Nome: Stade de France
Localização: Saint-Denis, França
Inauguração: 28 de janeiro de 1998
Proprietário: Consórcio Stade de France
Capacidade: 81.338 pessoas
Por Guilherme Diniz
Antes de 1998, a França jamais teve um estádio “gigante”, para mais de 70 mil pessoas. Vários outros países da Europa possuíam estádios colossais que comportavam 70, 80, 90 mil pessoas, enquanto que o maior estádio francês naquela metade dos anos 1990 era o Vélodrome, que não chegava aos 65 mil espectadores. Aquela situação precisava mudar. E, quando a França foi escolhida como sede da Copa do Mundo da FIFA de 1998, a grande oportunidade chegou. Em pouco mais de dois anos, “o maior” deixou de ser um sonho para virar realidade. E foi a vedete principal do torneio que viu a França levantar sua primeira Copa diante do Brasil com uma vitória inesquecível de 3 a 0 e sob os olhares de 80 mil pessoas. Ele nascia para ser a história. E virou o principal e mais conhecido estádio do país em todo o mundo.
Com quase 30 anos de existência, o Stade de France é o maior estádio da França, um dos mais emblemáticos do mundo e o maior estádio europeu para a prática de esportes atléticos. Com capacidade atual para mais de 81 mil pessoas, ele já foi sede de final de Copa do Mundo, final de Eurocopa e duas finais de Copa do Mundo de Rúgbi, além de ser o palco da cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024. É hora de conhecer a história do plus grand.
Por um estádio nacional
Desde a construção do clássico estádio de Colombes, atualmente conhecido como Stade Yves du Manoir, que o governo francês tinha planos de ter um estádio nacional que pudesse refletir a grandeza do país e capaz de abrigar diversos esportes, em especial o futebol e o rúgbi, modalidades que sempre foram a paixão do público francês. O Yves du Manoir, palco das Olimpíadas de 1924 e também da Copa do Mundo de 1938, acabou ficando pequeno demais para os anseios do futuro – ele comporta apenas 15 mil pessoas atualmente – e outros estádios maiores e famosos, como o Vélodrome e o Parque dos Príncipes, não tinham o estilo desejado pelo governo e já eram muito vinculados aos seus utilizadores, o Olympique de Marselha e o Paris Saint-Germain, respectivamente.
Era necessário um estádio neutro, com a faceta nacional e que fosse a casa da seleção de futebol, de rúgbi e que abrigasse eventos de atletismo, shows e afins. Até que, em julho de 1992, a França foi escolhida como sede da Copa do Mundo da FIFA e o país viu surgir a oportunidade de construir seu grande estádio. O governo, juntamente com a FFF (Federação Francesa de Futebol), se comprometeu com a entidade máxima do futebol a construir um estádio com capacidade superior a 80 mil pessoas e com todos os assentos cobertos. O estádio deveria ser erguido o mais próximo possível da capital, Paris, e seu projeto foi feito pelos arquitetos Michel Macary, Aymeric Zublena, Michel Regembal, e Claude Constantini, associados ao CR SCAU Architecture, que se inspiraram em ícones da arquitetura mundial como o Pan Am Worldport e o Aeroporto de New York-JFK.
O futuro estádio deveria abrigar, além de partidas de futebol e rúgbi, eventos de atletismo, possíveis corridas e shows de grandes artistas, algo que gerava muita demanda no país na época e poderia colocar a França no hall de países para as grandes turnês de cantores, cantoras e bandas. Outro fator de destaque do estádio seria a acessibilidade e a segurança. O projeto previa a evacuação total de 80 mil pessoas em caso de emergência em menos de 10 minutos.
Por conta dos trâmites burocráticos, as obras só começaram oficialmente em maio de 1995, o que gerou muita apreensão quanto ao prazo, pois o estádio deveria ser finalizado em apenas 31 meses. A área escolhida foi em Saint-Denis, comuna ao norte de Paris e bem servida de transporte público, o que iria facilitar o deslocamento dos torcedores em dias de jogos. Após mais de um ano de construção, a obra teve cerca de 800.000 m2 de terraplenagem e 180.000 m3 de concreto despejados. A instalação do telhado, que custou € 45 milhões, e da plataforma móvel, também levou mais de um ano para ser concluída. O teto do estádio foi um dos pontos mais complexos durante a construção, pois exigiu 18 mastros de 61 m de altura e 40 m de distância entre eles, com uma flutuação de 42 metros acima do campo, protegendo os 45 km de arquibancadas, que são parcialmente removíveis. Os custos totais da obra chegaram próximos dos 365 milhões de euros.
O maior palco da Copa e “casa de Zizou”
A inauguração do novo estádio francês aconteceu em janeiro de 1998 e seu nome inicial era Grand Stade. Mas, após uma série de pesquisas, quem acabou batizando o estádio foi um dos maiores craques da história do futebol da França: Michel Platini, que sugeriu a um ministro francês o nome Stade de France. O nome, simples, porém muito forte, agradou a todos e batizou instantaneamente a nova casa do futebol e do rúgbi do país. A partida inaugural do Stade de France foi realizada em 28 de janeiro de 1998 em um duelo entre França x Espanha, países que decidiram a Eurocopa de 1984 vencida pelos Bleus.
Diante de mais de 78 mil pessoas, a França venceu por 1 a 0 e adivinhe quem fez o primeiro gol da história do estádio? Sim, ele mesmo: Zinédine Zidane, aos 20 minutos do primeiro tempo, quando o camisa 10 aproveitou rebote após chute de Djorkaeff e finalizou pro fundo do gol de Zubizarreta. Começava ali a ligação quase intrauterina do craque com o Stade de France. Meses depois, o estádio foi o principal palco da Copa do Mundo e abrigou nove partidas:
- Brasil 2×1 Escócia, abertura, Grupo A
- Holanda 0x0 Bélgica, Grupo E
- França 4×0 Arábia Saudita, Grupo C
- Itália 2×1 Áustria, Grupo B
- Romênia 1×1 Tunísia, Grupo G
- Nigéria 1×4 Dinamarca, Oitavas de final
- Itália 0x0 França (Itália 3×4 França nos pênaltis), quartas de final
- França 2×1 Croácia, Semifinal
- Brasil 0x3 França, Final
Sempre com público máximo, o Stade de France viu um desfile de craques e partidas sensacionais, com destaque para a abertura, que teve vitória brasileira sobre a Escócia por 2 a 1; a semifinal, quando Lilian Thuram fez a partida de sua vida e virou o jogo para a França diante da sensação Croácia; e, claro, a finalíssima, quando a anfitriã bateu um combalido Brasil por 3 a 0 com dois gols de Zidane, de cabeça, ainda no primeiro tempo, e um de Petit no final do jogo. Em casa e sob o olhares de milhares e milhares de pessoas, a França celebrou sua tão sonhada Copa do Mundo e mudou para sempre seu patamar no futebol.
Se antes a equipe colecionava decepções e resultados bem abaixo do esperado, a conquista do Mundial de 1998 fez o país um dos mais vencedores do futebol, afinal, eles venceram a Eurocopa em 2000, mais uma Copa em 2018 e a Liga das Nações da UEFA em 2021, além de disputarem as finais das Copas de 2006 e 2022. Herói da final da Copa de 1998, Zidane marcou 8 gols vestindo a camisa da França no Stade de France. Além do tento na inauguração e dois na final, ele marcou os outros quatro gols em partidas amistosas e um pelas Eliminatórias da Copa de 2006.
Vedete dos grandes jogos
Após o Mundial, o Stade de France virou uma atração ímpar no esporte da França e símbolo da modernidade e ambição do país em alçar voos ainda maiores. Com uma estrutura totalmente modular, ele se destacava por se adaptar ao futebol, ao rúgbi e ao atletismo. Ele ganhou o status de maior estádio modular do mundo e inspirou, inclusive, outras construções posteriores. Com dois telões de 120 metros quadrados, um moderníssimo sistema de som e uma acústica impressionante tanto para jogos quanto para shows – algumas medições superaram 110 db! – o Stade de France foi direto para o topo da classificação de estádios da UEFA, entrando na categoria 4 estrelas (a máxima da entidade).
Em 2000, o estádio recebeu sua primeira final de Liga dos Campeões da UEFA, quando o Real Madrid de Raúl, Redondo e companhia venceu o Valencia por 3 a 0 e celebrou mais uma conquista europeia. O estádio sediou também a final de 2006, quando o Barcelona de Ronaldinho derrotou o Arsenal de Henry por 2 a 1, e de 2022, quando o Real Madrid bateu o Liverpool por 1 a 0. Em 2003, o Stade de France viu a França celebrar outro troféu: a Copa das Confederações da FIFA, quando os Bleus venceram Camarões por 1 a 0 na prorrogação.
Em 2004, o estádio foi escolhido como palco de um jogo histórico: o duelo entre França x Brasil para celebrar o centenário da FIFA. As equipes entraram em campo com uniformes retrôs lindíssimos e que simulavam os mesmos utilizados por ambas as seleções no começo do século XX. No primeiro tempo, as seleções jogaram assim, e utilizaram suas vestimentas normais na etapa final. O jogo terminou 0 a 0, mas foi uma atração à parte que enriqueceu ainda mais a história do palco de Saint-Denis.
Quatro anos depois, em 2007, foi a vez da Copa do Mundo de Rúgbi ser a grande atração do Stade de France, que abrigou sete jogos, incluindo a finalíssima entre África do Sul 15×6 Inglaterra, vista por um público de 80.430 pessoas. Em 2016, sete jogos da Eurocopa foram realizados no estádio, quatro deles da fase de grupos, uma partida das oitavas de final, uma das quartas de final e a grande final entre França e Portugal.
Todos acreditavam que os Bleus iriam vencer mais um grande troféu em casa, ainda mais naquele imponente local batizado para as glórias com o timaço de 1998. Mas, quando a bola rolou, a França não conseguiu se impor e Portugal, com muita raça, venceu por 1 a 0, em gol de Éder que só saiu na prorrogação. Foi o primeiro momento triste presenciado pelo torcedor francês em sua casa. Por outro lado, foi a maior glória da história do futebol português e a taça que Cristiano Ronaldo tanto buscou por sua seleção.
Segurança máxima
Em 13 de novembro de 2015, uma série de ataques terroristas afligiram Paris e o Stade de France foi um dos alvos. Naquela data, acontecia uma partida amistosa entre França e Alemanha, e, do lado de fora do estádio, ocorreram duas explosões de homens-bombas. No entanto, quando um dos terroristas tentou entrar no estádio, ele não conseguiu cumprir com seu objetivo e ficou intimidado com o esquema de segurança do lado de fora e as grandes barreiras feitas pela polícia. Com isso, a bomba que seria detonada dentro do estádio acabou explodindo fora dele, felizmente sem qualquer ferido ou dano grave. A partida continuou a fim de evitar pânico, mas algumas pessoas deixaram o estádio após as explosões. Quando o jogo terminou – a França venceu por 2 a 0 -, o público foi direcionado para o gramado e evacuado aos poucos pelas equipes de segurança, em uma demonstração de força do Stade de France diante dos terroristas.
Sempre nos holofotes
Além dos esportes, o Stade de France recebeu ao longo dos anos shows memoráveis. Artistas e bandas como The Rolling Stones, Céline Dion, AC/DC, Tina Turner, Bruce Springsteen, Paul McCartney, U2, George Michael, The Police, David Guetta, Madonna, André Rieu, Metallica entre muitos outros já se apresentaram no estádio. Em 2023, mais uma Copa do Mundo de Rúgbi teve como sede principal o Stade de France, que foi palco de outro título da África do Sul, campeã ao vencer a Nova Zelândia por 12 a 11 diante de 80.065 pessoas.
Em 2024, o Stade de France teve outra grande missão: sediar partidas de rúgbi de 7, atletismo e a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris, além das provas de atletismo e a cerimônia de encerramento dos Jogos Paralímpicos. Eram os eventos que faltavam para o estádio completar sua coleção de grandes momentos e confirmar seu lugar na história como um dos mais importantes monumentos esportivos do planeta. Digno do Plus Grand.
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