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Esquadrão Imortal – Feyenoord 1968-1974

Feyenoord 1969-1970HOME

Grandes feitos: Campeão Mundial Interclubes (1970), Campeão da Liga dos Campeões da UEFA (1969-1970), Campeão da Copa da UEFA (1973-1974), Tricampeão Holandês (1968-1969, 1970-1971 e 1973-1974) e Campeão da Copa da Holanda (1968-1969). Foi o primeiro clube holandês da história a conquistar os títulos da Liga dos Campeões da UEFA, da Copa da UEFA e do Mundial Interclubes.

Time base: Eddy Treytel (Eddy Graafland); Piet Romeijn (Wim Rijsbergen), Theo Laseroms (Joop van Daele), Rinus Israël e Theo van Duivenbode (Harry Vos); Franz Hasil (Theo de Jong), Wim Jansen e Willem van Hanegem; Henk Wery (Ruud Geels / Peter Ressel), Ove Kindvall (Lex Schoenmaker) e Coen Moulijn (Jorgen Kristensen). Técnicos: Ben Peeters (1968-1969), Ernst Happel (1969-1973) e Wiel Coerver (1973-1974).

 

“Os Pioneiros da Holanda”

Por Guilherme Diniz

Em 1969, a Holanda pensou que teria pela primeira vez em sua história futebolística um clube de seu ventre campeão europeu. No entanto, o sonho ruiu quando o Ajax de Rinus Michels e Johan Cruyff perdeu de goleada para o Milan-ITA de Nereo Rocco por 4 a 1 na decisão. No ano seguinte, uma equipe de Roterdã muito bem organizada, equilibrada e focada conseguiu apagar o vexame alvirrubro e conquistou a Europa após derrotar o grande Celtic-ESC de Jock Stein na final. Alguns meses depois, os holandeses derrotaram os argentinos do Estudiantes e conquistaram o mundo. Os anos se passaram e lá estavam eles novamente em uma final continental, dessa vez pela Copa da UEFA de 1973-1974, contra o Tottenham Hotspur-ING. E outra vez eles venceram.

Esses três títulos vieram acompanhados de taças nacionais, debute de ídolos e a consagração de um mestre do futebol: Ernst Happel, técnico austríaco que se consolidou como um dos mais inteligentes e brilhantes de todos os tempos. E qual é o time que estamos falando? É claro que é o Feyenoord, o pioneiro holandês e responsável por colocar a Holanda no rol dos países que possuem clubes campeões continentais e mundiais. É hora de relembrar.

 

Ventos prósperos

Coen Moulijn, um dos maiores atacantes da história do Feyenoord.
Coen Moulijn, um dos maiores atacantes da história do Feyenoord.

 

Depois de um ótimo começo de década de 60 com três títulos nacionais conquistados e uma semifinal de Liga dos Campeões disputada, o Feyenoord foi para a segunda metade daquela era com o intuito de alcançar voos mais altos e pelo menos tentar ir mais longe em alguma competição continental, à época um sonho distante para os clubes holandeses. Sob o comando do técnico Ben Peeters desde 1967, o time mostrou força na temporada de 1968-1969 e conquistou a Copa da Holanda e o Campeonato Holandês. Na Copa, a equipe precisou realizar uma partida extra contra o PSV na decisão após empate em 1 a 1 no primeiro jogo. Jogando em casa, o time de Roterdã bateu o rival de Eindhoven por 2 a 0 com gols de Wery e van Hanegem. No campeonato nacional, a equipe venceu 26 dos 34 jogos que disputou, empatando cinco e perdendo apenas três. Foram 73 gols marcados e a melhor defesa da competição (21 gols sofridos).

Mesmo com pouco tempo no cargo, Ben Peeters conseguiu duas taças na temporada 1968-1969 pelo Feyenoord.
Mesmo com pouco tempo no cargo, Ben Peeters conseguiu duas taças na temporada 1968-1969 pelo Feyenoord.

 

Com a taça, o Feyenoord conseguiu uma vaga na Liga dos Campeões da UEFA de 1969-1970, competição que seria a vedete do clube principalmente após o rival Ajax fracassar no torneio de 1968-1969 e ter uma derrota “dupla” na decisão, afinal, os alvirrubros perderam para o Milan por 4 a 1 e a chance de se tornarem o primeiro clube da Holanda campeão europeu.

 

A chegada do mestre

FUSSBALL - DBL, Hamburger SV

Em 1969, o Feyenoord decidiu recolocar o técnico Ben Peeters no comando das categorias de base do clube e contratou o austríaco Ernst Happel para assumir a equipe principal. O treinador chegou com moral e um passado de muito sucesso no futebol holandês desde 1962, quando dirigiu o ADO Den Haag e conquistou a Copa da Holanda de 1967-1968. Happel encontrou em Roterdã uma base sólida e jogadores muito talentosos que formavam um esquadrão coeso, equilibrado e extremamente competitivo, além de ser difícil de ser derrotado e com várias opções para a construção de jogadas no meio de campo e no ataque. Nomes como Treytel, Romeijn, Laseroms, Israël e van Duivenbode (que era do Ajax, mas foi dispensado por Rinus Michels por “não ter qualidade para ser campeão”) formavam o sistema defensivo que seria a grande arma do time no campeonato nacional e em partidas eliminatórias. Do meio para frente, velocidade, visão de jogo e ótimas trocas de passes eram apenas algumas das características de Franz Hasil, Wim Jansen, van Hanegem, Wery, Kindvall e o driblador Moulijn.

Depois de esquematizar o time num 4-3-3 clássico e traçar a Liga dos Campeões como principal meta da temporada, Ernst Happel tentou, mas não conseguiu o título do Campeonato Holandês, que acabou ficando com o Ajax. Mesmo com o vice, a equipe ganhou destaque ao ter novamente a melhor defesa do torneio com apenas 22 gols sofridos em 34 jogos, dos quais 22 foram vencidos, 11 empatados e apenas um perdido. Sem a coroa nacional, era hora de o time lutar por um ainda inalcançável título europeu.

 

Ensinando o rival

Bem organizado e já com os objetivos traçados por seu comandante, o Feyenoord começou sua caminhada continental contra o fraquíssimo KR Reykjavík, da Islândia, e simplesmente humilhou o rival nos dois jogos: 12 a 2 (maior goleada na história da competição) e 4 a 0. A partida seguinte foi um teste de fogo: o Milan-ITA, então campeão da Europa e do mundo. No primeiro jogo, em Milão, vitória italiana por 1 a 0. Na volta, mais de 60 mil pessoas empurraram os alvirrubros, que venceram por 2 a 0 (gols de Jansen e van Hanegem) e conseguiram uma apoteótica classificação – e ainda por cima ensinaram ao Ajax como derrotar os italianos. Nas quartas de final, a classificação veio após vitória por 2 a 1 no agregado sobre os alemães do Vorwärts Berlin. O último desafio antes da final foi o Legia Warsaw-POL, dos craques Gadocha e Deyna. Após um 0 a 0 no primeiro jogo, o Feyenoord voltou a mostrar força futebolística e também do seu alçapão e venceu os poloneses por 2 a 0 (gols de van Hanegem e Hasil). A Holanda estava pelo segundo ano seguido na final da Liga, dessa vez com os vermelhos e brancos de Roterdã. Era hora de apagar o vice do ano anterior e faturar uma taça inédita para o país.

No Feyenoord de 1970, Happel mostrou ao continente seu talento em armar equipes competitivas, velozes e muito fortes tanto na parte física quanto na tática.
No Feyenoord de 1970, Happel mostrou ao continente seu talento em armar equipes competitivas, velozes e muito fortes tanto na parte física quanto na tática.

 

Europa holandesa

Kindvall marca, e o Feyenoord conquista sua primeira Liga dos Campeões da UEFA.
Kindvall marca e o Feyenoord conquista sua primeira Liga dos Campeões da UEFA.

 

A final da Liga dos Campeões de 1970, disputada no estádio San Siro, em Milão-ITA, colocou o Feyenoord de Ernst Happel contra o Celtic-ESC de Jock Stein. Era o futebol técnico, ofensivo e veloz dos holandeses contra a força, talento e precisão dos escoceses, campeões de 1967 e lutando pelo bi. O confronto era aberto e não tinha favorito, mas a mostra da inteligência tática de Happel ao frear completamente o meio de campo escocês com as atuações impecáveis de Hasil, van Hanegem e Jansen no encalço de Murdoch, Connely e Auld, colocou o Feyenoord em vantagem desde o início do jogo.

Mesmo com um gol sofrido aos 30´, o clube holandês igualou o placar apenas dois minutos depois com o zagueirão Israël. Os minutos se passaram, o gol teimou em não sair, e a partida foi para a prorrogação. Nela, o Feyenoord mostrou muita força de vontade e sangue frio para virar o jogo faltando quatro minutos para o fim com um belo gol marcado pelo sueco Kindvall. O placar de 2 a 1 permaneceu até o apito final e a equipe de Happel comemorou, pela primeira vez em sua história e na história do futebol holandês, um título da Liga dos Campeões da UEFA.

Kindvall e Israël carregam a Liga dos Campeões de 1970.
Kindvall e Israël carregam a taça da Liga dos Campeões de 1970.

 

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O Feyenoord conseguia naquela noite de 06 de maio de 1970 eclipsar as façanhas domésticas do rival Ajax e fazer o continente inteiro olhar com muito mais atenção para Roterdã, a capital europeia do futebol na temporada de 1969-1970. Na volta para casa, centenas de milhares de torcedores celebraram junto com seus heróis o título continental, com direito a trens especiais no caminho de volta de Milão à Roterdã e inúmeros fanáticos espalhados pelas ruas da cidade.

Em pé: Jan Boskamp, Eddy Treytel, Joop Van Daele, Rinus Israël, Theo Laseroms, Matthias Maiwald, Abraham Geilman, Willem Van Hanegem e o técnico Ernst Happel. Sentados: Henk Wery, Dick Schneider, Franz Hasil, Theo Van Duivenbode, Wim Jansen, Coen Moulijn, Piet Romeijn and Ove Kindvall.

 

Feijenoord. foto VINCENT MENTZEL 1970

 

A brava e heroica conquista do mundo

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Ainda em 1970, o Feyenoord disputou contra os temidos e selvagens argentinos do Estudiantes o título do Mundial Interclubes. A equipe de La Plata havia chocado o mundo em 1969 ao tirar sangue, literalmente, do Milan na decisão do torneio naquele ano após partidas extremamente ríspidas e cheias de jogadas violentas. Os argentinos foram derrotados e queriam recuperar o título que eles haviam conquistado apenas em 1968, contra o Manchester United-ING. No primeiro jogo, em La Bombonera, o Feyenoord sentiu a pressão inimiga e levou dois gols em apenas 12 minutos (marcados por Echecopar e Verón). Ainda no primeiro tempo, van Hanegem diminuiu para os holandeses e Kindvall, herói da conquista continental, empatou no segundo tempo. O resultado foi comemorado como uma vitória pela equipe europeia, que só precisaria de uma vitória simples em Roterdã para ficar com a taça.

Em 09 de setembro de 1970, o estádio De Kuip, em Roterdã, estava tomado por mais de 60 mil pessoas para a grande final do Mundial Interclubes. A partida seria complicadíssima para os holandeses, afinal, os argentinos não queriam desperdiçar a chance de ser bicampeões do mundo depois de uma viagem tão longa até a Holanda. O jogo, claro, foi tenso, mas o Feyenoord conseguiu sua glória com um gol do zagueiro van Daele, que chutou forte, rasteiro e de fora da área, aos 18´do segundo tempo. O estádio inteiro explodiu em alegria, bem como os irados nervos dos argentinos.

Van Daele vibra: o Feyenoord era campeão mundial.
Van Daele vibra: o Feyenoord era campeão mundial.

 

Logo após o gol, o zagueiro Malbernat correu em direção a van Daele e arrancou de seu rosto os óculos que ele utilizava (simples e sem as parafernálias e presilhas comuns nos anos 90, em especial no holandês Davids). Van Daele ficou sem reação e viu meio que embaçado seu objeto ser quebrado pelo rival. Malbernat teria dito a van Daele que ele “não era permitido jogar de óculos, pelo menos não na América do Sul”. A desculpa não colou e tampouco prejudicou o desempenho do Feyenoord, que segurou o placar até o fim e festejou a conquista inédita do Mundial Interclubes, inédita, também, para o futebol holandês. Restou ao Estudiantes voltar para casa com mais um vice na conta e a fama de mal perdedor ainda mais ressaltada. Os óculos de van Daele foram encontrados e viraram um requisitado artigo no museu do Feyenoord.

Óculos do defensor seguem imortalizados no museu do Feyenoord até hoje.
Os óculos do defensor seguem imortalizados no museu do Feyenoord até hoje.

 

Reconquista holandesa e novo comandante

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Depois do apogeu, o Feyenoord teve uma natural queda de rendimento a nível continental e não conseguiu repetir o sucesso de antes na Liga dos Campeões. A equipe caiu logo na estreia da competição após partidas sofríveis contra o UTA Arad-ROM (empate em 1 a 1, em casa, e 0 a 0, fora. Os romenos se classificaram pelo critério de gols marcados fora). No entanto, os alvirrubros de Roterdã aproveitaram a concentração do rival Ajax na Liga para faturar o Campeonato Holandês com 26 vitórias, cinco empates, três derrotas, 82 gols marcados e 25 sofridos. Ove Kindvall foi o artilheiro do torneio com 24 gols e a equipe mostrou força ao permanecer invicta contra os dois maiores rivais. Em casa, o Feyenoord empatou em 1 a 1 com o Ajax e venceu o PSV por 2 a 1. Fora, bateu o Ajax por 3 a 1 e o PSV por 3 a 2.

Na temporada 1971-1972, o Feyenoord deu pinta de que iria alcançar uma nova final europeia depois de destroçar os gregos do Olympiacos Nicosia na primeira fase da Liga com um incrível 17 a 0 no placar agregado (8 a 0 em casa e 9 a 0 fora) e após bater o Dinamo Bucareste-ROM por 5 a 0 no agregado. No entanto, os holandeses enfrentaram o Benfica-POR e não viram a cor da bola na partida de volta das quartas de final (a ida foi 1 a 0 para o Feyenoord) e perderam por 5 a 1 em Lisboa, dando adeus à competição e vendo o rival Ajax faturar o bicampeonato. O time passou em branco naquela temporada e na seguinte, fato que levou o técnico Ernst Happel a se demitir do cargo por acreditar que a simetria entre ele e o elenco, bem como a disciplina, terem acabado. Para o lugar do austríaco a diretoria trouxe o holandês Wiel Coerver, um estudioso do esporte que ficaria conhecido como o “Albert Einstein do futebol” por fazer diversas análises de jogadores de talento e levar para campo o conceito que o aprendizado no futebol não é apenas “genético”, mas sim progressivo e capaz de ser ensinado de forma estruturada, dos fundamentos básicos de domínio de bola e passes até os ataques rápidos, dribles complexos e ataques em grupo.

Com toda essa filosofia, Coerver passou a aperfeiçoar cada vez mais as habilidades dos jogadores do Feyenoord e a ensiná-los como melhorar suas técnicas de chute, passes, dribles e conhecimento tático. Todos ficaram encantados com o jeito de trabalho do holandês e viam uma nova era de sucesso começar em Roterdã.

 

Nova taça nacional e apetite pela Europa

Van Hanegem persegue Cruyff em um dos muitos embates entre a dupla nos anos 70.
Van Hanegem persegue Cruyff em um dos muitos embates entre a dupla nos anos 70.

 

O trabalho de Coerver deu resultado logo de cara e levou o Feyenoord ao título do Campeonato Holandês da temporada 1973-1974. A equipe aprendeu bem rápido os ensinamentos de seu professor e teve, depois de muito tempo, o melhor ataque da competição com 96 gols marcados em 34 jogos (e apenas 28 gols sofridos). Os alvirrubros venceram 25 partidas, empataram seis e perderam apenas três. Paralelo à disputa do torneio nacional, o Feyenoord disputou a Copa da UEFA, torneio que jamais havia sido conquistado por um clube holandês. Sabendo disso, o técnico Coerver não menosprezou a competição e fez com que seus jogadores se dedicassem em ambas as competições.

Na primeira fase, o time bateu o Öster-SUE por 3 a 1 e 2 a 1. Em seguida, triunfo sobre o Gwardia Warszawa-POL por 3 a 2 no agregado, 3 a 3 no Standard Liège-BEL (a classificação veio graças ao gol marcado fora na derrota por 3 a 1 contra os belgas. Na volta, vitória holandesa por 2 a 0) e 4 a 2 no Ruch Chorzów-POL. Na semifinal, duelo equilibrado contra o Stuttgart-ALE. No primeiro jogo, em Roterdã, Brenninger abriu o placar para os alemães aos 24´do primeiro tempo, mas Schoenmaker virou para o Feyenoord aos 17´e aos 23´do segundo. A volta foi na VfB Arena, em Stuttgart, mas o time holandês não se intimidou e abriu 2 a 0 com gols de Ressel e Schoenmaker. Os alemães até empataram, mas o resultado de 2 a 2 colocou o Feyenoord na grande final da Copa.

No Feyenoord de 1974, o ataque ficou ainda mais forte com o aprimoramento proposto pelo técnico Coerver.
No Feyenoord de 1974, o ataque ficou ainda mais forte com o aprimoramento técnico realizado por Wiel Coerver.

 

A força de um campeão europeu

Theo de Jong passa pelos marcadores ingleses: força do Feyenoord pesou na final e a taça ficou na Holanda.
Theo de Jong passa pelos marcadores ingleses: força do Feyenoord pesou na final e a taça ficou na Holanda.

 

Naquela época, a Copa da UEFA era decidida em duas partidas, uma na casa de cada time. O Feyenoord iria começar a final fora de seus domínios, visitando o Tottenham Hotspur na Inglaterra. Mais de 46 mil pessoas estavam presentes no White Hart Lane, em Londres, para empurrar a trupe de Pat Jennings e Martin Peters rumo à vitória. Só que os ingleses tiveram pela frente não só o Feyenoord e seus talentosos jogadores, mas também a força de uma camisa que já tinha conquistado um título mundial e um europeu. Mike England abriu o placar para os Spurs aos 39´, mas van Hanegem empatou quatro minutos depois. No segundo tempo, van Daele fez contra e colocou os ingleses na frente, mas de Jong anotou mais um e sacramentou um ótimo empate para os holandeses.

O técnico Wiel Coerver ergue a Copa da UEFA de 1974.
O técnico Wiel Coerver ergue a Copa da UEFA de 1974.

 

Na volta, os pouco mais de 59 mil torcedores presentes em Roterdã viram uma partida irrepreensível do Feyenoord, que derrotou o Tottenham por 2 a 0 (gols de Rijsbergen e Ressel) e conquistou a inédita Copa da UEFA. O único fato negativo daquele jogo foi a baderna causada pelos hooligans ingleses, que armaram uma confusão nas arquibancadas após o jogo. Porém, o mais importante foi o triunfo histórico do Feyenoord, que voltou a deixar os rivais domésticos loucos de inveja ao levantar mais uma taça inédita para o futebol holandês. Ser torcedor do clube de Roterdã naquela época era fácil. E uma maravilha.

 

Seca, títulos esporádicos e lembranças eternas

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Depois de conquistar praticamente tudo naquela primeira metade dos anos 70, o Feyenoord perdeu força no cenário nacional, viu suas estrelas envelhecerem e teve que esperar até 1984 para voltar a levantar uma taça do Campeonato Holandês. Depois disso, o clube teve alguns bons momentos nos anos 90 e um mágico 2002, quando conquistou, em casa, o bicampeonato da Copa da UEFA ao bater o Borussia Dortmund-ALE por 3 a 2 na final graças ao talento de Van Hooijdonk, Tomasson e Van Persie.

Depois disso, o clube só faturou uma Copa da Holanda em 2008 e vive momentos bem complicados, passando longe de brigar por títulos tanto em casa quanto fora dela. Enquanto a má fase não vai embora, a torcida vive das lembranças de uma época em que o Feyenoord era uma potência do futebol europeu e mundial, dono de uma das equipes mais organizadas e competitivas do planeta e responsável por transformar o futebol holandês em vencedor a nível internacional. Um esquadrão imortal.

 

Nota importante: o Imortais agradece a colaboração do leitor Koos Guis, holandês e torcedor do Feyenoord, que nos forneceu preciosas informações sobre este esquadrão imortal. Muito obrigado! 🙂

 

Os personagens:

Eddy Treytel: chegou ao Feyenoord em 1968 e só saiu mais de uma década depois. Era muito ágil, seguro e titular do gol da equipe em praticamente todos os jogos. Só não jogou a final da Liga dos Campeões de 1970 por estar em um mau momento e ser preterido por Ernst Happel. Ganhou quase tudo com o clube de Roterdã e foi ídolo da torcida.

Eddy Graafland: estava prestes a se aposentar quando teve a honra de jogar a final da Liga dos Campeões de 1970 pelo Feyenoord. Tinha grande presença física e jogou de 1958 até 1970 em Roterdã. Encerrou a carreira da melhor maneira possível: como campeão da Europa.

Piet Romeijn: jogou uma década no Feyenoord e deu muita força física ao excelente sistema defensivo do time naquele final de anos 60. Era implacável na marcação e demonstrava muita vontade em campo. Disputou mais de 250 partidas pelo clube.

Wim Rijsbergen: jogou de 1971 até 1978 em Roterdã e foi um dos principais defensores do futebol holandês no período. Foi convocado constantemente para a seleção da Holanda no período e teve papel fundamental no título holandês e da Copa da UEFA na temporada 1973-1974, marcando um gol na decisão contra o Tottenham.

Theo Laseroms: o “Tanque” formou, ao lado de Israël, uma das mais temidas e fortes duplas de zaga da história do futebol holandês em todos os tempos. Tinha ótima noção de posicionamento, era impecável na marcação e nas bolas aéreas e transmitia muita segurança à frente da defesa. Marcou época no Feyenoord e virou ídolo da torcida.

Joop van Daele: o zagueiro saiu do banco para entrar na história do Feyenoord ao marcar o gol do título mundial do clube em 1970, na tensa partida contra os argentinos do Estudiantes. Além de ter anotado o tento da vitória naquele jogo, van Daele ainda ganhou status de herói ao ter seus óculos quebrados pelos argentinos logo após o gol. O objeto virou peça de museu e o zagueiro um mito em Roterdã. Depois da conquista, o jogador virou titular e foi companheiro de Israël na zaga do time comandado por Wiel Coerver.

Rinus Israël: era um dos líderes do time e principal nome da defesa ao aliar técnica, força física e espírito vencedor. Costumava deixar a zaga para se aventurar no ataque, marcando vários gols. Tinha grande visão de jogo, dava bons lançamentos e se impunha perante os adversários, fato que lhe deu o apelido de Iron Rinus (Rinus de Ferro). Conquistou sete títulos pelo Feyenoord de 1966 até 1974 e marcou presença em 47 jogos pela seleção holandesa. Ídolo eterno da torcida.

Theo van Duivenbode: Rinus Michels dispensou o defensor em 1969 por acreditar que ele não tinha espírito de campeão. Pobre treinador… Theo van Duivenbode não só provou o contrário como foi um dos principais jogadores do Feyenoord na conquista da Liga dos Campeões de 1970, a taça que ele perdeu com a camisa do Ajax no ano anterior. Era muito bom nos passes e na marcação. Jogou de 1969 até 1973 no time de Roterdã.

Harry Vos: o lateral encerrou a carreira no Feyenoord jogando muito bem e sendo um dos principais jogadores nas conquistas de 1974 sob o comando do técnico Coerver. Dava ótimos lançamentos e suporte ao meio de campo pelo lado esquerdo com muita eficiência.

Franz Hasil: o meio campista austríaco formou, ao lado de Wim Jansen e Willem van Hanegem, o fabuloso trio criativo do Feyenoord naquela inesquecível temporada de 1969-1970. Foi um dos principais jogadores de seu tempo ao aliar técnica, precisão nos passes e ótima visão de jogo. Jogou de 1969 até 1973 no time de Roterdã.

Theo de Jong: com a saída de Hasil, o holandês assumiu a titularidade do meio de campo do Feyenoord em 1973 para se tornar um dos principais jogadores do time durante as conquistas do Campeonato Holandês e da Copa da UEFA de 1974. Fez o gol de empate no primeiro jogo da final contra o Tottenham e se notabilizou pelos gols marcados: foram mais de 60 em 163 jogos só na Eredivisie com a camisa do Feyenoord.

Wim Jansen: era um dos jogadores mais versáteis do Feyenoord, podendo jogar tanto como volante clássico quanto um meia armador de jogadas. Foi simplesmente o motor do time naqueles anos de ouro e um símbolo da era mais fantástica da história do Feyenoord. Foram mais de 15 anos vestindo a camisa do clube de Roterdã. Teve a honra de ser titular da incrível Holanda que disputou a Copa do Mundo de 1974.

Willem van Hanegem: outro membro da Laranja Mecânica de 1974 e de qualquer time dos sonhos do Feyenoord, van Hanegem foi um dos jogadores mais completos do futebol europeu em todos os tempos. Podia atacar, marcar, driblar e comandar o time com velocidade e talento tanto no ataque quanto na defesa. Tinha uma perna esquerda letal e precisa em cobranças de falta, lançamentos em profundidade e com efeitos fantásticos. Foi um dos maiores craques de seu tempo e referência máxima no esquema de jogo daquele Feyenoord imortal. Jogou de 1968 até 1976 na equipe e voltou para encerrar a carreira em Roterdã no ano de 1983.

Henk Wery: formou o ataque do Feyenoord naquele final de anos 60 ao lado de Kindvall e Moulijn. Marcou gols importantes e teve destaque no veloz esquema montado pelo técnico Ernst Happel.

Ruud Geels: foi um dos mais prolíficos atacantes do futebol holandês nos anos 70 e um dos principais do Feyenoord entre 1966 e 1970. Marcou seis gols na Liga dos Campeões de 1969-1970 e se tornou um dos destaques da campanha do título. Teve destaque em várias equipes do futebol europeu e foi quatro vezes seguidas o artilheiro do campeonato nacional entre 1975 e 1978 com a camisa do Ajax.

Peter Ressel: atacante muito habilidoso e rápido, Ressel foi um dos destaques do Feyenoord entre 1972 e 1975 e um dos heróis do título da Copa da UEFA de 1974, quando marcou o gol do título. Formou um trio de ataque inesquecível ao lado de Schoenmaker e Kristensen.

Ove Kindvall: no trio de ataque do Feyenoord naquele final de anos 60, cabia ao sueco Ove Kindvall o status de matador. E ele cumpriu à risca a função. Foram três artilharias da Eredivisie (1968, 28 gols; 1969, 30 gols; 1971, 24 gols), a artilharia do time na Liga dos Campeões de 1969-1970 (7 gols) e 129 gols em 144 jogos do Campeonato Holandês entre 1966 e 1971. Conquistou quase tudo com a camisa vermelha e branca do Feyenoord, fez o gol do título europeu de 1970 e se consagrou como um dos grandes atacantes de seu tempo com muita precisão nos chutes e ótimo posicionamento.

Lex Schoenmaker: o atacante holandês teve grandes atuações na reta final da campanha do título da Copa da UEFA de 1974, na qual foi artilheiro com 11 gols. Jogou quatro anos em Roterdã e manteve a sina de bons goleadores do time no período.

Coen Moulijn: tinha uma velocidade alucinante e imensa facilidade para o drible. De seus pés, nasceram dezenas de gols do Feyenoord entre 1955 e 1972, período de sua permanência no clube de Roterdã. Encantou os torcedores com seu futebol técnico e sempre ofensivo e virou uma lenda digna de estátua. Disputou mais de 500 partidas com a camisa do clube (sendo 487 pelo Campeonato Holandês) e é considerado por muitos como o melhor jogador da história do Feyenoord.

Jorgen Kristensen: como ponta ou meia, o dinamarquês dava show em campo com muita habilidade, técnica e visão de jogo. Foi um dos destaques da campanha do título da Copa da UEFA de 1974 e só não brilhou pela seleção dinamarquesa pelo fato de concorrer com vários outros jogadores na época, tais como Jensen, le Fevre, Rontved e Simonsen.

Ben Peeters, Ernst Happel e Wiel Coerver (Técnicos): o trio teve enorme destaque para a história do Feyenoord, mas Ernst Happel é, sem dúvida, a maior estrela pelo fato de conquistar as taças mais importantes do período (Mundial e Liga dos Campeões) e por dar ao clube uma competitivade enorme em qualquer torneio. Wiel Coerver inovou com suas táticas e treinamentos e também marcou época com as taças de 1974, além de dar ao ataque do time (totalmente reformulado) mais poder de fogo e precisão na hora de concluir.

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Comentários encerrados

3 Comentários

  1. Muito interessante esse post. Como eu pensava, o Feyenoord não era somente uma equipe competitiva, mas além disso, praticava um futebol estupendo. Aí que vemos a grandeza do Ajax ao ofuscar um pouco essa grande equipe.

    A história dos óculos cada vez mais força a reputação do Estudiantes, o colocando, talvez, como um dos times mais carniceiros de todos os tempos.

    Aproveitando o embalo, penso que seria muito interessante você falar mais sobre Van Hanegem. Assim, poderemos medir qual era realmente seu nível. Confesso que pelo pouco dito sobre ele, já pude perceber que é o suficiente pra despertar interesse.

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