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Seleções Imortais – Espanha 2008-2012

Em pé: Pedro, Sergio Busquets, Sergio Ramos, Capdevilla, Piqué e Xabi Alonso. Agachados: Casillas, Iniesta, Villa, Xavi e Puyol.
Em pé: Pedro, Sergio Busquets, Sergio Ramos, Capdevila, Piqué e Xabi Alonso. Agachados: Casillas, Iniesta, Villa, Xavi e Puyol.

 

Grandes feitos: Campeã da Copa do Mundo da FIFA (2010) e Bicampeã da Eurocopa (2008 e 2012).

Time base: Casillas; Sergio Ramos (Arbeloa), Piqué (Marchena), Puyol e Capdevila (Jordi Alba); Sergio Busquets (Marcos Senna / Jesús Navas), Xabi Alonso (Cesc Fàbregas / Juan Mata), Iniesta e Xavi; Pedro (David Silva) e Villa (Fernando Torres). Técnicos: Luis Aragonés (2008) e Vicente Del Bosque (2008-2012).

“Uma seleção furiosa. E brilhante.”

Por Guilherme Diniz

 

Até o ano de 2008, a Espanha sempre era tida como favorita em todas as competições que disputava. Porém, inexplicavelmente, o time sempre sucumbia, seja nas fases de grupos, seja nas fases de mata-mata. As quedas mais dolorosas foram na Copa do Mundo de 2002, quando a equipe foi claramente “garfada” pela arbitragem no jogo contra a Coreia do Sul, nas quartas de final, e em 2006, ao ser derrotada categoricamente pela França de Zidane. Após o Mundial de 2006, o time precisava juntar os cacos e desempenhar um bom papel na Eurocopa de 2008. E foi a partir daquela competição que o então técnico Luis Aragonés começou a construir uma equipe que daria show nos próximos seis anos com um toque de bola refinado, jogadores extremamente técnicos e que não deixava os adversários jogarem.

Levar gols? Era bem raro. Marcar? Sempre, ora de maneira econômica, ora em propulsão. Utilizando como base as estrelas espanholas dos maiores times da Espanha, Barcelona e Real Madrid, Aragonés levou a Fúria ao segundo título da Eurocopa ao bater a Alemanha na final. Pronto, a síndrome de “amarelona” estava temporariamente enterrada. Faltava, porém, ir bem na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

E a Espanha, depois de um susto na estreia, caminhou a passos largos rumo a uma inédita final, contra a Holanda. Um gol de Iniesta na prorrogação colocou os espanhóis, depois de tanto tempo, no topo do mundo. Dois anos depois, o auge veio com o bicampeonato consecutivo da Eurocopa, com direito a uma goleada avassaladora de 4 a 0 sobre a Itália. Era a confirmação de que aquela Espanha era mesmo diferente. Dona de uma era e protagonista do tiki-taka, nome do estilo de jogo da melhor “roja” de todos os tempos. É hora de relembrar.

 

Hora da redenção

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Depois de cair logo nas oitavas de final da Copa de 2006, a Espanha iniciou seu caminho rumo à fase final da Eurocopa de 2008, disputada na Áustria e na Suíça. O time fez pequenos ajustes na equipe de 2006 e conseguiu a classificação para a Euro como líder de seu grupo nas eliminatórias, com nove vitórias, um empate e duas derrotas em 12 jogos. A equipe marcou 23 gols e sofreu apenas 8, sendo soberana nas partidas em casa, com seis vitórias em seis jogos. O time começava a mostrar uma eficiência tremenda em seu meio campo e ataque, com Torres, Villa, Silva e Fàbregas brilhando intensamente. Era hora de partir em busca do título europeu, conquista que não vinha desde 1964.

 

Desfilando na primeira fase

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A Espanha não encontrou dificuldades na fase de grupos da Euro e venceu os três jogos que disputou. A estreia foi contra a tradicional seleção da Rússia, que não foi párea para a dupla Villa e Torres. Foram deles (três de Villa e um de Torres) os gols da goleada por 4 a 1. Na partida seguinte, embate contra a Suécia de Ibrahimovic e Larsson. Torres abriu o placar aos 15´do primeiro tempo. Pouco tempo depois, Ibra empatou. No segundo tempo, já nos acréscimos, Villa conseguiu marcar o gol da vitória da Espanha, que praticamente garantia a equipe nas quartas de final. A última partida foi contra a então campeã europeia, a Grécia. Os gregos abriram o placar com o matador Charisteas, aos 42´do primeiro tempo. Porém, no segundo tempo, a Espanha colocou a bola no chão, pôs o adversário na roda, e virou o jogo para 2 a 1, gols de Rubén de La Red e Güiza. Torres e Villa foram poupados e não jogaram nesse jogo. Com 100% de aproveitamento, a Espanha estava classificada e embalada. Mas tinha um problema: o adversário seguinte seria a campeã mundial de 2006: a Itália.

 

Duelo impróprio para cardíacos

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A Itália já não era mais comandada pelo ótimo técnico Marcelo Lippi, mas sim pelo ex-jogador Roberto Donadoni. O time não tinha mais Cannavaro e apostava em jogadores de pouco brilho para tentar conquistar a Europa e igualar os feitos da Alemanha e França, únicas seleções da Europa a vencer Copa do Mundo e Eurocopa de maneira consecutiva. Como era de se esperar, a partida entre espanhóis e italianos foi bem disputada, com a Itália sendo eficiente como sempre na defesa, mas praticamente nula no ataque. Sem conseguir furar o bloqueio azul, a Espanha não marcou gols pela primeira vez na competição, e viu a decisão para as semifinais ir para os pênaltis.

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A Itália nunca teve sorte em decisões por pênaltis, exceto em 2006, quando exorcizou os fantasmas e venceu a Copa. Porém, eles voltaram naquela partida. De Rossi e Di Natale erraram e a Espanha venceu os italianos por 4 a 2, garantindo, no sufoco, a classificação. Vencer os campeões mundiais foi um grande feito para a Espanha, que mostrava à Europa e ao mundo que estava mais forte do que nunca.

 

Novo velho adversário

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Nas semifinais, a Espanha encarou novamente a Rússia. Os russos haviam sido goleados pelos espanhóis na fase de grupos e queriam vingança. O que não aconteceu. Em uma partida incrível de Iniesta, a Espanha goleou novamente a Rússia marcando todos os gols no segundo tempo: 3 a 0, com Xavi, Güiza e Silva. A Fúria estava na final. E mais furiosa do que nunca! A decisão seria contra a sempre perigosa, e “de chegada”, Alemanha.

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Duelo de um time só

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A Alemanha ainda não tinha alguns dos jogadores que encantariam o mundo na Copa de 2010 como Özil e Müller, mas tinha uma equipe de respeito com Schweinsteiger, Lahm, Ballack, Podolski e o matador Klose. Porém, os alemães não viram a cor da bola na final. Com seu toque de bola magistral e envolvente, a Espanha tomou conta do jogo desde o início, e não deixou o rival jogar. Torres abriu o placar aos 33´do primeiro tempo, decretando o 1 a 0. Mesmo com a magra vitória, o placar não refletiu a superioridade espanhola em campo. Depois de 44 anos, a Espanha era campeã da Europa. De quebra, era a primeira seleção desde a própria Alemanha, em 1996, a vencer de maneira invicta a Eurocopa. Era a redenção da equipe que decepcionou na Copa de 2006, e a coroação de ótimos jogadores. Villa foi o artilheiro do torneio com 4 gols, e Xavi foi eleito o melhor jogador da competição. A Espanha deu exemplo, também, de fair play, ao não ter nenhum jogador expulso no torneio.

O time da final: mesmo com apenas um atacante de ofício, equipe espanhola sufocava rivais com muito volume de jogo no ataque.

 

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Quebrando recordes

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No mesmo ano de 2008, a Espanha assumiu pela primeira vez a liderança do ranking da FIFA. O time estava em uma maré divina, e queria manter o embalo até a Copa de 2010. Vicente Del Bosque assumiu o comando da equipe logo após a Euro, com a saída de Aragonés. O bonachão e sempre sisudo treinador manteve o ritmo de jogo da equipe e enfatizou ainda mais a posse de bola, que estava em alta na época com o já brilhante Barcelona. Com isso, a equipe deu show nas eliminatórias para a Copa e venceu todos os seus 10 jogos. Isso mesmo, 10 vitórias em 10 jogos, com 28 gols marcados e apenas 5 sofridos. Bélgica, Bósnia, Turquia, Estônia e Armênia não foram páreos para os furiosos espanhóis, que viram Villa marcar 16 gols em 15 jogos em 2008 e quebrar o recorde de Raúl, de 1999.

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Feito histórico e zebra

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Em 2009, na Copa das Confederações, outro recorde: após as três vitórias contra Nova Zelândia, África do Sul e Iraque, a Espanha chegou ao recorde mundial de 15 vitórias consecutivas, sendo a primeira seleção na história a conseguir tal feito. A equipe ainda igualou o recorde do Brasil de 35 jogos consecutivos sem derrota. Porém, nas semifinais do torneio, contra os EUA, a equipe sofreu um apagão inexplicável, daqueles que os espanhóis já estavam acostumados nos últimos anos, e perdeu por 2 a 0, impedindo a quebra do recorde de jogos sem derrota. O time perdia a chance de tentar vencer um título inédito e de fazer uma final mágica contra o Brasil, que foi o campeão. A Fúria teve de se contentar com o terceiro lugar.

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Hora da Copa

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Depois do apagão na Copa das Confederações, a Espanha entrou na Copa do Mundo precavida, mas muito favorita. Ela era a seleção mais votada nas bolsas de apostas e todos davam como certa a conquista do título na África do Sul. O time estava no Grupo H, ao lado de Suíça, Chile e Honduras. Os adversários eram fáceis, mas a equipe sofreu um susto logo de cara. Na estreia, contra a Suíça, o time perdeu por 1 a 0 e já protagonizava a primeira zebra da Copa. Isso provocou o medo na torcida espanhola, que começou a ver o filme da Copa de 1998, quando a Espanha, com uma ótima equipe, foi eliminada logo na fase de grupos. Porém, aquilo foi um mero susto: o time não sofreria mais na competição.

Na partida seguinte, contra Honduras, começou a brilhar a estrela de David Villa, que seria um dos artilheiros do Mundial. O craque marcou os dois gols da vitória espanhola por 2 a 0. Com a vitória do Chile no outro jogo, a Espanha tinha a obrigação de vencer os latinos se quisesse avançar no torneio. E foi o que fez os europeus. Com gols de Villa e Iniesta, a Espanha venceu o Chile por 2 a 1, viu a Suíça empatar sem gols com Honduras, e se classificou em primeiro no grupo, ao lado do próprio Chile. A partida contra os chilenos seria a última em que os espanhóis sofreriam gols.

 

Início do “matas”

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Nas oitavas de final, a Espanha fez um clássico ibérico contra Portugal. Os espanhóis dominaram o jogo como sempre, mas tinham dificuldades para furar a meta do goleiro Eduardo. Até que, no segundo tempo, Xavi deu um passe magistral para o artilheiro David Villa marcar o único gol do jogo, decretando a vitória por 1 a 0. A Espanha estava nas quartas de final, e eliminava um dos fortes rivais em busca do título.

 

Haja coração!

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A Espanha encarou o Paraguai nas quartas de final da Copa. O duelo foi equilibrado, mas com a Espanha tendo sempre maior posse de bola e as melhores oportunidades. Depois de um primeiro tempo morno, o segundo foi apoteótico. O Paraguai teve um pênalti a seu favor após falta de Piqué em Cardozo. O atacante paraguaio partiu para a bola e… Casillas defendeu! Tempo depois, foi a vez de a Espanha ter um pênalti a seu favor. Xabi Alonso bateu e marcou, mas o juiz mandou voltar. Na nova cobrança, Alonso bateu e… O goleiro Villar defendeu! O jogo parecia caminhar para a prorrogação, até que aos 82´, Villa, sempre ele, encheu o pé após aproveitar um rebote de um chute na trave de Pedro. Espanha 1×0 Paraguai. A equipe comandada por Del Bosque chegava, pela primeira vez desde a Copa de 1950, em uma semifinal de Copa. No sufoco, mas chegava. O adversário seria a sensação da Copa: a Alemanha.

 

Sem favorito

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A Alemanha estava irresistível até as semifinais da Copa de 2010. O time havia protagonizado dois shows épicos contra duas potências mundiais, Inglaterra e Argentina, ao golear ambas por 4 a 1 e 4 a 0, respectivamente. Porém, contra a Espanha, a Alemanha teria pela frente um adversário completamente diferente. A Fúria primava pela posse de bola, era extremamente técnica e decisiva no ponto certo. A Alemanha também primava pela técnica, contava com o jovem e brilhante Müller e tinha um ataque arrasador. Com isso, o duelo não tinha favorito. Qualquer coisa podia acontecer.

 

Enfim, finalista

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A Espanha soube neutralizar de maneira plena a Alemanha nas semifinais. A Fúria conseguiu fazer um time que jogava somente no ataque passar a maior parte do jogo recuado em sua defesa. Os espanhóis, mais uma vez, dominaram a partida, tiveram as melhores chances, mas… O gol não saia de jeito nenhum. Se o ataque não resolvia, foi um zagueiro quem colocou a Espanha na final. Aos 73´, Xavi cobrou um escanteio e Puyol cabeceou para o fundo do gol do goleiro Neuer. Quem diria! Um zagueiro marcava o tento salvador da Espanha, que garantiu o 1 a 0 (o terceiro consecutivo) que colocou a Espanha na final de uma Copa do Mundo pela primeira vez. Nunca um título mundial esteve tão perto. Aquela chance não podia ser desperdiçada de jeito algum.

A Espanha da Copa: toque de bola, movimentação e qualidade fizeram a diferença. E o mundial ficou em boas mãos.
A Espanha da Copa: toque de bola, movimentação e qualidade fizeram a diferença. E o mundial ficou em boas mãos.

 

As grandes escolas se encontram

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O mundo iria conhecer no dia 11 de julho de 2010, no belíssimo estádio Soccer City, em Johanesburgo, África do Sul, um inédito campeão mundial. Holanda e Espanha faziam a final e se encontravam pela primeira vez na história em um torneio internacional. Era o duelo entre duas das mais cultuadas e celebradas escolas do futebol. De um lado, a Holanda, que deixava de lado suas raízes técnicas e “totais” para praticar um futebol mais rígido e sisudo naquela Copa. Do outro, a Espanha fazia o que a própria Holanda e o Brasil ensinaram tão bem ao longo dos anos: jogar futebol bonito, para frente, com toque de bola refinado e preciso. A inversão de papéis dava um leve favoritismo à Espanha. Porém, a Holanda estava invicta no torneio com seis vitórias em seis jogos, e deixou para trás adversários como Brasil e Uruguai. No geral, seria um duelo equilibrado. Como ficou provado quando a bola rolou.

 

Pancadaria livre

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Com a bola rolando, o que se viu foi um dos jogos mais violentos da Copa e também a final com mais cartões na história: 14, sendo 9 apenas para a Holanda, somando um cartão vermelho ao zagueiro Heitinga. A Holanda praticou um futebol totalmente aquém de sua rica história, e a pancadaria rolou solta na partida, com direito a um legítimo “golpe de karatê” de De Jong no peito do espanhol Xabi Alonso em um lance repugnante. Mesmo assim, a Holanda ainda teve ótimas chances de gol, as melhores com a estrela Robben, mas que não entraram no gol de Casillas. A Espanha também teve tudo para marcar, principalmente em uma cabeçada de Sergio Ramos, mas o placar insistiu em ficar no 0 a 0. Pela segunda vez consecutiva, a Copa ia para a prorrogação. Será que veríamos, também pela segunda vez seguida, uma decisão por pênaltis?

 

Inieeeeeesta!

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Pedro, Villa e Xabi Alonso já haviam deixado o campo para as entradas de Navas, Fàbregas e Torres na Espanha. A Fúria queria a qualquer custo decidir a partida sem necessitar dos pênaltis. Até que, faltando apenas quatro minutos para o fim da prorrogação, Fàbregas deu um passe na medida para Iniesta, (o mesmo que em 2009 marcara um gol épico no último segundo do jogo que colocou o Barcelona na final da Liga dos Campeões da UEFA) que encheu o pé e marcou o gol do título espanhol: Espanha 1×0 Holanda. O estádio vibrava em uníssono. A Espanha era só delírio! Enfim, o esquadrão ibérico conquistava o mundo.

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Era a segunda seleção da história a vencer uma Copa fora de seu continente, igualando o feito do Brasil, que venceu duas Copas longe da América (em 1958, na Suécia, e em 2002, no Japão). De quebra, a Espanha igualava os feitos da Alemanha de Beckenbauer e da França de Zidane como uma das únicas a vencer uma Copa do Mundo e uma Eurocopa de maneira consecutiva. O título colocava os espanhóis definitivamente no rol dos imortais do futebol. Era a consagração de Puyol, Sergio Ramos, Xabi Alonso, Busquets, Iniesta, Xavi, Villa, Torres e Casillas, que se tornava o segundo goleiro capitão a erguer a taça FIFA, como o italiano Dino Zoff, em 1982. Ninguém podia com os espanhóis. O mundo era a fúria pura!

 

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O auge (e quem precisa de centroavantes?)

Soccer Euro 2012 Spain Italy

Absoluta no ranking da FIFA e com a pompa de campeã do mundo, foi natural que a Espanha entrasse como uma das favoritas ao título da Eurocopa de 2012, disputada na Polônia e na Ucrânia entre junho e julho. A equipe passou facilmente pelas Eliminatórias com oito vitórias em oito jogos, 26 gols marcados e seis gols sofridos, sem dar chance alguma para República Tcheca, Escócia, Lituânia e Liechtenstein. Quando o torneio começou, a roja teve pela frente a Itália e levou um susto no segundo tempo, quando Di Natale abriu o placar. Mas, três minutos depois, Fàbregas empatou e manteve a ordem na casa. Nos duelos seguintes, triunfos fáceis sobre Irlanda do Norte (4 a 0, com dois gols de Torres, um de Silva e outro de Fàbregas) e Croácia (1 a 0, gol de Navas), resultados que classificaram a Espanha como primeira colocada do Grupo C. Nas quartas de final, a equipe de Vicente Del Bosque encarou a remodelada França do técnico Laurent Blanc e venceu por 2 a 0, com dois gols de Xabi Alonso. Na semifinal, o duelo ibérico e tenso contra Portugal terminou empatado sem gols, forçando a disputa de pênaltis. Nela, os espanhóis venceram por 4 a 2 e chegaram a mais uma final europeia.

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Diante de mais de 60 mil pessoas no estádio Olímpico de Kiev, na Ucrânia, a Espanha transformou a final da Eurocopa contra a Itália em uma passarela para desfilar suas virtudes e calar aqueles que taxavam seu futebol como “chato”. Com a natural posse de bola, toques envolventes e lances de contragolpe letais, a equipe dominou a Azzurra durante os 90 minutos e não foi agredida em nenhum momento. A festa começou aos 14´, quando Silva abriu o placar. No final do primeiro tempo, o habilidoso Jordi Alba confirmou a boa fase e fez o segundo gol. No segundo tempo, Torres entrou e fez o terceiro. Aos 43´, Juan Mata, outro que também entrou na etapa complementar, fez o quarto, e transformou a decisão em goleada: 4 a 0, maior resultado de uma final em toda a história da Eurocopa. Era o tricampeonato europeu da Espanha e o segundo título consecutivo, outra façanha inédita protagonizada pela seleção roja na competição. A conquista continental não só consolidou a força da equipe perante os rivais como mostrou que era possível jogar futebol sem um centroavante de ofício. Em várias partidas, a equipe atuou praticamente com meias do meio de campo para frente, com todos aptos a marcar gols. Foi uma enorme inversão de realidade e a consagração plena do tiki-taka espanhol.

No time de 2012, Del Bosque ousou ao não escalar um centroavante de ofício. Loucura? De jeito nenhum. Os espanhóis sabiam muito bem como marcar gols.

 

A queda no Brasil

Infelizmente, como acontece com vários grandes times, a Espanha sofreu uma considerável queda de rendimento a partir de 2013 e não apresentou o futebol vistoso de antes. A primeira mostra da virada nos tempos aconteceu na final da Copa das Confederações, quando os europeus estiveram irreconhecíveis no revés de 3 a 0 para o campeão e anfitrião Brasil. um ano depois, na Copa do Mundo, a Arena Fonte Nova foi o palco do iminente fim do tiki-taka quando a Espanha, favorita ao bicampeonato mundial e com a mesma base de 2010, foi goleada de maneira impiedosa e com requintes de crueldade para a Holanda, por 5 a 1, resultado que serviu como vingança para os laranjas pelo revés na África do Sul e que escancarou as fragilidades da equipe em campo – bem como a queda do rendimento de Xavi, o cérebro do time desde 2008, e de vários outros jogadores.

Casillas (à dir.) lamenta: era o fim da hegemonia.
Casillas (à dir.) lamenta: era o fim da hegemonia.

 

Antes do duelo seguinte, contra o Chile, Xabi Alonso e Fàbregas pediram publicamente para que Vicente Del Bosque abandonasse o tiki-taka para que a Espanha pudesse seguir viva no Mundial. Mas o treinador não abriu mão do estilo que o tornou um multicampeão e foi com ele para o Maracanã. Lá, o Chile venceu por 2 a 0 e decretou o fim simbólico da melhor Espanha de todos os tempos. A derrota eliminou precocemente o time europeu da Copa, que se uniu a várias outras seleções que também sucumbiram em um Mundial como detentoras do título.

No adeus ao Mundial, a Espanha venceu a Austrália por 3 a 0, em Curitiba, com os gols marcados por alguns personagens que fizeram o torcedor voltar no tempo e relembrar os bons tempos da Fúria: o primeiro foi de David Villa (de letra), o artilheiro espanhol na Copa de 2010. O segundo, de Torres, o herói do título da Eurocopa de 2008. E o terceiro, de Juan Mata, o mesmo que fechou a goleada de 4 a 0 sobre a Itália na decisão da Euro de 2012. Se poderia haver um fim menos melancólico, os espanhóis fizeram questão de fazê-lo.

 

Nos livros e na eternidade

Uma das escalações do time que fez o torcedor espanhol reaprender a torcer - Em pé: Casillas, Sergio Ramos, Arbeloa, Busquets, Piqué e Xabi Alonso. Agachados: Iniesta, Silva, Villa, Xavi e Jordi Alba.
Uma das escalações do time que fez o torcedor espanhol reaprender a torcer – Em pé: Casillas, Sergio Ramos, Arbeloa, Busquets, Piqué e Xabi Alonso. Agachados: Iniesta, Silva, Villa, Xavi e Jordi Alba.

 

Embora tenha tido um fim trágico, a Espanha de Casillas, Xavi, Iniesta, Xabi Alonso, Luís Aragonés e Vicente Del Bosque cravou seu nome na história como uma das equipes mais vencedoras e brilhantes de todos os tempos. Com uma predominância que há tempos não se via no futebol mundial, os espanhóis criaram uma nova maneira de jogar futebol e não repetiram os feitos de outros grandes esquadrões. Eles viraram referência e esculpiram uma aura própria, assim como o Uruguai dos anos 1920 e 1930, o Wunderteam da Áustria, a Hungria dos anos 1950, o Brasil de 1970 e a Holanda de 1974, algumas das seleções que escreveram seus nomes na história com maneiras revolucionárias e brilhantes de jogar bola. Como já escreveu a melhor Seleção Espanhola que já existiu. Uma Fúria que se fez mágica. E Imortal.

 

Os personagens:

Casillas: se consagrou como um dos maiores goleiros do mundo no século XXI e grande capitão da Espanha. Seus milagres tanto nas Eurocopas quanto na Copa do Mundo foram essenciais para as conquistas da equipe. caiu de rendimento a partir de 2013 e viveu pesadelos na Copa de 2014, quando teve uma atuação desastrosa no jogo contra a Holanda. Mesmo assim, é um ídolo no país e recordista em partidas pela seleção. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Sergio Ramos: foi um dos maiores laterais direitos do planeta entre 2008 e 2010 e migrou aos poucos para o miolo de zaga. Técnico, com ótima visão de jogo e impecável nos cruzamentos, foi um dos maiores símbolos da Espanha e de seu clube, o Real Madrid.

Arbeloa: o lateral-direito começou a ter mais chances na Espanha após as lesões de Puyol e a ida de Sergio Ramos para a zaga. Com isso, deu mais segurança ao setor defensivo e ajudou a Espanha a sofrer apenas um gol na campanha do título da Eurocopa de 2012. Foi muito bom na marcação, mas pecava no apoio ao ataque.

Piqué: começou a brilhar após a conquista da Eurocopa, ficando no lugar do zagueiro Marchena. Se tornou um elemento surpresa no ataque e marcou gols com certa regularidade. Sua presença física o ajudou muito nas jogadas aéreas. Foi perfeito na Copa de 2010 ao lado de seu companheiro de Barcelona na época, Puyol.

Marchena: foi titular na conquista da Eurocopa em 2008 e era o companheiro de Puyol até a chegada da revelação Piqué. Teve sua importância na conquista continental de 2008 fazendo ótimas partidas.

Puyol: um leão na zaga, seja no Barcelona, seja na Espanha. Extremamente competitivo e um líder natural, só não foi capitão da Espanha por ser tão identificado com o Barcelona e com a Catalunha, célebre região separatista do país. Mesmo assim, foi titular absoluto da Espanha. Ídolo incontestável no Barça supercampeão desse século XXI. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Capdevila: lateral-esquerdo extremamente regular e constante, Joan Capdevila foi o titular da equipe campeã da Europa e do Mundo nos anos de 2008 e 2010. Fez brilhantes temporadas pelo Villarreal até se transferir para o Benfica, em 2011.

Jordi Alba: o lateral-esquerdo cravou se espaço no time titular após uma brilhante Eurocopa em 2012, quando marcou gol e foi uma das principais armas de ataque do time. Rápido e habilidoso, despertou a atenção do Barcelona e foi para a Catalunha já naquele ano.

Sergio Busquets: assumiu a posição que era de Marcos Senna depois da Euro 2008 e não decepcionou. Ótimo no posicionamento e na marcação, Busquets foi o cão de guarda do time no Mundial.

Marcos Senna: o brasileiro naturalizado espanhol jogou muito na conquista da Eurocopa de 2008. O jogador superou a desconfiança da torcida espanhola por ser estrangeiro e conseguiu seu espaço no ótimo time espanhol naquela temporada. Perdeu espaço nas temporadas seguintes.

Jesús Navas: figurinha fácil nas convocações da seleção da Espanha no período e estrela no Sevilla, Navas teve destaque com sua habilidade, dribles fáceis e na ligação do meio de campo ao ataque. Importante na Copa do Mundo de 2010 e na Euro de 2012.

Xabi Alonso: um dos grandes volantes do futebol mundial e ídolo no Real Madrid, Xabi Alonso quase virou vilão nas quartas de final da Copa, na partida contra o Paraguai, quando perdeu um pênalti no segundo tempo. Sorte dele que a Espanha correu atrás do prejuízo e venceu o jogo. Mas aquilo foi um susto. Alonso jogou muito na Copa, teve papel decisivo na conquista e foi sublime no título da Euro de 2012.

Cesc Fàbregas: foi titular na Eurocopa de 2008 e reserva de luxo no time da Copa de 2010. Extremamente técnico, habilidoso, com ótima visão de jogo e marcador de gols, Fàbregas deu o passe para o gol de Iniesta na final contra a Holanda. Teve enorme importância tática durante a Euro de 2012 e virou uma das grandes armas do técnico Del Bosque.

Juan Mata: meia de toques rápidos, bom controle de bola e bons lançamentos, Mata foi outro que passou a ter mais espaço com Del Bosque a partir de 2012. Brilhou no Valencia e no Chelsea, onde venceu uma Liga dos Campeões.

Iniesta: Andrés Iniesta adora marcar gols nos últimos minutos. Os maiores exemplos são os tentos na semifinal da Liga dos Campeões da UEFA de 2009, ao empatar para o Barcelona um jogo perdido contra o Chelsea que colocou os catalães na final, e na decisão da Copa de 2010, quando entrou de vez para o rol de imortais do futebol ao marcar o gol do título espanhol. Iniesta é um dos maiores jogadores do mundo há anos, seja como meia, volante ou meia de ligação. Foi um motor no meio campo do Barcelona e também da Espanha naqueles anos de ouro, além de ter sido um dos três melhores jogadores do mundo em 2010.

Xavi: já entrou para a história como um dos maiores meio-campistas de todos os tempos. Pelos seus pés passaram todas as principais jogadas que fizeram da Espanha a multicampeã que foi entre 2008 e 2012. Perito em passes magistrais e lançamentos inacreditáveis, Xavi cansou de dar gols de presente para Villa e companhia nas conquistas das Euros e da Copa do Mundo. Sua queda natural de rendimento refletiu consideravelmente no desempenho da própria Espanha e também do Barcelona, onde virou um ícone dos tempos dourados do clube catalão (basta lembrar a ajeitada de bola do craque na final do Mundial de Clubes de 2011, que resultou em um passe para Messi abrir o placar contra o Santos). Xavi foi simplesmente genial. E um imortal que dispensa qualquer comentário.

Pedro: arisco e muito rápido, Pedro foi o parceiro de Villa em boa parte da Copa do Mundo de 2010. A falta de experiência pesou quando era hora de decidir, por isso, coube ao parceiro marcar os tentos espanhóis na competição. Mesmo assim, fez seu papel.

David Silva: outro meia/atacante habilidoso da Espanha, Silva foi mais decisivo nas Eurocopas. Na Copa de 2010, perdeu espaço. Mesmo assim, é um dos grandes jogadores da seleção até hoje.

Villa: foi na era mais brilhante da Espanha que Villa também viveu seu auge. O atacante se tornou a maior referência no ataque da Fúria nas conquistas da Euro de 2008 e da Copa de 2010, além de superar Raúl González e se tornar o maior artilheiro da história da seleção, com 59 gols. Sofreu seguidas lesões após o Mundial e acabou perdendo espaço no time de Del Bosque.

Fernando Torres: brilhou na conquista da Eurocopa de 2008, quando marcou o gol do título da Fúria. Era o ídolo da seleção no ataque até entrar em uma maré negra tremenda e perder espaço para Villa. Seguiu nas listas de Del Bosque, mas o faro de artilheiro de antes diminuiu consideravelmente.

Luis Aragonés e Vicente Del Bosque (Técnicos): Aragonés foi o responsável por “plantar a semente” vencedora na Espanha, em 2008, ao conquistar a Eurocopa. Sob o comando do técnico, a Fúria brilhou, começou a dominar as partidas e estabeleceu um padrão incrível de jogo, que dura até hoje. Vicente Del Bosque conseguiu melhorar o que já era bom, quebrou recordes com uma seleção que não perdia e venceu a inédita Copa do Mundo em 2010, além da Eurocopa de 2012. Ambos estão para sempre na história do país como imortais. E personagens fundamentais para o sucesso do futebol espanhol.

 

 

O capitão Casillas e suas taças: uma imagem que cala qualquer crítico.
O capitão Casillas e suas taças (Euro-2008, Copa do Mundo-2010 e Euro-2012): uma imagem que cala qualquer crítico. E confirma a imortalidade espanhola.

 

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Comentários encerrados

7 Comentários

  1. Acho que você deveria colocar nos extras da página um vídeo da final da Euro 2012 contra a Itália. Aquela foi a performance suprema e definidora daquele time, calando todos os críticos, e mostrando o que eles eram capazes. Todo mundo se rendeu ao futebol espanhol depois desse jogo, uma partida em que eles entraram determinados a provar que podiam ganhar sem ser chatos e jogando um futebol incisivo, uma crítica que eles estavam recebendo naquela Euro. Foi a performance emblemática desse time e para a eternidade do futebol do mesmo jeito que Holanda 2 x 0 Uruguai em 74 e Brasil 4 x 1 Itália em 70.

  2. Grande time, composto de grandes jogadores. Desculpem se estou sendo corneta neste post, mas os jogadores da Espanha não pecavam no quesito reação dentro de um mesmo jogo? Vejam o Iniesta, ao meu ver, ele só jogava bem quando a Espanha abria o placar. Se dependesse dele uma reação, dentro de um mesmo jogo, seria muito difícil de acontecer. Só uma constatação, no mais, excelente texto, como sempre. Parabéns ao Imortais do Futebol.

    Ps.: Ainda estou lendo o livro sobre a Copa do Mundo, muito bom!

  3. Essa seleção da Espanha encantou (e ainda encanta!) o planeta com o seu futebol mágico, inovador e, sobretudo, vencedor. Os grandes craques que lá estão foram responsáveis por reverter uma fama negativa que a seleção espanhola possuía, aparecendo, sempre, como “amarelona”.

    Vale destacar a contribuição significativa de Pep Guardiola, que introduziu o estilo “Tik-taka” no Barcelona e serviu de inspiração para a seleção, cujo elenco era recheado por jogadores blaugranas. Alguns deles, como Xavi e Iniesta, já podem ser considerados como alguns dos maiores de todos os tempos, em virtude de sua genialidade e capacidade de mudar situação quase imodificáveis!

    Ótimo texto. Continue com esse excepcional site!

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Esquadrão Imortal – Internacional 2006-2008