Grande feito: Campeã da Copa do Mundo de 1966. Conquistou o único título Mundial da história da Inglaterra.
Time base: Gordon Banks; Cohen, J. Charlton, Bobby Moore e Wilson; Stiles e Bobby Charlton; Ball, Hurst, Hunt e Peters. Técnico: Alf Ramsey.
“English Team no topo do mundo”
Por Guilherme Diniz
Os ingleses foram os inventores do futebol. Porém, a seleção inglesa só foi brilhar em uma Copa do Mundo no longínquo ano de 1966, 36 anos depois do início da competição. O English Team conquistou seu primeiro e único título mundial jogando em casa, contra a Alemanha, em uma das partidas mais polêmicas da história das Copas, com muita catimba, lances duvidosos e o famoso gol que não entrou. Ou entrou? A Inglaterra teve outras boas equipes depois daquela conquista, mas nunca conseguiu igualar aquele esquadrão, o primeiro a jogar no 4-4-2 na história dos Mundiais sob as mãos do técnico Alf Ramsey, que fazia com que Ball e Peters recuassem para compor o meio de campo ao lado de Stiles e Charlton. Muitas vezes esquecida, aquela Inglaterra merece ser lembrada sempre. Afinal, não se pode menosprezar um time com Gordon Banks, Bobby Moore, Bobby Charlton e Geoff Hurst. É hora de relembrar o feito único e histórico do mais lendário English Team.
A chance de mudar a história
A Inglaterra nunca havia tido uma boa participação em uma Copa do Mundo. A seleção só colecionava decepções e fracassos memoráveis, como a derrota para a inexpressiva seleção dos EUA na Copa do Mundo de 1950, a maior zebra da história das Copas. Os ingleses tinham a chance de mudar essa história em 1966, na primeira (e até hoje única) Copa do Mundo no país. O time formado pelo técnico Alf Ramsey – que, quando assumiu a equipe em 1963, foi enfático ao dizer “seremos campeões” – era forte, porém longe de possuir o brilho do Brasil, então bicampeão mundial. A seleção canarinho era a favorita a levar para casa de maneira definitiva a Taça Jules Rimet, e, consequentemente, o tricampeonato, mas os adversários se aproveitaram do salto alto brasileiro, da desorganização e, sobretudo, da complacência dos árbitros – que ignoraram as botinadas em cima de Pelé e companhia – para eliminar o Brasil logo na primeira fase do mundial. Sem os campeões em campo, o caminho dos ingleses estava mais do que aberto.
Nada de sustos
A Inglaterra foi líder do Grupo 1 da Copa ao empatar em 0 a 0 com o Uruguai e vencer México e França pelo mesmo placar: 2 a 0. Nessas partidas ficaram visíveis as qualidades de Charlton, Hunt e Moore, que garantiam a perfeição técnica na defesa e a eficiência cirúrgica no ataque. Líderes, os ingleses avançaram às quartas de final para encarar a Argentina.
Os ingleses ainda não eram inimigos mortais da Argentina quando ambos os países se enfrentaram nas quartas de final da Copa de 1966 (a Guerra das Malvinas ocorreria apenas na década de 80). Em um jogo muito disputado e tenso no estádio Wembley, os ingleses venceram os argentinos por 1 a 0, gol de Hurst. O jogo ficou marcado pela polêmica expulsão do argentino Antonio Rattín por “indisciplina e pelo olhar controverso” como disse o árbitro alemão Rudolf Kreitlein, mesmo não sabendo nada de espanhol. O argentino ficou mais de 10 minutos em campo exigindo uma explicação e até um intérprete antes de ser retirado do gramado. Mas o caso gerou um fato positivo: a FIFA decidiria a partir de então a instituir cartões em jogos oficiais.
Duelo de gigantes
A Inglaterra teve um páreo duríssimo pela frente nas semifinais da Copa: a seleção de Portugal, do mítico atacante Eusébio, artilheiro daquele mundial com 9 gols e que se consagraria como um dos maiores jogadores portugueses de todos os tempos (para muitos ele é o maior). A Inglaterra sabia da qualidade de Eusébio e do adversário em si e tratou de marcar devidamente os principais nomes portugueses. A tática deu certo e Bobby Charlton abriu o placar aos 30´do primeiro tempo. Na segunda etapa, o craque inglês marcou mais um faltando 10 minutos para o fim do jogo. Eusébio, sempre ele, conseguiu descontar para Portugal, de pênalti, dois minutos depois, mas já era tarde. A Inglaterra venceu por 2 a 1 e se garantiu pela primeira vez na final de uma Copa do Mundo, em casa. O adversário seria a poderosa Alemanha.
Choque épico
Inglaterra e Alemanha se tornaria para sempre um clássico do futebol mundial depois da final da Copa do Mundo de 1966. Mais de 95 mil pessoas lotaram o estádio Wembley para ver de perto duas possibilidades: a coroação da mais brilhante geração de craques da Inglaterra, com Moore, Charlton, Hunt, Banks e Hurst ou o bicampeonato de uma ótima Alemanha, que revelava naquele mundial a joia excepcional chamada Franz Beckenbauer. A Inglaterra jogava num estilo de jogo forte e ofensivo, no que hoje podemos chamar de 4-2-4. Já a Alemanha apostava no 4-3-3. Com equipes tão ofensivas e brilhantes, a final só poderia resultar em uma coisa: muitos gols. Mas também haveria espaço para a polêmica.
A Alemanha abriu o placar aos 12´ do primeiro tempo com Haller, deixando o estádio Wembley em choque. Mas o susto não durou muito, pois quatro minutos depois, Hurst empatou o jogo. No segundo tempo, Peters virou para a Inglaterra. Mas, faltando um minuto para o fim da partida, a Alemanha conseguiu chegar ao empate na primeira polêmica do jogo. Após uma cobrança de falta, Weber escorou o chute e colocou a bola para dentro do gol de Gordon Banks: 2 a 2. Os ingleses reclamaram demais com o árbitro suíço Gottfried Dienst pelo possível toque de mão do jogador alemão. Dienst ignorou o “chororô” inglês e apitou o final do jogo. A Copa seria decidida na prorrogação.
A maior das polêmicas e o título inglês
Na prorrogação, a Inglaterra mostrou mais poder de decisão e partiu pra cima dos alemães. Depois de muito martelar, eis que aconteceu o lance mais comentado por décadas quando o assunto era Copa do Mundo. O atacante Hurst partiu para o ataque e chutou forte. A bola bateu no travessão e quicou sobre a linha, saindo do gol. O árbitro não estava certo se a bola entrara ou não, por isso, consultou seu assistente, Tofik Bakhramov, que disse ter sido gol. Depois de um momento de indecisão e pelo fato de ambos não falarem claramente a mesma língua, o juiz decidiu por validar o gol. Os ingleses comemoraram muito, mas a própria torcida não sabia (muito menos os milhões de espectadores pelo mundo) se aquela bola havia entrado ou não.
Tempo depois, análises mostraram que a bola não cruzou a linha do gol e que a redonda estava a 6 cm longe de passar completamente a linha. Porém, para acabar com qualquer dúvida, Hurst marcou mais um gol no minuto final da prorrogação e decretou o 4 a 2 para a Inglaterra, escrevendo seu nome na história como primeiro e único jogador a marcar 3 gols em uma final de Copa. Era o estopim: a Inglaterra era campeã do mundo. A torcida invadiu o gramado ensandecida de felicidade. Os ingleses, enfim, podiam receber a cobiçada Taça Jules Rimet das mãos da Rainha e fazer a festa em casa. Leia mais sobre aquela decisão clicando aqui.
Carentes de uma era de ouro
O título mundial inglês seria muito contestado posteriormente pelos fatos ocorridos na final envolvendo o gol polêmico de Hurst, sugerindo até um favorecimento da arbitragem a favor dos donos da casa. Suposições à parte, o fato é que aquela Inglaterra foi mesmo especial e a melhor equipe já formada na ilha, com jogadores talentosos e que marcaram época na Europa. Aquele esquadrão faria uma boa Copa do Mundo em 1970, mas não teve forças para superar o Brasil e outras ótimas seleções, ficando pelo caminho. Desde então, o torcedor inglês sonha com tempos melhores para o seu English Team. Inúmeros craques já passaram pela seleção desde 1966 como Keegan, Shilton, Lineker, Gascoigne, Scholes, Adams, McManaman, Cole, Owen, Beckham e os mais recentes Lampard, Gerrard e Terry, mas nenhum deles conseguiu fazer a Inglaterra campeã mundial. Uma nova chance surgiu na Copa de 2018, mas a equipe caiu na semifinal diante da Croácia. Enquanto isso, resta aos torcedores relembrar e rever as proezas do único “team” campeão do mundo. Uma seleção imortal.
Os personagens:
Gordon Banks: foi o melhor goleiro da história do futebol inglês e considerado o segundo melhor do século XX, ficando atrás apenas da lenda Lev Yashin. Banks tinha reflexos incríveis, agilidade fantástica e ótima colocação debaixo da meta. Foi um dos pilares fundamentais para a conquista do mundial de 1966. Em 1970, realizou a “defesa do século” ao pegar uma cabeçada fatal de Pelé. Atuou em 73 partidas pelo English Team. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Cohen: lateral direito da equipe campeã mundial de 1966, George Cohen foi um dos grandes defensores de seu tempo e ídolo no Fulham, seu único clube na carreira de 1956 até 1969. Atuou em 37 partidas pela Inglaterra.
J. Charlton: do alto de seus 1m91cm de altura, Jack Charlton, irmão do craque Booby Charlton, conseguia detectar os “intrusos” atacantes e interceptarde maneira viril e impecável as investidas dos adversários. Jack fez parte do grande Leeds United (seu úncio clube) das décadas de 60 e 70 atuando em 773 partidas. Foi referência da zaga inglesa naquela Copa.
Bobby Moore: é um mito do futebol inglês e um dos maiores zagueiros da história do futebol, sempre mencionado por Pelé como um dos “maiores marcadores que teve na carreira”. Moore foi o capitão que levantou pela primeira e única vez a Copa do Mundo pela Inglaterra. Técnico, elegante, preciso e leal na marcação e fantástico dentro da grande área, Moore jogou em 108 partidas pela seleção, um recorde que seria superado apenas por Peter Shilton e David Beckham. Foi um gênio do futebol. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Wilson: lateral esquerdo, Ray Wilson foi um dos jogadores que levantou o capitão Booby Moore para a histórica foto de campeões do mundo. Wilson foi preciso sempre que necessário na conquista da Copa e ajudou muito a defesa inglesa.
Stiles: volante marcador, Nobby Stiles marcou seu nome no Manchester United de 1960 até 1971, conquistando uma Liga dos Campeões da UEFA em 1968. Outro de papel muito importante na conquista da Copa.
Bobby Charlton: é outro grande gênio do futebol inglês e mundial e um dos maiores meias atacantes de todos os tempos. É ídolo do Manchester United, onde jogou de 1956 até 1973 e teve o prazer de vencer a primeira Liga dos Campeões da equipe em 1968. Chalrton jogou muito na Copa de 1966 e teve papel decisivo na conquista. Jogou 106 partidas pelo English Team. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Peters: Martin Peters foi um dos operários do meio de campo inglês na Copa de 1966, mas também fez história ao marcar o gol de empate na decisão contra a Alemanha. Em 67 partidas pelo English Team, marcou 20 gols. Fez carreira, principalmente, no West Ham e no Norwich City.
Ball: Alan Ball tinha o futebol até mesmo no nome. O atacante fez história na seleção inglesa e em clubes como Everton e Arsenal. Marcou mais de 180 gols na carreira e foi um dos grandes nomes ingleses das décadas de 60 e 70.
Hunt: Roger Hunt foi outro dos grandes atacantes ingleses da década de 60. Habilidoso, marcou 18 gols em 34 jogos pela Inglaterra além de 286 gols em mais de 400 partidas pelo Liverpool.
Hurst: marcou seu nome para sempre na história como o primeiro e único jogador a anotar 3 gols em uma final de Copa do Mundo. O atacante esteve iluminado naquela decisão e fez a Inglaterra a melhor seleção do mundo em 1966. “Sir” Geoff Hurst anotou 24 gols em 49 jogos pela seleção, além de brilhar no West Ham e no Stoke City.
Alf Ramsey (Técnico): um dos grandes técnicos do futebol inglês, Ramsey conseguiu a proeza de conquistar de maneira consecutiva os títulos nacionais da terceira, segunda e primeira divisão com o Ipswich Town, feito que o credenciou ao cargo de técnico da Inglaterra em 1963. Mal sabia ele que seria o primeiro e único treinador campeão mundial com a seleção inglesa. Suas táticas e ótimas lições de motivação foram essenciais para a histórica conquista inglesa.
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Curioso que na época a Inglaterra estava em voga na época em virtude do futebol, rock (Beatles, Stones etc.) e cinema (007)…..
Eu estava com 8 anos e escutei essa final pelo rádio em ondas curtas pela então PRA-8 Rádio Clube de Pernambuco, 720 KHz. Uma final de Copa do Mundo memorável e polêmica. Todos diziam que a Alemanha Ocidental tinha sido “garfada”.
Eu tinha dez anos de idade e escutei esta copa do mundo pelo rádio, nunca me saiu da memória os nomes Booby Moore e Booby Charlton, acho que deviam serem os melhores da época mesmo pois foram campeões mundiais e também não esqueço de Eusébio da Seleção Portuguesa.