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Esquadrão Imortal – LDU 2008-2010

LDU 2008-2010
Em pé: Manso, Urrutia, Cevallos, Renán Calle e Paul Ambrossi. Agachados: Luis Bolaños, Norberto Araujo, Enrique Vera, Bieler, Jairo Campos e Guerrón.

 

 

Grandes feitos: Campeã da Copa Libertadores da América (2008), Campeã da Copa Sul-Americana (2009), Bicampeã da Recopa Sul-Americana (2009 e 2010) e Campeã Equatoriana (2010). Foi o primeiro clube do Equador a conquistar um título da Copa Libertadores na história e o primeiro do país a conquistar torneios internacionais.

Time base: Cevallos (Domínguez); Campos (Jorge Guagua), Norberto Araujo e Calle (Espínola); Vera (de la Cruz) e Urrutia (Willian Araujo); Guerrón (Néicer Reasco), Manso (Édison Méndez), Luis Bolaños (Walter Calderón / Miller Bolaños) e Ambrosí (Diego Calderón / Carlos Luna); Bieler (Hernán Barcos). Técnicos: Edgardo Bauza (2008 e 2010) e Jorge Fossati (2009).

 

 

“Os fantasmas de Casa Blanca”

Por Guilherme Diniz

Até hoje aquelas três letrinhas são capazes de trazer os mais terríveis pesadelos para os torcedores tricolores. Eles acordam suando frio na madrugada, às vezes soluçando, tensos e em pânico. Um pesadelo que não é um simples pesadelo. Ele aconteceu de verdade. Duas vezes, no mesmo estádio e contra o mesmo adversário vindo do Equador: LDU. Uma Liga que conseguiu a façanha de se tornar a primeira agremiação sul-americana a comemorar um título de Copa Libertadores no mais mítico estádio do continente: o Maracanã. Um ano depois, no mesmo Maracanã, lá estavam os equatorianos erguendo outra taça continental, dessa vez de “menor porte”, mas não menos importante – a Copa Sul-Americana.

Foram apenas dois anos, mas o bastante para sacramentar aquele time como um dos mais copeiros da história da América e também um dos mais lembrados, seja pelo drama que ele causou aos torcedores do Fluminense, seja pelo futebol competitivo e extremamente eficaz. Em casa, aquele esquadrão era praticamente imbatível. Mais do que isso, ele humilhava seus adversários, poderia ser qualquer um, não importava. Guerrón, Bieler, Bolaños, Ambrosí, Reasco, Méndez, Calderón… Todos desfilaram no estádio Casa Blanca, em Quito, que se transformava em alçapão, em caldeirão, em cemitério de equipes favoritas e cheias de pompa. É hora de relembrar as façanhas do primeiro clube equatoriano campeão da América.

 

Ressurgindo das cinzas

Edgardo Bauza: responsável por montar a base copeira da LDU a partir de 2006.
Edgardo Bauza: responsável por montar a base copeira da LDU a partir de 2006.

 

 

A LDU era, até o começo dos anos 2000, uma equipe ofuscada pelos clubes tradicionais do país como El Nacional, Barcelona e Emelec. Ninguém dava bola para aquele time de “universitários” que queria ser gigante, ainda mais depois de um rebaixamento no campeonato nacional de 2000 e graves crises financeiras. O time só foi se reerguer em 2003, quando jogadores como Patricio Urrutia e Néicer Reasco ajudaram a equipe a bater o El Nacional na partida decisiva do campeonato equatoriano por 2 a 1, resultado que deu a taça à Liga. No ano seguinte, a equipe fez uma boa campanha na Libertadores, meteu 3 a 0 no São Paulo e 4 a 2 no Santos, mas caiu nas oitavas de final. Mesmo assim, os ventos eram prósperos no reino de Casa Blanca e a torcida via um futuro de glórias para a equipe. Em 2006 e 2007, a Liga contratou bem e reforçou seu elenco com jogadores de qualidade e espírito competitivo como Ambrosí, Espinoza, Méndez, Delgado e os já da casa Urrutia e Reasco.

A equipe alcançou as quartas de final da Libertadores de 2006 e viu sete de seus jogadores (Urrutia, Méndez, Delgado, Mora, Ambrosí, Espinoza e Reasco) brilharem pela seleção equatoriana na Copa do Mundo de 2006. No entanto, a exibição dos craques na maior vitrine do futebol mundial custou a debandada de vários deles, obrigando a LDU a reformular seu elenco. Em 2007, o time contratou o técnico argentino Edgardo Bauza, que melhorou a forma de jogar da equipe, passou a adotar um sistema ofensivo com foco nos pontas e obteve o título do Campeonato Equatoriano de 2007, que classificou a equipe para a Copa Libertadores de 2008. E seria na competição continental que a LDU iria, enfim, mostrar sua força.

 

Equipe feita para Copas

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O técnico Bauza tinha em mãos um time conhecido por poucos, mas que daria trabalho a muitos naquele ano de 2008. A equipe da LDU jogava basicamente num 3-6-1, ou mesmo num 3-2-4-1, com apenas o matador Bieler na frente. Porém, se enganava quem achava que aquele time era fraco no ataque. Muito pelo contrário. Pelas pontas, Guerrón e Bolaños eram velocistas de talento que abusavam da habilidade e causavam sérios estragos nas zagas rivais. O meio de campo e as laterais tinham muita força na marcação e na criação com Urrutia, Manso e Ambrosí. E o sistema defensivo era complicado de se passar e muito bem comandado pelo argentino Norberto Araujo e pelo goleiro Cevallos. Com o time formado e embalado pelo título nacional de 2007, a LDU foi com tudo na Libertadores.

A equipe esteve no Grupo 8 ao lado de Arsenal-ARG, Libertad-PAR e… Fluminense-BRA. A estreia dos equatorianos foi exatamente contra o Tricolor e deu empate na altitude de Quito: 0 a 0. O jogo seguinte também foi em casa, contra o Libertad, mas dessa vez Urrutia e Guerrón garantiram a vitória por 2 a 0. No último jogo do turno, vitória fora de casa sobre o Arsenal por 1 a 0, gol de Urrutia. No returno do grupo, goleada por 6 a 1 sobre o mesmo Arsenal em Quito, gols de Urrutia, Manso, Bolaños (2), Bieler e Obregón, derrota no Paraguai para o Libertad por 3 a 1 e derrota no Maracanã para o Fluminense por 1 a 0. Mesmo com os revezes finais, os equatorianos se classificaram em segundo no grupo com 10 pontos ganhos. Era hora do mata-mata.

 

Sem medo de gigantes

Guerrón (à esq.): talento pelo lado direito do ataque da LDU em 2008.
Guerrón (à esq.): talento pelo lado direito do ataque da LDU em 2008.

 

 

Nas oitavas de final a LDU teve pela frente um gigante da América do Sul: o tricampeão Estudiantes-ARG. No primeiro jogo, em Quito, Guerrón e Manso deram a vitória à Liga por 2 a 0, resultado confortável e que dava uma boa vantagem para a volta, em La Plata. Mesmo jogando contra um adversário forte e perigoso, a LDU mostrou maturidade e abriu o placar na partida de volta com Bolaños. Os argentinos ainda viraram, mas o golzinho marcado no estádio Ciudad La Plata colocou a equipe de Casa Blanca nas quartas de final.

A parada seguinte foi ainda mais complicada para a Liga – e outra vez vinda da Argentina: o San Lorenzo de D´Alessandro, que tinha conseguido uma classificação épica contra o River Plate-ARG nas oitavas de final. No primeiro jogo, em Buenos Aires, Bieler abriu o placar para a valente LDU, mas González empatou e deixou a decisão para Quito. No estádio Casa Blanca completamente tomado por mais de 55 mil torcedores, Manso fez 1 a 0 para a Liga, Bergessio empatou e o confronto foi para os pênaltis. Nas cobranças, show da LDU e azar do San Lorenzo, que perdeu um chute e viu os equatorianos vencerem por 5 a 3. Liga na semifinal!

O último desafio antes da final foi contra o América-MEX de Cabañas, baixinho terror de equipes como Flamengo-BRA e Santos-BRA naquela Libertadores. Mas a LDU soube neutralizar o jogador e segurou o empate em 1 a 1 na partida de ida, no México, com um gol de Bolaños. Na volta, o 0 a 0 levou a equipe para uma histórica final contra um velho conhecido: o Fluminense.

A LDU de 2008: a força do time era pelas laterais, com Guerrón no auge e Bolaños iluminado, além do matador Bieler.
A LDU de 2008: a força do time estava nas laterais, com Guerrón no auge, além do matador Bieler.
 

 

O terror da Casa Blanca

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A LDU era zebra naquela final de Libertadores de 2008. O Fluminense vinha de uma campanha sensacional e de classificações mágicas contra São Paulo-BRA e Boca Juniors-ARG. Segurar aquele time de Thiago Silva, Gabriel, Arouca, Conca, Thiago Neves e Washington era terrível, ainda mais no Maracanã sempre repleto com 70, 80 mil pessoas. Sabendo disso, a LDU precisava de um bom resultado jogando em casa para ir até o caldeirão carioca mais tranquila. Mas nem o mais fanático torcedor equatoriano poderia imaginar uma vantagem como a construída pela equipe no estádio Casa Blanca. O time do técnico Bauza fez um primeiro tempo simplesmente brilhante, sufocou o Fluminense tanto na bola quanto na altitude e aplicou uma goleada impiedosa: 4 a 1.

Bieler, Guerrón, Campos e Urrutia não tiveram dó do goleiro Fernando Henrique e da perdida zaga tricolor e comemoraram os gols do chocolate. A equipe brasileira foi para os vestiários totalmente atordoada e praticamente vice-campeã continental já no primeiro jogo. Mas, para a sorte dos tricolores, Thiago Neves marcou um golzinho no segundo tempo e manteve viva a esperança do time brasileiro. Na volta, no Maracanã, o Fluminense precisaria de três gols para ficar com o título.

Casa Blanca: caldeirão
Casa Blanca: caldeirão
 

 

Final alucinante

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No dia 02 de julho de 2008, o estádio do Maracanã estava simplesmente maravilhoso. Quase 90 mil pessoas tingiam o mítico palco carioca de verde, branco e grená como jamais o Brasil tinha visto. Nem nos tempos da Máquina de Rivellino o Maraca ficou tão bonito como naquela noite. A torcida inflamava os jogadores de uma maneira épica, única e surpreendente. Só aquela festa já dava razões para acreditar na conquista do Fluminense. Só que todos pareciam ter esquecido de que do outro lado havia a LDU. Com apenas seis minutos de jogo, Bolaños aproveitou para fazer 1 a 0 e aumentar uma já confortável vantagem de 4 a 2 para 5 a 2. O Fluminense precisava de quatro gols para levar a América no tempo normal. Agora parecia impossível. Parecia, não estivesse em campo o meia Thiago Neves, que teve uma das maiores atuações individuais da história da competição ao anotar três gols épicos que colocaram o Fluminense de volta à disputa com um 5 a 5 no placar agregado (o maior na história das finais da Libertadores).

A equipe brasileira até poderia ter feito o quarto, o quinto, mas esbarrou na falta de pontaria e nas defesas de Cevallos. Mesmo atrás do placar, a LDU conseguia equilibrar as coisas com uma maturidade impressionante e muito sangue frio, principalmente na prorrogação. Nos contra-ataques, o time quase carimbou o título, mas pecou na hora da finalização. Depois de 120 minutos eletrizantes e dignos de final de Libertadores, o campeão de 2008 teve de ser conhecido nos pênaltis.

Cevallos defende um dos três pênaltis que ele não deixou entrar naquela noite.
Cevallos defende um dos três pênaltis que ele não deixou entrar naquela noite.

 

 

Na marca da cal, diante de quase 90 mil pessoas, seria um equatoriano o dono da noite: Cevallos. O goleiro usou toda a sua malandragem e talento para defender as cobranças de Conca, Thiago Neves e Washington ao se movimentar constantemente em cima da linha do gol e até reclamar com o juiz da posição da bola. As artimanhas deram certo, a LDU venceu por 3 a 1 e calou uma nação inteira de tricolores: LDU campeã da América. Pela primeira vez na história, um time do Equador levantava a mais cobiçada taça do continente e pela primeira vez o Maracanã via a festa de um time campeão da Libertadores. Estrangeiro, mas via. A LDU foi recebida com uma imensa festa em seu país, que via nascer naquele momento a mais nova potência do Equador e que conseguia o que nenhum dos chamados grandes haviam conseguido: uma glória internacional. E que glória!

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Duro revés no Japão

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Depois do título da Libertadores e o vice-campeonato nacional, a LDU viajou ao Japão para a disputa do Mundial de Clubes da FIFA em dezembro de 2008. A equipe chegou sem duas peças importantes na conquista da América (Guerrón e Vera), mas conseguiu uma boa vitória sobre o Pachuca-MEX na semifinal por 2 a 0, gols de Bieler e Bolaños. O triunfo colocou os equatorianos na final contra os ingleses do Manchester United. A equipe equatoriana começou o jogo nervosa e não agrediu o United em nenhum momento da primeira etapa, que teve amplo domínio inglês: 64% de posse de bola e 11 chutes a gol contra 4 da LDU. No segundo tempo, a LDU equilibrou um pouco o duelo, chegou mais ao ataque, mas foi o United que abriu o placar com Rooney, aos 28´. O 1 a 0 permaneceu até o final e o Manchester se consagrou bicampeão mundial. Era hora de a LDU voltar para casa. E tentar repetir o brilho do ano que terminava na temporada seguinte.

 

Novas peças, fiasco na Liberta e título na Recopa

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Em 2009, a LDU perdeu o técnico Bauza para o futebol árabe, mas trouxe o velho conhecido Jorge Fossati para manter a pegada copeira da equipe. O uruguaio tinha como missão continuar o trabalho de seu antecessor e tentar o bicampeonato da Libertadores, já que o elenco era quase o mesmo do ano anterior. Mas o início dos trabalhos não foi nada fácil. A LDU esteve irreconhecível na fase de grupos da competição continental e amargou o último lugar do Grupo 1, atrás de Sport Recife-BRA, Palmeiras-BRA e Colo-Colo-CHI. A campanha foi pífia: uma vitória, um empate e quatro derrotas, incluindo uma de 3 a 2 para o Sport em pleno estádio Casa Blanca.

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Depois do desastre na Libertadores, a equipe conseguiu se reforçar com as voltas de Vera, Reasco e Méndez, partindo em busca de mais um título continental: a Recopa Sul-Americana. O adversário foi outro clube brasileiro, o Internacional, campeão da Copa Sul-Americana de 2008. No primeiro jogo, no Beira Rio, a LDU mostrou outra vez sua maturidade e poder de decisão ao vencer os colorados por 1 a 0, gol de Bieler, resultado que calou os mais de 30 mil torcedores que esperavam uma vitória do time comandado por Tite e que tinha Bolívar, Índio, Sandro, Andrezinho, Taison, Alecsandro, Giuliano e Nilmar.

Na volta, na temida Casa Blanca, aconteceu o que já era esperado: vitória da LDU, de goleada, por 3 a 0, gols de Espínola, Bieler e Vera. A LDU comemorava mais uma taça internacional e ia com embalo para mais um desafio no segundo semestre: a Copa Sul-Americana.

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Concentração na Copa

Claudio Bieler: referência máxima no ataque da LDU em 2008 e 2009.
Claudio Bieler: referência máxima no ataque da LDU em 2008 e 2009.

 

 

Visando mais uma taça internacional e um feito extraordinário (ter todas as taças das competições organizadas pela Conmebol), a LDU depositou as suas fichas na Copa Sul-Americana e outra vez foi mal no campeonato equatoriano (4º lugar), mas viu o atacante Bieler ser o artilheiro do torneio com 22 gols. A estreia na Copa foi contra o Libertad-PAR e a Liga venceu o primeiro jogo em casa por 1 a 0 (gol de Reasco) e empatou fora em 1 a 1. A partir das oitavas de final, o time equatoriano começou a ascender a chama mítica de seu estádio e destroçar os rivais que lá tentavam a sorte. O primeiro foi o Lanús-ARG que levou 4 a 0 (três gols de Bieler e um de Méndez). Na volta, empate em 1 a 1 (um gol de Bieler) e classificação assegurada. Nas quartas, duelo contra mais um time argentino: Vélez Sarsfield. Na ida, em Buenos Aires, empate em 1 a 1 (gol de Bieler). Na volta, vitória da LDU de virada por 2 a 1, gols de Vera e Espínola, e classificação para as semifinais.

 

Baile e decisão

Jorge Fossati manteve a pegada da equipe e faturou títulos em 2009.
Jorge Fossati manteve a pegada da equipe e faturou títulos em 2009.

 

 

Na semifinal, a LDU encarou o surpreendente River Plate do Uruguai, que havia eliminado San Lorenzo-ARG e Vitória-BRA. No primeiro jogo, em Montevidéu, vitória uruguaia por 2 a 1 (gol da Liga marcado por Méndez). A LDU teria que vencer de qualquer jeito o River em casa se quisesse fazer a final. E ela venceu. Ou melhor, ela humilhou: 7 a 0, com três gols de Bieler, um de Espínola, um de Bolaños, um de Méndez e um de de la Cruz. Pelo segundo ano seguido, a Liga estava em uma final continental. E, curiosamente, o adversário era o mesmo também: o Fluminense.

 

CPF na nota?

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Méndez (à dir.) esconde a bola: show e hat-trick.

 

 

Um desavisado que chegasse ao estádio Casa Blanca em 25 de novembro de 2009 poderia achar que tinha entrado no túnel do tempo: final de uma competição da Conmebol, LDU e Fluminense, Casa Blanca lotado… Era a final da Libertadores de 2008?! Parecia, mas a competição era a Copa Sul-Americana, o Fluminense não tinha mais os craques do ano anterior e a LDU estava até mais forte que em 2008, principalmente no meio de campo, com Méndez como maestro. Por conta disso, os equatorianos eram os favoritos da vez e tinham todo o cenário a seu favor para voltar a vencer os brasileiros. E eles venceram.

Nem o gol relâmpago de Marquinhos ajudou o Flu. Méndez deu show, marcou três, e ainda viu Salas e de la Cruz ampliarem o placar de mais uma goleada da Liga sobre o Tricolor: 5 a 1. Os cariocas não viram a cor da bola e sentiram a altitude, a pressão da torcida e o futebol envolvente dos equatorianos. Outra vez a equipe das Laranjeiras teria que se apoiar no improvável para conseguir o título: vencer por mais de quatro gols a partida de volta. Dureza…

A LDU campeã da Copa Sul-Americana de 2009: dois atacantes, Méndez na criação e a mesma força no meio de campo.
A LDU campeã da Copa Sul-Americana de 2009: dois atacantes, Méndez na criação e a mesma força no meio de campo.
 

 

E o Maracanã virou salão de festas!

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No dia 2 de dezembro, o Fluminense vestiu o branco, a LDU o azul e dourado, e as equipes voltaram a decidir uma taça continental no gigante Maracanã. Ao contrário do ano anterior, a LDU tinha uma proposta bem clara desde o início do jogo: se fechar na defesa e não apostar na sorte de 2008, quando o time se salvou de perder o título ainda no tempo normal. O Fluminense começou com tudo, claro, mas foi vítima do cansaço do fim de temporada e da falta de talento no meio de campo e nas laterais. O time conseguiu três gols, viu a LDU ter dois jogadores expulsos, mas o placar ficou mesmo em 3 a 0, com grande atuação do goleiro Domínguez. A Liga era campeã da Copa Sul-Americana! Pelo segundo ano seguido, o Maracanã via uma festa estrangeira. E a LDU carimbava sua sina de copeira e de terror de qualquer torcedor do Fluminense no planeta.

 

Reforços e novas taças

Hernán Barcos: ele supriu a ausência de Bieler com gols.
Hernán Barcos: ele supriu a ausência de Bieler com (muitos) gols.

 

 

Em 2010, a LDU trouxe de volta o técnico Edgardo Bauza, e o treinador voltou a brilhar com a equipe de Quito. Depois de perder a Copa Suruga para o FC Tokyo no Japão, o time deu a volta por cima e venceu a Recopa Sul-Americana, dessa vez contra o Estudiantes-ARG, campeão da Libertadores de 2009. No primeiro jogo, em Quito, vitória da Liga por 2 a 1, com dois gols de Hernán Barcos, atacante que chegou em 2010 para substituir Bieler. Na volta, a Liga jogou fechadinha e segurou o empate sem gols que garantiu o bicampeonato do torneio.

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No decorrer da temporada, a equipe caiu na Sul-Americana perdendo para o Independiente-ARG na semifinal e conquistou o título do campeonato nacional ao derrotar o Emelec na decisão por 2 a 0 na ida (dois gols de Miller Bolaños) e perder só de 1 a 0 na volta. Barcos foi o grande artilheiro do time na competição com 22 gols e conseguiu fazer a torcida esquecer a perda do ídolo Bieler. Mas o time copeiro e campeão que todos conheciam estava prestes a perder força.

 

Vice continental e o fim

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Em 2011, a LDU continuou a brilhar com os gols de Barcos e sob o comando de Edgardo Bauza e decidiu mais uma vez a Copa Sul-Americana. No entanto, o time equatoriano não foi páreo para a Universidad de Chile, chamada de “Barcelona das Américas” por conta do futebol bonito, e foi derrotada nos dois jogos (1 a 0 em Quito e 3 a 0 no Chile). Para piorar, Barcos deixou a equipe em 2012 para jogar no Palmeiras-BRA e a equipe perdeu o pique e a força de outrora.

A LDU conseguiu façanhas memoráveis e títulos de causa inveja em muitos gigantes do futebol continental. Copeira, competitiva, responsável por calar o Maracanã como há décadas não se via e pioneira internacional no Equador, é fácil entender a importância da Liga Deportiva Universitaria entre 2008 e 2010 no cenário sul-americano. Um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

Cevallos: um símbolo da LDU e herói na conquista da Libertadores de 2008 ao defender três pênaltis, o goleiro José Francisco Cevallos fez carreira na Liga com títulos, ótimas atuações e muita sorte. Jogou na equipe de 2008 até 2011 e participou dos quatro títulos internacionais do clube no período. A partir de 2009, começou a perder espaço para o gigante Domínguez, mas continuou no elenco. Se aposentou em 2011. Disputou mais de 80 jogos pela seleção do Equador.

Domínguez: imponente no gol com seus 1,93m, o goleiro Alexander Domínguez manteve a sina de bons arqueiros da LDU naquele período de glórias. Domínguez foi fundamental nas conquistas de 2009 e se revezou com Cevallos em 2010 nos títulos da Recopa e do campeonato nacional.

Campos: ao lado de Araujo e Calle, Jayro Campos formou uma grande zaga na LDU em 2008 e foi um dos melhores zagueiros da Libertadores daquele ano. Tinha muita força e segurança, além de ter qualidade no passe e no jogo aéreo.

Jorge Guagua: supriu a saída de Campos em 2010 e ajudou a LDU na conquista da Recopa e do campeonato nacional. Disputou a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha e foi um dos destaques da equipe.

Norberto Araujo: simplesmente o dono da zaga da LDU naquele período de ouro e o xerifão do time na grande área. O argentino naturalizado equatoriano se identificou instantaneamente com a equipe a partir de 2007 e foi essencial para os títulos conquistados pela Liga entre 2008 e 2010.

Calle: outro defensor vitorioso na LDU, Renán Calle integrou o elenco da equipe equatoriana entre 2007 e 2010. Foi crucial na conquista da Libertadores de 2008 e era muito eficiente na marcação. Encerrou a carreira em 2011 por outra Liga, a de Loja.

Espínola: o defensor teve duas passagens pela LDU (2003-2006 e 2009-2010) e em ambas faturou títulos. Jogava pelo lado esquerdo da zaga com muita raça. Às vezes, abusava da força e deixava sua equipe em apuros com cartões amarelos e até vermelhos. No entanto, fez uma boa Copa Sul-Americana em 2009 e foi titular na conquista.

Vera: o paraguaio foi o comandante do meio de campo da LDU na conquista da Libertadores de 2008 com muita raça e espírito competitivo. Ganhou o apelido de “Bad Vera” justamente por sua agressividade e combate. Tinha também muita velocidade, força na marcação e fôlego invejável. Conquistou quatro títulos com a LDU entre 2007 e 2009 e marcou presença em várias partidas da seleção paraguaia. Grande ídolo da torcida da Liga.

de la Cruz: volante ou lateral, Ulises de la Cruz era o elemento surpresa no ataque da LDU nas conquistas de 2009 e 2010. Marcava gols importantes e ainda ajudava na marcação do lado direito do campo. Rápido e muito importante para o esquema tático da equipe, de la Cruz encerrou a carreira na LDU em 2012 e seguiu carreira política.

Urrutia: foi o capitão da LDU no momento mais glorioso da história do clube: a conquista da Libertadores. Essencial no meio de campo da equipe com marcação, visão de jogo, qualidade no passe e força no chute de meia distância, Patricio Urrutia foi ídolo na Liga e conquistou sete canecos com os universitários. Foi constantemente convocado para a seleção equatoriana.

Willian Araujo: assumiu o meio de campo da LDU depois da Libertadores de 2008 e manteve a pegada no setor com a saída de Vera. Tinha flexibilidade e poder de criação, além de velocidade e segurança na marcação. Jogou na equipe equatoriana de 2008 até 2011.

Guerrón: com velocidade, habilidade, impressionante explosão física e muita personalidade, Joffre Guerrón foi a grande estrela da LDU na conquista da Libertadores de 2008. Pelos seus pés surgiram gols, passes para gols e o início de jogadas maravilhosas de ataque. Foi o terror dos adversários no setor direito e jogou muito naquele ano de 2008. Seu futebol rapidamente chamou a atenção do futebol europeu, que levou a estrela negra logo após a Libertadores. Depois que partiu, Guerrón não reencontrou seu futebol virtuoso e fez muita falta para a equipe equatoriana no Mundial de Clubes de 2008.

Néicer Reasco: extremamente identificado com a LDU (clube onde iniciou sua carreira), o lateral-direito Reasco foi um símbolo da equipe equatoriana em suas três passagens por Quito. Curiosamente, não estava na LDU quando a equipe conquistou a Libertadores (jogava no São Paulo na época). O lateral voltou em 2008 mesmo e tirou o atraso com as taças da Recopa de 2009 e 2010 e da Copa Sul-Americana de 2009. Muito rápido e forte, Reasco é considerado um dos maiores defensores do futebol equatoriano.

Manso: pequenino, mas muito habilidoso, Damián Manso foi outro jogador importante no meio de campo da LDU na Libertadores de 2008. Dava passes maravilhosos e tinha muita facilidade em virar o jogo, algo raro no futebol atual. Deixou a LDU em 2009 para brilhar no Pachuca-MEX, onde conquistou a Liga dos Campeões da Concacaf de 2010.

Édison Méndez: depois de uma passagem de destaque pela LDU entre 2005 e 2006, Méndez voltou ao meio de campo da equipe em 2009 e se tornou a grande estrela do time. Habilidoso, com grande visão de jogo e facilidade imensa em bater na bola, o jogador foi crucial para a conquista da Copa Sul-Americana daquele ano ao destroçar o Fluminense na final com três gols. Foi um dos grandes craques revelados pelo Equador no começo do século XXI.

Luis Bolaños: ao lado de Bieler e Guerrón, Bolaños era a arma de ataque da LDU na Libertadores de 2008. Marcou cinco gols e foi a referência no lado esquerdo da equipe. Foi revelado pela própria LDU e teve passagens por Santos e Internacional em 2009. Todas apagadas e sem o brilho dos tempos de Liga.

Walter Calderón: grandalhão (1,91m), o atacante fez companhia a Bieler na campanha da Sul-Americana de 2009. Foi importante como pivô e principalmente no jogo aéreo.

Miller Bolaños: o meio campista foi importante nas conquistas de 2009 e 2010 da LDU, mas sua participação foi mais decisiva no campeonato equatoriano, quando marcou gols cruciais e esbanjou categoria na reta final do torneio.

Ambrosí: outra cria da LDU e ídolo do clube, Ambrosí foi o pulmão do time no setor defensivo esquerdo e ajudava também no ataque, principalmente nas campanhas do campeonato equatoriano de 2007 e 2010 e da Libertadores de 2008. Muito versátil e seguro, jogou muito bem naquela era de ouro.

Diego Calderón: foi defensor e volante na LDU entre 2007 e 2012. Era titular na campanha da Libertadores de 2008, mas sofreu uma contusão e perdeu espaço para Calle. Conseguiu se recuperar e foi essencial na campanha da Sul-Americana de 2009, quando jogou mais avançado pelo meio.

Carlos Luna: atacante argentino que ajudou a LDU a conquistar a Recopa de 2010 e o campeonato nacional de 2010. Tinha oportunismo e velocidade.

Bieler: o argentino Claudio Bieler foi o homem gol da LDU nas duas principais conquistas da equipe – a Libertadores e a Sul-Americana. Fez gols adoidado sempre com muito oportunismo, categoria e presença de área. Foi artilheiro do campeonato equatoriano de 2009 (22 gols), da Sul-Americana de 2009 (8 gols) e ganhou o prêmio Alberto Spencer de melhor atacante do Equador em 2009.

Hernán Barcos: antes do “Pirata” brilhar no Palmeiras, ele fez fama na LDU entre 2010 e 2011. Com muitos gols, oportunismo e o futebol incisivo que lhe é característico, o argentino não deixou o torcedor da Liga ficar com saudades de Bieler e manteve a sina de bons atacantes da equipe no período.

Edgardo Bauza e Jorge Fossati (Técnicos): Bauza é talvez o mais importante técnico da história da LDU por razões óbvias – ganhou a Libertadores, a Recopa de 2010 e os campeonatos nacionais de 2007 e 2010, além de formar a base de uma equipe copeira e extremamente eficaz em torneios curtos. O argentino marcou época em Casa Blanca e quebrou a escrita de que clubes do Equador não ganhavam títulos internacionais. Jorge Fossati já havia passado pela LDU em 2003 (e conquistado o título nacional) antes de voltar ao clube em 2009 para outra vez faturar taças – a Sul-Americana e a Recopa. Ambos são eternos e imortais na equipe equatoriana.

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Comentários encerrados

6 Comentários

  1. Curiosidade: Na Final da Liberta, A Organização estava tão confiante que o Fluminense, ia ganhar que na Hora
    que a LDU levantou o troféu se você reparar bem o Papel Picado que explode é da cor do Fluminense.

  2. pessoal quando vcs vão imortalizar o fernando redondo ( um dos melhores volantes do futebol mundial ) e falar do esquadrão tricolor de 2006 a 2008 tri – brasileiro seguido

Esquadrão Imortal – Real Madrid 1955-1960

Esquadrão Imortal – Liverpool 1975-1984