Grandes feitos: Campeão da Copa Libertadores (1990), Campeão da Supercopa Sul-Americana (1990), Campeão da Recopa Sul-Americana (1991), Bicampeão do Campeonato Paraguaio (1988 e 1989), Vice-Campeão da Copa Libertadores (1989 e 1991) e Vice-Campeão do Mundial Interclubes (1990).
Time-base: Ever Almeida (Jorge Battaglia); Juan Zacarías Ramírez (Miño / Virginio Cáceres), Remigio Fernández (Benítez), Mario César Ramírez (Chamas / César Castro) e Silvio Suárez (Krausemann / Daniel Santurio); Fermín Balbuena (Sanabria), Guasch, Luis Alberto Monzón (Bobadilla / Cristóbal Cubilla) e Gabriel González Chaves (Neffa / Adolfo Jara / Carlos Guirland); Raúl Amarilla (Carlos Torres) e Adriano Samaniego (Mendoza). Técnico: Luis Cubilla.
“A Volta do Expreso Decano”
Por Guilherme Diniz
Nos anos 1950, o Club Olimpia fez história no futebol paraguaio com um time que venceu o campeonato nacional por quatro vezes consecutivas (uma delas de maneira invicta, em 1959) e fez o alvinegro ganhar o apelido de Expreso Decano, em alusão a sua imparável vocação vencedora. Em 1960, o clube ainda disputou a primeira final da história da Copa Libertadores diante do Peñarol (que ficou com o título) e provou já naquela época que tinha vocação para ser um dos mais emblemáticos clubes da competição continental. Os anos se passaram e, em 1979, o Olimpia venceu sua primeira Liberta diante do Boca Juniors em plena La Bombonera. No mesmo ano, foi campeão do mundo.
Mas nem aquele esquadrão conseguiu encantar como o que apareceu pelas bandas de Assunção na década seguinte. Foi a reedição do Expreso Decano. Uma timaço que desfilou pelo continente e disputou impressionantes três finais seguidas de Copa Libertadores, uma delas a “Final de la Tortura” contra o Atlético Nacional-COL, em 1989, tida como uma das 10 maiores finais da história do torneio. Apesar da derrota, o Olimpia deu a volta por cima e venceu o título em 1990, que abriu as portas para mais conquistas continentais – Supercopa e Recopa -, e outra final de Libertadores em 1991, perdida para o Colo-Colo. Foram anos mágicos para o Decano de Assunção, que sacramentou uma nova era de glórias, jogaços e goleadas épicas comandadas por Ever Almeida, Gabriel “El Loco” González, Guasch, Monzón, Raúl Amarilla, Samaniego e o homem cuja história se confunde com a Libertadores e o próprio Olimpia: o técnico Luis Cubilla, campeão da América em 1979 e novamente campeão em 1990. É hora de relembrar.
Sumário
Esquentando a caldeira!
Sob a presidência de Osvaldo Domínguez Dibb a partir de 1976, o Olimpia viu sua história mudar no final dos anos 1970 e em toda a década de 1980. Em casa, o Decano emendou seis títulos consecutivos no Campeonato Paraguaio – de 1978 até 1983 – e, no âmbito internacional, levantou a Copa Libertadores de 1979, a Copa Interamericana de 1980 e o Mundial Interclubes de 1979 com um esquadrão que marcou época e serviu como base, inclusive, da Seleção Paraguaia campeã da Copa América de 1979.
Após mais um título nacional em 1985, o Olimpia amargou dois vice-campeonatos paraguaios em 1986 e 1987 e decidiu apostar mais uma vez em um técnico bastante conhecido para comandar o time naquele final de década: o uruguaio Luis Cubilla, multicampeão com o Olimpia lá no final dos anos 1970. O treinador chegou em 1988 e teve a missão de retomar a coroa no Campeonato Paraguaio. Após uma péssima campanha no primeiro turno – 7º lugar – o Olimpia alcançou a liderança do torneio nos dois turnos seguintes e, na chave final com oito clubes, foi novamente o líder para faturar o título.
O grande trunfo do time alvinegro na época era o ótimo elenco que Cubilla tinha a seu dispor, principalmente após a contratação do atacante Raúl Amarilla, que vinha de passagem pelo futebol espanhol e mostrou seu cartão de visitas com a artilharia do Campeonato Paraguaio de 1988 com 17 gols. Com ele, Guasch como guardião do meio de campo, Bobadilla na armação de jogadas e o lendário goleiro Ever Almeida bem protegido por Chamas e Benítez, o Olimpia tinha força para buscar o título da Libertadores em 1989.
No torneio continental, os paraguaios conseguiram a classificação para o mata-mata na “bacia das almas”, apenas na terceira posição, com duas vitórias, um empate e três derrotas, atrás de Cobreloa e Sol de América. Mas foi na hora da pressão que a camisa pesou. Nas oitavas, a equipe eliminou o “freguês” Boca Juniors-ARG (derrotado pelo Olimpia na final da Libertadores de 1979) em dois jogos lendários. O primeiro, em casa, terminou 2 a 0 para os paraguaios com dois gols do artilheiro Amarilla. Na volta, em La Bombonera, o Olimpia levou uma pressão gigantesca dos xeneizes, mas respondeu com gols os que levou. O jogo terminou 5 a 3 para o Boca e o placar agregado de 5 a 5 levou a decisão para os pênaltis. Na marca da cal, Almeida se redimiu da falha em um dos gols do Boca no tempo regulamentar para calar La Bombonera ao defender três cobranças e converter a sua (!), garantindo o placar de 7 a 6 para o Olimpia e mais um triunfo dos alvinegros diante do Boca em uma Copa Libertadores.
Nas quartas, a equipe despachou o compatriota Sol de América após vencer a primeira partida por 2 a 0 e empatar a volta em 4 a 4 (os paraguaios tinham um ataque fora de série, com Amarilla em grande fase e autor de dois gols nesse jogo). Na semifinal, a equipe encarou o Internacional – vice-campeão brasileiro de 1988 e com grandes nomes como Taffarel, Aguirregaray, Leomir e Nilson. Na ida, em casa, os alvinegros foram surpreendidos e perderam por 1 a 0, obrigando o time de Cubilla a vencer no Beira-Rio. Mostrando uma frieza impressionante, o Olimpia abriu o placar logo aos 8’, com Mendoza.
Três minutos depois, veio o empate do Internacional, mas quem tem Amarilla, tem gol, e ele marcou o seu ainda no primeiro tempo. Na segunda etapa, o Inter empatou de novo e teve um pênalti a seu favor logo em seguida. Nilson, cobrador oficial do Colorado, chutou e Almeida defendeu. Foi um baque para o Inter. E a faísca para o Olimpia. Após o pênalti, o Colorado teve um escanteio a seu favor, a zaga paraguaia tirou e engatilhou um contra-ataque que resultou no terceiro gol, do meia Neffa. O placar agregado de 3 a 3 decretou outra disputa de pênaltis no caminho do Olimpia.
A esperança paraguaia era Almeida, herói contra o Boca. Mas o Inter tinha Taffarel, também fortíssimo nesse quesito. Só que aquela disputa foi uma das raras em que o brasileiro não defendeu nenhum tiro. O Olimpia acertou todas as suas cobranças, Almeida defendeu o chute de Leomir e o placar de 5 a 3 classificou os paraguaios para a final. Os alvinegros provaram sua força com um espírito combativo impressionante, típico de Libertadores. E, naquela época, a camisa do Decano e a experiência de seus jogadores pesaram bastante contra o Inter, que ainda não era bicampeão da América.
La final de la Tortura
O adversário do Olimpia na decisão de 1989 foi o Atlético Nacional, com uma lendária geração de craques e que serviria como base para a grande seleção da Colômbia do começo dos anos 1990. Antes dos duelos contra os verdolagas, o Olimpia recebeu uma boa notícia da Conmebol, que impediu o Atlético Nacional de jogar a segunda partida da decisão em sua casa, o estádio Atanasio Girardot, pelo fato de ele não comportar o público mínimo exigido pela entidade (50 mil pessoas). Por isso, a diretoria alviverde teve que escolher um novo local para a partida decisiva: o estádio Nemesio Camacho, na capital Bogotá. No primeiro jogo, no Defensores del Chaco, o Olimpia contou com o apoio da torcida e venceu por 2 a 0, gols de Bobadilla e Sanabria. O artilheiro da Libertadores com 10 gols, Amarilla, passou em branco naquele jogo, muito bem marcado pela dupla de zaga colombiana Perea e Escobar.
Na volta, em Bogotá, o Olimpia foi com uma proposta bem definida: se defender e apostar nos contra-ataques rápidos armados por Bobadilla e Neffa e no poder de decisão de Amarilla, enquanto o Nacional iria todo ao ataque, principalmente com a velocidade de Usuriaga pelas pontas. Em um ambiente energético, estádio lotado e torcida fanática, o jogo foi uma ode ao futebol e entrou para a história como uma das melhores partidas da Libertadores em todos os tempos e presente na lista das 10 maiores finais da Libertadores feita pelo Imortais!
Com lindas jogadas e times que sabiam o que fazer com a bola nos pés, o jogo terminou 0 a 0 no primeiro tempo muito por culpa dos goleiros Almeida e Higuita, que tiveram trabalho para conter as jogadas rápidas construídas tanto pelo Nacional quanto pelo Olimpia. Frio, o time paraguaio soube segurar o rival e contou com uma partidaça de Guasch, perito nos desarmes pelo meio. Só no segundo tempo que o gol saiu, quando Usuriaga chutou cruzado para dentro da área e Miño acabou empurrando a bola para o próprio gol: 1 a 0. Minutos depois, Usuriaga fez o segundo gol e explodiu a torcida no estádio em Bogotá. O placar agregado de 2 a 2 forçava a decisão de pênaltis. O técnico Cubilla ainda tentou mexer no time, mas o Nacional soube neutralizar os paraguaios e o jogo foi para a marca da cal.
As cobranças foram iniciadas pelo Olimpia, com o goleirão Almeida. Só que o arqueiro viu a sorte mudar quando seu chute foi defendido sem sustos por Higuita, que seria o grande nome daquela decisão ao defender quatro chutes e ainda marcar seu gol. Foi um sofrimento e, após 18 chutes no total, o Atlético Nacional venceu por 5 a 4 e garantiu a primeira taça da Libertadores ao futebol colombiano. Leia mais sobre esse jogaço clicando aqui!
Mesmo sem a taça, a campanha do Olimpia foi marcante principalmente pelo futebol apresentado na fase de mata-mata e pelo tino goleador de Amarilla, artilheiro da competição com 10 gols. Com a base vice-campeã, o Olimpia faturou outro título paraguaio em 1989 – com seis pontos à frente do Guaraní, vice -, e 74 gols em 33 jogos, além de 19 vitórias, 12 empates e apenas duas derrotas, conquista que selou uma nova participação do Decano na Libertadores de 1990.
Ainda mais forte
Em 1990, os paraguaios mantiveram a base vice-campeã da América e refizeram o caminho em busca do título perdido, embora o artilheiro Amarilla tenha deixado a equipe para uma passagem-relâmpago no futebol mexicano, retornando meses depois. O técnico Luis Cubilla fez apenas algumas mudanças na equipe principal e daria mais oportunidades às crias das bases, em especial Remigio Fernández e Silvio Suárez, ambos para o setor defensivo, e Luis Alberto Monzón, para o meio de campo. Para o setor ofensivo, Cubilla iria apostar em Gabriel “El Loco” González, Adolfo Jara (para o lugar de Amarilla) e também no reforço pontual trazido pela diretoria: o atacante Adriano Samaniego, cria do Olimpia, mas que havia deixado o clube em meados de 1986 para atuar no futebol mexicano.
Com essas modificações táticas e o reforço de Samaniego, o Olimpia entrou na Libertadores como um dos favoritos, embora seu grupo fosse um dos mais difíceis da competição, afinal, os paraguaios iriam medir forças contra o vizinho Cerro Porteño e os brasileiros Vasco (campeão brasileiro de 1989) e Grêmio (campeão da Copa do Brasil de 1989). Mesmo com adversários complicados, o Olimpia mostrou sua força e se garantiu nos três duelos que disputou em casa. Na estreia, venceu o Cerro Porteño por 2 a 1. Em seguida, bateu o Grêmio por 1 a 0 e o Vasco por 2 a 1, alcançando seis pontos na tabela e 100% de aproveitamento (na época, as vitórias valiam dois pontos, e não três).
No returno do grupo, os paraguaios tiveram que disputar as três partidas fora de casa e iniciaram com revés de 3 a 2 para o Cerro Porteño. No duelo seguinte, contra o Grêmio, em Porto Alegre, o Decano começou perdendo, mas Samaniego empatou. O Grêmio fez 2 a 1 nos acréscimos do primeiro tempo e Samaniego fez mais um na etapa complementar. O empate em 2 a 2 garantiu o Olimpia na fase final e ainda a primeira colocação do grupo, que não foi tirada nem com a derrota por 1 a 0 para o Vasco na última rodada.
A primeira colocação no Grupo 5 permitiu ao Olimpia “pular” as oitavas e ir direto para as quartas de final pelo fato de não haver terceiro colocado no Grupo 2, pois as equipes colombianas que deveriam estar naquela chave não disputaram a Libertadores por não haver campeão nem vice do Campeonato Colombiano de 1989, suspenso por causa do assassinato de um árbitro a mando do narcotráfico na época. O único clube colombiano naquele ano foi o Atlético Nacional, campeão vigente. Nas quartas, o Olimpia encarou a Universidad Católica-CHI já com a volta de Amarilla, que foi logo anotando dois gols na vitória por 2 a 0 no duelo de ida, em casa, para delírio da torcida que lotou o Defensores del Chaco.
Na partida de volta, no Chile, o Olimpia deu ao torcedor fortes emoções e outra prova do poderio ofensivo de seu esquadrão. A Católica abriu o placar aos 20’ com Contreras, mas Samaniego empatou seis minutos depois. Monzón, de pênalti, virou para o Olimpia e Reinoso, também de pênalti, deixou tudo igual. No segundo tempo, Gabriel González fez 3 a 2 para os paraguaios, mas Romero empatou 11 minutos depois. O jogo seguiu elétrico e Monzón fez 4 a 3 para o Olimpia, aos 32’, praticamente liquidando o jogo. Já aos 44’, Romero empatou e fechou o jogaço: 4 a 4, e vaga para o Decano na semifinal. Nela, os paraguaios teriam pela frente o algoz de 1989: o Atlético Nacional.
Revanche!
Os colombianos, rivais do Olimpia naquela semifinal, vinham cheios de problemas naquela Libertadores. Motivo: a Conmebol suspendeu o jogo vencido pelo time verdolaga por 2 a 0 sobre o Vasco, nas quartas de final, após serem reveladas ameaças telefônicas e tentativas de suborno sofridas pelo árbitro do jogo, Juan Daniel Cardellino, e seus auxiliares, a mando dos traficantes comandados por Pablo Escobar, que mantinha estreitas relações com o clube alviverde. Uma nova partida foi marcada e outra vez o Nacional venceu, dessa vez por 1 a 0, mas longe de seus domínios. No confronto contra o Olimpia, o time não poderia jogar em casa e teve que mandar seu jogo em Santiago-CHI. Com apenas 4 mil torcedores, o Olimpia teve a tranquilidade que precisava para vencer, de virada, por 2 a 1, gols de Amarilla e Samaniego, resultado que manteve os alvinegros perto de mais uma final. Só que, por mais que o Atlético Nacional tivesse seus problemas obscuros fora de campo, dentro ele era um timaço.
Na volta, no Defensores del Chaco, Amarilla abriu o placar logo aos 3’, e Arboleda empatou. No segundo tempo, Higuita, de pênalti, virou e Hernández aumentou a vantagem dos colombianos, que garantiam a classificação com o placar de 3 a 1. Mas, faltando dois minutos para o fim, Monzón descontou e forçou a disputa de penalidades. Quer dizer, o show de erros, pois parecia que ninguém queria se classificar para a final! Os goleiros Almeida e Higuita repetiram a decisão de 1989 e começaram as cobranças, mas ambos perderam, com Almeida defendendo o chute de Higuita, algo que não aconteceu na final do ano anterior. O Atlético Nacional ainda desperdiçou mais quatro cobranças – com duas defesas de Almeida – e fez apenas um gol, enquanto o Olimpia errou três, mas fez dois gols (Monzón e Silvio Suárez) e conseguiu a vaga na decisão. Era hora da final. E de encarar o Barcelona de Guayaquil, primeiro clube do Equador a chegar em uma decisão de Libertadores na história.
Enfim, a segunda glória eterna!
O filme de 1990 parecia um repeteco da final do ano anterior. O Olimpia ia começar a decisão em casa e fazer o segundo jogo fora – curiosamente, foi assim nas duas últimas finais do clube paraguaio (1979 e 1989). O adversário dos alvinegros seria o forte Barcelona-EQU, que tinha no elenco nomes como o uruguaio Mario Saralegui – talentoso meio-campista campeão de tudo pelo Peñarol de 1982-1983 -, o argentino Marcelo Trobbiani, campeão do mundo pela Argentina em 1986, o defensor equatoriano Jimmy Izquierdo, o atacante uruguaio Luis Alberto Acosta e o equatoriano Carlos Muñoz.
Sabendo dos percalços que envolvem as finais, o Olimpia precisava de uma boa vitória em casa para ter um pouco de tranquilidade na volta. E, com o talento da dupla Amarilla e Samaniego, o Olimpia venceu por 2 a 0, com ambos deixando suas marcas no Defensores del Chaco com mais de 35 mil pessoas. Além da superioridade técnica, o Olimpia teve uma “sonora” ajuda da torcida barra brava na noite anterior ao jogo, que foi ao local onde o time equatoriano estava treinando e atrapalhou bastante o sono dos atletas.
Para a volta, no caldeirão amarelo do Barcelona, em Guayaquil, tomado por 55 mil pessoas, o Olimpia foi mais precavido, sem os três homens mais adiantados no ataque e com quatro no meio de campo. Quando a bola rolou, o Olimpia mostrou sua frieza típica de Libertadores e foi conduzindo o jogo como podia, enquanto o Barcelona atacava sem parar. Manuel Uquillas até abriu o placar com um golaço, mas o tento foi anulado pelo experiente árbitro argentino Juan Carlos Loustau em um lance polêmico, com Uquillas praticamente na mesma linha dos zagueiros.
Hoje, com o VAR, provavelmente seria gol. Após um primeiro tempo sem gols, o time equatoriano teve um pênalti a seu favor logo no começo da segunda etapa, mas outra vez apareceu Ever Almeida, que defendeu o chute de Luis Acosta. Acontece que o goleirão se adiantou absurdamente e a cobrança deveria ser repetida, mas o árbitro deixou o jogo seguir pelo fato de esse tipo de infração raramente ser marcada na época. O erro não abalou o Barcelona, que abriu o placar 10 minutos depois, com o argentino Trobbiani.
Os amarelos não conseguiram manter a intensidade e, aos 35’, o Olimpia engatilhou um contra-ataque pela direita e foi trabalhando a bola de pé em pé, com calma e destreza. Quando surgiu o espaço, o artilheiro Amarilla recebeu na entrada da área e deixou sua marca, garantindo o empate em 1 a 1. Na sequência, o time alvinegro ainda teve a chance da virada em novo contra-ataque, quando Samaniego tocou por cobertura na saída do goleiro, mas a bola foi caprichosamente à esquerda do gol. Nos minutos seguintes, o Barcelona perdeu força e o empate selou o título continental do Olimpia, o segundo de sua história e o segundo conquistado fora de casa!
O troféu coroou, de fato, o melhor time do continente e um esquadrão letal no ataque, que marcou 22 gols em 12 jogos, só não fez gol em um jogo e marcou 13 gols nos seis jogos do mata-mata. Assim como em 1989, o Olimpia teve o artilheiro da Libertadores: Adriano Samaniego, com 7 gols. Raúl Amarilla veio logo na sequência, com seis gols marcados.
A polêmica
Um assunto amplamente discutido sobre a conquista alvinegra foi a péssima arbitragem de Juan Carlos Loustau na finalíssima, algo repercutido em vários jornais da época e que levantou a hipótese de um favorecimento do argentino em prol dos paraguaios, com informações contadas pelo técnico Luis Cubilla ao jornalista equatoriano Vito Muñoz, que as revelou em 2013, pouco depois da morte do uruguaio, no jornal El Telégrafo – leia a íntegra clicando aqui.
No artigo, Cubilla diz a Muñoz que os dirigentes do Olimpia “fizeram as coisas melhor do que os do Barcelona”, além do clube equatoriano não ser tão influente na Conmebol na época. Havia também uma aliança entre a Conmebol e o árbitro Loustau, que tinha o apoio da entidade para apitar a final da Copa do Mundo de 1990, o que não aconteceu pelo fato de a Argentina ter ido para a decisão. Como troca de favores, a entidade escalou ele para a final da Libertadores – que foi em 10 de outubro de 1990, após o Mundial da Itália. Além disso, o presidente do Olimpia, Osvaldo Domínguez Dibb, falou diretamente com Loustau sobre sua “possível atuação” no jogo, mencionando a decisão de 1989, também apitada pelo argentino, mas vencida pelo Atlético Nacional. O Imortais ouviu sobre esse assunto o jornalista Leandro Stein, do site Trivela – que tem inclusive alguns textos maravilhosos aqui no site!
“Precisamos ponderar alguns fatos: o presidente da Conmebol, na época, era o paraguaio Nicolás Leoz; o presidente do Olimpia era Osvaldo Domínguez Dibb, pai do Alejandro Domínguez, atual presidente da Conmebol; o Barcelona tinha menos força política, em tempos bem mais obscuros da Libertadores. Não coloco minha mão no fogo pelo jornalista, mas também não coloco por nenhum dos outros atores envolvidos. E o fato de o Loustau ser um dos árbitros mais renomados da época não o exime, necessariamente, de estar metido com algo assim. Basta lembrar que o Carlos Amarilla apitou até jogo de Copa do Mundo e consegue ser unânime entre corintianos e palmeirenses, por ter prejudicado ambos em edições diferentes da Libertadores”. – Leandro Stein, jornalista do site Trivela, em entrevista ao Imortais.
A viúva de Cubilla, Gladys Ber, disse que jamais seu marido iria compactuar com tais atos e o árbitro Juan Carlos Loustau também disse que não recebeu nenhuma influência externa – e ele nem teria motivos para isso, pois era um árbitro consagrado, tido como um dos melhores da história da Argentina, e seguiu em alto nível nos anos seguintes, apitando inclusive a épica final entre o São Paulo de Telê e o Barcelona de Cruyff no Mundial de Clubes de 1992. No entanto, os dois erros do argentino acabaram influenciando diretamente no jogo. Lenda ou não, conspiração ou não, a taça ficou com o Olimpia, que era mais time do que o Barcelona.
Incontestáveis
Para deixar de lado qualquer contestação sobre o título continental, o Olimpia tratou de dar a resposta a partir de outubro de 1990, no início da disputa da Supercopa Sul-Americana, seleto torneio que reunia apenas os campeões da Libertadores, que se enfrentavam em formato eliminatório, com jogos de ida e volta, sendo o Olimpia o único paraguaio entre os seis argentinos (Boca, River, Independiente, Racing, Estudiantes e Argentinos Juniors), quatro brasileiros (Santos, Cruzeiro, Flamengo e Grêmio) e dois uruguaios (Nacional e Peñarol) na disputa.
O primeiro desafio do Decano foi o River Plate-ARG, fora de casa, que carimbou a faixa dos paraguaios com uma vitória por 3 a 0 no Monumental. Poucos acreditaram na remontada dos franjeados, tanto é que o estádio Defensores del Chaco estava com um público bem abaixo do normal. Só que o Olimpia era campeão da América. Queria ser supercampeão. E tinha seus artilheiros, sua mística e o estilo voraz de jogo dentro de casa, com toques rápidos, alternativas de jogadas, tabelinhas e muita velocidade.
Logo aos 14’, Samaniego abriu o placar com um golaço, após receber na área, matar no peito, puxar para a perna esquerda e fuzilar para o gol. Na sequência, tabelinha entre Samaniego e Monzón, este invade a área e marca o segundo gol. No segundo tempo, jogadaça de Monzón pela esquerda e, na tentativa do cruzamento, a bola bate na mão do zagueiro do River. Pênalti! Na cobrança, Amarilla deixa o seu e iguala o placar agregado em 3 a 3. A decisão foi para os pênaltis e, calejado como era, o Olimpia venceu por 4 a 3, com novo brilho do veteraníssimo Ever Almeida (41 anos!), que marcou o seu gol e defendeu os chutes de Da Silva, Astrada e Hernán Díaz. Outro capítulo para a lenda do goleirão na história do Olimpia!
Nas quartas de final, embate contra o Racing-ARG, que arrancou um empate em 1 a 1 no primeiro jogo, em Assunção. Na volta, no El Cilindro, o Olimpia foi arrasador e fez 3 a 0 na Academia, com gols de Guasch e Amarilla ainda no primeiro tempo e outro de Samaniego no começo da etapa complementar. Uma vitória maiúscula, digna de um campeão da América! Mas o show ainda não havia acabado. Na semifinal, o Decano encontrou o seu velho conhecido Peñarol-URU, adversário na primeira final da Libertadores, em 1960.
No primeiro jogo, em Montevidéu, o Olimpia perdeu por 2 a 1 e foi para Assunção precisando da vitória. E ela veio da melhor maneira possível. González fez dois. Amarilla, idem. Silvio Suárez e Cáceres anotaram um gol cada. E o Olimpia aplastou o aurinegro com uma goleada de 6 a 0, um massacre que mais parecia treino tamanha a facilidade com a qual os paraguaios criaram seus gols, principalmente pelo lado direito – era também um sinal da decadência que o futebol uruguaio iria enfrentar naqueles anos 1990 após grandes momentos nos anos 1980.
Na decisão, o Olimpia encarou outro uruguaio: o Nacional, que havia eliminado o Estudiantes. E outra vez o alvinegro não tomou conhecimento de um rival e venceu por 3 a 0 o duelo de ida, no Centenário, com gols de González, Amarilla e Samaniego, um trio que de fato se mostrava o mais devastador do continente. Mas a vantagem de três gols não poderia ser tão comemorada para o duelo da volta, em Assunção, pois o Nacional era aguerrido. E provou isso com um gol logo aos 4’, de Cardaccio. Samaniego empatou aos 26’, e Morán deixou os uruguaios em vantagem minutos depois. Aos 4’ do segundo tempo, Amarilla, sempre ele, fez o segundo gol alvinegro, e Monzón, aos 24’, virou. Núñez empatou para o Nacional aos 34’, mas era tarde.
O empate em 3 a 3 garantiu o primeiro título da Supercopa ao Olimpia, que ganhou de bandeja mais um troféu: a Recopa Sul-Americana de 1991, afinal, como ele era campeão tanto da Copa Libertadores de 1990 como da Supercopa de 1990, a taça caiu no colo do Decano, algo inédito na época e que só seria repetido em 1993, quando o São Paulo venceu a Libertadores e a Supercopa, mas teve que disputar a Recopa de 1994 – apenas para a Conmebol ganhar uns trocos – no Japão (!), contra o Botafogo, campeão da Copa Conmebol de 1993. O tricolor derrotou o alvinegro e ficou com o troféu que lhe era de direito. Em oito jogos, o Olimpia venceu quatro, empatou dois, perdeu dois, marcou 20 gols e sofreu nove. Amarilla, com 7 gols, foi o artilheiro da Supercopa, seguido de Samaniego, com quatro, e González, com três. Para coroar um ano mágico, Amarilla foi eleito o Melhor Futebolista do Ano de 1990 na América do Sul pelo jornal El País e faturou o prêmio Rei da América.
A queda no Japão para um esquadrão de outro planeta
A final da Supercopa aconteceu em janeiro de 1991. Antes, em dezembro de 1990, o Olimpia viajou ao Japão para a disputa do Mundial de Clubes contra o campeão europeu. E, para azar dos paraguaios, ele era simplesmente o Milan de Sacchi, um dos maiores esquadrões de todos os tempos, que encantava o mundo desde 1988 e era o campeão mundial na época. Sem qualquer chance, o Olimpia não conseguiu impor sua velocidade e poder de fogo ofensivo e foi presa fácil para os italianos, que venceram por 3 a 0, com dois gols de Rijkaard e um de Stroppa.
O alento para os paraguaios foi não ter levado gols de Van Basten e Gullit, que jogaram os 90 minutos e não venceram Ever Almeida! Espere um momento… O passe sensacional para o primeiro gol foi de Gullit… E o segundo aconteceu após o Van Basten escapar de dois defensores, invadir a área, deixar o goleiro Almeida no chão e chutar no pé da trave, para Stroppa completar… E o terceiro veio após Van Basten chutar por cobertura de fora da área, o goleiro Almeida só olhar a bola bater na trave e Rijkaard aparecer para empurrar pro gol, de peixinho. É, retiro o que eu disse…
Adeus ao ídolo e a busca pelo tri
Na temporada de 1991, o Olimpia se despediu do ídolo Ever Almeida, que se aposentou aos 42 anos, abrindo espaço para o arqueiro Jorge Battaglia. Com a mesma base dos anos anteriores, o time paraguaio manteve como foco principal a Libertadores e mais uma vez deu de ombros para o Campeonato Paraguaio. O técnico Cubilla fez algumas mudanças na parte tática, em especial na defesa, mantendo a espinha dorsal ofensiva com Samaniego, Amarilla e González. Por ser o campeão da América, o clube paraguaio entrou diretamente nas oitavas de final da Libertadores de 1991 e enfrentou o compatriota Atlético Colegiales. Na primeira partida, empate em 1 a 1 (gol de Samaniego), e, na volta, vitória por 2 a 1, com dois gols de Monzón. Nas quartas, o alvinegro encarou o rival Cerro Porteño e perdeu por 1 a 0 o jogo de ida, além do prejuízo de Raúl Amarilla ter de sair no comecinho da segunda etapa por lesão – ele não voltaria mais naquela Libertadores.
Mas o troco veio com juros: vitória maiúscula por 3 a 0 na partida de volta, com mais dois gols de Monzón e um de Samaniego, em partidaça do Olimpia. Vencer o arquirrival daquela maneira embalou de vez o time na semifinal, fase na qual a equipe reencontrou o Atlético Nacional-COL pela terceira vez seguida em uma Libertadores. Na ida, empate em 0 a 0. Na volta, no Paraguai, nada de pênaltis nem sofrimento: vitória por 1 a 0, gol de Samaniego, e classificação para a final. Pelo terceiro ano consecutivo, o Olimpia estava na decisão. Desde o América de Cali de 1985-1986-1987 que isso não acontecia. Mas o adversário dos paraguaios seria complicadíssimo: o Colo-Colo-CHI, que havia eliminado o Boca Juniors-ARG na semifinal e era comandado pelo técnico Mirko Jozic e contava com nomes como Gabriel Mendoza, Jaime Pizarro, Marcelo Barticciotto e o goleiro Daniel Morón.
Flechados pelo Cacique
O primeiro duelo foi no caldeirão do estádio Defensores del Chaco, tomado por quase 50 mil torcedores. E o Colo-Colo conseguiu segurar a pressão do Olimpia graças ao goleiro David Morón, que pegou tudo e mais um pouco. Diferente das outras finais, o Decano não conseguiu construir seu clássico placar de 2 a 0 e acabou amargando o 0 a 0, resultado que obrigaria o Olimpia a vencer de qualquer maneira os chilenos diante de 66 mil pessoas no estádio Monumental David Arellano.
Em um caldeirão borbulhante, o Expreso Decano viu sua intensidade esmaecer e a caldeira esfriar. A locomotiva parou. O ataque não funcionou. E o Colo-Colo ganhou. Aos 12´, Pérez tabelou na entrada da área paraguaia com Espinoza e chutou rasteiro, no cantinho do goleiro Battaglia: 1 a 0. Apenas cinco minutos depois, boa jogada de Barticciotto pela direita, que cruzou na área. Pérez recebeu, ajeitou com categoria e chutou para fazer um lindo gol: 2 a 0. O Colo-Colo dominou o jogo e liquidou de vez a fatura aos 40 minutos do segundo tempo, após novo cruzamento da direita de Barticciotto e gol de Herrera: 3 a 0. O Cacique conquistou seu primeiro título da Libertadores, enquanto o Olimpia amargou um novo revés continental.
À espera de 2002
Perder uma nova Libertadores fez com que Luis Cubilla encerrasse seu ciclo no Olimpia. Para o seu lugar, a diretoria trouxe o também uruguaio Aníbal Ruiz, que não conseguiu manter o time competitivo, perdeu a final da Copa Interamericana de 1991 para o América-MEX e não conseguiu a classificação para a Libertadores de 1992. A década passou, o Olimpia ficou longe de qualquer título continental e só voltaria ao topo em 2002, quando levantou sua terceira Libertadores também fora de casa, em São Paulo, após derrotar o São Caetano no Pacaembu. No entanto, o time de 2002 não repetiu a tripleta do Expreso Decano, tido até hoje como um dos mais lendários esquadrões da história do futebol paraguaio e considerado até pelos torcedores como o mais forte de toda história do Olimpia, até mais do que o campeão do mundo em 1979. Exagero? Que nada. Basta ver tudo o que aquele time conquistou, as partidas memoráveis que realizou e os titãs que derrubou. Coisa de gigante. De esquadrão imortal.
Os personagens:
Ever Almeida: simplesmente uma lenda no Olimpia, o goleiro Ever Almeida foi um dos grandes do futebol sul-americano por décadas e um símbolo de duas eras de ouro do clube alvinegro. Dotado de um grande senso de colocação, personalidade, sangue frio e ótimo em jogadas frente a frente contra os atacantes rivais, Almeida se consagrou no time campeão de tudo em 1979 e permaneceu no Olimpia até 1991, conquistando mais uma Libertadores em 1990. Foram 18 anos no clube paraguaio e um recorde que ninguém jamais conseguiu superar: o de maior número de partidas disputadas na história da Copa Libertadores: 113 jogos, sem jamais ser expulso. O arqueiro catapultou sua lenda principalmente no time multicampeão daquele final de anos 1980, com defesas milagrosas e crescendo nas várias disputas de pênaltis que o Olimpia disputou e como você pôde notar durante o texto. Almeida é o recordista em jogos pelo Olimpia na história: 581 jogos, além de ter conquistado 16 títulos com o clube.
Jorge Battaglia: com passagens pelo Sol de América e pelo Estudiantes-ARG, o goleiro chegou em 1990 ao Olimpia já preparado para assumir a vaga de Almeida, que se aposentou em 1991. O camisa 1 permaneceu até 1996 no Decano e foi importante nas conquistas nacionais do time entre 1992 e 1995.
Juan Zacarías Ramírez: esteve no time titular campeão da América em 1990, atuando mais pelo lado direito da zaga alvinegra. Chegou em 1988 ao Olimpia após boa passagem pelo Atlético Colegiales-PAR. Em 1986, chegou a ser eleito o melhor lateral-direito do futebol paraguaio, mas injustamente ficou de fora da seleção paraguaia na Copa do Mundo daquele ano. Permaneceu no Olimpia até 1991.
Miño: polivalente do setor defensivo, podia atuar como zagueiro, lateral ou volante. Foi um dos principais nomes do Olimpia nos anos 1980, atuando de 1983 até 1990 no clube Decano. Foram mais de 200 jogos pelo Olimpia na carreira.
Virginio Cáceres: chegou ao Olimpia em 1990 e permaneceu até 2002, atuando pela direita da defesa. Fez grandes jogos na campanha do título da Supercopa de 1990 e também na Libertadores de 1991. Foi convocado regularmente para a seleção paraguaia e disputou a Copa do Mundo de 1986.
Remigio Fernández: cria do Olimpia, jogou de 1980 até 1991 no clube de Assunção e foi um zagueiro de muita raça, força física e regularidade, além de ser eficiente na saída de bola e cobertura do setor defensivo. Se destacou principalmente na campanha do título continental de 1990.
Benítez: outro jogador que se destacou no time dos anos 1980, Benítez atuava na zaga e também no meio de campo. Disputou 42 jogos pela seleção do Paraguai e teve passagem pelo futebol espanhol. Encerrou a carreira no próprio Olimpia, em 1989.
Mario César Ramírez: zagueirão firme na marcação e com 1,85m de altura, foi outro a se destacar na campanha do título da Libertadores de 1990 do Olimpia. O “Robocop” jogou de 1990 até 1995 no Decano e ganhou algumas convocações para a seleção paraguaia.
Chamas: outro jogador que podia atuar em mais de uma posição, fez parte do time vice-campeão da América em 1989 e escalado regularmente como titular pelo técnico Cubilla, ora na zaga, ora no meio de campo.
César Castro: jogou 10 anos no Olimpia e demonstrou muita regularidade atuando tanto no miolo de zaga, ao lado de Remigio Fernández, quanto na posição de cabeça de área. Colecionou troféus pelo Decano na carreira e jogou, também, no Nacional do Paraguai, onde encerrou sua trajetória como jogador em 2001.
Silvio Suárez: símbolo do Olimpia, o lateral-esquerdo atuou de 1990 até 1998 no Olimpia e se consagrou no time campeão de quase tudo na mágica temporada de 1990. Podia atuar, também, como zagueiro e era eficiente tanto no apoio ao ataque quanto na marcação. Convocado regularmente para a seleção paraguaia, disputou 34 jogos pelos guaranís e participou de 4 edições da Copa América.
Krausemann: atuava como zagueiro e lateral-esquerdo, mas não era muito rápido, algo que lhe prejudicava em jogos contra atacantes habilidosos e ágeis. Jogou seis temporadas no Olimpia.
Daniel Santurio: disputou algumas partidas como lateral-esquerdo do time campeão da América de 1990, em especial na fase de grupos, até Silvio Suárez assumir de vez a posição principalmente no mata-mata. Jogou apenas a temporada de 1990 no Olimpia.
Fermín Balbuena: meio-campista de muito talento, jogou no Olimpia de 1986 até 1991 e teve grandes atuações na campanha do título continental de 1990. Com características mais defensivas, ajudava a conter os rivais em contra-ataques e tinha bom passe. Após uma breve saída, retornou ao Olimpia em 1994 e encerrou a carreira no Decano em 1995.
Sanabria: começou a carreira profissional no Olimpia e teve grandes atuações nos títulos paraguaios de 1988 e 1989 e no vice da Libertadores de 1989. Jogava mais recuado, ajudando na marcação e distribuindo a bola pelo meio. Jogou até 1995 no clube de Assunção.
Guasch: é simplesmente uma lenda do Olimpia, ídolo histórico e um dos maiores jogadores da história do clube. Vestiu a camisa do Decano de 1976 até 1991 e participou de todos os grandes momentos de ouro do alvinegro no período. Tinha grande visão de jogo, qualidade nos passes, eficiência nos desarmes e muita garra. Foram quase 500 jogos pelo Olimpia na carreira e 77 partidas pela Libertadores – é o segundo com mais jogos pelo clube na competição, atrás apenas de Ever Almeida. Disputou a Copa do Mundo de 1986 pela seleção do Paraguai e vestiu a camisa alvirrubra 47 vezes.
Luis Alberto Monzón: segundo maior artilheiro do Olimpia na Libertadores com 17 gols, foi outro craque fundamental nas conquistas do time naquele período. Rápido, oportunista e com faro artilheiro, foi o legítimo camisa 10 do esquadrão alvinegro e iniciou a carreira no próprio Olimpia, em 1987, jogando no clube até 1991 e com passagens em 1993, 1997-1998 e 1999-2001. Foram 7 troféus conquistados com a camisa do Decano.
Bobadilla: cria do Olimpia, iniciou sua carreira lá no glorioso ano de 1979 e permaneceu até 1986, quando foi jogar no futebol colombiano. Retornou em 1988 e fez grandes jogos na Libertadores de 1989, sendo peça fundamental no vice-campeonato. Atuava mais avançado, construindo jogadas de ataque e fazendo tabelinhas com Raúl Amarilla.
Cristóbal Cubilla: o meia paraguaio não era titular absoluto, mas entrava no decorrer dos jogos para dar opções ao ataque com sua velocidade e boa técnica. Jogou no Olimpia de 1990 até 1991 e em 1993.
Gabriel González Chaves: atacante ídolo da torcida, El Loco fez um lendário trio de ataque ao lado de Amarilla e Samaniego na Libertadores de 1990. Tinha muita técnica, garra, visão de jogo e jogava às vezes mais recuado, distribuindo a bola para os companheiros e fazendo tabelas. Entre 1988 e 1991, viveu grandes momentos, marcou gols, deu assistências e ganhou várias convocações para a seleção do Paraguai, pela qual disputou 34 jogos.
Neffa: outro talentoso meio-campista paraguaio dos anos 1980, Gustavo Neffa começou a carreira no Olimpia e jogou de 1987 até 1989 no clube de Assunção, atuando na construção de jogadas e tabelas no ataque. Jogou tanto que chamou a atenção da Juventus-ITA, que contratou o meia após o vice-campeonato da Libertadores de 1989. No entanto, ele acabou emprestado para o Cremonese até retornar ao futebol sul-americano, onde jogou no Boca Juniors-ARG de 1992 até 1998. Pela seleção do Paraguai, Neffa disputou 36 jogos e marcou 13 gols.
Adolfo Jara: vestiu apenas a camisa do Olimpia em toda a carreira, de 1985 até 2000, e foi um dos atletas mais utilizados pelo técnico Cubilla para o setor ofensivo, tanto no meio de campo quanto no ataque. Habilidoso, chegou até a jogar pela seleção paraguaia de futsal na Copa do Mundo de 1989. Seu irmão gêmeo, Luis Jara, também foi jogador tanto de futebol quanto de futsal.
Carlos Guirland: outra cria do Olimpia, começou nos profissionais do clube em 1987 e permaneceu até 1992, figurando entre os titulares principalmente a partir de 1990. Podia atuar tanto no meio de campo, na articulação de jogadas, e também no ataque.
Raúl Amarilla: artilheiro implacável, habilidoso, inteligente, rápido e grande finalizador, Amarilla foi um dos maiores atacantes do futebol sul-americano nos anos 1980 e 1990 e ídolo perpétuo do OIimpia. Foi artilheiro da Libertadores de 1989 com 10 gols, o Rei da América em 1990 e responsável direto pelo sucesso do clube Decano naqueles anos mágicos. Até hoje, Amarilla é o maior artilheiro do Olimpia em Copas Libertadores com 22 gols marcados. Teve grande parte da carreira ligada ao futebol espanhol, onde jogou boa parte dos anos 1980, até chegar ao Olimpia em 1988. Ele se naturalizou espanhol em meados de 1982, e, por isso, jamais vestiu a camisa do Paraguai pelo fato de ter jogado pela Espanha Sub-21. No entanto, Amarilla acabou preterido pela Fúria nos anos seguintes. Se contundiu na reta final da Libertadores de 1991 e fez muita falta na decisão contra o Colo-Colo.
Carlos Torres: com a ausência de Amarilla, o atacante assumiu a posição de titular na Libertadores de 1991 e fez dupla de ataque com Samaniego. No entanto, sua melhor fase foi no Campeonato Paraguaio daquele ano, no qual anotou 12 gols e foi o artilheiro.
Adriano Samaniego: ao lado de Amarilla e El Loco Chaves, Samaniego compôs o lendário trio de ataque responsável pelos títulos da Libertadores de 1990 e da Supercopa de 1990 ao Olimpia. Rápido, o atacante infernizava as zagas rivais constantemente e foi o artilheiro da Libertadores de 1990 com 7 gols. O técnico Luis Cubilla costumava dizer que Samaniego “era capaz de errar a finalização mais simples, mas depois fazer uma jogada espetacular e marcar um gol. Mas, nos jogos decisivos, sempre deixava sua marca”, o que de fato era verdade. Ele teve três passagens pelo Olimpia: 1981-1986, 1990-1992 e 1995-1998.
Mendoza: cria do rival Cerro Porteño, o atacante chegou ao Olimpia em 1988 e permaneceu até 1989, compondo a dupla de ataque com Amarilla na campanha do vice-campeonato da Libertadores. Era muito rápido, habilidoso e fez grandes jogos naquele ano.
Luis Cubilla (Técnico): a carreira de treinador de Luis Cubilla está estritamente ligada ao Olimpia. No comando do time paraguaio, o baixinho conquistou nada mais nada menos que 16 títulos. Em sua primeira passagem, montou uma equipe equilibrada que fez história com os títulos de 1979. No final dos anos 1980, voltou a colocar o Olimpia no topo ao faturar mais uma Libertadores, dois campeonatos nacionais, uma Supercopa e uma Recopa. Seu trabalho naquele final de anos 1980 é até hoje o mais lembrado pela força que aquele time tinha em jogos decisivos, em especial o ataque e o brio dos jogadores em partidas fora de casa e contra climas hostis dos adversários. O uruguaio sabia controlar os nervos de seus atletas e criou um elenco blindado, capaz de superar fortes emoções.
Após a perda do título continental em 1991, Cubilla deixou o Olimpia e retornou em 1995 para novas glórias nacionais e ainda uma Recopa Sul-Americana em 2003. Ao todo, foram nove campeonatos paraguaios, duas Libertadores, um Mundial, duas Recopas, uma Interamericana e uma Supercopa Sul-Americana. Cubilla faleceu em março de 2013, aos 72 anos, vítima de câncer no estômago, mas permanece vivo na memória dos apaixonados torcedores do clube.
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Vale lembrar que Ever Hugo Almeida, além de ter sido o goleiro das duas primeiras Libertadores, foi o técnico do tri, o que torna ele maior ainda para o clube!
O Olimpia tem uma das histórias mais ricas no futebol sul-americano e posso dizer que é um dos mais ‘locos por tí, América’. Como mostrou no texto, o time chegou a três finais seguidas. Na Libertadores foram, até hoje, 3 titulos (1979, 1990 e 2002) e 4 vices (1960, 1989, 1991 e 2013). Isso não é para qualquer um! O Olimpia sabe como construir esquadrões dignos de imortalidade!
Só por curiosidade, acho maluco o o time ter levado a Recopa de 1991 “só” por ter vencido Libertadores e Supercopa em 1990, ainda mais pelo fato de que o São Paulo fez o mesmo em 1993, mas a Conmebol resolver colocá-lo para encarar o Botafogo na Recopa de 1994 (vai entender!). Abraço, Imortais!