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Esquadrão Imortal – Lille 2010-2011

Em pé: A. Rami, A. Chedjou, M. Sow, F. Béria, Y. Cabaye e Gervinho. Agachados: E. Hazard, M. Landreau, R. Mavuba, M. Debuchy e F. Balmont. Foto: A. Mounic/L'Equipe.
Em pé: A. Rami, A. Chedjou, M. Sow, F. Béria, Y. Cabaye e Gervinho. Agachados: E. Hazard, M. Landreau, R. Mavuba, M. Debuchy e F. Balmont. Foto: A. Mounic/L’Equipe.

 

Grandes feitos: Campeão do Campeonato Francês (2010-2011) e Campeão da Copa da França (2010-2011). Reconquistou o título francês após 57 anos de jejum.

Time-base: Landreau; Debuchy, Rami (Rozehnal), Chedjou e Béria (Emerson); Mavuba, Balmont (Gueye / Obraniak) e Cabaye; Gervinho (Túlio de Melo), Moussa Sow (Frau) e Eden Hazard. Técnico: Rudi Garcia.

 

“Lille Fantastique!”

 

Por Leandro Stein

 

O Lille venceu o Campeonato Francês de 2020-2021, o quarto título na competição e o primeiro em dez anos. E a ansiedade da torcida ficou à mil pelas lembranças que surgiram na antevéspera da decisão. Afinal, foram completados naquela semana exatamente 10 anos da conquista anterior no Campeonato Francês, em 2010-2011. Curiosamente, o feito se completou num jogo contra o Paris Saint-Germain, o principal perseguidor na campanha de 2020-2021. Treinado por Rudi Garcia, o Lille faturou o Campeonato Francês e a Copa da França naquela temporada de 2010/11 com uma equipe que apresentava um futebol ofensivo e reunia muitos talentos. Eden Hazard apenas começava sua carreira, mas já era a estrela da companhia num time de outros bons nomes – que incluía Landreau, Debuchy, Rami, Mavuba, Cabaye, Gervinho e Sow entre os demais destaques. Foi um feito e tanto, não apenas porque os Dogues não apareciam na primeira prateleira de favoritos naquele torneio, apesar de boas campanhas recentes. Aquela temporada encerrou um jejum de 57 anos sem o título da liga e de 56 anos sem a Copa. É hora de relembrar.

 

O primeiro supertime do Lille e o renascimento do clube

Os campeões de 1954.

 

O Lille Olympique Sporting Club foi fundado em 1944, a partir da fusão entre os dois principais times da cidade: o Olympique Lillois e o Sporting Club Fivois. As duas agremiações se sentiram enfraquecidas durante a Segunda Guerra Mundial e a união não apenas as salvou, como também criou uma das equipes mais fortes da França no período de reconstrução. Os Dogues foram exatamente os primeiros campeões nacionais do pós-guerra, em 1945/46, e montaram um time bom o suficiente para se manter no topo do país durante quase uma década, num período relevante do futebol francês no contexto continental. O atacante Jean Baratte, titular da seleção francesa no período e um dos atletas mais populares do país, era a grande referência num clube que ganhou o apelido de “Máquina de Guerra” naquele momento.

De 1945 a 1955, o Lille conquistou cinco vezes a Copa da França (com dobradinha em 1946) e foi duas vezes vice. Também acumulou dois títulos no Campeonato Francês de 1946 a 1954, além de quatro vices. Os Dogues ficaram na segunda colocação da Copa Latina de 1951, torneio que reunia os campeões nacionais de Portugal, Espanha, França e Itália. E a reconquista da Division 1 aconteceu em 1953/54, em tempos nos quais Stade de Reims e Nice já tinham equipes célebres. O Lille não contava com o elenco mais estrelado, mas era continuamente competitivo sob as ordens do técnico André Cheuva, sobretudo por sua fortaleza defensiva. Cor van der Hart, que anos depois seria o auxiliar de Rinus Michels na seleção holandesa, era o esteio na zaga. Além disso, quatro jogadores da agremiação representaram a França na Copa de 1954, incluindo o artilheiro André Strappe e o histórico ponta Jean Vincent, que brilharia depois no Mundial de 1958.

A França de 1958 – Em pé: Kaebel, Penverne, Jonquet, Marcel, Remetter e André Leront. Agachados: Wisnieski, Fontaine, Kopa, Piantoni e Vincent.

 

A era de glórias do Lille sofreria uma reviravolta a partir de 1954/55. Os Dogues perderam jogadores importantes naquele momento, incluindo Baratte e Cor van der Hart. Além disso, o clube se envolveu num imbróglio imenso ao contratar supostamente József Zakariás, um dos destaques da seleção húngara. Na verdade, um falso empresário negociou a transferência e um impostor entrou em campo na estreia durante a pré-temporada, sendo preso na saída de campo. Tal episódio, além de afetar a reputação, aconteceu num momento financeiramente instável do LOSC. E, já naquela temporada, o Lille brigaria para não cair e se salvaria nos playoffs. Não teria a mesma sorte em 1955/56, quando encarou seu primeiro descenso.

A partir de então, o Lille se transformou num “clube ioiô” no Campeonato Francês, passando mais tempo na segundona que na primeira. A crise financeira se agravou, até o fundo do poço em 1969/70, quando os Dogues não tinham dinheiro para pagar salários e abriram mão do profissionalismo. Por sorte, na temporada seguinte a federação francesa ampliou a segundona e o Lille seria beneficiado por um projeto que fortalecia 19 times amadores, recuperando seu status profissional. Uma série de amistosos com a renda revertida para o Lille também ajudou na sobrevivência, quitando parte dos imensos débitos. Nos anos 1970, os Dogues voltaram a se alternar entre a primeira e a segunda divisão.

O restabelecimento do Lille como um clube importante aconteceu na virada para os anos 1980. Um passo decisivo foi mudar o modelo administrativo do clube, mantendo-o ligado à cidade de Lille, mas permitindo acionistas minoritários. O prefeito Pierre Mauroy, que hoje dá nome ao estádio, seria uma figura importante nesse processo. Com isso, os Dogues passaram a montar times suficientes para evitar o rebaixamento ao longo dos anos 1980. Tal realidade, de qualquer forma, não evitava as más gestões. No início da década de 1990, as dívidas voltaram a crescer e a agremiação se viu ameaçada de rebaixamento por conta dos problemas financeiros. O Lille evitaria a falência, mas não a queda em 1996/97, depois de 19 temporadas ininterruptas na primeira divisão.

O Lille retornou à elite em 1999/00, depois de três campanhas na segundona. O período de transformações também levou a prefeitura a vender suas ações para novos investidores majoritários. Na primeira campanha de volta à Division 1, em 2000/01, o LOSC chegou a liderar o campeonato. Terminaria em terceiro, já suficiente para a inédita classificação à Liga dos Campeões da UEFA, na qual parou na fase de grupos. Tal momento fez com que um dos novos acionistas vendesse sua parte na agremiação para Michel Seydoux. O novo presidente, embora tenha construído sua fortuna como produtor de cinema, já tinha passado pela diretoria do Lyon pouco antes. E seria um nome importante para sustentar o Lille na metade de cima da tabela, contando com a presença de Claude Puel como novo treinador.

Um Lille acostumado à relevância

Claude Puel, técnico do Lille, em 2006. Foto: Dominique Lampla / Icon Sport via Getty Images.

 

Claude Puel assumiu o Lille em 2002, após quatro temporadas em que o clube foi dirigido por Vahid Halilhodzic, responsável pelo acesso e também pela classificação inédita à UCL. O novo comandante tinha uma história como jogador totalmente ligada ao Monaco e também iniciou a trajetória na casamata dentro do clube do principado. E a aposta do LOSC para montar um projeto ao seu redor foi válida. Os Dogues até voltaram ao meio da tabela durante o início do período com o técnico, mas foram vice-campeões em 2004/05. Começaram a disputar com frequência a Champions e alcançaram às oitavas em 2006/07. Além de garimpar bons talentos ao elenco, a diretoria também passou a investir em estrutura, com a construção de um novo centro de treinamentos.

O Lille encarou um período de transição depois do auge com Claude Puel, o que resultou na saída do treinador em 2008 rumo ao Lyon e na venda de alguns dos principais nomes do elenco. A renovação, então, seria dirigida por Rudi Garcia. O novo comandante era uma cria da casa, passando os primeiros cinco anos de sua carreira profissional como jogador nos Dogues. Já a trajetória como treinador se iniciaria no Dijon e depois no Le Mans, onde ganhou reconhecimento por um estilo ofensivo, o que abriria as portas para seu retorno ao LOSC. Garcia precisaria conduzir a reformulação de uma equipe que vendeu protagonistas dos anos anteriores – como Jean Makoun, Kevin Mirallas, Stephan Lichtsteiner, Tony Sylva, Abdul Kader Keita, Peter Odemwingie e Mathieu Bodmer. O técnico teria sucesso rápido nessa empreitada.

Rudi Garcia, técnico do feito histórico do Lille. Foto: EPA/JUAN CARLOS CARDENAS.

 

O treinador havia sido jogador do Lille lá nos anos 1980!

 

No primeiro ano com Rudi Garcia, o Lille terminou na quinta colocação da Ligue 1 2008/09 e conquistou a classificação para a Liga Europa. O final daquela temporada ainda guardou suas turbulências. As desavenças com o diretor de futebol resultaram numa inesperada demissão do treinador. Todavia, o presidente Michel Seydoux reconsiderou a posição e despediu o dirigente, antes de buscar Garcia de volta duas semanas depois. O Lille também perdeu o seu principal jogador, Michel Bastos, que tinha sido artilheiro da equipe por duas temporadas consecutivas e virou a transferência recorde do clube ao assinar com o Lyon. Em compensação, o time se reforçava. Com o dinheiro gerado pelo brasileiro os Dogues trouxeram Gervinho, que já tinha sido dirigido por Rudi Garcia no Le Mans.

Gervinho, uma das principais armas ofensivas do Lille na época.

 

O Lille melhorou um pouco mais seu desempenho em 2009/10. Terminou na quarta colocação da Ligue 1, suficiente para retornar à Liga Europa na temporada seguinte. A equipe somou 21 vitórias, igualando seu recorde na primeira divisão, mas ainda ficou oito pontos atrás do campeão Olympique de Marseille. De qualquer maneira, estava claro como os Dogues tinham uma base competitiva e capaz de lutar por mais. Gervinho chegou como artilheiro do time no campeonato, embora a sensação dos Dogues fosse outra: um garoto da base chamado Eden Hazard.

Hazard, prodígio do Lille.

 

A proximidade da cidade de Lille com a Bélgica sempre facilitou a chegada de talentos do país ao clube no norte da França. O LOSC descobriu Hazard quando o atacante tinha apenas 13 anos e o levou às categorias de base. Três anos depois, aos 16, o prodígio já fazia sua estreia na equipe principal dos Dogues. O projeto de craque fez sua primeira campanha como titular em 2008/09, antes de se tornar protagonista da equipe em 2009/10. Foi tão bem que acabou eleito a revelação da Ligue 1, assim como concorreu ao prêmio de melhor jogador do campeonato. Também foi o único representante do Lille no 11 ideal da competição. Mesmo já especulado em centros maiores da Europa, sua permanência no Estádio Lille Métropole por mais um ano seria decisiva.

A preparação para a temporada 2010/11

Apesar do trabalho consistente de Rudi Garcia e dos talentos à disposição, o Lille mantinha os pés no chão para a Ligue 1 de 2010/11. Aquele momento era importante para o clube, com o início da construção do Estádio Pierre Mauroy em março de 2010. Até por isso, os Dogues não cometeriam loucuras no mercado e se preocupavam basicamente em preservar o elenco por mais tempo. Jogadores da seleção como Adil Rami e Yohan Cabaye expressavam o interesse de sair a outros clubes mais tradicionais do país, enquanto Gervinho e Hazard receberam propostas do exterior. Sem nenhuma oferta realmente atrativa, a diretoria tratou de mantê-los nos vestiários.

O principal reforço trazido pelo Lille para a nova edição do Campeonato Francês era o centroavante Moussa Sow, que vinha de uma temporada morna com o Rennes e, sem contrato, chegou de graça. David Rozehnal também vinha por empréstimo do Hamburgo e, de resto, a comissão técnica se preocupou apenas em subir alguns garotos da base. Os dois novatos vinham para repor as saídas de Robert Vittek (Ankaragücü), Nicolas Plestan (Schalke 04) e Ricardo Costa (Valencia), que tinham mais renome que impacto dentro de campo pelo LOSC. Também saiu um pouco conhecido Pierre-Emerick Aubameyang, emprestado pelo Milan, com meses discretos pelos Dogues.

Moussa Sow, principal goleador do Lille.

 

Rudi Garcia traçava como meta de sua equipe a classificação para as competições europeias, mesmo que fosse a Liga Europa. “Alguns clubes são superiores a nós em termos de dinheiro e elenco, mas não reclamamos, nós lidamos com isso. Se formos bem como na temporada passada, já estaremos satisfeitos”, comentaria o treinador, ao L’Équipe. Não parecia falsa modéstia, considerando que o Lille teria uma temporada cheia ao também dividir atenções com a Liga Europa. Por mais que o time desse sinais de sua ascensão, a concorrência parecia mais preparada.

O Lille, ainda assim, tinha talento à disposição. O goleiro era o experiente Mickaël Landreau, trazido do Paris Saint-Germain duas temporadas antes. Com histórico na seleção francesa, o arqueiro também tinha sido campeão na meta do Nantes em 2000/01. A linha defensiva começava com um prata da casa, Mathieu Debuchy, com predicados ofensivos e em seu sétimo ano como titular. Na esquerda a principal opção era Franck Béria, contratado junto ao Metz em 2007. Adil Rami era outra cria da casa no miolo de zaga, já estabelecido como um dos melhores zagueiros do país, pré-convocado à Copa de 2010. Era acompanhado pelo camaronês Aurelien Chedjou, comprado das divisões inferiores para o time B e que também defendia os Leões Indomáveis. Entre as reservas, o brasileiro Émerson Conceição era uma alternativa na lateral, descoberto no J Malucelli.

O meio-campo do Lille tinha uma trinca muito bem definida, a começar por Rio Mavuba. O volante tinha surgido no Bordeaux e teve uma passagem frustrada pelo Villarreal. Foi levado de volta à França em 2007/08, para assumir a braçadeira de capitão do Lille. Florent Balmont era um nome mais rodado na meia-cancha, com passagens anteriores por Nice e Toulouse até ser levado pelos Dogues em 2008/09. Incansável e regular, havia sido campeão no Lyon, mas como reserva. Já o diferencial estava em Yohan Cabaye, um meio-campista com liberdade para transitar de área a área. O camisa 7 aproveitava a potência de seus chutes e a qualidade nas cobranças de falta para anotar gols. Tinham sido 13 tentos na temporada anterior, que o levariam a estrear na seleção logo após o fiasco na Copa de 2010. Nomes como o bom armador polonês Ludovic Obraniak e o garoto Idrissa Gana Gueye, promovido da base naquele momento, eram alternativas no banco.

Cabaye viveu grande fase com a camisa do Lille.

 

O melhor do Lille, de qualquer forma, ficava ao seu trio de ataque. O time combinava velocidade e habilidade com três jogadores em excelente fase. Eden Hazard completou apenas 20 anos em janeiro de 2011, mas já vinha com o rótulo de craque por tudo o que tinha aprontado na temporada anterior. Gervinho era cotado no Liverpool, mas a diretoria achou que a proposta não era boa o suficiente, considerando a energia que o marfinense concedia à linha de frente. Foi mais um a disputar a Copa de 2010 representando o clube, embora reserva. Já como homem de referência, Moussa Sow fez bem mais diferença do que sua transferência sugeria, anotando gols aos montes. E o senegalês tinha sombras no banco. O veterano Pierre-Alain Frau era uma alternativa. Ex-jogador de PSG e Lyon, vinha de uma boa campanha anterior, mas acabou perdendo espaço. Também aparecia entre os reservas o brasileiro Túlio de Melo, outro que havia trabalhado com Rudi Garcia no Le Mans e ajudaria muito no jogo aéreo.

O Lille costumava ser escalado num 4-3-3, com ideias ofensivas de Rudi Garcia. A equipe tinha muita presença física no centro de sua defesa, com Rami e Chedjou protegidos por Mavuba. Por outro lado, os laterais ganhavam liberdade no apoio, sobretudo Debuchy na direita. O meio-campo combinava combatividade e mordia a saída de bola dos adversários, se beneficiando da capacidade técnica de Cabaye para oferecer mais na ligação e nos lançamentos. A máquina ofensiva, de qualquer maneira, dependia bastante do funcionamento do trio de ataque. O tridente oferecia máxima velocidade e verticalidade, enquanto os pontas apareciam bastante para concluir as jogadas, não apenas para servir Sow. E, para ajudar, os substitutos costumavam modificar as partidas e anotar gols importantes. Assim os Dogues emplacaram.

Rio Mavuba, o capitão e dono do meio de campo do Lille campeão.

 

Antes que a Ligue 1 começasse, porém, este time não parecia tão azeitado assim para almejar a taça. Numa pesquisa do L’Equipe com jogadores, treinadores e presidentes dos clubes, apenas 3% dos 365 consultados apostavam suas fichas no Lille. Os favoritos eram outros. O Olympique de Marseille era um candidato natural pelo título na campanha anterior. Tinha Steve Mandanda, Gabriel Heinze, Lucho González, Mathieu Valbuena, André Ayew, Loïc Rémy e André-Pierre Gignac entre seus nomes mais notáveis, dirigidos por Didier Deschamps. Multicampeão na década anterior, o Lyon havia perdido seu reinado, mas também merecia respeito após chegar à semifinal da Liga dos Campeões da UEFA. Claude Puel era o comandante do time que reunia Hugo Lloris, Dejan Lovren, Cris, Miralem Pjanic, Yoann Gourcuff, Kim Källström, Lisandro López e Bafétimbi Gomis.

O Bordeaux havia sido o campeão em 2009 e permanecia no páreo. Se a saída de Gourcuff era sentida, pintavam por ali opções como Jaroslav Plasil e Alou Diarra, além da legião brasileira encabeçada por Wendel, Jussiê e Fernando Menegazzo. O PSG vivia seu último ano sem o dinheiro do Catar, mas reunia uma coleção de veteranos que incluía Grégory Coupet, Claude Makélélé e Ludovic Giuly. Aquele era o auge do meia Nenê no Parc des Princes, aliás, em formação que também possuía o lateral Ceará. Já o Monaco seria a decepção daquela temporada e acabaria rebaixado, num momento em que dependia dos gols do centroavante Park Chu-young e da boa forma de Stéphane Ruffier na meta.

De resto, destaques pontuais em outras equipes. O Sochaux tinha força no ataque com Ryad Boudebouz, Brown Ideye e Modibo Maïga. O Saint-Étienne (dirigido por Christophe Galtier, atual comandante do Lille) trazia Blaise Matuidi, Dimitri Payet e Emmanuel Rivière. O Rennes revelava Yann M’Vila no meio, o Toulouse via Moussa Sissoko em grande forma, Kevin Gameiro explodia no Lorient, Raphaël Varane despontava no Lens. Vale citar ainda o Montpellier, que uma temporada antes de seu título fez uma campanha no meio da tabela. Ainda assim, a base tomava forma nas mãos de René Girard, com Olivier Giroud, Younès Belhanda, Mapou Yanga-Mbiwa e Souleymane Camara.

Um primeiro turno ainda instável

Não foi logo de cara que o Lille se colocou como candidato ao título da Ligue 1. A equipe empatou seus quatro primeiros jogos da campanha, com apenas dois gols marcados. Os Dogues começaram buscando o empate por 1 a 1 contra o Rennes fora de casa, se valendo da “Lei do Ex” com Moussa Sow. Depois, veio a estreia no Estádio Lille Métropole e o empate por 0 a 0 contra o Paris Saint-Germain, com pressão dos parisienses. O placar se repetiu no 0 a 0 durante a visita ao Sochaux. Já na quarta rodada, novo 1 a 1, agora contra o Nice em casa. Gervinho balançou as redes. Neste momento, o LOSC ocupava um modesto 11° lugar.

A recuperação começaria na quinta rodada. E aconteceu exatamente no clássico contra o Lens, principal rival dos Dogues no norte da França. Dentro do Estádio Bollaert-Delelis, o LOSC goleou por 4 a 1, conseguindo seu primeiro triunfo na campanha. Gervinho abriu o placar e Razak Boukari empatou, num momento em que o Lens já tinha dois expulsos no início do segundo tempo – em noite repleta de confusões. Mas, diante da vantagem numérica, o banco fez a diferença para os visitantes. Pierre-Alain Frau entrou na segunda etapa para marcar dois gols, com uma assistência de Obraniak, outro substituto. Gervinho fecharia a conta no fim.

O Lille derrotou o Auxerre na sequência, com um gol de Moussa Sow aos 45’ do segundo tempo. Depois, segurou o empate por 1 a 1 fora de casa contra o vice-líder Toulouse. E ainda bateu o Montpellier por 3 a 1, com dois tentos de Sow e duas assistências de Rami. Passadas oito rodadas, o LOSC ocupava a terceira colocação, somente quatro pontos atrás do líder Rennes, num início bem embolado da Ligue 1. Neste momento, a equipe já tinha iniciado também sua campanha na Liga Europa, em grupo composto por Sporting, Gent e Levski Sofia. O Lille só conquistou um ponto nos dois primeiros compromissos, mas Rudi Garcia escalava uma equipe praticamente inteira com reservas. Depois da campanha anterior, em que a empreitada europeia gerou desgaste e muitas lesões, o treinador priorizava os torneios domésticos.

Num período em que o Lille parecia embalar, veio o baque em outubro. Começou com a eliminação nas quartas de final da Copa da Liga. Após despacharem o Caen, os Dogues sucumbiram diante do Montpellier. A tabela da Ligue 1 também não ajudou, com derrotas por 3 a 1 para o Lyon (que começou mal a campanha, ameaçado pelo rebaixamento) e para o Olympique de Marseille. Logo depois, um empate com o Valenciennes por 1 a 1 jogou o LOSC para o oitavo lugar, após 11 rodadas. Pelo menos na Liga Europa deu para brecar a sequência ruim, vencendo o Levski Sofia.

A sequência de jogos do Lille na metade final do primeiro turno era mais fácil. Isso ajudou na recuperação do time e permitiu uma nova arrancada. Os Dogues superaram Brest (3 a 1) e Caen (5 a 2), até o embate contra o Monaco. O ataque parecia se azeitar e Moussa Sow despontava na artilharia da liga. O triunfo por 2 a 1 sobre os monegascos concedeu a liderança, com sete posições escaladas na tabela em um intervalo de apenas três partidas. Numa formação ofensiva, Frau e Obraniak anotaram os gols que valeram a primeira colocação, embora o show tenha sido mesmo de Hazard. Só não dava para cochilar, já que a diferença era mínima. Rennes e Montpellier tinham 24 pontos, como o LOSC, enquanto a diferença em relação ao ascendente Lyon na oitava posição era de somente dois pontos.

O Lille perdeu a primeira colocação ao empatar com o Bordeaux fora de casa, por 1 a 1. Em compensação, emendaria outros dois triunfos seguidos. Meteu 6 a 3 no Lorient, com uma tripleta de Moussa Sow, e anotou 1 a 0 no Arles, com uma cabeçada de Túlio de Melo aos 48’ do segundo tempo. O jogo contra o Nancy, pela 18ª rodada, acabou adiado por razões meteorológicas. Mesmo com uma partida a menos, o LOSC fechou o primeiro turno na liderança, ao empatar com o Saint-Étienne por 1 a 1. Os Dogues somavam 32 pontos, um a mais que PSG, Lyon e Rennes. Pela primeira vez desde 1949/50, o clube entrava na pausa de inverno com o simbólico título de campeão do outono. Paralelamente, os reservas ainda cumpriram sua missão e conquistaram a classificação no Grupo C da Liga Europa, garantindo oito pontos na chave e a segunda posição.

As oscilações na liderança

As primeiras semanas de 2011 seriam cheias ao Lille. O time começou sua campanha na Copa da França eliminando os inexpressivos Forbach e Wasquehal, antes de derrotar o Nantes nos pênaltis pelas oitavas de final. Já pela Ligue 1, janeiro guardaria mais três vitórias na conta. O Lille fez 2 a 0 no Nice e ganhou o clássico contra o Lens mais uma vez, por 1 a 0, outro tento de Túlio de Melo. No meio dos dois compromissos ainda ocorreu o duelo adiado contra o Nancy, com triunfo por 3 a 0. Passadas 21 rodadas, a vantagem na liderança subia para quatro pontos sobre o PSG na segunda colocação, além de sete pontos para o Lyon em terceiro.

O Lille empatou com o Auxerre fora de casa por 1 a 1, com direito a um gol de bicicleta de Sow, e mesmo assim não deixou a liderança. Com a derrota do PSG para o Rennes, deu até para aumentar a vantagem para cinco pontos. Depois, os Dogues derrotaram o Toulouse por 2 a 0, numa noite que valeu a 500ª aparição de Landreau na liga. Só que o fim de fevereiro atribulado, que incluía os duelos com o PSV pelos 16-avos de final da Liga Europa, tiraram o embalo do LOSC.

O Lille se despediu da Liga Europa neste instante. Seguiu usando reservas e, depois do empate por 2 a 2 cedido nos minutos finais em casa, foi eliminado com a derrota por 3 a 1 de virada em Eindhoven. Mais preocupantes eram os tropeços na Ligue 1. Belhanda decretou a vitória do Montpellier por 1 a 0 no Estádio de la Mosson, encerrando uma invencibilidade do LOSC que se estendeu por 13 rodadas. Depois, ocorreria o empate por 1 a 1 contra o Lyon, com grande atuação de Landreau. Depois que Sow abriu o placar e Källström empatou, o goleiro operou uma série de grandes defesas para evitar a virada dos Gones, ainda vivos na ambição pelo título.

Aquele empate do Lille permitiu que o Rennes igualasse os 46 pontos dos líderes ao final da 25ª rodada, embora os rubro-negros levassem a pior no saldo de gols. Outros também seguiam na cola: o Olympique de Marseille tinha 45 e o PSG somava 44, enquanto o Lyon aparecia mais atrás com 42. Os Dogues não podiam bobear, visitando os marselheses no Vélodrome durante o compromisso seguinte. Antes disso, ainda precisaram encarar o Lorient nas quartas de final da Copa da França, um adversário com quem Rudi Garcia tinha trocado farpas nos meses anteriores. Nos pênaltis, depois do empate por 0 a 0 com bola rolando, o Lille selou a passagem para a semifinal – o que não ocorria desde os anos 1980.

O Lille pegou o Olympique de Marseille sob pressão no Vélodrome. Não apenas se encontrava com um favorito ao título, como também via o Rennes assumir provisoriamente a liderança ao entrar em campo antes naquela rodada. Os Dogues, porém, jogaram como campeões diante da apaixonada torcida marselhesa e ganharam por 2 a 1. Melhor durante o primeiro tempo, o LOSC foi para o intervalo em vantagem. Hazard arriscou um chutaço do meio da rua e tirou do alcance de Mandanda. Dava até para fazer mais, com boas oportunidades perdidas. O Olympique conseguiu o empate aos 15’ do segundo tempo, num chute de Rémy que desviou e saiu do alcance de Landreau. Entretanto, o banco mais uma vez faria a diferença. Frau anotou o gol da vitória aos 46, aproveitando o cruzamento de Emerson Conceição – ambos tinham entrado no decorrer da partida. Frau, aliás, tinha uma estrela imensa. Foram apenas cinco tentos naquela campanha, todos com grande importância.

Debuchy, grande nome da lateral do Lille.

 

Aquela vitória sobre o Olympique de Marseille reacendeu o Lille. Os Dogues venceram os três compromissos seguintes, contra Valenciennes (2 a 1, com um gol de Hazard aos 47’ do segundo tempo), Brest (2 a 1) e Caen (3 a 1). Faltando mais nove rodadas, a vantagem na ponta subia para quatro pontos, exatamente com os marselheses na segunda colocação. Rennes e Lyon tinham ficado para trás, assim como o PSG. Só que nem tudo estava garantido ainda. Uma série de resultados ruins em abril tirou o LOSC da liderança e voltou a colocar em xeque as possibilidades de título do time.

O Monaco já estava na zona de rebaixamento quando o Lille visitou o principado e mesmo assim os Dogues perderam por 1 a 0. Park abriu o placar logo cedo para os monegascos e a expulsão de Gervinho ainda no primeiro tempo dificultou, numa apresentação nervosa da equipe de Rudi Garcia. Depois, vieram dois empates por 1 a 1, em casa com o Bordeaux e fora diante do Lorient. O Olympique de Marseille esfregava as mãos e, faltando seis rodadas, assumia a liderança com um ponto de vantagem. Neste momento, a disputa pelo título já parecia uma corrida particular entre os dois. Se servia de consolo, entre um empate e outro, o Lille conquistou a classificação para a final da Copa da França. Com duas assistências de Obraniak, Hazard e Gervinho garantiram o triunfo por 2 a 0 sobre o Nice na Côte d’Azur. Já era um feito significativo, considerando que os Dogues não disputavam uma final do torneio desde 1955.

Primeiro, a Copa da França

Torcida do Lille na final da Copa da França.

 

A tabela do Lille, de qualquer maneira, oferecia jogos mais acessíveis na sequência da Ligue 1. Isso ajudou para que os Dogues retomassem a liderança de imediato. Na rodada seguinte, o Olympique de Marseille só empatou com o Auxerre no Vélodrome. Enquanto isso, o LOSC não desperdiçou a chance ao pegar o lanterna Arles e golear por 5 a 0, com dois de Hazard. O Lille retomava a dianteira com um ponto de vantagem e não sairia mais de lá. A posição se consolidou na rodada seguinte. Enquanto os Dogues venciam o Nancy por 1 a 0, graças a um gol de falta de Hazard, o Olympique perdeu na visita ao Lyon por 3 a 2. Faltando quatro rodadas, o time de Rudi Garcia abria quatro pontos de vantagem.

A sequência do Lille não seria tão simples. Pela 34ª rodada, a equipe visitou o Saint-Étienne do técnico Christophe Galtier. Os Dogues só tinham vencido três dos 44 jogos disputados dentro do Estádio Geoffroy-Guichard até então, mas conseguiram o quarto triunfo naquele dia, numa virada por 2 a 1. Depois que Rivière abriu o placar, Túlio de Melo respondeu e, no segundo tempo, o capitão Mavuba selou o resultado. O Olympique de Marseille até venceu o Brest, mas a vantagem dos líderes permaneceu em quatro pontos.

Com a situação confortável na tabela, o Lille voltava suas atenções para a final da Copa da França. A decisão no Stade de France aconteceu em 14 de maio, diante do Paris Saint-Germain. Os parisienses tinham oito troféus do torneio em seu histórico e vinham do título na temporada anterior, além de atravessarem naquele momento uma sequência invicta que já durava dois meses. Todavia, a emocionante vitória por 1 a 0 seria mesmo do Lille. Medalhões como Coupet, Makélélé, Giuly e Nenê não bastaram do outro lado. Landreau, que já tinha defendido três pênaltis nas oitavas contra o Nantes, seria o herói dos novos campeões.

Festa dos campeões! Foto: Imago / One Football.

 

Landreau completou 32 anos no dia daquela decisão. E o goleiro realizou defesas importantes, diante da pressão do PSG durante parte do tempo. O Lille melhorou na segunda etapa e anotou o gol da vitória aos 43’, com a colaboração de Coupet. Numa cobrança de falta fechada pelo lado direito, Obraniak resolveu chutar direto e encobriu o veterano goleiro, que errou o golpe de vista. Depois disso, ainda houve um pênalti sobre Gervinho, mas Coupet se redimiu e pegou a batida de Debuchy. Nada que impedisse a comemoração dos Dogues, encerrando um jejum de 56 anos no torneio.

A conquista gerou uma grande comemoração do Lille, primeiro no Stade de France, depois na volta à cidade. Os jogadores foram recebidos na prefeitura e ganharam uma medalha de honra. Mais de 15 mil pessoas estiveram presentes na festa. Aquele momento, de qualquer forma, seria apenas um aperitivo ao que se desenhava para os próximos dias.

A conquista da Ligue 1 depois de 57 anos

O Lille voltou a campo pela Ligue 1 para enfrentar o Sochaux, num jogo teoricamente difícil, contra um adversário que brigava por uma vaga nas copas europeias. A antepenúltima rodada, todavia, já tinha começado e o Olympique de Marseille só empatou com o Lorient no dia seguinte à final da Copa da França. Com isso, o LOSC entrou em campo sem grandes pressões e poderia aumentar sua vantagem na liderança para seis pontos. Foi o que aconteceu, com Gervinho anotando o gol no triunfo por 1 a 0. Naquele momento, o título não estava assegurado, mas era bem provável. O Lille só perderia o troféu se fosse derrotado nos dois últimos compromissos, o Olympique vencesse seus últimos dois e ainda tirasse uma diferença de oito gols no saldo.

Na penúltima rodada, então, o Lille foi ao Parc des Princes precisando apenas de um empate contra o Paris Saint-Germain para ser campeão. Aquele 21 de maio entraria para a história do clube. O empate por 2 a 2 bastou. Obraniak abriu o placar aos cinco minutos de jogo, num chute de fora da área, mas Guillaume Hoarau empatou antes do intervalo. Na segunda etapa, Debuchy cruzou para Sow mandar para dentro e recuperar a vantagem dos Dogues. Mathieu Bodmer até igualou de novo, mas não impediu a celebração dos visitantes em Paris. A espera de 57 anos também acabou.

Gervinho, Mavuba e Sow fazem a festa. Foto: Imago / One Football.

 

No dia seguinte, a multidão voltou às ruas de Lille. Mais de 20 mil pessoas acompanharam o cortejo dos campeões, que desfilaram num carro aberto pela cidade. A imprensa esportiva francesa parabenizava os vencedores pelo futebol contundente e ofensivo. Ainda rolou o jogo final no Estádio Lille Métropole, com 17 mil presentes nas acanhadas arquibancadas. O troféu foi entregue e o LOSC conquistou sua última vitória, ao superar o Rennes por 3 a 2. Aquele seria um jogo especial para Moussa Sow, responsável pelos três tentos. O senegalês terminou como artilheiro do campeonato, com 25 gols.

O Lille fechou a Ligue 1 com 21 vitórias e apenas quatro derrotas. Foram 76 pontos somados, oito de vantagem sobre o vice-campeão Olympique de Marseille. Os campeões registraram o melhor ataque, com 68 gols anotados, e também a segunda melhor defesa, com 36 sofridos. O desempenho em casa foi preponderante, com 44 dos pontos conquistados. E, individualmente, muitos nomes foram condecorados. Eden Hazard acabou eleito como o melhor jogador do Campeonato Francês, Rudi Garcia foi o melhor técnico e Moussa Sow recebeu o troféu de artilheiro. A seleção da competição teve Rami, Hazard, Gervinho e Sow no 11 ideal.

Os campeões da França: velocidade do ataque e consistência defensiva foram cruciais para o sucesso do time.

 

Aquele Lille, no entanto, não duraria por muito tempo. A temporada seguinte iniciou o desmanche com as saídas de Gervinho (Arsenal), Rami (Valencia) e Cabaye (Newcastle). Com a eliminação na fase de grupos da Champions, Sow (Fenerbahçe) e Obraniak (Bordeaux) também procuraram novos rumos no mercado de inverno. Payet até chegou para reforçar a equipe, mas não deu para buscar o bicampeonato, com a terceira colocação ao final da Ligue 1 de 2011/12 – oito pontos atrás do campeão Montpellier. O Estádio Pierre Mauroy foi inaugurado para 2012/13, mas Hazard também estava grande demais para seguir nos Dogues e se transferiu como grande reforço do Chelsea. Também saíram Debuchy e Landreau, numa temporada que encerrou a passagem de Rudi Garcia após cinco anos no comando. O time foi sexto na Ligue 1, além de cair na fase de grupos da Champions outra vez.

Hazard e Túlio de Melo. Foto: PHILIPPE HUGUEN/AFP/Getty Images.

 

O Lille ainda se manteve como uma equipe que brigava pelas copas europeias nas temporadas seguintes, mas longe do sucesso do início da década. Em outubro de 2016, mais uma era se encerrou no clube quando Michel Seydoux vendeu sua parte na agremiação para o empresário Gérard López e deixou a presidência depois de 14 anos. O início dessa nova etapa não foi muito bom, com a frustrada passagem de Marcelo Bielsa pela casamata e problemas financeiros que chegaram a bloquear as transferências dos Dogues. Contudo, a chegada de Christophe Galtier para evitar o rebaixamento e o excepcional trabalho do diretor Luis Campos para contratar talentos elevou as perspectivas.

O Lille revelou ótimos nomes, na mesma medida que vendeu e achou outros mais. Foi vice da Ligue 1 em 2018/19, ficou em quarto em 2019/20 e encerrou o jejum de dez anos sem o troféu nacional em 2020/21. López até saiu da presidência no fim de 2020, por conta de suas dívidas, mas em campo os méritos são claros. E aquelas lembranças de 2011 serviram de motivação à nova história em 2021. Um esquadrão imortal.

 

Os personagens:

Landreau: cria do Nantes, o goleiro fez história no time verde e amarelo por 10 anos, levantou o troféu nacional de 2000-2001 e se transferiu para o PSG em 2006. Foi convocado para a Copa do Mundo de 2006 e fez três boas temporadas no clube da capital até chegar ao Lille em 2009. Mesmo não tão alto (1,84m), se garantia com reflexos apurados e manteve conhecida regularidade com grandes jogos, muita agilidade e boa colocação. Disputou 159 jogos pelo Lille entre 2009 e 2013 até se aposentar no Bastia, em 2014.

Debuchy: com bom físico e excelente no apoio ao ataque, foi uma das principais armas ofensivas daquele Lille campeão. Criava jogadas, dava bons cruzamentos e conseguia ir ao ataque e retornar com muita velocidade. A origem de sua técnica e boa visão de jogo no ataque remetia ao seu início de carreira, quando atuava como meia nas bases do Lille. Em quase dez anos de clube, Debuchy disputou 297 jogos e marcou 18 gols. Vestiu a camisa da França em 27 jogos e marcou dois gols. 

Rami: o zagueirão jogou no Lille de 2006 até 2011 e se consagrou como um dos principais defensores do futebol francês. Com 1,90m de altura, Rami ganhava praticamente todas no jogo aéreo e tinha boa técnica para sair jogando do campo de defesa, embora não fosse tão rápido. Integrou o elenco da França que ficou com o vice-campeonato da Eurocopa de 2016 e faturou a Copa do Mundo de 2018.

Rozehnal: outro defensor muito alto (1,91m), o tcheco Rozehnal foi opção para o técnico Rudi Garcia durante aquela temporada marcante dos Dogues, atuando principalmente na Liga Europa (oito jogos) e em alguns compromissos da Ligue 1. Disputou 27 jogos. 

Chedjou: não era tão habilidoso quanto seu companheiro de zaga, Rami, mas tinha grande força física e bom senso de colocação, o que ajudou a complementar o sistema defensivo do Lille e fazer do time a segunda melhor defesa do Campeonato Francês daquela temporada. O camaronês jogou de 2007 até 2013 nos Dogues, disputou 205 jogos e marcou 15 gols.

Béria: enquanto Debuchy avançava constantemente ao ataque, Franck Béria ficava mais contido no campo de defesa, ajudando na marcação para não sobrecarregar a zaga dos Dogues. Quando preciso, Béria atuava também como zagueiro e cumpria muito bem a função. Foram 41 jogos na temporada. O lateral é o 5º atleta com mais jogos pelo Lille na história: 317 partidas.

Emerson: o lateral-esquerdo brasileiro chegou ao Lille em 2007, após rápida passagem pelo J Malucelli, e foi um dos mais regulares jogadores do time francês no período. Disputou mais de 100 jogos com a camisa do Lille e participou de 31 jogos na temporada, atuando não só como lateral, mas também no miolo de zaga. 

Mavuba: grande líder e capitão do Lille, o volante foi um dos principais destaques do time naquela temporada histórica. Muito forte na marcação e no desarme, Mavuba era o responsável por “destruir” as jogadas dos rivais e iniciar contra-ataques poderosos, além de distribuir bem a bola no meio de campo e garantir a eficiência defensiva dos Dogues. Jogou de 2008 até 2017 no Lille e esteve em todos os 38 jogos da campanha do título francês. Rio Mavuba disputou a Copa do Mundo de 2014 pela França, mas figurou bem menos do que devia no time principal dos Bleus (foram apenas 13 jogos na carreira). Com 370 jogos, Mavuba é o 2º jogador com mais partidas pelo Lille na história.

Balmont: meio-campista experiente e com passagens em vários clubes do país, entre eles pelo Lyon multicampeão dos anos 2000, Balmont tinha a função de ajudar na articulação de jogadas e também de marcação. Incansável, corria demais e foi uma peça fundamental ao esquema do técnico Rudi Garcia. Foram 323 jogos com a camisa do Lille na carreira – ele é o 4º com mais jogos pelo clube na história.

Gueye: cria das bases, figurou mais no banco de reservas e disputou apenas 18 partidas na temporada, sendo 11 delas na Ligue 1. Acabou tendo mais destaque nas temporadas seguintes até se transferir para o futebol inglês em 2015.

Obraniak: o meia polonês foi outra peça fundamental para o sucesso do Lille naquela temporada. Com muita movimentação, poder de decisão e força nos chutes, o camisa 10 marcou gols, deu assistências e fez o gol do título da Copa da França sobre o PSG no histórico dia 14 de maio de 2011. Foram 221 jogos e 27 gols pelo Lille entre 2006 e 2012. Pela seleção da Polônia, Obraniak disputou 34 jogos e marcou seis gols.

Cabaye: tudo o que acontecia no setor ofensivo passava pelos pés criativos do francês. Com chutes poderosos e precisão nos lançamentos de média e longa distâncias, além de ser um bom cobrador de faltas, Cabaye arquitetou diversas jogadas de gols do Lille naquela temporada e catapultou seu espaço na seleção francesa, pela qual disputou a Eurocopa de 2012 e a Copa do Mundo de 2014. Após 253 jogos e 38 gols pelo Lille, Cabaye foi jogar no Newcastle United-ING já na temporada 2011-2012.

Gervinho: com 15 gols e 10 passes para gols em 35 jogos na Ligue 1, o marfinense entortou os rivais pelo lado direito do ataque dos Dogues e virou ídolo da torcida com seu futebol incisivo e cheio de dribles. Ao lado de Sow e Hazard, compôs o tridente ofensivo do campeão e contribuiu demais para o melhor ataque da competição. Gervinho integrou a seleção da Costa do Marfim nas Copas do Mundo de 2010 e 2014. Nas duas temporadas em que esteve no Lille, o atacante disputou 93 jogos e marcou 36 gols.

Túlio de Melo: cria do Atlético Mineiro, o atacante brasiliero chegou em 2008 ao Lille e quatro gols em 29 jogos na campanha do título francês. Grandalhão (1,93m), era eficiente nas jogadas aéreas e marcava vários gols de cabeça. Ficou no Lille até 2014.

Moussa Sow: nunca uma contratação deu tão certo como a de Sow para o Lille naquela temporada de 2010-2011. Para começar, ele veio de graça. E, jogo após jogo, fez seu ex-clube, o Rennes, se arrepender profundamente. Com gols em profusão e entrosamento pleno com Hazard e Gervinho, foi o artilheiro da Ligue 1 com 25 gols em 36 partidas e coroou uma temporada avassaladora, que teve hat-trick, gol de bicicleta e uma simbiose perfeita com o clube. Só que o casamento durou pouco e em 2012 ele acabou assinando com o Fenerbahçe-TUR.   

Frau: com grande passagem pelo Sochaux, o atacante já era veterano, mas contribuiu demais para a campanha do Lille atuando em 29 jogos e marcando cinco gols, entre eles um nos 2 a 1 sobre o Olympique em plena cidade de Marselha, na 26ª rodada.

Eden Hazard: foi com a camisa do Lille que o belga começou a despontar como um dos mais talentosos jogadores da década de 2010. Técnico, driblador, com visão de jogo plena, rápido e extremamente criativo, foi o motor principal do Lille e um dos poucos a atuar em todos os 38 jogos da equipe na campanha do título francês. Hazard deu 10 assistências, marcou sete gols e virou um ídolo instantâneo da torcida. Claro que seu futebol chamou a atenção de vários clubes e ele acabou indo para o Chelsea em 2012, onde também fez história com novas atuações majestosas e títulos, além de conduzir a seleção da Bélgica ao terceiro lugar na Copa do Mundo de 2018. Entre 2007 e 2012, Hazard disputou 194 jogos e marcou 50 gols com a camisa do Lille.

Rudi Garcia (Técnico): com uma passagem de cinco anos pelo Dijon e uma breve pelo Le Mans, Rudi Garcia chegou ao Lille com as lembranças de seus tempos de jogador lá no começo dos anos 1980. Adepto de um estilo de jogo ofensivo, o treinador passou por momentos delicados em seu início, conviveu com desfalques e conseguiu reformular o time até encontrar o equilíbrio perfeito entre a defesa e o ataque para transformar o Lille no melhor time da França em 2010-2011. Sob seu comando, o Lille foi o time que proporcionou o futebol mais vistoso e belo de se ver no país, recebendo inclusive o apelido de “Barcelona do Norte”, em alusão ao esquadrão de Pep Guardiola na época. Rudi Garcia ficou no Lille até junho de 2013, quando se transferiu para a Roma. O técnico comandou o Lille em 256 jogos, somou 129 vitórias, 67 empates e 60 derrotas, aproveitamento de 50,3%.

 

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Comentários encerrados

7 Comentários

  1. O texto ficou extremamente rico, até viajei aqui imaginando os lances e jogadas de cada componente desse time lendário do Lille. Vocês já fizeram ou pensam em fazer sobre o Montpellier que conquistou a Ligue 1 na temporada seguinte?

  2. Grande texto mais uma vez pessoal

    Por favor, será que tem como atualizar o texto do esquadrão do Flamengo 2019-2020? Porque eles conquistaram o Bi da Supercopa do Brasil em cima do Palmeiras além de ganhar o Tri campeonato do Campeonato Carioca em cima do Fluminense.

    • Todos os méritos ao Leandro Stein! Ele ficará feliz com os elogios!
      Sobre o Villarreal, sem dúvida ele terá lugar no Imortais mais para frente! Foi um feito histórico! 🙂

  3. Olá,galera do Imortais.foi show o texto do Lille. gostaria muito q vcs imortalizassem o Porto dessa mesma temporada 2010/2011,q foi Campeão Português invicto,da Taça De Portugal e da UEFA Europa League.abraços e espero q vcs me respondam

Esquadrão Imortal – Palmeiras 1998-2000

Técnico Imortal – Brian Clough