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Jogos Eternos – França 3×3 Suíça 2021

Foto: UEFA / Reuters.
Foto: UEFA / Reuters.

 

Data: 28 de junho de 2021

O que estava em jogo: uma vaga nas quartas de final da Eurocopa de 2020

Local: National Arena, Bucareste, Romênia

Juiz: Fernando Andres Rapallini (ARG)

Público: 22.642 pessoas

Os Times:

França: Lloris; Varane, Lenglet (Coman, intervalo / Marcus Thuram, aos 5’ do 2º T da prorrogação) e Kimpembe; Pavard, Pogba, Kanté, Griezmann (Sissoko, aos 43’ do 2º T) e Rabiot; Benzema (Giroud, aos 4’ do 1º T da prorrogação) e Mbappé. Técnico: Didier Deschamps.

Suíça: Sommer; Elvedi, Akanji e Rodríguez (Mehmedi, aos 41’ do 2º T); Widmer (Mbabu, aos 27’ do 2º T), Freuler, Shaqiri (Gavranovic, aos 27’ do 2º T), Xhaka e Zuber (Fassnacht, aos 33’ do 2º T); Seferovic (Schär, aos 5º do 1º T da prorrogação) e Embolo (Vargas, aos 33’ do 2º T). Técnico: Vladimir Petkovic.

Placar: França 3×3 Suíça. Gols: (Seferovic-SUI, aos 15’, do 1º T; Benzema-FRA, aos 12’ e aos 14’, Pogba-FRA, aos 30’, Seferovic-SUI, aos 36’ e Gavranovic-SUI, aos 45’ 2º T).

Pênaltis: França 4×5 Suíça. Pogba, Giroud, Marcus Thuram e Kimpembe fizeram para a França. Mbappé perdeu. Gavranovic, Schär, Akanji, Vargas e Mehmedi fizeram para a Suíça.

 

“Énorme! Enorme! Enorm!”

Por Guilherme Diniz

 

Paris, 09 de junho de 1938. Com um categórico 4 a 2, a Suíça vence a Alemanha e se classifica para as quartas de final da Copa do Mundo da França. O que os suíços não sabiam é que impressionantes 83 anos iriam transcorrer sem a seleção Rossocrociati conseguir outra classificação em uma fase eliminatória de um grande torneio. Eles tiveram chances em nove Copas do Mundo, mas foram eliminados em quatro fases de grupos, quatro fases de oitavas de final e uma fase de quartas de final (sem disputa de oitavas). Caíram também em outras três fases de grupos da Eurocopa e nas oitavas da Euro de 2016. Por mais que as seleções de base mostrassem talento desde 2009, quando venceram o Mundial Sub-17 daquele ano e, em 2011, ficaram com o vice-campeonato da Eurocopa Sub-21, a Suíça não conseguia engrenar nem brigar por títulos. E, naquela fase de oitavas de final da Eurocopa de 2020 (disputada em 2021 por conta da pandemia da COVID-19), não havia muitas chances daquele martírio acabar. Motivo? Eles iriam enfrentar a França, então campeã do mundo e jogando com todas as suas estrelas: Varane, Kanté, Pogba, Griezmann, Mbappé e Benzema, além de várias opções no banco de reservas e a experiência de um time difícil de ser batido. 

Só que a partida começou favorável aos suíços, que venceram o primeiro tempo por 1 a 0 e tiveram um pênalti a seu favor logo no início da segunda etapa. Porém, o lateral Rodríguez errou. E, minutos depois, a França empatou. Virou. Ampliou. É, o estigma iria perdurar por mais um tempo… Chegar aos 84 anos sem classificações. Mas a Suíça não se entregou. E, faltando nove minutos para o fim, a equipe diminuiu. Eles foram com tudo pra cima e arrancaram o empate, aos 45’, em um golaço de Gavranovic. Vivos, foram para a prorrogação, mas nada de gols. Vieram os pênaltis. Todos converteram suas cobranças até chegar ao último batedor da França. O craque do time, Mbappé. Só que o atacante parou no goleiro Sommer. E a Suíça conseguiu, contra a França, uma classificação que não vinha desde 1938… Na França! Um feito épico para ser gritado em todas as línguas oficiais do país – francês, italiano, alemão e até em romanche. É hora de relembrar um dos jogos mais sensacionais da história da Eurocopa.

 

Pré-jogo

Na estreia da Euro, a França venceu a Alemanha, mas não convenceu muito nos jogos seguintes.

 

Poucas seleções entraram na Eurocopa 2020 com tanto favoritismo como a França. Não só por ser a atual campeã do mundo, mas também pelo fato de o técnico Didier Deschamps trazer de volta ao selecionado o atacante Karim Benzema, que há anos vivia fazendo gols e mais gols no Real Madrid e não era reconhecido nos Bleus a ponto, inclusive, de ter ficado de fora da convocação para a Copa do Mundo de 2018. A classificação dos franceses para a Euro foi relativamente tranquila, com oito vitórias, um empate e uma derrota nos 10 jogos das Eliminatórias.

Já na Euro, o time azul teve o desprazer de cair no chamado Grupo da Morte ao lado da Alemanha, do campeão europeu Portugal e da Hungria. A estreia foi contra a Alemanha e a França venceu por 1 a 0, graças a um gol contra do zagueiro Hummels. Na sequência, a equipe só empatou com a Hungria em 1 a 1, mas como os quatro melhores terceiros colocados também garantiam vaga nas oitavas, a equipe azul se classificou de maneira antecipada. No último jogo, o empate em 2 a 2 com Portugal selou a vaga da França em primeiro lugar.

Do outro lado, a Suíça também avançou em primeiro nas Eliminatórias com cinco vitórias, dois empates e uma derrota e caiu em uma chave relativamente mais fácil na Eurocopa. O técnico Vladimir Petkovic convocou um elenco que já tinha a experiência da Copa de 2018 – Sommer, Akanji, Elvedi, Freuler, Rodríguez, Zuber, Gavranovic, Schär, Seferovic, Embolo, Xhaka, Shaqiri – e apostou neles para fazer a Suíça realizar uma boa campanha e pelo menos quebrar o estigma das oitavas de final.

A estreia foi contra País de Gales e os suíços empataram em 1 a 1. No segundo jogo, a equipe encarou a forte e embalada Itália e perdeu por 3 a 0. No último duelo, vitória por 3 a 1 contra a Turquia, com um gol de Seferovic e dois de Shaqiri, resultado que deixou a Suíça em terceiro lugar, mas com uma das vagas para as oitavas de final.

Shaqiri (à dir.) celebra: vitória sobre a Turquia classificou o time suíço para as oitavas.

 

Ainda sem convencer, o time do técnico Vladimir Petkovic entrou como azarão diante da França, que foi para o duelo com esquema peculiar: três zagueiros e Rabiot improvisado na lateral-esquerda. Tal tática foi praticamente um espelho da própria Suíça, que manteve a base tática 3-4-1-2 da primeira fase com Xhaka controlando as ações no meio, Shaqiri mais à frente na armação e a dupla de ataque composta por Embolo e Seferovic. A aposta dos Rossocrociati era impor velocidade ao sistema defensivo francês, que vinha de dois jogos ruins na fase de grupos. A França era favorita, mas se o elenco suíço queria provar algo, a chance deles era naquela noite, na bela National Arena de Bucareste.

 

Primeiro Tempo – Zebra! Zebra?

Foto: UEFA.

 

Sem poder contar com seus dois laterais-esquerdos – Lucas Hernández e Lucas Digne -, o técnico Deschamps foi com três zagueiros e o meio-campista Rabiot improvisado na esquerda. Quando a bola rolou, a escolha se mostraria um tanto falha, pois Deschamps poderia reforçar melhor o meio e colocar um de seus zagueiros – Lenglet ou Kimpembe – na esquerda ao invés de Rabiot, que nem no meio de campo vinha jogando bem na Eurocopa. A França tentou mostrar iniciativa com velocidade nas investidas de Mbappé, mas a Suíça também levava perigo nas jogadas aéreas – como em um cruzamento perigoso de Freuler, aos 9’ – e forçando o erro da saída de bola francesa. Mais recuado, Griezmann não rendia como de costume e deixava claro o erro tático cometido por Deschamps, pois o camisa 7 era obrigado a ajudar na marcação ao invés de criar chances de gol na frente. E tal erro começou a cobrar seu preço.

Aproveitando a falha de Lenglet, Seferovic marcou o primeiro gol. Foto: UEFA.

 

Aos 15’, Zuber dominou pelo lado esquerdo do ataque, cruzou na área e Seferovic subiu nas costas de Lenglet para fazer 1 a 0. Falha clamorosa de marcação de uma seleção campeã do mundo. E tudo o que a Suíça precisava! O filme do duelo contra a Hungria, na primeira fase, se repetia aos franceses. Sair atrás do placar não era do feitio de uma equipe que sempre se defendeu tão bem e buscou matar o adversário em precisos golpes. Nervoso, Lenglet não inspirava confiança alguma na zaga azul e os atacantes franceses não conseguiam criar. A primeira grande chance veio apenas aos 21’, quando Rabiot cruzou e Sommer tirou com a ponta dos dedos, evitando que a bola chegasse em Benzema.

Os times em campo: a Suíça foi superior na primeira etapa e aproveitou os vacilos defensivos dos franceses. Só no segundo tempo, com a entrada de Coman e a mudança tática de Deschamps ao voltar com dois zagueiros, que os Bleus voltaram a jogar bem. Mas por poucos minutos…

 

O primeiro gol suíço. Foto: UEFA.

 

Aos 28’, quem diria, o mesmo Rabiot tentou um chute de fora da área e a bola passou perto do gol. Só ele havia feito algo pela França no jogo. Griezmann, Mbappé e Benzema eram profundas decepções. Aos 29’, Varane acabou cometendo falta mais dura em Zuber e levou o primeiro cartão amarelo do jogo. Tempo depois, o zagueiro se redimiu evitando um lance de perigo de Embolo, após bom passe de Xhaka. A França respondeu aos 42’ em troca de passes entre Mbappé, Pavard e Griezmann. Na hora da finalização da entrada da área, Mbappé acabou chutando de canhota e a bola foi longe. Após dois minutos de acréscimos, o primeiro tempo terminou com uma surpreendente vitória suíça pelos elencos, mas nada surpreendente pelo futebol apresentado. A França se mostrava relaxada, em especial o ataque. Pogba mais uma vez era um fantasma em campo e não exibia o futebol tão elogiado na Copa de 2018. E a Suíça parecia inclinada a fazer história. Os 83 anos de jejum estavam prestes a acabar.

 

Segundo tempo – Virada, golaços e o épico empate

Depois de 45 minutos péssimos, o zagueiro Lenglet foi sacado por Deschamps e Coman entrou para fazer a França atuar no 4-2-3-1 e possibilitar avanços mais precisos de Griezmann no ataque e até soltar um pouco o volante Pogba. Essa mudança gerou efeitos imediatos, com mais agressividade no ataque, só que os espaços lá atrás continuaram grandes. E, aos 4’, quase a Suíça ampliou após Embolo avançar pela direita, cruzar rasteiro e a bola passar por toda a área francesa sem ninguém aparecer para completar.

Até que, aos 8’, Pavard cometeu pênalti em Zuber. O lateral Rodríguez tinha a chance de ampliar e deixar os suíços a um passo da vaga nas quartas de final. Ele chutou, só que o goleiro Lloris defendeu e evitou o pior para a França. Dois minutos depois, a França se inflou em um contra-ataque com Pogba, que fez bela jogada e tocou para Mbappé. O atacante bateu de primeira, chapado, mas a bola fez curva e foi para fora. Por centímetros não veio o empate!

Mbappé lamenta: atacante passou em branco a Euro 2020. Foto: UEFA.

 

Lloris defende o pênalti de Rodríguez: França de volta ao jogo! Foto: UEFA.

 

Perder um pênalti parece ter mexido com a Suíça, que começou a conceder espaços. E tal atitude contra uma seleção campeã do mundo e ligada como em 2018 é fatal. Aos 11’, Kanté recuperou a bola e tocou para Griezmann, que deixou com Mbappé e este tocou para Benzema. A bola parecia escapar do centroavante, mas ele a recuperou meio que de letra como um mágico, avançou e tocou na saída do goleiro Sommer: 1 a 1. Belo gol! Foi a deixa para a França entrar de vez no jogo. E começar seus minutos de letalidade, o 2018 mode on.

Benzema fez um belo gol e empatou o jogo para a França. Foto: UEFA.

 

Instantes depois, o time azul apertou a saída de bola do rival pela esquerda, avançou com Coman, mas o cruzamento não saiu bem. Shaqiri tentou recuperar, mas perdeu a bola para Pogba, que devolveu para Coman e este percebeu Griezmann livre na entrada da área. Ele tocou, Griezmann deixou com Mbappé e este devolveu de letra para o camisa 7, que tentou chutar por cobertura, o goleiro Sommer deu um leve toque na bola, mas ela sobrou para Benzema, livre, empurrar para o gol e decretar a virada: 2 a 1. E outro golaço! Bola trabalhada, de pé em pé e o toque sensacional e criativo de Mbappé.

Vale também o destaque a Benzema, outra vez gigante para o time e crescendo demais, a exemplo do grande desempenho contra Portugal, na fase de grupos. A velha máxima “quem não faz, leva” deixava os suíços desnorteados. E, principalmente, Rodríguez, que além de perder o pênalti que poderia ter evitado aquela reação francesa ainda levou cartão amarelo minutos depois do segundo gol da França. E, aos 23’, quase Widmer fez um gol contra após recuar de cabeça para Sommer. Que pesadelo!

Após uma linda jogada coletiva, Benzema testou para virar o jogo. Foto: UEFA.

 

Dona do jogo, a França nem parecia o time modorrento do primeiro tempo e Coman era o grande nome daquela virada, com muita participação no setor esquerdo, dribles e toques rápidos, além de Pogba passar a jogar bola e não só desarmar os rivais como ser um elemento de constante preocupação para a zaga suíça. E, falando nele, o volante fez uma obra-prima aos 30’. Após um chute de Benzema bater na perna de Xhaka, a bola voltou e caiu nos pés de Pogba. O volante dominou e chutou de fora da área. A bola voou e foi parar no ângulo esquerdo do goleiro Sommer, que nada pôde fazer. GOLAÇO! E 3 a 1 para a França. Na comemoração, o meio-campista ficou parado, de braços cruzados, balançando a cabeça como quem diz “hum, nada mal”. A torcida foi ao delírio. E a França parecia ir mesmo para as quartas de final.

Pogba chuta…

 

… E marca um dos mais belos gols da Euro 2020. Fotos: UEFA.

 

Embora tivesse o jogo sob controle, dois gols não eram lá muito confortáveis para a França. E, com algumas modificações, a Suíça tentou aproveitar o persistente desleixo do rival na marcação. Até que, aos 36’, Mbabu recebeu na direita, esperou o momento certo e cruzou na cabeça de Seferovic, que apareceu no meio de dois zagueiros para testar a bola pro fundo do gol. Havia esperança! E inspiração não faltava, afinal, horas antes a Croácia foi buscar um empate em 3 a 3 com a Espanha após abrir o placar e levar a virada de 3 a 1, no outro jogo daquele dia.

Seferovic marcou outro gol de cabeça e diminuiu a contagem. Foto: UEFA.

 

Quatro minutos depois, Gavranovic aproveitou o rebote em chute de Rodríguez, chutou e marcou o gol de empate, mas o tento foi anulado por impedimento. Precisando desesperadamente de um gol, o técnico Petkovic colocou mais um jogador de ataque aos 41’, quando sacou Rodríguez e escalou Mehmedi para deixar a Suíça praticamente num 4-2-4. E a ânsia pelo gol foi compensada. Aos 45’, três jogadores da Suíça foram para o abafa no meio de campo, tomaram a bola de Pogba e engatilharam um contra-ataque. Xhaka, jogando muito naqueles dez minutos finais, fez um passe perfeito e rasteiro para Gavranovic pelo meio e sem qualquer francês marcando. Ele recebeu, deixou Kimpembe no chão e chutou forte, da entrada da área, para matar Lloris e empatar: 3 a 3. Épico em Bucareste! 

Após aplicar belo drible em Kimpembe, Gavranovic fuzila Lloris…

 

… Empata o jogo…

 

… E celebra: Suíça histórica! Fotos: UEFA.

 

Assim como no jogo entre Croácia e Espanha, Suíça e França também empatavam em 3 a 3 com contornos dramáticos! Minutos depois, a Suíça ainda tentou definir no tempo normal com Mehmedi, que ficou cara a cara com Lloris, mas o atacante não dominou bem a bola. Aos 48’, foi a vez da França responder em boa jogada de Sissoko pela direita, que cruzou para Coman e este chutou na trave de Sommer! Ao apito do árbitro, aquele jogaço teria mais 30 minutos de prorrogação.

 

Prorrogação e pênaltis – A vaga suíça, 83 anos depois

Giroud entrou no ataque francês, mas não conseguiu mexer no placar. Foto: UEFA.

 

Elétricos, os dois times seguiram atacando, pois ninguém queria definir a vaga nos pênaltis. Logo aos 2’, Elvedi cobrou escanteio e Mehmedi desviou de cabeça para a defesa de Lloris. Dois minutos depois, Coman fez bela jogada pela esquerda, cruzou e Pavard chutou para bela defesa de Sommer. Eram 19 finalizações da França contra 9 da Suíça. Deschamps decidiu trocar seus centroavantes e colocou Giroud no lugar de Benzema. A Suíça também mexeu, com Seferovic deixando o campo para a entrada do zagueiro Schär. No segundo tempo, Mbappé teve duas chances: na primeira, aos 3’, ele recebeu de Coman pela esquerda, finalizou de canhota e a bola foi para fora. Aos 4’, após receber passe de Pogba e ganhar na corrida de Elvedi, o atacante chutou para fora de novo. Com 42 gols na temporada, Mbappé seguia em branco naquela Eurocopa. Xi….

Aos 5’, Coman, sem dúvida o grande destaque ofensivo da França no jogo, acabou sentindo e teve que deixar o campo para a entrada de Marcus Thuram, filho da lenda Lilian Thuram, do timaço francês do final dos anos 1990 e início dos anos 2000. A França até tentou um gol em duas chances com Giroud, mas a bola não entrou. Naqueles minutos finais ficou nítido o cansaço dos jogadores, especialmente os franceses, visivelmente exaustos e com dores musculares. Ao apito do árbitro, não teve jeito. A decisão seria nos pênaltis.

A disputa começou com a Suíça. Gavranovic, herói do empate, bateu e fez. A França empatou com Pogba, num chutaço no ângulo. Schär fez o segundo da Suíça e Giroud empatou. Os cobradores foram perfeitos na sequência: Akanji, Vargas e Mehmedi, para a Suíça, e Marcus Thuram e Kimpembe, para a França. Até que veio o último chute para os franceses. Mbappé. Ele ainda estava na seca na Eurocopa. Será que, enfim, ele iria desencantar de pênalti? O atacante partiu, Sommer apontou para o lado esquerdo de seu gol, mas pulou no lado direito. Mbappé caiu na armadilha. E Sommer defendeu!

No último pênalti, Mbappé errou e a Suíça, enfim, se classificou. Foto: UEFA.

 

O árbitro ainda pediu para esperar alguma informação do VAR, mas o susto passou. E o goleiro suíço pôde correr para a torcida e celebrar, assim como todos os jogadores, a comissão técnica e os milhões que acompanhavam pela TV lá na Suíça: enfim, a seleção Rossocrociati estava classificada para as quartas de final de uma Eurocopa. Enfim, conseguia uma classificação em um grande torneio pela primeira vez desde a Copa do Mundo de 1938. Uma vitória em um jogo espetacular, cheio de contornos dramáticos, frenético, com golaços e imprevisível.

Foi a classificação para presentear talentosos jogadores que há um bom tempo esperavam dar algum tipo de alegria a torcedores que jamais viram a seleção de seu país ir tão longe em um torneio de elite. Uma noite inesquecível que jamais sairá da memória dos suíços pela entrega e intensidade dos jogadores, que superaram o erro de um pênalti, a virada no placar e lutaram até o fim para destroçar um jejum que parecia interminável. Todos batalharam por um ideal. E conseguiram. Naquela noite de Bucareste, o selecionado suíço fez valer plenamente o lema do país: “um por todos, todos por um”. E vaga nas quartas! 

 

Pós-jogo: O que aconteceu depois?

 

França: o erro tático de Deschamps em entrar com três zagueiros, a escalação de Rabiot na lateral-esquerda e a desatenção na marcação foram cruciais para a eliminação dos Bleus, sem dúvida os grandes favoritos para aquela Eurocopa. As estrelas brilharam pouco diante da expectativa gerada e pesou bastante a falta de pontaria de Mbappé, que não marcou gols e viveu seu primeiro desapontamento na carreira pela seleção – por clubes, jogando pelo PSG, ele perdeu a final da UCL de 2019-2020 para o Bayern. Esse revés pode ensinar muita coisa, mas os Bleus não têm muito tempo a perder. No segundo semestre eles começam a disputa da fase final da Liga das Nações da UEFA. É uma nova chance de erguer um troféu continental e tentar repetir (em menor escala) a dobradinha da geração de Zidane e companhia, que venceu Copa do Mundo (1998) e Eurocopa (2000) em sequência.

Suíça: o duelo seguinte da equipe alvirrubra foi contra a Espanha, que derrotou a Croácia em um pirotécnico 5 a 3 nas oitavas de final. O duelo foi outra vez tenso e terminou empatado em 1 a 1 no tempo regulamentar, com grande atuação do goleiro Sommer. Na prorrogação, nada de gols, com a Suíça se segurando com um homem a menos desde os 77’. Nos pênaltis, o torcedor esperava um repeteco do duelo contra a França, mas os jogadores suíços não estavam em um bom dia e pararam no goleiro espanhol, que defendeu dois chutes e ajudou a Espanha a vencer por 3 a 1. Mesmo com a eliminação, a Eurocopa de 2020 valeu demais para a Suíça. Quebrar um estigma tão grande foi a conquista de uma seleção desacreditada há tempos. E inspiração para novas façanhas.

 

 

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Comentários encerrados

5 Comentários

  1. Parabéns pelo blog por mais um texto. Por favor façam um texto sobre Chelsea x Barcelona em 2012 lá no Camp Nou pela semifinal da Champions Legue de 2012.

  2. Uau! Fiquei tão encantado com o jogo que, assim que acabou, eu falei que a partida merecia ganhar um texto nos Jogos Eternos do Imortais! E olha só agora! O Imortais foi até muito rápido no gatilho, mas fez um texto maravilhoso. Quando Pogba fez o golaço, parecia que a vaga já era da França, mas os suíços foram lá e empataram mostrando que o jogo só acaba quando termina. O Sommer pegando o pênalti do Mbappé foi, simplesmente, épico!

    O que será de França e Suíça daqui para frente? Não sabemos! Resta esperar os próximos anos para ver o que as duas seleções farão de histórico! E estou louco para ver quem vai ganhar a Eurocopa 2020! Abraço, Imortais!

    • Itália venceu a Inglaterra nos pênaltis e se sagrou Bi Campeã da Europa. Daqui a pouco essa seleção vai ser imortalizada nesse blog. Merecem demais pelo renascimento que a Itália teve nessa Eurocopa

Corinthians_2012

Esquadrão Imortal – Corinthians 2011-2012

Técnico Imortal – Ernst Happel