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Esquadrão Imortal – Cruzeiro 1996-2000

O time campeão da Liberta de 1997. Em pé: Dida, Gottardo, Gélson, Vitor, Fabinho e Nonato. Agachados: Ricardinho, Elivélton, Donizete Oliveira, Marcelo Ramos e Cleisson.

 

Cruzeiro 1996-2000
O time campeão da Liberta de 1997. Em pé: Dida, Gottardo, Gélson, Vitor, Fabinho e Nonato. Agachados: Ricardinho, Elivélton, Donizete Oliveira, Marcelo Ramos e Cleisson. Só faltou o Palhinha nessa foto!
 

 

Grandes feitos: Campeão da Copa Libertadores da América (1997), Campeão da Recopa Sul-Americana (1998), Bicampeão da Copa do Brasil (1996 e 2000 – Invicto), Tricampeão do Campeonato Mineiro (1996, 1997 e 1998), Campeão da Copa dos Campeões Mineiros (1999) e Campeão da Copa Centro-Oeste (1999). Encerrou um jejum do clube de 21 anos sem títulos na Copa Libertadores.

Time-base: Dida (André); Vítor (Donizete Amorim / Rodrigo), Gélson Baresi (Marcelo Djian / Cris), Wilson Gottardo (Célio Lúcio / João Carlos / Cléber) e Nonato (Gilberto / Sorín); Donizete Oliveira (Uéslei / Cleisson / Djair), Fabinho (Marcos Paulo / Alex Alves), Ricardinho e Palhinha (Valdo / Jackson); Marcelo Ramos (Geovanni / Fábio Júnior) e Elivélton (Roberto Gaúcho / Müller / Oséas). Técnicos: Levir Culpi (1996 e 1998-1999), Oscar Bernardi (1997), Paulo Autuori (1997 e 1999-2000), Nelsinho Baptista (1997) e Marco Aurélio (2000).

 

 

“Copeiro Esporte Clube”

Por Guilherme Diniz

Após uma década de 70 próspera, com vários títulos e a inédita Copa Libertadores de 1976 (leia mais clicando aqui!), o Cruzeiro entrou em um período de títulos escassos e ostracismo nacional. Nos anos 80, a equipe só levantou duas taças estaduais, nem sequer deu as caras nos Campeonatos Brasileiros e viu o intenso progresso dos clubes cariocas, paulistas e gaúchos no período. O torcedor cruzeirense vivia triste, cabisbaixo. Ver uma camisa azul nas ruas de Belo Horizonte era raro. Será que o clube tão vencedor nos anos 60 e 70 não iria acordar nunca mais? Bem, tudo começou a mudar no começo da década de 90. Foi quando começou a nascer no clube uma mística impressionante. De 1991 até 2000, a equipe simplesmente venceu pelo menos um título por ano. A camisa azul com as tradicionais estrelas virou sinônimo de taça. Virou vedete nos principais jornais do país. E, também, da América. O Cruzeiro virou copeiro ao extremo. Poderia até ser rebatizado como Copeiro Esporte Clube. Se pintava uma Copa, lá estava o Cruzeiro para disputá-la. E, na maioria das vezes, ganhá-la. Mas foi entre 1996 e 2000 o grande apogeu. Primeiro, a conquista da Copa do Brasil contra um titã que vestia verde e branco, favorito, em pleno território adversário e contra todos os prognósticos.

Depois, outra vez imensos percalços, classificação na bacia das almas e superação plena no mata-mata da Copa Libertadores de 1997, vencida com um gol chorado diante de mais de 100 mil pessoas em um Mineirão que transbordava emoção. O mundo escapou por falhas pontuais e porque o Borussia Dortmund era um grande time. Mas a sina de chegada se manteve firme. O time alcançou até as finais do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil de 1998 e o caneco bateu na trave em ambos os torneios (é que ainda não era hora de vencer a Tríplice Coroa…). Em 1999, veio a Recopa e a Copa Centro-Oeste. E, em 2000, um dramático título da Copa do Brasil com um gol épico de Geovanni. Naquela época, torcer pelo Cruzeiro era uma alegria. Coitado do rival Atlético, que viu o time estrelado chegar a um patamar único em Minas com uma quantidade de títulos impressionante.

E, além das conquistas, o torcedor aprendeu a idolatrar jogadores que se consagraram na história do clube. Como não lembrar das defesas e milagres de Dida, frio, uma barreira humana surpreendente? Como não lembrar de Nonato e do amuleto Vítor? E das duplas de zaga que sempre mudavam, mas sempre davam conta do recado? Impossível esquecer o meio de campo na ponta da língua do cruzeirense, com os incansáveis Fabinho, Donizete Oliveira e Ricardinho, além do habilidoso Palhinha fazendo o elo com o ataque comandado pelo artilheiro Marcelo Ramos, pelo polivalente Cleisson, pelo talismã Elivélton e, depois, pelos xodós Alex Alves, Fábio Júnior, Geovanni e os experientes Oséas e Müller. Foi um Cruzeiro que fez nascer gerações de torcedores. Que não se cansou de entupir o Mineirão com públicos impressionantes, superiores a 85, 95, 100 mil pessoas. E copeiro como nunca. É hora de relembrar.

 

A reviravolta

Ênio Andrade, técnico do Cruzeiro no final dos anos 80 e início dos anos 90.

 

 

Para acordar do sono profundo no qual se encontrava, o Cruzeiro foi buscar em um lendário e talentoso técnico a esperança de dias melhores. Em 1989, o clube contratou Ênio Andrade, campeão invicto do Brasileiro com o Internacional em 1979, campeão brasileiro com o Grêmio em 1981 e também com o Coritiba em 1985. Astuto e estrategista nato, o treinador começou a forjar naquele final de década o caminho próspero do time celeste. Já em 1990, ele conquistou o Campeonato Mineiro após triunfo por 1 a 0 sobre o Atlético-MG de Éder em um Mineirão com mais de 90 mil pessoas. No ano seguinte, o treinador faturou a Supercopa da Libertadores, extinto torneio da Conmebol que reunia os campeões históricos da competição. Após superar Colo-Colo-CHI, Nacional-URU e Olimpia-PAR, os mineiros reencontraram o River Plate-ARG, adversário na final da Libertadores de 1976. E, assim como naquela ocasião, deu Cruzeiro: vitória por 3 a 0 na grande decisão com uma atuação de gala do time de Ênio Andrade e de jogadores como Charles, Mário Tilico, Nonato e Adílson. O título serviu como um prenúncio do que seria aquela década para o Cruzeiro. E marcou a reviravolta definitiva para o clube sair daquele incômodo hiato de grandes conquistas.

O Cruzeiro campeão da Copa do Brasil de 1993. Em pé: Paulo Roberto, Célio Lúcio, Rogério Lage, Róbson, Paulo César e Nonato. Agachados: Ademir, Cleisson, Edenílson Pateta, Éder e Roberto Gaúcho.

 

 

No ano seguinte, veio o bicampeonato da Supercopa já sob o comando técnico de Jair Pereira com uma sapecada de 4 a 0 pra cima do Racing-ARG no embalo dos gols de Renato Gaúcho e Roberto Gaúcho, dos polivalentes Luís Fernando e Cleisson e do meio-campista Marco Antônio Boiadeiro, campeão brasileiro com o Vasco em 1989. Em 1993, enfim uma conquista nacional após 27 anos de jejum: a Copa do Brasil, vencida sobre o Grêmio e mais uma vez com o brilho de Cleisson, Roberto Gaúcho, Nonato e Célio Lúcio, além dos veteranos Éder e Paulo Roberto. Após o título mineiro em 1994, uma Copa Master e uma Copa Ouro, ambas em 1995, a equipe passou por uma reformulação e investiu em reforços para continuar vencendo. Do futebol baiano vieram os jovens e promissores Dida (ex-goleiro do Vitória vice-campeão brasileiro em 1993) e o atacante Marcelo Ramos, ex-Bahia. Vieram também o atacante Palhinha, o meio-campista Donizete Oliveira e o lateral-direito Vítor (ambos ex-São Paulo) e o volante Fabinho (ex-Flamengo).

Além desses e outros reforços trazidos entre 1995 e 1996, o Cruzeiro manteve a base campeã da Copa do Brasil em 1993 com Cleisson, Nonato, Roberto Gaúcho e Célio Lúcio, e promoveu a entrada no time titular de um franzino, mas ótimo jogador: o meio-campista Ricardinho, cria das bases que podia atuar tanto mais recuado na marcação como também mais avançado, ajudando na criação de jogadas no ataque. Para o comando técnico, a diretoria – agora comandada pela família Perrella no lugar da família Masci – contratou, em 1996, Levir Culpi. O foco do novo treinador era a retomada da coroa no campeonato estadual e um bom papel em alguma competição nacional. A média de uma taça por ano desde 1991 tinha deixado a torcida mal acostumada. Por isso, era preciso continuar aquela trilha tão laureada.

 

Time calibrado

Nonato, Marcelo Ramos e Fabinho, algumas das estrelas do Cruzeiro em 1996. Foto: Antonio Scorza / AFP.

 

 

Os primeiros testes do técnico Levir Culpi para acertar o time foi no Campeonato Mineiro, no qual a equipe não teve dificuldades e passou bem pelos primeiros seis adversários. Só no sétimo jogo que veio o primeiro tropeço, diante do América, por 3 a 0. Àquela altura, o time já dava mostras das características que seriam vistas ao longo da temporada: equilíbrio entre defesa e meio de campo e ataque prolífico com o faro goleador de Marcelo Ramos, em grande fase, e Palhinha, que queria provar suas qualidades muito por causa das contestações quanto ao seu talento. Por ter jogado no grande São Paulo de Telê, muitos tinham a petulância em dizer que ele era um jogador comum e que não iria conseguir brilhar em outra equipe. Mas tudo era uma enorme besteira dos “entendedores de nada”. Palhinha seria um dos principais nomes do Cruzeiro com toques rápidos, visão de jogo e, claro, gols. A sintonia dele com Marcelo Ramos no ataque e a proteção de Ricardinho e Fabinho no meio davam ao time muita força para jogos decisivos. Não era uma equipe altamente técnica, mas a raça, organização e competitividade promovidas por Levir Culpi iriam se sobressair naquele plantel.

Palhinha marca um gol em Taffarel num clássico mineiro em 1996.

 

 

Ao término do primeiro turno do Estadual, os azuis ficaram na segunda colocação com nove vitórias, um empate e duas derrotas. No segundo, a equipe cresceu ainda mais, liderou de ponta a ponta e terminou com nove vitórias, dois empates e uma derrota, além de contar com o melhor ataque com 30 gols em 12 jogos. Com a classificação assegurada no hexagonal final, o Cruzeiro também tinha compromissos na Copa do Brasil. Na primeira etapa, em março, a equipe eliminou o Juventus do Acre após empatar em 1 a 1 o duelo de ida e vencer por 4 a 0 a volta. Nas oitavas de final, o time mineiro visitou o Vasco em São Januário e aplicou uma goleada histórica de 6 a 2 sobre os cariocas (!) – e mesmo com o cruzmaltino tendo em seu elenco titular jogadores como Carlos Germano, Juninho Pernambucano, Luizinho e Leandro Ávila.

 

Veja os gols:

Na volta, em Minas, o empate em 1 a 1 foi suficiente para classificar o Cruzeiro às quartas de final. Nela, outra goleada: 4 a 0, dessa vez em cima do Corinthians, campeão da Copa do Brasil no ano anterior. Os gols cruzeirenses foram de Célio Lúcio, Nonato, Palhinha e Cleisson. Uma curiosidade é que nesse jogo o goleiro Dida não jogou e quem o substituiu foi o camaronês William Andem. E ele cumpriu sua missão ao fechar a meta cruzeirense e não levar gols! No duelo da volta, em SP, Dida voltou, defendeu um pênalti de Marcelinho Carioca e garantiu a classificação do time mineiro, que perdeu por 3 a 2, mas avançou às semifinais.

Já em junho, o Cruzeiro voltou a disputar jogos decisivos, também, pelo Campeonato Mineiro e conseguiu duas boas vitórias nas primeiras rodadas. Na sequência, porém, o time perdeu a liderança para o Atlético-MG após empatar com o Villa Nova, perder para o América (2 a 1) e para o próprio Galo (1 a 0). A situação não era nada boa. Mesmo com a goleada de 5 a 0 sobre o Villa Nova e o triunfo por 2 a 1 sobre a Caldense, a equipe corria o risco de perder o título no clássico contra o rival já na 8ª rodada. Mas o triunfo por 2 a 0 manteve a chance de título acesa. O desfecho só seria conhecido na segunda quinzena de julho. Antes, o clube teve os desafios finais na Copa do Brasil.

 

O rival indigesto e a polêmica

Olha o tamanho da polêmica que o jornal Estado de Minas foi arrumar antes da final contra o Palmeiras…

 

 

Jogando com o regulamento embaixo do braço, o Cruzeiro conseguiu a vaga na final após dois empates com o Flamengo na semifinal. Na ida, fora de casa, os mineiros empataram em 1 a 1 com um gol do talismã Cleisson. Na volta, o empate sem gols foi o suficiente para colocar a Raposa na decisão. O problema é que o time de Levir Culpi teria pela frente um adversário terrível, temido e devastador: o Palmeiras, que vinha de uma campanha simplesmente histórica no Campeonato Paulista no famoso ataque dos 100 gols. Baseado no talento de Djalminha, Rivaldo, Luizão, Flávio Conceição e companhia, o alviverde era favorito disparado para levantar o troféu, e, pelo caminho da Copa do Brasil, havia goleado o Atlético-MG por 5 a 0 e batido o forte Grêmio de Felipão por 3 a 1. Poucos acreditavam nos azuis de BH. E, antes do primeiro jogo, uma reportagem do jornal Estado de Minas aumentou ainda mais a desconfiança. Os jogadores Uéslei, Cleisson, Marcelo Ramos e Roberto Gaúcho aceitaram o convite do periódico para um jantar em uma churrascaria e toparam conversar sobre o duelo e tirar uma foto. Só que o prato principal da noite era uma leitoa… Provocação ao porco, uma das mascotes tradicionais do Palmeiras. O que era para ser uma brincadeira gerou uma saia justa imensa na imprensa paulista e também na mineira.

 

“Fizemos a foto dos quatro jogadores simulando a degustação da leitoa. Era para colocar lenha na fogueira, motivar a torcida do Cruzeiro. Só que a mídia de São Paulo entendeu que estávamos menosprezando o Palmeiras. Aí a coisa chegou a Belo Horizonte com outro sentido… E os cruzeirenses ficaram preocupados, dizendo que tínhamos acirrado os ânimos do Palmeiras.”Arnaldo Viana, editor de esportes do Estado de Minas na época, em entrevista ao MG SuperEsportes, 17 de junho de 2016.

 

Cleisson disse que aquilo foi um grande “vacilo” dos jogadores, que deram uma “arma  para o Palmeiras”. O técnico Levir Culpi não gostou daquela atitude e deu uma dura nos atletas.

 

“Não gostei da matéria, porque aqui no Brasil a gente é muito movido pela emoção. Você acaba motivando seu adversário, falando besteira. Nessas horas, a gente tem que procurar evitar ao máximo de falar algo que pode ser usado contra você. Lembro que cobrei sim dos jogadores.”Levir Culpi, em entrevista ao MG SuperEsportes, 17 de junho de 2016.

 

No dia seguinte, vários leitores do jornal que torciam para o Cruzeiro ameaçaram cancelar a assinatura do periódico por causa daquilo – muitos realmente o fizeram. E pior: o editor Arnaldo Viana recebeu um recado de um diretor do Estado de Minas dizendo que, se o Cruzeiro perdesse a final, ele seria demitido. Não bastasse a dificuldade iminente daquele duelo, o Cruzeiro ainda tinha todo um cenário hostil para superar. As boas notícias eram os desfalques de Sandro, Cafu, Flávio Conceição e Djalminha do lado palmeirense, a saída de Müller e o jejum de 22 anos sem vitória do alviverde sobre o Cruzeiro em Belo Horizonte. Seria preciso aproveitar ao máximo o fator casa, vencer bem no Mineirão e segurar pelo menos um empate no caldeirão do Parque Antártica.

 

Há esperança?

Incapaz de marcar Rivaldo, o Cruzeiro não conseguiu impor seu estilo de jogo, viu o Palmeiras dominar as ações e levou um gol logo aos 11’ do primeiro tempo. Só na segunda etapa, quando Roberto Gaúcho entrou no lugar de Uéslei, que o time mineiro conseguiu mudar o panorama da partida e empatar com Marcelo Ramos, aos 16’. O jogo seguiu assim e o empate foi um ótimo resultado para o Verdão, que teria a volta de seus jogadores ausentes para a partida decisiva e a força da torcida. Ao Cruzeiro, restavam duas opções: vencer em pleno Parque Antártica um esquadrão quase imbatível jogando por lá ou empatar por dois ou mais gols. Será que havia alguma chance de isso acontecer?

 

A Copa épica

O time campeão de 1996. Em pé: Dida, Vítor, Gélson Baresi, Célio Lúcio, Fabinho e Nonato. Agachados: Marcelo Ramos, Palhinha, Cleisson, Ricardinho e Roberto Gaucho.

 

 

No dia 19 de junho de 1996, o Cruzeiro invocou todos os heróis de seu passado, toda a garra possível e todo o misticismo de sua camisa para alcançar um dos maiores feitos de sua história. Logo aos cinco minutos de jogo, o Palmeiras abriu 1 a 0 e os prognósticos pareciam mesmo pender a favor do time da casa. Mas o Cruzeiro passou a dominar o meio de campo. Tocou a bola no campo de ataque, pressionando o rival. Foi frio. Calculista. Não deixava o Palmeiras se impor. Forçava o erro. E não errava. Aos 25’, Roberto Gaúcho, o atacante das decisões, aproveitou uma bobeada de Amaral e mandou a bola pro fundo do gol de Velloso chutando entre a trave e o arqueiro alviverde: 1 a 1.

No segundo tempo, o Cruzeiro recuou um pouco e trouxe o Palmeiras ao seu campo. Perigo? Não quando se tem um novato Dida no gol. Dos 15’ aos 28’, o camisa 1 cruzeirense fez milagres simplesmente impressionantes no Parque Antártica. Tirou bola com o pé voltando para o gol em cima da linha. Tirou bola de soco. Tirou bola voando com seu corpanzil. Defendeu chute à queima roupa. Mostrou-se de corpo fechado. E ainda teve a ajuda precisa e cirúrgica de sua zaga. Foi uma das maiores atuações de Dida na carreira. E, levando em consideração as atuações magníficas do goleirão nos anos seguintes por Corinthians e Milan, é possível perceber a dimensão daquilo tudo.

A impotência em marcar um gol abalou o Palmeiras, que começou a errar seguidamente. E o Cruzeiro, embalado, voltou a crescer. Até que, aos 36’, Marcelo Ramos roubou uma bola no meio de campo e tocou para Roberto Gaúcho na esquerda. O atacante saiu em disparada e cruzou para a área. Velloso não segurou e Marcelo Ramos empurrou a bola para o gol: 2 a 1. Era a virada cruzeirense. Nos minutos seguintes, o Palmeiras nada pôde fazer. Ao apito do árbitro Sidrack Marinho, o Cruzeiro era bicampeão da Copa do Brasil. Era a taça improvável contra um adversário duríssimo em sua própria casa. Muito emocionados, jogadores e comissão técnica fizeram uma enorme festa, que foi superada pela da torcida na volta para casa. Centenas de milhares de torcedores tomaram as ruas de Belo Horizonte e receberam os jogadores desde o Aeroporto da Pampulha, em uma passeata que parecia um carnaval fora de época. A torcida literalmente abraçou os jogadores tamanha dificuldade que foi conquistar aquele título.

Festa dos dirigentes, jogadores e de Levir Culpi (à dir, de camisa clara). Foto: Arquivo / Estado de Minas.

 

 

 
Frenesi dos jogadores.

 

 
O capitão Nonato com a taça.

 

 

 

O Cruzeiro de 1996: entrosado e muito organizado, equipe conseguiu neutralizar as principais armas do Palmeiras e ficou com o título.

 

 

Na campanha, o Cruzeiro disputou dez jogos, venceu quatro, empatou cinco e perdeu apenas um, com 22 gols marcados e dez sofridos. O título deu uma vaga na Copa Libertadores de 1997 e aumentou ainda mais a expectativa da torcida para com o futuro. Ah, lembra da leitoa? Após o título, Cleisson admitiu: “No fim das contas, a leitoa estava era muito boa! (risos)”.

 

Já que não quis…

Paulinho McLaren imitou um galo em uma vitória sobre o rival em 1996, pelo Brasileiro. Foto: Gualter Naves / EM.

 

 

Após a conquista da Copa do Brasil, o Cruzeiro não deixou a ressaca bater e voltou suas atenções ao Campeonato Mineiro. A tarefa era ingrata, claro, mas o time não desistiu. Após golear o Villa Nova e bater o rival Atlético, a Raposa venceu seus dois últimos jogos do hexagonal e ficou à espreita. Era só o Galo tropeçar que o título poderia vir de bandeja. E veio. Primeiro, o rival empatou com o Villa Nova. Depois, na última rodada, enfrentou o lanterna Uberlândia, que passava por uma crise interna por causa de salários atrasados e mandou a campo os juniores. E não é que eles seguraram o empate sem gols com o Atlético? Surpreendentemente o Cruzeiro foi campeão com um ponto a mais do que o rival e provou mesmo que a fase era esplendorosa!

Qual era a chance de o Atlético não vencer o lanterna do hexagonal e ainda contra o time de juniores? Pois é. Ele não venceu. E, já que não quis ser campeão, o Cruzeiro agradeceu demais! Marcelo Ramos, com 23 gols, foi o artilheiro da competição e o grande destaque do time no torneio. Palhinha e Roberto Gaúcho, com dez gols cada, vieram na sequência da artilharia da Raposa. Com duas taças na galeria, o clube ainda tinha pela frente a Supercopa da Libertadores e o Campeonato Brasileiro. Será que pintaria uma inédita Tríplice Coroa naquele mágico ano de 1996?

 

Tinha uma Lusa (e um Vélez) no caminho

No Brasileirão, o Cruzeiro manteve o embalo do primeiro semestre mesmo com a saída de Marcelo Ramos, que foi jogar no PSV-HOL, e provou que era um dos candidatos ao título. Jogo a jogo, a equipe de Levir Culpi despachava os rivais e assumiu a liderança do torneio na 13ª rodada, quando bateu o Grêmio de Felipão por 2 a 1. A ponta escapou na rodada seguinte após tropeço diante do Paraná Clube, mas foi retomada nas rodadas seguintes após duas vitórias seguidas sobre Vasco (1 a 0) e Bragantino (4 a 0). Os azuis ainda bateram o rival Atlético-MG por 2 a 1, na 18ª rodada, e mantiveram a ponta nas três rodadas finais. Com 13 vitórias, cinco empates e cinco derrotas em 23 jogos, o Cruzeiro foi para o mata-mata com a vantagem de decidir em casa todas as fases até a decisão. Mas, logo nas quartas de final, a equipe mineira sucumbiu diante da Portuguesa, classificada em 8º lugar e tida como grande zebra daquela reta final. No primeiro jogo, fora de casa, o Cruzeiro não viu a cor da bola e foi atropelado pelos paulistas por 3 a 0. Na volta, a vitória por 1 a 0 não foi suficiente para reverter o placar adverso. Era o fim do sonho da Tríplice Coroa.

Também naquela reta final de temporada, o Cruzeiro disputou a Supercopa da Libertadores e chegou a mais uma final copeira depois de eliminar o Nacional-URU nas oitavas (empate em 1 a 1, fora, e vitória por 3 a 1, em casa), o Boca Juniors-ARG, nas quartas (empate fora, em 0 a 0, e em 1 a 1, em casa, com triunfo nos pênaltis por 7 a 6), e duas sapecadas no freguês Colo-Colo-CHI, nas semis: 3 a 2, em casa, e 4 a 0, fora, com três gols de Palhinha.

Veja os gols:

Na decisão, porém, o Cruzeiro não conseguiu superar a força do Vélez Sarsfield-ARG de Chilavert, Pellegrino, Bassedas e Asad, esquadrão que desde 1994 colecionava títulos e ainda mantinha a base construída por Carlos Bianchi (leia mais clicando aqui!). No primeiro jogo, em Minas, o Vélez venceu por 1 a 0, gol de pênalti marcado por Chilavert. Na volta, em Buenos Aires, dois gols logo no começo do jogo desestabilizaram o time brasileiro e sacramentou o triunfo argentino por 2 a 0. O ano terminava de maneira triste, mas com um ótimo retrospecto: foram 45 vitórias, 21 empates e apenas 13 derrotas em 79 jogos, aproveitamento de 65,8%, além de 136 gols marcados (média de 1,72 por jogo) e 58 sofridos. Era hora de pensar na Libertadores de 1997.

 

Mudanças e problemas

Autuori assumiu o Cruzeiro em 1997 e teve sérios problemas no início de seu trabalho. Foto: EM.

 

 

Para a temporada de 1997, o Cruzeiro perdeu o técnico Levir Culpi, que foi para o futebol japonês, e Oscar Bernardi assumiu a equipe nos primeiros jogos do ano. Por ter a Copa do Brasil, a Libertadores e o Mineiro no calendário daquele primeiro semestre, o time azul precisava de um grande elenco para dar conta de todas as competições e trouxe alguns reforços, entre eles o meia Elivélton (ex-Palmeiras), o atacante Alex Mineiro (ex-América-MG), o zagueiro Wilson Gottardo e repatriou Marcelo Ramos, estes dois últimos contratados no final de abril. Os reservas iriam jogar boa parte do Campeonato Estadual e seriam comandados pelo auxiliar técnico Wantuil Rodrigues a fim de poupar os titulares para as copas. Mas, em menos de dois meses, Oscar Bernardi foi demitido do cargo. Ele comandou a equipe em apenas cinco jogos – incluindo a estreia do time na Libertadores, na desastrosa derrota por 2 a 1 para o Grêmio em pleno Mineirão.

Os fatores que pesaram na saída do treinador foram a resistência de alguns atletas, o atrito com o zagueiro Gélson Baresi e a falta de sintonia entre elenco e comissão técnica. Outro problema foi a falta de preparo físico naquele início de ano. Reflexo disso tudo foi a derrota por 2 a 1 em um amistoso com o fraquíssimo Fluminense da época (que seria rebaixado no Brasileiro daquele ano), a magra vitória por 1 a 0 contra o Montes Claros, o empate sem gols contra o Guarani de Divinópolis, além da própria derrota para o Grêmio.

A diretoria teve que agir rápido e contratou Paulo Autuori, técnico que estava no futebol português na época. Ele chegou e tratou de melhorar a parte física dos titulares enquanto os reservas jogavam o Campeonato Mineiro. Essa tarefa foi fundamental para adquirir a confiança dos jogadores. Depois disso, o treinador focou a parte técnica para dar equilíbrio ao time. Só que demorou para a equipe engrenar. Na Copa do Brasil, o Cruzeiro caiu já na primeira fase diante do Santa Cruz. Na Libertadores, mais duas derrotas, ambas fora de casa, para o Alianza Lima-PER, por 1 a 0, e para o Sporting Cristal-PER, de novo por 1 a 0. A eliminação parecia um fato consumado. O time competitivo de 1996 não existia. O vislumbre por taças era utópico. Se a Raposa não reagisse logo, o semestre iria por água abaixo.

 

A reação

Marcelo Ramos voltou em 1997 para ajudar o Cruzeiro na Libertadores. Foto: Leandro Couri / EM.

 

 

Se quisesse a classificação para a próxima fase da Libertadores, o Cruzeiro teria que vencer o Grêmio de qualquer maneira no primeiro jogo do returno do Grupo 4. O problema é que derrotar o tricolor no Olímpico era uma missão ingrata para qualquer time. E o próprio Cruzeiro nunca havia vencido os gaúchos em Porto Alegre. Mas, com um gol de Palhinha logo no comecinho do segundo tempo, os mineiros venceram por 1 a 0 e enterraram o tabu. Nos dois jogos seguintes, ambos no Mineirão, vitórias por 2 a 0 sobre o Alianza Lima e 2 a 1 em cima do Sporting Cristal, resultados que colocaram o time mineiro na segunda colocação, com nove pontos, e nas oitavas de final. A sorte é que os três primeiros colocados de cada grupo iam para a etapa seguinte da competição na época. Com isso, até o Sporting Cristal se classificou, com oito pontos.

Paulo Autuori tinha naquele momento o grupo nas mãos. Com muita conversa, ele estimulava demais seus atletas e ganhou de bate-pronto a simpatia de todos. Por isso, foi notável a reação do grupo naqueles três jogos decisivos. Com raça e determinação, eles conseguiram a vaga e foram com um novo ânimo para o mata-mata. Para ajudar ainda mais aquela fase, o clube já poderia contar com os reforços de Wilson Gottardo, que assumiu a braçaderia de capitão do time e era um homem de confiança de Autuori desde os tempos do Botafogo campeão brasileiro de 1995, e o xodó Marcelo Ramos, que foi para o ataque titular ao lado de Elivélton. Esses reforços deram ao Cruzeiro mais força para encarar os hostis adversários da segunda fase da Liberta. O meio de campo marcava bem e jogava avançado, com Ricardinho flutuando pelo ataque ao lado de Palhinha. Era um time que variava demais seu jogo, agredia o adversário com uma marcação forte e demonstrava coragem ao extremo. Tais características seriam fundamentais em uma competição como a Libertadores. Mas o torcedor deveria preparar seu coração para fortes emoções…

 

Vivendo no limite

Contra o El Nacional, Cruzeiro teve problemas e só se classificou nos pênaltis. Foto: EM.

 

 

Nas oitavas de final, o Cruzeiro encarou o El Nacional-EQU, do atacante Chalá. E foi com um gol dele, em Quito, que os equatorianos venceram o duelo de ida por 1 a 0. Na volta, no Mineirão, Marcelo Ramos mostrou que estava com fome de gols e marcou duas vezes. O placar de 2 a 0 assegurava a vaga nas quartas. Mas Arroyo, de falta, aos 46’ do segundo tempo, levou a decisão para os pênaltis. Nela, brilhou a estrela do goleiro Dida, que defendeu o pênalti batido por Chalá e garantiu a vitória do Cruzeiro por 5 a 3. Nas quartas, reencontro com o Grêmio. Na ida, em Minas, triunfo por 2 a 0, gols de Elivélton (aos 40 segundos de jogo!) e Alex Mineiro. Era uma ótima vantagem para a volta, construída com bom futebol, raça e momentos tensos, como o desentendimento de Roger e Cleisson em determinado momento do jogo. No Olímpico, o Cruzeiro se desdobrou e marcou o tricolor como nunca. Fabinho fez uma partida espetacular no meio de campo. E ainda escreveu uma história incrível de superação.

No segundo tempo, com o placar em 0 a 0, o volante começou a sentir uma lesão na parte posterior da coxa. Mesmo com dor, ele não quis sair de campo naquele momento. Antes de ser substituído, ele se arriscou no ataque correndo na ponta do pé, para não esticar a perna. Após jogada de Célio Lúcio no meio de campo, o zagueiro deixou com Alex Mineiro e este cruzou para a área. Sem marcação, Fabinho ajeitou no peito e conseguiu chutar para fazer um gol importantíssimo para o Cruzeiro. Só depois disso que ele foi substituído. E com a sensação de dever mais do que cumprido. O Grêmio virou para 2 a 1, mas foi o Cruzeiro o classificado para a semifinal.

Mesmo entre os quatro melhores do continente, Paulo Autuori era duramente cobrado pela diretoria por causa da campanha oscilante naquela Libertadores. O diretor de futebol Moraes era o mais ferrenho crítico do treinador, além do presidente Perrella, que não iria hesitar em demitir Autuori em caso de eliminação. A grande virtude do técnico era não deixar que essa turbulência atrapalhasse os jogadores. Transparente com todos, ele era o escudo das críticas e não deixava que os diretores tirassem a concentração do grupo. “Tudo o que acontece de bom ou ruim eu converso com os jogadores, inclusive minhas divergências profissionais e de caráter com o Moraes”, disse Paulo Autuori à revista Placar, em entrevista publicada na edição 1131, em setembro de 1997.

Dodô fez cinco gols no Cruzeiro em 1997 e quase explodiu de vez o ambiente do clube mineiro.

 

 

E a situação começou a ficar ainda mais tensa após a surra que o Cruzeiro levou em pleno Mineirão diante do São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro, no dia 16 de julho de 1997: 5 a 0, com cinco gols de Dodô. Quatro dias depois, nova derrota pelo torneio nacional, dessa vez para o rival Atlético-MG, por 2 a 1. Era um clima muito tenso que o time teria que reverter justamente no próximo compromisso, no dia 23, contra o Colo-Colo-CHI, no primeiro duelo da semifinal. Marcelo Ramos, sempre ele, amenizou o ambiente e garantiu a vitória por 1 a 0 que deu a vantagem do empate ao time para a volta, em Santiago. Lá, outra dose de tensão para os azuis. Basay abriu o placar aos 20’ do primeiro tempo, mas Marcelo Ramos empatou nove minutos depois. Basay, de pênalti, fez mais um no comecinho do segundo tempo e ampliou, de novo de pênalti, aos 11’.

O resultado colocava os chilenos na final. Até que Cleisson aproveitou uma cobrança de falta de Marcelo Ramos para colocar o time brasileiro de novo na briga: 3 a 2. O jogo seguiu elétrico, Elivélton foi expulso, o Cruzeiro se segurou e mais uma vez a decisão foi para os pênaltis. Como num roteiro de filme, Dida foi enorme e defendeu duas cobranças dos rivais, os cruzeirenses foram impecáveis em seus chutes e o time brasileiro venceu por 4 a 1, garantindo uma improvável vaga na final e mantendo a sina de carrasco do Colo-Colo nos últimos anos. No final do jogo, a torcida e os jogadores do time chileno, inconformados, começaram a atacar os brasileiros com garrafas e objetos. No caminho até o túnel do estádio, os azuis foram cercados e uma pancadaria começou, com Donizete Oliveira, Fabinho, Da Silva e o treinador de goleiros Ronaldo os principais agredidos pelos chilenos.

 

“Quando o jogo acabou e passávamos em frente ao vestiário deles, uns dez jogadores partiram para a briga. Pegaram o Donizete e derrubaram o Da Silva. A sorte é que o Ronaldo é forte, e conseguimos tirá-los do bolo.”Fabinho, volante do Cruzeiro, em entrevista à Folha de S. Paulo, 1º de agosto de 1997.

 

Cleisson em ação contra o Colo-Colo. Foto: Arquivo / EM.

 

 

O curioso é que toda essa aventura que o Cruzeiro passou não teve a cobertura merecida pela imprensa. Mesmo sem nenhum outro time brasileiro naquela fase semifinal, o jogo só foi transmitido nas emissoras de TV de Minas Gerais. E, com o Cruzeiro na decisão, a transmissão nem sequer aconteceria em São Paulo. Também à Folha, Dida comentou sobre essa falta de confiança no time mineiro. “O nosso jogo foi transmitido apenas para Belo Horizonte. Isso mostra que poucos confiavam que nos classificaríamos para a final. Nós nos classificamos, e com muitas dificuldades, inclusive no nosso próprio país”. Mesmo com tantos percalços e seis derrotas ao longo da competição, o Cruzeiro estava na final após 20 anos desde sua última disputa decisiva, lá em 1977, contra o Boca Juniors. E iria enfrentar um velho conhecido da fase de grupos: o Sporting Cristal-PER, outra surpresa, mas perigoso e que havia eliminado pelo caminho o Vélez Sarsfield-ARG e o Racing-ARG.

 

O predestinado e a taça para a eternidade

Após a expulsão contra o Colo-Colo, Elivélton ouviu do diretor Moraes que “ele não deveria ter sido só expulso, mas também preso”. O atacante engoliu a seco aquela declaração e não deu mais ouvidos ao pseudo sabichão. Ele não jogaria a primeira partida da final, mas guardaria sua resposta, em campo, para o Mineirão. No primeiro jogo, em Lima, o Cruzeiro segurou um empate sem gols contra os peruanos, mas viu Cleisson ser expulso e perder a partida da volta. Autuori colocou Donizete no lugar do polivalente jogador e escalou Elivélton ao lado de Marcelo Ramos no ataque. No dia 13 de agosto, mais de 100 mil pessoas (95.472 pagantes) lotaram o Mineirão para a grande final. Ali, diante de um cenário mágico, o Cruzeiro precisava daquele título. Era a chance de provar aos críticos e à própria diretoria que aquele time era talvez o mais aguerrido e copeiro da história do clube. Nenhum tinha tanta raça. Nenhum tinha tanta união. O jogo, como não poderia deixar de ser, foi dramático.

O Sporting tinha suas virtudes e não estava na final por acaso. Queria se transformar no primeiro clube do Peru campeão da América. Após um primeiro tempo sem gols, os peruanos emudeceram o Mineirão quando Solano bateu falta com veneno, Dida defendeu e, no rebote, salvou com as pernas um chute à queima roupa do brasileiro Julinho. Foi mais um milagre para a imensa coleção do goleiro naquela competição. E uma certeza: a sorte ainda estava com o Cruzeiro. Até que, aos 30’, um escanteio cobrado pelo Cruzeiro foi afastado pela zaga peruana. No rebote, lá estava Elivélton, na entrada da área. O chute foi com a perna direita, que não era a boa. Saiu mascado. A bola foi para o gol sem força, mansa. O goleiro Balerio não segurou e a redonda foi parar no fundo do véu de noiva que era o gol do Mineirão. A torcida enlouqueceu. Assim como Elivélton, que saiu correndo em uma frenesi que contagiou todos os cruzeirenses espalhados por Belo Horizonte, Minas e pelo Brasil.

Elivélton corre pro abraço: Cruzeiro bicampeão da América! Foto: EM.

 

 
Gottardo ergue a taça de 1997.

 

 

 

Dida com a medalha no peito: mesmo campeão, ele mantinha o ar sério que o consagrou na carreira. Foto: Alexandre Battibugli / Placar.

 

 
O time que bateu o Cristal na decisão: força no meio de campo e disciplina tática foram essenciais para o título.

 

 

Não precisava mais. O 1 a 0 era a representação máxima de um título sofrido, conquistado na base da superação, da garra e da competitividade. Ao apito do árbitro, estava sacramentada a campanha da volta por cima. Nunca um campeão havia perdido tantos jogos. Em 14 partidas, foram sete vitórias, um empate e seis derrotas, com 15 gols marcados e 12 sofridos, aproveitamento de apenas 52%. Marcelo Ramos foi o artilheiro do time com quatro gols – isso mesmo tendo disputado apenas o mata-mata. Campanha feia? Que nada! Se tratando de Libertadores, o que mais importava era o troféu erguido por Wilson Gottardo, que sepultou o fim do jejum de 21 anos sem títulos na Liberta e que coroou o mais copeiro de todos os Cruzeiros. O mais surpreendente. O mais unido. E o que mais soube superar as adversidades.

 

Recorde de público e novas mudanças

Cleisson no dia do recorde de público da história do Mineirão.

 

 

Muito antes da conquista da América, o Cruzeiro conseguiu o título do Campeonato Mineiro mesmo jogando boa parte do torneio com o time reserva. Na final, a equipe enfrentou o surpreendente Villa Nova, que havia superado o Galo e evitado a final clássica do torneio. No primeiro jogo, triunfo dos alvirrubros por 2 a 1. Mas, na volta, o Cruzeiro foi campeão com a vitória por 1 a 0 em um dia histórico: 132.834 pessoas estabeleceram o recorde de público da história do Mineirão, muito graças à ação promovida pela federação de conceder gratuidade às mulheres e crianças. Com isso, foram pouco mais de 74 mil pagantes e o restante não-pagante compôs a imensidão de gente nas arquibancadas do gigante da Pampulha. O gol do título, claro, foi de Marcelo Ramos.

Voltando ao mês de agosto, o Cruzeiro viu Paulo Autuori deixar o comando do time – por causa das intrigas com a diretoria – e Palhinha ir jogar no futebol espanhol. Por causa da intensidade do primeiro semestre e sem a dupla, o clube foi péssimo no Campeonato Brasileiro e terminou em uma esquecível 20ª colocação. Sob o comando de Nelsinho Baptista, o time azul ainda disputou a Supercopa da Libertadores. Mas, ao contrário dos outros anos, não se classificou para a final e terminou na segunda colocação em seu grupo.

 

Bagunça causa fiasco no Japão

Gonçalves, Donizete e Bebeto: Cruzeiro tentou “alugar” jogadores para o Mundial. Resultado: ganhou de brinde um vice… Foto: Jorge Gontijo / EM.

 

 

Os fracassos tiveram que ser rapidamente esquecidos para a disputa do Mundial Interclubes, em dezembro, no Japão. O time teria pela frente o Borussia Dortmund-ALE, campeão da Liga dos Campeões da UEFA e com grandes nomes como Sammer, Möller, Reuter, Paulo Sousa e Heinrich. A exemplo do que fizera o Grêmio lá em 1983 (leia mais clicando aqui), o Cruzeiro decidiu contratar (ou melhor, “alugar”) três reforços de renome só para a disputa do Mundial: o zagueiro Gonçalves e os atacantes Donizete e Bebeto. O problema é que o time não vinha bem e o clima pré-Mundial não era dos melhores.

Nelsinho Baptista não conseguiu manter a competitividade demonstrada no primeiro semestre, a campanha no Brasileiro foi terrível e, para agregar os reforços ao time, Baptista teve a audácia de deixar Marcelo Ramos no banco, Gottardo nem viajou ao Japão e Gonçalves assumiu a titularidade na zaga. O curioso é que o próprio Gonçalves pensou que iria reeditar a dupla de zaga do Botafogo de 1995 ao lado do capitão da conquista da Liberta, mas viu o ex-companheiro ficar de fora. E, para não deixar o herói Elivélton no banco, Baptista improvisou o atacante na lateral-esquerda (!). Ou seja: Nonato pagou o preço e ficou no banco (!!). Percebe a bagunça? Adivinhe o resultado: derrota por 2 a 0 para os alemães, com os dois gols originados justamente pelo lado esquerdo. O volante Ricardinho comentou sobre aquela péssima preparação:

 

“Eu acho que naquela transição de mudança de treinador o time se perdeu um pouco. Não sei se foi pela saída do treinador, se foi pela chegada do novo treinador, se foi a saída de algum jogador. Se a gente conseguisse manter aquela base da Libertadores e se o Autuori tivesse continuado, a possibilidade (de título) seria maior. Teríamos um time mais entrosado, um grupo na mão. E os jogadores que vieram com certeza iriam agregar e ajudar. Mas o clima de incertezas nos fez perder a confiança. A gente tinha um grupo bom.

Mas essa transição foi mal conduzida. Não conseguimos nos ajustar rápido, fomos mal no Brasileiro e para recuperar rápido no Mundial é difícil. E nisso tem muitas coisas: pressão da imprensa, cobrança por reforços, presidente tem que arrumar o time logo. Várias situações que não deram certo para que a gente chegasse bem no Mundial. Se chegasse bem, poderia ter ganhado, pois o Borussia não estava bem na época”. – Ricardinho,  em entrevista ao MG Superesportes, 13 de agosto de 2017

 

O resultado significou o segundo vice-campeonato do clube na competição. Em 1976, o Cruzeiro também foi derrotado por um clube alemão, o Bayern München de Beckenbauer.

 

 

Ano de quases

Após a bagunça no final de 1997, o Cruzeiro foi totalmente outro em 1998. Levir Culpi voltou para apagar de vez a péssima passagem de Nelsinho no comando técnico e a diretoria trouxe reforços pontuais como Gilberto, Alex Alves, Müller e Valdo, além da ascensão de Fábio Júnior no ataque. Com o elenco entrosado mais uma vez, o time faturou o Campeonato Mineiro com show de Fábio Júnior no primeiro jogo da final contra o Galo, na qual ele marcou os três gols da vitória por 3 a 2 no Mineirão. A equipe ainda fez uma ótima campanha na Copa do Brasil, despachou Amapá, Corinthians, Vitória e Vasco e chegou a mais uma decisão, de novo contra o Palmeiras. No entanto, a equipe não conseguiu bater o time de Felipão e perdeu a finalíssima por 2 a 0 no Morumbi. Na Copa Libertadores, o time entrou já na fase de mata-mata por ser o detentor do título, mas caiu nas oitavas de final para o futuro campeão, o Vasco da Gama.

Alex Alves e uma de suas comemorações de capoeira. Foto: Humberto Nicoline / Jornal Hoje em Dia.

 

 

No segundo semestre, o torcedor viu seu time seguir competitivo, realizar grandes jogos, mas amargar outros dois vices. Primeiro, no Campeonato Brasileiro, a equipe se classificou para o mata-mata na 7ª colocação, eliminou o algoz Palmeiras nas quartas com duas vitórias e uma derrota e passou pela Portuguesa nas semis com mais duas vitórias e uma derrota. Na decisão, os azuis enfrentaram o Corinthians, adversário que vinha de eliminações para os mineiros em várias competições nos últimos anos. Porém, o Timão deu o troco naquele ano e faturou o título após segurar dois empates e vencer o terceiro duelo por 2 a 0, no Morumbi.

 

Uma das várias escalações de 1998. Em pé: Dida, Gottardo, Gustavo, Marcelo Djian e Gilberto. Agachados: Müller, Fábio Júnior, Ricardinho, Djair, Valdir e Valdo.

 

 

Na Copa Mercosul, outra vez o Cruzeiro mostrou sua sina copeira e despachou rivais poderosos até a final. Pelo caminho, destaque para as goleadas de 5 a 1 sobre o São Paulo, de 5 a 0 sobre o freguês Colo-Colo e os dois triunfos sobre o River Plate-ARG, nas quartas, tanto na Argentina (2 a 1) quanto em Minas (2 a 0). Mas, na decisão, outra vez o Palmeiras foi algoz e derrotou os mineiros. O ano de vices foi bem amargo, mas comprovou que a boa fase estava de volta. Com bom futebol, grande elenco e no embalo dos gols de Fábio Júnior, Alex Alves e Marcelo Ramos, o Cruzeiro foi um dos melhores times do Brasil na temporada, ao lado do Vasco, do Palmeiras e do Corinthians.

 

Mais taças para a coleção!

Valdo (à esq.) deu show no 5 a 1 sobre o Galo em 1999.

 

 

Em 1999, o Cruzeiro não tinha mais Dida, mas manteve boa parte do elenco e o técnico Levir Culpi. No primeiro semestre, destaque para o título da Copa dos Campeões Mineiros, levantada com grandes vitórias sobre o rival Atlético – 3 a 2, 3 a 0 e um histórico 5 a 1 justamente na final, com dois gols de Marcelo Ramos, dois de Valdo e um de Alex Alves. Outra taça conquistada pela equipe foi a Copa Centro-Oeste, disputada em paralelo com a Copa dos Campeões Mineiros – algumas partidas eram válidas por ambas as competições (!), em tempos assombrosos do calendário do futebol nacional. Na final do torneio, o Cruzeiro bateu o Vila Nova, de Goiás, após uma vitória por 3 a 0, uma derrota por 2 a 1 e um empate sem gols no último duelo. Só no Campeonato Mineiro que a equipe não foi bem e acabou de fora da fase final.

O terceiro troféu na temporada foi a Recopa Sul-Americana, que valia pelo ano de 1998, mas foi disputada em setembro de 1999 (outra “obra de arte” da organizadíssima Conmebol…). O adversário do Cruzeiro foi o River Plate-ARG, campeão da Supercopa de 1997. E os argentinos não viram a cor da bola nos dois duelos. No primeiro, em Minas, triunfo brasileiro por 2 a 0 (gols de Müller e Geovanni). Na volta, em Buenos Aires, goleada cruzeirense por 3 a 0, com gols de Gustavo, Marcelo Ramos e Geovanni.

Müller em um dos duelos contra o River, em 1999.

 

 

Veja os gols:

Foi mais um título histórico do clube em cima do tradicional rival portenho. E ainda por cima em pleno estádio Monumental. Cheios de pirraça, os argentinos não deixaram o Cruzeiro dar a volta olímpica no gramado e nem sequer levantar o troféu ali. Eles ligaram o sistema de irrigação do estádio, apagaram as luzes e os azuis só receberam a taça nos vestiários…

 

Hora de pensar em 2000

No âmbito continental, o Cruzeiro ainda fez uma ótima primeira fase na Copa Mercosul, terminou na primeira colocação em um grupo com River Plate, Racing e Palmeiras, enfiou 4 a 0 no Racing em plena Avellaneda, fez 3 a 0 no Palmeiras no duelo em BH, mas… Perdeu de 7 a 3 o primeiro jogo do mata-mata para o mesmo Palmeiras e venceu só por 2 a 0 a volta, resultado que não reverteu o enorme placar agregado adverso. No Brasileiro, o time terminou a primeira fase na vice-liderança, mas caiu no mata-mata para o rival Atlético-MG.

Com altos e baixos semelhantes aos de 1997, o time não agradou a diretoria e Levir Culpi deixou o comando da equipe. Paulo Autuori assumiu em dezembro de 1999, a equipe se reforçou com o lateral-esquerdo argentino Sorín (por quase cinco milhões de dólares), o meia Jackson, o zagueiro Cléber e o atacante Oséas, todos vindos graças à parceria do clube na época com a HMTF (Hicks, Muse, Tate & Furst Incorporated). Com um dos elencos mais caros do país, o clube queria provar que o dinheiro gasto tinha propósito. E nada melhor do que uma competição de tiro curto e que a torcida adorava como a Copa do Brasil para pôr isso em prática. Ou mesmo a recém-criada Copa Sul-Minas.

Pelo torneio nacional, o time começou bem e despachou o Gama (1 a 1 e 4 a 1) e o Paraná Clube (2 a 0), mas acabou perdendo a final do torneio interestadual para o América-MG. A gota d’água veio no final de março, quando Autuori pediu demissão do time após um revés de 4 a 2 para o rival Atlético-MG pelo Campeonato Mineiro. Ainda sem engrenar nem jogar bem e com mais um vice na conta, o Cruzeiro parecia repetir o efeito gangorra de outrora. A diretoria decidiu contratar Marco Aurélio, ex-Ponte Preta, para tentar outra reviravolta. E o desafio do treinador já seria pela 3ª fase da Copa do Brasil, contra o Caxias. Com bons jogadores no caro elenco mineiro, ele tinha o dever de alcançar o mais alto patamar na competição nacional.

 

A volta do apetite

Sorín vibra e a massa explode: argentino foi um dos destaques do time em 2000.

 

 

Com Marco Aurélio, o Cruzeiro viajou até Caxias e bateu o time da casa por 3 a 1, com dois gols de Fábio Júnior e um de Geovanni. No Estadual, a equipe parou de empatar jogos bobos e emendou quatro vitórias seguidas e seguiu firme rumo à final. O título não veio – ficou com o Atlético – mas a melhora no futebol da Raposa foi considerável. Com as atenções voltadas à Copa do Brasil, a equipe recebeu o Caxias para o duelo de volta, no Mineirão, e goleou os gaúchos por 6 a 1, com três gols de Oséas, um de Ricardinho (que vivia uma grande fase goleadora), um de Jackson e um de Fábio Júnior. Nas oitavas de final, a equipe encarou o Atlético-PR – que começava a formar o time que seria campeão brasileiro em 2001 – e conseguiu uma importante vitória em casa por 2 a 1 e arrancou um empate na Arena da Baixada em 2 a 2, com dois gols de Oséas, um deles um golaço:

 

 

Nas quartas, o adversário foi o Botafogo e, no Mineirão, a equipe celeste abriu 3 a 0 ainda no primeiro tempo e praticamente estava com a vaga nas mãos. Mas os alvinegros marcaram dois gols e o placar de 3 a 2 foi um tremendo balde de água fria para a volta, no Rio. Na base da raça e contando com as defesas milagrosas de André, o Cruzeiro segurou o empate sem gols e selou a classificação para a semifinal. O último desafio antes da final foi o Santos. De novo com o primeiro duelo no Mineirão, o time celeste venceu por 2 a 0, com o segundo gol, um petardo de Donizete Oliveira, anotado aos 45’ do segundo tempo.

Na volta, em Santos, a tática dos duelos anteriores foi repetida pelo técnico Marco Aurélio: apostar nos contra-ataques e marcação acirrada do meio para trás, além de troca de passes precisa e muita organização. Com isso, logo aos 16’, Geovanni fez boa jogada e cruzou para Ricardinho colocar a bola no fundo do gol alvinegro. O Santos conseguiu o empate ainda no primeiro tempo em um pênalti duvidoso, mas a torcida vaiava constantemente o time da casa e não acreditava na reviravolta. No segundo tempo, Oséas fez o segundo do Cruzeiro e se tornou na época o maior artilheiro em uma só edição de Copa do Brasil na história com dez gols, marca que só seria superada quatro vezes nos anos seguintes. Aos 32’, o Santos empatou, mas era tarde: o placar de 2 a 2 colocou o Cruzeiro em mais uma final de Copa do Brasil, a 3ª em cinco anos.

 

Emoção em azul

O time da final de 2000: Em pé: Sorín, André, Cléber, Donizete Oliveira, Cris e Marcos Paulo. Agachados: Geovanni, Jackson, Rodrigo, Ricardinho e Oséas. Foto: Hoje em Dia.

 

 

Diferente das outras três etapas anteriores, o Cruzeiro iria disputar o último jogo em casa na grande final. Esse fator encheu a torcida de entusiasmo, que até então era bem tímida nos duelos do time em casa naquela Copa do Brasil – o maior público foi contra o Atlético-PR, nas oitavas de final, com pouco mais de oito mil pessoas. Mas o adversário celeste seria o perigoso São Paulo, treinado pelo velho conhecido Levir Culpi e com ótimos jogadores como Rogério Ceni, Belletti, Fábio Aurélio, Raí, Marcelinho Paraíba e França. O esquadrão paulista estava em melhor fase, sedento por um título inédito e pela vaga na Copa Libertadores, competição que o clube do Morumbi não disputava desde 1994. No primeiro jogo, em SP, o Cruzeiro repetiu a tática manjada e segurou um empate sem gols. Na volta, era só ganhar. Mas havia o risco de o São Paulo poder empatar com gols. Ou seja: o time paulista tinha uma ligeira vantagem diante dos mineiros.

Na volta, mais de 85 mil pessoas encheram o Mineirão para a decisão. Justamente naquele dia, o técnico Marco Aurélio ficou sabendo que não iria continuar no comando do time, pois a diretoria havia fechado com o técnico Felipão. Que momento para dar uma notícia daquelas! Felizmente para a Raposa, tal notícia não surtiu efeito negativo no elenco e o time entrou concentrado e focado para a final. Quando a bola rolou, o torcedor viu um duelo quente, pegado, disputado. Após uma primeira etapa sem gols, o São Paulo calou o Mineirão quando Marcelinho cobrou falta com perfeição, encobriu o goleiro André e fez 1 a 0. Só restava a vitória ao Cruzeiro, que vivia um cenário parecido com o de 1996: sair atrás do placar e ter que correr atrás do resultado. O técnico Marco Aurélio tirou dois defensores, colocou um meia e um atacante e mandou seu time para o ataque. Aos 35’, a audácia foi premiada quando Müller engatilhou um ataque rápido, foi para a área, tabelou com Fábio Júnior e foi o garçom para o carequinha empatar: 1 a 1.

Os times em campo: o São Paulo tinha mais talentos individuais, mas o Cruzeiro conseguiu controlar os nervos e virar um jogo quase perdido.

 

 

O relógio não parava de correr para o cruzeirense, que ainda precisava ver seu time marcar mais um gol. Até que, aos 43’, Rogério Pinheiro teve que derrubar Geovanni perto da área tricolor após bobeada de Axel. Falta. E cartão vermelho para o defensor. Era o último lance do jogo. Na cobrança, Geovanni. O atacante atendeu à recomendação do experiente Müller para bater forte, sem bola colocada. Na ponta da barreira, Donizete estava pronto para dar um empurrãozinho maroto que pudesse desestabilizar a barreira e abrir alguma brecha para a bola passar. E foi exatamente isso que aconteceu. Geovanni bateu rasteiro, a barreira abriu e a bola foi parar no fundo do gol: 2 a 1.

Foto: EM.

 

 

No desespero, o São Paulo ainda tentou o empate com Marcelinho, mas André, com uma defesa impressionante, evitou o gol. Para completar, Cléber tirou a sobra em cima da linha com um chutão e sacramentou o título cruzeirense. Era a terceira Copa do Brasil azul. De novo, com emoção à flor da pele. Mas, daquela vez, com o jogo mais emocionante de todas as conquistas nacionais do clube. Um jogo tão marcante, tão apoteótico, que tem um capítulo especial aqui no Imortais (leia clicando aqui!). Enfim, o Cruzeiro levantava uma taça para apagar as decepções de 1998. O troféu que faltava para encerrar um final de século simplesmente inesquecível para todo e qualquer torcedor celeste. A campanha do tri foi irretocável e invicta: 13 jogos, oito vitórias e cinco empates, com 29 gols marcados e 12 sofridos.

 

À espera de Alex

Após tantos anos de glórias, o Cruzeiro passou por uma breve entressafra, foi burocrático sob o comando de Felipão e só voltou a dominar o cenário brasileiro em 2003. Com Vanderlei Luxemburgo na área técnica e Alex no comando em campo, o time conquistou uma inédita e histórica Tríplice Coroa ao levantar em um único ano o Campeonato Estadual, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro, em uma história que o Imortais já relembrou por aqui. Após a Era Alex, o time perdeu intensidade e o lado copeiro. Em 2009, flertou com o tri da Libertadores, mas não foi páreo para o Estudiantes-ARG de Verón. O fato é que o Cruzeiro dos anos 90 está marcado para sempre como o mais competitivo da história do clube.

Foi uma equipe que se reinventou, que conseguiu aguentar constantes mudanças de técnicos, pressão da diretoria e mesmo assim levantar pelo menos uma taça por ano. Foi, também, o Cruzeiro com mais raça, mais fibra e que mais chegou em finais. Os esquadrões dos anos 60 e 70 foram mais técnicos, artísticos? Sim. Mas até eles teriam um trabalho danado para bater os times de Dida, André, Nonato, Célio Lúcio, Gottardo, Cris, Cléber, Sorín, Ricardinho, Fabinho, Palhinha, Marcelo Ramos, Fábio Júnior, Elivélton, Müller, Geovanni e tantos outros que passaram pela Raposa naqueles anos de ouro. Anos em que era muito fácil torcer para o Copeiro (digo, Cruzeiro) Esporte Clube. Um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

Dida: imagine um dos maiores goleiros do futebol brasileiro e mundial com pouco mais de 23 anos no auge de seus reflexos? Pois é. O torcedor do Cruzeiro teve a sorte de contar com Dida durante quatro inesquecíveis anos. Com uma frieza impressionante, ele foi um dos grandes responsáveis pelos títulos do clube entre 1996 e 1997, principalmente com as atuações de gala na decisão da Copa do Brasil de 1996, contra o Palmeiras, e na trajetória de mata-mata da Libertadores de 1997. Com mais de 300 jogos com a camisa celeste, foi ídolo, ganhou duas Bolas de Prata nos Brasileiros de 1996 e 1998, notabilizou-se em defender pênaltis, chegou à seleção brasileira e virou um dos maiores goleiros do mundo após ir para a Europa e brilhar no Milan. É um dos raros jogadores que possui no currículo títulos da Libertadores e da Liga dos Campeões da UEFA. Leia mais sobre ele clicando aqui.

André: chegou em 1999 ao clube mineiro e manteve a boa fase na meta cruzeirense com grandes atuações e defesas memoráveis. Revelado pelo Internacional, ficou até 2003 e fez parte das grandes conquistas do período. Teve que abandonar o futebol aos 36 anos por causa das seguidas lesões que sofreu na carreira.

Vítor: após colecionar títulos no São Paulo, o lateral continuou a fase pé-quente no Cruzeiro. Muito regular e com boas atuações, foi um dos titulares da equipe entre 1996 e 1998 e fundamental nas conquistas da Copa do Brasil de 1996 e da Libertadores de 1997.

Donizete Amorim: o volante integrou o elenco campeão da Libertadores de 1997 e atuou em cinco jogos na campanha. Podia jogar, também, improvisado na lateral-direita.

Rodrigo: após boa passagem pelo Corinthians, o lateral chegou ao Cruzeiro em 2000 e fez bons jogos na campanha do título da Copa do Brasil daquele ano. Tinha bom passe e apoiava bem o ataque, embora a equipe utilizasse mais o lado esquerdo naquela época por causa da ótima fase do argentino Sorín. Acabou indo para o Sport no ano seguinte.

Gélson Baresi: muito identificado com o clube, foi titular em boa parte dos jogos marcantes da equipe entre 1995 e 1997. Seguro e eficiente, não brincava em serviço e era muito regular. Fez uma boa dupla de zaga com Gottardo na Libertadores. Após o Cruzeiro, jogou por vários outros clubes, mas sem o brilho que teve com a camisa azul.

Marcelo Djian: foi um dos grandes zagueiros de sua época e jogou de 1997 até 2001 na Raposa. Tranquilo e seguro, se antecipava como poucos nas jogadas e desarmava muito bem. Foi um dos destaques do time no ano de 1998, que ficou marcado pelo bom futebol apresentado pela equipe, mas que resultou em poucos títulos. Ganhou uma Bola de Prata em 1998 como um dos melhores zagueiros do campeonato.

Cris: outro grande zagueiro que vestiu a camisa azul, Cris chegou em 1999 e ficou até 2004, período em que conquistou nove títulos e entrou para o rol de grandes ídolos do clube com um futebol eficiente e valente. Dificilmente errava, não dava bobeira, irritava os atacantes com sua precisão nos desarmes e ainda era perigoso nas jogadas aéreas quando ia ao ataque. Após jogar no Cruzeiro, foi brilhar no futebol europeu e virou ídolo no Lyon multicampeão francês.

Wilson Gottardo: o xerife foi o grande capitão do time na reta final da Libertadores de 1997 e deu conta do recado com muita eficiência e experiência, características que ajudaram bastante o time na competição sul-americana. Fez uma notável dupla de zaga ao lado de Gélson Baresi. Deixou o clube em 1999 e se aposentou no Sport no mesmo ano. Sua grande mágoa foi ter ficado de fora do Mundial Interclubes por opção do técnico Nelsinho na época. Ele fez bastante falta e o Cruzeiro acabou com o vice. Embora tenha ficado pouco tempo no clube, se identificou bastante com a torcida.

Célio Lúcio: cria do Cruzeiro, começou sua carreira no time titular no começo dos anos 90 e participou das melhores fases daquele Copeiro Esporte Clube. Conquistou oito títulos, entre eles duas Copas do Brasil e a Libertadores. Disputou mais de 250 jogos com a camisa celeste e foi outro que se identificou demais com a torcida por sua lealdade, educação e compromisso com o Cruzeiro. Trabalha como auxiliar das categorias de base do clube.

João Carlos: zagueiro muito forte e com boa presença física, compensava a pouca técnica com muita garra. Fez parte do elenco cruzeirense entre 1996 e 1999 e foi titular em vários jogos. Deixou o clube em 1999, retornou em 2001, mas não repetiu o bom desempenho dos anos anteriores.

Cléber: o experiente zagueiro chegou em 2000 e rapidamente virou titular do time de Marco Aurélio. Fez uma grande Copa do Brasil e foi um dos destaques do time na histórica conquista invicta. Na decisão contra o São Paulo, tirou uma bola em cima da linha que poderia mudar o desfecho do jogo. Foi jogar no Santos em 2001 e encerrou a carreira 2006, no São Caetano.

Nonato: incendiava a equipe e a torcida, não desafinava nunca, era polivalente, líder, técnico e raçudo ao mesmo tempo e foi um dos maiores laterais-esquerdos da história do clube. Jogou de 1991 até 1997 na equipe mineira e participou ativamente dos principais títulos celestes no período, além de ter sido capitão na histórica conquista da Copa do Brasil de 1996. Conquistou 11 títulos no clube e virou ídolo da torcida. Disputou mais de 390 jogos com a camisa do Cruzeiro.

Gilberto: chegou em 1998 e podia atuar tanto na lateral quanto como meia. Muito técnico e com bons passes e cruzamentos, fez bons jogos, mas acabou ficando pouco tempo na Raposa e foi para o futebol europeu já em 1999.

Sorín: incansável, técnico, raçudo e um ídolo incontestável a ponto de ser eleito, em 2006, o melhor lateral-esquerdo do Cruzeiro em todos os tempos por torcedores ilustres em eleição da revista Placar. O argentino teve curtas passagens pelo clube, entre 2000 e 2002, em 2004 e em 2008-2009, mas em todas foi um craque e um ícone em sua posição. É um dos estrangeiros com mais jogos na história do Cruzeiro (127 partidas).

Donizete Oliveira: o meio-campista jogou de 1996 até 1997 no Cruzeiro e foi titular em alguns jogos da equipe no período, em especial na Copa Libertadores. Jogava mais recuado, dando espaço para Ricardinho ajudar o ataque. Deixou a equipe em 1998 para atuar no Vitória e retornou em 1999.

Uéslei: o meio-campista foi titular em oito dos dez jogos do Cruzeiro na campanha do título da Copa do Brasil de 1996. Atuava um pouco mais avançado, por isso, marcou três gols na caminhada vencedora. Só ficou de fora da final contra o Palmeiras por desentendimento com o técnico Levir Culpi.

Cleisson: foi um dos principais jogadores da equipe no começo dos anos 90 e um jogador muito versátil, podendo atuar como meia ou atacante. Levantou oito troféus com a Raposa e foi titular em grande parte das campanhas dos títulos da Copa do Brasil de 1996 e da Libertadores de 1997. Deixou a equipe para atuar no Flamengo em 1998.

Djair: volante com passagens pelo futebol carioca e pela seleção brasileira, Djair chegou em 1998 ao Cruzeiro e foi titular em vários jogos da equipe nas boas campanhas do time naquele ano. Jogava mais recuado e era muito bom na marcação. Ficou até 1999 na Raposa.

Fabinho: volante muito aguerrido e com grande disciplina tática, foi um dos mais queridos da torcida naquela época e o chamado “carregador de piano” do time no meio de campo. Muito forte na marcação, Fabinho dava condições para o companheiro Ricardinho ficar mais solto nas investidas ao ataque. Fez um gol salvador na partida contra o Grêmio no mata-mata da Libertadores de 1997.

Marcos Paulo: cria das bases, jogou no Cruzeiro de 1996 até 2001, mas só passou a ter mais chances na equipe titular a partir de 1999. Fez uma boa Copa do Brasil em 2000 e foi titular do time na campanha do título invicto. Em 2001, foi jogar no futebol italiano.

Alex Alves: o atacante que havia brilhado na Portuguesa de 1996 foi para o Cruzeiro em 1998 e viveu talvez a melhor fase da carreira. Seus gols, sempre seguidos de comemorações com golpes de capoeira, marcaram para sempre a memória do torcedor. Com explosão e perigoso dentro da área, foi um terror para as defesas adversárias nas campanhas cruzeirenses em 1998 e 1999, este seu mais prolífico ano, quando foi artilheiro do Cruzeiro no Brasileiro com 22 gols e vice-artilheiro geral da competição. Deixou a equipe no final daquela temporada para jogar no futebol alemão. Disputou 114 jogos e marcou 55 gols com a camisa azul. Faleceu precocemente em 2012, vítima de uma rara doença na medula óssea.

Ricardinho: pensar no Cruzeiro dos anos 90 é pensar em Ricardinho. Ele foi o que mais correu, o que mais jogou, o que mais marcou e o principal símbolo daquela equipe. Podia jogar como volante mais recuado, meio-campista e até como meia se fosse necessário. Incansável, percorria todos os setores do campo e era a principal engrenagem de todos os times campeões entre 1996 e 2000. Com boa visão de jogo e excelente na marcação, Ricardinho foi revelado pelo próprio Cruzeiro em 1994 e foi construindo, ano a ano, sua história de ouro com a camisa azul. É o recordista em taças na história do Cruzeiro: 15 troféus. Jogou de 1994 até 2002 em BH e só depois desse período que foi atuar no exterior, mais precisamente no futebol japonês. Ganhou duas Bolas de Prata (1996 e 2000), disputou 441 jogos e marcou quase 50 gols pelo clube. É o 11º na lista dos atletas que mais atuaram pelo Cruzeiro em toda história.

Palhinha: com uma visão de jogo privilegiada e habilidade com a bola nos pés, o meia/atacante chegou para provar que não havia sido um mero coadjuvante no São Paulo de Telê. Ele entendia, sim, muito de futebol. Com ele em campo, o Cruzeiro ganhava em qualidade técnica e construía jogadas muito bem trabalhadas no ataque. Palhinha foi fundamental nos títulos da Copa do Brasil de 1996 e da Libertadores de 1997. O próprio jogador considerou aquela conquista continental o maior título de sua carreira.   

Valdo: chegou veterano ao Cruzeiro (36 anos), mas provou que ainda tinha muito futebol para apresentar. Com a saída de Palhinha, assumiu a posição de meia-atacante do time e fez uma grande temporada em 1998 na campanha do vice-campeonato brasileiro da equipe. Prova disso foi a Bola de Prata que ganhou como um dos melhores jogadores da competição. Ficou no Cruzeiro até 2000. Encerrou a carreira com 40 anos, no Botafogo.

Jackson: viveu grandes momentos com a camisa do Sport em 1998 e chegou ao Cruzeiro em 2000. Fez bons jogos na campanha do título da Copa do Brasil e foi titular em boa parte daquela jornada.

Marcelo Ramos: foram 365 jogos e 162 gols com a camisa do Cruzeiro na carreira – é o 6º maior artilheiro da história do clube. Matador nato, foi carrasco do Palmeiras em 1996 e xodó da torcida. Quando voltou ao clube em 1997, o mais fanático cruzeirense tinha certeza: a Libertadores estava no papo. E, de fato, foi assim mesmo. Foram três passagens pela Raposa (1995-1996, 1997-2000 e 2001-2003), e em todas o atacante levantou títulos. O Flecha Azul é um dos maiores colecionadores de taças com a camisa do Cruzeiro e foi um dos maiores artilheiros do futebol brasileiro nos anos 90. Ídolo incontestável do torcedor.

Geovanni: cria do Cruzeiro, o meia/atacante participou de alguns jogos do time entre 1997-1998, foi emprestado ao América-MG e retornou para ser um dos principais nomes do time na campanha do título da Copa do Brasil de 2000. O gol na decisão contra o São Paulo está certamente no rol dos gols mais importantes e épicos de toda a história do Cruzeiro. Curiosamente, depois que deixou a equipe, em 2001, nunca mais repetiu o futebol rápido, inteligente e habilidoso que demonstrou pelos azuis entre 1997 e 2001.

Fábio Júnior: viveu seu melhor momento em 1998, quando destroçou o Atlético-MG na final do Campeonato Mineiro daquele ano e ganhou a Bola de Prata como um dos melhores atacantes do Brasileiro daquele ano e um dos principais artilheiros com 18 gols (atrás apenas de Viola, que marcou 21). Chegou até a ser convocado para a Seleção Brasileira e jogou no futebol europeu em 1999. Voltou para ser campeão da Copa do Brasil em 2000, com um gol na final.

Elivélton: o habilidoso atacante foi um dos destaques na conquista da Libertadores de 1997. Foram apenas dois anos na Raposa (1997 e 1998), mas o suficiente para ganhar a idolatria da torcida por causa do gol do título na final contra o Sporting Cristal. Além disso, fez grandes partidas ao lado de Marcelo Ramos.

Roberto Gaúcho: com duas passagens pelo Cruzeiro (1992-1995 e 1995-1997), o atacante ficou marcado por adorar decisões e partidas importantes. Crescia demais em ocasiões como essas e deixou sua marca nas finais da Supercopa da Libertadores de 1992 (fez dois gols), da Copa do Brasil de 1993 (fez um gol) e da Copa do Brasil de 1996 (fez um gol). Muito querido pelos cruzeirenses e um dos ícones do time naqueles anos 90.

Müller: o veterano atacante chegou em 1998 ao Cruzeiro e continuou a apresentar o bom futebol que já havia mostrado no Palmeiras de 1996 e no Santos de 1997. Com sua notável visão de jogo e fundamental nas tabelas e jogadas de ataque, foi um dos grandes nomes do time. Em 2000, brilhou também na conquista da Copa do Brasil.

Oséas: após intensos e brilhantes anos pelo Palmeiras, provou ainda estar com o faro de gol apurado e foi o grande artilheiro do time e da Copa do Brasil de 2000. Perigoso dentro e fora da área, foi a grande referência ofensiva do time de Marco Aurélio. Ficou até 2001 no clube e foi jogar no Santos em 2002.

Levir Culpi, Oscar Bernardi, Paulo Autuori, Nelsinho Baptista e Marco Aurélio (Técnicos): Bernardi e Nelsinho não conseguiram fazer o Cruzeiro jogar. Levir, Autuori e Marco Aurélio que foram os grandes responsáveis por fazer do Cruzeiro 1996-2000 o grande time copeiro da história azul. Com Levir, o Cruzeiro foi um time unido, determinado, muito competitivo e vencedor, capaz de enfrentar de igual para igual qualquer equipe tanto em sua primeira passagem quando na segunda. Com Autuori, a equipe conseguiu superar situações adversas e quase insustentáveis para alcançar a glória na Libertadores. E, com Marco Aurélio, o Cruzeiro fez valer a máxima de uma competição de mata-mata ao construir os resultados que precisava em casa e empatar fora. A tática deu mais do que certo e o time foi campeão invicto. Tais trabalhos tiveram erros e acertos, claro, não foi possível ganhar tudo, mas ambos cravaram seus nomes na história do Cruzeiro.

Algumas das “modestas taças” do Cruzeiro: boa parte foi conquistada nos anos 90…
 

 


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5 Comentários

  1. o Botafogo campeão brasileiro de 1995(apesar dos erros de arbitragem na finalíssima contra o Santos no Pacaembu)será imortalizado aqui no site em breve?abraços e espero q me responda

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Craque Imortal – Raymond Kopa