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San Mamés – La Catedral

Foto: Marco Almbauer

Nome: Estádio de San Mamés

Localização: Bilbao, Espanha

Inauguração: 21 de agosto de 1913 / reinauguração em 16 de setembro de 2013

Partidas Inaugurais: Athletic Club 1×1 Racing Club de Irún, 21 de agosto de 1913 / Athletic Bilbao 3×2 Celta de Vigo, 16 de setembro de 2013

Primeiros gols: Pichichi, do Athletic, em 21 de agosto de 1913 / Charles, do Celta, em 16 de setembro de 2013

Proprietário: Athletic Club

Capacidade: 53.331 pessoas

Por Guilherme Diniz

Na Espanha, ele é provavelmente um dos estádios com mais simbolismo e história. Sua aura remonta ao século XX, quando foi construído e batizado em homenagem ao martírio de Mamés, cristão nascido por volta de 259 em Cesareia, na Capadócia, e conhecido pelos atos de caridade e por supostamente pacificar leões. Tal característica foi colocada à prova pelos romanos na época do Império Bizantino, quando Mamés foi jogado aos leões e, quando todos pensaram que as feras iriam devorá-lo, ele conseguiu domar os animais, com um dos felinos ficando bem próximo a ele. O ato espantou a todos, mas logo em seguida ele acabou sentenciado à morte pelo Duque Alexandre. Mamés foi ferido por um golpe de tridente e o mártir do cristão inspirou a devoção de centenas de milhares de pessoas. Igrejas em sua homenagem surgiram anos e anos depois, com destaque para um santuário construído em Bilbao no ano de 1447. Tempo depois, esse santuário virou um asilo e, no começo do século XX, o Athletic Club batizou seu novo estádio com o nome de San Mamés, justamente em homenagem ao mártir.

A história de Mamés também apelidou o clube, que passou a ser conhecido como Leones de San Mamés. Durante décadas, tal estádio foi o principal do País Basco e abrigou partidas lendárias do Athletic Bilbao, além de alguns jogos da Copa do Mundo de 1982. No século XXI, foi demolido para dar lugar a um novo e lindíssimo templo que continuou a inspirar o clube alvirrubro, mas sem perder a essência que fez daquele lugar La Catedral. O estádio de San Mamés é um dos mais icônicos do futebol, foi durante muito tempo o mais antigo da Espanha e possui um rico passado que acompanhou a evolução do futebol espanhol e basco. É hora de conhecer a história desse ícone.

Uma casa digna

Público em Lamiako, no começo dos anos 1900. Athletic levava multidões por onde passava. Foto: Acervo / Athletic Club
 

Fundado em 1898, o Athletic começou a disputar seus primeiros jogos no Lamiako, em Leioa, um importante campo poliesportivo do País Basco e que abrigava, além do futebol, corridas de ciclismo, atletismo e até corrida de sacos (!). O Athletic jogou lá até 1910, quando a prefeitura da cidade de Leioa decidiu cobrar uma taxa para cada partida, o que motivou a direção do clube a procurar outro estádio, já que ficaria inviável pagar para jogar ali. Com isso, o Athletic jogou por três anos no Jolaseta, em Getxo, local onde a equipe venceu a Copa do Rei de 1911 com um triunfo por 3 a 1 sobre o Espanyol. 

Consolidado como um dos mais fortes e competitivos clubes do país, o Athletic entendia que precisava de um novo estádio que pudesse abrigar sua fanática torcida e refletir a força do time perante os rivais. Em 1911, o presidente eleito do clube, o ex-jogador Alejandro de La Sota, foi o entusiasta que arrecadou fundos e iniciou o projeto de construção do novo estádio, além de iniciar o trabalho de categorias de base e a política de apenas jogadores nascidos no País Basco serem aptos a jogar no Athletic, algo que permanece intacto há mais de 100 anos. Muito influente, De La Sota trouxe mais sócios ao clube e expandiu ainda mais a abrangência do Athletic no país. 

O Athletic campeão da Copa do Rei de 1903.
 
Lançamento da pedra fundamental do San Mamés, em 1913.
 

As obras do novo estádio foram realizadas próximas ao asilo de San Mamés, o que motivou o nome Estádio de San Mamés tempo depois. Após o lançamento da pedra fundamental, em janeiro de 1913, em apenas oito meses o estádio com capacidade para pouco mais de 7 mil pessoas foi erguido seguindo o projeto do arquiteto Manuel María Smith, nascido em Bilbao e conhecido por introduzir o estilo inglês de construção na região basca, com muitos detalhes e o lado montanhês de suas obras, com destaque para o Hotel Carlton, em Bilbao, e a Casa de Luis Arana Urigüen, em Las Arenas. 

A partida inaugural foi um amistoso entre Athletic Bilbao e Racing de Irún, e o primeiro gol foi do lendário atacante Pichichi, um dos maiores artilheiros do futebol espanhol nos anos 1910 e que batiza até hoje o prêmio ao máximo goleador do Campeonato Espanhol – Troféu Pichichi. A arquibancada, com capacidade para três mil pessoas sentadas, foi feita em madeira clara no estilo inglês, onde foram instalados os serviços ao público e aos jogadores. O campo contava com uma cerca leve e bem simples, que separava o público do gramado de jogo. Havia ainda uma bandeira do clube em um mastro. O custo total foi de 89.061,92 pesetas. Naquela época, já começaram a chamar o estádio de La Catedral para diferenciá-lo do asilo de San Mamés, pois, quando alguém dizia que ia a San Mamés, perguntavam “San Mamés, o asilo?”, a pessoa dizia “não, San Mamés, a catedral”. 

Expansões, consolidação e a demolição

O San Mamés foi, aos poucos, ganhando a simpatia do povo local e abrigou sua primeira partida da seleção espanhola em 1921, em amistoso vencido sobre a Bélgica por 2 a 0. Naquele mesmo ano, o Athletic aplicou uma goleada espetacular sobre o Barcelona: 12 a 1, placar lembrado até hoje pelos torcedores. Em 1924, as primeiras obras de melhorias foram realizadas e a capacidade aumentou para 9500 pessoas. Em 1926, o clube fez uma linda homenagem a Pichichi, falecido em 1922, e inaugurou um busto de bronze em alusão ao jogador. No jogo que marcou a inauguração do busto, uma goleada de 7 a 2 do Athletic sobre o Arenas Club, criou-se uma tradição: o capitão da equipe adversária que visitava o San Mamés pela primeira vez depositava um ramo de flores sob o busto de Pichichi, acompanhado pelo capitão do Athletic.

Busto de Pichichi, sempre venerado. Foto: João Ricardo / Fut Pop Clube
 

Nos anos 1930 e 1940, o San Mamés viu grandes esquadrões do Athletic, incluindo as duas “Delanteras Históricas” que colecionam títulos para o clube, em especial a segunda, capitaneada pelo lendário Telmo Zarra. En 1952, começaram novas obras para a construção da tribuna principal, feita em concreto e sustentada por um icônico arco que virou marca e identidade do estádio basco, em projeto dos arquitetos Carlos de Miguel, José Antonio Domínguez e Ricardo Magdalena. A reforma foi concluída em 1953 e seguiu com ampliações em 1956, com a tribuna sul; 1962, com a tribuna norte e a estreia da iluminação artificial no mesmo ano; e a tribuna leste, em 1973. 

Todas essas ampliações, somadas a novas no começo dos anos 1980, deixaram o San Mamés com a capacidade superior a 45 mil pessoas e deram ao estádio uma vaga entre as sedes da Copa do Mundo da FIFA de 1982, quando La Catedral abrigou os três jogos da seleção da Inglaterra na fase de grupos, todos vencidos pelo English Team: 3 a 1 na França; 2 a 0 na Tchecoslováquia e 1 a 0 no Kuwait.

San Mamés
O San Mamés, visto de cima: ícone basco.
 
Celebrações da torcida após o título nacional de 1984.
 

Com uma atmosfera única e capaz de criar um ambiente hostil a qualquer adversário, o San Mamés virou um dos maiores caldeirões da Espanha com as reformas pós-anos 1960 e se transformou em um marco esportivo do País Basco. Em 1977, o estádio abrigou a final da Copa da UEFA entre Athletic Bilbao e Juventus, e, mesmo com a vitória dos bascos por 2 a 1, a Velha Senhora acabou campeã por conta do critério do gol marcado fora de casa – o primeiro jogo, na Itália, foi 1 a 0 para os italianos. Em 1984, porém, veio a desforra com a vitória por 2 a 1 sobre a rival Real Sociedad que praticamente selou o bicampeonato espanhol do timaço alvirrubro da época, o último a vencer La Liga para o clube desde então.

Nos anos 1990, San Mamés passou por sua última grande reforma em 1997, quando foram eliminados os lugares em pé e a capacidade diminuiu para 40 mil pessoas. Em 2006, um projeto de construção de um novo San Mamés foi apresentado aos sócios, com destaque para a ampliação das arquibancadas e capacidade superior a 50 mil pessoas. As obras, cujo projeto arquitetônico foi de César Azcárate, tomariam forma ao lado do antigo San Mamés, que seria demolido aos poucos e seu antigo arco removido peça por peça para ser restaurado e transferido para o centro de treinamento do clube. Para simbolizar o início das obras, em 2010, um pedaço de grama e um tijolo da fachada foram removidos do estádio antigo e levados para o local de construção por uma corrente humana que teve a presença de lendas do clube como Iribar, Aitor Larrazábal, Iturraspe e Muniain.

O Novo San Mamés

O San Mamés do século XXI foi construído exatamente ao lado do antigo.
 

As obras do novo estádio começaram em 2010 e o prazo de conclusão da obra era até 2013, ano do centenário do antigo San Mamés. A inauguração total foi em 2014, mas o estádio já abriu em 2013, em partida vencida pelo Athletic sobre o Celta de Vigo por 3 a 2. Assim como nos tempos passados, flores foram levadas ao busto de Pichichi pelo capitão do Celta e a tradição da nova Catedral foi mantida. Com imensas arquibancadas em vermelho, vista plena do gramado e muita tecnologia, o estádio venceu o prêmio de melhor edifício desportivo do mundo de 2015 no World Architecture Festival, em Singapura, além de receber classificação 4 estrelas da UEFA e ganhar a alcunha de estádio mais seguro da Europa. Entre os destaques do novo San Mamés estão os 4 vestiários (totalizando 240 metros quadrados), 40 salas, 48 camarotes VIPs, museu do clube, loja oficial e restaurantes, além de uma cobertura em todas as arquibancadas, esta finalizada por completo em 2017. Os custos totais da obra foram de 173 milhões de euros.

Foto: Acervo / Athletic Club
 

Com sua nova faceta, o San Mamés passou a abrigar mais eventos e shows, além de outros esportes, como o Rúgbi, cuja final da Copa dos Campeões Europeus foi realizada no estádio em 2018. Em 2024, o estádio viu a equipe do Barcelona vencer a Liga dos Campeões da UEFA feminina e, em 2025, ele será sede da final da Liga Europa da UEFA. Na temporada 2023-2024, o estádio foi um dos responsáveis por conduzir o Athletic à final da Copa do Rei, vencida pelo clube após 40 anos de jejum e com shows de seu ataque, assim como os ataques do século passado que tanto brilharam em La Catedral, orgulho e lenda do País Basco.

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