Grandes feitos: Pentacampeão húngaro (1949-1950, 1950, 1952, 1954 e 1955) e base da seleção mais avassaladora da história do futebol: a Hungria 1950-1954.
Time-base: Grosics; Rákóczi, Lorant e Kovács; Bányai e Bozsik; Budai, Puskás, Kocsis, Balbocsay (Lajos Tichy) e Czibor. Técnicos: Ferenc Puskás I (1950-1951) e Jenö Kalmár (1951-1955).
“Munição para bombardeios. De gols.”
Por Guilherme Diniz
O futebol é um esporte fabuloso, mas também ingrato. Muitos lamentam o fato de o Torino da década de 40 não ter tido a oportunidade de disputar uma, só umazinha, Liga dos Campeões da UEFA. Ela não existia… Outros tantos lamentam o Santos de Pelé não ter dado a devida importância para a Copa Libertadores na década de 60. Poxa, “míseros” dois títulos?! Aquele timaço venceria um penta, um hexacampeonato consecutivo fácil! Outro lamento profundo do futebol é quando nos referimos à seleção da Hungria, que perdeu para o cansaço, para a frieza e para a estratégia dos alemães na Copa do Mundo de 1954. Como um esquadrão daquele conseguiu perder o mundial?! Pois é. Mas o que poucos sabem é que houve um time responsável por fazer aquela seleção mágica ter entrado para a história: o Budapest Honvéd. Beneficiado pela conjuntura política da Hungria na época, o time que se tornou da noite para o dia o esquadrão do exército húngaro foi a base do sucesso explosivo da Hungria no futebol mundial por anos maravilhosos. Grosics, Bozsik, Lorant, Czibor, Kocsis e o gênio Puskás. Todos eles jogaram juntos no Honvéd naquele início de década de 50, colecionaram títulos nacionais e também não tiveram conquistas continentais porque a Liga dos Campeões não existia.. É hora de relembrar essa grande história do futebol.
Sumário
Do nada ao tudo
Em 1949, tudo mudou na história do Kispesti FC, antigo nome do Honvéd. O time até aquele ano não era praticamente nada no futebol da Hungria, com seu principal feito uma singela Copa da Hungria conquistada em 1926. O clube já tinha em seu elenco Puskás e Bozsik, talentosos jogadores que carregavam a equipe nas costas, amparados pelo talentoso técnico Bella Guttman, que fez história, também, no Brasil. Mas, apenas com o trio, era impossível para o Kispesti vencer o campeonato nacional, tendo que se contentar com um G4, G5 e afins. Foi então que a política, quem diria, mudou completamente a sorte do clube suburbano da capital Budapeste.
A Hungria vivia sob uma intensa ditadura comunista e sempre ávida por interesses em quaisquer que fossem os campos, até mesmo os de futebol. As forças armadas decidiram criar um time forte o bastante para representar o país no campeonato nacional, mostrando, claro, a “supremacia do governo”. Só que, ao invés de começar um clube do zero, os militares decidiram “adotar” um clube do país. A primeira opção seria, claro, o Ferencvaros, maior da Hungria e multicampeão nacional. Porém, as raízes do clube estavam cravadas na independência e no fascismo. Com isso, os militares decidiram escolher o tímido Kispest, que teve seu nome prontamente modificado para Kispest-Honvéd.
Além do time, os militares queriam que a própria seleção da Hungria fosse forte para competir com a concorrência europeia, recheada de grandes equipes como Itália, Inglaterra, Áustria, URSS e Alemanha. O treinador da seleção, Gusztav Sebes, pediu para que os grandes jogadores da seleção fossem concentrados apenas em duas equipes, como forma de dar mais entrosamento e facilitar o trabalho como um todo. Com isso, as maiores estrelas do país foram divididas entre o Honvéd, time dos militares, e o MTK Hungária, equipe da polícia secreta da Hungria. Essa divisão acabou por beneficiar apenas um time: o Honvéd. Por quê? Porque a população húngara simplesmente odiava a polícia secreta! Com isso, o Honvéd ganhou o apoio da massa, aumentou sua torcida e sua popularidade, deixando de levar apenas “moscas” ao seu estádio e contar com casa cheia para ver os novos craques do time: Grosics, Kocsis, Czibor e Budai, além de Puskás e Bozsik. Pronto. O Honvéd estava formado. E pronto para servir a nação.
Gols, títulos e fama
Pouco tempo foi necessário para o Honvéd engatar seu esquema de jogo e partir para o estrelato no país. Com craques em campo e um futebol extremamente ofensivo, o clube levantou já na temporada 1949-1950 o seu primeiro título nacional, com 23 vitórias, quatro empates e apenas três derrotas, marcando 84 gols e sofrendo 29. O MTK ficou apenas na terceira posição, para a alegria da torcida. Ainda em 1950, o time venceu o bicampeonato, dessa vez em disputa acirrada com o MTK (que se chamava Textiles na época). Foram apenas três pontos de diferença entre as duas equipes, com o Honvéd tendo perdido apenas um jogo e vencido o maior rival por acachapantes 6 a 3.
O time marcou 67 gols em apenas 15 jogos, uma média superior a quatro por partida. O time começava a se tornar popular no país pela força de jogo e pelo talento de seus craques, que serviam como a espinha dorsal da super seleção da Hungria, que conquistaria o Ouro Olímpico em 1952, com cinco vitórias em cinco jogos, 20 gols marcados e apenas dois sofridos. No mesmo ano, depois de ficar com o vice em 1951, o Honvéd voltou a conquistar o campeonato nacional, dessa vez de maneira invicta, com 21 vitórias e cinco empates em 26 jogos. Foram 88 gols marcados e apenas 21 sofridos.
Melhores do mundo
A Hungria começou a ficar pequena para o Honvéd e o esquadrão de Puskás passou a excursionar pela Europa, disputando uma série de amistosos. O futebol recheado de movimentação, toque de bola, e a força ofensiva fizeram o Honvéd arrancar suspiros de plateias de todos os cantos da Europa. A equipe era considerada, sem sombra de dúvidas, a melhor do mundo, ainda mais depois de a seleção da Hungria, em novembro 1953, ter enfrentado a Inglaterra em um amistoso no mítico estádio de Wembley e vencido por 6 a 3, na primeira derrota dos ingleses em casa para uma seleção fora da Grã-Bretanha.
Em 1954, o clube venceu o tetracampeonato nacional com o ataque dos 100 gols, que marcou a conta redonda em 26 partidas, com 19 vitórias, dois empates e cinco derrotas. No mesmo ano, tanto os jogadores do clube quanto a nação húngara ficaram abalados pelo fato de a seleção ter perdido a Copa do Mundo para a Alemanha, de virada, por 3 a 2. Foi a primeira derrota da Hungria após 31 partidas, de maio de 1950 até o fatídico 4 de julho de 1954. A partir dali, nuvens negras começariam a pairar tanto pelos lados da seleção quanto para o Honvéd.
Último caneco e o fim
Em 1955, o Honvéd comemorou o último título nacional com os craques da seleção em seu elenco, em nova campanha fabulosa: 20 vitórias, cinco empates e uma derrota em 26 jogos, com 99 gols marcados e 47 sofridos. Mas a partir daquela conquista, tudo mudou para o clube. Em 1956, o Honvéd participou pela primeira vez da Liga dos Campeões da UEFA (competição criada em 1955), e enfrentou o Athletic Bilbao (ESP). No primeiro jogo, na Espanha, vitória espanhola por 3 a 2, com os gols do Honvéd marcados por Budai e Kocsis. Na volta, porém, os jogadores receberam a notícia da eclosão da Revolução Húngara.
Os cidadãos do país, revoltados com a crescente imposição soviética no país, saíram às ruas para protestar contra ao governo da URSS. Foram semanas de tiros, brigas, tanques nas ruas e um clima total de guerra civil. Justamente naquele período, o Honvéd precisava disputar sua partida de volta da Liga, contra o Athletic. Sem condições de viajar para um país sob o caos, o Honvéd mandou o jogo para Bruxelas (BEL), e apenas empatou em 3 a 3 (dois gols de Budai e um de Puskás). Eliminados, os jogadores sofriam mais um baque e alguns deles decidiram não voltar para o país, casos de Puskás, Kocsis e Czibor, que acertaram suas transferências para outras equipes do continente e seguiram carreiras brilhantes, principalmenten Puskás, que fez história ao lado de Di Stéfano no Real Madrid. Sem seus principais jogadores, com o campeonato nacional cancelado e sob tensão, o clube perdeu totalmente o rumo e só não caiu para a segunda divisão em 1957 por uma mudança no regulamento, que acrescentou mais equipes ao torneio.
Terminava ali a era de ouro de um dos mais emblemáticos times da Europa na década de 50, que vive desde então no ostracismo e apenas nas lembranças de uma era inesquecível. Assim como o Torino dos anos 40, o Honvéd lamenta demais não ter conquistado uma taça internacional sequer, afinal, quando a Liga dos Campeões da UEFA finalmente foi criada, a magia do clube começava a ser destruída pela guerra. Esporte ingrato esse futebol… Mas ainda sim maravilhoso, capaz de proporcionar feitos como os de Grosics, Bozsik, Budai, Lorant, Czibor, Puskás e Kocsis. Um esquadrão imortal.
Os personagens:
Grosics: era a muralha do gol de um time extremamente ofensivo. Jogava muitas vezes como um líbero quando preciso. Integrou o Honvéd de 1950 até 1957 e a seleção húngara por mais de uma década, até se aposentar em 1962.
Rákóczi: defensor do time, compunha a zaga à frente do goleiro Grosics ao lado de Lorant e Kovács.
Lorant: ajudava na contenção da zaga e do meio campo da equipe, sempre com categoria e visão de jogo. Fundamental, também, na seleção.
Kovács: compunha a zaga do Honvéd naqueles anos 50, ao lado de Rákóczi e Lorant.
Bozsik: é o jogador que mais vestiu a camisa do Honvéd na história, com 447 jogos. Dá nome ao estádio do clube e foi um ícone da equipe naqueles anos 50 jogando na zaga e no meio de campo.
Bányai: jogava muito como defensor e meio campista, atuando em mais de 200 jogos com a camisa da equipe de 1946 até 1960.
Budai: outro símbolo do Honvéd, Budai jogou por uma década no clube rubronegro e foi um dos pilares no meio de campo e no ataque. Mágico com a bola nos pés.
Balbocsay: meia atacante, jogou apenas no Honvéd em toda carreira. Com a concorrência no ataque, não tinha tanto destaque, mas ainda sim cumpria seu papel.
Lajos Tichy: foi um dos mais brilhantes atacantes do futebol húngaro na história, mas teve pouco espaço em meio a tanta estrela junta no Honvéd. Com a saída dos craques em 1956, ganhou mais espaço e foi o principal nome do time até 1971.
Kocsis: um dos maiores pontas e atacantes que o futebol já viu, Sándor Kocsis era o terror para as defesas adversárias na Hungria e na Europa. Suas arrancadas e gols em profusão eram comuns, tanto é que marcou 75 gols em 68 jogos pela Hungria, e foi artilheiro da Copa de 1954 com 11 gols, um recorde superado apenas pelo francês Just Fontaine em 1958. Foi gênio e referência em bola na rede na década de 50 pelo Honvéd. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Czibor: Zoltán Czibor atuou em mais de 40 partidas pela seleção e foi referência no esquema ofensivo do Honvéd. Tinha extrema habilidade e muita velocidade.
Puskás: o maior gênio do futebol húngaro e um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Marcou 358 gols com a camisa do Honvéd, sendo o maior artilheiro do clube. Rápido, técnico, habilidoso e cerebral, era a estrela máxima do time. Encantou o mundo, também, jogando pelo Real Madrid multicampeão da década de 50. Desde 2009, a FIFA concede ao jogador que marcou o gol mais bonito do ano um prêmio em homenagem a estrela húngara: Prêmio Ferenc Puskás. Super merecido. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Ferenc Puskás I e Jenö Kalmár (Técnicos): o primeiro era o pai do gênio Puskás, e comandou o Honvéd no bicampeonato nacional de 1949-1950 e 1950. Depois do vice em 1951, deu lugar a Kalmár, que liderou a equipe em seus anos mais fabulosos e de fama absoluta no continente. Ambos foram cruciais para manter o padrão que Sebes, o treinador da Hungria, dava à seleção, com isso, os jogadores estavam sempre entrosados e não sentiam diferença quando mudavam de camisa. Aliás, sentiam sim, pois na Hungria tinha ainda mais craques…
Saiba mais sobre a Hungria daquela época clicando aqui!
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SOU UM FÃ DECLARADO DO FUTEBOL HÚNGARO E DO HONVÉD. ACHO QUE SE OS HUNGAROS TIVESSEM DISPUTADO A COPA DE 50 TERIAMOS UM DUELO IMORTAL COM AQUELE TIME DO BRASIL, VICE CAMPEÃO DO MUNDO.
É verdade, é como se voce fosse o mais famoso do mundo da noite e pro dia voce fosse um zé ninguem.
Boa
Um Esquadrão como esse jamais podera ser esquecido
Quase inacreditável o que aconteceu com futebol húngaro
conseguiu cair no ostracismo completo
depois de duas grandes safras de craques!!