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Artemio Franchi – Catedral Futebolística de Florença

Nome: Stadio Artemio Franchi

Localização: Florença, Itália

Inauguração: 13 de Setembro de 1931

Partida Inaugural: Fiorentina 1×0 Admira Viena-AUT, no dia 13 de setembro de 1931

Primeiro gol: Pedro Petrone, da Fiorentina, no jogo Fiorentina 1×0 Admira Viena, 13 de setembro de 1931.

Propietário: ACF Fiorentina

Capacidade: 46.366 pessoas

Recorde de público: 84 mil pagantes (cerca de 95 mil presentes) no amistoso Italia 1×1 Inglaterra, 18 de maio de 1952.

O violeta da Fiorentina tinge o berço do Renascimento. Em Florença, uma das mais belas cidades europeias pelo vasto patrimônio histórico-cultural que abriga, um estádio onipresente construiu ao longo de mais de oito décadas uma história que condiz com a riqueza de uma cidade tão famosa e bela: o Stadio Artemio Franchi, casa de um clube que já foi uma das grandes referências do Calcio, que abrigou partidas de duas Copas do Mundo, recebeu craques da mais alta estirpe, jogos lendários e até relatos de ufologia (!).

O Artemio Franchi é a grande “catedral” futebolística da cidade. Ao longo de toda sua história, esse palco conheceu pelo menos três designações oficiais, sendo que Artemio Franchi, homem que hoje o batiza, tinha apenas nove anos quando o encontro inaugural diante do Admira Viena aconteceu. O principal fator que levou à construção do estádio foi a ascensão da Fiorentina à Série A. Luigi Ridolfi, presidente do clube, achou conveniente oferecer à Viola um reduto condizente com o prestígio da máxima divisão do Calcio. Com isso, nasceu em um curto espaço de tempo um estádio considerado bem avançado em termos arquitetônicos para a época, com estrutura oval e uma torre característica por trás de uma das arquibancadas centrais.

Atualmente, a Fiorentina segue na luta pelo acesso às competições europeias, cujas melhores odds para seus encontros tanto no Artemio Franchi como fora do mesmo podem ser encontradas na https://www.betfair.com/brE é no estádio que a Viola precisa fazer do seu reduto uma autêntica “caixa forte”.

 

A origem como Stadio Berta

O projeto original do estádio. Note o formato em “D”.

 

O projeto para um estádio em Florença já tinha primórdios desde 1920, pelo Colégio de Arquitetos e Engenheiros da Toscana. Em 1929, o prefeito Giuseppe Della Gherardesca aprovou a compra de uma área entre a via Faentina e a via della Palancola para a construção de um estádio. No entanto, as negociações não deram certo e a construção acabou transferida para o Campo di Marte, após o presidente da Fiorentina na época, Luigi Ridolfi de Verrazzano, aprovar o projeto de Pier Luigi Nervi – um dos mais talentosos engenheiros e arquitetos de seu tempo, responsável por obras notáveis em todo mundo e um dos pioneiros no uso de concreto armado – e Gioacchino Luigi Mellucci. Próximo da estação ferroviária da cidade, o estádio começou a ser construído em 1930 e deveria ficar pronto em 180 dias, ao custo de aproximadamente 6,5 milhões de liras – no entanto, o estádio só ficaria totalmente pronto em 1932. O projeto previa um estádio em formato “D”, com uma arquibancada central coberta – onde ficaria a tribuna -, o restante sem cobertura, três escadas helicoidais, além de uma grande torre central de 75 metros de altura conhecida como La Torre di Maratona, que simbolizaria o espírito de competição e resistência dos atletas.

Arquibancadas em construção.

 

Escadas helicoidais em construção.

 

A Torre di Maratona saindo do chão.

 

Símbolo da arquitetura Racionalista italiana, o estádio ganhou a pista de atletismo prevista com 500 metros de comprimento de acordo com as regras da Federação Italiana de Atletismo, e capacidade inicial para 45 mil pessoas. Quando foi inaugurado, em 1931, o estádio recebeu diversos elogios por sua beleza, digna das obras de arte tão marcantes da cidade, que foi destacado como “um trabalho rico, poderoso e corajoso” por jornais da época. E, de fato, o estádio era mesmo estonteante, com arquibancadas detalhadamente projetadas, a cobertura das tribunas cuidadosamente feita para não atrapalhar a visão dos espectadores e um formato único que dava ao estádio a alcunha de um dos mais modernos e bonitos da Europa na época.

A Fiorentina pronta para sua estreia em casa, na partida inaugural: Gregar, Petrone, Ballante, Rivolo, Gazzari, Pizziolo M., Prendato, Bigogno, Pitto, Busini, Vignolini, Galluzzi, Baldinotti e Bonesini.

 

O primeiro nome do estádio foi Stadio Giovanni Berta, em homenagem ao político da doutrina fascista com raízes em Florença. Berta participou da guerra ítalo-turca e foi assassinado em 1921, com apenas 27 anos, virando o “mártir da revolução fascista”. Por isso, dez anos após a sua morte, decidiu-se honrar a sua memória na cidade que o viu nascer com o batismo do novo estádio como Giovanni Berta. A inauguração aconteceu no amistoso Fiorentina 1×0 Admira Viena, visto por cerca de 12 mil pessoas no dia 13 de setembro de 1931, ainda com parte das obras em andamento. O primeiro gol foi do uruguaio Pedro Petrone, um dos lendários atacantes da Celeste Olímpica dos anos 20 e 30. No ano seguinte, o estádio foi finalizado e se tornou um dos mais importantes de toda Itália.

 

Palco da Copa e de grandes jogos

Em 1934, o Stadio Berta abrigou dois encontros da Copa do Mundo, que entrou para a história como a Copa da propaganda de Mussolini. Além de ter recebido o encontro relativo à primeira rodada entre Alemanha e Bélgica, vencido pelos alemães por 5 a 2, o estádio recebeu a lendária partida das quartas de final entre Itália e Espanha, conhecida como “o jogo de 180 minutos”. Anfitriões e ibéricos fizeram um jogo tido como uma final antecipada do Mundial. Quem vencesse, seguramente seria o campeão. A Espanha foi com força total, bem como a Itália. E o jogo foi quente e tenso. Regueiro abriu o placar para a Espanha aos 30´, mas no final da primeira etapa, Ferrari empatou para a Itália depois de Schiavio fazer falta no lendário goleiro Zamora no lance do gol, impedindo o arqueiro de se locomover. A fraca atuação do juiz em benefício aos anfitriões seria uma constante até o final da partida. Mesmo assim, Zamora fez daquele jogo o mais importante de sua vida. Nada mais passou pela sua meta. O goleiro fez defesas sensacionais, se machucou, e, mesmo com dor, permaneceu em campo.

Combi e Zamora, capitães de Itália e Espanha no histórico duelo de 1934.

 

A pressão do ditador Mussolini exigindo a vitória de seus jogadores mexeu com o brio dos italianos, que bombardearam Zamora durante o segundo tempo e a prorrogação. E foi nela que Zamora ganhou mesmo a condição de divindade. Schiavio, o mesmo que havia machucado o goleiro espanhol, chutou no canto e Zamora conseguiu defender com o punho. No rebote, o italiano Guaita tentou o chute, mas foi abafado por Zamora. A bola subiu e tinha como destino certo o gol, pois Meazza vinha de trás pronto para o arremate. O italiano cabeceou para o gol, mas Zamora, num gesto sobrenatural e absolutamente rápido, saltou e tocou com as pontas dos dedos na bola, que saiu por cima do travessão. O jogo ficou mesmo no 1 a 1 e uma partida extra teria que ser disputada. Zamora foi ovacionado ao término do jogo e carregado nos braços da torcida sob os gritos de “Divino!”. Uma pena que o craque não pudesse jogar no jogo desempate do dia seguinte, com vários jogadores exaustos e muitos machucados. Sem Zamora, a Espanha perdia sua inspiração e sua condição mítica. Resultado: Itália 1×0 Espanha. O Stadio Berta estava, a partir dali, definitivamente na história do esporte.

Após a Copa e a II Guerra Mundial, como consequência da derrota do Eixo e a queda do fascismo na Itália, o Stadio Berta passou a ser chamado de “Stadio Comunale”, o equivalente a “Estádio Municipal”. Antes, em 1944, o estádio foi palco dos “Mártires do Campo di Marte”, quando o governo italiano executou cinco jovens perto da Torre di Maratona acusando-os de deserção do serviço militar. Em 1949, um monumento em homenagem aos rapazes foi construído do lado de fora do estádio. Já na década de 50, a capacidade do Comunale foi aumentada para mais de 70 mil pessoas, com a adição de arquibancadas de metal, atingindo o ápice de cerca de 95 mil pessoas em um duelo entre Itália 1×1 Inglaterra, em 1952, que marcou a despedida de Silvio Piola da Azzurra. Por não ter numeração, o estádio atingia superlotações facilmente, e, em 1957, parte de uma das arquibancadas caiu e mais de cem pessoas ficaram feridas, felizmente nenhuma em estado grave. Com isso, o estádio deixou de usar tais arquibancadas e se atentou às de concreto armado.

O monumento aos mártires, do lado de fora do estádio. Foto: Giovanni Baldini.

 

Incidente de 1957 fez a Fiorentina abolir as arquibancadas de metal.

 

O curioso caso de OVNIs

Em 27 de outubro de 1954, o Stadio Comunale foi palco de um dos mais misteriosos e pitorescos casos de ufologia da história. Em uma partida amistosa entre o time reserva da Fiorentina e o vizinho Pistoiese, diante de 10 mil pessoas, supostos OVNIs sobrevoaram o Stadio Comunale no segundo tempo, quando a partida já estava 6 a 2 para a Viola, e o árbitro teve que encerrar o jogo antes do tempo regulamentar. Além de sobrevoar o estádio por alguns minutos, fios de um material pegajoso caíram do céu e todos ficaram atônitos diante daquela ocorrência, relatada inclusive pelo árbitro na súmula. Um torcedor da Fiorentina da época, Gigi Boni, disse à BBC que eram mesmo seres extraterrestres.

“Eu me lembro claramente daquela visão incrível. Eles estavam se movendo muito rápido e depois pararam. Tudo durou alguns minutos. Eu descreveria eles como charutos cubanos, eram como se pareciam. Eles eram extraterrestres. É o que eu acredito. Não existe outra explicação que eu possa dar a mim mesmo”. Gigi Boni, em entrevista à BBC (UK), 04 de janeiro de 2013.

 

Jornal da época sobre a “invasão” alienígena em Florença.

 

Cartaz utópico sobre o episódio, feito anos depois. Fotos: Trivela.

 

O caso ganhou as manchetes dos jornais de toda a Itália e o nome de Avistamento de OVNIs de Florença. O Comitê Italiano de Controle das Afirmações sobre Pseudociência disse depois que eram aviões militares, mas sem provar nada. A tal da substância que caiu do céu foi inicialmente relacionada à migração de aranhas para o hemisfério norte, pois elas iam em grandes balões de teias interligados que ficavam brilhantes com a luz do sol (!). No entanto, o material foi analisado em laboratório e não foi constatado nada que se assemelhasse às teias dos aracnídeos. Com isso, a lenda permanece até hoje como uma das mais intrigantes de toda a história da ufologia. E também do próprio futebol. Curiosamente, após esse episódio, a Fiorentina iniciou a melhor era de sua história com um esquadrão que foi campeão italiano, da Copa da Itália, da Recopa da UEFA e vice-campeão da Liga dos Campeões da UEFA. Será que foi obra de magia espacial?

 

Remodelações e nova Copa

O Comunale nos anos 60.

 

Em 1960, o Comunale foi um dos sete estádios que recebeu partidas de futebol nos Jogos Olímpicos daquele ano: Iugoslávia 4×0 Turquia, Itália 3×1 Brasil (com gols de Rivera e Rossano, duas vezes, para a Itália, e Didi, para o Brasil) e França 2×1 Peru. Em 1968, Florença foi sede da partida entre Iugoslávia 1×0 Inglaterra, pela Eurocopa. Em 1980, muito se especulou sobre a presença do estádio como uma das sedes da Eurocopa daquele ano, mas o comitê preferiu utilizar os maiores estádios do país na época: Olímpico, San Paolo, San Siro e Olímpico de Turim. Naquela década, o Comunale recebeu seu recorde de público com as arquibancadas de concreto armado. Em 25 de novembro de 1984, no jogo entre Fiorentina 1×1 Internazionale, 58.721 pessoas estiveram no estádio – isso mesmo com a capacidade normal girar em torno de 47 mil pessoas! O público viu um jogo disputado e repleto de grandes nomes do futebol na época como Galli, Gentile, Passarella, Oriali, Sócrates e Massaro pelo lado da Fiorentina e Bergomi, Collovati, Ferri, Mandorlini, Altobelli e Rummenigge pelo lado da Inter.

Gentile, Passarella e Sócrates: trio de craques da Fiorentina em 1984.

 

O estádio e a vista da cidade.

 

Além do futebol, o Comunale abrigou também naqueles anos 80 uma visita do Papa João Paulo II, que visitou o estádio enquanto esteve em Florença, em 1986, e um dos recordes mundiais de Sebastien Coe nos 800 metros rasos (1’41”73), no dia 10 de junho de 1981, além de shows de Patti Smith (este em 1979), The Clash (1981) e David Bowie (1987). No final dos anos 80, o estádio passou por reformas em sua estrutura para se adequar às regras da FIFA em prol da organização da Copa do Mundo de 1990. Além da adição de cadeiras, foi feita a redução do gramado e remoção da pista de atletismo que envolvia o estádio, além de várias melhorias nas áreas externas, internas e em ruas e avenidas próximas. A mudança na estrutura do estádio gerou muitas críticas dos cidadãos de Florença e de intelectuais, que viram um “massacre e desprezo à cultura”. No Mundial, o Comunale recebeu três jogos do Grupo A da Copa: Tchecoslováquia 5×1 EUA; Tchecoslováquia 1×0 Áustria e Áustria 2×1 EUA, além de Argentina 0x0 Iugoslávia (3 a 2 nos pênaltis para os hermanos), nas quartas de final.

Fãs no show de Patti Smith, em 1979.

 

David Bowie com sua Glass Spider Tour, nos anos 80.

 

Rebatizado e sempre romântico

Lotado, o estádio é um verdadeiro caldeirão.

 

Em 1993, o Comunale mudou de nome mais uma vez e passou a se chamar Stadio Artemio Franchi, em homenagem ao grande dirigente esportivo italiano, nascido em Florença e estritamente ligado à cidade e à Fiorentina, além de ter sido presidente da Federação Italiana (de 1967 até 1976 e 1978-1980) e da UEFA (de 1973 até 1983). O estádio voltou a abrigar grandes jogos da Viola nos anos 90, abrigou vários shows internacionais e é utilizado pela Seleção Italiana em amistosos e partidas oficiais, além de já ter sediado partidas de rúgbi da seleção italiana em 2010 e 2016.

Embora bem longe da modernidade dos estádios europeus construídos ou reformulados neste século XXI – principalmente pela falta de cobertura e as escadas helicoidais, que impedem um fluxo mais dinâmico dos torcedores -, o estádio recebeu algumas melhorias como catracas duplas, assentos modernos e numerados, monitoramento com câmeras de vigilância, eliminação das antigas barreiras entre a arquibancada e o campo, assemelhando o estádio aos do futebol inglês e um moderno sistema de drenagem tido como um dos melhores do continente. Existem projetos para uma expansão e modernização, mas nada ainda muito concreto – para alívio dos saudosistas. O aspecto retrô do Artemio Franchi, o elemento simbólico que a torre constitui e a visão que permite sobre a paisagem da Toscana são fatores que aliciam o torcedor a fazer uma visita a um estádio que segue intacto como a Catedral futebolística de Florença.

Jogo de Rúgbi no Artemio Franchi, em 2010.

 

Arquibancadas atuais são numeradas e com as cores da Viola.

 

 

A famosa torre…

 

… E as escadas.

 

Leia mais sobre a Fiorentina dos anos 50 e 60 clicando aqui.

 


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