Grande feito: Campeã da Copa América de 1979.
Time-base: Roberto Fernández; Juan Espínola, Roberto Paredes, Flaminio Sosa e Juan Torales; Luis Ernesto Torres (Hugo Talavera), Carlos Kiese e Romerito; Evaristo Isasi (Amado Pérez), Milcíades Morel (Roberto Cabañas) e Eugenio Morel (Osvaldo Aquino). Técnico: Ranulfo Miranda.
“América Albirroja”
Por Leandro Stein
Em 1979, o futebol paraguaio viveu o ano mais vitorioso de sua história. Os guaranís conseguiram conquistar a América de duas maneiras diferentes em pouco mais de quatro meses. O primeiro a registrar a façanha foi o Olimpia. Se hoje em dia os franjeados são vistos como uma potência adormecida além das fronteiras, naquela época eram tratados como azarões. Ainda assim, foram capazes de faturar o inédito título da Libertadores. Sob as ordens do mítico Luis Cubilla, deram a volta olímpica dentro de La Bombonera e quebraram a hegemonia do trio de ferro Argentina-Brasil-Uruguai, que reinaram sozinhos na competição por quase duas décadas.
A epopeia do Olimpia, porém, teria outros desdobramentos e o clube também seria base da seleção paraguaia que conquistou a Copa América, a segunda de sua história, rompendo um jejum que durava 26 anos. Além dos franjeados, a Albirroja contava com outros nomes famosos do futebol guaraní, que na época apenas despontavam – ídolos da estirpe de Gato Fernández, Roberto Cabañas e Romerito. A equipe foi capaz de desbancar Uruguai e Brasil, antes da final conquistada diante do Chile, em dezembro de 1979
Cabe dizer que, em tempos tenebrosos na América do Sul, os feitos dos paraguaios tiveram seu uso político. O ditador Alfredo Stroessner, no poder a partir de 1954, se aproveitou da fama internacional do futebol para abafar as violações ocorridas no país. Ao mesmo tempo, aquelas conquistas deram um fio de alento a muitas pessoas que sofriam naquele período. O orgulho pelas conquistas, ao menos, dura bem mais que seu sujo uso.
Sob os louros do Decano
O Olimpia era um veterano da Libertadores, mas ainda não havia dado um passo além na disputa. Foram 13 participações até a conquista de 1979, mas geralmente o time fazia papel de figurante. As melhores campanhas aconteceram nas duas primeiras edições, quando os poucos jogos encurtavam o caminho. Pentacampeões paraguaios, os franjeados alcançaram a decisão de 1960 após entrarem direto nas semifinais e eliminarem o forte time do Millonarios. Caíram na decisão para o histórico Peñarol, que seria o seu carrasco também nas semifinais de 1961, quando os guaranís derrubaram o Colo-Colo na etapa anterior.
A partir disso, o Olimpia encadeou campanhas modestas na Libertadores. No máximo, alcançou as quartas de final em 1969. Em tempos nos quais o Cerro Porteño era mais vitorioso, os alvinegros quase sempre saíam na primeira fase. Uma realidade que começou a mudar a partir de 1978, quando um dos maiores esquadrões da história dos franjeados passou a ser formado. O título do Campeonato Paraguaio iniciou uma hegemonia inédita no país, rendendo o hexacampeonato. E não demorou a esse domínio se refletir no resto da América.
Após superar os percalços pelo caminho, o Olimpia alcançou a final da Libertadores de 1979 e enfrentou o temido Boca Juniors, bicampeão em 1977 e 1978 e querendo o tri naquele ano. A primeira partida aconteceu no Defensores del Chaco. E o Olimpia não jogava apenas por si. Segundo o técnico Luis Cubilla, o Paraguai parou no intuito de acompanhar o time e empurrar a vitória inédita dos compatriotas na competição continental, inclusive muitos rivais. Até então, o título da Libertadores era restrito apenas a argentinos, brasileiros e uruguaios. As arquibancadas estavam abarrotadas por 60 mil torcedores. Motivação a mais para os olimpistas demonstrarem que não eram meras “zebras” contra o poderoso Boca Juniors.
Logo aos dois minutos, Osvaldo Aquino abriu o placar ao Olimpia. Villalba chutou e a bola bateu no atacante. Os jogadores do Boca Juniors pararam e reclamaram de um toque de mão, após o chute explodir na barriga do atacante. O árbitro chileno Gastón Castro não marcou e o paraguaio ficou livre para definir. Já aos 27 minutos, o uruguaio Miguel Ángel Piazza anotou o segundo. O defensor cobrou uma falta de longe e o míssil rasante veio quicando no campo. O morrinho artilheiro fez a diferença e Gatti aceitou o frango. O triunfo por 2 a 0 dava uma excelente vantagem aos olimpistas, por mais que o saldo de gols nada valesse ao regulamento da Libertadores na época. Uma vitória simples do Boca forçaria o terceiro duelo, no Uruguai.
O intervalo entre as partidas foi tenso. Juan Carlos Lorenzo declarou que seu time perdeu para “mortos de fome”, o que desagradou o Olimpia, sobretudo seu amigo Cubilla. Além disso, surgiu o rumor de que o presidente do Boca Juniors, Alberto J. Armando, tentou subornar Osvaldo Domínguez com US$ 40 mil. Ele pedia que os paraguaios permitissem a vitória xeneize, para que pudessem forçar o jogo-desempate em Montevidéu e ambos os clubes embolsassem o dinheiro da renda. Domínguez teria recusado a oferta. Além do mais, a confiança dos argentinos era tamanha que parte da torcida já havia alugado os ônibus ao terceiro duelo no Centenário. Nunca aconteceria.
O clima na Bombonera era hostil ao Olimpia. O ônibus do clube foi atingido por objetos e o recebimento proporcionado pelos 65 mil presentes intimidava – não só pelos rolos de papel ao Boca, mas também pelos ovos podres e moedas atirados sobre os visitantes. O empate por 0 a 0, entretanto, premiou a valentia dos paraguaios. Logo aos dois minutos, o árbitro uruguaio Juan Daniel Cardellino demonstrou seu rigor. Expulsou Rubén Suñé e Roberto Paredes, um jogador de cada lado. Enquanto isso, o Boca Juniors pressionava bastante, em busca do resultado. Coube aos franjeados se defenderem bravamente.
O Boca chegou a carimbar a trave durante o primeiro tempo, com um festival de bolas na área. A zaga do Olimpia rifava. Além disso, Ever Hugo Almeida seria exigido e faria seus milagres para garantir o empate. Já na segunda etapa, mais confusão. Jorge José Benítez e Carlos Kiese também foram expulsos após trocarem empurrões na área. Com nove para cada lado, os xeneizes não tiveram forças para reagir. O apito final marcou a erupção dos alvinegros, diante de uma atônita Bombonera. Pela primeira vez, o Paraguai conquistava a Libertadores.
A festa daquele Olimpia ainda se ampliaria. Os franjeados conquistaram o Mundial Interclubes, na última edição disputada em ida e volta. O Nottingham Forest, vencedor da Copa dos Campeões da Europa, desistiu da competição e abriu vaga ao Malmö, seu vice. A equipe treinada pelo inglês Bob Houghton era famosa por sua capacidade defensiva e tinha diversos jogadores da seleção sueca, com destaque a Robert Prytz, Roland Andersson e Jan Möller. Os celestes sucumbiram aos paraguaios, que venceram os dois jogos.
Em novembro de 1979, Isasi garantiu o triunfo do Olimpia por 1 a 0 na Suécia. Era um feito aos paraguaios, que estavam sem o lesionado Talavera e encararam um frio de quatro graus negativos. Já a volta demorou a acontecer, realizada apenas em março de 1980. Dentro do Defensores del Chaco, os alvinegros derrotaram os europeus por 2 a 1. Solalinde abriu o placar de pênalti, antes que Ingemar Erlandsson igualasse no início do segundo tempo. A 20 minutos do fim, o substituto Miguel Michelagnoli confirmaria o feito.
Naquele momento, os olimpistas já eram treinados por Pedro Cubilla, irmão mais velho de Luis, que havia aceitado uma proposta para dirigir o Newell’s Old Boys. El Negro não só voltaria, como levaria a Libertadores em 1990. E, entre um jogo e outro do Mundial, parte do Olimpia ainda contribuiria a outro feito paraguaio no ano: a conquista da Copa América de 1979.
Pelo fim do jejum
Naqueles tempos, a Copa América não tinha uma sede fixa e sua disputa se desenrolava por meses – como as Eliminatórias. Por isso mesmo, a competição começou quando a Copa Libertadores ainda rolava. O Paraguai ao menos teve uma folga e estreou no torneio em 29 de agosto, um mês após a conquista do Olimpia em Buenos Aires. A Albirroja compunha o Grupo C da competição continental, contra Equador e Uruguai. Apenas o primeiro colocado garantiria sua classificação às semifinais do torneio.
O Olimpia não apenas cedeu os seus campeões à equipe que estreou em Quito contra o Equador. Cinco jogadores alvinegros foram titulares do time de Ranulfo Miranda e fizeram a diferença. Solalinde e Talavera anotaram os gols no triunfo por 2 a 1. E a viagem aos Andes se tornou ainda melhor em 5 de setembro, quando o Uruguai não resistiu à altitude, derrotado pelos equatorianos na segunda partida da chave. O triunfo de La Tri por 2 a 1, com gols anotados logo nos primeiros dez minutos, se provaria essencial à Albirroja.
Os paraguaios demonstravam que podiam sonhar, com uma base reforçada por destaques dos demais clubes paraguaios. Se Ever Hugo Almeida não era levado em consideração no período, a meta estava muito bem protegida pelo jovem Roberto ‘Gato’ Fernández, do Cerro Porteño – o pai de Gatito. Seu companheiro no clube, o volante Aldo Florentín usava a braçadeira de capitão. Juan Torales era outro que despontava, no Sportivo Luqueño, pronto para se tornar um dos esteios da defesa guaraní ao longo da década de 1980. Já na frente, o ponta esquerda Eugenio Morel voava baixo com a camisa do Libertad. E isso porque a Albirroja não pôde contar com os prodígios que disputavam o Mundial de Juniores no Japão. Romerito e Roberto Cabañas eram as pérolas da equipe que alcançou as quartas de final, eliminada nos pênaltis pela URSS.
Ainda em setembro, o Paraguai concluiria a participação na fase de grupos da Copa América. Já com Romerito abrilhantando a meia-cancha, o time derrotou o Equador por 2 a 0 em Assunção, gols de Juvencio Osório e Milcíades Morel. O Uruguai, por sua vez, também venceu os equatorianos em Montevidéu por 2 a 1. Mas, naquele momento, a vantagem nos confrontos decisivos contra os charruas recaía sobre os paraguaios.
A princípio, o empate sem gols no Defensores del Chaco não foi um resultado tão ruim contra o Uruguai. O Paraguai teve um jogador expulso ainda no primeiro tempo e precisou se virar com um a menos durante mais de uma hora de jogo. E a vantagem da igualdade seguia para o encontro em Montevidéu. Eugenio Morel seria o herói naquela partida, que não teve os jogadores do Olimpia. O atacante abriu o placar dentro do Centenário e, depois dos tentos de Denís Millar e Rubén Paz para a Celeste, arrancaria o empate aos 43 do segundo tempo. O placar de 2 a 2 já era suficiente para os guaranís festejarem a classificação.
Superando a amarelinha
E ficava claro que a empreitada não seria tão simples, quando o Paraguai se cruzou com o Brasil nas semifinais. A equipe de Cláudio Coutinho passava por uma renovação, em que Emerson Leão servia como principal referência dentro de campo. Todavia, a lista de “novatos” com menos de 20 partidas pela equipe nacional incluía Falcão, Sócrates, Éder, Edinho e outros nomes respeitados do período. Zico era um sentido desfalque e o andamento das competições nacionais limitava o número de convocados por clube, mas nada que anulasse o favoritismo canarinho. Cinco meses antes, os brasileiros haviam goleado os paraguaios por 6 a 0 em amistoso no Maracanã.
Ranulfo Miranda ainda não era o treinador do Paraguai naquela derrota. E o veterano, convidado pela federação depois disso, sabia os caminhos da Copa América. Artilheiro e capitão do Guaraní de Assunção, o atacante fez parte do elenco vice-campeão sul-americano em 1947, sob as ordens de Manuel Fleitas Solich. Atuaria no El Dorado Colombiano durante os anos 1950, antes de abraçar a carreira de técnico. Seria o condutor da campanha histórica de 1979. Além do mais, a própria base de jogadores era diferente em relação ao amistoso do Maracanã. Garotos ganharam espaço e a afirmação internacional do Olimpia também ajudava.
O duelo contra o Brasil em Assunção possuía seus entraves. O Paraguai estava repleto de desfalques por lesão ou suspensão. Até por isso, precisaria confiar mais na juventude de seu plantel. O mais experimentado Talavera era a grande aposta de Ranulfo Miranda para imprimir o estilo de jogo veloz dos guaranís. Enquanto isso, existia um incentivo a mais na luta pela vitória. O bicho oferecido pelo triunfo era suntuoso à época. Os jogadores albirrojos ganhariam mais que o dobro da premiação paga ao Olimpia pelo título da Libertadores.
Diante de 50 mil torcedores no Defensores del Chaco, o Paraguai conquistou a histórica vitória por 2 a 1. E não foi apenas o Brasil que demorou a engrenar em Assunção. A Albirroja fez um primeiro tempo espetacular, a começar pelo gol que abriu o placar. Eugenio Morel, que infernizava seus marcadores, anotou um dos tentos mais bonitos da história da Copa América. O ponta dominou no peito o cruzamento e emendou uma bicicleta, que tocou no travessão antes de entrar, sem chances a Leão.
Gato Fernández, pouco exigido, até faria uma boa defesa para evitar o empate. Ainda assim, o segundo gol saiu aos 35’, com Talavera. O meia dominou na área e tocou na saída de Leão. Já no segundo tempo, o Brasil melhorou com as substituições de Coutinho. Os visitantes conseguiram descontar aos 35’, num cruzamento de Zé Sérgio que Palhinha completou de cabeça. Todavia, o Paraguai gastaria o tempo nos minutos finais e comemoraria o merecido triunfo. Iriam em vantagem para o reencontro no Maracanã, uma semana depois.
Cláudio Coutinho foi criticado pelo desempenho no Paraguai. E o treinador, que também dirigia o Flamengo na época, recorreu aos seus homens de confiança. Carpegiani e Tita seriam titulares, enquanto Júnior terminou cortado de última hora. Já na frente, Palhinha e Zé Sérgio ganharam a posição na trinca ao lado de Sócrates. Do outro lado, Ranulfo Miranda também possuía boas notícias. Roberto Paredes e Carlos Kiese retornavam à escalação, enquanto Eugenio Morel estava confirmado, apesar de problemas no joelho.
Existia uma certa soberba, como clamavam os jornais, de que a “freguesia paraguaia” pesaria no Maracanã. O que se viu, porém, foi uma história diferente no empate por 2 a 2. O Brasil tinha dificuldades para encaixar seu jogo e encontrar espaços no meio da zaga albirroja. O embate era equilibrado até a Seleção abrir o placar aos 29 minutos, num chute de Falcão no cantinho de Gato Fernández. A resposta guaraní foi imediata, com o empate dois minutos depois. Romerito (que substituíra o lesionado Talavera logo no início da partida) avançou pelo meio e abriu com Eugenio Morel, que fez o cruzamento para o centroavante Milcíades Morel fuzilar.
O Brasil sentiu o baque e dava pinta que perderia no Maracanã. A Canarinho achou o empate aos 16’ do segundo tempo, em pênalti sofrido por Falcão que Sócrates converteu. Mas, novamente, o Paraguai deu o troco instantâneo. Era a noite de Romerito, que fechou a conta aos 19’. O garoto recebeu na entrada da área, deu um corte seco em Marco Antônio e desferiu o tiro cruzado, no canto de Leão. O desespero bateu na Seleção e bastou à Albirroja se segurar na defesa, contando com as boas defesas de Gato Fernández para celebrar o triunfo.
A glória continental
O imenso resultado valeu ao Paraguai a decisão. Também teriam um adversário de peso. O favoritismo na outra chave poderia ser do Peru, mas os campeões anteriores do torneio sucumbiram ao rival Chile. Num jogo de tensões em meio ao centenário da Guerra do Pacífico, a Roja conquistou um triunfo emblemático dentro do Estádio Nacional de Lima, com dois gols de Carlos Caszely. Já em Santiago, o empate sem gols foi suficiente para os chilenos avançarem à decisão. A equipe de Luis Santibáñez também merecia respeito.
A final da Copa América seguia o regulamento da Libertadores na época. Paraguai e Chile se encararam em jogos de ida e volta. Em caso de dois empates ou uma vitória para cada lado, independentemente dos placares, aconteceria uma partida extra em campo neutro. Exatamente o que se desenrolou. O saldo de gols seria levado em consideração apenas se o terceiro jogo permanecesse empatado até a prorrogação – em tempos nos quais não existiam pênaltis.
O Paraguai contou com força máxima para a primeira partida, em Assunção. Romerito ganhou a vaga de Talavera no meio-campo, enquanto Eugenio Morel representava a principal ameaça no ataque. Além disso, cinco jogadores do Olimpia estavam presentes em campo: Paredes, Sosa, Kiese, Torres e Isasi. E os 40 mil presentes no Defensores del Chaco assistiram a uma vitória inapelável da Albirroja, por 3 a 0.
O jogo aéreo fez a diferença ao Paraguai naquela noite. O primeiro gol saiu logo aos 12 minutos, em lance brigado dentro da área. Os chilenos poderiam até reclamar de uma falta sobre o goleiro Mario Osbén, mas o árbitro nada marcou e Romerito aproveitou a sobra. Aos 36’, Milcíades Morel ampliou com uma cabeçada certeira. Já na segunda etapa, Romerito encaminhou a vitória com uma potente cobrança de falta, que sublinhava sua categoria aos 18 anos. O título parecia encaminhado à Albirroja.
Não seria tão simples, entretanto. O dinheiro que tanto motivou o Paraguai na Copa América se tornou também um problema, com jogadores e dirigentes às turras por conta dos valores. Sem a tranquilidade necessária, os guaranís saíram derrotados em sua visita a Santiago. O Chile definiu a vitória por 1 a 0 no Estádio Nacional. O gol saiu logo aos dez minutos, quando Carlos Rivas aproveitou um rebote de Gato Fernández, que não teve culpa no lance. Os chilenos ainda tiveram um gol corretamente anulado no primeiro tempo. Já durante a segunda etapa, os goleiros colecionaram defesas, em especial Mario Osbén, que frustrou os paraguaios com dois milagres. Seria necessário um terceiro jogo.
A definição da taça aconteceu em 11 de dezembro de 1979, no Estádio José Amalfitani, casa do Vélez Sarsfield. Não parecia exatamente uma final continental, diante das arquibancadas esvaziadas. Ainda assim, seis mil paraguaios fizeram a viagem e testemunharam a consagração de sua seleção. Ranulfo Miranda não retrancou o seu time, mas o empate por 0 a 0 terminou por ser suficiente à conquista da taça.
O Paraguai pressionou o Chile. Durante o primeiro tempo, a Albirroja carimbou o travessão e viu um duelo particular de Romerito com o goleiro Osbén, que voltou a acumular grandes defesas. Na segunda etapa, os chilenos equilibrariam a partida e Caszely apareceu mais. Gato Fernández também seria exigido, com uma defesa sensacional para espalmar uma cabeçada que ia em direção ao ângulo. Já na prorrogação, o zero prevaleceu, mesmo com Osbén parando outra vez Romerito, ao espalmar uma bomba à queima-roupa. Apesar do regulamento falho, o título consumado com o empate era totalmente justo à bola que a Albirroja apresentou.
A conquista do Paraguai consagrou uma geração e abriu portas a craques. Os representantes do Olimpia atingiram seu ápice, enquanto outros tantos fariam carreiras sólidas a partir de então. Gato Fernández se tornou intocável na meta paraguaia e Eugenio Morel teria certo sucesso no futebol argentino, por onde já tinha atuado. Já a principal figura seria mesmo Romerito, vendido ao New York Cosmos. Foram três anos na NASL, até retornar à América do Sul e se tornar ídolo do Fluminense.
A seleção paraguaia, em contrapartida, não emplacou seu retorno à Copa do Mundo de imediato. Dois anos depois, o Chile deu o troco ao conquistar o grupo nas Eliminatórias e se classificar ao Mundial de 1982. A Roja ganharia os dois jogos contra os paraguaios, protagonizada pelo atacante Patrício Yáñez. Caberia aos guaranís esperarem até 1986, quando voltaram a superar os chilenos e se garantiram no México. Gato Fernández, Romerito, Cabañas, Isasi e Torales eram os remanescentes do título de sete anos antes. Lideraram uma campanha digna, que terminou com a queda apenas nas oitavas de final, contra a Inglaterra de Lineker.
Desde então, nunca mais a seleção do Paraguai conseguiu reconquistar a América. Nem nos anos 1990, quando uma geração de craques do naipe de Chilavert, Arce e Gamarra alcançou as oitavas de final da Copa do Mundo de 1998, nem no final dos anos 2000, quando a albirroja chegou às quartas de final da Copa de 2010. Um exemplo claro do quão histórico foi a conquista de 1979 daquela seleção imortal.
Os personagens:
Roberto Fernández: com 1,91m de altura e reflexos apurados, El Gato Fernández foi um dos mais talentosos goleiros do futebol sul-americano nas décadas de 1970, 1980 e início dos anos 1990, brilhando pela seleção paraguaia em 78 jogos no período de 1976-1989. Apesar do título continental de 1979, ele só foi vencer grandes títulos por clubes nos anos 1990, quando faturou dois campeonatos nacionais pelo Cerro Porteño e a Copa do Brasil de 1992 pelo Internacional.
Juan Espínola: lateral-direito muito regular, foi um dos principais jogadores da seleção naquele final de anos 1970 e faturou o título paraguaio de 1976 pelo Libertad.
Roberto Paredes: zagueiro muito forte que se impunha fisicamente, Paredes foi outro titular tanto no Olimpia quanto na seleção naquele final de anos 70. Foi essencial nas conquistas de 1979.
Flaminio Sosa: mesmo pequenino, Flaminio Sosa dava conta do recado na zaga do Olimpia e foi outro que se destacou no time durante os anos de ouro da equipe. Foi campeão de tudo com o alvinegro e da Copa América de 1979 com a seleção.
Juan Torales: o lateral-esquerdo podia atuar também como zagueiro e se destacava pela eficiência na marcação e nos passes. Foram 77 jogos pela seleção e grandes atuações, também, por seus clubes, em especial o Libertad. Torales se aposentou aos 39 anos, em 1995.
Luis Ernesto Torres: era um dos cães de guarda do meio de campo do Olimpia e da seleção e ajudava a proteger a zaga. Muito eficiente na marcação. Disputou 26 jogos pela albirroja.
Hugo Talavera: formado em arquitetura, continuava tocando os seus projetos profissionais enquanto se dedicava ao futebol. E seu refinado talento permitia tal vida dupla. Chegou a ser tricampeão nacional com o Cerro Porteño, pouco antes de se transferir aos rivais em 1975. Também transformaria o Olimpia, tornando-se uma liderança, a ponto de usar a braçadeira de capitão. Seja como meia ou atacante, Talavera tinha como objetivo único o gol. O faro artilheiro foi mais do que fundamental para a conquista da Libertadores de 1979 pelo Olimpia, quando o jogador marcou em vários jogos da campanha do título.
Carlos Kiese: jogou de 1975 até 1983 no Olimpia e se transformou em um dos maiores ídolos da história do clube. Meio campista de muito talento e entrega, Kiese ajudava tanto na marcação quanto no apoio ao ataque, marcando alguns gols. Fez bons jogos na trajetória da seleção paraguaia campeã da Copa América de 1979.
Romerito: um dos mais talentosos meias dos anos 1970 e 1980, Romerito ficou conhecido no Brasil pelas partidas com a camisa do Fluminense, clube onde venceu o Campeonato Brasileiro de 1984. Mas, antes de brilhar no tricolor, o craque deu show pela seleção e anotou 26 gols em 64 jogos na carreira. O título continental – no qual marcou dois gols na primeira partida da final – abriu caminho para que o paraguaio fosse jogar no New York Cosmos ao lado de Carlos Alberto Torres e Franz Beckenbauer.
Evaristo Isasi: notável por sua velocidade e pelos arranques quase imparáveis, Isasi foi um dos motores do ataque do Olimpia naqueles anos mágicos. Pelos seus pés nasciam muitos gols e passes para outros tantos. Brilhou também na seleção e faturou a Copa América de 1979. Pelo Olimpia, Isasi venceu seis títulos nacionais e os três internacionais de 1979 (Libertadores, Interamericana e Mundial). Foi dele o único gol do Olimpia na vitória por 1 a 0 sobre o Malmö no primeiro jogo da final do Mundial, na Suécia.
Amado Pérez: o atacante disputou apenas 4 partidas pela seleção, uma delas a partida desempate da final da Copa América de 1979. Acabou não tendo mais chances nos anos seguintes.
Milcíades Morel: atacante campeão paraguaio de 1976 pelo Libertad, Morel marcou um dos gols da final contra o Chile na decisão continental de 1979. Depois de brilhar em seu país, fez bons jogos no Espanyol-ESP, onde ajudou o clube a se salvar do rebaixamento na temporada 1979-1980.
Roberto Cabañas: atacante muito arisco e oportunista, disputou 28 jogos pela seleção e marcou 11 gols. Foi outro que conseguiu espaço o New York Cosmos após a conquista continental de 1979 e ficou nos EUA de 1980 até 1984. Após a estadia na América do Norte, foi jogar no futebol colombiano e virou um dos destaques do América de Cali tri-vice-campeão da Libertadores em 1985, 1986 e 1987. Nos anos 1990, foi campeão, também, no Boca Juniors.
Eugenio Morel: atuava na ponta-esquerda e tinha um poderoso chute de canhota. Foi um dos maiores artilheiros do futebol paraguaio na década de 1970 e chegou a jogar com Diego Maradona no Argentinos Juniors a pedido do próprio argentino. Apaixonado pelo futebol, Morel só parou de jogar aos 46 anos.
Osvaldo Aquino: foram 10 anos de Olimpia e atuações de gala pela equipe paraguaia. Aquino era um polivalente do ataque e podia jogar como meia, ponta, centroavante ou atacante. Conquistou sete títulos nacionais e três internacionais com o clube, além da Copa América de 1979 com a seleção.
Ranulfo Miranda (Técnico): desde pequeno teve grande apego ao futebol, chegando à primeira divisão do clube Guaraní e vestiu a camisa internacional da albirroja na década de 1940. Ao deixar o futebol como jogador, abraçou a profissão de direção técnica, na qual dirigiu times paraguaios locais como Cerro Porteño, Guaraní e Nacional (e Comunicações da Guatemala no exterior). Quando foi chamado para liderar o seleção albirroja na Copa América de 1979, liderou com sucesso a campanha do time que conquistou pela segunda e última vez o título continental. “No futebol vivi momentos extraordinários como a conquista da Copa América e a eliminação do Brasil no próprio Maracanã”, lembrou o técnico em nota publicada pelo jornal “Última Hora” de Assunção. Ele deixou o comando da seleção já em 1980 e faleceu em 2017, aos 89 anos.
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Parabens pelo texto guilherme o quase esquecido paraguai de 79 merece ser lembrado.mas o curioso da historia vem do brasil pois na final de 53 paraguai ganhou o jogo extra final.em 79 paraguai eliminou o brasil e conquistou o caneco e em 2011 paraguai tirou o brasil (de novo !!!) e foi vice.realmente pegar o paraguai na copa azar brasileiro.