Grandes feitos: Campeão do Campeonato Paulista (1990) e Vice-campeão do Campeonato Brasileiro (1991).
Time base: Marcelo; Gil Baiano, Júnior, Nei (Carlos Augusto) e Biro-Biro; Mauro Silva, Ivair (Pintado) e Mazinho (Luís Müller); Tiba (Zé Rubens), Mário (Sílvio) e João Santos (Alberto / Franklin). Técnicos: Vanderlei Luxemburgo (1990) e Carlos Alberto Parreira (1991).
“A saga carijó”
Por Guilherme Diniz
Na virada da década de 80 para a de 90, a cidade de Bragança Paulista deixou de ser conhecida apenas por suas belezas naturais e por sua linguiça. Ali, à 90 km da capital paulista, existia um clube alvinegro de camisa exótica e jogadores muito bem treinados por um magricela barulhento, marcante nas entrevistas e também no jeito de se vestir. O clube era o Bragantino. O magricela? Simplesmente Vanderlei Luxemburgo, um dos mais vitoriosos e célebres técnicos da história do futebol brasileiro. Foi no Braga que Luxemburgo começou a construir sua carreira recheada de taças ao levar o desconhecido clube interiorano ao improvável e incrível título do Campeonato Paulista de 1990, na ainda mais incrível final caipira contra o Grêmio Novorizontino.
Um ano depois, o talento de Luxa ficou grande demais para Bragança, mas o time alvinegro continuou a fazer história pelas mãos do futuro tetracampeão mundial Carlos Alberto Parreira e disputou a final do Brasileirão contra o São Paulo de Telê Santana. O Bragantino ficou com o vice, mas o Tricolor teve que suar sangue para conseguir derrotar um time que aliava eficiência tática, grande poder de marcação e uma força tremenda jogando dentro de casa. Mais do que isso, aquele Braga revelou jogadores como Gil Baiano, Mauro Silva (titular na campanha do tetra da Seleção Brasileira na Copa de 1994) e muitos outros. É hora de relembrar.
A construção
Antes de marcar época no futebol paulista e brasileiro, o Bragantino começou a se estruturar como clube graças à família Abi Chedid, que sempre esteve ligada ao alvinegro principalmente por Jesus Abi Chedid e Nabi Abi Chedid, este bem famoso e que esteve inclusive à frente da CBF entre 1986 e 1989. Com vários cargos de deputado estadual e uma ampla rede de contatos no meio político e esportivo, Nabi fez de tudo e mais um pouco para levar grandes nomes ao Braga naquele final de anos 80. Uma inspiração para o mandatário era, mesmo que indiretamente, a Internacional de Limeira, clube que espantou a todos ao se tornar o primeiro campeão paulista do interior da história, em 1986. O título da Inter mostrou que era possível, sim, derrotar os gigantes do estado.
Para isso, o Bragantino contratou nomes como Nei, Ivair, Luis Müller e Victor Hugo e conseguiu o título da Segunda Divisão do Campeonato Paulista de 1988. Em 1989, Nabi foi buscar na Arábia Saudita um desconhecido e novato treinador chamado Vanderlei Luxemburgo, ex-lateral-esquerdo com passagens por Flamengo e Internacional que frequentou mais o banco de reservas do que os gramados. Talvez isso explicasse a aptidão e disposição de Luxemburgo para a função de técnico. A princípio, Luxemburgo seria técnico apenas da equipe de juniores do Braga, mas ele discordou por “ser técnico de time principal”. Depois de muita conversa, Nabi aceitou a posição de seu contratado e deixou os titulares nas mãos do novo treinador.
Antes de trazer Luxa, o Bragantino aproveitou a limpa que o Guarani fazia em seu elenco para oferecer o zagueiro Victor Hugo em troca de vários atletas bugrinos (Gil Baiano, Mauro Silva, Júnior, Mário, Zé Rubens) além de uma boa quantia em dinheiro. O negócio foi formidável para o Braga e horrível para o Bugre, que percebeu com o tempo que o tal zagueiro contratado não tinha metade da pose que seu nome de grife famosa sugeria. Em 1989, os Abi Chedid pincelaram mais alguns reforços do Vasco (Tiba), Fluminense (Sílvio, João Santos e Franklin), e Paraná (Mazinho). Pronto. Bastariam algumas semanas para que Luxemburgo colocasse toda aquela turma nos eixos e mostrasse que o investimento teria resultados quase instantâneos.
Bons presságios
No Paulistão de 1989, o Bragantino pensava apenas em não cair, mas foi muito mais além. A equipe mostrou maturidade e se classificou para a segunda fase do torneio depois de vencer 10, empatar cinco e perder seis dos 21 jogos disputados. Na etapa seguinte, o alvinegro deu show e atropelou o então invicto Palmeiras, do técnico Emerson Leão e de jogadores como Velloso, Darío Pereyra e Neto, por 3 a 0, partida que mostrou para uma maior parcela de público a força do caldeirão alvinegro em Bragança, o estádio Marcelo Stéfani. O resultado inspirou o Bragantino e levou o clube até as semifinais, mas o futuro campeão São Paulo eliminou os comandados de Luxemburgo com duas vitórias – 2 a 0 e 1 a 0. Mesmo com o revés, o quarto lugar foi muito comemorado e serviu como base para que no segundo semestre o time entrasse com tudo no Campeonato Brasileiro da Série B.
No torneio nacional, o Bragantino mostrou desde o início que seria um forte candidato ao título. Na fase inicial, liderança na chave K e classificação com oito vitórias e dois empates em 10 jogos. Na segunda fase, a classificação veio após vitória por 1 a 0 e empate em 1 a 1 com a Catanduvense. Em seguida, o time paulista despachou o Criciúma (derrota por 1 a 0 e vitória por 3 a 0) e o Remo, nos pênaltis, e chegou à final. Nela, o São José, vice-campeão paulista daquele ano, perdeu os dois jogos (1 a 0 e 2 a 1) para a turma de Luxa e o título da Série B ficou mesmo em Bragança. A campanha foi exemplar: 20 jogos, 14 vitórias, cinco empates e apenas uma derrota, com 29 gols marcados e apenas oito sofridos. Era notável a qualidade defensiva do time alvinegro, que dava ao econômico ataque um pouco mais de tranquilidade. Nas cabeças, o Bragantino esperava uma temporada ainda melhor em 1990. E ela, de fato, seria mesmo.
Estrutura de campeão
Não bastasse o time arrumadinho e o elogiado trabalho de Luxemburgo, o Bragantino entrava na década de 90 com uma estrutura de dar inveja a muito time grande do Brasil. A diretoria alvinegra investia pesado em grandes nomes da fisioterapia, preparação física, nutrição e medicina para que os atletas tivessem todo o suporte necessário para jogar bem e brilhar. Algumas das “estrelas” que esbanjavam talento no dia-a-dia eram Luís Carlos Prima, preparador físico que teria passagem pela Seleção Brasileira, Luiz Rosan, prestigiado fisioterapeuta, e Marco Aurélio Cunha, médico ortopedista bastante conhecido principalmente por seu trabalho no São Paulo que ganhou quase tudo entre 2005 e 2008.
Além dos reforços humanos, a diretoria do clube investiu na ampliação do estádio Marcelo Stéfani, que recebeu novos lances de arquibancadas atrás dos gols (feitas de ferro e madeira e nada confiáveis, diga-se de passagem). Com tudo o que precisava, Luxemburgo organizou seu time para a disputa do longo e difícil Campeonato Paulista de 1990, que teria 24 clubes disputando o título estadual em quatro etapas: primeira fase, repescagem, segunda fase e fase final. Seriam necessários sete meses para que o campeão fosse revelado, mais até do que o Campeonato Brasileiro, que começaria em agosto e terminaria em dezembro daquele ano.
Gana e sobriedade
Na primeira fase, o Bragantino mostrou a mesma força defensiva do ano anterior e igual economia de gols. Depois de vencer o Botafogo-SP, por 1 a 0, e perder para o XV de Jaú pelo mesmo placar, o time emendou três vitórias seguidas (2 a 1 na Ferroviária, 3 a 1 no Santo André e 2 a 1 no XV de Piracicaba) e empatou em 1 a 1 com o São Bento. Depois de perder por 1 a 0 para a Catanduvense, os comandados de Luxa voltaram a vencer três jogos seguidos (1 a 0 no Noroeste, 3 a 0 na Ponte Preta e 4 a 0 no Juventus) e mantiveram vivas as chances de classificação. Nos duelos seguintes, a equipe não perdeu nenhum jogo para os chamados grandes. O Braga venceu Portuguesa (2 a 1) e Santos (2 a 0), e empatou com São Paulo (0 a 0), Palmeiras (0 a 0) e Corinthians (1 a 1). Em 23 jogos, foram 11 vitórias, seis empates, seis derrotas, 26 gols marcados e 14 sofridos. Os alvinegros ficaram na terceira posição do Grupo I, atrás apenas de Corinthians e Palmeiras.
Depois de superar o primeiro teste, o Bragantino mostrou sua força na segunda e decisiva fase. Os 14 times foram divididos em dois grupos e o melhor de cada um se classificaria para a grande final. Jogando em casa, o Braga contou com o apoio de sua torcida e não perdeu um jogo sequer. Foram quatro vitórias (2 a 0 no Santos, 2 a 1 no Botafogo, 2 a 0 no Mogi Mirim, 1 a 0 no XV de Jaú) e dois empates (1 a 1 com o Ituano e 0 a 0 com o Corinthians). Fora de casa, a equipe também foi eficiente e venceu três jogos (2 a 1 no XV de Jaú, 2 a 0 no Ituano e 1 a 0 no Botafogo), empatou dois (2 a 2 com o Corinthians e 0 a 0 com o Mogi) e perdeu apenas um (1 a 0, para o Santos).
Depois de 12 jogos, o Bragantino alcançou a liderança do grupo com o melhor ataque (15 gols) e a melhor defesa (seis gols), retrospecto que confirmou a boa fase dos caipiras de Bragança e os colocou na inédita final estadual. Para provar que o interior estava mesmo com a bola toda naquele ano, o adversário do Braga também seria de uma cidade distante da capital: o Grêmio Novorizontino, de Novo Horizonte, que superou Palmeiras, Guarani e Portuguesa e se garantiu na chamada “Final Caipira”, a primeira na história do futebol paulista com os dois clubes não sendo da capital.
A consagração da “Linguiça Mecânica”
A primeira final interiorana da história do Paulistão colocou frente a frente dois times muito bem montados e com alguns talentos que seriam, num futuro muito próximo, campeões do mundo com o Brasil. Do lado do Braga, destaque para o lateral Gil Baiano, o volante Mauro Silva, os meias Mazinho e João Santos e o atacante Mário. Já o Novorizontino, comandado por Nelsinho Baptista, apostava no lateral Luís Carlos Goiano, no zagueiro Márcio Santos e no atacante Paulo Sérgio. Como tinha melhor campanha, o Bragantino jogava por dois empates nas duas partidas e também por uma nova igualdade na prorrogação do segundo jogo, fruto da sempre criativa, inventiva e genial (?) organização (??) do nosso futebol.
Em Novo Horizonte, Édson abriu o placar para o Novorizontino ainda no primeiro tempo, mas Gil Baiano definiu o placar em 1 a 1 na segunda etapa. O empate deixou os jogadores alvinegros cheios de confiança mesmo com Mauro Silva, Mazinho e Mário com problemas musculares e sob intenso tratamento médico. Nos treinamentos, Luxemburgo usou de todo seu conhecimento tático e seu enorme campo de madeira repleto de botões para mostrar aos seus atletas quais os caminhos a ser explorados no duelo decisivo.
No dia da grande final, em 26 de agosto de 1990, o estádio Marcelo Stéfani recebeu mais de 15 mil pessoas, que mostraram com orgulho vários chapéus de palha em alusão à já famosa “Final Caipira” que deixou os grandes da capital com uma baita inveja. A cidade de Bragança recebeu os torcedores e simpatizantes de outras equipes com várias atrações, como um exótico festival de pipas, e cardápios especiais nos mais diversos restaurantes da cidade, que ofereciam suas melhores linguiças calabresas que tanto faziam (e fazem) a fama da cidade e que serviu até para batizar o Bragantino de “Linguiça Mecânica”, uma brincadeira com a Holanda da Copa de 1974, por causa do futebol eficiente e dinâmico praticado pelos comandados de Luxemburgo.
Em campo, os times fizeram uma final pegada, cheia de alternativas e com foco no ataque, sem retrancas ou precauções. Por causa das dimensões pequenas do campo, o Bragantino não podia esperar o Novorizontino em sua defesa e precisava atacar, como também precisava em dose ainda maior o time aurinegro, que tinha que vencer o duelo nos 90 minutos e na prorrogação. Por causa disso, o Novorizontino criou muito mais chances e esteve mais tempo no ataque. Os avanços dos defensores Odair e Márcio Santos confundiam a zaga alvinegra e geravam preocupações no técnico Luxemburgo. E elas aumentaram no segundo tempo, aos 21´, quando Róbson cobrou escanteio na cabeça de Fernando, que testou para o chão, sem chances para o goleiro Marcelo: 1 a 0.
Apenas cinco minutos depois, Tiba tabelou com Mário pela direita, avançou em direção à área aurinegra e chutou cruzado. A bola bateu na trave e entrou no gol, para a festa da massa bruta bragantina: 1 a 1. Na prorrogação, chances em ambos os lados e grandes defesas do goleiro Marcelo mantiveram o placar inalterado. Os jogadores do Novorizontino ainda chiaram por causa de um pênalti não marcado nos minutos finais, mas não tinha jeito: o Bragantino era campeão paulista de 1990.
Era a consagração do trabalho de Vanderlei Luxemburgo, da diretoria alvinegra e da boa e sóbria campanha do time de Bragança: 37 jogos, 18 vitórias, 12 empates, sete derrotas, 43 gols marcados e 22 sofridos, totalizando um aproveitamento de 65%. A festa na cidade foi enorme e um verdadeiro carnaval tomou conta das ruas. A façanha do Braga contagiou até quem não era muito ligado a futebol e encheu de ambições os próprios jogadores alvinegros, que já pensavam no título do Brasileirão daquele ano.
Nova boa impressão e a saída de Luxa
Depois do título e da ressaca, o Bragantino deixou de ser um “Zé ninguém” e passou a ser mais respeitado não só pelos clubes de São Paulo, mas também de fora do estado. No Campeonato Brasileiro, a equipe mostrou imponência e venceu vários grandes clubes pelo caminho como Flamengo (2 a 1, fora de casa), Grêmio (1 a 0, fora de casa), Cruzeiro (3 a 0, em casa), Vasco (1 a 0, em casa) e Botafogo (2 a 1, fora de casa). Depois de superar as duas primeiras fases, o Braga se classificou para as quartas de final, mas não resistiu ao Bahia e perdeu por 4 a 3 no placar agregado.
Jogando um futebol muito eficiente e disciplinado, o Bragantino tinha tudo para ir mais longe no ano seguinte ao manter seus jogadores e sua comissão técnica, mas o técnico Luxemburgo não resistiu a uma proposta do Flamengo e se mandou para a Gávea. Torcida e clube ficaram decepcionados, mas Nabi Abi Chedid foi rápido no gatilho e trouxe, também do futebol árabe, o experiente Carlos Alberto Parreira, campeão brasileiro pelo Fluminense em 1984. Com técnico novo e a base campeã estadual, o Bragantino só pensava em uma coisa: manter-se entre os principais times do país na temporada de 1991.
Experiência de campeão
Com Parreira, o Bragantino manteve sua pegada competitiva e se mostrou mais letal nos contra-ataques, agora explorando as boas jogadas de Alberto, pela direita, e Sílvio, mais centralizado. Mauro Silva era cada vez mais impecável no meio de campo e Gil Baiano o dono da lateral-direita, se tornando até titular da Seleção Brasileira comandada por Paulo Roberto Falcão.
No primeiro semestre, o Braga tinha o Campeonato Brasileiro como único e principal compromisso (o Paulistão seria disputado só a partir do dia 24 de julho) e as pretensões do time eram as maiores possíveis: chegar à final e coroar de vez o trabalho iniciado lá em 1988. Logo na estreia, o time reencontrou o algoz do Brasileiro de 1990, o Bahia, e empatou em 1 a 1. Na rodada seguinte, o campeão vigente, Corinthians, foi até Bragança e foi vítima do esquadrão da camisa carijó (aquela recheada de losangos em preto e branco que ficou famosíssima no Brasil inteiro e inspirou vários clubes a lançar terceiros uniformes): vitória do Braga por 2 a 0, gols de Sílvio e Alberto. Nos três jogos seguintes, três empates, contra Vasco (2 a 2), Portuguesa (0 a 0) e Internacional (1 a 1). A seca de vitórias foi encerrada com um triunfo por 3 a 1 sobre o Cruzeiro, em Minas, e embalou os alvinegros na vitória contra o Botafogo, em casa, por 3 a 0. Nas rodadas seguintes, empate sem gols contra o Fluminense, no Rio, derrota por 1 a 0 para o Sport, fora, e para o São Paulo, por 2 a 1, em casa.
Da 11ª até a 19ª rodada, o time interiorano não perdeu mais e engatilhou sua classificação para a fase seguinte do campeonato. Os resultados foram expressivos e mostraram que o Braga podia, sim, conquistar o Brasileirão: 1 a 1 com o Flamengo, em casa, 2 a 0 no Palmeiras, fora, 2 a 1 no Vitória, fora, 1 a 0 no Santos, em casa, 3 a 1 no Náutico, em casa, 1 a 1 com o Grêmio, fora, 1 a 1 com o Atlético-MG, em casa, 1 a 0 no Goiás, em casa, e 2 a 1 no Atlético-PR, fora.
Arrancando elogios do Pantera Negra
Na semifinal, o Bragantino enfrentou o Fluminense, clube que havia sido a fonte de vários jogadores do próprio Braga, como Sílvio, João Santos, Alberto e Franklin. Por ter melhor campanha que o rival, o time alvinegro só precisava de uma vitória no primeiro jogo, no Maracanã, para se garantir na decisão mesmo se perdesse o duelo da volta, em Bragança. Diante de mais de 74 mil pessoas (recorde da competição na época), o Bragantino jogou um futebol de alto nível, ficou mais tempo com a bola em seus pés e venceu por 1 a 0, gol de Franklin, aos 42´do segundo tempo, que comemorou “embalando” um nenê na comemoração. O triunfo fez justiça a tudo o que a equipe apresentou em campo e fez com que a torcida do Flu aplaudisse o feito histórico dos alvinegros logo após o apito do árbitro José Roberto Wright. De passagem pelo Brasil naquele ano, o ex-jogador e lenda do futebol português Eusébio, então com 49 anos, viu o jogo e elogiou o Bragantino:
“O Bragantino é um time melhor organizado, ao contrário do Fluminense, muito lento e que deixa espaços demais para o adversário jogar”. Eusébio, maior jogador português da história, em entrevista à Folha de S. Paulo, 27 de maio de 1991.
O Pantera Negra elogiou, também, os talentos de Mauro Silva e Mazinho. Segundo ele, Silva “destruiu as jogadas do Flu e mostrou enorme habilidade na distribuição de jogo”. Já Mazinho foi “um dos únicos a mostrar uma faceta totalmente ofensiva”. Sem precisar forçar, o Braga apenas empatou o duelo da volta, em Bragança, em 1 a 1, e carimbou de vez sua vaga na grande final do Brasileiro. Era hora de tentar a mais alta e improvável glória.
Honroso vice
Assim como na semifinal, o Bragantino dependia apenas de si para ser campeão nacional. Com melhor campanha que seu rival, o São Paulo de Raí e Telê Santana, o time interiorano já seria campeão se vencesse o tricolor no primeiro duelo, no Morumbi. No entanto, os são-paulinos queriam acabar de vez com a fama de vices depois de perder dois títulos nacionais seguidos, em 1989 e 1990, e venceram por 1 a 0, gol de Mário Tilico. O resultado deu a vantagem do empate ao São Paulo e uma enorme pressão nos bastidores começou a preocupar o Bragantino, pois queriam tirar a partida decisiva do estádio Marcelo Stéfani, que não tinha “condições ideais de jogo e segurança”. No entanto, o clube alvinegro mostrou ser forte também fora de campo e manteve o duelo em seu caldeirão, apelidado na época de “La Linguicera”.
Na partida com menor público da história de uma final de Brasileiro (apenas 12 mil pessoas), o Bragantino não conseguiu superar o paredão armado no meio de campo pelo técnico Telê e o empate sem gols deu o título brasileiro ao São Paulo. Embora tenha ficado com o vice, o Braga saiu de campo muito aplaudido por sua torcida e elogiado pela mídia após os números finais de sua campanha: 23 jogos, 10 vitórias, 10 empates, três derrotas (foi o time que menos perdeu, ao lado do Atlético-MG), 29 gols marcados (melhor ataque) e 16 gols sofridos. Para se ter uma ideia do peso do Braga naquela competição, quatro jogadores da equipe (Marcelo, Gil Baiano, Mauro Silva e Mazinho) estiveram na seleção do campeonato da revista Placar, com direito a Bola de Ouro conquistada por Mauro Silva. Nenhum time colocou tantos jogadores entre os 11 do que o alvinegro.
Debandada e o fim
No segundo semestre, o Bragantino começou a perder sua força e nem sequer se classificou para a fase final do Campeonato Paulista. Carlos Alberto Parreira deixou a equipe para assumir a Seleção Brasileira e abriu o caminho para o inevitável desmanche no elenco alvinegro. O time ainda fez campanhas regulares até 1996, mas a partir daquele ano começou a entrar em decadência e a frequentar as divisões inferiores do futebol nacional. A ascensão e queda igualmente meteóricas do Bragantino foram muito semelhantes à de outro clube do interior paulista, o São Caetano dos anos 2000, cuja história já foi relembrada aqui no Imortais.
Depois de anos dourados e inesquecíveis, a torcida bragantina espera que um novo e promissor técnico volte a comandar um time tão aguerrido e competitivo como o esquadrão de 1990-1991, que fez famosa uma cidade inteira e assustou todo e qualquer grande clube que ousasse pisar em La Linguicera.
Os personagens:
Marcelo: foi titular absoluto do gol bragantino naquele período de ouro. Fazia boas defesas, era muito regular e foi beneficiado por contar com ótimos jogadores em seu setor defensivo. Depois de pendurar as luvas, virou técnico de futebol.
Gil Baiano: naquele começo de anos 90, Gil Baiano foi um dos melhores laterais do futebol brasileiro e comprovou a fama em cada partida que disputou com a camisa do Bragantino e com as convocações que recebeu para a Seleção Brasileira. Muito forte no apoio ao ataque e também na marcação, foi um dos ídolos da torcida alvinegra. Jogou de 1988 até 1992 no Bragantino.
Júnior: foi titular na zaga do Braga e um dos jogadores que vieram do Guarani na ótima negociação que o time alvinegro fez naquele final dos anos 80. Eficiente no desarme e nas bolas aéreas, ajudou o Bragantino a ostentar baixos números de gols sofridos e a manter sua pegada competitiva. Não brincava em serviço e dava os tradicionais chutões quando necessário.
Nei: formou a célebre dupla de zaga do Braga ao lado de Júnior naqueles anos de ouro. Foi capitão e um dos líderes da equipe com muita raça e imponência dentro da área por causa de sua estatura. Depois de sua passagem em Bragança, não repetiu o mesmo futebol nos clubes que defendeu posteriormente.
Carlos Augusto: zagueiro, disputou algumas partidas como titular, inclusive as finais do Paulistão de 1990, mas não teve muitas chances por causa da concorrência com Nei e Júnior.
Biro-Biro: foi o lateral-esquerdo titular do Braga e mostrava muita desenvoltura nas subidas ao ataque. Tinha bom passe, mas não era tão eficiente na marcação e nas bolas aéreas por causa da baixa estatura. Ganhou uma Bola de Prata e foi eleito para o time do Brasileirão em 1990, pela revista Placar.
Mauro Silva: com físico avantajado, fôlego para dar e vender e uma soberania notável no meio de campo, Mauro Silva foi o grande craque e a maior revelação daquele Bragantino de ouro. Com um futebol vigoroso e correto, o volante colecionou prêmios individuais e se tornou, em pouco tempo, titular da Seleção Brasileira. Na Copa de 1994, formou a dupla de volantes titular ao lado de Dunga e voltou dos EUA com o título mundial. Mauro Silva foi ídolo em Bragança e também na Espanha, onde ganhou vários títulos com o Deportivo La Coruña.
Ivair: o franzino meio-campista era um dos mais experientes do Bragantino na época e foi peça fundamental no esquema tático da equipe naquele período de ouro. Forte na marcação, no apoio ao ataque e na movimentação, Ivair foi um dos xodós da torcida entre 1988 e 1991.
Pintado: o volante que faria fama no São Paulo começou a demonstrar seu futebol de muita garra e eficiência na marcação no Bragantino campeão paulista de 1990. Embora não fosse titular absoluto do técnico Luxemburgo, fez boas partidas.
Mazinho: foi um dos principais nomes do ataque bragantino naqueles anos de ouro com muita habilidade, velocidades e dribles. Marcou vários gols importantes e ganhou elogios de todo mundo, inclusive de Eusébio. Foi convocado para a Seleção Brasileira, disputou a Copa América de 1991 e foi eleito para a seleção do Campeonato Brasileiro de 1991 pela revista Placar. Depois de brilhar pelo Braga, foi jogar no Bayern München-ALE e faturou um Campeonato Alemão.
Luís Müller: foi titular nas campanhas de acesso do Bragantino nos anos de 1988 e 1989, mas começou a perder espaço no time titular a partir de 1990. Mesmo assim, entrava quase sempre e ajudava as ações de ataque com velocidade e tabelinhas.
Tiba: muito rápido pela direita, o franzino Tiba marcou o gol do título do Braga na finalíssima do Paulistão de 1990. Jogou como titular em algumas partidas e marcou seu nome na história do clube. Chegou a jogar no Corinthians, mas uma lesão no joelho abreviou sua estadia no Parque São Jorge.
Zé Rubens: meia, atuou como titular em várias partidas do clube e ajudou na conquista do Paulistão de 1990. Marcou gols importantes e dava bons passes.
Mário: foi o centroavante titular da equipe nas conquistas das divisões inferiores em 1988 e 1989 e em grande parte da campanha do título paulista de 1990. Fez boas partidas com a camisa do Braga e se movimentava bastante em campo.
Sílvio: alto e com boa presença física, o atacante foi titular no ano de 1991 e ajudou o Bragantino a chegar à final do Brasileirão daquele ano. Marcou vários gols e mostrou qualidade nas bolas aéreas e nos contra-ataques. Outro que foi titular da Seleção Brasileira.
João Santos: podia atuar como meia, ponta e atacante, e desempenhava tais funções com muita regularidade, velocidade e oportunismo. Marcou época no Braga e chegou a ser titular da Seleção Brasileira. Depois do auge, não repetiu o futebol demonstrado em Bragança e caiu no ostracismo.
Alberto: revelado pelo Flu, chegou ao Bragantino em 1991 e virou titular no esquema tático do técnico Parreira, exercendo a função de falso ponta pela direita, na campanha do vice-campeonato brasileiro. Jogou até 1994 com a camisa alvinegra e passou por vários outros clubes.
Franklin: foi talismã na campanha do Brasileirão de 1991 ao marcar o gol da classificação diante do Fluminense, seu ex-clube, na semifinal. Foi uma das grandes promessas do futebol brasileiro da época, mas não vingou e ficou a maior parte do tempo na reserva. Fez escola ao comemorar seu histórico gol no Maracanã embalando um bebê, gesto que seria repetido por Bebeto na Copa de 1994.
Vanderlei Luxemburgo e Carlos Alberto Parreira (Técnicos): Luxemburgo só se tornou um multivencedor e conhecido em todo o Brasil graças ao seu trabalho frutífero no Bragantino. Foi lá que ele moldou sua filosofia de trabalho, aprendeu os macetes da profissão e virou um verdadeiro “profexô” que faturou, nos anos posteriores ao Braga, títulos marcantes com Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro e Santos. Depois dele, Carlos Alberto Parreira manteve a pegada competitiva dos alvinegros, realizou algumas modificações táticas e quase levou o título brasileiro de 1991. Embora não tenha conquistado títulos, o trabalho no Braga o levou para a Seleção Brasileira e, em 1994, ao título mundial.
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Mauro Silva desarmava e driblava um cracaço no Bragantino, merecia a Copa de 1990 na Itália assim como Gil Baiano e Biro Biro nas laterais e Mazinho no ataque. E tem mais: o vice Novorizontino tinha Odair lateral direito Márcio Santos quarto zagueiro e o habilidoso ponta Paulo Sérgio no ataque todos com chances de Lazaroni levar a Copa.
Maravilhosa matéria. Era criança brincando pelas ruas de Bragança quando ocorreu essa fase vitoriosa. Sempre torcendo pelo Braga, acredito que em breve teremos condições de disputar títulos novamente com o apoio da Red Bull. Linguiça neles!
o que este time do bragantino fez de fãs pelo brasil afora foi uma grandeza…time respeitadissimo e super admirado pelos torcedores adversarios…o linguiça mecanica foi uma maquina de jogar bola principalmente com a presença do artilheiro silvio e do cracaço de bola mazinho!!!
extraordinario o que foi o Bragantino no cenario nacional, time de craques. A foto acima quase todos estiveram na selecao brasileira