Nascimento: 06 de junho de 1969, em Adrogué, Buenos Aires, Argentina.
Posição: Volante
Clubes: Argentinos Juniors-ARG (1985-1990), Tenerife-ESP (1990-1994), Real Madrid-ESP (1994-2000) e Milan-ITA (2000-2004).
Principais títulos por clubes: 1 Mundial Interclubes (1998), 2 Ligas dos Campeões da UEFA (1997-1998 e 1999-2000), 2 Campeonatos Espanhóis (1994-1995 e 1996-1997) e 1 Supercopa da Espanha (1997) pelo Real Madrid.
1 Liga dos Campeões da UEFA (2002-2003), 1 Supercopa da UEFA (2003), 1 Campeonato Italiano (2003-2004) e 1 Copa da Itália (2002-2003) pelo Milan.
Principais títulos por seleção: 1 Copa América (1993) e 1 Copa das Confederações (1992) pela Argentina.
Principais títulos individuais:
Bola de Ouro da Copa das Confederações: 1992
Jogador do Ano do Tenerife: 1992-1993 e 1993-1994
Jogador do Ano do Real Madrid: 1996-1997 e 1999-2000
Eleito para o Time do Ano do European Sports Media: 1997-1998
Melhor Jogador Latino da Década pela EFE: 1999-2000
Melhor Jogador de Clube do Ano pela UEFA: 1999-2000
Eleito para a Seleção dos Sonhos da Argentina do Imortais: 2020
Eleito para o Time dos Sonhos do Real Madrid do Imortais: 2021
“El Príncipe de Madrid”
Por Guilherme Diniz
Pensar em volantes argentinos quase sempre nos remete aqueles brucutus que não deixam espaços para os jogadores adversários, parando jogadas na base das faltas e dos encontrões nada amistosos. Porém, nos anos 90, surgiu no país latino um jogador que fugia de todos os estereótipos presentes no futebol alviceleste. Ele não apelava para faltas violentas, não era “cintura dura” e muito menos ruim de bola. Pelo contrário, ele dava show com uma categoria exemplar, toque e controle de bola notáveis, visão de jogo fenomenal e uma classe simplesmente magnífica. Fernando Carlos Neri Redondo, ou apenas Redondo, foi um dos maiores meio-campistas da história do futebol mundial e um dos maiores da história da Argentina, presente em 10 de 10 enquetes que elegem o “11 ideal” dos Hermanos em todos os tempos.
Apelidado de “El Príncipe” pela exigente torcida do Real Madrid, o craque mudou para sempre a concepção de jogo em seu país ao mostrar que era possível jogar de maneira eficiente e competitiva sem chutões, mas sim com passes de classe, tabelinhas e cabeça erguida. O futebol de Redondo foi várias vezes comparado ao do brasileiro Falcão pela precisão tanto na marcação quanto no apoio ao ataque. Mas, para os argentinos, Redondo foi muito melhor que Falcão… É hora de relembrar a carreira desse craque imortal.
Intelectual e bom de bola
Ao contrário de muitos futebolistas, Redondo nasceu em uma família de classe média na Grande Buenos Aires, em Adrogué. O garoto sempre foi bom aluno, tirava ótimas notas e começou a dar seus primeiros chutes no futebol de salão. Foi nas estreitas quadras de taco que Redondo aprendeu a ter o incrível controle de bola que seria uma de suas marcas registradas na carreira de profissional. Depois de jogar no Talleres de Escalada, o jogador repetiu a trajetória de outros mitos do futebol argentino como Maradona, Claudio Borghi, Batista e Ricardo Trigilli (além de Riquelme, Cambiasso e Sorín) e começou a jogar no Argentinos Juniors, em 1985, mesmo ano em que o clube conquistou sua primeira e única Copa Libertadores da América.
Redondo jogou 81 partidas pela equipe vermelha com muita qualidade nos passes, grande visão de jogo e um futebol totalmente clássico e técnico, sem chutões, carrinhos ou jogadas mais ríspidas tão comuns no esporte argentino. O volante tinha como grande inspiração o ídolo e mítico Ricardo Bochini, estrela do Independiente tetracampeão consecutivo da Libertadores nos anos 70, e se espelhava no jogador rojo para também conseguir brilhar. Foi nos tempos de Argentinos Juniors que Redondo viu a seleção argentina ser campeã do mundo em 1986 sob a batuta de Maradona, que praticamente carregou a equipe nas costas na Copa do México.
Depois do mundial, Redondo até teve uma chance de ser convocado para uma série de amistosos da equipe antes da Copa de 1990, mas ele recusou o convite do técnico Carlos Bilardo por “não querer parar os estudos de direito”, mas o fato é que Redondo não gostava do estilo de jogo defensivo proposto pelo treinador na época, além de saber que não teria grandes chances de ser titular por causa da idade. O craque só ganharia espaço na equipe alviceleste em 1992, com Alfio Basile no comando.
Debute na Espanha e títulos
Em 1990, uma trapalhada da diretoria do Argentinos Juniors fez com que Redondo não tivesse seu contrato renovado e o deixasse livre para assinar com qualquer clube a preço zero naquele ano. O Tenerife, da Espanha, aproveitou a deixa e assinou com o volante, que integraria o elenco da equipe entre 1990 e 1994. Foi nesse período que Redondo se consagrou como um dos maiores jogadores argentinos da época, sendo convocado com bastante frequência pelo técnico da seleção, Alfio Basile.
Em 1992 e 1993, o volante conquistou seus primeiros títulos de expressão justamente pela Argentina. Primeiro, veio a Copa das Confederações (à época chamada de King Fahd Cup) vencida sobre a Arábia Saudita por 3 a 1, com Redondo como titular do meio de campo ao lado de Simeone e eleito o melhor jogador do torneio. No ano seguinte, a Argentina faturou a Copa América ao bater o México na decisão por 2 a 1. Redondo fez grandes partidas nas duas competições e praticamente carimbou sua vaga na Copa do Mundo dos EUA de 1994, onde a Argentina seria uma das favoritas ao título tamanha qualidade de seus jogadores – Sensini, Ruggeri, Simeone, Caniggia, Maradona, Batistuta e Redondo, claro.
Poderia ser melhor
No Tenerife, Redondo não tinha chances de título, mas suas atuações de qualidade na equipe treinada pelo compatriota Jorge Valdano despertavam cada vez mais o interesse do Real Madrid, que via no jogador (e no treinador) as peças que faltavam para tentar acabar com a hegemonia do Barcelona na liga espanhola da época. Pela seleção, o craque disputou sua sonhada primeira Copa do Mundo nos EUA, em 1994. Titular e jogando ao lado de vários craques, Redondo via grandes possibilidades de conquistar o título mundial ainda mais com as duas vitórias iniciais da Argentina sobre Grécia (4 a 0) e Nigéria (2 a 1).
Mas, a partir do terceiro jogo, tudo iria por água abaixo. Maradona, que estava em uma grande (e duvidosa) forma física, foi pego no exame antidoping e o mundo conheceu a fonte da juventude do craque argentino: efedrina, uma droga usada para emagrecer e com notável efeito estimulante. Maradona foi expulso da Copa, a Argentina sentiu o baque e perdeu para Bulgária e Romênia na sequência do mundial, resultados que eliminaram os Hermanos. Redondo foi um dos poucos a sair ileso da campanha argentina pelo futebol apresentado e por ter tentado ajudar seu time nas partidas derradeiras. Mas o momento de tristeza para o craque duraria pouco, pois tempos de glórias inesquecíveis estavam prestes a chegar.
Llega “El Príncipe”
Em 1994, o Real Madrid trouxe as duas estrelas do Tenerife para as bandas do Santiago Bernabéu: Redondo e Valdano. A dupla argentina seria fundamental para a mudança no protagonismo do futebol espanhol. Seria o fim da predominância catalã e o início do domínio merengue tanto na Espanha quanto na Europa. Redondo arrumou o meio de campo do Real com visão de jogo e sua capacidade em fazer tabelas com os companheiros, além de marcar de maneira sublime qualquer adversário. Logo na temporada 1994-1995, o argentino conquistou seu primeiro título com o clube de Madrid: o Campeonato Espanhol, com quatro pontos de vantagem sobre o vice-campeão (Deportivo La Coruña). Um fator de destaque do time foi a baixa quantidade de gols sofridos – 29 em 38 jogos. A torcida começou a se identificar com o estilo clássico do jogador e rapidamente o apelidou de “El Príncipe”.
Entre 1996 e 1997, o jogador começou a sofrer com contusões no joelho, algo que seria um carma em sua carreira. Ele ficou de fora de boa parte das partidas do Real nas temporadas 1995-1996 e 1996-1997, mas ainda sim contribuiu para o título da Liga em 1996-1997. A contusão atrapalhou um pouco a titularidade do jogador nesse período muito por conta do estilo de jogo do técnico Fabio Capello, que gostava mais de Luís Milla. Os rivais do Real passaram a sondar o jogador, que decidiu permanecer no clube merengue, uma escolha mais do que certa para a temporada de ouro que estava chegando.
Azar da Argentina…
Na temporada 1997-1998, Redondo voltou a estar em ótima forma e se tornou titular absoluto no time comandado pelo alemão Jupp Heynckes. Ao lado de estrelas como Seedorf, Karembeu, Hierro, Raúl e Morientes, o jogador argentino jogou o fino e foi um dos principais responsáveis pela volta do Real Madrid ao topo da Europa depois de 32 anos com o título da Liga dos Campeões em cima da Juventus. Jogando como um clássico camisa 5 (mas vestindo a 6), Redondo deu show ao proteger os zagueiros e permitir as constantes investidas de Hierro ao ataque, além de dar aula de controle e proteção de bola, desarmes e passes virtuosos. Líder, elegante e exemplo de jogador moderno, Redondo se transformou em um dos maiores volantes do planeta naquela época (se não o maior).
A glória europeia veio em uma temporada que foi bem polêmica para o jogador, que teve diversas intrigas com o técnico da seleção argentina, Daniel Passarella, que o tirou da Copa do Mundo de 1998, na França. Entre as causas da não convocação de Redondo estavam as imposições táticas de Passarella, que preferia um volante “brigador e rompedor de pernas” a um jogador elegante e clássico. Mas o fato que mais impediu o craque de disputar sua segunda Copa foi mesmo a ridícula ordem do técnico de proibir o uso de cabelos compridos (!) e brincos pelos jogadores.
Redondo se negou a aderir a tal ordem, bem como o atacante Caniggia, e ambos não puderam ajudar a seleção no mundial. A ausência da dupla, principalmente de Redondo, foi crucial para a Argentina ser eliminada nas quartas de final diante da Holanda de Bergkamp, Frank de Boer e Kluivert. Com Redondo em campo, os atacantes e meias holandeses dificilmente teriam os espaços que tiveram naquele jogo vencido pela Laranja por 2 a 1. Redondo comentou sobre sua ausência naquela Copa:
“Eu já tinha dito ‘não’ à seleção em 1990 por saber que não seria titular no time do (Carlos) Bilardo. Em 1998, eu estava em grande forma, mas ele (Daniel Passarella) tinha ideias próprias sobre disciplina e meu corte de cabelo. Eu não sei o que isso tem a ver com futebol, por isso, eu disse ‘não’ novamente”. – Fernando Redondo, em entrevista ao Daily Record, Escócia, janeiro de 2003.
Depois do Mundial, Passarella, claro, foi demitido, e os torcedores argentinos clamavam pela volta do craque ao selecionado alviceleste. No entanto, Redondo preferiu concentrar-se em sua carreira no Real Madrid e fez suas últimas partidas pela seleção em 1999, sob o comando de Marcelo Bielsa. Na carreira, Redondo disputou 29 jogos pela Argentina e marcou um gol.
A partida eterna
Depois de ser campeão da Europa e Mundial em 1998 pelo Real, Redondo voltou a brilhar na temporada 1999-2000. Já comandado por Vicente del Bosque, o Real Madrid tinha outra vez um grande time, principalmente no meio de campo, onde dominavam Redondo e o inglês Steve McManaman. A equipe foi mal nos torneios domésticos, mas fez bonito na Liga dos Campeões. Depois de passar bem pela fase de grupos, a equipe espanhola fez um duelo eletrizante contra o Manchester United-ING (então campeão da Europa e do mundo) nas quartas de final.
No primeiro jogo, em Madri, empate sem gols. A torcida temia pelo pior, pois o Real teria que derrotar o Manchester de Beckham, Giggs, Scholes e companhia em pleno Old Trafford. Mas quem teme algo quando se tem um Raúl endiabrado e um Redondo no auge da forma? O argentino fez uma de suas mais exuberantes partidas na carreira naquele dia 19 de abril de 2000 com passes marcantes, jogadas de efeito e uma em especial que entrou para a história da Liga dos Campeões e do próprio Real Madrid.
A equipe espanhola já vencia o jogo por 2 a 0 quando Redondo recebeu a bola no meio de campo, no lado esquerdo, e foi avançando em direção ao ataque. Marcado de perto por Henning Berg, o craque utilizou a mais nobre arte do improviso para escapar da marcação do adversário ao dar de letra entre as pernas do norueguês. A bola ia saindo pela linha de fundo, mas Redondo teve força e velocidade para evitar a saída e encontrar Raúl livre no meio da área do United.
O argentino tocou e o atacante apenas teve o trabalho de empurrar a bola para dentro do gol vazio: 3 a 0. A partida terminou 3 a 2, o Real se classificou e Redondo cravou naquela noite seu lugar definitivo no rol dos imortais do esporte e do clube espanhol. Após o jogo, o técnico do Manchester, Sir Alex Ferguson, ficou tão abismado com a jogada de Redondo que perguntou se o argentino tinha “imãs em suas chuteiras”. Na verdade, era a mais pura essência do futebol.
Rei da Europa
Nas semifinais, Redondo e Raúl deram mais um show, dessa vez contra o Bayern München-ALE, que levou 2 a 0 no Santiago Bernabéu na ida e venceu por apenas 2 a 1 na volta. O Real alcançou mais uma final e teve pela frente o Valencia-ESP na primeira decisão de Liga dos Campeões entre clubes do mesmo país na história. O belíssimo Stade de France, em Saint-Denis, foi o palco que abrigou o jogo de um time só. O Real Madrid simplesmente atropelou o Valencia e fez 3 a 0, gols de Morientes, McManaman e Raúl, este último um lindo gol, de contra-ataque.
De maneira categórica e incontestável, o time merengue conquistava seu oitavo título europeu, levantado pelo capitão Redondo, que vivia naquele ano mais um momento mágico com a camisa do Real Madrid, clube que encerrava o século XX na Liga dos Campeões como ele começou, lá em 1955-1956: campeão. A conquista de 2000 deu a Redondo o título de melhor jogador da competição, além do status de melhor volante da década que terminava. No entanto, aquele seria o último grande momento do craque na carreira.
Decepções italianas
Ao término da temporada 1999-2000, Redondo deixou os torcedores do Real Madrid completamente desolados ao assinar um contrato com o Milan, da Itália, que tentava voltar aos velhos tempos de glórias no cenário europeu. Em Milão, porém, Redondo sofreu com seguidas contusões nos joelhos e não conseguiu emendar uma grande sequência de jogos, ainda mais por já estar com mais de 31 anos de idade. Os anos de futebol italiano renderam mais títulos ao craque, como a Liga dos Campeões de 2002-2003, mas o jogador foi apenas um dos jogadores do elenco, e não titular absoluto, tendo disputado entre 2000 e 2004 apenas 33 jogos e ficado mais de dois anos sem jogar, o que o levou a devolver grande parte do dinheiro e outras benfeitorias ganhas na Itália ao Milan, algo que comprovou o cavalheirismo tão marcante na carreira do jogador. Por conta das lesões, Redondo decidiu se aposentar em 2004, aos 34 anos de idade, para se dedicar à família, mas ainda viver ligado ao esporte e participando de amistosos e partidas beneficentes.
O legado de um imortal
Fernando Redondo deixou marcas profundas no futebol mundial, sobretudo no argentino. Depois dele, vários meio-campistas do país – tais como Cambiasso, Gago e Banega – tentaram se inspirar no futebol clássico e sem faltas de Redondo. Além deles, outros volantes do futebol internacional aprenderam a sair jogando, desarmar com lealdade e controlar bem a bola, além de ganharem mais importância nos esquemas táticos modernos. No entanto, nenhum conseguiu se aproximar de Fernando Redondo, o melhor e mais talentoso volante da história da Argentina e um dos maiores do futebol mundial em todos os tempos, capaz de arrancar suspiros de nostalgia de qualquer torcedor do Real Madrid que teve o prazer de ver o elegante meio-campista em campo, que era um camisa 5 por natureza, mas que poderia fazer estragos em qualquer defesa adversária se nele estivesse uma camisa número 10. Um craque imortal.
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O “Zidane” dos volantes
Ele não era um jogador de futebol, era um cavalheiro do futebol… Ah, e eu vi o Man Utd X Real, beleza? Eu vi!!!
Gerrard e Redondo são os melhores volantes que vi jogar
Este foi o meu ídolo e é até hoje. Não foi o melhor de todos os tempos mais, com certeza foi o melhor centro médio que o futebol viu jogar.