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Craque Imortal – Okocha

Nascimento: 14 de Agosto de 1973, em Enugu, Nigéria. 

Posição: Meia

Clubes: Borussia Neunkirchen-ALE (1990-1992), Eintracht Frankfurt-ALE (1992-1996), Fenerbahçe-TUR (1996-1998), Paris Saint-Germain-FRA (1998-2002), Bolton Wanderers-ING (2002-2006), Qatar SC-QAT (2006-2007) e Hull City-ING (2007-2008).

Principais títulos por clubes: 2 Copas Saarland (1990 e 1992) e 1 Oberliga Südwest (1991) pelo Borussia Neunkirchen.

1 Prime Minister’s Cup (1998) e 1 Atatürk Cup (1998) pelo Fenerbahçe.

1 Supercopa da França (1998) e 1 Copa Intertoto (2001) pelo PSG.

 

Principais títulos por seleção: 1 Medalha de Ouro Olímpico (Atlanta 1996), 1 Copa Africana de Nações (1994) e 1 Copa das Nações Afro-Asiáticas (1995) pela Nigéria.

 

Principais títulos individuais:

Vencedor do prêmio “Gol do Ano” do futebol alemão: 1993

Futebolista Nigeriano do Ano: 1995, 1997, 2000, 2002, 2003, 2004 e 2005

2º Melhor Jogador Africano do Ano: 1998

Futebolista Africano do Ano pela BBC: 2003 e 2004

Jogador do Mês na Premier League: Novembro de 2003

Chuteira de Ouro da Copa Africana de Nações: 2004 (4 gols)

Melhor Jogador da Copa Africana de Nações: 2004

Jogador da Temporada do Bolton: 2004-2005

Autor do gol de número 1000 da história da Copa Africana de Nações: 2004

FIFA 100: 2004

 

“Mr. Jay-Jay”

Por Guilherme Diniz

 

Carretilha. Chapéu. Caneta. Pedaladas. ‘Vai pra lá que eu vou pra cá’. Elásticos. Toques de calcanhar. Matadas no peito. Golaços de média e longa distâncias. Cobranças de faltas precisas. Fintas exuberantes. Todo esse repertório é cada vez mais raro no futebol. Poucos têm o talento e a coragem de praticá-los. Mas tudo isso foi visto durante anos e anos em um só jogador. Um atleta que trouxe magia em um campeonato tido como chato. Depois, lá foi ele driblar e encantar nos gramados da terra da Rainha. Pela seleção, não deixou por menos e foi um dos atletas dourados no Ouro Olímpico de 1996. Ele pode não ter sido o melhor jogador africano de todos os tempos, mas certamente foi o mais habilidoso. O que mais soube tratar bem a bola. O que mais fez coisas impensáveis. Que sabia escapar de um marcador da maneira mais imprevisível possível. No mais curto espaço. Os gramados se transformavam em quadras de futsal.

Se lhe davam centímetros, ele saía dali como se fossem metros. E se lhe davam metros, ah, ele pintava e bordava sem dó. Augustine Azuka Okocha, mais conhecido como Jay-Jay Okocha, foi um dos mais brilhantes craques dos anos 1990 e 2000, ícone da seleção da Nigéria de 1994-1998 e ídolo por onde passou. Incontáveis foram as vítimas do craque, que aplicava seus dribles em qualquer um, seja zagueiro tarimbado ou goleiro temido (Oliver Kahn que o diga…). E memoráveis foram seus shows. É hora de relembrar a carreira desse virtuose da bola.

 

Início alemão

Nascido em Enugu, na parte sul da Nigéria, Okocha vinha de uma família apaixonada por futebol e se inspirou nos irmãos James e Emmanuel para seguir no esporte. O apelido Jay-Jay foi herdado do irmão mais velho James, e Augustine Jay-Jay começou a ficar conhecido pelo futebol praticado nas ruas de Enugu e pela habilidade com a bola nos pés – seja ela de pano, papel ou o que tivesse no caminho. Rápido e com uma capacidade impressionante para driblar e escapar dos adversários, Okocha iniciou sua carreira no Enugu Rangers, onde disputou vários jogos pelas categorias de base do clube e começou a mostrar seu talento para atuar como meia armador e também atacante, daqueles que abriam espaços na defesa para municiar os centroavantes ou ele mesmo marcar gols. 

Em 1990, durante uma visita à Alemanha, Okocha assistiu à algumas partidas do campeonato alemão e conversou com seu amigo Binebi Numa, que jogava pelo Borussia Neunkirchen, da terceira divisão. Papo vai papo vem, Numa convidou Okocha para ir até uma sessão de treinamentos do clube, e, quando entrou em campo e demonstrou o que sabia fazer, deixou estupefato o técnico do time, que o convidou para o treinamento do dia seguinte e posteriormente conseguiu junto à diretoria assinar um contrato com o nigeriano. Okocha ficou até 1992, foi jogar no FC Saarbrücken por alguns meses até encantar o técnico do Eintracht Frankfurt na época, Dragoslav Stepanović, que levou o nigeriano aos Águias em 1992. Enfim na elite, Okocha teria a chance de conquistar a visibilidade que tanto merecia (e precisava) no futebol.

 

 

Entortando Kahn

Okocha prepara o corte…

 

… E deixa Kahn no chão. Era só o começo de um gol lendário!

 

Perto de completar 20 anos, Okocha chegou a um Eintracht competitivo e que tinha no atacante ganês Tony Yeboah a referência no setor ofensivo – ele foi o artilheiro do time na Bundesliga com 20 gols e anotou 30 no geral na temporada 1992-1993. Os Águias brigaram pelo título alemão com Bayern e Werder Bremen, mas acabaram na terceira colocação. Okocha disputou 26 partidas e marcou três gols na temporada, mas foi em 1993-1994 que o craque ganhou de vez as manchetes do país. 

Em uma partida contra o Karlsruher SC, no dia 31 de agosto de 1993, o nigeriano marcou o gol mais bonito da Bundesliga do ano e talvez o mais bonito da carreira. Em contra-ataque do Frankfurt aos 42’ do segundo tempo, Okocha recebeu dentro da área uma bola na fogueira e viu à sua frente ninguém mais ninguém menos que Oliver Kahn, lendário goleiro alemão que já despontava como grande promessa do futebol do país na época.

Sem ângulo para chutar, Okocha gingou pra cima de Kahn, ganhou espaço e levou a bola para a direita. Num corte seco, o nigeriano deixou o goleirão sem rumo. Na sequência, ele ainda gingou na frente do zagueiro, de outro, de outro, olhou para o gol e disparou o chute no cantinho, sem chance alguma de defesa: 3 a 1 para o Eintracht. Um golaço que o narrador da época disse que iria “repetir 100 vezes o lance” de tão bonito. Okocha tirou a camisa, foi para a torcida e comemorou com a tradicional dancinha.

Veja o golaço:

Estava mais do que comprovado que ele não era um jogador comum. Com uma habilidade rara, levava beleza a um campeonato sempre caracterizado por times metódicos, táticos e por vezes burocráticos. Ver o nigeriano em campo era certeza de show. Ele anotou outros três gols naquela temporada e virou ídolo da torcida por sua irreverência e talento. O golaço de Okocha naquele ano ficou marcado para sempre na memória de vários torcedores e jovens, entre eles Mario Gómez, que contou sua história sobre o dia em que viu o gol de Okocha.

“Eu não gostava de assistir ao futebol na TV. Era sempre chato para mim. Por que se sentar na frente da tela, quando você pode sair de casa e jogar de verdade? “Papai, vamos lá fora!”, eu dizia, puxando seu braço. “Vamos jogar!”. Uma noite, quando eu tinha sete ou oito anos, ao invés de me mandar sair, ele me fez sentar ao seu lado.

“Eu quero que você veja isso, Mario. Só assista”

“Não! Isso é chato”

Meu pai apontou para a televisão: “Veja! Olha lá! Agora!”.

Quando eu olhei, vi um jogador do Eintracht Frankfurt na tela. Ele driblou o goleiro, e então um defensor, e depois outro defensor (apenas brincando com eles) até mandar a bola com facilidade para as redes.

“Uau!”, eu disse. “O que ele fez?”

“Viu? Ele é o Jay-Jay Okocha. Não há ninguém como ele”

Desse momento em diante, eu sonhei em jogar como Jay-Jay. Ele era o meu ídolo. Ele movia a bola como um artista. Ele fez coisas com a bola que eu não podia nem mesmo imaginar. Depois de ver aquele drible e aquele gol, eu via o show da rodada com meu pai a cada domingo. Eu também comecei a ver os jogos com ele”. – Mario Gómez, em coluna assinada por ele no The Player’s Tribune e reproduzida no site Trivela em 19 de janeiro de 2017.

 

Os primeiros louros com a seleção

Okocha ganhou espaço na seleção nigeriana pela primeira vez em 1993, nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994. Seu primeiro gol pela equipe saiu contra a Argélia, em casa, na goleada por 4 a 1 dos Águias (que teve ainda dois gols de Yekini e um de Amokachi). Foi um gol de falta, outra especialidade do meia, que chutava bem de curta e média distâncias, ora colocado, ora com força. Com grandes jogadores, a Nigéria conseguiu a vaga inédita para o Mundial após o empate fora de casa contra os argelinos por 1 a 1. Antes da Copa, o time faturou a Copa Africana de Nações após derrotar Zâmbia na final, de virada, por 2 a 1, com dois gols de Amuneke – em jogo que teve a presença de Pelé como convidado ilustre. Okocha foi um dos principais nomes da campanha nigeriana e eleito um dos melhores jogadores da competição. 

Embalados, os nigerianos foram para os EUA e fizeram bonito ao terminarem na primeira colocação do Grupo D, à frente da poderosa Argentina, da Bulgária de Stoichkov e da Grécia. Os africanos venceram os gregos por 2 a 0, bateram os búlgaros por 3 a 0 e só perderam para os argentinos (2 a 1). Okocha não foi titular e entrou no decorrer dos duelos contra Argentina e Grécia, mas retornou ao time principal no mata-mata, quando a Nigéria acabou eliminada pela Itália de Roberto Baggio por 2 a 1 na prorrogação. Apesar da queda, a Copa serviu como preparação para o outro objetivo do time: as Olimpíadas de 1996.

 

Águias dourados

Na primeira fase das Olimpíadas, os nigerianos encararam Brasil, Hungria e Japão pelo Grupo D. Na estreia, Kanu marcou o único gol da vitória africana sobre os húngaros. Em seguida, vitória por 2 a 0 sobre os japoneses (gols de Babangida e Okocha), resultado que colocou a equipe na fase de mata-mata. O último adversário foi o forte Brasil de Dida, Zé Maria, Aldair, Roberto Carlos, Flávio Conceição, Bebeto, Juninho Paulista, Rivaldo e Ronaldo. Os brasileiros venceram por 1 a 0, mas o técnico Bonfrere pôde ver bem quais eram os pontos fracos daquele time e como explorá-los em um possível reencontro na segunda fase. A zaga brasileira não inspirava confiança e suou para neutralizar as rápidas investidas dos atacantes nigerianos. Além disso, o esquema com quatro homens alinhados no meio e mais dois à frente davam um poder de fogo maior ao time africano, que poderia aproveitar a fraca marcação brasileira no setor se um novo jogo acontecesse.

Nas quartas de final, Okocha e Babayaro marcaram os gols da vitória por 2 a 0 sobre o México, resultado que colocou a equipe na semifinal. O gol de Jay-Jay foi um golaço, no qual ele recebeu na entrada da área e bateu firme, sem chance alguma para o goleiro. O ouro era um sonho possível. Mas será que os nigerianos teriam forças para derrotar o Brasil na semifinal? Foi isso que as mais de 78 mil pessoas testemunharam no estádio Sanford, em Athens, Geórgia. O Brasil abriu 3 a 1 no primeiro tempo e dava mostras de que iria golear. Na segunda etapa, o time canarinho continuou jogando melhor, mas perdendo várias chances.

Tempo depois, Okocha ainda bateu um pênalti defendido por Dida. Tudo parecia conspirar a favor dos sul-americanos. Mas, a partir dos 33 minutos, tudo mudou. Com muita vontade, garra, determinação e totalmente ofensiva, a Nigéria foi premiada com um lindo gol de Ikpeba, nascido de um rápido contra-ataque. Era o que os africanos precisavam para incendiar a partida. Aos 44’, lateral cobrado para a área brasileira, a zaga bateu cabeça, Dida bobeou, e Kanu aproveitou para empurrar a bola para dentro, empatar em 3 a 3 e levar o jogo para a prorrogação.

Okocha e Kanu, grandes nomes da Nigéria de 1996.

 

Com apenas quatro minutos do tempo extra (que tinha morte súbita na época), a Nigéria mostrou sua qualidade, sangue frio e precisão num ataque de três toques: bola alçada em velocidade, toque sem querer de costas do atacante e sobra para Kanu, que cortou lindamente o defensor brasileiro e chutou forte, sem chances para Dida. Golaço. E virada nigeriana: 4 a 3. Fim de jogo. A Nigéria estava na final olímpica.

Okocha na decisão contra a Argentina.

 

Mesmo com a vitória épica sobre o Brasil na semifinal, a Nigéria entrou em campo naquele dia 3 de agosto de 1996, no estádio Sanford tomado por mais de 86 mil pessoas, como zebra. Afinal, do outro lado estava a seleção da Argentina, comandada por Daniel Passarella e recheada de craques do calibre de Ayala, Zanetti, Almeyda, Sensini, Claudio López, Crespo, Ortega, Simeone e Gallardo. Um timaço que já era tido como campeão olímpico muito antes de entrar em campo. 

O favoritismo só aumentou quando López, aos 3´, abriu o placar para a Argentina. No entanto, a Nigéria mostrou poder de reação ao empatar com Babayaro, de cabeça, aos 28´. No segundo tempo, Crespo, de pênalti, fez o segundo da Argentina, mas Amokachi empatou de novo aos 29´. O jogo seguiu com chances para as duas equipes, mas o gol teimava em não sair. Quando todos achavam que a prorrogação iria aparecer novamente, uma falha grotesca da zaga argentina “deu” de presente o gol da virada da Nigéria. Aos 45´, Oruma cobrou uma falta para a área que deveria ser rebatida pela zaga portenha. No entanto, a linha de impedimento feita pelos argentinos saiu da área no tempo errado e deu condições para pelo menos quatro jogadores nigerianos, totalmente livres, marcarem o gol. Coube a Amuneke empurrar a bola para dentro: Nigéria 3×2 Argentina.

Os nigerianos campeões olímpicos. Okocha é o quarto, olhando da esquerda para a direita, na fileira de cima. Foto: PASCAL GEORGE/AFP/Getty Images.

 

A vitória deu o inédito Ouro Olímpico aos nigerianos e colocou Okocha de vez entre os principais jogadores da história do futebol do país. Ele foi uma das engrenagens de um time que tinha um coletivo muito forte e um poder ofensivo sensacional. Jay-Jay nunca quis o protagonismo para si e fazia de tudo para ajudar o time com seus passes, dribles e jogadas de efeito, além de ter anotado dois gols na campanha dos Águias Dourados.

 

Copa e novos ares

Em 1998, Okocha e sua Nigéria eram tidos como principais candidatos a uma boa campanha na Copa do Mundo da França. Era talvez a seleção africana que mais poderia ir longe em um Mundial desde Camarões, em 1990. No entanto, após uma ótima estreia contra a Espanha – vitória por 3 a 2 -, os nigerianos não demonstraram o mesmo poder de fogo de 1996 e foram eliminados nas oitavas de final para a Dinamarca, que goleou os africanos por 4 a 1. Mesmo com a queda, Okocha foi um dos destaques do time e tido pela FIFA como um dos principais jogadores do Mundial. Naquele ano, ele ficou em segundo lugar na votação da CAF do Melhor Jogador Africano de 1998, atrás do marroquino Mustapha Hadji.

Titular absoluto na seleção e até capitão em vários jogos (após o ano 2000), Okocha passou por mudanças em sua carreira de clubes. O craque deixou o Eintracht após a queda do time alemão para a segunda divisão e foi jogar no Fenerbahçe, já no verão de 1996, por quase quatro milhões de euros. Por lá, ele adquiriu cidadania turca e até um “novo” nome (Muhammet Yavuz). O nigeriano virou ídolo da torcida e marcou 30 gols em 62 partidas, a maioria deles em cobranças de faltas, uma de suas especialidades.

Mas o jogador ficou só até 1998 na equipe turca, pois o PSG gastou a bagatela de 13 milhões de euros para comprar o nigeriano, transação recorde por um jogador africano na época. Em Paris, Okocha era a esperança do torcedor para que o time voltasse aos tempos de glórias vividos no começo dos anos 1990 com George Weah, Raí, Ginola e companhia. Ele jogou bem como sempre, encantou os parisienses com sua arte e talento, mas sozinho não conseguiu levar o PSG à rota dos títulos. Um dos momentos mais notáveis da passagem do nigeriano por lá foi a parceria dele com um novato Ronaldinho, que acabou virando um grande amigo do craque por lá.

“Eu tive um grande período no PSG e o Ronaldinho foi como um irmão mais novo. Eu percebi que ele era muito talentoso e precisava de alguém para guiá-lo. E eu fiquei muito orgulhoso de ele se transformar em um jogador de alto nível”, disse o jogador, em 2012, sobre o brasileiro.

Okocha e Ronaldinho: pena que jogaram tão pouco juntos…

 

Em 84 jogos, Okocha marcou 12 gols pelo PSG e despertou o interesse de Sam Allardyce, treinador do Bolton, que queria levar o nigeriano para a Inglaterra na janela de 2002-2003. E o treinador conseguiu um dos melhores negócios do futebol na época, afinal, Okocha veio sem custo algum, pois seu contrato havia terminado exatamente em 2002.

“Eu agendei um encontro com ele no Aeroporto Charles de Gaulle. Jay-Jay parou do lado de fora do terminal, sozinho, sem agente, sem ninguém. Mas ele sabia que valia a pena. ‘ Eu quero vir para o Bolton’, ele disse. Eu pensei que levaria semanas para selarmos o acordo, mas nós fizemos o negócio no aeroporto… E ele prometeu que me seguiria no próximo dia para completar a papelada. Ele realmente apareceria? Sim. Ele dirigiu de Paris até Bolton, estacionou, saiu, foi até Reebok e assinou o contrato.”Sam Allardyce, em trecho de sua autobiografia reproduzido na Four Four Two (UK), 10 de julho de 2019.

E, a partir daquele ano, o futebol inglês ganharia um vertiginoso aporte artístico nas manhãs de Premier League…

 

They named him twice!

A chegada de Okocha ao Bolton mudou completamente a história do clube naquela época. Jogando ao lado de Djorkaeff, francês campeão do mundo com a França em 1998, do defensor N’Gotty e do meio-campista Iván Campo, ele passou a mudar a maneira de jogar do Bolton. Com seu talento e truques, se transformou em um dos jogadores mais temidos da Premier League e foi logo em sua primeira temporada o artilheiro do time com sete gols – isso mesmo com o Bolton terminando na 17ª posição.

Na temporada seguinte, foi crucial para o salto do time a um grande 8º lugar no campeonato nacional e ainda à final da Copa da Liga Inglesa – a primeira final do clube depois de nove anos -, com direito a vitória por 3 a 2 sobre o Liverpool, nas oitavas de final, com um dos gols anotados pelo craque nigeriano cobrando falta, e mais dois gols de Okocha (ambos de falta!) na goleada de 5 a 2 sobre o Aston Villa, na semifinal. Na decisão, o Bolton acabou perdendo para o Middlesbrough dos brasileiros Juninho Paulista e Doriva, do holandês Zenden, do zagueiro Southgate e do meia Mendieta por 2 a 1.

Youri Djorkaeff e Jay-Jay Okocha, em ação pelo Bolton.

 

Okocha virou capitão do Bolton naquela temporada e ganhou os prêmios da BBC de Melhor Jogador Africano do Ano em 2003 e 2004. Em abril de 2003, ele ainda foi o vencedor do gol mais bonito do mês na Premier League, ao receber uma bola antes do meio de campo, partir em direção ao ataque e marcar um golaço que garantiu a vitória do Bolton sobre o West Ham por 1 a 0. 

Veja a pintura:

Okocha ganhou tanto a idolatria da torcida que ela até criou um cântico para o craque: “Jay-Jay – So good they named him twice!” (algo como ‘Jay-Jay, tão bom que eles o nomearam / chamaram duas vezes’). Em 2002, Okocha foi capitão da Nigéria na Copa do Mundo da Coreia do Sul e Japão, mas sua equipe deu azar, caiu no “Grupo da Morte” ao lado de Argentina, Suécia e Inglaterra e foi eliminada já na primeira fase com duas derrotas e um empate. Foi o último Mundial da carreira do craque, que nunca conseguiu balançar as redes no torneio.

 

Rei do continente

Em 2004, Okocha foi o grande nome da Nigéria na Copa Africana de Nações. Com o faro de goleador apurado, ele balançou as redes quatro vezes e ganhou a Chuteira de Ouro e o prêmio de melhor jogador da competição – mesmo com a Nigéria terminando na 3ª posição. Quatro anos antes, ele já havia brilhado no torneio ao anotar três gols, dois deles na estreia da Nigéria contra a Tunísia – vitória por 4 a 2 -, ocasião em que Jay-Jay foi ovacionado por mais de 60 mil pessoas ao ser substituído no estádio Nacional de Lagos, em sua querida Nigéria.

Ainda em 2004, Okocha foi um dos 125 jogadores escolhidos por Pelé na lista do FIFA 100, feita pelo Rei do Futebol com os melhores jogadores da história ainda vivos na época, em alusão ao centenário da entidade máxima do futebol. Okocha foi o único nigeriano da lista e um dos poucos africanos lembrados, ao lado de George Weah (Libéria), Abedi Pelé (Gana), Roger Milla (Camarões) e El-Hadji Diouf (Senegal). Okocha jogaria pela seleção até 2006. Ele disputou 73 jogos e marcou 14 gols pelos Águias.

 

Últimos anos e aposentadoria

Na temporada 2004-2005, o Bolton foi ainda mais longe na Premier League e alcançou a 6ª posição, conquistando uma vaga na Copa da UEFA. No entanto, após receber várias propostas do Oriente Médio e não se entender mais com a diretoria, Okocha deixou o clube inglês em 2006 para jogar no Qatar SC, pelo qual ficou apenas uma temporada. Em 2007, o nigeriano voltou à Inglaterra para defender o Hull City, mas as lesões e sua má forma física prejudicaram seu desempenho. Em 2008, aos 35 anos, Okocha anunciou sua aposentadoria definitiva do futebol.

Desde então, o craque aparece vez ou outra em eventos esportivos e jogos beneficentes. Após pendurar as chuteiras, Jay-Jay ganhou uma homenagem em Ogwashi-Uku, onde o estádio da cidade foi renomeado como Jay-Jay Okocha Stadium. Uma grande dedicatória a um dos mais famosos jogadores africanos de todos os tempos, com habilidade rara e capaz de fazer coisas que muitas estrelas do futebol deste século XXI não fazem nem em sonho. Um craque imortal.

 

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