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Seleções Imortais – Colômbia 1990-1994

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Em pé: Córdoba, Perea, Álvarez, Rincón, Valencia e Mendoza. Agachados: Asprilla, Gómez, Pérez, Herrera e Valderrama

 

Grandes feitos: 14ª colocada na Copa do Mundo da FIFA (1990), Terceira colocada na Copa América (1993), Quarta colocada na Copa América (1991) e responsável pela maior derrota da história da Argentina em sua própria casa em jogos internacionais (0x5, em Buenos Aires, no dia 5 de setembro de 1993).

Time base: René Higuita (Óscar Córdoba); Luis Fernando Herrera, Luis Carlos Perea, Andrés Escobar (Alexis Mendoza) e Wilson Pérez (Gildardo Gómez); Leonel Álvarez, Gabriel Jaime Gómez, Freddy Rincón e Carlos Valderrama; Faustino Asprilla (Bernardo Redín) e Adolfo Valencia (Arnoldo Iguarán / Víctor Hugo Aristizábal). Técnicos: Francisco Maturana (1990 e 1993-1994), Luis Augusto Garcia (1991) e Humberto Ortiz (1992).

“A Colômbia Dourada”

Por Guilherme Diniz

Pode uma seleção que não ganhou nada e que fez campanhas fracas em duas Copas do Mundo se tornar imortal e lembrada por qualquer amante do futebol? Pode. Se essa seleção for a Colômbia do começo dos anos 1990, ela pode e muito. Pergunte para qualquer um se ele se lembra da magia de Carlos Valderrama, aquele do cabelão loiro. Questione também sobre o futebol virtuoso de Freddy Rincón, o volante que jogava de meia e até atacante. Ah, tem também aquele atacante habilidoso que quando estava desperto jogava em um nível absurdo de qualidade, um tal de Faustino Asprilla. E o goleiro René Higuita, elástico, habilidoso e sem responsabilidade alguma. E Óscar Córdoba, que manteve a qualidade no gol colombiano com defesas sensacionais e uma segurança impressionante. Pode ter certeza que as respostas virão com suspiros de deleite, lembranças de jogadas fenomenais e gols marcantes.

Com esses e muitos outros nomes, fica fácil entender a importância daquela seleção que, entre 1990 e 1994, desfilou suas habilidades pela América do Sul e por vários outros palcos do futebol mundial com um futebol bonito, alegre, habilidoso e ofensivo. Tudo começou através das mãos e da inteligência de Francisco Maturana, o mentor do inesquecível Atlético Nacional campeão da Libertadores de 1989 e que serviu como a base da mais brilhante Colômbia da história. Mesmo sem um título, a maior façanha daquela seleção foi digna de troféu. Em 1993, no estádio Monumental, em Buenos Aires-ARG, os comandados de Maturana desfilaram suas virtudes pra cima da poderosa Argentina de Goycochea, Ruggeri, Redondo, Simeone e Batistuta e aplicaram sonoros 5 a 0 nos Hermanos. Mas não foi apenas uma goleada. Foi um show de futebol, de gols bonitos, de jogadas maiúsculas, de talento e de uma arte que foi aplaudida de pé pelos próprios argentinos após o fim do jogo. É hora de relembrar.

 

O embrião alviverde

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Até 1989, a seleção colombiana de futebol tinha pouca ou quase nenhuma tradição em solo sul-americano e mundial. A equipe não conseguia competir com o trio de gigantes Argentina, Brasil e Uruguai e ainda tinha que ficar atrás de equipes como Paraguai, Peru e Chile quando o assunto era futebol. Mas tudo começou a mudar naquele ano quando o Atlético Nacional conquistou pela primeira vez em sua história – e do próprio futebol colombiano – a Copa Libertadores da América. A façanha daquele ano chamou a atenção de todos pelo fato de o time alviverde ter em seu elenco somente jogadores de seu país, além de todos eles serem brilhantemente treinados por Francisco Maturana, adepto do futebol ofensivo, organizado e taticamente perfeito.

O desempenho daquele time fez com que a federação colombiana apostasse tudo e mais um pouco exatamente no técnico Maturana e nas principais estrelas daquele esquadrão. Com isso, o treinador ganhou ainda mais poder dentro da equipe (que ele comandava desde 1987) e craques como Higuita, Herrera, Escobar, Perea, Gildardo Gómez, Pérez, Álvarez e Asprilla formariam a espinha dorsal da seleção.

O técnico Maturana: comandante de um time puramente colombiano.
O técnico Maturana: comandante de um time puramente colombiano.

 

Mas não eram apenas os alviverdes os donos da camisa amarela. Freddy Rincón, do América de Cali, tinha seu lugar cativo por ser um craque cheio de talento e polivalente, capaz de jogar como volante, meia e até atacante, posição preferida do técnico Maturana para o então jovem de 23 anos. Ainda no meio de campo, um cabeludo inconfundível de nome Carlos Valderrama gastava a bola no futebol francês com a camisa do Montpellier e era a grande estrela do futebol do país à época.  Com o reforço dessa dupla, a Colômbia foi com as maiores ambições do mundo para a disputa da Copa do Mundo de 1990, na Itália. A equipe conseguiu a vaga depois de ser líder em seu grupo das eliminatórias e derrotar Israel na repescagem.

 

Faltou experiência

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Na Copa, a Colômbia começou sua disputa no Grupo D, ao lado de Alemanha, Emirados Árabes Unidos e Iugoslávia. O primeiro adversário foi o EAU, e os sul-americanos demoraram para achar o caminho do gol, mais precisamente 50 minutos, até Álvarez aproveitar um erro na linha de impedimento árabe e cruzar na medida para Redín abrir o placar para a Colômbia aos 5´do segundo tempo. Aos 41´, Valderrama recebeu um passe perfeito na ponta-esquerda, foi conduzindo a bola com sua habitual precisão e marcou um lindo gol de fora da área: 2 a 0. O resultado deixou uma boa impressão e fez com que muitos apontassem a Colômbia como candidata a surpresa da Copa.

Porém, no segundo jogo, os sul-americanos se esqueceram de jogar futebol e só não levaram uma goleada da Iugoslávia porque a trave e Higuita (que defendeu um pênalti) não deixaram. O 1 a 0 a favor dos europeus complicou a vida dos colombianos, que teriam que pelo menos empatar contra a fortíssima Alemanha para avançar de fase como um dos melhores terceiros colocados. Para a sorte da turma de Maturana, Rincón fez um gol salvador aos 47´do segundo tempo quando o jogo estava 1 a 0 para a Alemanha e garantiu o empate classificatório aos colombianos.

Valderrama tenta escapar da marcação do alemão Hassler.
Valderrama tenta escapar da marcação do alemão Hassler.

 

Higuita tenta, em vão, alcançar Roger Milla.
Higuita tenta, em vão, alcançar Roger Milla.

 

Nas oitavas de final, a Colômbia teve pela frente a seleção de Camarões, que tinha um conjunto muito bom e o talismã Roger Milla como arma de ataque para o segundo tempo. Nos 90 minutos, os times não conseguiram sair do zero e a Colômbia mostrou muita displicência em definir a partida. Na prorrogação, os sul-americanos foram vítimas do “Leão Indomável” Milla e da irresponsabilidade de Higuita. No primeiro minuto do segundo tempo, Milla despachou Perea e Escobar e tocou por cima do goleiro colombiano, marcando um belo gol para os africanos. Aos quatro, Higuita foi tentar driblar o craque camaronês, mas se esqueceu que ele estava diante do maior jogador da história de Camarões. Resultado? Higuita perdeu a bola, claro, Milla avançou e marcou o segundo gol. Redín ainda descontou para a Colômbia aos 10´, mas era tarde. Camarões se classificou e a Colômbia voltou para casa mais cedo. Se a trupe sul-americana tivesse jogado com mais seriedade, a Copa teria sido bem mais longa para eles.

 

Hora de amadurecer

Carlos Valderrama: craque maiúsculo da Colômbia nos anos 90.
Carlos Valderrama: craque maiúsculo da Colômbia nos anos 90.

 

Após a Copa, Maturana deixou o comando da seleção e a equipe teve como novo técnico Luís Augusto García. Em 1991, García conseguiu levar a equipe ao quarto lugar da Copa América e ainda ao primeiro lugar na fase inicial do torneio, com direito a uma vitória por 2 a 0 sobre o Brasil. Na fase final, porém, a equipe levou o troco dos brasileiros (2 a 0) e perdeu para a Argentina por 2 a 1, que ficou com a taça. Em 1992, a seleção disputou apenas duas partidas internacionais, contra EUA (vitória por 1 a 0) e México (empate sem gols), mas teve bons fluídos para o ano de 1993, afinal, Francisco Maturana estava de volta para continuar o trabalho que ele havia começado lá no final da década de 80.

Em 1993, o treinador encontrou uma seleção mais madura, forte e na “ponta dos cascos”. Os jogadores que antes eram displicentes em determinados momentos aprenderam a ter seriedade, calma e cabeça no lugar. Com a parte técnica melhor que em 1990, mais nomes de talento para a equipe titular como Córdoba, Aristizábal e Valencia e os craques de outrora melhores que nunca, a Colômbia jogaria o fino naquele ano de 1993. E encantaria a todos na América e no mundo.

 

Invictos, mas sem taça

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A temporada começou em Medellín, num empate sem gols contra a Venezuela. Mau presságio? Que nada. Até junho, os colombianos disputaram vários amistosos e não perderam nenhum, com destaque para uma vitória de 3 a 1 sobre a França. Na Copa América, a equipe de Maturana foi líder de seu grupo ao vencer México (2 a 1, gols de Aristizábal e Valencia) e empatar com Bolívia (1 a 1, gol de Orlando Maturana) e Argentina (1 a 1, gol de Rincón). Na fase seguinte, Perea fez um gol aos 43´minutos do segundo tempo que deu o empate em 1 a 1 contra o Uruguai. Nos pênaltis, precisão cirúrgica dos colombianos, que acertaram todos os seus chutes e derrotaram a Celeste por 5 a 3. Na semifinal, outro duelo com a Argentina e o zero não saiu do placar. Na marca da cal, todos acertaram suas cobranças, mas nos tiros alternados, Aristizábal errou e a vitória por 6 a 5 ficou com a Argentina. Os colombianos tiveram que se contentar com a disputa pelo terceiro lugar, vencida por 1 a 0 sobre os equatorianos (gol de Valencia). Mas aquela derrota para os argentinos seria vingada muito em breve, com juros, nas eliminatórias.

 

A imortalidade colombiana

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Logo após a Copa América, a Colômbia começou sua trajetória rumo à Copa do Mundo dos EUA de 1994. Os sul-americanos mostraram muita força de conjunto, futebol técnico e talentoso e foram superando os obstáculos um a um. Após empate sem gols contra o Paraguai em casa, a equipe derrotou o Peru, fora, por 1 a 0 (gol de Rincón), bateu a Argentina em casa por 2 a 1 (gols de Valenciano e Valencia), empatou novamente com o Paraguai, fora, em 1 a 1 (gol de Rincón) e goleou o Peru em casa por 4 a 0 (gols de Valenciano, Rincón, Mendoza e Pérez). Na última rodada, a Colômbia teria pela frente a desesperada Argentina, que precisava da vitória, bem como os colombianos, para se classificar para a Copa do Mundo. Quem perdesse teria que rezar por uma combinação de resultados que levasse para a repescagem.

No dia 5 de setembro de 1993, todos em sã consciência presentes no imponente estádio Monumental, em Buenos Aires, esperavam por um triunfo argentino que colocaria o time na Copa do Mundo. Comandados por Alfio Basile, os alvicelestes tinham uma equipe muito boa, mas inferior a de anos anteriores. Os destaques eram o goleiro Goycochea, o zagueiro Ruggeri, os meio-campistas Redondo e Simeone e o atacante Gabriel Batistuta. Já a Colômbia entrava em campo com talvez seu 11 ideal: Córdoba; Herrera, Perea, Mendoza e Pérez; Álvarez, Gómez e Rincón; Valderrama; Asprilla e Valencia. Era um timaço, mas que foi menosprezado desde o início pelo torcedor argentino, que com apenas três minutos de jogo já gritava “olé” a favor de sua seleção. Aquela soberba, as 75 mil vozes contra e a derrota de meses atrás na Copa América mexeram com o brio dos colombianos, que protagonizaram naquele dia um dos maiores bailes da história do futebol mundial.

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Depois de a Argentina tentar, sem sucesso, abrir o placar nos primeiros 40 minutos iniciais e a Colômbia perder algumas chances, Valderrama conduziu com maestria a bola no meio de campo aos 41´e tocou na medida para Rincón. O craque avançou com velocidade, driblou Goycochea como um legítimo centroavante e marcou um golaço: 1 a 0. No começo do segundo tempo, Rincón fez um lançamento estupendo na esquerda para o endiabrado Asprilla, que quase fez sentar o zagueiro Borelli e marcou o segundo. A Argentina errava demais e ficava espantada com o talento e controle de bola que demonstravam aqueles colombianos magníficos. Aos 28´, boa jogada de Álvarez pela esquerda, que cruza na área para Rincón ampliar: 3 a 0. Dois minutos depois, bobeada da zaga argentina, Asprilla rouba a bola e toca com estilo, classe e elegância por cobertura. Pintura. E 4 a 0 para a Colômbia. Era um show. E um pesadelo sem tamanho para a Argentina. A torcida que antes gritava “olé” para o time alviceleste agora gritava a cada toque de bola dos colombianos.

Como retribuição, a Colômbia ainda marcou mais um, aos 39´, numa jogada estupenda que pode ser a síntese daquele time imortal. Valderrama, capitão e soberano do meio de campo, tocou de três dedos em profundidade para Asprilla. O atacante disparou pela esquerda em velocidade, deu uma parada para despistar seu marcador e viu a chegada de Valencia. Com um toque sublime, leve e preciso, como quem o faz com as mãos, ele deixou o companheiro livre, na cara do goleiro argentino. O trabalho foi tão mínimo que nem um chute foi preciso, mas apenas o biquinho da chuteira na bola. Épico. 5 a 0.  Era uma humilhação para a Argentina.

Rincón e Asprilla: dupla jogou o fino da bola naquela noite inesquecível.
Rincón e Asprilla: dupla jogou o fino da bola naquela noite inesquecível.

 

Ao apito do árbitro uruguaio Ernesto Filippi, estava consolidada a vaga colombiana na Copa do Mundo e a maior vitória da história do futebol do país. Do outro lado, era a maior derrota em casa da história da Argentina em uma partida internacional e a vaga no mundial tendo que ser decidida na repescagem graças ao empate em 2 a 2 entre Peru e Paraguai.  Vaias eram ouvidas no Monumental, claro, mas a maioria dos 75 mil torcedores (ou o que havia restado deles, pois muitos já tinham ido embora) fazia questão de aplaudir, em pé, o baile que os colombianos haviam acabado de protagonizar. Leia mais clicando aqui.

A alegria nos jornais colombianos...
A alegria nos jornais colombianos…

 

... E o contraste com a imprensa argentina.
… E o contraste com a imprensa argentina.

 

Naquele dia, o mundo parou para ver e rever a apoteose de Rincón, Valderrama, Asprilla e Cia. Na volta para casa, os jogadores foram recebidos por uma multidão ensandecida que cortejou por horas seus heróis e fez questão de se lembrar de Higuita, preso na época por envolvimento em um sequestro, e Escobar, que ficou de fora da partida por lesão. Não era nenhum exagero dizer que aquela Colômbia, que passou a temporada inteira de 1993 invicta (19 jogos, 10 vitórias e nove empates), era, sim, favorita ao título da Copa de 1994.

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A Colômbia dos 5 a 0: meio de campo criativo, ataque veloz e um time predestinado a fazer história.
A Colômbia dos 5 a 0: meio de campo criativo, ataque veloz e um time predestinado a fazer história.

 

Subiu no salto e caiu

Em 1994, o time era ótimo, mas subiu no salto e se esqueceu de jogar futebol.
Em 1994, o time era ótimo, mas subiu no salto e se esqueceu de jogar futebol.

 

No ano da Copa, a Colômbia fez diversas partidas pré-mundial e manteve o grande futebol de 1993, com apenas uma derrota em 13 jogos. Os sul-americanos chegaram aos EUA embalados por cinco vitórias seguidas sobre Nigéria (1 a 0), Peru (1 a 0), El Salvador (3 a 0), Irlanda do Norte (2 a 0) e Grécia (2 a 0), e pelo apoio de Pelé, que disse à época que a Colômbia era a “sua seleção favorita” para a conquista do mundial. Mas as palavras do Rei e o amplo favoritismo mexeram com os colombianos. A equipe subiu no salto alto e começou sua caminhada na Copa com a mais pura soberba, algo que não condiz com o esporte e sempre destrói as pretensões de quem a pratica. Na estreia, a Romênia de Hagi aplicou 3 a 1 nos colombianos jogando um futebol de toques envolventes e bem parecido com o que a própria Colômbia jogava. No segundo jogo, um desastre total. Derrota para os anfitriões EUA por 2 a 1, com direito a gol contra do zagueiro Escobar. Precocemente, os colombianos estavam eliminados do mundial. Na última partida, a vitória por 2 a 0 sobre a Suíça serviu como prêmio de consolação para a equipe, que veria o fim de uma era se encerrar ali mesmo.

Valderrama lamenta a derrota contra a Romênia...
Valderrama lamenta a derrota contra a Romênia…

 

... E Escobar vive o inferno com o gol contra diante dos EUA.
… E Escobar vive o inferno com o gol contra diante dos EUA.

 

Tragédia e o fim

A surpreendente eliminação na primeira fase da Copa provocou uma tragédia lamentável no futebol colombiano. Em julho, o zagueiro Escobar foi assassinado com seis tiros após uma discussão em um bar de Medellín por supostos traficantes que teriam perdido dinheiro com a eliminação colombiana no mundial. O caso ganhou as manchetes de todo o mundo e provocou desolação em todos no país e até nos americanos, a ponto de o volante norte-americano Dooley ter afirmado que “preferia ter perdido o jogo se soubesse que a derrota colombiana ia desencadear uma morte”. Depois disso, o time perdeu a essência de outrora e teve apenas um momento marcante em 1995, num amistoso contra a Inglaterra, em Wembley, quando o goleiro René Higuita fez a famosa “defesa do escorpião” após um chute de Redknapp.

Só em 2001 que a Colômbia voltou a brilhar com seu primeiro título da Copa América, curiosamente sob comando de Francisco Maturana e jogando em casa. Depois daquela taça, o futebol do país voltaria a brilhar entre 2013 e 2014, quando a seleção de Ospina, Yepes, Cuadrado, James Rodríguez e companhia levou a Colômbia a um inédito 5º lugar na Copa do Mundo de 2014. Eles não levaram o título, mas ficaram marcados assim como a geração do começo dos anos 90, que realizou partidas inesquecíveis e um baile homérico pra cima da Argentina, que deixou até mesmo os brasileiros com inveja. Por aquilo e pela beleza do futebol de Rincón, Valderrama, Álvarez, Asprilla e companhia, aquela Colômbia será, para o todo e sempre, imortal.

 

Os personagens:

René Higuita: “El Loco” é simplesmente uma divindade colombiana. Elástico, muitas vezes displicente e louco em sair jogando com a bola nos pés, Higuita foi um dos mais engraçados e icônicos goleiros de seu tempo e levou humor ao futebol em uma época tão carente de alegria na América do Sul. Seu estilo de jogo em ajudar a defesa com passes e por se adiantar demais perante os atacantes lhe dava quase a condição de líbero da zaga de seu time, o Atlético Nacional, e também da seleção. Disputou 68 partidas pela seleção colombiana e marcou três gols. É considerado um dos maiores goleiros da história do futebol mundial.

Óscar Córdoba: com os problemas extracampo de Higuita, Córdoba deu conta do gol da Colômbia a partir de 1993 com uma segurança formidável, ótimas defesas e muita qualidade. O goleiro foi um dos maiores de seu país na história e marcou época jogando no Boca Juniors-ARG, onde faturou duas Libertadores e um Mundial Interclubes, além de vários outros títulos. Disputou 73 partidas com a camisa da seleção.

Luis Fernando Herrera: foi um dos maiores laterais da história do futebol colombiano (talvez o maior) ao aliar técnica, força física e explosão nas doses certas. Chutava bem com as duas pernas, tinha um passe preciso e aparecia constantemente na linha de fundo com cruzamentos e tabelinhas. Ídolo eterno do Atlético e do futebol colombiano.

Luis Carlos Perea: ótimo defensor colombiano, Perea fez uma dupla de zaga marcante e muito eficiente ao lado de Andrés Escobar naquele começo de anos 90 tanto no Atlético quanto na seleção. Tinha muita impulsão, era ótimo no desarme e ajudava o meio de campo com passes precisos. Disputou 78 jogos com a camisa da seleção entre 1987 e 1994 e marcou dois gols.

Andrés Escobar: ao lado de Higuita, é outro ídolo imortal dos torcedores do Atlético Nacional e da seleção graças as suas atuações de gala como zagueiro. Ficou conhecido como o “Cavaleiro do Futebol” pela lealdade em campo e pelo estilo de jogo, sempre de cabeça erguida e com muita segurança. Foi um dos maiores zagueiros da história da Colômbia até viver o inferno na Copa de 1994, quando marcou um gol contra no jogo contra os EUA que praticamente eliminou os sul-americanos do mundial. Depois do mundial, Escobar foi morto durante uma discussão num bar em Medellín, atribuída aos traficantes que supostamente teriam perdido dinheiro com a eliminação colombiana no mundial. A morte de Escobar foi uma perda trágica não só para o futebol colombiano, mas também mundial.

Alexis Mendoza: defensor muito eficiente que viveu seus melhores momentos no Júnior de Barranquilla e no América de Cali entre os anos de 1983 e 1992. Era opção para o técnico Maturana para o miolo de zaga caso Escobar ou Perea não pudessem jogar. Disputou 67 partidas com a camisa da seleção.

Wilson Pérez: outro grande nome da defesa colombiana no final dos anos 80 e início dos anos 90, Pérez era muito eficiente no setor esquerdo com bons passes e poder de marcação. Fez carreira no América de Cali e no Júnior de Barranquilla.

Gildardo Gómez: foi outro defensor de muito talento que ajudava na marcação e também o ataque. Podia jogar na lateral-esquerda e também na zaga central. Integrou a seleção colombiana na Copa de 1990.

Leonel Álvarez: com sua vistosa cabeleira negra, Leonel Álvarez se impunha não só pela presença física, mas também pelo futebol. Era um verdadeiro leão em campo e inflamava o time ao ataque com raça, qualidade nos passes e fortes chutes em direção ao gol. Jogou 101 partidas pela seleção durante uma década e foi um ícone do futebol do país nos anos 80 e 90. Ídolo eterno da torcida colombiana.

Gabriel Jaime Gómez: meio campista combativo na marcação, Gómez “Barrabas” foi outro jogador que marcou época naquela geração dourada do futebol colombiano. Não tinha muito a simpatia da torcida por ser irmão de Hernán Darío Gómez, assistente técnico da seleção na época, o que o beneficiava perante os colegas.

Freddy Rincón: elegante, polivalente, técnico, habilidoso, craque. Rincón foi, sem dúvida alguma, um dos maiores craques da história da Colômbia e do futebol mundial nos anos 90 com um futebol maiúsculo e digno dos maiores nomes do esporte mundial. No esquema do técnico Maturana, Rincón jogava mais como um homem de frente, principalmente no começo dos anos 90, quando foi atacante do time. Foi o dono do meio de campo da equipe a partir de 1993 e fez uma partida sensacional naqueles 5 a 0 sobre a Argentina. Marcou época, principalmente, no América de Cali e no Corinthians. Disputou 84 partidas pela seleção e marcou 17 gols. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Carlos Valderrama: a cabeleira do mais famoso jogador colombiano da história era inconfundível e clássica, mas o seu futebol era ainda mais. Valderrama foi o líder e maestro da mais talentosa seleção colombiana de todos os tempos com um controle de bola fantástico, excelente visão de jogo, velocidade e lançamentos precisos e preciosos. Ganhou diversos prêmios na carreira, foi homenageado por onde passou e ganhou até estátua em sua cidade natal, Santa Marta. É o recordista em número de jogos disputados pela seleção até hoje: 111, com 11 gols marcados. Uma lenda do esporte e ídolo de várias gerações não só na Colômbia, mas também em outros países. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Faustino Asprilla: foi um dos maiores atacantes do futebol mundial na década de 90 e também um dos mais polêmicos. Tinha uma arrancada fulminante e muita técnica. Mas, o que tinha de qualidades dentro de campo, o colombiano tinha de defeitos fora dele. Adorava noitadas, mulheres e faltava a treinos constantemente. Mesmo assim, foi ídolo no Atlético Nacional entre 1989 e 1992, marcou gols inesquecíveis e formou a dupla mais marcante da história do clube ao lado de Aristizábal. Pela seleção, fez partidas marcantes, sendo a da goleada por 5 a 0 sobre a Argentina a mais incrível delas e digna de nota 10. É o segundo maior artilheiro da história da seleção com 20 gols em 57 jogos.

Bernardo Redín: ao lado de Valderrama, fez uma dupla inesquecível de meio de campo e ataque no Deportivo Cali do final dos anos 80. Marcou dois gols na Copa do Mundo de 1990 e jogou 40 partidas pela seleção.

Adolfo Valencia: veloz, forte e goleador, “El Tren” Valencia foi outro grande talento colombiano nos anos 90 e presença constante nas convocações de Maturana na época. Formou uma dupla de ataque inesquecível ao lado de Asprilla e “fechou o caixão” argentino na goleada de 5 a 0 em 1993.. Seu desempenho na Copa América de 1993 o levou ao Bayern München, onde brilhou e conquistou títulos. Marcou 14 gols em 37 jogos pela seleção.

Arnoldo Iguarán: tinha uma grande explosão física e uma presença de área que o fez maior artilheiro da história da seleção com 25 gols em 68 jogos entre 1979 e 1991. Já era veterano quando teve o prazer de jogar ao lado daqueles craques da geração dourada da Colômbia no começo dos anos 90. Foi ídolo do Millonarios.

Víctor Hugo Aristizábal: revelado, consagrado e vencedor pelo Atlético Nacional, Aristizábal foi outro atacante a fazer história no clube e na seleção. Tinha velocidade e era bom nos dribles. Marcou 15 gols em 66 jogos pela seleção e só não teve mais chances com Maturana por ter de concorrer na época com Asprilla e Valencia.

Francisco Maturana, Luis Augusto Garcia e Humberto Ortiz (Técnicos): foi Maturana o grande responsável por transformar para sempre o Atlético Nacional e a seleção colombiana em times imortais do futebol sul-americano e mundial. O treinador marcou época por ser um notável estrategista que levou maturidade tática e excelência técnica ao futebol colombiano. Garcia e Ortiz comandaram a Colômbia entre 1991 e 1992, mas foi Maturana o grande e maior técnico da história do país. Sem ele, dificilmente aquela equipe teria tido momentos tão marcantes.

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Comentários encerrados

9 Comentários

  1. não fala bobagem Renato, essa colombia aí dos anos 90 enfiou 5 na argentina do maradona e cia.. em Buenos aires…~
    a seleção dos anos 90 está anos luz, a frente dessa colombia de falcão e cia, que conseguiram perder pro brasil

  2. Essa colômbia de hoje do falcão garcia é melhor que essa é claro que essa foi mais famosa por ter o artista carismático valderrama mas em termos de equipe essa de Hoje é melhor

  3. Grande Colômbia! Eu tenho um filme sobre eles gravado, o “Os dois Escobars” da ESPN filmes, que conta o envolvimento do traficante Pablo Escobar com o futebol colombiano, no quanto ele ajudou a fazer o futebol crescer no período em que tocava o terror na Colômbia, isso o fazia querido pelas comunidades carentes. Porém, Escobar tinha inimigos, e foram alguns desses inimigos que perderam grana após o gol contra do zagueiro Andrés Escobar, que na época jogava no time financiado pelo Pablo Escobar, o resto da história já sabemos… Mas vale muito a pena ver esse filme, lembra toda a trajetória desde a acensão mostrando questões sociais que ajudaram à Colômbia ter um time tão forte, até a queda.

Esquadrão Imortal – Stade de Reims 1949-1960

Seleções Imortais – Brasil 1982