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Esquadrão Imortal – Tout Puissant Mazembe 2009-2010

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Grandes feitos: Vice-campeão do Mundial de Clubes da FIFA (2010), Bicampeão da Liga dos Campeões da CAF (2009 e 2010), Campeão da Supercopa da CAF (2010) e Campeão da Linafoot – o campeonato nacional da República Democrática do Congo (2009). Foi o primeiro clube fora do eixo Europa/América do Sul a disputar uma final de Mundial de Clubes na história.

Time base: Kidiaba; Nkulukuta, Mihayo, Kimwaki e Kasusula; Kasongo; Kabangu (Sunzu), Bedi (Lusadisu), Kaluyituka e Singuluma; Ekanga (Mputu). Técnicos: Diego Garzitto (2009-2010) e Lamine N´Diaye (2010).

Todo Poderoso Africano

Por Guilherme Diniz

Os gols e a exótica dancinha daquele goleiro vez ou outra aparecem na memória de muita gente. Muita gente mesmo. Milhões de pessoas. As imagens inteiras ou cortadas surgem com frequência mais assídua em Lubumbashi, na República Democrática do Congo, e na cidade de Porto Alegre, no Brasil. Em ambas, a sensação é de puro contraste. Na África, a recordação traz alegria, entusiasmo, orgulho e devoção. Em Porto Alegre, o sentimento é de consternação, angústia, impotência, vergonha e tristeza. Curiosamente, na mesma cidade, também há alegria e a lembrança de muitas piadas, brincadeiras e risadas – isso no lado azul, branco e preto. Do lado vermelho, os nomes Mazembe, Kidiaba, Kabangu e Kaluyituka causam os mais gélidos calafrios. É impossível falar dos grandes feitos do futebol africano sem mencionar o que fez o Tout Puissant (Todo Poderoso) Mazembe no ano de 2010.

Sem se importar com a imponência do campeão da Copa Libertadores, o Sport Club Internacional, a equipe alvinegra venceu por 2 a 0 a partida semifinal do Mundial de Clubes da FIFA e se classificou para uma inédita, incrível e histórica final. Era a primeira vez que um time da África conseguia chegar a uma decisão. E a primeira vez que um time da América do Sul ficava de fora do jogo que todo clube deseja jogar (pelo menos os de fora da Europa…). Embora não tenha conseguido vencer a Internazionale-ITA, o Mazembe encheu de orgulho seu continente num ano em que a Copa do Mundo teve como sede a África. Mas os congoleses não tiveram apenas o Mundial de 2010 como ponto alto. Antes disso, eles faturaram duas Ligas dos Campeões da CAF e um campeonato nacional. É hora de relembrar.

 

Para fazer jus ao nome

Katumbi, o homem forte do Mazembe.
Katumbi, o homem forte do Mazembe.

 

A história do Mazembe começou a mudar quando Moïse Katumbi Chapwe, notável magnata congolês e estritamente ligado ao clube, voltou ao Congo em 2003 para assumir de vez a presidência da equipe e investir fortemente em estrutura e bons salários para que o Mazembe voltasse a ser uma força não só de seu país, mas também de toda a África. O time não levantava uma taça continental desde o longínquo ano de 1968 e via equipes do Egito, Marrocos e Tunísia dominarem o cenário africano. Para Katumbi, que se tornaria governador da província de Katanga (terra do Mazembe), em 2007, era fundamental para seu ego e para a população que o time fosse bem no futebol e conquistasse títulos de peso. Nos primeiros anos do reinado do magnata, os alvinegros não brilharam na Liga dos Campeões da CAF e sofreram até com a cobrança da torcida, mas aos poucos o clube foi se estruturando e ganhando jogadores de mais qualidade, além de os jovens que compunham a base da equipe (entre eles o atacante Mputu e o goleiro Kidiaba) evoluir e ganhar maturidade.

Depois de anos de excursões e muito treinamento, o Mazembe alcançou o ponto necessário no começo de 2009, quando começou a disputar a Liga dos Campeões da CAF como vice-campeão do campeonato nacional da temporada anterior. A estreia do time aconteceu em março, contra o Atlético Petróleos Luanda, de Angola. No primeiro jogo, no Congo, vitória dos alvinegros por 3 a 0 (com dois gols de Mputu e um de Kabangu). Na volta, fora de casa, o time venceu por 2 a 1 e se classificou. Na fase seguinte, a classificação para a etapa de grupos veio após uma vitória magra por 1 a 0 e um empate sem gols contra o Ittihad Khemisset (MAR).

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Paralelo à disputa continental, o Mazembe ia destruindo seus rivais na Linafoot. Nos quatro primeiros jogos, a equipe marcou incríveis 20 gols e sofreu apenas um, com direito a uma goleada por 9 a 0 sobre o St. Clément. Em julho, o time começou com vitória tanto a segunda fase do campeonato nacional (1 a 0 sobre o Dragons) quanto a fase de grupos da Liga dos Campeões da CAF (2 a 0 sobre os nigerianos do Heartland). Até o final de setembro, a equipe garantiu a primeira posição de seu grupo na Liga com quatro vitórias e duas derrotas em seis jogos e o título invicto da Linafoot com duas vitórias sobre o Saint-Eloi Lupopo na final (4 a 1 e 2 a 0). A campanha do Mazembe no torneio nacional foi impecável e impressionante: 14 jogos, 11 vitórias, três empates, 47 gols marcados e apenas cinco sofridos.

 

Reis da África e decepção árabe

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Depois da festa pelo título nacional, o Mazembe não deixou a ressaca tomar conta do elenco e foi com tudo na semifinal continental, contra o Al-Hilal, do Sudão. No primeiro jogo, em Omdurman, o time congolês deu show e fez 5 a 2 nos rivais, com dois gols de Lusadisu, dois de Kabangu e um de Kaliyutuka. Na volta, o Al-Hilal fez 2 a 0 ainda no primeiro tempo e causou pânico na torcida em Lubumbashi, mas Kidiaba fechou o gol na sequência e o placar agregado em 5 a 4 colocou o Mazembe na final. Nela, os alvinegros reencontraram o Heartland, da Nigéria, rival da equipe na fase de grupos. Na ida, os nigerianos fizeram valer o fator campo e venceram por 2 a 1. Porém, o golzinho marcado por Mputu deu ao Mazembe a vantagem de vencer por apenas 1 a 0 a partida de volta para celebrar o título. E foi o que aconteceu. Omodiagbe, contra, fez o gol da vitória dos “corvos” (apelido do clube, embora tenha um jacaré em seu escudo) por 1 a 0 e o título da Liga dos Campeões da CAF ficou em Lubumbashi.

Era a coroação do trabalho iniciado lá em 2003 e dos esforços financeiros do presidente Katumbi, que acabou gastando mais de US$ 5 mi para ter apenas US$ 1,5 mi de retorno com a conquista do título. No entanto, isso com certeza nem passou pela cabeça dos alvinegros, muito menos do técnico Diego Garzitto, que destacou o “trabalho duro realizado na temporada e a importância do título para Lubumbashi”. Kaluyituka foi o artilheiro do time e da competição com sete gols, seguido de Mputu, com seis. Kabangu também mostrou faro de gol e anotou três ao longo do torneio.

A festa com o título da Liga dos Campeões da CAF de 2009.
A festa com o título da Liga dos Campeões da CAF de 2009.

 

O troféu de campeão africano deu ao Mazembe o direito de disputar o Mundial de Clubes da FIFA, em dezembro de 2009, nos Emirados Árabes Unidos. Fã do Barcelona-ESP, o presidente Katumbi sonhava em ver seu time disputando uma hipotética decisão contra os campeões europeus daquele ano. Porém, a ambição do mandatário alvinegro virou pó. Ou melhor, areia. Logo na estreia da equipe em solo árabe, o Pohang Steelers, da Coreia do Sul, venceu por 2 a 1 e sepultou as esperanças africanas de uma semifinal ou mesmo final. Na disputa pelo quinto lugar, os alvinegros voltaram a perder (3 a 2, para o Auckland City), e se despediram de Abu Dhabi na sexta posição entre os sete participantes, uma campanha pífia e que serviu para reforçar a tese de que os times do continente eram meros figurantes no torneio à época.

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O caminho de volta e o baile

Garzitto (à dir.), técnico do Mazembe entre 2009 e 2010.
Garzitto (à dir.), técnico do Mazembe entre 2009 e 2010.

 

Com a base de 2009 mantida e sem sofrer com o assédio de outros clubes, o Mazembe começou a refazer o caminho de Abu Dhabi em 2010. Embora não tenha ido bem no campeonato nacional, o time conquistou, já em fevereiro, a Supercopa da CAF após derrotar o campeão da Copa das Confederações da CAF, o Stade Malien, de Mali, por 2 a 0 (gols de Sunzu e Singuluma). O troféu significou o “double” continental aos corvos e o embalo necessário para partir em busca do bicampeonato da Liga. Nas duas etapas antes da fase de grupos, o Mazembe passou pelo APR, de Ruanda, com vitória por 2 a 1 no placar agregado e eliminou o Djoliba, de Mali, com fáceis 1 a 0 e 3 a 0 nos dois jogos.

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No duelo inicial da fase de grupos, Singuluma fez os dois gols da vitória por 2 a 0 do Mazembe sobre o Dynamos, de Zimbábue, fora de casa. Em seguida, nos dois duelos em casa, a equipe do Congo empatou em 2 a 2 contra o ES Sérif, da Argélia, e venceu o tradicional Espérance-TUN por 2 a 1. No returno do grupo, o Espérance goleou o Mazembe jogando na Tunísia por 3 a 0, derrota que custou a saída do técnico Diego Garzitto. Para seu lugar, assumiu o senegalês Lamine N´Diaye, que tratou de recuperar o time rapidamente com uma vitória por 2 a 1 sobre o Dynamos, em casa. Na última partida, o empate sem gols contra o Sérif, fora de casa, classificou o Mazembe (11 pontos) como o segundo melhor do grupo, atrás apenas do Espérance (13 pontos).

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Na semifinal, os corvos venceram os argelinos do JS Kabylie, em casa, por 3 a 1 (dois gols de Kaluyituka e um de Kasongo) e seguraram o empate sem gols na volta, carimbando o passaporte para a decisão. Nela, um velho conhecido: o Espérance, aquele mesmo que meteu 3 a 0 nos alvinegros na fase de grupos. Ávidos pela vingança e contando com o apoio de 35 mil fanáticos torcedores que lotaram o Stade de la Kenya, em Lubumbashi, o Mazembe mostrou que era mesmo o “Todo Poderoso”, dominou as ações ofensivas e o meio de campo e enfiou 5 a 0 nos tunisianos. Kasongo, duas vezes, Singuluma, também duas vezes, e Kaluyituka, de pênalti, marcaram os gols da vitória que praticamente garantiu o título aos congoleses. Na volta, em Rades, nem os mais de 60 mil torcedores conseguiram assustar o Mazembe, que segurou o empate em 1 a 1. Era o bicampeonato continental do clube alvinegro e a quarta taça da equipe na história. Kaluyituka foi outra vez decisivo para o time ao marcar sete gols e ser o vice-artilheiro da competição, atrás apenas do nigeriano Eneramo, do Espérance, com oito.

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Durante a campanha vitoriosa do Mazembe, a paixão do presidente Katumbi ficou explícita na discrepância de orçamentos entre o clube e seus rivais. Como exemplo, o “budget” do Dynamos, de Zimbábue, para o ano de 2010 era de US$ 200 mil. No Mazembe, Katumbi chegou a dar US$ 250 mil de bônus aos seus jogadores por apenas uma partida. Um exemplo claro da ambição do mandatário em transformar seu time no maior do continente, à la Roman Abramovich, do Chelsea. Os vertiginosos incentivos financeiros ajudaram bastante a caminhada alvinegra nos títulos de 2009 e 2010, claro, mas o talento e a vontade dos jogadores se sobressaíram muito mais do que as notas de 100.

 

Abu Dhabi, voltei!

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Pouco mais de um mês depois do título da Liga dos Campeões da CAF, o Mazembe estava de volta a Abu Dhabi para a disputa de seu segundo Mundial de Clubes da FIFA. Maduros, os jogadores queriam apagar o fiasco do ano anterior e mostrar que não estavam no torneio novamente por acaso. E a partida de estreia mostrou isso. Com um gol de Bedi aos 21´do primeiro tempo, os africanos venceram os mexicanos do Pachuca por 1 a 0 e garantiram um lugar na semifinal. Pelo menos entre os quatro os congoleses já estavam garantidos. Mas, como nas edições anteriores do torneio, a equipe era um mero coadjuvante para a partida contra o Internacional-BRA, campeão da América do Sul e com nomes bem mais conhecidos do que os africanos (Índio, Kléber, Tinga, Guiñazú, Alecsandro, D´Alessandro, Rafael Sóbis, Oscar, Leandro Damião…). Para 99% dos torcedores, o Inter iria vencer ou por goleada ou por um placar apertado. Perder, jamais. Empatar, muito menos. Era o provável e o esperado. Só era…

 

Sorte, velocidade, gols, dancinha e imortalidade

A vibração dos alvinegros...
A vibração dos alvinegros…

 

... E a decepção colorada.
… E a decepção colorada.

 

No dia 14 de dezembro de 2010, Abu Dhabi foi palco do duelo entre brasileiros e congoleses. De um lado, um time tradicional, campeão do mundo em 2006, bicampeão continental em 2006 e 2010 e amplamente favorito. Do outro, uma equipe desconhecida pela maioria do público, comandada por um fanático por futebol endinheirado e com atletas de nomes engraçados e cheios de letras “k”, além de um goleiro de rosto gordinho, cabelo esquisito e que comemorava os gols do seu time com uma dancinha pra lá de exótica. Eram os ingredientes perfeitos para um sapeco histórico do Inter. Ou de uma zebra. O curioso é que a zebra é preta e branca. Como era o uniforme do Mazembe. E ela é natural da África. Como o Mazembe…

Kidiaba, autêntico mascote do Mazembe e ícone do time no Mundial de 2010.
Kidiaba, autêntico mascote do Mazembe e ícone do time no Mundial de 2010.

 

Quando o árbitro apitou o início do jogo, o Inter dominou as ações, mas começou a perder vários e vários gols. Kidiaba ia fazendo suas defesas e mantendo a meta alvinegra intacta. E tudo que não era visível antes da partida ficava claro para todo mundo. O Inter se mostrava incompetente na hora de liquidar o jogo. Celso Roth era frio e apenas um esboço de um técnico. Mais: o Inter já não tinha mais a sorte da Libertadores e a eficiência ofensiva não existia. O relógio começou a correr mais rápido e a mente colorada entrou em parafuso. Já os africanos começaram a gostar do jogo e a perceber que era possível, sim, vencer aquele time que não dava pinta alguma de que queria ganhar. Com vigor físico, boa marcação na intermediária e ótimas jogadas pela direita, o Mazembe cresceu. Virou Todo Poderoso. Fez jus ao nome. E começou a enterrar na areia asiática a escrita de que os africanos eram apenas figurantes em mundiais quando Kabangu recebeu dentro da área do Inter, ajeitou, chutou no canto do goleiro Renan e fez 1 a 0 aos oito minutos do segundo tempo. Festa no Congo! Dancinha de Kidiaba! E pânico nos sete mil colorados em Abu Dhabi e nos milhões em Porto Alegre.

Ao invés de atacar mais os africanos e buscar a virada, o Inter passou a errar sem moderação, os suplentes não resolveram nada (incluindo Giuliano, que já tinha esgotado o estoque de gols salvadores lá na Libertadores) e o Mazembe foi fazendo da partida uma festa. Em contra-ataques e escanteios, os corvos arrancavam “uuuhs” da torcida. Aos 40´, já todo bagunçado e sem disciplina tática alguma, o Inter levou o segundo gol. Kaluyituka, decisivo em duas Ligas dos Campeões da CAF para o Mazembe, mostrou que ainda tinha estoque de sobra para decidir mais uma partida para seu time ao chutar rasteiro de fora da área, no cantinho de Renan, e decretar a vitória africana por 2 a 0. Pronto. O Tuit Puissant Mazembe entrava para o rol dos imortais do futebol. Pela primeira vez na história, ele colocava a África em uma final de Mundial de Clubes. E impunha à América do Sul sua primeira ausência em uma decisão. Quem achava que os africanos eram figurantes, zebras e pura correria, queimava a língua. E queimava feio.

Depois do jogo, o técnico do Mazembe, Lamine N´Diaye, destacou a vitória de seus comandados e cobrou respeito de todos:

“Temos uma cabeça, um cérebro, dois braços, somos como todos. Demonstramos ao mundo inteiro que é preciso levar a África a sério. Parabéns mais uma vez aos meus jogadores. Ganhamos o respeito de todo mundo. Estou feliz de ser o treinador desses jogadores, me sinto orgulhoso deles.”Lamine N´Diaye, em entrevista após a partida.

O técnico Lamine N´Diaye.
O técnico Lamine N´Diaye.

 

Uma derrota comemorada

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Na decisão do Mundial, em 18 de dezembro, o estádio Zayed Sports City tinha cores curiosas em suas arquibancadas: azul, preto, branco… E vermelho! Eram os torcedores do Inter que já haviam comprado o ingresso para a final, mas que foram obrigados a assistir a outro jogo: Mazembe e Internazionale-ITA, campeã da Europa e que deixou o presidente alvinegro, Katumbi, bastante desapontado pelo fato de ser ela, e não o Barcelona, o adversário naquela incrível e sonhada final. Sob enorme pressão, a Inter tratou de despachar os africanos e possíveis problemas já no primeiro tempo e abriu 2 a 0 com gols de Pandev e Eto´o, aos 13´e 17´, respectivamente. Na segunda etapa, Biabiany ampliou e fechou a conta: 3 a 0.

A derrota foi triste para os congoleses, claro, mas não diminuiu a sensação de orgulho e dever mais do que cumprido. Se em 2009 a equipe havia ficado na penúltima posição, em 2010 eles eram vice-campeões do mundo. Kaluyituka, motor do meio de campo do time, foi agraciado com a Bola de Prata do Mundial, atrás apenas de Eto´o, o Bola de Ouro. Era o fim de um ano inesquecível para qualquer torcedor congolês e também para a África, que recebeu também em 2010 sua primeira Copa do Mundo da história.

A base do Mazembe: as investidas pelas pontas do campo eram os maiores artifícios do time que surpreendeu o Internacional.
A base do Mazembe: as investidas pelas pontas do campo eram os maiores artifícios do time que surpreendeu o Internacional.

 

Os poderosos

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Depois da façanha em Abu Dhabi, o Mazembe não conseguiu manter a sina vencedora em 2011 e sucumbiu na Liga dos Campeões da CAF por causa da escalação de um jogador irregular que lhe custou a eliminação ainda na fase preliminar. Em 2012, o time chegou até as semifinais do torneio continental, mas perdeu para o Espérance-TUN por 1 a 0 no placar agregado. Embora tenha tido azar fora de casa, dentro dela o clube seguiu soberano e faturou os troféus nacionais de 2011 (invicto), 2012 e 2013 (invicto). O vice-campeonato colocou o clube num patamar diferente e acima do egípcio Al-Ahly, maior campeão da África, mas que apenas cumpriu tabela nos Mundiais que disputou até hoje. Já o Mazembe foi único. Quebrou o previsível. Deu diferenciação à monotonia. Pesadelos eternos aos colorados. Piadas garantidas aos gremistas. E orgulho puro à República Democrática do Congo. Um esquadrão imortal.

Relatos atuais dizem que imagens como esta ainda assustam os colorados em pesadelos...
Relatos atuais dizem que imagens como esta ainda assustam muitos colorados…

 

Os personagens:

Kidiaba: relativamente baixo para um goleiro (mede 1,82m), Muteba Kidiaba foi o grande ícone do Mazembe naqueles anos de ouro e ídolo incontestável da torcida. Com defesas de muito reflexo e as tradicionais dancinhas “kika-kika”, o goleiro foi fundamental para os títulos e sucesso da equipe em 2009 e 2010. Há mais de 10 anos no clube, virou patrimônio de Lubumbashi e herói após a vitória sobre o Inter. É convocado constantemente para a seleção do Congo.

Nkulukuta: lateral muito regular na marcação e rápido no apoio ao ataque, foi titular na maioria dos jogos da equipe em 2010. Fez grandes partidas durante a Liga dos Campeões da CAF e segurou a pressão do Inter no Mundial.

Mihayo: o capitão do time podia jogar tanto no meio de campo quanto na defesa e esbanjava vigor físico e eficiência nos passes e desarmes. Fez grandes temporadas pelo Mazembe e chegou a despertar o interesse do Arsenal-ING. Se aposentou tempo depois da campanha do vice-campeonato mundial e virou assistente técnico no próprio Mazembe.

Kimwaki: zagueiro ou lateral, Joël Kimwaki foi outro jogador bastante regular do elenco do Mazembe em 2010. Muito alto (1,90m), era bom nas jogadas aéreas, eterno ponto fraco das equipes africanas.

Kasusula: cria das categorias de base do clube, Kasusula jogou na lateral-esquerda do time durante as conquistas de 2009 e 2010. Era bom nos desarmes e costumava ir à linha de fundo, marcando alguns golzinhos.

Kasongo: outro que começou no Mazembe (em 2004), Kasongo foi uma das boas opções para o meio de campo se posicionando na maioria das vezes à frente da zaga, como primeiro homem de meio de campo. Quando era escalado um pouco mais avançado, se aventurava no ataque e marcava gols, principalmente na reta final da Liga dos Campeões da CAF de 2010 (incluindo dois na final contra o Espérance).

Kabangu: o meia jamais será esquecido pela torcida do Mazembe e tão pouco pela colorada. Afinal, foi dele o gol que abriu a vitória do clube africano na semifinal do Mundial de 2010. Polivalente, Mulota Kabangu podia jogar como meia pela direita, ponta-direita e atacante. Marcou vários gols decisivos para o Mazembe entre 2009 e 2010 e foi um dos titulares absolutos tanto do técnico Garzitto quanto do técnico N´Diaye. Ágil, com boa dose de técnica, driblador e famoso pelos cortes secos nos oponentes, Kabangu foi essencial para o sucesso alvinegro naqueles anos de ouro. Em 2012, foi jogar no Anderlecht-BEL.

Sunzu: é um dos maiores nomes do futebol recente de Zâmbia e foi outro jogador crucial para o esquema tático do Mazembe entre 2009 e 2010. Zagueiro ou volante, Stoppila Sunzu fez brilhantes partidas com a camisa alvinegra e mostrou muita personalidade e vigor físico. Fez falta para o time na partida contra o Inter, quando não jogou por ter sido expulso no duelo anterior contra o Pachuca-MEX. Muito querido pela torcida congolesa, Sunzu é ídolo também em seu país, principalmente após marcar o gol do título de Zâmbia na final da Copa Africana de Nações de 2012.

Bedi: o meio-campista se entendeu muito bem com os companheiros Nkulukuta e Kabangu e fez ótimas triangulações pelo lado direito do campo em muitas partidas do Mazembe. Rápido e com boa visão de jogo, Hugues Bedi Mbenza se destacou no esquema tático do time, marcou um gol no Mundial de 2009 e jogou muito em 2010.

Lusadisu: jogava como meio-campista no time e fez boas partidas quando jogava como titular. Fazia o simples na marcação e até se arriscava no ataque.

Kaluyituka: foi o grande homem das decisões e dos gols importantes do Mazembe entre 2009 e 2010. Podia jogar recuado no meio de campo ou como legítimo atacante. Rápido, oportunista e com muito fôlego, Kaluyituka marcou gols inesquecíveis na campanha do bicampeonato continental do Mazembe e, claro, no Mundial de 2010, quando fechou o caixão do Inter com um belo chute rasteiro no cantinho do goleiro Renan. Muito identificado com o clube, o congolês jogou de 2007 até 2011 no time alvinegro e faturou a Bola de Prata como segundo melhor jogador do Mundial de 2010.

Singuluma: outro bom nome do futebol de Zâmbia, Singuluma foi o responsável pelas ações ofensivas do Mazembe pelo lado esquerdo do campo naqueles anos de ouro. Marcou vários gols importantes e deixou sua marca duas vezes na final da Liga dos Campeões da CAF de 2010.

Ekanga: tinha a função de centroavante do Mazembe, mas seu papel era mais para confundir as defesas para a chegada dos companheiros pelas pontas do campo. O camaronês não marcou muitos gols em sua passagem pelo clube, mas cumpriu seu papel tático nas campanhas vencedoras de 2009 e 2010.

Mputu: seria o capitão do Mazembe no Mundial de 2010, mas foi suspenso pela FIFA em setembro daquele ano após liderar agressões a um árbitro após um gol anulado. O atacante e meio-campista fez falta para a equipe e seria um artifício a mais para o técnico N´Diaye, afinal, Mputu vivia ótima fase pelo clube, marcava vários gols, tinha velocidade, técnica e era tratado até como o “novo Eto´o”. Exageros a parte, Mputu foi fundamental para o título continental do Mazembe em 2009, quando marcou seis gols.

Diego Garzitto e Lamine N´Diaye (Técnicos): o francês Garzitto começou a moldar o Mazembe em 2009, quando construiu um time rápido e eficiente pelas pontas que faturou o campeonato nacional de maneira invicta e a Liga dos Campeões da CAF depois de 41 anos de jejum. Em 2010, a queda de rendimento da equipe e a derrota por 3 a 0 para o Espérance culminaram com sua saída. Já Lamine N´Diaye mostrou talento e alta dose de motivação para levar o clube ao bicampeonato africano e ao triunfo eterno sobre o Inter no Mundial. Entusiasmado e energético, ganhou a confiança dos jogadores, da torcida e fez história.

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