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Esquadrão Imortal – Panathinaikos 1968-1971

Em pé: Kamaras, Ikonomopoulos, Vlachos, Tomaras, Sourpis e Kapsis. Sentados: Grammos, Domazos, Antoniadis, Fylakouris e Eleftherakis. Foto: Rolls Press/Popperfoto via Getty Images/Getty Images
Panathinaikos 1968-1971
Em pé: Kamaras, Ikonomopoulos, Vlachos, Tomaras, Sourpis e Kapsis. Sentados: Grammos, Domazos, Antoniadis, Fylakouris e Eleftherakis. Foto: Rolls Press/Popperfoto via Getty Images/Getty Images
 

Grandes feitos: Bicampeão do Campeonato Grego (1968-1969 e 1969-1970), Campeão da Copa da Grécia (1968-1969) e Vice-campeão da Liga dos Campeões da UEFA (1970-1971). Foi o primeiro clube grego a disputar uma final europeia na história.

Time-base: Ikonomopoulos (Konstantinou); Tomaras, Kapsis, Sourpis (Dimitriou) e Vlahos (Athanasópoulos); Kamaras; Domazos e Eleftherakis (Rokidis); Grammos (Deliyiannis), Antoniadis (Frantzis) e Fylakouris (Gonios / Kalligeris). Técnicos: Lakis Petropoulos (1968-1970) e Ferenc Puskás (1970-1971).

 

“Trevo da Europa”

Por Guilherme Diniz

A Copa dos Campeões da Europa (atual Liga dos Campeões da UEFA), em suas primeiras décadas, era restrita apenas aos campeões das principais ligas nacionais do Velho Continente. Disputar o torneio era extremamente difícil e, se o time fosse de um país com pouca tradição, ainda mais. Por conta disso, os campeões e finalistas até 1970 quase sempre vinham de países como Espanha, Itália, Inglaterra, Portugal e Holanda, por exemplo, com raras exceções em 1967 e 1970 (Celtic, da Escócia), França (Stade de Reims, em 1956 e 1959) e 1966 (Partizan, da Iugoslávia). 

E uma dessas exceções mais marcantes e surpreendentes aconteceu em 1971, quando o Panathinaikos, da Grécia, conseguiu uma vaga na final ao superar vários concorrentes muito mais favoritos pelo caminho e até reverter uma desvantagem de três gols. Comandados pelo técnico Ferenc Puskás, o craque húngaro dos anos 1950 e 1960, o clube alviverde não foi páreo para o Ajax de Rinus Michels e Johan Cruyff na decisão em Wembley, mas os Trevos entraram na história como os primeiros da Grécia a disputar uma final europeia. É hora de relembrar a incrível saga do Panathinaikos 1968-1971.

O rejuvenescimento 

O time de 1961, bicampeão nacional.
 

Após ter o desprazer de ver o rival Olympiacos emendar seis títulos nacionais seguidos entre 1954 e 1959, o Panathinaikos entrou na década de 1960 disposto a retomar o caminho das glórias. E tudo começou a mudar em 1960, quando os Trevos venceram o título nacional após sete anos de jejum e faturaram também os canecos de 1961 e 1962. No ano de 1963, o clube acertou a contratação do técnico iugoslavo Stjepan Bobek, que vinha de um trabalho excepcional no Partizan, pelo qual foi tricampeão iugoslavo consecutivo entre 1961 e 1963. Adepto do futebol ofensivo e bem jogado, além de saber garimpar grandes talentos nas categorias de base, Bobek tratou de agregar jovens ao time profissional, além de fazer o Panathinaikos atuar majoritariamente no 4-3-3.

Esse processo ficou conhecido como “O rejuvenescimento de Bobek” e fez com que atletas com mais tempo de casa perdessem espaço para novos atletas ganharem vaga no time principal. O trabalho rendeu o primeiro louro já na temporada 1963-1964, quando o Panathinaikos venceu o Campeonato Grego de maneira invicta, com 24 vitórias e seis empates. Naquele ano, os destaques do time foram Vangelis Panakis, Mimis Domazos, Takis Ikonomopoulos, Totis Fylakouris, Frangiskos Sourpis e Aristidis Kamaras, que seguiram intocáveis no time nos anos seguintes.

Na temporada seguinte, os Trevos venceram o bicampeonato e provaram que estavam de volta à cena. No entanto, em 1967, ano em que os alviverdes venceram a Copa da Grécia, o técnico Bobek acabou deixando o clube após a ascensão do regime militar na Grécia e voltou para a Iugoslávia. Naquele ano, o Panathinaikos teve como técnico o lendário Béla Guttmann, mas o nômade húngaro deixou o cargo brevemente e Lakis Petropoulos assumiu o comando técnico. Sem mexer no esquema de Bobek e contando com novos nomes no elenco naquele final de década, como o meia Eleftherakis, o defensor Kapsis e o artilheiro Antoniadis. E, a partir de 1968, os Trevos voltariam a dominar o país.

A dobradinha nacional

Panathinaikos 1968-1971

Na temporada 1968-1969, o Panathinaikos alcançou um feito marcante com os títulos do Campeonato Grego e da Copa da Grécia. No campeonato, os Trevos foram dominantes nos jogos em casa e venceram 14 partidas, empataram duas e perderam apenas uma. Fora, a equipe ateniense venceu 12 jogos, empatou dois e perdeu três. Em 34 jogos, foram 26 vitórias, quatro empates, quatro derrotas, 64 gols marcados e apenas 16 gols sofridos, um desempenho fantástico do quarteto defensivo formado por Kamaras, Sourpis, Athanasopoulos e Dimitriou. Os Trevos somaram dois pontos a mais do que o vice-campeão Olympiacos.

Durante a campanha, destaque para o artilheiro George Gonios, autor de 18 gols, e Giannis Frantzis, com 12 gols. Na trajetória da Copa da Grécia, o Panathinaikos superou o Asteras Zografou (3 a 0) na etapa 16-avos de final, passou pelo Panelefsiniakos (4 a 2), nas oitavas, goleou o Panachaiki (5 a 1), nas quartas, e venceu o Panionios por 1 a 0 nas semis. Na final, o Trevo encarou o rival Olympiacos no Pireu, casa dos alvirrubros. O jogo foi tenso e ficou ainda mais quando o artilheiro implacável Giorgos Sideris fez 1 a 0 para o Olympiacos, aos 49’. Dois minutos depois, Mitropoulos foi expulso do lado dos Trevos. 

Domazos, lenda do Panathinaikos.
 

Parecia que a derrota estava consolidada, mas o capitão Domazos empatou aos 56’. Aos 77’, Botinos foi expulso do lado alvirrubro e a partida terminou empatada em 1 a 1 no tempo regulamentar e na prorrogação. Como na época não havia disputa de pênaltis, o campeão foi decidido na moedinha! Isso mesmo! Essa prática era muito comum na época e classificou inclusive a seleção da Itália para uma final de Eurocopa, em 1968. Domazos escolheu o lado certo da moedinha e o Panathinaikos foi campeão da Copa da Grécia! Foi uma temporada mágica para os Trevos, que se vingaram da derrota no ano anterior para o rival. O título nacional deu ao clube de Atenas uma vaga na Copa dos Campeões de 1969-1970, mas a equipe foi eliminada já na primeira fase para os alemães do Vorwärts Berlin. 

Bicampeonato e a ascensão do artilheiro

Antoniadis, homem-gol dos Trevos
 

Na temporada 1969-1970, o Panathinaikos elevou ainda mais seu nível perante a concorrência com a ótima fase do atacante Antoniadis, que passou a jogar no time titular ao lado de Grammos e Gonios. Antoniadis era um centroavante de chute forte, perito no jogo aéreo – tinha 1,87m de altura – e um goleador implacável que fez com que o Panathinaikos tivesse, enfim, um artilheiro à altura de Sideris, do Olympiacos, que faria naquela temporada sua despedida do clube do Pireu – ele foi jogar no Royal Antwerp-BEL em 1970. 

Com o time ainda mais entrosado, o Panathinaikos fez uma campanha ainda melhor no Campeonato Grego ao somar oito pontos a mais do que o vice-campeão, o AEK Atenas. Em 34 jogos, os Trevos venceram 27, empataram cinco e perderam apenas dois, com 69 gols marcados e míseros 15 gols sofridos – um a menos do que na temporada 1968-1969. Durante a caminhada do bi, o Panathinaikos venceu o rival Olympiacos dentro do Pireu – 1 a 0 -, derrotou o AEK em Atenas – 2 a 0 – e só perdeu um jogo fora de casa! Foram impressionantes 14 vitórias e dois empates! Sem dúvida, uma das melhores campanhas da história da liga grega.

Antoniadis, com 25 gols em 31 jogos, foi o artilheiro da competição, enquanto Grammos anotou 11 gols em 26 jogos. Mais uma vez a equipe ganhou a vaga na Copa dos Campeões. E, para o torneio europeu, os Trevos teriam um reforço lendário no banco de reservas: Ferenc Puskás, o craque da Hungria, do Honvéd e do Real Madrid, que assumiu o time após o técnico Petropoulos deixar o comando dos Trevos para se dedicar à seleção grega de futebol.

Antoniadis e o técnico Puskás (ao fundo).
 

Após pendurar as chuteiras em 1966, Puskás começou sua carreira como técnico no Hércules-ESP, seguindo para clubes dos EUA, do Canadá e retornando à Espanha antes de acertar com os gregos. O Major Galopante não fez grandes alterações táticas na equipe e manteve o esquema 4-3-3, com pequenas variações para o 4-2-1-3 e o 4-3-1-2. Por outro lado, ele modificou alguns jogadores de posição e promoveu a entrada de outros. Kamaras, lateral-direito, passou a jogar mais à frente no meio de campo, além de Fylakouris ser escalado com mais frequência como ponta. Na lateral-esquerda, o jovem Vlahos, de 23 anos, ganhou a titularidade no lugar do experiente Athanasopoulos. Na lateral-direita, o jovem Tomaras, de 22 anos, era absoluto no setor desde o título nacional de 1970. 

Puskás, técnico da saga europeia do Panathinaikos.
 

Na zaga, Puskás não ousou e manteve o trio incontestável e responsável pela baixíssima média de gols dos Trevos no bicampeonato grego: Kapsis, Sourpis e o goleiro Ikonomopoulos. No meio, Kamaras deu mais proteção, enquanto Eleftherakis e Fylakouris davam imensa movimentação e mobilidade pelos lados e nas saídas do campo de defesa. 

Mas quem comandava tudo por ali era mesmo Dimitris Domazos, o capitão e considerado o melhor jogador grego do século XX e personalidade no país. Na frente, Antoniadis e Grammos eram as referências para os gols. Com um elenco forte e competitivo, o Panathinaikos tinha condições de avançar pelo menos até as quartas de final da Copa dos Campeões, mas praticamente ninguém acreditava nisso. Bem, isso até a competição começar…

A epopeia continental

Panathinaikos 1968-1971

O Panathinaikos iniciou sua trajetória na Copa dos Campeões contra o Jeunesse Esch-LUX, que deu trabalho no duelo de ida, em Luxemburgo, onde os gregos venceram por apenas 2 a 1, gols de Antoniadis e Eleftherakis. Na volta, em casa, o time alviverde não tomou conhecimento do rival e goleou por 5 a 0, com quatro gols de Antoniadis e outro de Eleftherakis, confirmando a boa fase. Nas oitavas de final, o adversário foi o Slovan Bratislava-TCH, campeão da Recopa da UEFA de 1969-1970. Não seria tarefa fácil, mas o Panathinaikos mostrou força no primeiro jogo, em casa, e venceu por 3 a 0, gols de Domazos, Antoniadis e do reserva Deligiannis, aos 88’.

O resultado dava uma grande vantagem aos gregos para a volta, em Bratislava, onde o Slovan abriu o placar com Medvid, aos 31’ do primeiro tempo. Na segunda etapa, Antoniadis deixou sua marca mais uma vez e esfriou uma reação dos tchecoslovacos, que fizeram só mais um gol, com Jan Čapkovič. O 2 a 1 foi insuficiente para atrapalhar a saga dos gregos, classificados para as quartas de final, o mais longe que uma equipe da Grécia já havia alcançado no torneio – além dos Trevos, o AEK também havia alcançado as quartas de final de 1968-1969.

Para tentar uma inédita vaga na semifinal, o Panathinaikos teria que vencer o Everton, campeão inglês e uma das bases da seleção da Inglaterra na Copa do Mundo de 1970, que tinha nomes como Keith Newton, Alan Ball, Tommy Wright e Brian Labone. Na ida, no Goodison Park com quase 47 mil pessoas, o Panathinaikos fez um jogo equilibrado e, aos 81’, Antoniadis recebeu perto da área, fez o pivô para Grammos e recebeu de volta para abrir o placar: 1 a 0. A vitória em território inglês era um resultado imenso, uma zebra daquelas na época. Mas, no minuto final, Johnson empatou e manteve a disputa aberta para a volta, em Atenas. 

O empate foi muito comemorado por Puskás na época, que comentou: “Meus jogadores de futebol hoje não cometeram um único erro. Eu não esperava uma aparição tão grande.” Diante de 25 mil pessoas, os Trevos precisavam da vitória simples ou mesmo de um empate sem gols para garantir a classificação – na época, ainda valia o gol qualificado. A partida foi aberta, com os times no ataque, mas péssimos na pontaria. E, com o 0 a 0 no placar, a vaga ficou com os atenienses, entre os quatro melhores do continente! Qual era o limite para aquele esquadrão?

A vaga histórica

No caminho antes da final, o Panathinaikos teve pela frente o Estrela Vermelha-IUG, que queria seguir os passos do rival Partizan e também alcançar uma final continental na época. Os iugoslavos vinham de vitórias contundentes sob seus domínios nas etapas anteriores: 4 a 0 no Ujpest-HUN, 3 a 0 nos romenos do UTA Arad e 4 a 0 no Carl Zeiss Jena-ALE, todos no estádio Marakana lotado com 90 mil pessoas por jogo. E o primeiro duelo entre Estrela Vermelha e Panathinaikos foi exatamente na casa iugoslava, que recebeu 89.400 pessoas no dia 14 de abril de 1971. Seria uma partida complicadíssima para os gregos. E foi. 

Com 14′, Ostojic aproveitou rebote do goleiro Ikonomopoulos e marcou 1 a 0. Aos 39′, Jankovic chutou e Kapsis salvou em cima da linha. Porém, o árbitro entendeu que a bola cruzou a linha e validou o “gol fantasma”. No começo do segundo tempo, Ostojic cabeceou de dentro da área e fez o terceiro. Kamaras, de cabeça, descontou dez minutos depois e reacendeu a esperança grega. No entanto, Ostojic estava “on fire” e, aos 69’, marcou o quarto gol do jogo: 4 a 1. Para completar o roteiro dramático dos gregos, o goleiro Ikonomopoulos sentiu uma lesão após o último gol dos iugoslavos e teve que ser substituído por Konstantinou, que seria também o goleiro da partida de volta, em Atenas. 

O Panathinaikos de 1971: equipe tinha muita competitividade e força pelas laterais.
 

Foi uma catástrofe. O Panathinaikos teria que vencer por três gols se quisesse se classificar. E não levar nenhum, afinal, o gol qualificado poderia piorar ainda mais as coisas. Após o jogo, Puskás admitiu que seu time “estava em uma posição difícil” para a volta, mas ninguém jogou a toalha. Muito pelo contrário: a torcida lotou o estádio Leóforos Alexandras, um dos maiores caldeirões da Europa, e mais de 25 mil pessoas empurraram o Panathinaikos rumo a uma vitória histórica e que renderia uma façanha inédita na Copa dos Campeões na época: nenhuma equipe havia conseguido reverter uma desvantagem de três gols nos mata-matas do torneio desde o início lá em 1955-1956.

Logo aos 2’, Antoniadis apareceu na área e fez 1 a 0. No segundo tempo, o mesmo Antoniadis subiu mais alto do que toda a zaga rival e fez 2 a 0. O Estrela Vermelha tentou ir pra cima, mas demonstrou nervosismo nas finalizações e esbarrou nas boas defesas do goleiro Konstantinou, mantendo o nível do titular Ikonomopoulos. Até que, aos 20’, Kamaras acertou um chute forte, cruzado, e fez o 3 a 0. Era o resultado necessário para a classificação épica, para colocar um clube grego em uma final europeia pela primeira vez na história. 

 
A euforia dos atletas do Panathinaikos na vitória inesquecível sobre o Estrela Vermelha.
 

A vaga na final foi um acontecimento na Grécia. Milhares e milhares de torcedores tomaram as ruas de Atenas e o governo do regime militar, claro, abraçou o time, aproveitando para utilizar o Panathinaikos como propaganda assim como outros faziam na época com equipes de futebol. O técnico Puskás recebeu 700 mil dracmas pela vaga e cada jogador ganhou 200 mil. Personalidades gregas também aproveitaram o sucesso do time para se promover.

Segundo informações do jornalista Emmanuel do Valle, Zeta Apostolou, famosa atriz grega, disse que passaria um fim de semana em Creta com o goleiro Ikonomopoulos caso ele não sofresse gols na decisão. E a ex-Miss Grécia Zoe Laskari disse que “beijaria os jogadores para sempre em caso de título” (!). Bem, talvez elas tenham dito isso porque ficaram sabendo quem seria o adversário do Panathinaikos na final de Wembley: o Ajax de Rinus Michels e Johan Cruyff, simplesmente um dos maiores times de todos os tempos

Vice na Europa e no Mundial

Para a decisão, o técnico Puskás teve o retorno do goleiro Ikonomopoulos e todo o elenco disponível. Mas nem se Hércules, Zeus, Apollo, Ares e o próprio Puskás entrassem em campo, o Panathinaikos conseguiria a vitória. O Ajax era um timaço e já tinha aprendido a lição de como jogar uma final europeia após perder para o Milan por 4 a 1 a decisão de 1969. Mais experiente e com nomes como Neeskens, Vasovic, Suurbier, Cruyff, Mühren, Haan, Swart, Van Dijk e Keizer, além, claro, do mago Rinus Michels no banco de reservas, o Ajax não sofreu qualquer perigo ao longo da partida e confundiu os gregos com a movimentação constante de seus jogadores e a marcação alta no campo de defesa. O Panathinaikos tentou atacar com bolas longas para Antoniadis, mas foi pouco. E, aos 4’, Keizer passou por Kamaras e cruzou para Van Dijk fazer 1 a 0.

Na segunda etapa, Cruyff deu um passe perfeito para Arie Haan, que encobriu o goleiro Ikonomopoulos e fechou a conta: 2 a 0. Foi o primeiro dos três títulos seguidos do Ajax naquela década, enquanto a final do Panathinaikos foi a primeira e única de um clube grego na maior competição do continente. Mesmo com a derrota, os alviverdes ficaram orgulhosos pela campanha e pelo placar não ter sido tão elástico como o esperado. 

Puskás comentou após o jogo que “o Ajax teve mais experiência do que nós e ganhou de forma justa. Foi uma final flamejante”. Já Rinus Michels disse que o “Panathinaikos não nos ameaçou. Fomos melhores e vencemos com justiça. Nós jogamos um bom futebol no primeiro tempo, mas tivemos ansiedade na etapa final”. Mas o Panathinaikos não saiu daquela Copa sem um prêmio. O atacante Antoniadis terminou como artilheiro da competição com 10 gols, maior número desde os 11 gols de José Torres, do Benfica, em 1964-1965. Ele é também o único atacante grego a ser artilheiro da Copa dos Campeões em toda a história. 

Tempo depois, o Panathinaikos representou a Europa na final do Mundial Interclubes de 1971, diante da desistência do Ajax, que não quis enfrentar o Nacional do Uruguai, campeão da Libertadores de 1971, por conta dos recentes problemas de violência envolvendo europeus e sul-americanos nas edições do final dos anos 1960 – na verdade, envolvendo o Estudiantes, que bateu sem dó no Manchester United, no Milan e no Feyenoord entre 1968 e 1970, ficando com o título em 1968 e os vices em 1969 e 1970. 

E os gregos se deram mal tanto na bola quando nas botinadas. Na ida, na Grécia, o lateral Tomaras sofreu uma grave fratura na perna após uma entrada de Julio Morales, expulso pelo árbitro brasileiro José Favilli Neto. O Panathinaikos abriu o placar com Fylakouris, mas Luis Artime empatou e deu a vantagem para os uruguaios, que venceram por 2 a 1 o duelo da volta, em casa – dois gols de Luis Artime – e celebraram o título mundial.

Última taça e o fim

As atenções à Copa dos Campeões custaram uma boa campanha do Panathinaikos no Campeonato Grego em 1970-1971, no qual os Trevos terminaram na 3ª colocação, seis pontos atrás do campeão AEK. Na temporada 1971-1972, os Trevos, ainda comandados por Ferenc Puskás, levantaram outro Campeonato Grego, dessa vez com cinco pontos de vantagem sobre o vice, o Olympiacos, e com o recorde de 39 gols marcados por Antoniadis, façanha jamais superada por qualquer outro jogador na Grécia até hoje. O Panathinaikos venceu 24 jogos, empatou seis e perdeu apenas quatro. O time marcou 89 gols e sofreu 23. Na temporada seguinte, o Panathinaikos caiu já na primeira fase da Copa dos Campeões e, em 1974, Puskás deixou o comando técnico.

Com isso, uma das mais fantásticas eras da história do clube se encerrou. A equipe seguiria vencedora dentro de casa, mas não conseguiu mais repetir a façanha do time finalista europeu de 1971, que colocou o futebol grego no mapa muito antes de a seleção fazer história na Eurocopa de 2004. Um esquadrão imortal.

Os personagens:

Ikonomopoulos: apelidado de “O Pássaro”, por conta de suas famosas pontes e grandes saltos para defender, o goleirão chegou em meados de 1962/1963 ao Panathinaikos, onde permaneceu até 1976, conquistando cinco títulos do campeonato nacional e duas copas nacionais. Em 1965, ele permaneceu 1088 minutos e 13 jogos consecutivos sem sofrer gols, recorde no Campeonato Grego. Foi um dos principais goleiros do país da época e titular da seleção grega, pela qual disputou 25 jogos entre 1965 e 1974. Uma curiosidade é que Ikonomopoulos jogou toda a campanha da Liga dos Campeões de 1970-1971 com a camisa do goleiro espanhol José Ángel Iribar, ídolo do grego. A vestimenta foi dada por Iribar a Ikonomopoulos após um jogo entre Espanha e Grécia em 1970.

Konstantinou: jogou de 1964 até 1983 no Panathinaikos, embora tenha sido reserva em boa parte desse tempo por causa da ótima fase de Ikonomopoulos. Mesmo assim, sempre jogava bem quando entrava e foi um dos grandes jogadores do time, com destaque para sua atuação no duelo contra o Estrela Vermelha, na semifinal europeia de 1971.

Tomaras: lateral-direito muito regular, que podia jogar também como volante, Tomaras começou a jogar no time titular a partir de 1969, vindo das categorias de base. Dava proteção à zaga e fez grandes jogos na campanha do título nacional de 1970 e no vice-campeonato europeu de 1971. Jogou até 1974 no clube verde.

Kapsis: lenda do Panathinaikos, único clube de sua carreira e onde jogou de 1969 até 1984, Kapsis foi um dos melhores zagueiros do país na época e costumava jogar como líbero no esquema tático tanto do técnico Lakis Petropoulos como de Ferenc Puskás. Era forte, tinha grande senso de posicionamento e liderança. Disputou mais de 300 jogos com a camisa dos Trevos na carreira, além de outros 35 jogos pela seleção da Grécia.

Sourpis: jogador que só vestiu o manto dos Trevos – foram 311 jogos entre 1962 e 1973 -, o zagueiro fez uma dupla de zaga lendária ao lado de Kapsis e foi um dos responsáveis pela baixa média de gols sofridos do Panathinaikos na época. Além de sua carreira no clube, Sourpis também representou a seleção da Grécia entre 1964 e 1967. Após se aposentar do futebol, ele se dedicou à medicina, trabalhando como ortopedista.

Dimitriou: o zagueiro, que também jogava no meio de campo, foi titular em boa parte daquela era de ouro, mas perdeu alguns jogos da caminhada europeia de 1971 por conta de uma lesão. Era bom na marcação e nos passes, além de marcar gols em suas subidas ao ataque. Jogou de 1967 até 1979 nos Trevos.

Vlahos: outro jovem de talento do clube, começou sua carreira no clube Kerkyra FC e depois jogou pelo Agia Paraskevi antes de se transferir para o Panathinaikos, onde teve grande destaque no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Como havia iniciado sua carreira como meia, quando foi deslocado para a lateral-esquerda, contribuiu bastante com o esquema ofensivo do time nos cruzamentos e no elo entre defesa e ataque.

Athanasopoulos: o lateral-esquerdo foi outro grande nome do Panathinaikos na época e só perdeu espaço por causa da ascensão de Vlahos no setor. Conquistou três Campeonatos Gregos e duas Copas da Grécia, além do vice-campeonato da Liga dos Campeões em 1971. Foi convocado uma vez para a seleção grega, participando de um jogo em 1973 contra a Espanha nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1974. Após sua saída do Panathinaikos, em 1975, jogou no PAS Giannina antes de se aposentar em 1977.

Kamaras: um dos polivalentes do elenco grego, Kamaras jogou de 1961 até 1973 no Panathinaikos e foi um dos ídolos do time na época. Com ótimo senso de posicionamento, visão de jogo e eficiência nos passes, era uma referência no setor defensivo, onde podia jogar como lateral, zagueiro ou volante. Foram mais de 300 jogos pelos Trevos na carreira, além de 30 partidas pela seleção grega. Conquistou seis títulos nacionais e duas copas pelo Panathinaikos.

Domazos: conhecido como “O General”, é considerado o maior jogador grego de todos os tempos e um dos craques de maior sucesso na Europa nos anos 1960 e 1970. Foi capitão do Panathinaikos por 15 anos e vestiu a camisa do clube em 510 jogos (recorde) entre 1959 e 1978 e 1980. Domazos tinha imensa habilidade de drible, estilo de jogo criativo e se destacava especialmente por seus passes em profundidade com precisão milimétrica, além de sua habitual liderança. Jogava mais solto no meio e aparecia tanto no ataque quanto na proteção da defesa. É um dos maiores artilheiros da história dos Trevos com 134 gols. Venceu nove títulos nacionais e três copas pelo clube na carreira, além de vestir a camisa da seleção da Grécia em 50 oportunidades.

Eleftherakis: com 85 gols em 308 jogos, o meia é um dos maiores artilheiros do clube e foi uma referência no setor ofensivo naquela era de ouro. Com apenas 20 anos, já fazia com perfeição a função de contenção e também a saída de jogo da defesa. Podia jogar pelas pontas ou também mais centralizado e levava muito perigo às zagas rivais. Pela seleção, disputou 34 jogos e marcou cinco gols.

Rokidis: atuava principalmente como meio-campista e se destacou durante sua passagem pelo Panathinaikos entre 1967 e 1970, contribuindo nos títulos nacionais de 1969 e 1970 com quase 30 jogos por temporada. Rokidis é lembrado por sua consistência em campo e por sua contribuição para a equipe durante uma época de forte competitividade no futebol grego.

Grammos: o atacante chegou em 1966, durante o processo de reformulação do elenco, e se destacou como um dos melhores nomes ofensivos do time até 1976. Podia jogar na ponta-direita ou mais recuado, como meia-direita, e não só marcava gols como também dava passes para Antoniadis deixar os seus. Foram 56 gols em 215 jogos pelo Panathinaikos na carreira. Só manchou um pouco sua passagem pelo clube por ter assinado com o rival Olympiacos em 1976, onde encerrou a carreira em 1977.

Deliyiannis: meio-campista, não foi titular absoluto, mas jogou algumas partidas entre 1968 e 1972, marcando um gol na campanha do vice-campeonato europeu. Era conhecido como Mazzola, por sua incrível semelhança com o astro da Internazionale Sandro Mazzola.

Antoniadis: é considerado um dos maiores artilheiros do futebol grego em todos os tempos. “O Alto”, como era conhecido por conta de sua estatura – quase 1,90m – se destacou no Panathinaikos entre 1968 e 1978. Com sua impressionante habilidade aérea e chute forte, rapidamente conquistou a torcida e se tornou um dos principais atacantes da equipe. Durante sua carreira no Panathinaikos, ele marcou 180 gols em 242 partidas da liga grega e foi o artilheiro do campeonato cinco vezes (1970, 1972, 1973, 1974 e 1975), sendo uma lenda do clube e da liga nacional. 

Na temporada 1970-71, Antoniadis foi o principal goleador da Liga dos Campeões da UEFA ao anotar 10 gols no torneio, incluindo um gol decisivo contra o Everton nas quartas de final. Puskás foi uma grande influência sobre Antoniadis, que lembra o treinador como alguém que aumentava a confiança dos jogadores, acreditando que poderiam competir com qualquer adversário. Após seu sucesso no Panathinaikos, Antoniadis teve uma curta passagem pelo Olympiacos em 1978 e depois jogou pelo Atromitos antes de retornar ao Panathinaikos, encerrando sua carreira. Com 22 jogos pela seleção grega, ele marcou seis gols. Após se aposentar, Antoniadis continuou a contribuir para o futebol grego como presidente da Associação dos Jogadores Profissionais de Futebol (PSAP).

Frantzis: o atacante marcou 12 gols em 34 jogos da campanha do título grego de 1968-1969, além de ter sido um dos destaques na campanha da Copa da Grécia do mesmo ano. Com a contratação de Antoniadis, deixou o clube em 1970 para jogar no Salamina.

Fylakouris: era a referência do lado esquerdo do ataque do Panathinaikos e demonstrava muito dinamismo e fôlego para ir e voltar pelo setor. Jogou de 1965 até 1975 nos Trevos. Após pendurar as chuteiras, Fylakouris continuou no futebol como treinador, trabalhando com clubes gregos e também com clubes da comunidade grega nos Estados Unidos. Em 2005, ele atuou como treinador interino do Panathinaikos, reforçando seu vínculo com o clube e sua popularidade entre os torcedores. Ele é lembrado não apenas por suas contribuições no campo, mas também pelo bom humor e pela paixão que inspirava nos fãs do clube verde.

Gonios: antes da chegada de Antoniadis, Gonios era o principal artilheiro do Panathinaikos e foi crucial para o título nacional de 1968-1969, quando marcou 18 gols em 32 jogos logo em sua primeira temporada no clube. Após brilhar naquela época, começou a recuar e passou a jogar como zagueiro e até lateral, em uma curiosa trajetória futebolística. Deixou o Panathinaikos em 1980. Sua carreira foi caracterizada tanto por suas habilidades técnicas quanto pela liderança em campo.

Kalligeris: começou no clube com apenas 18 anos e jogou de 1970 até 1972 no Panathinaikos, atuando mais na ponta-esquerda. Porém, com a chegada de Puskás, perdeu espaço e jogou bem pouco dali em diante.

Lakis Petropoulos e Ferenc Puskás (Técnicos): Petropoulos já havia jogado no Panathinaikos em sua carreira como jogador quando assumiu o comando técnico do clube em 1968. Mantendo a filosofia de seu antecessor, Bobek, fez o clube alviverde conquistar títulos e jogar um futebol muito seguro defensivamente e que não dava espaços aos rivais, além de não perder a efetividade ofensiva. Obteve um aproveitamento de 72,7% naquele período 1968-1970. 

Cobiçado pela seleção, acabou deixando o clube para comandar a Grécia e abriu caminho para Ferenc Puskás conduzir os Trevos a uma inédita final europeia. O húngaro melhorou consideravelmente o poder ofensivo do time com mudanças pontuais em alguns setores e explorando bastante a velocidade pelas pontas e o talento individual de cada um. Mesmo sem o título europeu, seguiu com o grande trabalho e levantou o Campeonato Grego de 1972 com uma campanha memorável. Ele comandou o Panathinaikos em 170 jogos, com 109 vitórias, 32 empates, 29 derrotas e 64,1% de aproveitamento. Até hoje, Puskás é considerado o maior treinador da história do Panathinaikos. Leia mais sobre essa lenda clicando aqui!

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2 Comentários

  1. Oi, Imortais! Eu quero dizer que gostei do texto! O Panathinaikos foi epopeico e honrou a Grécia! Também achei legal ver o Puskas dando show como técnico após brilhar como jogador. Só não ganhou a Champions porque aquele Ajax era o terror (e mais outros predicados!)

    Abraço, Imortais! E que venham mais histórias!

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