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Jogos Eternos – Manchester United 5×4 Lyon 2025

manunited lyon 2025

Data: 17 de abril de 2025

O que estava em jogo: uma vaga nas semifinais da Liga Europa da UEFA de 2024-2025

Local: Old Trafford, Manchester, Inglaterra

Árbitro: Sandro Schärer (Suíça)

Público: 73.228 pessoas

Os Times:

Manchester United-ING: André Onana; Noussair Mazraoui (Luke Shaw), Harry Maguire e Leny Yoro; Diogo Dalot, Manuel Ugarte (Mason Mount), Casemiro e Patrick Dorgu (Harry Amass); Alejandro Garnacho (Christian Eriksen), Rasmus Hojlund (Kobbie Mainoo) e Bruno Fernandes. Técnico: Rúben Amorim.

Lyon-FRA: Lucas Perri; Ainsley Maitland-Niles, Clinton Mata, Moussa Niakhaté e Nicolás Tagliafico (Duje Caleta-Car); Paul Akouokou (Tanner Tessmann), Corentin Tolisso e Jordan Veretout (Alexandre Lacazette); Rayan Cherki (Abner Vinícius), Georges Mikautadze (Malick Fofana) e Thiago Almada. Técnico: Paulo Fonseca.

Placar: Manchester United 5×4 Lyon. Gols: (Manuel Ugarte-MUN, aos 10′ e Diogo Dalot-MUN, aos 45’+1’ do 1ºT; Corentin Tolisso-LYO, aos 25′ e Nicolás Tagliafico-LYO, aos 31′ do 2ºT; Rayan Cherki-LYO, aos 14′ do 1ºT da prorrogação; Alexandre Lacazette-LYO, aos 4′, Bruno Fernandes-MUN, aos 9′, Kobbie Mainoo-MUN, aos 15′ e Harry Maguire-MUN, aos 15’+1′ do 2ºT da prorrogação).

Cartão Vermelho: Tolisso-LYO, aos 44’ do 2º T

 

“Enredo dos Sonhos”

Por Guilherme Diniz

O estádio Old Trafford é conhecido mundialmente como o Teatro dos Sonhos”, apelido criado pelo maior ídolo do Manchester United, Sir Bobby Charlton. Tal nome sempre fez muito sentido à colossal casa dos Red Devils pela quantidade de grandes jogos realizados e momentos inesquecíveis vistos por milhares e milhares de pessoas ao longo das décadas. Tal estádio resistiu à Segunda Guerra Mundial, foi reconstruído, modernizado e segue inabalável como um dos mais imponentes e importantes monumentos do futebol. Jogar ali é um privilégio e nunca um jogo é apenas um jogo. E na noite do dia 17 de abril de 2025, Old Trafford fez jus ao seu apelido com uma peça rara, apresentada por atores dispostos a encantar, alegrar, entristecer e chocar, em vários atos com nuances e voltas arrebatadoras.

No primeiro ato, o Manchester United alegrou seus torcedores com uma confortável vitória por 2 a 0, placar que lhe dava uma vaga na semifinal da Liga Europa da UEFA. Mas, no segundo ato, o visitante Lyon levou pânico e choque ao empatar o jogo em 2 a 2 e provocar velhos pesadelos ao torcedor do United, que viu de novo os vilões que lhe perseguem há anos por ali. Mas aí veio um ato extra, cujas cenas iniciais provocaram pânico e desalento total na maioria dos espectadores daquele Teatro. 

O Lyon virou o jogo  – mesmo com um jogador a menos! – para 4 a 2. No exato momento do quarto gol, dezenas e dezenas de pessoas começaram a deixar o Teatro dos Sonhos, àquela altura o Teatro dos Pesadelos. Bem, os que saíam não eram crentes. Pareciam não entender que ali estava o Manchester United, o clube que quase desapareceu nos anos 1950 e ressurgiu multicampeão nos anos 1960. O clube que dominou a Premier League nos anos 1990 e 2000. O clube que virou uma final perdida de Liga dos Campeões da UEFA em três minutos. Enfim, um clube titânico, místico. Os atores vestidos em vermelho prepararam uma cena final. Algo que jamais os resilientes que ali permaneceram iriam se esquecer. Os que estavam lá fora pensavam “são masoquistas? Pra que continuar a ver aquela tragédia? Aquela vergonha?”. 

Nada disso. Estavam ali porque acreditavam. O United descontou. O relógio andou seis minutos e veio o empate. Parecia certo que haveria o último ato, das penalidades. Mas então uma bola aérea encontrou a cabeça de Maguire, que mandou a redonda para o gol de Perri e decretou a virada de 5 a 4. O vilão foi derrotado. A alegria voltou às arquibancadas. Aqueles que deixaram o Teatro dos Sonhos e já estavam voltando para casa devem ter surtado quando viram as notícias borbulhando no celular. O United estava na semifinal. E aquele jogo estava na eternidade. Uma ode ao épico, um enredo dos sonhos no Teatro dos Sonhos. É hora de relembrar. 

Pré-jogo

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Bruno Fernandes deu show nas oitavas. Foto: Adam Vaughan / EPA
 

A edição de 2024-2025 da Liga Europa da UEFA foi a primeira no formato de Fase de Liga, no qual os 36 clubes participantes disputaram oito jogos cada em uma espécie de campeonato, com os jogos definidos por sorteio. Os oito primeiros colocados da Fase de Liga avançaram direto para as oitavas de final, enquanto os clubes que ficaram da 9ª até a 24ª colocação disputaram as vagas restantes por meio de playoffs. O Manchester United conseguiu sua vaga direta às oitavas graças ao terceiro lugar na Fase de Liga, após vencer cinco jogos, empatar três e somar 18 pontos. O Lyon também avançou direto após terminar na sexta colocação, com quatro vitórias, três empates e uma derrota, somando 15 pontos. Nas oitavas, o United despachou a Real Sociedad-ESP após empate em 1 a 1 na Espanha e vitória por 4 a 1 na Inglaterra, com show de Bruno Fernandes, autor de três gols. Já o Lyon encarou o Steaua Bucareste-ROM e venceu com facilidade tanto na Romênia (3 a 1) quanto na França (4 a 0). 

Classificados, ingleses e franceses se encontraram nas quartas de final e iriam reeditar um confronto que só havia acontecido outras quatro vezes, todas na Liga dos Campeões da UEFA. A primeira vez foi em 2004-2005, na fase de grupos, com empate em 2 a 2 na França e vitória dos Red Devils por 2 a 1 em Old Trafford. Tempo depois, os clubes duelaram nas oitavas de final da UCL de 2007-2008, a última grande temporada do super Lyon de Juninho na época. Na ida, em Lyon, empate em 1 a 1. Na volta, em Old Trafford, vitória do Manchester United por 1 a 0 (gol de Cristiano Ronaldo). O clube inglês seguiu firme até a final e foi campeão europeu após superar o rival Chelsea nos pênaltis.

Já em 2025, o Lyon queria acabar com a seca diante do United e apostava em um bom resultado em sua casa para seguir em busca de um inédito título continental. Com os investimentos de John Textor (mesmo mandatário do Botafogo), o clube tinha na Liga Europa a chance de salvar a temporada, já que a Ligue 1 havia sido conquistada pelo PSG e os Gones estavam eliminados da Copa da França. Com o talento dos argentinos campeões mundiais Almada e Tagliafico, a experiência de Lacazette e Tolisso e a habilidade do atacante Cherki, o Lyon tinha poder ofensivo e sabia das deficiências da zaga do United, um grande problema há anos no clube. 

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Lyon (de Benzema) e Manchester United se enfrentaram nas oitavas de final da UCL de 2007-2008. Foto: Getty Images.
 

Do lado vermelho, mesmo com as limitações de seu setor defensivo, o meio de campo e ataque tinham suas virtudes com o brasileiro Casemiro, multicampeão pelo Real Madrid e ainda jogando em alto nível, a velocidade de Dalot e Garnacho e a referência técnica e liderança de Bruno Fernandes, o principal craque do time e faz-tudo no setor ofensivo. Com times dispostos a tudo, o jogo em Lyon foi elétrico e Almada abriu o placar para os Gones no primeiro tempo. Yoro, nos acréscimos, empatou, e Zirkzee virou para o United, aos 43’ do segundo tempo. Ainda celebrando a vitória fora de casa, o United levou uma ducha de água fria quando Cherki, aos 45’ + 5’, empatou e manteve a esperança de classificação dos franceses. 

Quem vencesse em Old Trafford ficaria com a vaga. Qualquer empate levava o jogo para a prorrogação. Os ingleses queriam manter a escrita de nunca terem perdido para os franceses em casa. E os franceses queriam acabar de vez com o jejum naquele território hostil, tomado por mais de 73 mil pessoas e um convidado ilustre nas arquibancadas: Sir Alex Ferguson, o lendário técnico dos grandes momentos do United nos anos 1990 e 2000 e presente nos duelos contra o próprio Lyon nos anos 2000.

Primeiro Tempo – Alívio vermelho

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Foto: AP
 

A partida começou com o Lyon marcando o United em seu campo, com linhas adiantadas. Os franceses dificultavam a saída de bola da equipe da casa, que só foi começar a ter mais espaço perto dos 10 minutos, quando Bruno Fernandes recebeu em profundidade pela direita, percebeu o espaço na área e tocou para Garnacho, que escapou da marcação e deixou no meio para Ugarte, completamente livre, fazer 1 a 0. O gol inflou o United, que partiu pra cima e começou a usar a marcação adiantada no Lyon, em dificuldades para sair com a bola dominada e provando do próprio veneno nos minutos iniciais. Aos 15’, essa tática deu resultado, os ingleses roubaram a bola com Garnacho, este deixou para Casemiro, que chutou rasteiro, no canto, mas Lucas Perri se esticou todo e fez uma defesaça! Três minutos depois, foi a vez de Dalot chutar e levar perigo ao gol francês.

A partida parecia toda do United e só aos 20’ que o Lyon, enfim, conseguiu criar alguma coisa nos pés de Almada, que chutou e viu a bola bater na defesa. Um minuto depois, escanteio cobrado da direita e Paul Akouokou exigiu enorme defesa de Onana. A resposta inglesa veio quatro minutos depois, também em cobrança de escanteio, quando Maguire testou e a bola passou perto do gol de Perri. O jogo era eletrizante e, aos 29’, Tagliafico avançou pela esquerda e cruzou, a zaga do United não cortou e a bola sobrou para Maitland Niles, que pegou de primeira, mas mandou longe do gol uma ótima chance. Aos 31’, Cherki foi conduzindo a bola sem qualquer intervenção mais assídua do United, deixou quatro marcadores para trás e chutou rasteiro, mas Onana fez outra grande defesa. Que chance do Lyon! E que vacilo da zaga inglesa, letárgica e causando pavor na torcida do United – das arquibancadas, Ferguson deve ter sentido bastante falta quando tinha Scholes, Vidic, Ferdinand…

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Os times em campo: United foi mais dominante no primeiro tempo e até metade da segunda etapa, enquanto o Lyon soube aproveitar o empate para crescer na partida e virar o jogo.
 

Lá e cá, o jogo seguia em ritmo acelerado e Bruno Fernandes quase marcou um golaço aos 35’, quando recebeu uma bola alta e, do jeito que ela veio, pegou de voleio. A redonda acertou o travessão de Perri. Que lance magnífico! Dois minutos depois, outra chegada do United, dessa vez pela esquerda, com Garnacho, que deixou no meio para Hojlund e este rolou para Bruno Fernandes encher o pé, mas a bola foi para fora. Era uma das melhores partidas do United na temporada, apesar de alguns momentos de desatenção de sua defesa. E, para confirmar o bom jogo, o time da casa fez o segundo gol já nos acréscimos, quando Dalot recebeu outra bola em profundidade, de Maguire, ganhou a disputa com Tagliafico e chutou para fazer 2 a 0. O United vencia por 4 a 2 no agregado. A vaga estava muito perto! Enfim, eram só sonhos bons em Old Trafford naquela noite.

Segundo tempo – Velhos pesadelos…

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Foto: Acervo / UEFA Europa League
 

O técnico Rúben Amorim fez uma mexida no time para a etapa complementar e colocou Shaw no lugar do marroquino Mazraoui, enquanto o Lyon seguiu com a mesma formação. A intensidade dos ingleses parecia inabalada e, logo aos 4’, os Red Devils tomaram a bola, iniciaram um contra-ataque com Hojlund e este deixou com Garnacho, que partiu em velocidade, deixou o marcador Mata no chão ao entrar na área, chutou para fazer o golaço, mas Lucas Perri espalmou. O Lyon precisava de atitude se quisesse continuar vivo no jogo. Daquele jeito, o United poderia fazer o terceiro a qualquer momento. 

Aos 8’, enfim, os franceses apareceram no ataque e Tolisso recebeu dentro da área, ajeitou bonito e chutou forte para uma defesa espetacular de Onana. Que jogo do goleirão do United! Na sequência, o técnico do Lyon, Paulo Fonseca, mexeu duas vezes: colocou Tessmann e Lacazette nos lugares de Paul e Veretout, respectivamente. O United perdeu outra boa chance após triangulação no ataque e, após outra mexida no Lyon – Malick Fofana no lugar de Mikautadze, nulo em campo – o time francês ganhou mais força. 

Aos 26’, bola alçada na área inglesa, Casemiro tirou, mas ela voltou para o Lyon e Niakhate, de cabeça, deixou com Lacazette e este ajeitou também de cabeça para Tolisso testar firme para fazer o primeiro do Lyon. Era o que os Gones precisavam. Inflamados, os franceses foram com tudo em busca do empate e o desconforto era visível nas arquibancadas de Old Trafford. Três minutos depois, Fofana avançou pela esquerda, chutou, a zaga rebateu e a bola sobrou para Maitland Niles, que disparou de fora da área e Onana defendeu. A bola ficou viva dentro da área até Ugarte tirar dali.

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Empate francês derrubou o United. Foto: Acervo / UEFA Europa League
 

O Lyon era outro com Fofana, jovem talento do clube, que seguiu como principal arma ofensiva pela esquerda. De novo o ponta avançou, gingou pra lá e para cá, e cruzou. Maitland Niles, livre, chutou, a bola bateu em Tagliafico, que meio que tentou chutar no susto. A bola foi entrando, Onana tirou, e Lacazette apareceu para colocar a redonda para dentro do gol. Mas, no chute de Tagliafico, a bola cruzou a linha e o gol foi para ele: 2 a 2. O torcedor do United não acreditava. O lado francês era delírio puro. Será que a virada era possível? O medo tomava conta de Old Trafford, que via uma peça alegre e agitada virar um terror profundo. Rúben Amorim mexeu no time e colocou Mainoo e Mount nos lugares de Hojlund e Ugarte, respectivamente.

Mais no ataque, o Lyon teve um breque em sua reação quando, já perto do final do jogo, Tolisso levou o segundo amarelo e foi expulso, deixando os franceses com um a menos em momento tão crucial da partida. Após cinco minutos de acréscimos, a partida teria mais 30 minutos. Tão dominante, o United foi dominado nos minutos finais e permitiu um empate inimaginável. Já o Lyon acreditava na virada, mesmo com um jogador a menos. 

Prorrogação – Do desastre ao inacreditável

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Assim como na parte final da etapa complementar, o Lyon seguiu com as principais chances do jogo, aproveitando o lapso de atenção e atitude do Manchester United. Com cinco minutos, Lacazette teve grande chance, mas chutou para fora até o árbitro sinalizar impedimento. E, tempo depois, grande jogada que começou lá do campo de defesa. Após tabelinha pela esquerda, Fofana, um gigante naquele jogo, recebeu e disparou para o ataque, passou por Maguire e ajeitou, mesmo caindo, para Cherki, que dominou e chutou forte da entrada da área. Onana ficou estático e só viu a redonda lá dentro do gol: 3 a 2. A escrita estava caindo! O Lyon vencia o United pela primeira vez e em pleno Old Trafford! 

A equipe francesa escrevia uma história incrível. Com um a menos, conseguia a virada e mudar um jogo no qual foi amplamente dominado na maior parte do tempo. Já no segundo tempo da prorrogação, os franceses engatilharam outro ataque logo aos 3’ e Shaw derrubou Fofana dentro da área. Pênalti! Na cobrança, o capitão Lacazette bateu de um lado, Onana foi para o outro, e o Lyon fez 4 a 2. Enquanto o capitão celebrava, dezenas de torcedores do United deixavam seus assentos e iam embora. Era a descrença em um time que mais decepcionava do que alegrava nos últimos anos. E, faltando apenas 10 minutos, qual a chance de empatar e virar? Bem, chances sempre existem. Principalmente com o Manchester United. Ferguson, das arquibancadas, certamente estava triste, mas sabia que bastava um gol para aquele jogo pegar fogo de novo. 

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Cherki fez o terceiro gol.
 
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lyon 4 a 2

E, dois minutos depois, Casemiro foi derrubado dentro da área. O árbitro foi checar no VAR e apontou pênalti! Na cobrança, o capitão Bruno Fernandes. O português cobrou no canto, Perri até acertou, mas não alcançou: 4 a 3. Faltavam seis minutos para o fim. Fernandes foi correndo pegar a bola dentro do gol e a colocou no centro do campo. O Lyon, ao invés de gastar o tempo ou tentar manter a bola na frente, deixou a redonda com o United. Três minutos depois Maguire avançou para a área, foi derrubado, mas o árbitro não marcou nada. 

Dois minutos depois, Casemiro tocou na esquerda para Shaw, que cruzou para a área. A zaga rebateu e deu rebote para Bruno Fernandes, que chutou, mas a bola foi para a fora. O relógio corria demais. Mas o United, também. Onana, como um líbero, iniciou um ataque lá de trás, já perto do último minuto. Bruno Fernandes recebeu e foi conduzindo. Ele era a referência, aquele que podia enxergar uma brecha, um companheiro livre. Ele viu Casemiro perto da área e deixou para o brasileiro. O camisa 18 escorou de primeira para Mainoo, que dominou e chutou forte, cruzado, para empatar o jogo e colocar a torcida de Old Trafford toda em pé: 4 a 4. United vivo! Sonho vivo! No último minuto. Quem disse que havia acabado?

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Mainoo (ao centro) deixou tudo igual!
 

Os pênaltis eram uma realidade! Quer dizer, talvez. O árbitro deu mais cinco minutos de acréscimos. E, de acréscimos, o United sempre entendeu. Ferguson sabia muito bem disso. Lembrou 1999. Os dois escanteios no Camp Nou. Os gols de Sheringham, aos 90’+1’, e Solskjaer, aos 90’+3’. A virada contra o Bayern. O título da Liga dos Campeões da UEFA após mais de duas décadas. Aqueles pensamentos do ex-técnico parecem ter ecoado nos jogadores do United em campo. 

Possuídos pelo desejo de fazer história, seguiram no ataque, enquanto o Lyon era um time esfacelado emocionalmente. No primeiro minuto dos acréscimos, como em 1999, o United foi para o ataque. Casemiro recebeu na esquerda, na intermediária. Ajeitou e tinha todo o campo de ataque à sua frente. Ninguém sequer chegou perto dele para tirar-lhe a bola. Ele olhou e viu Maguire lá na frente. Casemiro cruzou. Preciso. Perfeito. Maguire nem precisou subir tanto. Só testou. A bola entrou. Manchester United 5×4 Lyon. 

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O gol que decretou a virada antológica. Foto: Acervo / UEFA Europa League.
 
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Maguire, o herói da noite! Foto: Getty Images.
 
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Delírio em Manchester! Foto: Oli Scarff / AFP
 

Old Trafford estremeceu. Alucinou. Berrou. Os fieis e crentes torcedores puderam celebrar um dos maiores jogos daquele estádio. Uma virada espetacular. De vitória por 2 a 0 à derrota por 4 a 2 à vitória por 5 a 4. Foram cinco gols em uma prorrogação. Algo digno de jogo do século, como o visto na Copa de 1970 entre Itália e Alemanha. Parecia um sonho, mas era tudo realidade. Ferguson sorriu e aplaudiu. Como sorriram e aplaudiram os milhares de torcedores no Teatro dos Sonhos, palco de uma peça eterna, com atos inigualáveis e cenas antológicas.

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Um orgulhoso Ferguson com a vitória! 🙂
 

Pós-jogo: O que aconteceu depois?

Manchester United: vencer dessa maneira deu um combustível ainda maior para os Red Devils seguirem em busca de mais um título europeu. Em estado de graça, o técnico Rúben Amorim comentou sobre a crença da virada: “Sim, pude ver isso no estádio. Todos acreditam que era possível. É um daqueles momentos que podem mudar muita coisa”, disse ele, que ainda mencionou a final europeia de 1999. 

“Foi difícil. Eu estava assistindo novamente aos comentários da final da Liga dos Campeões de 1999 para ter alguma inspiração para este momento. Foi uma ótima noite. O time estava cansado, dava para sentir isso durante o jogo, e depois, 4 a 2 com um jogador a mais, você pensa que acabou. Mas aqui, nunca acaba. Tudo é possível. Você sente o ambiente. Depois do pênalti do Bruno, você sente que o jogo pode mudar.”.

Para seguir fazendo história, o Manchester United terá que se impor ainda mais diante do próximo rival, o Athletic Bilbao, que faz excelente campanha e quer chegar à final pelo fato de ela ser disputada em San Mamés, simplesmente sua casa! O time vem embalado e é conduzido fielmente por sua fanática torcida, que certamente se lembrará dos duelos contra o United nas oitavas de final da Liga Europa de 2012, quando os bascos venceram tanto na Inglaterra – 3 a 2 – quanto em Bilbao – 2 a 1. A certeza é uma só: teremos dois jogaços em dois estádios místicos: La Catedral, do Athletic, e o Teatro dos Sonhos, do United.

Lyon: “Complicado, decepcionante. Perdemos completamente o primeiro tempo, dois gols, mas conversamos no intervalo. Voltamos com melhores intenções e conseguimos empatar. Tivemos um segundo tempo muito bom, e aí o jogo virou de cabeça para baixo quando fui expulso, infelizmente. Mas, depois disso, os meninos não desistiram, conseguiram marcar aqueles dois gols e isso é realmente muito frustrante. Estávamos vencendo por 4 a 2 faltando 10 minutos para o fim, você sofre aqueles três gols, dói muito.” 


Foi assim que Tolisso, do Lyon, definiu a derrota de seu time após a partida. A frustração dele e de todos os jogadores era enorme em Old Trafford, principalmente por ter permitido uma virada na prorrogação após abrir 4 a 2. O técnico Paulo Fonseca admitiu falta de concentração de seu time. “Comemoramos o 4 a 2 com tempo de jogo restante, quando deveríamos ter continuado a pensar na nossa gestão de jogo. Faltava-nos experiência naquele momento. Depois do pênalti que fez o 4 a 3, o Manchester United pressionou bastante e fez muitos cruzamentos, e nós cedemos”. Resta ao Lyon seguir na briga por uma vaga em alguma competição europeia nas rodadas finais da Ligue 1 e tentar refazer o caminho em busca de um título inédito.

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