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Esquadrão Imortal – Estudiantes 2008-2010

Os campeões da América. Em pé: Schiavi, Desábato, Cellay, Verón, Ré e Andújar. Agachados: Braña, Enzo Pérez, Benítez, Fernández e Boselli.
Os campeões da América. Em pé: Schiavi, Desábato, Cellay, Verón, Ré e Andújar. Agachados: Braña, Enzo Pérez, Benítez, Fernández e Boselli.

 

Grandes feitos: Campeão da Copa Libertadores da América (2009), Campeão do Campeonato Argentino (2010 – Apertura), Vice-campeão do Mundial de Clubes da FIFA (2009) e Vice-campeão da Copa Sul-Americana (2008). Encerrou um jejum de 39 anos sem títulos na Libertadores.

Time-base: Mariano Andújar (Damián Albil / Agustín Orión); Marcos Angeleri (Rolando Schiavi / Clemente Rodríguez / Gabriel Mercado), Christian Cellay (Agustín Alayes / Facundo Roncaglia / Federico Fernández), Leandro Desábato (Marcos Rojo) e German Ré (Juan Díaz); Rodrigo Braña (Diego Galván), Juan Sebastián Verón, Enzo Pérez (Matías Sánchez) e Leandro Benítez; Gastón Fernández (Juan Salgueiro / José Luis Calderón) e Mauro Boselli (Rodrigo López). Técnicos: Roberto Sensini (janeiro até setembro de 2008), Leonardo Astrada (setembro de 2008 até março de 2009) e Alejandro Sabella (de março de 2009 até 2010).

 

“A Volta da Bruxaria”

 

Por Guilherme Diniz

 

No final dos anos 1960, La Plata foi palco da transformação de um clube. Outrora às sombras dos chamados Cinco Grandes do Futebol Argentino (Boca Juniors, River Plate, Independiente, Racing e San Lorenzo), o Estudiantes conseguiu feitos impressionantes que deixaram os tais grandes comendo poeira. Após um título argentino em 1967, a equipe alvirrubra venceu três Copas Libertadores (1968, 1969 e 1970), uma Copa Interamericana (1969) e um Mundial Interclubes (1968), indo direto para o topo da Argentina como clube mais vencedor internacionalmente na época, mais que o Independiente (com “apenas” duas Libertadores até aquele momento) e Racing (com uma Liberta e um Mundial). Boca e River? Nem sonhavam com tais títulos… Tudo aquilo foi fruto do trabalho tático de Osvaldo Zubeldía, das “artimanhas duvidosas” de Carlos Bilardo e Aguirre Suárez e das bruxarias de Juan Ramón Verón, La Bruja, o maior craque daquele esquadrão e grande expoente técnico do time.

Alguns anos depois, em 1975, num dia de clássico de La Plata entre Estudiantes e Gimnasia (que terminou 3 a 3), Juan Ramón Verón teve um filho: Juan Sebastián Verón. Como não poderia deixar de ser, o garoto seguiu os caminhos do futebol. Se transformou em um meio-campista de exímio talento. E, claro, apaixonado pelo Estudiantes e sempre ouvindo as histórias daqueles anos de ouro do tricampeonato continental. Verón sonhava um dia poder repetir pelo menos uma parte do que seu pai fez. Até que, na segunda metade dos anos 2000, ele conseguiu.

Após um doloroso vice continental em 2008, Verón e companhia deram a volta por cima. Disputaram angustiantes 16 jogos até alcançarem La Glória Eterna depois de quase 40 anos: a Copa Libertadores, em território hostil para clubes argentinos na época, o Mineirão. E por pouco não conquistaram o mundo contra o Barcelona de Guardiola. No ano seguinte, veio ainda um título argentino com uma das melhores defesas da história. E Verón consagrava de vez a dinastia de sua família no Estudiantes. Novas “bruxarias” no apogeu de La Brujita. É hora de relembrar o renascimento pincharrata na América.

 

Sob os louros de 2006

Verón puxa a fila em clássico contra o Gimnasia: retorno de La Brujita foi um divisor de águas para o alvirrubro de La Plata.

 

O despertar do Estudiantes começou alguns anos antes, em 2006, quando Juan Sebastián Verón retornou ao clube de La Plata no segundo semestre daquela temporada, após uma década no futebol europeu. La Brujita havia jogado no alvirrubro entre 1993 e 1996, quando ajudou o clube a retornar à elite do futebol nacional com a conquista da Série B de 1994-1995. Em 2006, um ano após o centenário dos pincharratas, Verón já era um craque consagrado e chegou em La Plata com a missão de reconduzir o Estudiantes a um título argentino, algo que não acontecia há 23 anos. Comandado pelo então novato técnico Diego Simeone, o Estudiantes tinha um bom elenco e vinha de campanha satisfatória na Copa Libertadores de 2006, quando caiu apenas nas quartas de final diante do então campeão São Paulo, nos pênaltis, fora de casa.

Calderón e Verón: reencontro campeão em 2006.

 

O forte do time era exatamente o setor onde Verón iria jogar, o meio de campo, com o incansável Braña, o polivalente José Sosa e ainda Diego Galván, que auxiliavam sobretudo os atacantes José Luis Calderón (veterano e que havia jogado com Verón no time do começo dos anos 1990) e Mariano Pavone. Atuando mais avançado, La Brujita rapidamente impôs seu jogo ao Estudiantes e foi um dos principais protagonistas do time que brigou ponto a ponto com o forte Boca Juniors pelo título do Apertura de 2006. Os pincharratas emendaram uma sequência de 10 vitórias seguidas e 12 triunfos nos últimos 13 jogos, alcançando os mesmos 44 pontos do Boca.

Galván marca o quarto na goleada de 7 a 0 sobre o maior rival.

 

O grande momento do Estudiantes no campeonato foi o clássico de La Plata contra o Gimnasia, disputado em 15 de outubro, no Estádio Ciudad de La Plata. Com uma atuação coletiva sensacional e três gols de Calderón, os alvirrubros massacraram o rival por 7 a 0, a maior goleada da história de um dos clássicos mais tradicionais do futebol argentino, cuja primeira partida aconteceu em 1916. Curiosamente, aquele foi o primeiro clássico disputado por Verón na carreira, já que nos anos 1990 ele não chegou a enfrentar o Gimnasia.

Com o mesmo número de pontos do Boca, o Estudiantes decidiu o título em um jogo desempate contra os xeneizes no dia 13 de dezembro de 2006, no estádio José Amalfitani, e venceu por 2 a 1, gols de José Sosa e Mariano Pavone, selando o título nacional e o fim do jejum nacional dos pincharratas. Contando o triunfo decisivo contra o Boca, foram 20 jogos, 15 vitórias, dois empates, três derrotas, 37 gols marcados e 13 gols sofridos. Pavone foi o artilheiro do time com 11 gols.

O time que venceu o Boca e faturou o Apertura de 2006. Em pé: José Sosa, Marcos Angeleri, Agustín Alayes, Diego Galván, Juan Sebastián Verón, Fernando Ortiz e Mariano Andújar. Agachados: Pablo Alvarez, Mariano Pavone, Rodrigo Braña e Pablo Lugüercio.

 

O técnico Simeone foi fundamental para a formação daquele time alvirrubro.

 

Em início de carreira, o Cholo mostrava que iria se dar bem em clubes alvirrubros… Vide sua trajetória no Atlético de Madrid!

 

No ano seguinte, a equipe não levantou títulos, mas seguiu competitiva e terminou em 3º lugar o Clausura de 2007. Com as saídas de alguns jogadores como José Sosa, Calderón (este retornaria na metade de 2008) e Pavone, os alvirrubros perderam um pouco a intensidade e viram Diego Simeone deixar o comando técnico para ir ao River Plate. Por outro lado, o capitão Verón recusou propostas do exterior (DC United-EUA e Internazionale-ITA) e também de times da Argentina (River Plate, San Lorenzo e Boca Juniors) para permanecer em La Plata. Já em 2008, o Estudiantes deu a oportunidade para o ex-jogador Roberto Sensini ter sua primeira experiência como treinador, comandando os pincharratas no Clausura de 2008 (3ª colocação, com mais uma vitória sobre o rival Gimnasia – 2 a 1, com dois jogadores a menos!) e na Copa Libertadores de 2008 (queda nas oitavas de final para a futura campeã LDU).

No Apertura de 2008, o time não foi bem e terminou apenas na 7ª colocação, mas alcançou a quinta vitória seguida sobre o Gimnasia (3 a 1) e igualou uma racha de 67 anos atrás, quando os pincharratas venceram cinco jogos consecutivos entre 1939 e 1941. A série de 2008 foi iniciada exatamente no histórico 7 a 0 de 2006. O motivo da campanha irregular no torneio de 2008 se deu pelos compromissos da Copa Sul-Americana e também pela nova mudança de treinador, quando Leonardo Astrada assumiu o time em setembro de 2008.

 

Doloroso vice

A trajetória do Estudiantes na Copa Sul-Americana começou em agosto, ainda sob o comando de Sensini, com classificação diante do Independiente-ARG após vitória por 5 a 3 nos pênaltis. Nas oitavas, a equipe encarou o compatriota Arsenal de Sarandí e venceu o primeiro duelo por 2 a 1 (em casa, com dois gols de Boselli) e empatou por 0 a 0 na volta. Nas quartas, vitória por 2 a 0 em casa (gols de Boselli e Verón) e empate em 2 a 2 contra o Botafogo-BRA e vaga garantida nas semifinais. Em novo duelo contra um rival doméstico (Argentinos Juniors), os pincharratas empataram o primeiro jogo em 1 a 1 e venceram a volta por 1 a 0, em casa, com gol de Calderón, e garantiram a vaga na final.

O adversário foi o Internacional-BRA, que vivia uma das mais vertiginosas fases de sua história, com os recentes títulos da Libertadores e do Mundial de Clubes da FIFA, em 2006, e um elenco bastante competitivo comandado pelo técnico Tite e jogadores como Bolívar, Índio, Alex, D’Alessandro, Guiñazú e Nilmar. No primeiro jogo, em La Plata, a força da torcida no caldeirão do Estádio Ciudad de La Plata não foi suficiente para evitar a derrota por 1 a 0 para os brasileiros, que chegaram a atuar com um jogador a menos desde os 24 minutos do primeiro tempo (Guiñazú foi expulso).

Alex fez o gol do Inter na partida de ida.

 

E, na volta, Nilmar deu o título aos colorados.

 

Insistindo nas bolas aéreas, o time argentino parou no bom sistema defensivo dos gaúchos e nas defesas do goleiro Lauro. A volta, no Beira-Rio, seria dureza para os pincharratas, que precisavam pelo menos de uma vitória por um gol para levar a decisão para a prorrogação. Mas o time argentino foi valente, fez um gol com Boselli (anulado por impedimento duvidoso) para, enfim, chegar ao tento que precisava no segundo tempo, com o zagueiro Alayes.

O jogo permaneceu com vitória argentina por 1 a 0 e foi para a prorrogação. Nela, muita tensão e erros de passes que indicavam a loteria dos pênaltis. Só que Nilmar, aos 8’ da segunda etapa, fez um gol chorado, típico de decisão, que decretou o empate em 1 a 1 e o título colorado. Foi uma ducha de água fria para os pincharratas, que não tinham tempo para lamentar, afinal, a Copa Libertadores de 2009 iria começar bem mais cedo para eles…

 

Hora da mudança

Sabella, técnico das glórias a partir de 2009.

 

No final de janeiro, o Estudiantes teve pela frente a fase preliminar da Copa Libertadores. A equipe enfrentou o Sporting Cristal-PER, em Lima, e perdeu por 2 a 1. Na volta, os argentinos venceram por 1 a 0 e conseguiram a vaga na fase de grupos graças ao gol marcado fora de casa por Enzo Pérez, que passou a aparecer mais no time titular. O problema àquela altura é que o técnico Astrada não fazia o Estudiantes jogar tudo o que podia. Faltava criação e velocidade e o esquema em losango do treinador não funcionava. Prova disso foram os primeiros jogos na fase de grupos: derrota por 3 a 0 para o Cruzeiro-BRA, fora de casa, vitória magra por 1 a 0 sobre o frágil Universitario de Sucre-BOL, em casa, e derrota por 1 a 0 para o Deportivo Quito-EQU, fora.

Com a classificação em risco, Astrada deixou o Estudiantes e a diretoria trouxe Alejandro Sabella, velho conhecido da torcida por seus tempos de jogador pelo próprio clube de La Plata, e que também começaria no Estudiantes sua carreira como técnico – assim como Sensini -, já que ele acumulava trabalhos anteriores como auxiliar.

“Trate de fazer suas bruxarias!”

 

Sabella desejava construir sua própria história e confiava em seu lado pedagógico e na experiência de longos anos como jogador profissional e na identidade com os pincharratas. A diretoria se viu realizada com a chegada do treinador, pois ele era um antigo sonho de consumo do clube – a primeira investida aconteceu em 2004, quando ele era assistente de Daniel Passarella, mas não houve acordo. A negociação de 2009 teve papel fundamental de Verón-pai, que conversou com Sabella e ajudou a selar a vinda do técnico ao clube. Em entrevista publicada na Trivela, Sabella comentou sobre o início de seu trabalho nos pincharratas.

 

“Cheguei num domingo e jogamos pela Libertadores na quinta. Levei uma camisa do Estudiantes na mão, porque queria incutir neles desde o primeiro momento o que sentia pelo clube e o que significava a Libertadores na história do Estudiantes. Queria fazer com que eles vissem que eu chegava como mais um deles. Apostei na mística de início. E depois dei uns conceitos futebolísticos que pretendia na tática, mas sobretudo foquei o mental, porque é o motor de tudo, como em qualquer parte da vida. Se não está bem a mente, não pode estar bem o resto”.

 

E, de fato, aquilo mexeu com o elenco. O Estudiantes goleou o Deportivo Quito por 4 a 0, em La Plata, e na sequência goleou o Cruzeiro também por 4 a 0. Com nove pontos, bastou um empate sem gols contra o Universitario de Sucre na última rodada para garantir a classificação às oitavas de final em segundo lugar, com 10 pontos. Sabella implantou rapidamente seu estilo naquele time. Recuou um pouco Verón e deu ao craque a função de organizar as jogadas, com intensa movimentação. Acabou com o losango de Astrada e armou um 4-4-2 clássico, com Braña na marcação centralizada, Enzo Pérez mais aberto pela direita e Benítez pela esquerda. Na frente, a aposta era em Boselli como goleador e Gastón La Gata Fernández para abrir espaços na defesa com sua velocidade. O sistema defensivo teria Cellay e Desábato no miolo de zaga, e Germán Ré e Marcos Angeleri nas laterais, com o titular Andújar no gol.

 

Soberania pincharrata

Boselli, principal homem-gol do Estudiantes na Liberta.

 

Nas oitavas, o Estudiantes encarou o Libertad-PAR e mostrou que queria voltar a ser o gigante da América que fora no passado. Com gols de Fernández e Boselli (duas vezes), o clube argentino venceu por 3 a 0 e fez a festa dos mais de 40 mil torcedores no Estádio Ciudad de La Plata. Na volta, no Paraguai, empate sem gols que garantiu a vaga nas quartas. Havia a expectativa de um duelo eletrizante contra o Boca Juniors, mas os xeneizes foram eliminados pelo Defensor-URU, que empatou em 2 a 2 jogando em casa e arrancou uma surpreendente vitória por 1 a 0 em plena La Bombonera, eliminando o bicho-papão.

Atento, o Estudiantes foi precavido ao Uruguai para o jogo de ida, mas venceu por 1 a 0, gol do zagueiro Desábato, e viajou para casa com a tranquilidade de poder empatar. Em La Plata, nova vitória (1 a 0, gol de Benítez) e classificação para a semifinal. Para aquela reta final, o Estudiantes contratou por empréstimo o zagueiro Rolando Schiavi, campeão pelo Boca em 2003. Com isso, o defensor passou a fazer parte da dupla de zaga ao lado de Desábato e Cellay foi deslocado para a lateral-direita. Schiavi veio como alternativa aos problemas de lesão que acometeram Angeleri, Alayes e Iberbia.

Desábato comemora seu gol na vitória por 1 a 0 sobre o Defensor.

 

O adversário seria um velho conhecido: o Nacional-URU, algoz dos argentinos na final da Copa Libertadores de 1971 ao impedir o tetracampeonato consecutivo dos pincharratas naquela edição. Antes dos duelos, houve tensão pelo fato de ser proibida torcida visitante tanto na Argentina quanto no Uruguai, além de o Nacional contestar a presença de Schiavi no rival, alegando erros burocráticos no empréstimo do jogador, que era do Newell’s Old Boys. Apesar de tudo, ele jogou normalmente.

O primeiro jogo foi em La Plata diante de mais de 50 mil torcedores e o time da casa venceu por 1 a 0, gol de Diego Galván. Sem levar gols pela oitava partida seguida na Liberta, o goleiro Andújar quebrou o recorde de Hugo Gatti e se tornou o goleiro argentino com mais jogos sem levar gols na história da competição e quase 800 minutos sem ser vazado. Na volta, no Centenário com 48 mil tricolores, Boselli outra vez mostrou seu faro artilheiro e marcou os dois gols da vitória por 2 a 1 que colocou os argentinos na final pela primeira vez após 38 anos. O segundo foi de uma frieza impressionante! Veja abaixo os gols do jogo!

 

 

Embora não apresentasse um futebol de encher os olhos, o Estudiantes demonstrou naquele mata-mata enorme competitividade, equilíbrio e intensidade, tudo o que Sabella desejava. Verón, claro, era o craque maior e demonstrava muito mais eficiência naquele estilo de jogo com mais liberdade e construindo jogadas. O meio-campista era letal nas bolas paradas e colocava a redonda nos pés ou na cabeça dos companheiros. Era, de fato, o líder que se esperava e a estrela de um time que sonhava com a América. Mas seria preciso encarar novamente o Cruzeiro, para desprazer do técnico Sabella, que não queria enfrentar o time brasileiro mais uma vez – mesmo tendo vencido os mineiros na primeira fase – por considerá-los “dificílimos”, além de vir na lembrança do treinador o revés para o clube azul na Libertadores de 1976, quando ele jogava pelo River Plate e foi derrotado pelo time brasileiro nas eletrizantes partidas que decidiram o título.

 

A bruxaria da América!

No dia 08 de julho de 2009, mais de 52 mil pessoas transformaram o Estádio Ciudad de La Plata em um caldeirão para ajudar o Estudiantes a vencer o Cruzeiro no primeiro jogo da decisão da Libertadores. Mas os brasileiros vinham embalados e conseguiram segurar o empate sem gols graças às defesas do goleiro Fábio, que impediu pelo menos quatro grandes chances dos argentinos. Seria preciso vencer no Mineirão de qualquer jeito. E justo em um estádio com retrospecto péssimo para os clubes argentinos: até aquele ano, em 35 jogos, apenas quatro eles venceram. Haja futebol, sangue frio e apelo às místicas do clube para conseguir a virada. Mas havia o alento: o Estudiantes poderia utilizar as bruxarias de seu capitão…

No dia do jogo, quase 65 mil pessoas estavam no Mineirão. Se o Estudiantes não tinha a força da torcida a favor, o clube recorreu às suas “entranhas” para o entusiasmo: os próprios jogadores. Todos eles se uniram e disseram ao técnico Sabella que iriam vencer dentro do estádio mineiro. O treinador disse em entrevista ao La Nación (ARG) que no trajeto até o Mineirão, faltando 30 metros para chegar ao portão, “o ônibus se mexia de maneira impressionante” e ele ficou temeroso de que os jogadores poderiam “quebrar os vidros das janelas”. Os atletas gritavam e bradavam bem alto cânticos de euforia. Sem entender aquilo, a torcida do Cruzeiro percebeu que aquele Estudiantes não vinha a passeio. Vinha para ganhar.

Quando a bola rolou, os primeiros 20 minutos foram sem grandes lances, com os times ainda se estudando. Só aos 21’ que Fernández apareceu com perigo e tocou para Boselli, que furou na hora de chutar. O Cruzeiro tentou a resposta em cobrança de escanteio de Gérson Magrão, mas Wellington Paulista não conseguiu desviar para o gol após cabeçada de Leonardo Silva. Até os 30’, mais duas chances do time da casa, ambas interceptadas pela zaga. Bem marcado, Verón não conseguia criar como de costume, mas roubava bolas e mais bolas dos rivais e comandava as ações no meio, além de anular o meio-campista cruzeirense Ramires, que sofreu faltas duras do argentino, que deu o troco pela cotovelada recebida do brasileiro no primeiro duelo.

O time campeão da América: Verón mandava soltar e prender. Enzo Pérez e Benítez articulavam pelas pontas. Sistema defensivo era muito bem montado. E Boselli vivia o auge. Resultado? Estudiantes copado!

 

Na segunda etapa, logo aos seis minutos, um chute de Henrique desviou em Desábato, enganou o goleiro Andújar e abriu o placar do Mineirão: 1 a 0. Muitos poderiam decretar o título do time brasileiro, ainda mais após um gol daquele, de fora da área, como o de Elivélton no título de 1997. Parecia que o misticismo estava do lado cruzeirense. Mas não. Os argentinos respiraram fundo. Pegaram a bola para si. Enquanto a torcida da casa pedia o segundo gol, eles criavam chances. E apenas cinco minutos depois, Verón lançou na direita, nas costas de Gérson Magrão, para Cellay. O defensor cruzou para a área e La Gata Fernández escorou para empatar: 1 a 1. O Cruzeiro sentiu. Já o Estudiantes começou a salivar o gosto de la Copa. Verón se inflou em campo. Como o capitão que era, virou o norte para o caminho da virada.

La Gata Fernández comemora o empate.

 

Aos 27’, o Estudiantes ganhou escanteio. Na cobrança, Verón. Na área, a confusão típica. E o craque colocou uma poção de sua bruxaria na bola. A redonda viajou direto para a cabeça do artilheiro da Libertadores, Boselli, mandar para o fundo do gol de Fábio: 2 a 1. Virada dos pincharratas! Puro delírio na pequena torcida alvirrubra no Mineirão. E êxtase profundo nos jogadores, certos de que a história estava sendo escrita após quase 40 anos. Nos minutos seguintes, frieza absoluta para controlar o jogo. Andújar seguia fazendo uma Libertadores impecável garantindo o resultado lá atrás. Verón, quando tinha a bola, era o Estudiantes em si, encarnado, a continuidade da lenda iniciada por seu pai. Ele não escondia a emoção a cada virada do ponteiro do relógio. E, quando o árbitro encerrou o jogo, La Brujita deixou as lágrimas caírem de vez.

Boselli corre para o abraço: virada!!

 

O rosto sisudo do capitão deu lugar ao emocionado. Verón se igualava ao pai e era campeão da Copa Libertadores. De quebra, entrava para o seletíssimo grupo de pais e filhos campeões da América pelos mesmos clubes, ao lado dos uruguaios Roberto Matosas (pai, campeão em 1960 e 1961) e Gustavo Matosas (filho, campeão em 1987), campeões pelo Peñarol, e Néstor Gonçalves (pai, campeão em 1960, 1961 e 1966) e Jorge Gonçalves (filho, campeão em 1987), campeões também pelo Peñarol.

 

 

O Estudiantes foi campeão com a segunda campanha mais longa da história da Libertadores: 16 jogos, com nove vitórias, quatro empates e três derrotas, além de 21 gols marcados e nove sofridos, um aproveitamento de quase 65%. O clube foi também o primeiro e até hoje único campeão que não levou gols jogando em casa! Além disso, Sabella não perdeu nenhum jogo: em 11 partidas, venceu oito e empatou três, aproveitamento de quase 82%. O atacante Boselli foi o artilheiro do torneio com 8 gols, Verón foi eleito o craque da final, o craque da Libertadores e ainda levou o prêmio de Melhor Futebolista da América do Sul em 2009.

iLa Copa se mira y YO la toco!

 

A festa com a torcida em casa.

 

Na volta para casa, centenas de milhares de torcedores encheram as ruas de La Plata e fizeram uma festa que repercutiu em todo o país. O craque Juan Román Riquelme até comentou ao jornal La Nación (ARG) que “há muito tempo não via uma comemoração como a que fez a torcida do Estudiantes”, e isso com todo o conhecimento de causa que o enganche tinha de seus tempos de Boca! Tetracampeão da América, o Estudiantes já mirava o sonho do final do ano, do outro lado do mundo: o Mundial de Clubes da FIFA.

 

O mundo escapou por entre os dedos

Lionel Messi e Verón. Foto: KARIM SAHIB/AFP/Getty Images.

 

Após a Libertadores, o Estudiantes perdeu algumas peças importantes como o goleiro Andújar, o defensor Schiavi e o atacante La Gata Fernández, mas manteve a base principal e ainda trouxe o experiente lateral-direito Clemente Rodríguez para a disputa do Mundial. Toda essa preparação custou uma boa campanha no Apertura de 2009, com o time de La Plata terminando apenas na 8ª colocação. Em dezembro, já em Abu Dhabi, o Estudiantes encarou o Pohang Steelers, da Coreia do Sul, na semifinal. Com grande atuação de Leandro Benítez, autor de dois gols, os argentinos venceram por 2 a 1 e carimbaram a vaga na final.

Só que o adversário do time era simplesmente o Barcelona de Guardiola, que buscava seu 6º troféu no ano. Favorito, o time catalão dava sinais de que iria passar por cima do esquadrão de Verón. Mas não foi bem assim. O técnico Alejandro Sabella fez uma memorável preleção aos seus jogadores, inflou o lado competitivo e vencedor do grupo e o Estudiantes não deixou o Barcelona aplicar seu futebol demolidor.

Com uma marcação especial sobre Messi e neutralizando Xavi, o Estudiantes foi o dono do primeiro tempo e isso se refletiu no placar: 1 a 0, gol de Boselli, aos 36’, após aproveitar cruzamento de Juan Díaz. O segundo tempo foi angustiante, com o Barça atacando a todo momento e o Estudiantes se segurando. Até que, aos 43’, Pedro, o artilheiro das decisões, apareceu para empatar o jogo e levá-lo para a prorrogação. Nela, quem estava mais sumido no jogo decidiu: Lionel Messi. De peito, o argentino virou para 2 a 1 e deu ao Barcelona seu primeiro título mundial. A tristeza, claro, abateu a todos do Estudiantes. Principalmente o técnico Sabella, que comentou sobre a partida.

 

“Mais que raiva, senti amargura. Se você olhar os 120 minutos, o Barcelona foi um justo ganhador, mas sempre se caracterizou por minimizar seu rival. Nós, sobretudo no primeiro tempo, cortamos seus circuitos e sua habitual superioridade avassaladora não aconteceu. Fizemos uma partida extraordinária e ganhamos o respeito do mundo. Não creio ter visto nos últimos 10 anos uma equipe da categoria do Barcelona. É como uma maré que carrega a bola e vai te arrasando”. – Alejandro Sabella, em entrevista ao El Gráfico (ARG) reproduzida no site Trivela, parceiro do Imortais.

 

Verón, Messi e Xavi, os melhores do Mundial de 2009. Foto: Hassan Ammar / AFP.

 

Verón ganhou a Bola de Prata como segundo melhor jogador do torneio e o Estudiantes foi recebido com muito orgulho por seus torcedores na volta à Argentina. Eles perderam, mas não foram as presas fáceis que todos esperavam.

 

Foco na Argentina

No primeiro semestre de 2010, o Estudiantes teve compromissos pelo Clausura e Copa Libertadores. Na competição nacional, o time brigou desde o início pelo título, mas acabou com o vice-campeonato por apenas um ponto (40) e viu o Argentinos Juniors (41 pontos) ser o campeão. Em grande fase, Boselli foi artilheiro do torneio com 13 gols. Na Liberta, a chance do quinto título era grande e os alvirrubros passaram em primeiro lugar pela fase de grupos com 13 pontos, quatro vitórias, um empate e uma derrota, deixando para trás Alianza Lima-PER, Juan Aurich-PER e Bolívar-BOL. Nas oitavas, a equipe venceu duas vezes o San Luis-MEX (1 a 0, fora, e 3 a 1, em casa) e se classificou. Mas, nas quartas, os pincharratas foram outra vez vítimas do Internacional-BRA, que venceu a ida, no Brasil, por 1 a 0, e marcou um gol aos 43’ do segundo tempo – quando a partida estava 2 a 0 para os argentinos – e se classificou graças ao critério do gol fora mesmo com a derrota por 2 a 1.

Meses depois, veio a decisão da Recopa Sul-Americana contra a LDU, que venceu a ida por 2 a 1, em Quito, e segurou o empate em 0 a 0 na Argentina para ficar com o título. Muitos questionavam se aquele time ficaria apenas com a lembrança de uma Libertadores e sem nenhum troféu extra, nenhum nacional, ainda mais com a saída do artilheiro Boselli, em julho de 2010, ao futebol inglês. Mas foi esse cenário que os pincharratas começaram a reverter no segundo semestre.

O time campeão do Apertura: com três atrás e muita força no meio, Estudiantes praticamente não levou gols e deu show!

 

Com a volta de Fernández ao ataque para suprir a saída de Boselli, Sabella passou a utilizar mais o esquema 3-4-2-1 na disputa do Apertura de 2010, uma tática que dava a todos os jogadores chances de aparecer no ataque e evitava o time depender apenas de um só goleador – isso fez com que 15 jogadores deixassem suas marcas ao longo da campanha. O grande rival dos pincharratas na disputa do título foi o Vélez Sarsfield, mas a equipe de Liniers ficou para trás principalmente após a 9ª rodada. Com uma notável eficiência defensiva e jogos sensacionais da dupla Braña e Enzo Pérez, o Estudiantes tropeçou pouco, venceu os principais adversários (2 a 0 no rival Gimnasia, 2 a 0 no Racing, 1 a 0 no Boca, 1 a 0 no San Lorenzo, 3 a 0 no Lanús, 2 a 1 no Independiente e 3 a 1 no Argentinos Juniors) e levantou mais um título nacional para sua galeria na década.

O time que venceu o Arsenal na última rodada. Em pé: Leandro Desábato, Marcos Rojo, Federico Fernández, Juan Sebastián Verón, Agustín Orión e Germán Ré. Agachados: Rodrigo Braña, Enzo Pérez, Leandro Benítez, Gastón Fernández e Gabriel Mercado.

 

O jogo do título foi na última rodada, na vitória por 2 a 0 sobre o Arsenal de Sarandí, com dois gols de Rodrigo López, resultado que coroou uma campanha impecável dos alvirrubros: 45 pontos, 14 vitórias, três empates, apenas duas derrotas, 32 gols marcados e míseros oito gols sofridos em 19 jogos. Foi a 3ª melhor defesa da história do Campeonato Argentino desde 1991.

 

Veja os gols:

 

 

Verón ergue o troféu do Apertura de 2010. Foto: EFE.

 

Levantar aquele troféu fez justiça ao melhor time da Argentina em 2010. Afinal, somando os pontos conquistados no Clausura e no Apertura, o Estudiantes teve 85 pontos, 15 a mais do que o segundo colocado geral. Ou seja, se fosse em turno e returno, a equipe seria campeã de qualquer maneira.

 

À espera de novas bruxarias

Após 2010, o Estudiantes começou a cair de produção e não repetiu mais as boas campanhas de antes. Alejandro Sabella deixou o comando da equipe para dirigir a Seleção Argentina e mostrou competência ao conduzir a albiceleste ao vice-campeonato na Copa do Mundo de 2014, levando vários de seus pupilos do Estudiantes e usando bastante o método pedagógico de impulsionar seus atletas nos momentos difíceis e elevando a moral do elenco. Verón se aposentou em 2014, e, adivinhe, virou presidente do clube cinco meses após pendurar as chuteiras. Desde então, o ex-craque preside seu clube do coração, mas ainda não conseguiu ver o time campeão como naqueles anos de ouro. Ele busca jogadores capazes de bruxarias. Ou aptos a receber as dicas de quem entende para reconduzir o alvirrubro de La Plata a novos feitos imortais.

 

Os personagens:

Mariano Andújar: vivendo grande fase, o goleiro foi um dos principais nomes do Estudiantes na conquista da Libertadores de 2009, permanecendo oito jogos seguidos sem levar gols e 11 das 16 partidas da campanha sem ir buscar a redonda dentro de sua meta. Muito seguro naquele ano, foi eficiente sempre que exigido. Jogou 141 partidas no alvirrubro de 2006 até 2009 e voltou na temporada 2011-2012. Foi lembrado por Sabella na convocação para a Copa de 2014 e esteve no grupo vice-campeão mundial.

Damián Albil: o goleiro vestiu a camisa do Estudiantes de 2004 até 2010, mas não foi titular absoluto no período por conta da boa fase de Andújar. Com a saída do camisa 1 titular após a Libertadores de 2009, Albil jogou no segundo semestre e foi titular na campanha do Mundial de Clubes. Em 2010, com a contratação de Orión, voltou à reserva e acabou indo para o San Lorenzo.

Agustín Orión: cria do San Lorenzo, o arqueiro assinou contrato com o alvirrubro no final de dezembro de 2009 e assumiu a meta dos pincharratas em 2010, sendo um dos destaques na campanha do título argentino daquele ano. Com bom posicionamento e grandes defesas, Orión foi um dos principais goleiros da Argentina naquele começo de anos 2010 e também foi convocado por Sabella para a Copa de 2014. Deixou La Plata já em 2011 para jogar no Boca, onde foi vice-campeão da Libertadores de 2012. Orión disputou 73 jogos com a camisa do Estudiantes e sofreu apenas 57 gols, além de permanecer 36 jogos sem levar gols.

Marcos Angeleri: cria das categorias de base, Angeleri subiu rapidamente para os profissionais e assumiu a titularidade na lateral-direita já em 2002. Em 2006, foi um dos destaques do time campeão argentino e seguiu firme na equipe até se contundir em 2009 e ficar de fora da reta final da Libertadores e de uma possível transferência para o futebol europeu, pois ele vinha jogando muito bem na época. Deixou a equipe em junho de 2010 para jogar no Sunderland-ING. Foram 254 jogos, quatro gols e 10 assistências com a camisa alvirrubra.

Rolando Schiavi: foi contratado com o único intuito de disputar as quatro partidas finais do Estudiantes na Copa Libertadores de 2009 por conta dos problemas de lesão que acometeram alguns defensores do time na época. E nunca foi tão rápido vencer uma Liberta. Schiavi jogou os quatro jogos, fez uma boa dupla de zaga com Desábato, usou sua experiência de campeão e faturou sua segunda taça na carreira. Após a conquista, retornou ao Newell’s Old Boys.

Clemente Rodríguez: o polivalente e experiente lateral foi um reforço para as partidas decisivas do segundo semestre de 2009 e titular na campanha do Mundial de Clubes. No entanto, acabou deixando o clube já em 2010 para retornar ao Boca.

Gabriel Mercado: após boas temporadas no Racing, o defensor chegou em julho de 2010 para atuar tanto como zagueiro quanto como lateral-direito. Se destacava pelo poder de marcação e ainda por chegar ao ataque para marcar gols e ajudar a construir jogadas ofensivas, sendo muito útil no título nacional de 2010. Ficou até 2012 e foi jogar no River Plate, onde também fez história. Foram 76 jogos e 10 gols pelos pincharratas.

Christian Cellay: foi um dos principais defensores do Estudiantes entre 2008 e 2009, podendo atuar como zagueiro central e também nas duas laterais. Era forte na marcação e raçudo, como manda a cartilha do futebol argentino. Na semifinal da Libertadores de 2009, jogou no sacrifício contra o Nacional-URU. Deixou La Plata em 2010 para jogar no Boca, mas retornou para outro período com os alvirrubros entre 2011 e 2012.

Agustín Alayes: outro revelado pelo Estudiantes, Alayes teve três passagens pelo clube: 1997-2000, 2005-2009 e 2012. Na segunda, foi titular na campanha do título do Apertura de 2006 e da Libertadores de 2009, embora tenha perdido as partidas finais por conta de uma lesão. Foram quase 200 jogos com a camisa do clube na carreira.

Facundo Roncaglia: defensor do Boca, disputou 34 partidas pelo Estudiantes entre 2010 e 2011 atuando por empréstimo. Podia jogar no miolo de zaga e também na lateral. Fez jogos regulares e colaborou para o bom desempenho defensivo do time no título do Apertura de 2010.

Federico Fernández: mais uma cria pincharrata, o zagueiro começou a carreira em 2008, mas foi em 2010 que ele conquistou seu espaço no time titular ao lado de Desábato no miolo de zaga. Foi uma referência nas interceptações aéreas da ótima zaga alvirrubra campeã argentina em 2010. Em 2011, foi jogar no Napoli-ITA. Federico Fernández também foi convocado por Sabella para a Copa de 2014.

Leandro Desábato: revelado pelo time de La Plata, Desábato viveu o auge da carreira no Estudiantes e foi titular em todos os jogos do time na campanha do título da Libertadores de 2009. Eficiente no jogo aéreo, raçudo e cheio de raça, foi um dos mais queridos da torcida naquela época e eleito para o “equipo ideal” da América pelo jornal El País (URU) em 2009. Mais do que isso, não sentiu a ausência de Alayes na reta final da competição e se entendeu muito bem com Schiavi para manter a segurança defensiva da equipe. Contando sua primeira passagem, no início dos anos 2000, o zagueiro disputou 422 jogos e marcou 21 gols pelo clube.

Marcos Rojo: mais um revelado pelo Estudiantes e apto a atuar como lateral-esquerdo e também como zagueiro, Rojo foi um dos principais jogadores do time na temporada de 2010, mostrando enorme categoria e eficiência com apenas 20 anos. Campeão do Apertura, o jovem chamou a atenção do futebol russo e deixou La Plata em 2011. Foi convocado por Sabella para a Copa de 2014 e assumiu a titularidade da albiceleste no Mundial.

German Ré: o defensor chegou em 2009 e assumiu rapidamente a titularidade na lateral-esquerda da equipe com muita força na marcação e apoio ao ataque. Se destacou na campanha do título da Libertadores e também no caneco do Apertura de 2010, atuando também como terceiro zagueiro. Jogou de 2009 até 2014 no Estudiantes, disputando 164 jogos.

Juan Díaz: o lateral uruguaio jogou de 2008 até 2010 no Estudiantes e alternou partidas como titular e outras na reserva. Ajudava na marcação e também ia ao ataque com certa regularidade. Foram 67 jogos e dois gols com a camisa alvirrubra.

Rodrigo Braña: sua primeira passagem por La Plata durou quase 10 anos (2005 até 2013) e foi repleta de glórias e grande carinho da torcida. Marcador implacável e incansável, Braña foi o principal responsável por “liberar” Verón de grandes obrigações defensivas e garantir a eficiência do time no meio de campo com muita regularidade e eficiência. Ele dava imensa sustentação ao setor cobrindo os dois lados, se posicionando bem e demonstrando ótima visão de jogo, antecipação e muita raça. Foram 334 jogos e nove gols pelos pincharratas na carreira.

Diego Galván: o argentino podia atuar como segundo atacante, ponta pela direita e também mais recuado, quase como meia. Chegou em 2005 por empréstimo e ajudou a equipe na conquista do Apertura de 2006. Voltou ao River e retornou em 2007 para permanecer até 2009 – nesse segundo período, porém, perdeu o posto de titular absoluto. Foram 109 jogos e 11 gols pelo Estudiantes.

Juan Sebastián Verón: La Brujita é simplesmente uma lenda do Estudiantes e tido como maior ídolo da história do clube. O craque chegou em 2006 como um verdadeiro Messias a La Plata e reconduziu o alvirrubro ao caminho das glórias, exibindo o futebol vistoso, cheio de raça e técnica que consagrou o jogador em seus tempos de Parma e Lazio. Em cada jogo, Verón era a encarnação do clube em si, corria o campo todo, freava, acelerava, cadenciava, punha fogo. Foi o gladiador que deu o Apertura de 2006, o Apertura de 2010, e, principalmente, a Libertadores de 2009 ao Estudiantes. Em um Mineirão lotado, soube conter os ânimos de seus companheiros e encontrar brechas na marcação rival para o gol de empate e o da virada. Se aposentou no pincharrata e virou presidente. Uma verdadeira história de amor. Somando todas as suas passagens pelo clube, Verón disputou 279 jogos e marcou 33 gols.

Enzo Pérez: após várias temporadas jogando pelo Godoy Cruz, Enzo Pérez foi contratado em 2007 e entrou de vez no time titular com sua versatilidade, entrega, qualidade nos passes e eficiência na marcação, além de ajudar na construção de jogadas de ataque por atuar mais aberto na época, enquanto Verón e Braña jogavam mais pelo meio. Pérez ficou até 2011 no clube e foi um dos principais nomes nas conquistas da Libertadores de 2009 e do Apertura de 2010. Foi jogar no Benfica-POR após seu período em La Plata, passou brevemente pelo Valencia-ESP e retornou à Argentina em 2017 para brilhar pelo River Plate de Gallardo. Foram 177 jogos, 18 gols e 23 assistências com a camisa do Estudiantes. Foi convocado por Sabella para a Copa do Mundo de 2014.

Matías Sánchez: outro meio-campista de qualidade daquele plantel, Sánchez chegou em 2008 e permaneceu até 2013 no Estudiantes, sendo uma peça alternativa do técnico Sabella para vários jogos. Tinha funções de marcação e não aparecia tanto no ataque. Disputou 124 jogos e marcou dois gols pelos pincharratas.

Leandro Benítez: enquanto Enzo Pérez atuava mais aberto pelo lado direito, Benítez era o dono do setor esquerdo do meio de campo e aparecia também pelo meio. Outra cria das bases, Benítez era muito técnico e tinha plena visão de jogo, sendo um grande articulador da equipe naquele período de ouro e arma letal para ações de ataque. Ele dava passes, lançamentos, tabelava, desarmava e marcava gols decisivos. El Chino jogou de 2006 até 2013 no Estudiantes, além de passagens entre 2000 e 2002 e 2004/2005.

Gastón Fernández: atacante muito perigoso, fez uma dupla memorável com Boselli na Libertadores de 2009 e cresceu bastante na reta final do torneio. Com sua movimentação e jogando alinhado à defesa rival, La Gata abria espaços e dava oportunidades para o companheiro marcar gols, isso quando ele mesmo não deixava os seus, como na decisão contra o Cruzeiro. Teve várias passagens pelo clube ao longo dos anos e somou 227 jogos e 47 gols com a camisa alvirrubra.

Juan Salgueiro: o atacante uruguaio jogou de 2007 até 2009 no Estudiantes e teve mais chances no ano de 2008, fazendo dupla de ataque com Boselli. Com a chegada de Gastón Fernández, perdeu o posto de titular. Disputou 92 jogos e marcou 10 gols com a camisa alvirrubra.

José Luis Calderón: um dos mais icônicos atacantes do Estudiantes nos anos 1990, jogou junto com Verón no começo da carreira de La Brujita e retornou ao clube alvirrubro em 2006 para ser campeão do Apertura justamente ao lado do ídolo pincharrata. Carrasco do Gimnasia, deu show naquele histórico 7 a 0. Retornou ao clube em 2008 com 37 anos e entrou apenas em alguns jogos devido a concorrência com Boselli, Salgueiro e Gastón Fernández. Contando todas as suas passagens pelo clube, Calderón disputou 177 jogos e marcou 56 gols, além de ter sido artilheiro do Apertura de 1995 (13 gols) e da Libertadores de 2006 (5 gols) pelos pincharratas.

Mauro Boselli: simplesmente decisivo e fundamental para a conquista da Libertadores, o atacante marcou três gols nos 4 a 0 sobre o Deportivo Quito, na fase de grupos, fez dois no Libertad, nas oitavas, mais dois no Nacional, nas semis, e o gol do título na decisão contra o Cruzeiro. Matador, se colocava bem na área e aproveitava as oportunidades criadas pelos companheiros para estufar as redes dos rivais. Viveu a melhor fase da carreira exatamente naqueles anos de ouro pelo Estudiantes. Boselli foi o artilheiro da Libertadores de 2009 com oito gols e artilheiro do Clausura de 2010 com 13 gols. Foram 124 jogos e 60 gols com a camisa alvirrubra. Teve destaque, também, no futebol mexicano, vestindo a camisa do León, pelo qual marcou 130 gols em 221 jogos.

Rodrigo López: o atacante uruguaio chegou com um currículo cheio de gols após boas passagens por Libertad-PAR, Olimpia-PAR e América-MEX. No entanto, ele não rendeu o tanto que se esperava, mas conseguiu deixar sua marca na campanha do título argentino do Apertura de 2010: marcou os dois gols da vitória por 2 a 0 sobre o Arsenal na rodada final. Ele anotou quatro gols nos sete jogos que disputou naquele torneio. Foram 26 jogos e 10 gols pelos alvirrubros entre 2010 e 2011.

Roberto Sensini, Leonardo Astrada e Alejandro Sabella (Técnicos): Sensini e Astrada pegaram a base montada por Diego Simeone e bateram na trave quando tentaram conquistar um título. Mas foi Alejandro Sabella o grande responsável por transformar de vez aquele Estudiantes em um esquadrão vencedor. Com um forte esquema de jogo que priorizava a marcação do meio de campo e redução de espaços para criação de jogadas do adversário, além de muita conversa e união, o técnico fez a identidade copeira do clube voltar e levantou dois títulos emblemáticos. Quase venceu um Mundial de Clubes diante do maior esquadrão deste século e virou um dos mais queridos técnicos dos pincharratas em todos os tempos. Entre 2009 e 2011, Sabella comandou o Estudiantes em 97 jogos, venceu 58, empatou 21, perdeu 18, acumulou 152 gols marcados e 69 sofridos, um impressionante aproveitamento de 67,1%. Seu trabalho nos alvirrubros foi tão marcante que ele assumiu a Argentina e conduziu a albiceleste ao vice-campeonato na Copa de 2014.

Com a saúde debilitada desde 2015 após ser diagnosticado com uma doença cardíaca, Alejandro Sabella faleceu em 08 de dezembro de 2020, aos 66 anos, após contrair uma infecção hospitalar em uma clínica especializada na área cardiovascular. Seu legado, porém, é eterno, e se encontra para sempre na galeria de troféus dos pincharratas em La Plata: a Copa Libertadores de 2009 e o Apertura de 2010.

 

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6 Comentários

  1. Otimo artigo

    Sou cruzeirense e tenho em parte otimas lembraças desse time do Estudiantes o que poderia ter ajudado nosso time seria a entrada do Sorin desafeto de Veron, se Adilson Batista não fosse uma mula teimosa nosso Juampi poderia ter mudado o jogo, o Cruzeiro era superior e perdeu pela falta de malicia.

  2. De novo, um belo texto do site e um esquadrão que o Imortais estava precisando colocar já faz um tempo! Esse Estudiantes fez história em 2009: ganhou a Libertadores com estilo causando um Mineiraço (bem menos cruel que o de 2014) e, no Mundial de Clubes, o time jogou com muita vontade contra aquele fantástico Barcelona e, por pouco, não venceu no tempo normal. Tem noção do que é isso? Um jogador que merece aplausos é Juan Sebástian Verón, um craque que mostrou ser a alma do time alvirrubro em cada momento dessa saga. E que, na minha opinião, o Imortais deveria colocar na galeria dos craques imortais do site.

    A única tristeza nesse texto foi a respeito do falecimento de Alejandro Sabella. Foi muito competente ao levar o time à conquista da Libertadores de 2009 e do Argentino de 2010 (Apertura). Que Alejandro descanse em paz, assim como Paolo Rossi e Maradona. E todos que perderam o jogo para a COVID-19 (que ano difícil!)

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