Rollers. Em 2018, também se encerrou o segundo mandato de Ian Khama na presidência e ele deixou o poder. Além disso, naquele mesmo ano, outro filho de Sir Seretse Khama e Lady Khama passaria a ocupar o cargo de “Ministro dos Esportes, da Juventude e da Cultura”: era Tshekedi Khama II, um dos gêmeos nascidos em 1958, batizado em homenagem ao tio-avô.
Em 2019-2020, o Miscellaneous terminou a Premier League na lanterna e acabou rebaixado e não conseguiu retornar à elite desde então. Com dificuldades para encontrar patrocínios, o Miscellaneous depende bastante da contribuição de seus membros, que costumam tirar dinheiro dos próprios bolsos. O profissionalismo não é uma realidade completa.
O que rege o Miscellaneous, mais do que o desejo de grandeza, é o senso de pertencimento. O clube é um símbolo da cidade de Serowe, mesmo com essa face tão abstrata que virou rótulo. Nas arquibancadas, a torcida alvirrubra costuma cantar com orgulho o fato de ter um nome tão genérico. “Ninguém nos deu um nome, mas nós não importamos”, é um dos gritos corriqueiros. A alcunha, afinal, se torna o de menos dentro de uma identidade tão particular e de uma história tão rica. São raros os clubes com uma fundação tão simbólica para recontar. De certa forma, a criação do Miscellaneous se entrelaça com a própria afirmação nacional de Botsuana.
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