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Craque Imortal – Franco Baresi

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Nascimento: 08 de Maio de 1960, em Travagliato, Itália.

Posição: Líbero / Zagueiro

Clube: Milan (1977-1997).

Principais títulos por clube: 2 Mundiais Interclubes (1989 e 1990), 3 Liga dos Campeões da UEFA (1988-1989, 1989-1990 e 1993-1994), 3 Supercopas da UEFA (1989, 1990 e 1994), 6 Campeonatos Italianos (1978-1979, 1987-1988, 1991-1992, 1992-1993, 1993-1994 e 1995-1996) e 4 Supercopas da Itália (1988, 1992, 1993 e 1994) pelo Milan.

Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (1982).

Títulos Individuais:

Bola de Prata da Revista France Football: 1989

Melhor Jogador do Campeonato Italiano: 1990

Jogador do Século do Milan: 1999

FIFA 100: 2004

Jogador Italiano do Século XX pela FIGC: 2004

Eleito para a Seleção dos Sonhos da Itália do Imortais: 2020

Eleito para o Time dos Sonhos do Milan do Imortais: 2021

 

“Senhor Milan”

Por Guilherme Diniz

O futebol italiano é conhecido no mundo inteiro pela fantástica capacidade de revelar zagueiros impecáveis e seguros como nenhum outro país é capaz de fazer. E, entre os grandes zagueiros já criados na Itália, nenhum outro é tão lembrado pela qualidade, liderança, perfeição e técnica quanto Franco Baresi, simplesmente o melhor líbero da história do futebol italiano (e um dos melhores do mundo) e melhor defensor do planeta nas décadas de 80 e 90. Baresi foi chamado de “o Beckenbauer dos anos 80 e 90”, mas foi muito mais que isso. O craque reinventou o papel do líbero no futebol com atuações magistrais, velocidade, desarmes, posicionamento perfeito e raça. Mito do Milan, seu único clube na carreira e que aposentou o número 6 (a camisa de Baresi) pela primeira vez em sua história, Baresi foi um gênio capaz de parar outros gênios, como Romário, que nada fez na final da Copa do Mundo de 1994, mesmo com Baresi vindo de contusão. Imagine se o capitão da Azzurra estivesse 100%… O Imortais relembra agora a carreira desse símbolo rossonero e italiano, que completou a santíssima trindade dos maiores líberos do futebol mundial: Beckenbauer-Scirea-Baresi.

 

Indo para o lado oposto

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Natural de Travagliato, província de Brescia (norte da Itália), Franco Baresi sofreu duros golpes da vida logo aos 16 anos, quando perdeu pai e mãe num intervalo de dois anos. Após isso, ele e seu irmão mais velho, Giuseppe, decidiram investir na carreira de jogador de futebol. Giuseppe, torcedor da Internazionale, foi tentar a sorte no clube nerazzurri junto com o irmão. Nos testes, Giuseppe passou e fez carreira na equipe de Milão, disputando mais de 500 partidas pela Inter. Já Franco não foi aprovado, por ser “franzino” e frágil demais. Intrigado, o jovem foi para o rival Milan, seu time do coração. Lá, o jovem foi aprovado e teve seus talentos identificados pelos rossoneri.

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No Milan, Baresi conciliou os estudos com os treinos e logo foi demonstrando seus dotes como zagueiro, mesmo sendo baixo para a posição (1,76m). Tímido e fechado, Baresi se transformava em campo ao por para fora a frustração que sentia dentro de si, trabalhando muito e se dedicando ao máximo. O então técnico do Milan, Nils Liedholm, ficou rapidamente encantado com o jogador e o promoveu aos titulares em 1978. Jovem, Baresi ganhou a condição de titular já na temporada 1978-1979, que marcaria sua primeira conquista.

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Caneco, queda e glória pela seleção

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Logo em sua primeira temporada como líbero titular, Baresi ajudou o Milan a colocar a tão sonhada estrela acima do escudo com o 10º título do Campeonato Italiano de 1978-1979. Com uma zaga impecável, que levou apenas 19 gols em 30 jogos, o time rossoneri levou o Scudetto com três pontos de vantagem sobre o Perugia. Na competição, Baresi encantou a todos com seu estilo de jogo, implacável na marcação dos atacantes adversários, sem medo de divididas, perfeito na cobertura aos companheiros de zaga e ótimo com a bola nos pés quando subia ao ataque. O camisa 6 era exemplar, único e logo virou o xodó da torcida. Mas a alegria de Baresi durou pouco.

Logo na temporada seguinte, o craque viu seu Milan ser rebaixado para a Série B devido ao escândalo de manipulação de resultados que ficou conhecido como Totonero. Vários jogadores e dirigentes foram presos e clubes foram punidos num escândalo que chocou imprensa e público em todo mundo. Mesmo assim, Baresi seguiu intacto na zaga do Milan e, aos 22 anos, ganhou a braçadeira de capitão que ostentou até o final da carreira.  No período, já figurava constantemente nas convocações do técnico Enzo Bearzot e sabia que integraria o elenco da Copa do Mundo de 1982. Antes do mundial, porém, viveu mais um rebaixamento com o Milan em 1981-1982, um ano depois de conseguir subir para a Série A.

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Na Copa do Mundo, Baresi teve que se contentar com a reserva da Itália, afinal, o esquadrão da Azzurra tinha ninguém mais ninguém menos que Gaetano Scirea como líbero titular. Claro, o jovem Baresi não teve chances, e viu do banco a Itália derrotar rivais de peso como Argentina, Brasil e Alemanha e vencer o tricampeonato mundial, que significou a volta por cima do futebol no país. Tão jovem e com uma Copa no currículo, Baresi tinha moral e a esperança de voltar a sorrir no seu Milan. O que não demoraria a acontecer.

 

Novos ares no San Siro

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Depois de cair em 1982, o Milan voltou à Série A já na temporada 1983-1984. A equipe ficou na oitava colocação e, em 1985, na quinta. As vacas eram magras para o clube rossoneri até que, em 1986, Silvio Berlusconi assumiu a presidência do clube e começou a mudar completamente a história do Milan. Chegaram os holandeses Van Basten, Ruud Gullit e Frank Rijkaard e o técnico Arrigo Sacchi. Ambos se juntaram a forte linha defensiva que o Milan já tinha, com Tassotti, Costacurta, Maldini e, claro, Baresi, e começaram a fazer do Milan um time dos sonhos. Baresi se tornou ainda mais o “dono da equipe” em campo, voltou a ter brilho e viu o resultado já na temporada 1987-1988 com a conquista do Scudetto, quando a equipe teve uma das melhores performances defensivas da história do torneio, com apenas 14 gols sofridos em 30 jogos. O caneco levou o time do Milan a Liga dos Campeões da UEFA de 1988-1989.

 

Conquistando a Europa e o Mundo

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Em 1989, Baresi levantou a sua primeira taça da Liga dos Campeões da UEFA, após o Milan golear o Steaua Bucareste por 4 a 0 na grande final. Foi o primeiro grande título do craque e a consagração do brilhante quarteto defensivo do time: Maldini, Baresi, Costacurta e Tassotti. Era simplesmente um paredão, que garantia a proteção que o meio de campo e ataque rossoneri precisavam para entupir os adversários de gols. A equipe ainda venceria o Mundial Interclubes naquele ano, além da Supercopa da UEFA. Baresi jogou demais naquela temporada, foi eleito o segundo melhor jogador da Europa e credenciou sua participação na Copa do Mundo da Itália, em 1990, sua volta ao torneio depois das desavenças com Bearzot que o tiraram do Mundial de 1986.

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Jogando para o mundo ver

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Na Copa de 1990, Baresi fez parte da brilhante zaga da Itália que ficou até as semifinais sem levar um gol sequer. O craque novamente foi estrelar, impecável e seguro como sempre. Os italianos caíram justamente quando levaram gol, diante da Argentina de Maradona, que segurou um empate em 1 a 1 com os donos da casa e foram para a final ao vencer a disputa de pênaltis. Os italianos tiveram que se contentar com o terceiro lugar, vencendo a Inglaterra. Em sua primeira Copa como titular, Baresi foi ótimo, mas não conseguiu a taça. Era preciso esperar mais quatro anos.

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Esquadrão dos sonhos

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Se pela seleção Baresi não conseguiu um título, pelo Milan ele seguiu fazendo história e ganhando “muque” de tanto levantar troféus. Em 1990, o líbero ergueu mais uma Liga dos Campeões da UEFA, um Mundial Interclubes e uma Supercopa da UEFA. A equipe conseguia um feito que demoraria quase 30 anos para ser igualado por outro clube europeu: vencer duas Ligas de maneira consecutiva. Depois de mais um ano impecável, o Milan voltou suas atenções para o Campeonato Italiano, que ele não vencia desde 1988. Foi então que em 1991-1992 a equipe, agora comandada por Fabio Capello, deu show e conquistou o Scudetto de maneira invicta, com 22 vitórias e 12 empates em 34 jogos, atingindo um total de 58 jogos sem perder no torneio.

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Foi histórico e fez do Milan o primeiro clube na Itália a conseguir o feito, que só foi igualado pela Juventus, em 2011-2012. O time italiano ainda venceu os Scudettos de 1992-1993 e 1993-1994, completando um tricampeonato formidável. O único momento ruim para Baresi e seu Milan no período foi a derrota na final da Liga dos Campeões da UEFA de 1993, para o Olympique de Marselha, e a derrota para o São Paulo no Mundial Interclubes do mesmo ano, quando o Milan disputou o torneio no lugar do clube francês, punido por conta de um escândalo de corrupção.

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A última Liga antes da Copa

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Em 1994, o Milan não só venceu o Scudetto como também voltou a conquistar a Europa, ao golear o Barcelona por 4 a 0 e apagar a frustração do vice de 1993. Na decisão, Baresi teve que assistir a tudo das arquibancadas, pois estava suspenso. Mesmo assim, o craque celebrou como nunca sua terceira (e última) taça europeia, mas não conseguiu celebrar o Mundial Interclubes, perdido para o brilhante Vélez de Bianchi e Chilavert.

 

Drama nos EUA

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Baresi sabia que a Copa do Mundo de 1994, nos EUA, seria sua última. Aos 34 anos, o craque dificilmente teria condições de disputar um novo Mundial em 1998. Por isso, o capitão da Azzurra foi com tudo em busca do tetra. Porém, ainda na fase de grupos, o zagueiro sofreu uma séria lesão no joelho, no dia 23 de junho. O zagueiro, porém, não se abateu, operou, se esforçou e prometeu estar em campo no dia 17 de julho, data da grande final da Copa. A Itália fez sua parte e chegou à decisão. Baresi, longe de estar 100%, conseguiu jogar, num claro e épico exemplo de superação e amor à pátria. Na final contra o Brasil, o líbero teve uma atuação heroica e simplesmente anulou o maior craque brasileiro: Romário, que destacou a atuação do craque italiano após o jogo:

“Foi a marcação mais implacável que recebi em toda a minha carreira.”

Depois de um longo 0 a 0, tanto no tempo normal quanto na prorrogação, os países decidiram nos pênaltis quem seria o primeiro tetracampeão do futebol mundial. Logo na primeira cobrança, Baresi partiu e chutou longe do gol de Taffarel. Baggio perdeu o seu tempo depois, e o Brasil venceu, depois de 24 anos, uma Copa do Mundo. Foi o drama de Baresi, que fez o mundo ver pela primeira vez lágrimas em propulsão em seu rosto. O craque não acreditava que mais uma vez a Copa havia escorregado de suas mãos. A geração dele, de Costacurta e de Maldini parecia, mesmo, que não tinha nascido para ser campeã do mundo, assim como a geração de 1982 do Brasil. Coisas do futebol…

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Glória derradeira

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Depois da Copa de 1994, Baresi continuou firme no Milan, mas os títulos no clube italiano começavam a minguar. Envelhecido, o clube não conseguia bater de frente com o Ajax, a Juventus e o Real Madrid, trio mais brilhante da Europa na época e vencedores das Ligas dos Campeões de 1995, 1996 e 1998, respectivamente, com o Borussia Dortmund como “intruso” em 1997. Porém, em 1996, Baresi venceria seu último título: o Campeonato Italiano, conquistando com folgados oito pontos de vantagem sobre a “ocupada” Juventus, que focava a Liga dos Campeões no período. O capitão levantava seu sexto Scudetto na carreira, mesmo número de sua camisa. Um sinal de que era hora de parar.

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Adeus ao mito

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Em 1997, depois de 20 anos, 719 partidas e 33 gols, Franco Baresi decidiu pendurar as chuteiras. O adeus do craque foi no estádio San Siro lotado com 70 mil apaixonados torcedores, que reverenciaram um mito genuíno do Milan, exemplo de paixão, louvor e amor a um clube. Pela importância, títulos, partidas e história, o Milan decidiu aposentar o número 6 de seu escrete, algo feito pela primeira vez pelo time rossoneri.

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Apenas outro jogador conseguiu a façanha de ter sua camisa aposentada no clube: o também defensor Maldini, parceiro de Baresi em grande parte de sua carreira e presente nos áureos tempos do final da década de 80. Terminava ali a carreira de um símbolo do Milan, capitão, líder, impecável, eterno. Baresi, hoje, é embaixador do Milan e visita diversos países promovendo a história do clube, que se confunde com a sua própria de jogador nato que cravou com classe e perfeição seu nome no rol dos imortais do futebol italiano e mundial. Um craque para a eternidade.

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Números de destaque:

É o segundo jogador com maior número de partidas na história do Milan: 719 jogos, de 1977 e 1997.

Disputou 81 jogos pela seleção da Itália.

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