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Esquadrão Imortal – Porto 2002-2004

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Porto
Em pé: Vítor Baía, Jorge Costa, Nuno Valente, Ricardo Carvalho e Costinha. Agachados: Deco, Alenichev, Maniche, Carlos Alberto, Paulo Ferreira e McCarthy.

 

Grandes feitos: Campeão Mundial Interclubes (2004), Campeão da Liga dos Campeões da UEFA (2003-2004), Campeão da Copa da UEFA (2002-2003), Bicampeão Português (2002-2003 e 2003-2004), Campeão da Copa de Portugal (2002-2003) e Bicampeão da Supercopa de Portugal (2003 e 2004).

Time base: Vítor Baía; Paulo Ferreira (Seitaridis / Bosingwa), Ricardo Carvalho (Pedro Emanuel), Jorge Costa e Nuno Valente (Ricardo Costa); Costinha, Pedro Mendes (Alenichev / Diego), Deco (Quaresma / Luís Fabiano) e Maniche; Derlei e Hélder Postiga (Benni McCarthy / Carlos Alberto / Jankauskas). Técnicos: José Mourinho (2002-2004) e Víctor Fernandéz (2004).

 

“Prazer em conhecê-lo, José Mourinho”

Por Guilherme Diniz

Os portugueses leais ao azul e ao branco do Futebol Clube do Porto viveram três anos simplesmente maravilhosos de 2002 até 2004. Depois de anos dominando o cenário futebolístico nacional com títulos e mais títulos do Campeonato Português, principalmente com o ídolo Jardel, o Porto conseguiu, enfim, expandir sua supremacia para o continente europeu de maneira emblemática, com jovens cheios de talento e lapidados por um treinador novato que logo entraria para o rol dos maiores de todos os tempos: José Mourinho. O polêmico e emburrado técnico conduziu o time de Vítor Baía, Ricardo Carvalho, Costinha, Maniche, Deco e Derlei às maiores glórias possíveis no velho continente: a Copa da UEFA e a Liga dos Campeões da UEFA. E as taças não vieram de qualquer jeito não. Elas foram conquistadas com show, talento, brilho, e um passeio na decisão da Liga contra o Monaco: 3 a 0. Mourinho conseguiu dar ao Porto praticamente todas as glórias, faltando apenas uma Supercopa da UEFA (perdidas para o Milan, em 2003, e Valencia, em 2004). O segundo troféu da Liga igualou os Dragões ao Benfica, maior rival, que desde a década de 60 se vangloriava por ter mais taças europeias que o Porto. Pobres vermelhos… É hora de relembrar os melhores anos da história do Porto, sem dúvida alguma, que tiveram taças, craques, Mourinho, façanhas e a inauguração de um estádio novinho em folha.

 

A chegada do “Special One

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Em janeiro de 2002, o Porto precisava de um novo treinador e ter de volta o brilho e força para vencer o campeonato nacional, que desde 1999 não ia para as terras do dragão. Para isso, a diretoria decidiu apostar num novato chamado José Mourinho, que vinha de trabalhos no União Leiria e no Benfica, além de ter feito estágio com o lendário Louis van Gaal no Barcelona, na década de 90. Mourinho chegou ao clube com pompa e já prometendo conquistas, além de trazer junto com ele o atacante brasileiro Derlei. Sisudo, organizado e ávido por disciplina tática, Mourinho rapidamente concentrou o grupo em jogadores chave, entre eles Vítor Baía, Ricardo Carvalho, Jorge Costa, Costinha, Deco, Derlei e Postiga.

No decorrer da temporada, o Porto mostraria dinamismo em campo, jogadas de efeito e uma competitividade enorme. O título do campeonato português não veio, mas o terceiro lugar, com 21 vitórias em 34 jogos, foi um grande início para Mourinho, que começaria uma dinastia incrível no Porto: o time, depois de perder em casa por 3 a 2 para o Beira-Mar, em fevereiro de 2002, jamais seria derrotado no Campeonato Português jogando em seus domínios com Mourinho no comando da equipe (foram 36 vitórias e dois empates em 38 jogos). Isso se transformaria num recorde pessoal de Mourinho que durou até os tempos de Real Madrid, nove anos e 150 partidas depois.

 

O começo da dinastia

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Na temporada 2002-2003, o Porto tinha vários compromissos pela frente: Campeonato Português, Copa de Portugal e Copa da UEFA. Mourinho, sabendo da força do grupo que tinha em mãos, do entrosamento e da garra, tinha a certeza que poderia vencer tudo. E foi para isso que o seu Porto começou os trabalhos. No Campeonato Português, o time azul e branco se impôs desde o início da competição, venceu 16 das 17 partidas jogadas em casa (empatou a outra), perdeu apenas duas fora e conquistou o título nacional com 27 vitórias, cinco empates e duas derrotas em 34 jogos, com 73 gols marcados e 26 sofridos (e duas vitórias pra cima do Benfica, por 2 a 1 em casa e 1 a 0 fora). Aquele time começava a chamar atenção pelo equilíbrio e por ser forte não só no meio de campo (super criativo com Maniche e Deco), mas também na defesa, com destaque para Ricardo Carvalho e Jorge Costa. Na Copa de Portugal, o time não tomou conhecimento dos rivais e ganhou todas as partidas com certa tranquilidade: 2 a 1 no Vitória de Guimarães; 7 a 0 no Varzim; 2 a 0 no Naval e 1 a 0 no União Leiria, na final.

 

Rumo ao título inédito

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Durante suas caminhadas portuguesas, o Porto teve desafios na Copa da UEFA, competição que a equipe nunca havia vencido. Os dragões estrearam contra o Polonia Warszawa-POL e venceram o primeiro jogo com um fácil 6 a 0, dando-se ao luxo de perder por 2 a 0 a partida de volta. Na sequência, duas vitórias sobre o Austria Wien-AUT por 2 a 0 e 1 a 0. Na fase seguinte, um 3 a 0 contra o Lens-FRA deixou o time com os pés nas oitavas de final da competição, mesmo com a derrota por 1 a 0 na partida de volta, na França. O adversário seguinte foi o Denizlispor-TUR, que foi goleado por 6 a 1 na partida de ida, em Portugal, com gols de Capucho, Derlei, Ricardo Costa, Jankauskas, Deco e Alenichev. Na volta, o empate em 2 a 2 colocou o Porto nas quartas de final.

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Derlei vibra: jogador foi um dos destaques do time naquele início dos tempos de ouro.

 

O adversário seguinte foi o Panathinaikos-GRE, que na época tinha uma equipe perigosa. No primeiro jogo, em Portugal, Mourinho não conseguiu fazer sua equipe se impor, mesmo com Deco e Derlei, maestro e matador do time, respectivamente, e os gregos venceram por 1 a 0, gol de Olisadebe. Na volta, em Atenas, Derlei fez 1 a 0 Porto aos 16´do primeiro tempo, placar que permaneceu intacto até o final do jogo. Na prorrogação, o mesmo Derlei marcou o gol da suada classificação aos 103´, para delírio da torcida e de Mourinho, que se mostrou orgulhoso com o poder de reação do time e do brio psicológico demonstrado nos 120 minutos de jogo. Depois daquela partida, todos tinha a certeza que o Porto poderia, sim, vencer a Copa.

 

Show histórico

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Nas semifinais, um duelo de puro equilíbrio era esperado entre Porto e Lazio-ITA, com o primeiro jogo em Portugal. Do lado da Lazio, vários remanescentes do título italiano de 2000 e outros grandes jogadores como Peruzzi, Stankovic, Mihajlovic, Favalli, Fernando Couto, Simeone, Chiesa e Claudio López. Com vários craques, a equipe italiana começou melhor a partida no estádio Das Antas e abriu o placar logo aos seis minutos com o argentino López. A torcida portuguesa temia pelo pior e via o filme do jogo contra o Panathinaikos se repetir. O problema era que a volta, em Roma, seria muito mais complicada do que contra os gregos. Mas quem disse que o Porto se entregaria?

A equipe lusa deu show de vontade e futebol e conseguiu empatar com Maniche, aos 10´, e virou com Derlei, aos 28´. No segundo tempo, o artilheiro Derlei marcou mais um e Hélder Postiga fechou uma inesperada e surpreendente goleada: 4 a 1. Na volta, Mourinho armou uma equipe muito bem postada na defesa para segurar a vantagem, sem deixar de levar perigo nos contra-ataques. No final, o 0 a 0 no placar garantiu o Porto na final da Copa da UEFA. O adversário seria o tradicional Celtic-ESC, que havia eliminado o Boa Vista-POR.

 

Haja coração!

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O estádio Olímpico de Sevilha, na Espanha, foi o palco da grande final da Copa da UEFA de 2002-2003. De um lado, o Celtic de Paul Lambert, Neil Lennon, Petrov, Sutton e o sueco Larsson. Do outro lado, o ascendente Porto de Mourinho, comandado por Vítor Baía, Ricardo Carvalho, Jorge Costa, Costinha, Maniche, Deco e Derley. Uma curiosidade envolvendo aquela final era que ambas as equipes tinham os artilheiros do torneio, Larsson e Derley, com 8 e 10 gols, respectivamente. Será que eles tirariam a “nega” para ver quem seria o rei dos gols daquela Copa? Com certeza!

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O jogo foi de muito equilíbrio e com várias chances de gol, reflexo direto das características ofensivas das equipes. Foi então que nos acréscimos do primeiro tempo, Derlei abriu o placar para o Porto. No segundo tempo, com apenas dois minutos, o sueco Larsson não deixou barato e marcou o gol de empate. Alguns minutos depois, Deco, sempre ele, colocou Alenichev na cara do goleiro Douglas para fazer 2 a 1. Três minutos depois, Larsson, de novo, empatou. O jogo seguiu alucinante, mas o placar ficou em 2 a 2. Na prorrogação, o brilho e a estrela de Derlei falaram mais alto e o atacante brasileiro mostrou oportunismo para marcar o terceiro gol faltando cinco minutos para o fim: Porto 3×2 Celtic.

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Enfim, depois de 16 longos anos, o Porto voltava a conquistar uma taça continental, inédita para o futebol português. Era o cartão de visitas que faltava àquela equipe e a Mourinho, que vibrou como nunca e fez a festa. Derlei, herói do título, venceu a disputa particular com Larsson e foi o artilheiro do torneio com 12 gols marcados. Os azuis e brancos coroavam uma temporada brilhante ganhando tudo o que haviam disputado: Campeonato Português, Copa de Portugal e Copa da UEFA, um inédito “Treble de prata” para o time, já que o Treble original tem a Liga dos Campeões da UEFA no lugar da Copa. Mas essa Mourinho ainda não havia disputado, ora pois…

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Dragão ganha casa nova

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A temporada 2003-2004 começou ótima para o Porto. O time conseguiu manter seus principais jogadores (menos Postiga, que foi para o Tottenham) e se reforçou com a contratação efetiva de Benny McCarthy, atacante sul-africano que havia jogado algumas partidas na temporada anterior e marcado vários gols, além do meia brasileiro Carlos Alberto (ex-Fluminense, que chegaria em 2004), e os laterais-direito Bosingwa e Seitaridis. No mês de agosto, o time venceu a Supercopa de Portugal com vitória por 1 a 0 sobre o União Leiria. Também em agosto, os portugueses enfrentaram o Milan-ITA de Dida, Nesta, Maldini, Rui Costa, Gattuso, Pirlo, Seedorf, Shevchenko e Inzaghi pela final da Supercopa da UEFA, na qual Mourinho não conseguiu superar os italianos e viu o time rossonero vencer por 1 a 0 (gol de Shevchenko).

UEFA Super Cup 2003 : Milan AC vs FC Porto

Depois do revés, a torcida pôde celebrar novamente em novembro, com a inauguração do Estádio do Dragão, a nova casa do Porto e um dos estádios que seriam utilizados na Eurocopa de 2004. Com capacidade para mais de 50 mil pessoas e super moderno, o caldeirão foi um divisor de águas na equipe de Mourinho, simbolizando uma era ainda mais suprema do time, que estreou na nova casa derrotando o Barcelona-ESP por 2 a 0, na partida que marcou a estreia de Lionel Messi entre os profissionais do clube catalão.

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Reis de Portugal

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Os comandados de Mourinho foram mais uma vez irresistíveis no Campeonato Português. Ainda mais fortes em casa (onde venceram todas as 17 partidas da temporada), a equipe deu show e faturou o bicampeonato com oito pontos de vantagem sobre o Benfica, com 25 vitórias, sete empates e apenas duas derrotas em 34 jogos, marcando 63 gols (melhor ataque) e sofrendo 19 (melhor defesa). O sul-africano Benny McCarthy foi decisivo e se tornou o artilheiro da equipe e do campeonato com 20 gols. Os destaques da campanha foram as vitórias sobre o Sporting por 4 a 1 e sobre o Benfica por 2 a 0, ambas em casa. A festa só não foi maior porque a equipe perdeu a Copa de Portugal para o rival Benfica por 2 a 1. Mas o foco, além de manter a hegemonia em casa, era a Liga dos Campeões da UEFA.

 

De volta ao Olimpo

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Deco, maestro do sistema ofensivo do time.

 

Ausente das últimas Ligas, o Porto voltou ao principal palco do futebol europeu naquela temporada de 2003-2004. O time caiu no grupo F, ao lado de Real Madrid-ESP, Olympique de Marselha-FRA e Partizan-SRV. Na estreia, empate fora de casa contra o Partizan em 1 a 1, com o gol do Porto marcado por Costinha. Na partida seguinte, a equipe começou vencendo o Real Madrid em casa, com gol de Costinha, mas levou a virada e perdeu por 3 a 1. Aquela seria a única derrota do time na competição. Os portugueses se recuperaram no jogo seguinte, contra o OM de Drogba, ao vencer por 3 a 2 em Marselha (gols de Maniche, Derlei e Alenichev). No returno do grupo, vitória em casa sobre o OM por 1 a 0 (gol de Alenichev), vitória por 2 a 1 em casa sobre o Partizan (dois gols de McCarthy) e empate em 1 a 1 com o Real Madrid na Espanha (gol de Derlei). Em segundo no grupo, a equipe conseguiu a classificação e estava pronta para o mata-mata, além de já contar com o brasileiro Carlos Alberto entre os titulares, jogando muito e mostrando personalidade.

 

Quem é o azarão?

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Nas oitavas de final, ninguém apostava que o Porto, mesmo com um grande time e super bem treinado por Mourinho, fosse capaz de derrotar o Manchester United  de Gary Neville, Saha, van Nistelrooy, Giggs, Roy Keane, Scholes e Fortune. Mas, no primeiro jogo, em Portugal, a equipe mostrou mais uma vez seu poder de reação em situações adversas. Fortune abriu o placar para os ingleses aos 14´ do primeiro tempo. McCarthy empatou aos 29´e, no segundo tempo, acertou um lindo chute de primeira para virar o jogo para o Porto e garantir a vitória por 2 a 1, para delírio da torcida. Na volta, em Old Trafford, Scholes abriu o placar para o United aos 32´do primeiro tempo.

O resultado classificava o time inglês para a fase seguinte por conta do gol marcado fora. A partida seguia pegada e dramática, até que no último minuto do jogo o Porto teve uma falta a seu favor. Era a chance derradeira para a equipe. McCarthy bateu, o goleiro não segurou e Costinha, talismã do time naquela Liga, colocou a bola pra dentro do gol: 1 a 1 e classificação histórica para as quartas de final! A torcida portuguesa presente em Manchester enlouqueceu, bem como Mourinho, que correu em direção aos jogadores na hora do gol. Era hora das quartas de final.

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Na fase seguinte, o adversário foi outra pedreira: o Lyon-FRA de Coupet, Edmílson, Essien, Diarra, Juninho Pernambucano, Malouda, Govou e Élber. Mourinho sabia que um resultado positivo e sem levar gols no primeiro jogo, no estádio do Dragão, era crucial para as pretensões da equipe. E foi o que aconteceu. Deco e Ricardo Carvalho fizeram os gols da vitória por 2 a 0, que deixou o time muito perto das semifinais. Na volta, em Lyon, o Porto marcou duas vezes com Maniche, levou dois gols, mas o empate em 2 a 2 classificou os comandados de Mourinho. A final estava muito próxima.

 

Derlei decide

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Na semifinal, o Porto encarou o incrível Deportivo La Coruña-ESP, que havia eliminado o então campeão Milan com uma sapecada de 4 a 0 na partida de volta das quartas de final, mesmo depois de ter levado 4 a 1 em Milão. Com moral, os espanhóis foram duros de serem enfrentados na primeira partida, em Portugal. O Porto bem que tentou pressionar, mas o jogo foi muito pegado, disputado e com muitas faltas. O zero não saiu do placar e a decisão ficou para a Espanha.

Na partida de volta, Mourinho conseguiu neutralizar as investidas dos donos da casa graças a um eficiente sistema de marcação, principalmente do ótimo Costinha, que anulou o perigoso meia-atacante Valerón. A partida seguiu sem gols até os 60´, quando o Porto teve um pênalti a seu favor. Derlei, herói da conquista da Copa da UEFA de 2003, bateu e colocou o time na final da Liga dos Campeões depois de 17 anos. O sonho do bicampeonato estava a um passo.

O Porto de Mourinho: marcação implacável do meio de campo aliada a velocidade do ataque davam equilíbrio ao time.
O Porto de Mourinho: marcação implacável do meio de campo aliada à velocidade do ataque davam equilíbrio ao time.

 

Final atípica

Eis o time da final. Em pé: Vítor Baía, Jorge Costa, Nuno Valente, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho e Costinha. Agachados: Pedro Mendes, Maniche, Carlos Alberto, Deco e Derlei.

 

 

A Arena AufSchalke, em Gelsenkirchen, na Alemanha, recebeu uma final totalmente atípica naquele dia 26 de maio de 2004. Ninguém esperava que Porto e Monaco fizessem a final depois de Milan e Real Madrid golearem seus adversários nas quartas de final de maneira tão categórica. Mas os titãs europeus sucumbiram diante de “pequenos” por conta da soberba e do excesso de confiança. O Monaco tinha um plantel de talento, com Ibarra, Evra, Cissé, Giuly e Morientes. Já o Porto foi a campo com o que tinha de melhor, com uma dupla de ataque brasileira (Carlos Alberto e Derlei), Deco e Maniche na criação, Costinha e Pedro Mendes como cães de guarda no meio de campo e Jorge Costa e Ricardo Carvalho como os paredões da zaga, protegidos nas laterais por Paulo Ferreira e Nuno Valente e Vítor Baía no gol apenas “observando” tudo aquilo. E, curiosamente, foi exatamente isso que o goleiro do Porto fez durante todo o jogo…

 

A Europa é do Porto. E de Mourinho também

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Com um futebol envolvente, rápido e sem erros, o Porto não tomou conhecimento do rival e jogou muito naquela final. O Monaco não conseguiu mostrar a eficiência no ataque das partidas anteriores e foi obrigado a ver o passeio de Carlos Alberto, Deco e Alenichev, que marcaram os gols da goleada de 3 a 0 do time português. Porto campeão da Europa! Era a consagração definitiva daqueles jogadores que tiraram a equipe, enfim, das sombras do Benfica e, de quebra, elevaram o Dragão ao posto de maior campeão do país (se contarmos os títulos internacionais). A festa foi enorme na Alemanha e sacramentou uma geração fantástica do time azul e branco, muito graças ao talento inegável de Mourinho, que soube como ninguém transformar jogadores antes comuns em craques e estrelas mundiais, sendo o principal deles o meia Deco.

 

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O adeus do ídolo e de outros craques

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Logo depois da conquista da Liga dos Campeões da UEFA, José Mourinho não resistiu aos milhões de dólares do russo Roman Abramovich e aceitou o desafio de treinar o estrelar Chelsea-ING, deixando órfãos jogadores e torcedores do Porto, que colocaram o português no mais alto patamar de idolatria do clube. Além dele (e de Ricardo Carvalho, que foi junto), a estrela Deco também saiu, para integrar o Barcelona-ESP. Sem Mourinho, o time perdeu força e passou a ser comandado pelo espanhol Víctor Fernandes. No primeiro desafio do novo técnico, ele comandou a vitória do Porto pra cima do Benfica pela decisão da Supercopa de Portugal, com gol de Quaresma aos 55´. Uma semana depois, o Porto decidiu mais uma Supercopa da UEFA, dessa vez contra o Valencia-ESP, mas perdeu por 2 a 1 (gol de honra marcado por Quaresma).

 

Reforços e preparação para o Mundial

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Na temporada 2004-2005 o Porto contratou dois brasileiros: os meias Diego (ex-Santos), e Quaresma (ex-Barcelona), e o atacante Luís Fabiano (ex-São Paulo). Ambos integrariam o elenco da equipe lusa e lutariam por um objetivo: enfrentar e derrotar os colombianos do Once Caldas, surpreendente equipe que eliminou os ex-clubes de Diego e Luís Fabiano da Copa Libertadores e ficou com a taça pela primeira vez. O Porto teria muita dificuldade para vencer o time devido a já conhecida zaga que não deixava passar nem mosquito de tão retranqueira que era.

 

Na marca da cal, bicampeão mundial

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Em dezembro, na cidade de Tóquio-JAP, Porto e Once Caldas fizeram um jogo histórico não só pelo cunho da decisão de um título mundial, mas também por aquela partida ser a última do torneio naqueles moldes, em jogo único, pois a partir de 2005 ele seria organizado pela FIFA com mais equipes e um novo sistema eliminatório. Vencer aquela competição significaria muito para ambas as equipes. O jogo, claro, foi de um time só, o Porto, que atacou, atacou, atacou e parou na zaga do Once Caldas, no goleiro Henao, e na falta de sorte (foram quatro bolas na trave e dois gols anulados por impedimento!). Depois de 120 minutos angustiantes, a decisão foi para os pênaltis.

Nas cobranças, Diego aproveitou para provocar Henao depois de marcar seu gol e foi expulso. Na quarta cobrança, Maniche acertou a trave. Na quinta cobrança do Once Caldas, Fabbro teve a chance de dar o título ao time colombiano, mas errou. Nas cobranças alternadas, os times foram fazendo seus gols até que García, do Once, chutou para fora. Pedro Emanuel chutou a seguinte do Porto e marcou, enfim, o gol da vitória por 8 a 7 e do título mundial, o segundo do Porto. A equipe se isolava ainda mais como a única de Portugal a ter em sua sala de troféus uma taça mundial, ou melhor, duas (a outra foi conquistada em 1987). Era o encerramento de um ano mágico que jamais deveria terminar para a apaixonada torcida do time azul e branco.

 

Dragões eternos

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Depois do título mundial, o Porto não conseguiu manter a sina vencedora na Liga dos Campeões e sucumbiu no torneio que seria vencido pelo Liverpool em 2005, mas foi bem em solo nacional conquistando vários campeonatos portugueses. O time só voltaria a brilhar em território europeu na temporada 2010-2011 ao conquistar a Liga Europa pela segunda vez, de novo com um promissor treinador luso, André Villas-Boas. As comparações com Mourinho foram instantâneas, mas logo depois ficou claro que ele não era como o Special One. O trabalho feito por Mourinho no Porto foi mágico e impagável, transformando e revelando craques, vencendo partidas improváveis, virando jogos perdidos e conquistando troféus de baciada. Aquele Porto foi, sem dúvida, imortal.

 

Os personagens:

Vítor Baía: uma lenda no Porto e maior goleiro da história do clube, Baía começou na equipe lá em 1987 e jogou até 1996, quando se transferiu para o Barcelona. Ficou pouco na Catalunha até descobrir que seu lugar era mesmo no Porto, para onde voltou em 1999 e ficou até encerrar a carreira, em 2007. Conquistou 26 títulos com o clube, sendo os principais 11 títulos nacionais, 6 Copas de Portugal, 1 Liga dos Campeões, 1 Copa da UEFA e dois Mundiais. Foi um dos maiores goleiros de Portugal e um dos grandes das décadas de 90 e de 2000.

Paulo Ferreira: jogava como volante no início de carreira até a chegada de Mourinho no Porto, em 2002, quando passou a atuar mais recuado, como lateral. Foi muito bem e virou titular absoluto da equipe, jogando tanto na esquerda quanto na direita. Essencial para as glórias do time entre 2002 e 2004.

Seitaridis: era o titular na lateral direita da incrível Grécia campeã da Eurocopa de 2004 justamente em cima de Portugal. Logo após a competição, o grego foi para o Porto, onde jogou como titular em várias partidas, inclusive na decisão do Mundial Interclubes de 2004. Era forte na marcação e podia atuar, também, como volante.

Bosingwa: lateral-direito, o jogador não teve muitas chances com Mourinho entre 2002 e 2004, e passou a condição de titular apenas com a saída do treinador, sendo peça chave nas conquistas nacionais posteriores.

Ricardo Carvalho: começou a jogar no Amarante até se transferir ainda juvenil para o Porto, em 1997, onde começou a crescer profissionalmente e a virar craque sob o comando de Mourinho a partir de 2002. Leal, perfeito nas antecipações e muito seguro, fez uma dupla marcante com Jorge Costa na zaga do Porto naqueles anos mágicos. Depois do título da Liga dos Campeões, foi junto com Mourinho para o Chelsea.

Pedro Emanuel: o zagueiro chegou ao Porto em 2002, mas sofreu por ter de brigar por vagas no time titular com Ricardo Carvalho e Jorge Costa. Ganhou mais chances depois da era Mourinho e com a saída de Carvalho, virando até capitão da equipe nos anos seguintes até se aposentar em 2009.

Jorge Costa: jogou nada mais nada menos que 15 anos no Porto, se transformando no dono da zaga da equipe e num leão em campo, com muito vigor físico e imponência graças aos seus 1,88m de altura. Foi o capitão do time supercampeão entre 2002 e 2004, além de fazer uma dupla de zaga memorável com Ricardo Carvalho. Ganhou praticamente tudo com a camisa do Porto e foi ídolo do time.

Nuno Valente: junto com Derlei, veio para o Porto a pedido de Mourinho e não decepcionou. Tomou conta da lateral-esquerda da equipe com segurança e poder de marcação. Esteve presente nos grandes momentos da equipe entre 2002 e 2004.

Ricardo Costa: passou pelas categorias de base do Porto até subir para o time profissional em 2003, passando a concorrer com os titulares por uma vaga na lateral esquerda. Foi titular na final do Mundial Interclubes e cumpriu seu papel. Podia jogar, também, como zagueiro.

Costinha: um dos grandes craques do Porto, sem dúvida alguma, e dono do meio de campo da equipe. Era um verdadeiro “cão de guarda” e roubava bolas como ninguém, além de se posicionar como poucos, parecendo estar em todas as partes do campo. Surgia como elemento surpresa no ataque e marcava seus gols, principalmente na Liga dos Campeões da UEFA de 2003-2004, na qual ajudou o time com gols salvadores, sendo o maior deles nas oitavas de final contra o Manchester United. Era um dos xodós de Mourinho e titular absoluto. Ídolo do Porto entre 2001 e 2005.

Pedro Mendes: jogou apenas uma temporada no Porto, mas o suficiente para abocanhar o Campeonato Português, a Liga dos Campeões e a Supercopa de Portugal. Cumpriu seu papel e foi muito bem ao lado de Costinha no meio de campo.

Alenichev: era o 12º jogador de Mourinho e presença constante nas etapas finais das partidas. Tinha que concorrer com Deco por uma vaga no meio, por isso acabava perdendo espaço. Mesmo assim, foi titular em vários jogos e decisivo com gols em partidas importantes, marcando gol nas duas finais continentais do Porto: em 2003, na Copa da UEFA, e em 2004, na Liga dos Campeões. Muito habilidoso e com grande visão de jogo, o russo jogou no Porto de 2000 até 2004, até encerrar a carreira no Spartak Moscou-RUS.

Diego: veio do Santos-BRA em 2004 com status de estrela e como o nome certo para o lugar de Deco, mas não correspondeu com as expectativas, mesmo tendo uma boa atuação na conquista do Mundial daquele ano. Não se adaptou à vida em Portugal e deixou a equipe em 2006 para jogar no Werder Bremen-ALE.

Deco: de jogador comum, com passagem curta pelo Corinthians-BRA, à estrela mundial e craque. Deco foi lapidado e viveu momentos fantásticos sob o comando de José Mourinho naquele super Porto. Cerebral, com visão de jogo fora do comum e capacidade de colocar qualquer companheiro na cara do gol, o meia foi o grande nome da equipe naqueles anos, ao lado do brasileiro Derlei. O craque se naturalizou português e jogou a Eurocopa de 2004 por Portugal, além de disputar as Copas do Mundo de 2006 e 2010. Foi eleito o melhor meio-campista de 2004 e o jogador europeu do ano graças às suas atuações pelo Porto naquela temporada. Craque e ídolo eterno do clube, Deco seguiu carreira com muitos títulos pelo Barcelona-ESP, até chegar ao Chelsea e ao Fluminense, onde não repetiu o futebol de outros tempos por conta de seguidas lesões.

Quaresma: chegou à equipe em 2004 e começou marcando muitos gols, como o do título da Supercopa de Portugal pra cima do Benfica. Habilidoso, foi peça importante no ataque da equipe de 2004 até 2008.

Luís Fabiano: chegou ao Porto junto com Diego, em 2004, depois de ser eliminado pelo Once Caldas-COL da Copa Libertadores jogando pelo São Paulo-BRA. No Porto, não repetiu as boas atuações que teve no Tricolor Paulista e marcou pouquíssimos gols. Foi brilhar mesmo no Sevilla-ESP já em 2005.

Maniche: ao lado de Deco, compôs o meio de campo criativo do Porto entre 2002 e 2004. Com gols, passes e tabelas, ajudou a equipe a conquistar quase tudo o que disputou, com muita regularidade e disciplina, graças ao estilo de jogo proposto por Mourinho. Foi um dos grandes jogadores de seu tempo e presença constante na seleção portuguesa.

Derlei: o brasileiro chegou ao Porto em 2002, junto com o técnico José Mourinho, e, no auge da forma, se tornou um matador implacável no ataque do time. Graças aos seus gols, a equipe azul e branca conquistou o “falso” Treble na temporada 2002-2003, com destaque para a Copa da UEFA, onde Derlei foi sensacional e marcou 12 gols, sendo dois na vitória por 3 a 2 contra o Celtic-ESC na grande decisão. Na temporada seguinte, McCarthy virou o homem gol do time, mas Derlei permaneceu lá, sempre ajudando a equipe, como no gol de pênalti contra o La Coruña-ESP, nas semifinais, que colocou o Porto na final da Liga dos Campeões da UEFA. Foi ídolo e essencial para as glórias daqueles anos.

Hélder Postiga: cria do Porto, o atacante teve grandes momentos na temporada 2002-2003, contribuindo para os títulos daquele ano. Teve o azar de ser emprestado ao Tottenham-ING e perdeu a chance de conquistar a Liga dos Campeões da UEFA na temporada seguinte. Voltou ao time tempo depois e ajudou nas conquistas caseiras entre 2005 e 2007.

Benni McCarthy: o atacante sul-africano jogou no Porto apenas alguns jogos na temporada 2001-2002′, emprestado pelo Celta de Vigo, mas o suficiente para impressionar a todos com sua velocidade, oportunismo e faro de gols. Mourinho exigiu que o jogador fosse contratado em definitivo para a temporada seguinte e a diretoria, claro, atendeu. Com o atacante em campo, o Porto foi bicampeão português e seguiu a passos largos rumo ao título da Liga dos Campeões da UEFA. McCarthy foi o artilheiro do Campeonato Português naquela temporada com 20 gols, além de se entender muito bem com qualquer companheiro no ataque, seja Derlei, Carlos Alberto ou mesmo Luís Fabiano.

Carlos Alberto: o brasileiro chegou ao Porto como grande promessa depois de simplesmente arrasar nas categorias de base do Fluminense-BRA e no time principal. Chegou iluminado à equipe e formou uma dupla de ataque fantástica com McCarthy, principalmente na Liga dos Campeões da UEFA, onde o brasileiro marcou o primeiro dos três gols do time na final contra o Monaco. Ficou na equipe apenas naquele ano de 2004, mas o suficiente para ganhar quatro títulos: Campeonato Português, Supercopa de Portugal, Liga dos Campeões da UEFA e Mundial Interclubes. Em 2005, foi para o Corinthians-BRA da conturbada MSI e seu futebol começou a desaparecer.

Jankauskas: o atacante da Lituânia não era titular na equipe de Mourinho, mas ajudou muito o time marcando vários gols nas campanhas vitoriosas de 2003 e 2004. O jogador se tornou o primeiro de seu país a vencer uma Liga dos Campeões da UEFA, em 2004. Ganhou sete troféus com a camisa do clube.

José Mourinho e Víctor Fernandéz (Técnicos): José Mourinho se revelou para o mundo do futebol fazendo um trabalho de gênio com o Futebol Clube do Porto. Foram quase três anos de conquistas, vitórias emblemáticas e façanhas contra todos os prognósticos. O treinador transformou jovens e talentosos jogadores em craques do mais alto nível, impondo confiança e o espírito vencedor em cada um e em cada membro do clube. Com Mourinho, o Porto voltou a ser temido por todos e a vencer em solo europeu, conquistando uma inédita Copa da UEFA para Portugal, em 2003, e se igualando ao rival Benfica com o bicampeonato da Liga dos Campeões da UEFA, em 2004. Com a sua saída, o time enfraqueceu muito, mas não perdeu o espírito vencedor e ganhou mais dois troféus sob o comando de Víctor Fernandéz: a Supercopa de Portugal e o Mundial Interclubes, troféu este que encerrou com chave de ouro um período fantástico na história do clube.

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5 Comentários

  1. Lamento ter que discordar de vc caio, o Porto de 2004 tinha sim estrelas e muitas como deco, carvalho, quaresma, luis fabiano entre outros e ao contário do corinthians de 2012 esse time dava show era envolvente lembrava o barça de hj. grande porto

  2. A trajetória do Porto de 2004 me lembra um pouco o time do Corinthians em 2012, nas suas devidas proporções. Um time que não tinha estrelas, mas que com o dedo do treinador, se tornou um time cascudo e competitivo, com a força do conjunto e a aplicação dos jogadores como o diferencial. Tanto o Porto como o Corinthians conseguiram alcançar o topo do Mundo. Inclusive, o Tite disse que já se inspirou no Mourinho.

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