Nascimento: 1º de Janeiro de 1946, em São Paulo (SP), Brasil.
Posição: Meia / Ponta-esquerda
Clubes: Corinthians-BRA (1965-1974), Fluminense-BRA (1975-1978) e Al-Hilal-ARS (1978-1981).
Principais títulos por clubes: 1 Torneio Rio-SP (1966) pelo Corinthians.
2 Campeonatos Cariocas (1975 e 1976), 1 Torneio de Paris (1976), 1 Copa Viña Del Mar (1976) e 1 Troféu Teresa Herrera (1977) pelo Fluminense.
1 Campeonato Saudita (1978-1979) e 1 Copa do Rei (1980) pelo Al-Hilal.
Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo (1970) pelo Brasil.
Principais títulos individuais:
All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1970
Bola de Prata da Revista Placar: 1971
Craque do time das estrelas da Copa do Mundo: 1970
International Football Hall of Fame (IFHOF): 1997
13º Maior jogador Brasileiro do Século XX pela IFFHS: 1999
32º Maior jogador sul-americano do século: 1999
Eleito entre os 100 Maiores Craques do Século – World Soccer (Leitores): 1999
Prêmio Golden Foot Award (Lenda do Futebol): 2006
Eleito para o time do século XX das Américas
FIFA 100: 2004
Eleito para o Time dos Sonhos do Corinthians do Imortais: 2021
Eleito para o Time dos Sonhos do Fluminense do Imortais: 2021
“O homem do elástico. E da famosa perna esquerda…”
Por Guilherme Diniz
Ele foi a inspiração de ninguém mais ninguém menos que Diego Armando Maradona. Ele meteu uma bola entre as pernas do mito Beckenbauer, pouco antes da Copa do Mundo de 1970. Ele foi ídolo incontestável de duas torcidas, Corinthians e Fluminense, mas imensamente injustiçado pela primeira delas por nunca ter conquistado um título com a camisa alvinegra. Roberto Rivellino, mesmo tendo vivido a época mais amarga da história do Corinthians, virou o “Reizinho do Parque”, cravou seu espaço na melhor seleção brasileira de todos os tempos e deu aulas de futebol nos mais diversos campos do planeta, sempre com dribles curtos irresistíveis, criando o drible do elástico e dando chutes poderosos com sua incrível perna esquerda, que fez a torcida mexicana o apelidar de “patada atômica”. Rivellino foi um dos maiores craques do futebol brasileiro nas décadas de 60 e 70, e também um dos maiores do futebol mundial em grande parte dos anos 70, rivalizando com Beckenbauer e Cruyff o posto de melhor do mundo, após a aposentadoria de Pelé. É hora de relembrar a carreira desse craque que, quem diria, um dia já foi palmeirense…
Sumário
Renegado pelo clube do coração
Nascido em berço italiano, Rivellino teve desde cedo o sangue futebolístico em suas veias. E, por razões óbvias, tinha o Palmeiras como seu time do coração. O garoto começou jogando no futebol de salão, onde aprendeu os dribles curtos e rápidos que fariam história nos gramados. Jogando demais, Riva foi convidado para uma peneira no Palmeiras, em 1962. O garoto tinha a certeza de que começaria, enfim, sua carreira profissional. Porém, depois de três testes, ele levou um não da comissão técnica do Palmeiras, que esfriou o sonho do jovem de vestir a camisa verde. Indignado e em raiva pura, Rivellino abandonou sua paixão pelo clube alviverde e foi para o Corinthians, onde foi aprovado de primeira pela tamanha habilidade com a perna esquerda. Aos 18 anos, em 1964, já fazia miséria com a bola nos pés e levava multidões nas preliminares dos jogos do Timão que iam apenas para ver o craque prodígio deitar e rolar nas partidas dos aspirantes. Era questão de tempo para Riva ir para o time titular.
Ídolo maior em tempos sofríveis
Ao ir para a equipe titular, em 1965, Rivellino rapidamente começou a chamar a atenção de todos pela habilidade, pelos chutes e pelo futebol vistoso que praticava. Foi em seu início que ele começou a popularizar o drible do elástico, que ficaria tão famoso ao longo dos anos. Embora tenha ganhado a fama de ser o autor do feito, Rivellino sempre disse que se inspirou em Sérgio Echigo, um descendente de japoneses que jogava com ele no aspirantes do Corinthians. Riva apenas aperfeiçoou o movimento…
O duro naquela época para Riva era ser “rei” em tempos difíceis para o Corinthians, que via o Santos cada vez maior no Brasil e no mundo, o Palmeiras forte e único capaz de rivalizar com os alvinegros da Vila, e os times do rio também em bom momento, além do Cruzeiro de Tostão. O clube do Parque São Jorge viveu apenas um bom momento em 1966, quando levou um Torneio Rio-SP em conjunto com outros três times, por conta de uma desorganização no calendário em decorrência da preparação da seleção para a Copa do Mundo daquele ano. Por falta de datas, e por vontade dos semifinalistas, que estavam empatados em pontos, os quatro foram declarados campeões. Mas isso não significava nada, afinal, a torcida, e Rivellino, queria mesmo o Campeonato Paulista, vedete naqueles tempos.
Paralelo ao Corinthians, Rivellino conseguiu naquela segunda metade da década de 60 suas primeiras convocações para a seleção brasileira, após o fiasco na Inglaterra. Por ocupar o mesmo lugar que Jairzinho e Tostão no campo, ele sofria uma concorrência ferrenha e aparecia pouco nas listas do polêmico técnico João Saldanha. Só às vésperas do Mundial, com a entrada no comando de Zagallo, foi que Riva, enfim, assumiu a titularidade, num novo esquema que permitia a escalação conjunta de Jairzinho, Tostão, Gérson, Pelé e ele, Rivellino. Era hora de brilhar na Copa de 1970, no México.
O mundo conhece a “patada atômica”
Ao lado de feras incríveis, Rivellino brilhou intensamente no Mundial do México, em 1970. O craque marcou território logo na estreia da seleção, contra a Tchecoslováquia, ao anotar um gol de falta na vitória canarinho por 4 a 1. Nas quartas de final, Riva marcou mais um, na vitória por 4 a 2 contra o Peru. O último gol do craque na Copa foi na tensa semifinal contra o Uruguai, quando ele deu números finais ao jogo num chutaço que garantiu o 3 a 1 e a vaga na final. As comemorações cheias de raiva e alegria do craque eram a síntese da torcida brasileira, que extravasava a cada vitória do Brasil. Na decisão, deu no que deu: goleada por 4 a 1 sobre a Itália e o tricampeonato mundial para a seleção mais fabulosa do planeta. Naquele mundial, Rivellino ganhou da torcida mexicana o apelido de “patada atômica”, pela força e precisão de seus chutes. O craque chegava, enfim, no seu auge. E conquistava seu mais importante título na carreira: o de campeão do mundo.
Destroçado pela Laranja Mecânica
Anos depois, em 1974, Rivellino foi o camisa 10 da seleção brasileira que tentou o tetra na Copa da Alemanha. Porém, somente Riva não foi capaz de levar o Brasil para a final. Sem o brilho de quatro anos atrás, o Brasil sucumbiu diante da Holanda de Cruyff, que venceu por 2 a 0. Na disputa pelo terceiro lugar, nova derrota, para a Polônia de Lato, por 1 a 0. Era o fim da segunda Copa de Riva. E do sonho do tetra.
A maior das injustiças
Depois da Copa de 70, Rivellino aumentou ainda mais a sua fama e a esperança da torcida corintiana por um título. Porém, no fatídico ano de 1974, nem mesmo sua habilidade, genialidade, o chute na perna esquerda, a fama e o título mundial de 70 foram capazes de segurar o craque no Parque São Jorge após o dia 22 de dezembro daquele ano. Era a final do Campeonato Paulista, o Corinthians enfrentava o Palmeiras e tinha toda a torcida a seu favor. O primeiro jogo havia sido 1 a 1, com Riva tendo marcado o gol do Timão e feito uma ótima partida. Porém, naquele 22 de dezembro, o Palmeiras venceu por 1 a 0 e calou a massa alvinegra, que teria que esperar mais três anos para o fim do martírio.
Rivellino foi acusado de ter se acovardado e ter se entregado naquele jogo, sendo o principal responsável pela perda do título. Para piorar, uma foto da época que mostrava Luis Pereira, zagueiro do Palmeiras, consolando Rivellino durante o jogo (e não no final, como muitos pensavam) foi usada para mostrar a face do craque naquele jogo. Óbvio, Riva não teve culpa alguma, mas foi usado como escudo por todos. A torcida estava revoltada e não havia outra escolha para Riva: ele teve que deixar o Corinthians. Ali, acontecia a maior injustiça que a Fiel já fizera com um ídolo. E mal sabia ela que ele se vingaria muito em breve…
O piloto da Máquina Tricolor
Praticamente “expulso” do Corinthians, Rivellino acertou sua transferência para o Fluminense, que começava a montar um timaço naquele ano de 1975. Quis o destino que a estreia do craque com a camisa tricolor fosse justamente em um amistoso contra o Corinthians. Riva não perdoou seu ex-clube e deu show: 4 a 1 para o Flu, com 3 gols dele. Era o presságio do que viria pela frente. Ao lado de Félix, Marco Antonio, Paulo César Caju, Manfrini e Gil, Rivellino conquistou seu sonhado título por clube, o Campeonato Carioca de 1975, que veio por antecipação no quadrangular final. Naquela temporada, Riva marcou um de seus gols mais fantásticos da carreira, contra o Vasco, quando aplicou um elástico entre as pernas do marcador, passou por mais dois e estufou as redes do goleiro. Coisa de gênio. O único revés da temporada foi no Brasileiro, quando o craque nada pôde fazer para frear outra máquina, o Internacional de Figueroa e Falcão.
Depois de brilhar em 1975, o Fluminense perdeu peças importantes, mas teve a proeza de se manter ótimo e ainda melhor em 1976, graças ao seu presidente Francisco Horta, que investia demais no seu time de coração. Promovendo trocas com os clubes rivais, saíram Félix, Toninho e Marco Antonio, mas vieram outros ainda melhores, como Renato, Rodrigues Neto, Doval e Dirceu. A cereja do bolo seria a vinda de ninguém menos que Carlos Alberto Torres, melhor lateral-direito da história do futebol e que naquele ano desfilou sua técnica na zaga do tricolor, onde, óbvio, deu show. Pronto. O Fluminense montava uma equipe melhor que a de 1975 e que tinha a proeza de reunir jogadores que jogavam ou que já haviam passado pela Seleção Brasileira, com exceção, claro, do argentino Doval. Com o time formado, o clube passou a exibir seu futebol arte e de toque refinado para os europeus verem.
A equipe excursionou pelo continente e trouxe na bagagem o Torneio de Paris, disputado na cidade francesa que contou, além do Fluminense, com Paris Saint-Germain, Seleção Europeia e a Seleção Olímpica Brasileira. O time tricolor estreou contra o PSG, e venceu por 2 a 0, com dois gols de Rivellino. O jogo seguinte seria contra a temida Seleção Europeia, que reunia jogadores famosos escolhidos pela crítica parisiense. O time europeu tinha como estrelas Petrovic, Suurbier, Van Hannegen, Georgescu, Six e Rensenbrink. Mas o Flu não se intimidou e venceu de virada por 3 a 1, com gols de Paulo César, Doval e Carlos Alberto Torres. A vitória assegurava o título à equipe brasileira, e imensos elogios da imprensa francesa e europeia, que chamou Rivellino de “Le meilleur Du monde” (o melhor do mundo). O time conquistou, também, a primeira Copa Viña Del Mar, no Chile, após vitória por 1 a 0 contra a Unión Española e empate sem gols contra o Everton, ambos do Chile. Depois de excursões e de encantar europeus e latinos, era hora de voltar a solo nacional.
Bi-carioca
Rivellino e seu Fluminense destruíram, literalmente, os adversários no campeonato estadual do Rio de 1976. O time disputou 32 jogos, venceu 23, empatou 7 e perdeu apenas 2, marcando 74 gols e sofrendo 26, reflexo do esquema altamente ofensivo, que deixava as principais estrelas livres para entupir os adversários de gols. Tanto é que o artilheiro e o vice daquele campeonato foram tricolores: Doval, com 20 gols, e Gil, com 19. O Flu aplicou 8 goleadas tendo feito 4 gols ou mais no bicampeonato carioca, com destaque para o 9 a 0 sobre o Goytacaz e o 5 a 1 sobre o Botafogo, que garantiria o Flu nas finais. A decisão, contra o Vasco, foi disputada, mas o matador Doval deixou o seu e garantiu o bi ao tricolor, com o placar de 1 a 0. O Flu era o Rei do Rio. Porém, de novo no Brasileiro, a equipe caiu nas semifinais, para, quem diria, o Corinthians, na famosa invasão ao Maracanã da torcida corintiana. O Flu caiu nos pênaltis e Rivellino perdia sua última chance de vencer um torneio nacional.
Contusão atrapalha última Copa
Em 1978, Rivellino sofreu uma contusão que o impediu de disputar a maioria dos jogos da seleção na Copa do Mundo da Argentina. Da reserva, ele viu o Brasil quase chegar à final, ficando com o título de “campeão moral”, eternizado pelo técnico Claudio Coutinho. O craque só entrou em campo na disputa pelo terceiro lugar, quando o Brasil venceu a Itália por 2 a 1. Aquela foi a última Copa do craque e a última partida com a camisa verde e amarela.
Dólares na Arábia e o fim
Em 1978, Rivellino decidiu ganhar muito dinheiro jogando na Arábia Saudita, no Al-Hilal. Por lá, ganhou alguns títulos, inclusive o sonhado campeonato nacional por um clube, mas por lá o jogador praticamente se escondeu da mídia e da torcida até encerrar a carreira, em 1981, aos 35 anos. Depois de pendurar as chuteiras, o craque continuou no mundo esportivo, trabalhando como comentarista e até como coordenador de futebol do Corinthians, até se dedicar com mais afinco a sua escolinha de futebol, em São Paulo. Rivellino entrou para a história como um dos mais talentosos meias do futebol mundial e um dos maiores canhotos do esporte, capaz de fazer qualquer arte, drible ou jogada com sua perna mágica.
Com uma Copa na carreira e vários outros títulos por clubes, além de prêmios individuais, Rivellino dizia que trocaria todos eles por um troféu pelo Corinthians, sua única “dívida” na carreira. Mesmo sem a sonhada taça pelo Timão, Rivellino é um craque eterno do clube, sendo sempre lembrado como um dos maiores da história centenária do alvinegro e considerado, também, o maior craque da história do Fluminense. Goleador, cerebral e artista, Rivellino deixou saudades. Um craque imortal.
O que disseram sobre Rivellino:
“Vim ver Pelé, mas acabei vendo Rivellino.” – Beckenbauer, em 1968, depois de Riva meter a bola entre suas pernas num amistoso Brasil x Seleção da FIFA.
“Eu era garoto e assistia aos jogos do Brasil. O Pelé ia para um lado e eu nem me importava: olhava para o outro, para onde ia Rivellino. Ele era tudo o que queria ser como jogador de futebol: os dribles perfeitos, os passes precisos, o chute indefensável… E tudo feito sempre com a perna esquerda. A direita podia estar morta, mas a esquerda fazia de tudo. Eu achava lindo.” – Maradona, para o site FIFA.com, sobre seu ídolo na infância.
Números de destaque:
Disputou 92 jogos pela seleção brasileira e marcou 26 gols.
Disputou 158 jogos pelo Fluminense e marcou 53 gols.
Disputou 474 jogos pelo Corinthians e marcou 144 gols.
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Increíble!espectacular! Que grande,futebol espectáculo! Obligado rivellino
o maior jogador da história do Corinthians não teve nenhum titulo no clube mais jamais será esqueçido
Rivellino deveria ser mais reconhecido pela Mídia, por todas as contribuições para o futebol brasileiro. Espero ver o Arjen Robben em breve, e depois o Mauro Galvão