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A história de Yosef Dagan, o homem que ajudou a instituir a disputa por pênaltis no futebol mundial

Por Leandro Stein

 

Yosef Dagan não é um nome reconhecido de imediato pela maioria absoluta dos fãs de futebol. No entanto, certamente você já comemorou uma vitória ou lamentou uma derrota graças à grande contribuição do israelense ao esporte. Dagan pode não ter feito tanta fama por isso, mas foi o responsável por instituir a disputa por pênaltis como meio para desempatar uma partida – em história ainda com diferentes versões. Muita gente agradece ao veterano pela inovação. 

Dagan atuou ao longo de sua carreira como funcionário da federação israelense. Passou por diferentes cargos na entidade, inclusive o de secretário-geral e o de técnico da seleção. “Yosef Dagan foi uma figura significativa no crescimento de nosso futebol e no desenvolvimento da federação. Por décadas, ele doou seu tempo, estabelecendo a marca internacional da associação”, comentou Rafham Kamar, atual chefe-executivo da federação israelense, em 2020, ano da morte de Dagan, aos 93 anos.

Até a década de 1960, os critérios de desempate no futebol eram problemáticos. As equipes costumavam disputar infindáveis prorrogações ou jogos-desempate para definir o classificado, caso a igualdade persistisse. Quando não havia tempo hábil, apelavam a outros métodos, como o “cara ou coroa” ou o “sorteio de papeizinhos”. Assim, já naquele momento, surgiam as primeiras ideias de uma disputa por pênaltis em diferentes partes do mundo – com suas variações. Há registros de inovações do tipo na Iugoslávia, na Itália, na Suíça e no Equador, embora a experiência mais famosa tenha ocorrido na Espanha. Em 1962, após sugestão de Rafael Ballester, o Troféu Ramón de Carranza terminou definido na marca da cal.

Dagan (à dir.), recebendo uma Ordem ao Mérito da UEFA em 2002. Foto: Arquivo / UEFA

 

Dagan entra nessa história em 1965, quando convenceu o presidente da federação israelense a experimentar a disputa por pênaltis na Copa de Israel, com intuito de evitar jogos-desempate. Não está claro se o dirigente teve a ideia por si ou se haveria inspiração em algum outro torneio que já adotara o método. De qualquer maneira, seria em 1968, durante os Jogos Olímpicos da Cidade do México, que a iniciativa do israelense se expandiria.

Presente no torneio de futebol, Israel avançou na fase de grupos e enfrentou a Bulgária nas quartas de final. Os oponentes abriram o placar logo no início da partida, com Georgi Hristakiev, mas os israelenses buscaram o empate aos 44’ do segundo tempo, com Yehoshua Feigenbaum, e forçaram a prorrogação. O empate por 1 a 1 prevaleceu e, sem tempo suficiente a um novo encontro, o sorteio seria realizado. Israel perdeu no papelzinho, os búlgaros terminaram com a prata posteriormente e um sentimento de injustiça tomou Dagan.

“Sabíamos que não era a maneira certa de decidir um jogo e eu já conhecia qual era uma forma mais justa de apontar o classificado. Esporte é sobre equidade e temos que dar aos dois times a chance de decidir o vencedor”, declarou Dagan ao escritor Ben Lyttleton, autor do livro ‘Twelve Yards: The Art and Psychology of the Perfect Penalty Kick’.

Ao lado de Michael Almog, o presidente da federação israelense, Yosef Dagan teria tomado a iniciativa de apresentar formalmente a sua sugestão da disputa por pênaltis à FIFA e à International Board. Em agosto de 1969, ao lado de Almog, ele assinou um artigo publicado na revista oficial Fifa News. “O sorteio é imoral e até mesmo cruel. É injusto ao time perdedor e não é honrável ao vencedor”, declarava. A classificação da Itália sobre a União Soviética na semifinal da Euro 1968, também através de sorteio, foi outro evento cabal para aumentar a pressão pela mudança no modelo de desempate.

Outro a reivindicar a paternidade dos pênaltis é o alemão Karl Wald. O árbitro igualmente não gostava dos sorteios e já realizaria a disputa por pênaltis em torneios que apitava, de base ou amadores. A partir da federação bávara, ele teria conseguido fazer os dirigentes de seu país levarem a ideia dos pênaltis às instâncias superiores. Até por seu artigo enviado à FIFA, todavia, a influência de Dagan parece bem mais preponderante. Amigo do árbitro malaio Koe Ewe Teik, membro da International Board, o israelense ainda teria o convencido a reforçar a sugestão à entidade que define as regras do jogo.

Fato é que, seja sugerida por Israel ou pela Alemanha, a adoção da ideia aconteceria em 27 de junho de 1970. A IFAB se reuniu na Escócia dias depois da final da Copa do Mundo e bateu o martelo. A primeira disputa por pênaltis da história ocorreu em pouco tempo, em agosto de 1970, na extinta Copa Watney – um torneio de pré-temporada que reunia clubes das quatro primeiras divisões do Campeonato Inglês. O Manchester United eliminou o Hull City na marca da cal. George Best foi o primeiro a executar uma cobrança, convertendo o chute, enquanto Denis Law se tornou o primeiro a perder. Por sorte, os Red Devils virariam a contenda.

Dagan receberia homenagens ainda em vida por seu pioneirismo. Em 1999, o israelense foi convidado de honra da UEFA e ganhou um prêmio por sua contribuição ao esporte. É o agradecimento que muitos aficionados pelo futebol também fazem ao veterano. É difícil encontrar alguém que não goste de apreciar a inovação de Dagan – logicamente, se não for o seu próprio time presente na disputa por pênaltis. A história da modalidade mudou graças ao dirigente.

 

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