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Esquadrão Imortal – Portuguesa 1996

 

Grande feito: Vice-campeã do Campeonato Brasileiro de 1996. Conquistou a melhor colocação da história da Portuguesa em uma competição nacional.

Time-base: Clemer; Valmir (Zé Maria), Émerson, César (Marcelo Miguel) e Zé Roberto; Capitão, Gallo, Caio (Tininho) e Zinho (Roque / Carlos Roberto); Alex Alves (Flávio / Tico) e Rodrigo Fabri. Técnicos: Valdir Espinosa e Candinho.

 

“A Lusa que (quase) conquistou o Brasil”

Por Guilherme Diniz

Seis minutos. E possivelmente uns acréscimos. Era esse o tempo que faltava para a Associação Portuguesa de Desportos ser campeã brasileira pela primeira vez em sua história naquele 15 de dezembro de 1996. A equipe paulista estava perto de um feito enorme, histórico. Contra todos os prognósticos, se segurava como podia num estádio Olímpico com mais de 50 mil pessoas e contra um time que no ano anterior havia sido campeão da Copa Libertadores. A Lusa contava cada segundo. No Canindé, corintianos, palmeirenses, são-paulinos e santistas se uniam por uma causa. A de torcer por aquele time que jamais era tido como força ou favorito a alguma coisa. Ainda mais no Campeonato Brasileiro, à época disputado em dificílimos mata-matas que não perdoavam vacilos. O título significaria um novo patamar para a Lusa, uma vaga na Copa Libertadores de 1997, maior visibilidade, sondagem de novos patrocinadores e, por que não, o sonho de deixar de ser apenas um clube tradicional de SP para se tornar uma potência nacional. Tudo isso passava pela cabeça dos jogadores, da torcida, dos simpatizantes. Mas, aos 39 minutos daquele segundo tempo, o Grêmio encontrou o segundo gol. O 2 a 0 para o dono da casa dava o título ao Tricolor por causa da melhor campanha na primeira fase. E o tempo que antes passava arrastado para a Lusa simplesmente voou. E acabou. Ao apito do árbitro, a chance de ouro daquele clube ruiu.

As parcerias que seriam firmadas não saíram do papel. Os reforços possíveis nem sequer apareceram. E as estrelas do time como Zé Roberto, Rodrigo Fabri, Caio, Gallo, Clemer e companhia deram adeus. Nunca mais a Portuguesa conseguiu chegar tão perto do céu. Mas a proeza de alcançar uma final como aquela foi algo enorme, um dos maiores momentos de toda a história do clube e que sensibilizou as mais diversas torcidas. Para elas, foi tocante ver um clube como a Lusa em uma final nacional. Foi incrível vê-la eliminar os gigantes Cruzeiro e Atlético-MG mesmo decidindo fora de casa e contra milhares e milhares de torcedores contra. Ficou o gosto do quase título após aquela vitória por 2 a 0 sobre o Grêmio no primeiro jogo da final. Mas a taça teimou em não vir. O vice foi amargo, mas a história por trás dele, impressionante. É hora de relembrar.

 

Prenúncio de bons ares

 

Após viver seus melhores anos na década de 50 com um esquadrão memorável (leia mais clicando aqui) e flertar com títulos nos anos 70 e 80, a Portuguesa almejava uma mudança de ares em 1995. Inspirada pela parceria que rendia títulos (e dinheiro) da Parmalat com o Palmeiras, a equipe tentou algo semelhante ao se unir ao Frigorífico Chapecó, de Santa Catarina, que iria patrocinar o clube até 1996 com injeção de capital em todas as categorias do clube e departamento de futebol. O caminho natural da empresa seria patrocinar o time da cidade, a Chapecoense, mas à época a equipe alviverde ainda não tinha a abrangência adquirida nos anos 2010. No Campeonato Paulista, primeiro desafio daquele time, a estreia com vitória por 2 a 1 sobre o poderoso Palmeiras foi um prenúncio dos bons momentos que viriam pela frente.

Com um time equilibrado e jovens promissores como Zé Maria, Zé Roberto e Rodrigo Fabri, além de jogadores como Caio, Gilmar, Tiba, Leto, o volante Capitão e o atacante Paulinho McLaren – que terminou como artilheiro do campeonato com 20 gols – a Lusa foi líder da primeira fase com 58 pontos, 16 vitórias, 10 empates, quatro derrotas, 47 gols marcados e 29 sofridos em 30 jogos, uma de suas melhores campanhas em anos no torneio. Na fase final, porém, o time terminou seis pontos atrás do Corinthians no Grupo 2. O Timão foi para a final e acabou campeão. O curioso é que, na classificação final, a Lusa teve mais pontos que o próprio campeão – 68 contra 58.

Zé Roberto: craque começou na Lusa.

 

Zé Maria, lateral da Lusa em 1995 e começo de 1996. Foto: Gazeta Press.

 

A boa performance no estadual, porém, não se repetiu no Brasileiro. Alternando ótimos jogos com outros desastrosos, o time terminou apenas na 10ª colocação com nove vitórias, oito empates e seis derrotas em 23 partidas, longe de uma vaga na fase de mata-mata. Os grandes momentos foram as vitórias fora de casa sobre Fluminense (1 a 0), Internacional (1 a 0), Vitória (2 a 1) e Palmeiras (2 a 1). Outra grande partida foi o triunfo por 3 a 2 sobre o Grêmio, então campeão da América e pensando no Mundial Interclubes, realizado em 22 de outubro de 1995, na Arena Condá, em Chapecó, justamente por causa do patrocinador da Lusa.

O estádio estava simplesmente lotado e viu um jogo repleto de oportunidades e grandes lances. Tiba abriu o placar, aos 24’ do primeiro tempo. Paulo Nunes empatou no comecinho do segundo tempo, mas Roger, contra, colocou a Lusa em vantagem. Betinho fez 3 a 1 num lindo chute de fora da área e Paulo Nunes diminuiu para o Grêmio, mas o resultado terminou mesmo 3 a 2 para a Portuguesa. A equipe paulista entrou em campo naquele dia com: Neneca (Paulo Sérgio); Edinho (Zé Maria), Augusto César, Jorginho e Zé Roberto; Capitão, Roque e Betinho; Zinho (Luisão), Tiba e Leto. O técnico era Levir Culpi.

As figurinhas da Lusa em 1995.

 

Mesmo sem títulos, o time viu o lateral Zé Maria ser eleito para o time ideal do Campeonato Brasileiro na premiação da “Bola de Prata”, da revista Placar. Para a temporada seguinte, a Lusa manteria a base e contrataria novas peças como o volante Gallo, o goleiro Clemer, o atacante Alex Alves e o técnico Valdir Espinosa. Com alguns ajustes, a torcida acreditava que aquele time poderia dar liga. E daria.

 

Será que classifica?

Capitão, ídolo da Lusa. (foto: Alexandre Battibugli)

 

Com a base do ano anterior, poucas perdas no elenco – dos destaques, apenas Zé Maria deixaria o time para jogar no Flamengo, pouco depois do Estadual – e bons reforços, a Lusa entrou com muita esperança para a temporada de 1996. A equipe conquistou logo de cara o simbólico Torneio Início do Campeonato Paulista, competição maluca que servia como preliminar do Estadual em si, disputada em um único dia em jogos curtos de 20 minutos, com exceção da final, disputada em dois tempos de 15 minutos. A Lusa venceu o Rio Branco por 1 a 0 e eliminou o Corinthians na semifinal. A competição, que lotava mais os vestiários do estádio na qual era disputada do que as arquibancadas, acabou extinta naquele mesmo ano – ela foi realizada de 1919 até 1958 e nos anos de 1969, 1984, 1986 e 1991. A síntese dessa competição pode ser a fala do técnico da Ferroviária Vail Motta à época: “A gente viaja 300km só para jogar 20 minutos”.

Capitão e Tico com a taça do Torneio Início do Campeonato Paulista.

 

Após o “esquenta”, a Portuguesa tentou brigar pelo título do Paulista, mas terminou na 3ª colocação, com 14 vitórias, 11 empates e cinco derrotas em 30 jogos, atrás apenas do São Paulo e do histórico e “extraterrestre” Palmeiras, campeão com 102 gols, 83 pontos, 27 vitórias, dois empates e apenas uma derrota. Durante a campanha, a Lusa se destacou como uma das que mais manteve a posse de bola e uma das melhores equipes defensivamente – o time teve a segunda melhor defesa, atrás apenas do campeão Palmeiras. Após a competição, Valdir Espinosa acabou acertando sua transferência para o Corinthians, o lateral Zé Maria foi jogar no Flamengo e a torcida temeu por uma debandada ainda maior que poria em risco a disputa do Brasileiro. Felizmente, o Armarinhos Fernando, patrocinador do clube após o término da parceria com o Frigorífico Chapecó, segurou as pontas e o técnico Candinho, com passagens por vários clubes nacionais e pelo futebol árabe, foi contratado.

Amoroso, do Guarani, e Zinho, da Lusa, em partida válida pelo Paulista de 1996. (foto: Gazeta Press).

 

Candinho, técnico da Lusa.

 

O novo treinador percebeu que o elenco da Lusa era bom e que poderia render mais se alguns ajustes fossem feitos. Além disso, ele daria mais chances na equipe titular ao jovem e habilidoso Rodrigo Fabri, preterido erroneamente por Espinosa durante o Paulista. Zé Roberto, ótimo lateral-esquerdo, também podia jogar como meia de ligação, capaz de dar passes perfeitos e impor velocidade nos contra-ataques. Na zaga, Émerson e César mostravam segurança, Capitão era raça pura e a dupla Zinho e Caio conseguia abrir muitos espaços nas zagas adversárias. A questão, porém, era se aquele time conseguiria ir bem no Brasileiro contra adversários tradicionais, fortes e superar o avassalador Palmeiras.

 

Altos e baixos

O Campeonato Brasileiro de 1996 ainda era disputado em turno único com mata-mata eliminatório na segunda fase. Os 24 clubes jogariam entre si e os oito melhores garantiriam vaga nas quartas de final. Quem fizesse melhor campanha teria a vantagem de decidir sempre em casa e jogaria por resultados iguais. Por exemplo, se o time X terminasse em 5º lugar e enfrentasse o time Y, em 7º, o time X jogaria a segunda partida em casa, e, se perdesse o primeiro jogo por 2 a 0, poderia vencer o segundo pelo mesmo placar que se classificaria ou ficaria com o título (em caso de final) sem depender de gols fora de casa, pênaltis e afins. O ideal seria pelo menos uma decisão por pênaltis nesse caso, mas a CBF não entendia assim…

A estreia da Lusa no Brasileiro foi no dia 08 de agosto, em antecipação da segunda rodada, quando perdeu para o São Paulo por 2 a 1. Na sequência, a equipe bateu o Corinthians por 2 a 0 (gols de Zinho, num lindo chute de fora da área, e Alexandre Lopes, contra) – vitória que teve um gostinho especial por ser justamente contra o time comandado por Valdir Espinosa – venceu, em casa, Paraná (2 a 0) e Atlético-MG (3 a 1, gols de Rodrigo, Caio e Alex Alves), perdeu para o Vasco por 2 a 1 (fora), bateu o Bragantino, em casa, por 2 a 0, empatou em 2 a 2 com o Vitória (em casa), perdeu para o Cruzeiro, fora, por 4 a 1, venceu o Atlético-PR, em casa, por 2 a 0, perdeu para o Santos por 2 a 0, em jogo adiado da primeira rodada, no Estádio do Ibirapuera (!), e, na 11ª rodada, empatou sem gols com o Flamengo, fora.

Àquela altura, a Lusa estava na 10ª posição, apenas um ponto atrás do oitavo colocado e seis pontos atrás dos líderes Guarani e Palmeiras, ambos com 23 pontos. O time alternava bons jogos em casa com resultados ruins fora dela. Naquele início de torneio, um jogo vale destaque: no empate em 2 a 2 com o Vitória, a torcida se revoltou com a arbitragem desastrosa de Léo Feldman e atirou várias coisas no gramado do Canindé. O time, por causa disso, seria punido com a perda de mando de campo nas rodadas finais da primeira fase.

Algumas das figurinhas da Lusa de 1996.

 

Nos quatro jogos seguintes, nada de vitórias. Muito pelo contrário: derrotas para Grêmio (1 a 0, fora), Juventude (3 a 1, em casa) e Goiás (2 a 0, fora), e empate sem gols contra o Sport, em casa. Esses resultados fizeram a Lusa despencar para a 17ª posição, cinco pontos atrás do oitavo colocado. A classificação que antes era um sonho virava algo quase inatingível. No dia 20 de outubro, a equipe foi até Santa Catarina e venceu o fraco Criciúma por 3 a 2. Na sequência, o triunfo por 2 a 0 sobre o Fluminense, em casa, reanimou o time, que estava a dois pontos do oitavo colocado – naquela ocasião, o Internacional. O time embalou mais uma vez e venceu o Bahia, na Fonte Nova, por 3 a 1, e conseguiu vencer o Palmeiras, no Morumbi, por 1 a 0, com gol de Roque, aos 9’ do primeiro tempo. Na 20ª rodada, a vitória por 1 a 0 sobre o Guarani, em Campinas, colocou a Lusa na 7ª posição, a três rodadas do fim.

O problema é que, justamente naquela reta final, o time começaria a sua punição. Contra o Internacional, em São Januário, a Lusa perdeu por 2 a 1. Na rodada seguinte, fora de casa, a equipe foi atropelada pelo Coritiba (4 a 0) e despencou para a 11ª posição. A situação da Fabulosa era a seguinte: o time teria que vencer de qualquer maneira o Botafogo – campeão do ano anterior, mas sem almejar nada no torneio – e torcer para que Internacional, Sport e São Paulo não vencessem seus jogos. Era uma situação praticamente impossível, ainda mais pelo fato de o Inter jogar contra o lanterna e rebaixado Bragantino (que, no fim das contas, não caiu por causa de um escândalo de virada de mesa). A Lusa tinha apenas 10% de chances de classificação. Mas, como diz o ditado, “tem coisas que só acontecem com a Portuguesa”…

 

Classificados!

 

No dia 24 de novembro, a Portuguesa viajou até Curitiba, para jogar no Couto Pereira (com pífios 489 pagantes) contra o Botafogo. O alvinegro não era mais nem sombra do time campeão nacional de 1995, por isso, a vitória da Lusa era quase certa. E de fato foi. Gallo, aos seis, Rodrigo, aos 33’ e 45’, e Caio, aos 20’ do segundo tempo, fizeram os gols da goleada de 4 a 1 da Lusa. Mas o torcedor lusitano estava atento, na verdade, aos outros jogos. E quando as notícias começaram a chegar, ninguém acreditou. No Parque Antártica, o Sport levou de 4 a 1 do Palmeiras. Em Bragança, o lanterna Bragantino venceu o Inter por 1 a 0. E, no Durival de Brito, o São Paulo só empatou em 1 a 1 com o Paraná. A Lusa, no apagar das luzes, estava classificada. O time terminou na oitava colocação com 11 vitórias, três empates e nove derrotas em 23 jogos. Candinho elogiou bastante sua equipe no final do jogo:

“Foi a vitória da paciência e da calma. Clubes mais ricos, como São Paulo e Flamengo, ficaram de fora com esquadrões. Chegamos pela humildade. Agora, nossos críticos têm de engolir a Portuguesa entre os oito melhores”. Candinho, técnico da Portuguesa, em entrevista à Folha de S. Paulo, 25 de novembro de 1996.

O defensor César também comentou aquele momento tempo depois: “Conseguimos a classificação de forma angustiante. Perdemos o mando de campo contra o Botafogo. Éramos um elenco jovem. Mesmo vencendo o Botafogo, tudo ainda era muito cru. No mata-mata, não pensávamos no título”. Mas, entre os oito melhores, começava um novo campeonato para a Portuguesa. O título era, sim, possível.

 

Vareio no líder

O adversário da Lusa nas quartas de final seria o Cruzeiro, time de melhor campanha na primeira fase, campeão da Copa do Brasil sobre o “Palmeiras dos 100 gols” e com nomes como Dida, Célio Lúcio, Nonato, Ricardinho, Palhinha, Fabinho e Paulinho McLaren. Era uma equipe difícil de se enfrentar e que vinha embalada. Candinho tratou de transferir a responsabilidade para os mineiros e, no primeiro duelo, no Morumbi, o treinador disse que seu time jogaria “sem obrigação de vencer, com descontração, por prazer, como moleques”. Para ele, a responsabilidade de vencer era toda do time azul. “Eles fizeram a melhor campanha, têm gente de renome, maior torcida. Para nós, o que vier é lucro”, disse Candinho. Além disso, o treinador usou o desdém do presidente do Cruzeiro na época, que disse que “a Portuguesa era o adversário que queríamos”, para motivar seus jogadores.

Mesmo sem Zinho, contundido, Candinho deslocou Zé Roberto para o meio de campo, colocou Carlos Roberto na lateral-esquerda, e Tico ao lado de Rodrigo no ataque. Com apenas sete mil torcedores no Morumbi, a Lusa fez um de seus melhores jogos no ano. Com velocidade e muito oportunismo, a equipe goleou os mineiros por 3 a 0, num show de Rodrigo e companhia. O jovem abriu o placar após receber pelo meio e encobrir Dida. Na segunda etapa, Alex Alves entrou no lugar do contundido Tico e balançou as redes duas vezes, aos 19’ e aos 23’. Zé Roberto foi outro que jogou muito, hipnotizando os zagueiros cruzeirenses com sua classe e sem a responsabilidade de marcar como nos tempos do técnico Espinosa, que insistia em colocá-lo como volante, posição que o craque de 22 anos não rendia. O jogo só não foi mais perfeito pelo fato de o próprio Zé, e Marcelo, levarem cartões amarelos que tiraram a dupla do duelo seguinte, no Mineirão.

No entanto, aquela jovem Portuguesa não se intimidou com as quase 65 mil pessoas e segurou a magra derrota por 1 a 0 com três volantes – Roque, Capitão e Gallo – marcou muito o time rival (Capitão não deixou Palhinha fazer absolutamente nada!) e o resultado foi incapaz de tirar a Lusa da semifinal. O então favorito Cruzeiro estava eliminado! Era hora de encarar outro time de Minas: o Atlético, de Taffarel, Doriva, Euller e Renaldo.

 

Magra vantagem

Doriva, do Galo, disputa bola com Rodrigo, da Lusa.

 

Única de SP nas semis, a Portuguesa foi “adotada” pelos torcedores dos grandes clubes do estado na reta final. No dia 05 de dezembro, corintianos, são-paulinos, palmeirenses e santistas foram prestigiar a equipe no duelo contra o Galo. Empresários cederam ônibus para os torcedores e mais de 20 mil pessoas compareceram ao Morumbi. E tanto apoio deu certo. O jogo foi difícil, mas a Lusa venceu por 1 a 0, gol de Alex Alves, aos 23’ do segundo tempo, e conseguiu uma ligeira vantagem. A comissão da Lusa criticou demais o juiz Sidrack Marinho, que economizou nos cartões para “não prejudicar a semifinal”, segundo o próprio, algo que beneficiou o Galo e seus vários jogadores pendurados com cartão.

Alex Alves, talismã da reta final.

 

Para a partida de volta, a Lusa teria um grande problema. O Atlético tinha vencido todos os jogos que havia disputado no Mineirão – com exceção do duelo contra o Cruzeiro. E haveria mais de 80 mil pessoas gritando “Galo, Galo”, aquela loucura que era a torcida do Atlético em mata-matas. Seria dificílimo. Apenas um gol de vantagem não era nada. Como a Portuguesa poderia aguentar tanta pressão?

 

Fabulosa e valente

No dia 08 de dezembro de 1996, o Mineirão era praticamente de uma torcida só. Mais de 80 mil alvinegros queriam ver o Atlético em uma final do Campeonato Brasileiro depois de 16 anos. Os fanáticos torcedores atleticanos esperavam uma pressão tremenda de seu time logo de cara. E era isso que os jogadores do Galo queriam. Mas eles se depararam com uma Portuguesa cheia de brio, valente, sóbria. Rodrigo e Alex Alves, juntos, eram perigosíssimos no ataque e davam trabalho para o tetracampeão Taffarel. Mas, aos 27’, o juiz viu pênalti em Euller. Renaldo bateu e fez o primeiro do Galo.

Na comemoração, a dança do vira, uma clara zueira à Lusa. Mas o “vira real” seria da Portuguesa. A equipe paulista manteve o controle, e, na volta do intervalo, jogou com a bola no chão. Aos 11’, Caio, de pênalti, empatou o jogo. Nove minutos depois, o talismã do mata-mata, Alex Alves, fez o gol da virada chutando por entre os braços de Taffarel: 2 a 1 Lusa! A equipe jogava muito, mostrava que havia amadurecido e que merecia a final. O Atlético empatou, com Euller, e viu a Lusa perder o zagueiro César, expulso. Mesmo assim, a Portuguesa se segurou e calou o Mineirão.

Ao fim do jogo, a própria torcida do Galo aplaudiu o time paulista. Também pudera. Era um feito enorme, histórico. Pela primeira vez, a Lusa estava em uma final do Campeonato Brasileiro. Capitão, tão xerife, se emocionou e chorou muito com a classificação dizendo que aquele era o “melhor momento de sua vida”. O elenco ganhou R$ 300 mil como prêmio pela vaga e receberia R$ 1 milhão em caso de título. Nos vestiários, muita festa e dança do vira para celebrar aquele momento mágico. Dava gosto ver aquele time jogar. E Rodrigo? O garoto simplesmente voava, era arisco, habilidoso, não temia zagueiros e marcava gols. Porém, faltava um desafio: enfrentar o Grêmio de Felipão, Paulo Nunes, Arce, Rivarola, Danrlei, Carlos Miguel e companhia.

 

Resultado enorme

Antes de começar a decidir o título mais importante de sua história, a Portuguesa sofreu. No dia do jogo, um dilúvio caiu na cidade de São Paulo e, quando a delegação da Lusa saiu do hotel Lord Palace, o ônibus andou cerca de 500 metros e simplesmente parou. O trânsito estava infernal. Vários pontos de alagamentos acometiam a região. O que fazer? Ir na contramão, como bem disse o volante Capitão:

“Eu falei para colocar o ônibus na contramão porque nós tínhamos batedores [da polícia] na frente e atrás. E os policiais falaram “vamos meter o ônibus na contramão” e mandaram o motorista dar ré. O [José Roberto] Portella, nosso preparador físico, tinha um BMW novinho, esporte, mas não estava com ele no dia, e sim com um Escort. Estavam no carro ele, o auxiliar e a assessora de imprensa da Portuguesa. Quando nosso motorista deu a ré, o Portella vinha atrás. O ônibus veio e pá no Escort! Aquilo era só fumaça e água voando – arrebentou o radiador do carro. Um saiu correndo para um lado, outro saiu correndo pro outro. E eu gritando “para, para” ao motorista. Aí viram que tinham batido no Escort. Depois de tudo isso, com o ônibus na contramão, conseguimos seguir. Os batedores davam cavalinhos de pau, era um negócio tremendo (risos). Nós chegamos ao Morumbi em cima da hora [às 20h33, sendo que o jogo começaria às 21h40], com aquela muvuca. Já entramos sem dar entrevista, porque não dava tempo, e trocamos de roupa. Ninguém esperava uma chuva daquela magnitude (risos)”, Capitão, volante da Portuguesa à época, em entrevista ao site Vice Sports, 13 de dezembro de 2016.

 

Com isso, 50 ônibus que sairiam do Canindé rumo ao Morumbi acabaram “ilhados” e diminuíram a torcida da equipe na decisão. Mesmo assim, a equipe viu mais de 30 mil pessoas na arquibancada e um adversário complicado de se enfrentar. O Grêmio havia vencido praticamente tudo nos últimos anos – Copa do Brasil, Estadual, Copa Libertadores e Recopa, só perdeu o Mundial Interclubes para o super Ajax-HOL. Só faltava o Brasileiro para coroar aquela geração e o trabalho de Luiz Felipe Scolari no comando do Tricolor Gaúcho (leia mais clicando aqui). Mesmo diante de um rival experiente em mata-matas, a Lusa foi forte e fez valer o fator casa para conquistar um resultado maravilhoso. Embora tenha se mostrado nervosa no início, a Lusa se soltou no final do primeiro tempo, quando Gallo, de falta, abriu o placar para a equipe paulista: 1 a 0. Na segunda etapa, o Grêmio assustou com Zé Alcino e tentou aproveitar a relaxada do rival, mas Rodrigo, aos 15’, após cruzamento de Caio, fez 2 a 0. A Lusa poderia ter feito 3 a 0, mas pecou na finalização e no nervosismo por causa de um jogo tão importante. O Grêmio se segurou e saiu do Morumbi com a convicção de que reverteria o placar no Olímpico. Ou, melhor, empataria, já que o 2 a 0 para o Tricolor deixava a taça em Porto Alegre pelo fato de o time gaúcho ter melhor campanha.

A Lusa de 1996: time rápido, leve e muito perigoso nos contra-ataques.

 

Detalhes impedem o feito épico

Para evitar torcedores em porta de hotel soltando fogos de artifício e perturbando o sono de seus atletas, a Portuguesa foi para Porto Alegre somente no domingo, dia 15 de dezembro. A equipe chegou “escoltada” pela torcida do Internacional, que demonstrou muito apoio ao clube. Aliás, a Lusa já era campeã em simpatia e foi adotada por todos os não-gremistas. Candinho tentou blindar seus jogadores da imprensa e depositou sua confiança aos “gerentes” Clemer, Capitão, Gallo e Caio. A tática seria atacar no início e tentar um gol para desestabilizar de vez os tricolores. Nas arquibancadas, a torcida do Grêmio fazia muito, mas muito barulho. A pressão era enorme. Sem poder se aquecer no gramado, a Lusa teve que fazer todo o trabalho pré-jogo por quase 30 minutos no acanhado vestiário do visitante. E, quando a bola rolou, a Portuguesa sentiu, pela primeira vez naquela reta final, o peso de uma decisão fora de casa.

Rivarola pega a bola após o gol de Paulo Nunes. (foto: Mauro Vieira).

 

Logo no comecinho do jogo, Paulo Nunes abriu o placar: 1 a 0. Péssimo presságio. Tempo depois, Caio aproveitou uma saída errada da zaga gremista e exigiu uma boa defesa de Danrlei. O Grêmio continuava pressionando e dava trabalho para a zaga com bolas alçadas na área – com pouco mais de 30 minutos, eram 19 bolas alçadas do Tricolor contra apenas três da Lusa. Até que, aos 37′, Alex Alves recebeu e tocou para Rodrigo. Eram dois contra um. Era o gol de empate. Rodrigo deixou o zagueiro no chão, mas, na hora de chutar, a bola foi para a perna direita, que não era a boa. Quando ele ia passar para a esquerda, a zaga do Grêmio se recompôs. Que chance perdida…

No segundo tempo, o Grêmio continuou pressionando, mas a bola não entrava. A Portuguesa teve outra chance com Rodrigo, mas o atacante perdeu. O jogo seguia tenso, o Olímpico ia ficando cada vez mais mudo. Candinho, do banco, via o adversário cansado e quase entregando o jogo. O tempo passava devagar para a Lusa. E voava para o Grêmio. Faltando seis minutos para o fim, eis o lance capital. Após uma bola alçada na área da Lusa, a zaga rebateu muito mal. Ela sobrou para Aílton, que havia saído do banco. O jogador chutou de perna esquerda e fuzilou o goleiro Clemer: 2 a 0. Era o resultado que o Grêmio precisava. Se o tempo passava arrastado para a Lusa, agora ele corria sem dó. Capitão, da Lusa, comentou sobre o momento do gol:

“[O jogo] Já estava dominado. Sei que saiu uma jogada na lateral do campo e todo mundo foi para a área. O que eu fiz? O sanduíche, com o César atrás e eu na frente. Porque se a bola vem e cai no peito dele, eu tiro. Eu e o [goleiro] Clemer sempre falávamos na hora de uma situação de risco de gol. Devia ter falado [para o César] “tira a cabeça” ou “deixa ir pra fora”. Não falei nada. Aí ele subiu mais alto do que o [centroavante] Zé Afonso e cabeceou para o chão. Quando ele [César] bateu na bola, o Aílton deu um pique e veio pra grande área ficar de frente. O Aílton pegou uma bomba de pé esquerdo – ele é destro – que foi uma pancada. O Clemer ainda tocou com a mão na bola, mas não pegou em cheio. Tomamos o gol. Lembro que olhava para os jogadores do Grêmio, antes do gol, e eles estavam desanimados. Você podia ler [na cara deles] “perdemos”. É difícil de explicar”, Capitão, em entrevista ao site Vice Sports, 13 de dezembro de 2016.

Dinho ergue a taça do Grêmio campeão.

 

O tento gremista inflamou o Olímpico. E matou a Lusa. Ao apito do árbitro, não havia mais nada. Não haveria pênaltis. Não haveria terceiro jogo. Não haveria vaga na Libertadores (somente o campeão ia para a competição continental). Era simplesmente o fim da campanha da Lusa no Brasileiro de 1996. E o título do Grêmio. No vestiário, o clima era de profunda tristeza e de reflexão. Por que perder justo naquele dia? Por que Rodrigo não marcou gols em dois lances que ele jamais desperdiçaria? Por que o gol deles saiu justo aos 39 minutos? O futebol é inexplicável, sempre foi e sempre será.

Na volta para casa, a torcida da Lusa fez questão de receber seus atletas com festa, num reconhecimento memorável daquele momento grandioso do clube. Mesmo sem a taça, a equipe entrava para a história com sua melhor colocação na principal competição do país. Foram 46 pontos, 14 vitórias, quatro empates, 11 derrotas, 40 gols marcados e 34 sofridos em 29 jogos. Rodrigo foi o artilheiro do time com 11 gols, cinco a menos do que Paulo Nunes e Renaldo, artilheiros do torneio com 16 gols. Alex Alves, com sete, Caio, com seis, e Zinho, com cinco, vieram na sequência. Zé Roberto e Rodrigo foram eleitos para o time do campeonato e ganharam a “Bola de Prata” da revista Placar.

 

Saudades de um tempo que jamais voltou

 

No ano seguinte, a Portuguesa conseguiu fazer uma nova boa campanha no Brasileiro, liderou cinco rodadas do primeiro turno, se classificou em quarto lugar, mas sucumbiu no Grupo A (sim, a CBF mudou o regulamento mais uma vez naquele ano…) ao terminar na última posição, atrás de Juventude, Flamengo e Vasco, este o classificado para a final e, posteriormente, campeão. Rodrigo voltou a jogar bem e ficou na quarta posição entre os artilheiros com 16 gols, mas a equipe não teve o brilho do ano anterior por causa da constante mudança de técnicos e falta de um padrão de jogo.

O fato é que a perda do título de 1996 custou caro para o clube principalmente fora de campo. Antes da taça, representantes da empresa italiana Cirio pretendiam patrocinar a equipe nos mesmos moldes que fizeram sucesso na Lazio do final dos anos 90, que abocanhou vários títulos na Itália e fora dela (leia mais clicando aqui). Porém, o negócio não foi para frente, os grandes nomes do time foram negociados pouco a pouco e o romance da equipe com a elite do futebol nacional ruiu.

Em 2016, exatos 20 anos após o inesquecível ano de 1996, a equipe chegou ao fundo do poço ao ser rebaixada para a Série D do Brasileiro e viu até o estádio do Canindé ir para leilão. Afundada em dívidas, a Portuguesa caiu no ostracismo e seu torcedor espera que, um dia, a equipe possa voltar a brilhar. O grande porém é que nem o mais fanático lusitano tem certeza disso. No entanto, os feitos do time de 1996, que virou até livro, são impagáveis, nunca cairão para as séries B, C ou D e jamais serão leiloados. A Lusa de 1996 conseguiu, mesmo sem título, ser imortal.

 

Os personagens:

Clemer: após boa passagem pelo Goiás, o maranhense chegou à Lusa em 1996 e foi titular absoluto na campanha daquele ano. Fez grandes defesas e mostrava ótimo senso de colocação. Em 1997, foi para o Flamengo, mas viveu sua melhor fase, de fato, no Internacional de 2002 até 2009, onde ganhou, entre muitos títulos, uma Libertadores e um Mundial de Clubes.

Valmir: jogador revelado pelo Flamengo, passou pelo Bragantino antes de chegar à Lusa. Não era muito eficiente no ataque e se limitava mais ao campo de defesa. Nas quartas, foi muito bem contra o Cruzeiro.

Zé Maria: o lateral revelado pela própria Lusa viveu grande fase em 1995, quando foi eleito um dos melhores do Campeonato Brasileiro. Em 1996, fez bons jogos no Paulista até se transferir para o Flamengo. Fez muita falta no Brasileiro daquele ano, e, se estivesse na Lusa, talvez a história poderia ter sido diferente. Viveu seu auge no futebol italiano e chegou à seleção brasileira.

Émerson: o zagueiro foi muito identificado com o clube e jogou de 1994 até 2002 no Canindé. Muito bom na marcação e nas jogadas aéreas, fez boa dupla com César. Ganhou, inclusive, convocações para a seleção brasileira graças às suas atuações pela Portuguesa.

César: chegou ao clube em 1995 e ficou até 1999. Com boas atuações, ganhou rapidamente a vaga de titular e foi fundamental na campanha de 1996. Ao lado de Émerson, fez uma dupla de zaga muito querida pela torcida. Também foi convocado para a seleção brasileira e jogou no futebol francês na virada do século.

Marcelo Miguel: zagueiro da Lusa entre 1996 e 1999. Foi titular em diversas partidas, mas perdeu espaço com a chegada de César. Marcava bem e chegou a disputar o Mundial Sub-20 e o Sul-Americano Sub-20 pela seleção.

Zé Roberto: revelado pela Lusa, o craque começou como lateral-esquerdo em seu debute, em 1994, e exerceu a função em grande parte de sua época na Lusa, até 1997. Habilidoso, com grande visão de jogo e ótimos passes, foi uma das maiores revelações do clube na década e um dos craques do time na campanha de 1996. Quando foi deslocado para o meio de campo pelo técnico Candinho, se mostrou ainda mais versátil e um terror para os adversários, provando ser um jogador a frente de seu tempo. Depois da Lusa, foi jogar no futebol europeu e viveu grandes momentos no futebol alemão. Pela seleção, ganhou 84 convocações e disputou as Copas do Mundo de 1998 (reserva) e 2006 (titular). Exemplo de longevidade, joga até hoje mesmo estando com 43 anos, no Palmeiras.

Capitão: com 496 jogos em três passagens pela Lusa (1988-1993, 1995-1997 e 2003-2004), Oleúde José Ribeiro é um dos maiores ídolos da história da Portuguesa, o que mais vestiu a camisa vermelha e verde e um dos jogadores mais identificados com o clube. Raçudo e guerreiro em campo, foi o grande líder daquele time em 1996. Embora tenha tido destaque na equipe, nunca foi lembrado para a seleção brasileira. Teve passagens pelo São Paulo, Guarani e até pelo rival de 1996, o Grêmio, mas nunca repetiu nesses clubes o que jogou na sua querida Lusa. A curiosidade mais famosa que ele sempre teve foi seu nome: Oleúde foi uma tentativa de homenagem à Hollywood, berço do cinema norte-americano.

Gallo: o experiente volante ficou só em 1996 na Lusa, mas foi um dos pilares do bom meio de campo da equipe naquela temporada mágica. Bom nos passes, na marcação e com boa visão de jogo, Gallo aproveitou a vivência que tinha para ajudar os jovens do elenco a superar os desafios do mata-mata (que ele havia acabado de disputar pelo Santos, em 1995). Marcou um dos gols no primeiro jogo da final contra o Grêmio. Depois que se aposentou, virou treinador.

Caio: após passagem pelo Grêmio, o meia jogou na Lusa em 1994 e entre 1995 e 1997, período em que se destacou pela velocidade e como elemento surpresa no ataque. Na reta final do Brasileiro de 1996, fez boa dupla com Zé Roberto no meio de campo e ajudou a torcida a se esquecer de Zinho. Em 1997, foi para o Cruzeiro, onde foi campeão da Copa Libertadores.

Tininho: revelado pela Portuguesa, era um dos mais versáteis do elenco e podia atuar como lateral-esquerdo, meio campista ou zagueiro. Habilidoso e muito inteligente taticamente, jogou na Lusa de 1995 até 1998, mas não conseguiu ter muitas chances no time titular por causa da concorrência com outros nomes do time. Em 1998, foi para o futebol holandês e conseguiu ser campeão nacional pelo Feyenoord.

Zinho: foi um dos principais jogadores da Portuguesa na época e esbanjava técnica e velocidade como meia e ponta de lança. Fazia uma ótima temporada até se contundir e desfalcar a equipe justamente na reta final daquele Brasileiro. Ele fez falta, principalmente no primeiro duelo contra o Grêmio.

Roque: podia jogar como volante e lateral e era muito eficiente na marcação. Incansável, corria muito e se posicionava muito bem. Foi revelado na mesma época que Dener, Tico e companhia e fez parte do time campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1991.

Carlos Roberto: veio emprestado para a Portuguesa e teve presença como lateral-esquerdo após a mudança de Zé Roberto para o meio de campo. Rápido, era tido como promessa, mas caiu no esquecimento.

Alex Alves: o atacante era reserva, mas fez gols importantes no mata-mata e ganhou a confiança da torcida. Matador e habilidoso, viveu grandes momentos na Lusa e fez uma dupla de ataque memorável com Rodrigo. Como ambos eram rápidos, eles flutuavam entre os zagueiros e davam dinamismo ao ataque da Portuguesa. Depois da Lusa, jogou no Cruzeiro e teve destaque, também, no Hertha Berlim. Faleceu jovem, aos 37 anos, por conta de uma rara doença chamada hemoglobinúria paroxística noturna, que atrapalhava a produção de sangue.

Flávio: atacante, não foi titular absoluto e atuou poucas vezes durante a campanha. Após sua passagem pela Lusa, jogou no Criciúma, Mirassol e Santa Cruz.

Tico: jovem revelado pela Lusa no começo dos anos 90, era da época de Dener e foi emprestado para alguns clubes até voltar ao profissional da equipe. Driblador e rápido, foi muito querido da torcida principalmente por conta do título da Copinha de 1991. Fez dupla de ataque com Rodrigo em vários jogos, mas não brilhou na reta final e perdeu espaço para Alex Alves.

Rodrigo Fabri: foi o grande xodó da torcida na época e principal revelação de 1996. Rápido, oportunista, driblador e habilidoso, encantava os torcedores da Lusa e até rivais pelo jeito como atuava e como se desvencilhava dos zagueiros. Seu talento foi fundamental para aquela trajetória lusitana. Uma pena que, na finalíssima contra o Grêmio, tenha perdido um gol feito no primeiro tempo que mudaria a história do jogo. Após jogar muito, o caminho natural foi o futebol europeu. Contratado pelo Real Madrid-ESP, Rodrigo tinha tudo para fazer história por lá, mas uma contusão acabou freando sua arrancada. Foi emprestado para vários clubes, voltou ao Brasil, e, curiosamente, teve destaque o Grêmio de 2002, quando foi artilheiro do Brasileiro com 19 gols. Foi convocado para a seleção brasileira em algumas oportunidades e esteve no grupo campeão da Copa das Confederações de 1997.

Valdir Espinosa e Candinho (Técnicos): Espinosa comandou a Lusa no Campeonato Paulista de 1996 e conseguiu o terceiro lugar, mas foi Candinho o responsável por fazer aquele time entrar nos eixos e jogar muita bola. Dando mais espaço aos jovens, explorando o talento de Zé Roberto nas posições corretas e oferecendo liberdade para Rodrigo no ataque, o treinador não foi campeão brasileiro por detalhes. Seu trabalho é reconhecido até hoje e foi importante para revelar aquele elenco para um público maior e valorizar a carreira de todos.

 

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6 Comentários

  1. Olá, Imortais

    Acompanhei a final com o Grêmio quando tinha oito anos de idade, os dois jogos. O tricolor gaúcho ganhou com méritos, tinha um time brilhante à época, esse foi o “azar” da Lusa. O mais lamentável na história da Portuguesa foi eles ficarem sem o patrocínio da Círio que resolveu bancar a Lazio e depois ganharia de tudo e mais um pouco. Nunca mais fariam uma campanha como a de 1996 e o estado atual do time é de cortar o coração, falam até em se juntar a outro clube e extinguir o original. Situação semelhante a do São Caetano…

    Adorei o texto. Essa Lusa foi brilhante. Ah, e por falar nisso gostei dos álbuns de figurinhas, lembrei de quando era garoto e ia doido até a banca comprar quatro ou cinco pacotes a R$ 0,50 cada.

    Abs.

    • Poxa, que bacana, Cristiano! Eu também assisti aos dois jogos, também tinha oito anos! Lembro que falei para meu pai que passaria a torcer para quem fosse campeão. Fiz faixas de papel e tudo mais, dos dois times. Quando acabou, “virei” gremista. Durou apenas uma semana. Depois, continuei a torcer para um time a cada mês… Acho que é por isso que hoje não torço para ninguém! Hahaha! E adorava os álbuns também! Tive, inclusive, esse de 1996. Abs!

Esquadrão Imortal – Cruzeiro 1996-2000

Dois uniformes da Copa do Mundo com pouco charme