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Seleções Imortais – Dinamarca 1992-1995

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Em pé: Schmeichel, Olsen, Jensen, Sivebӕk, Piechnik e Christofte. Agachados: Povlsen, Brian Laudrup, Nielsen, Larsen e Vilfort.

 

Grandes feitos: Campeã da Eurocopa em 1992 e Campeã da Copa das Confederações em 1995.

Time base: Schmeichel; Olsen, Piechnik e Kent Nielsen; Sivebaek, Jensen (Michael Laudrup), Larsen, Vilfort e Christofte; Brian Laudrup e Povlsen (Rasmussen). Técnico: Richard Nielsen.

“Autêntica Dinamáquina”

Por Guilherme Diniz

Na década de 1980, a Dinamarca encantou o mundo com apresentações incríveis na primeira fase da Copa de 1986. O time venceu os três jogos jogando bem e batendo a Alemanha e o Uruguai, este com um acachapante 6 a 1. Porém, de maneira inexplicável, o time que ficou conhecido como “Dinamáquina” foi goleado logo nas oitavas de final pela Espanha de Butragueño por 5 a 1, com 4 gols do craque espanhol. Os anos se passaram e a Dinamarca voltou a aprontar, dessa vez em 1992. O time conseguiu a maior façanha de sua história ao conquistar a Eurocopa, revelando novas estrelas como o incrível goleiro Schmeichel e o habilidoso atacante Brian Laudrup, irmão da lenda Michael Laudrup. Três anos depois, mais um título: a Copa das Confederações. Seria a Dinamarca uma das favoritas para a Copa de 1998? Seria, não fosse o Brasil de Rivaldo e Ronaldo, que a eliminou nas quartas de final por 3 a 2. Era o ponto final da melhor Dinamarca já formada. E pensar que eles nem sequer iriam disputar a Eurocopa de 1992… É hora de relembrar.

 

Reformulação

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Depois de um curto, porém marcante, brilho na Copa de 1986, a Dinamarca colecionou fracassos nos anos seguintes. O pior momento foi não conseguir classificação para a Copa de 1990, que culminou com a demissão do então técnico Sepp Piontek, que deu lugar ao seu auxiliar, Richard Nielsen.

 

A chance da redenção

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Nielsen começou a mudar a Dinamarca já em 1990, visando à classificação para a Eurocopa de 1992. O time dinamarquês começou sua caminhada nas Eliminatórias com goleada: 4 a 1 sobre as Ilhas Faroe. Nas partidas seguintes, empate em 1 a 1 contra a Irlanda do Norte e derrota por 2 a 0 para a forte Iugoslávia. O revés seria o último na fase eliminatória, já que os comandados de Nielsen engataram cinco vitórias consecutivas: 2 a 1 sobre a mesma Iugoslávia, 2 a 1 sobre a Áustria, 4 a 0 sobre as Ilhas Faroé, 3 a 0 sobre a Áustria e 2 a 1 sobre a Irlanda do Norte. Mesmo com apenas uma derrota, os dinamarqueses ficaram atrás da Iugoslávia na classificação e foram eliminados. Mas a história começou a mudar em pouco tempo. Por conta da Guerra Civil que assolava a Iugoslávia na época, o país foi banido de torneios de futebol no dia 31 de maio de 1992. Com isso, a vaga do Grupo 4 ficou com a equipe dinamarquesa, que ganhou o direito de disputar a fase final da Euro, na Suécia.

 

Caminhada rumo à glória

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Com a vaga “de graça”, a Dinamarca aproveitou a chance de ouro para não fazer feio. Sem Michael Laudrup, que deixou a seleção por conta de desavenças técnicas e táticas com o treinador da seleção, a equipe vermelha se apoiou no talento do irmão de Michael, Brian, além da forte zaga capitaneada pelo goleirão Schmeichel, para brilhar. A estreia na Euro foi contra a Inglaterra, em jogo sem gols: 0 a 0. A partida seguinte foi contra os donos da casa, e a Dinamarca perdeu por 1 a 0 para a Suécia. O time tinha que vencer a grande França de Amoros, Blanc, Deschamps, Boli, Cantona e Papin para seguir na competição. E venceu. Larsen abriu o placar para a Dinamarca no começo do primeiro tempo, mas Papin empatou para a França no segundo. Perto do final de jogo, o reserva Elstrup fez o segundo gol que garantiu a classificação dos dinamarqueses e que eliminou a França, que não venceu nenhum dos três jogos. Era hora da semifinal.

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Classificação épica

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A Dinamarca teve pela frente a atual campeã europeia, a Holanda, que tinha a mesma base campeã de 1988: Koeman, Rijkaard, Van Breukelen, Wouters, Gullit, Van Basten e os novatos Frank de Boer e Bergkamp. Um timaço. Mas a Dinamarca não se intimidou e tratou de fazer jogo duro contra os laranjas. Larsen abriu o placar para os vermelhos aos cinco minutos. Aos 23´, Bergkamp empatou. Dez minutos depois, Larsen fez mais um. No segundo tempo, a quatro minutos do fim, Rijkaard empatou para a Holanda, levando a decisão para os pênaltis. A Dinamarca deu uma aula de como bater penalidades e converteu todas as cobranças. Do lado holandês, Van Basten desperdiçou ao ver o goleirão Schmeichel defender seu chute, fechando o placar em 5 a 4 para a Dinamarca: os vermelhos estavam na final de maneira surpreendente. O adversário seria a atual campeã do mundo: a Alemanha.

A Dinamarca campeã da Europa: como muitas seleções da época, a equipe jogava no 3-5-2, mas contava com muita força ofensiva.

 

Feito histórico

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A cidade de Gotemburgo viu um dos grandes embates daquela época entre Dinamarca e Alemanha. Os alemães estavam cheios de pompa por terem eliminado os donos da casa em uma partida alucinante, com vitória por 3 a 2. Com algumas das estrelas que ajudaram a equipe a brilhar na Copa da Itália em 1990 como Brehme, Kohler, Hässler e Klinsmann, o time era favorito. Mas eles nunca poderiam menosprezar a Dinamarca, que tinha em Laudrup e Larsen os trunfos para conquistar o título. Mas, quem diria, eles não marcaram na final. Os protagonistas foram Jensen, aos 18´, e Vilfort, aos 78´, que deram a vitória por 2 a 0 aos vermelhos, que conquistaram pela primeira vez em sua história um título de expressão: a Eurocopa.

Foi, até o título da Grécia em 2004, a maior zebra da história da Euro. Ninguém esperava que os campeões mundiais pudessem perder para uma equipe inexpressiva até então como a Dinamarca. Mas os comandados de Nielsen mostraram muita qualidade tática, técnica e defensiva, aliados à criatividade de Laudrup no ataque.

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Decepção e volta por cima

Campeã europeia, a Dinamarca contava muito com a participação na Copa do Mundo de 1994. Porém, os vermelhos não conseguiram se classificar, completando 8 anos de ausência em um Mundial. Porém, em 1995, eles tiveram uma nova chance de se redimir na disputa da Copa das Confederações, na Arábia Saudita, que reunia as seleções campeãs continentais mais o país-sede. Na época, o campeão mundial ainda não participava do torneio.

 

Em busca de mais um título

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Contando com a volta de Michael Laudrup, a Dinamarca pôde reviver a formidável dupla de irmãos na Copa das Confederações. Na primeira fase, vitória por 2 a 0 sobre os anfitriões, com gols de Brian Laudrup e Wieghorst, e empate em 1 a 1 contra o México. O jogo foi decidido nos pênaltis, com vitória dos dinamarqueses por 4 a 2. Com a primeira colocação no triangular, a Dinamarca estava na final. O adversário seria a Argentina.

 

Novo título

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A Dinamarca teve mais um duro teste pela frente ao enfrentar a Argentina de Ayala, Chamot, Zanetti, Ortega, Batistuta, Crespo e Lopez. Porém, o time novamente se impôs e venceu por 2 a 0, gols de Michael Laudrup e Rasmussen. Era o ápice do time europeu, que conquistava seu segundo título em apenas 3 anos. Porém, aquele seria o último grande momento da Dinamáquina.

 

O fim da melhor Dinamarca de todas

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Depois de ir mal na Eurocopa de 1996, o técnico Nielsen foi demitido, dando lugar ao sueco Bo Johansson. Ele conduziu os dinamarqueses à tão sonhada Copa do Mundo de 1998. O time avançou até as quartas de final, mas sucumbiu diante do forte Brasil por 3 a 2. Terminava ali a trajetória da melhor Dinamarca de todas, que teve o apogeu dos irmãos Laudrup, a segurança do goleiro Schmeichel, tido como um dos melhores da história do futebol, e do bem montado sistema defensivo. Responsável por uma grande zebra na Eurocopa de 1992, aquela Dinamarca trouxe alegrias imensas a um país nada tradicional no esporte. Mas que, durante mais de três anos, acompanhou e torceu como nunca pela sua seleção: a autêntica e vencedora Dinamáquina.

 

Os personagens:

Schmeichel: um dos maiores goleiros da história do futebol mundial, Peter Schmeichel viveu seu auge na seleção e no Manchester United, da Inglaterra. Impunha medo nos atacantes por sua presença física e por sua segurança no gol. Fazia defesas espetaculares e raramente levava gols. Foi peça fundamental na conquista da Eurocopa de 1992. Venceu, também, todos os títulos possíveis com o Manchester, entre eles um Mundial Interclubes (sobre o Palmeiras-BRA) e uma Liga dos Campeões da UEFA (sobre o Bayern München), ambos em 1999. É o recordista de partidas oficiais pela Dinamarca: 129 jogos. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Kent Nielsen: zagueiro e volante de muita qualidade, Nielsen atuou de 1983 até 1992 na Dinamarca, integrando as duas gerações gloriosas da seleção.

Piechnik: zagueiro eficiente, jogou de 1991 até 1996 na seleção. Fez carreira nos clubes de seu próprio país, vencendo uma Copa da Dinamarca em 1996 pelo Aarhus.

Olsen: capitão da Dinamarca na conquista da Eurocopa, Lars Olsen foi um notável zagueiro. Disputou mais de 80 partidas pela seleção e fez carreira no Brondby, de seu país.

Sivebaek: outro que participou das duas gerações douradas da Dinamarca, em 1986 e 1992. Lateral direito, John Sivebaek jogou 87 partidas pela seleção e foi fundamental na segurança do setor direito da zaga do time.

Vilfort: foi o herói da conquista da Euro de 1992, ao marcar o segundo gol na vitória por 2 a 0 sobre a Alemanha. Ótimo meio-campista, Kim Vilfort foi eleito melhor jogador dinamarquês em 1991. Outro colecionador de títulos no Brondby, Vilfort viveu um drama pessoal antes, durante e depois daquela Euro por causa de sua filha, que estava com câncer e fazia um intenso tratamento na época. Ele chegou a abandonar a concentração do time durante a Eurocopa para visitar a filha, mas foi encorajado a retornar por sua família para seguir com o grupo. Deu certo, ele fez o gol do título e a Dinamarca foi campeã. Infelizmente, a filha de Vilfort acabou falecendo dias depois da conquista. O jogador se dedicou tempo depois ao trabalho em instituições de amparo ao câncer infantil.

Jensen: fez o primeiro gol da final contra a Alemanha na Euro 1992, mas foi algo raro em sua carreira, que teve pouquíssimos gols. Era mais de criar jogadas e ajudar na marcação. Foi ídolo no Arsenal mesmo não tendo marcado nenhum gol em 132 partidas.

Michael Laudrup: é considerado o maior jogador da história da Dinamarca por sua imensa habilidade, visão de jogo e maestria com a bola nos pés. Sua maior decepção, talvez, foi não ter participado justamente do maior título da história de seu país: a Euro de 1992, onde quem brilhou foi seu irmão, Brian. Michael fez história no Barcelona de 1989 até 1994, onde conquistou quase tudo o que disputou, fazendo uma dupla de ataque notória como búlgaro Stoichkov. Estrela e sempre com o ego lá em cima, Laudrup poderia ter sido uma das maiores lendas do futebol em todos os tempos se não fosse o seu gênio difícil. Leia mais sobre ele clicando aqui.

Christofte: polivalente, Kim Christofte foi um dos mais elegantes defensores daquela Dinamarca. Ajudou o time na conquista da Euro de 1992 com muita eficiência e segurança.

Povlsen: atacante, Povlsen brilhou na Dinamarca de 1987 até 1994, onde marcou 21 gols em 62 jogos. Foi peça importante na conquista da Euro de 1992. Foi estrela no Borussia Dortmund, da Alemanha.

Rasmussen: Peter Rasmussen jogou apenas 13 jogos pela seleção, mas foi em um desses que ele ajudou a equipe a vencer a Copa das Confederações de 1995, ao marcar um dos gols da vitória por 2 a 0 sobre a Argentina. Fez carreira no Aaborg, onde atuou em mais de 170 partidas e marcando 54 gols.

Brian Laudrup: outro grande nome de seu país, mais sereno e pé no chão que seu irmão mais velho, Brian esteve presente nas duas maiores conquistas da história da Dinamarca: a Euro de 1992 e a Copa das Confederações de 1995. Atacante de muita habilidade, brilhou principalmente no Rangers, da Escócia.

Larsen: foi o artilheiro da Dinamarca na Euro de 1992 e uma das estrelas da conquista, mesmo jogando no meio de campo. Atuou de 1989 até 1996 na seleção, participando de 39 partidas.

Richard Nielsen (Técnico): responsável pelas maiores conquistas da história da Dinamarca, Nielsen era polêmico e sempre criava rusgas com imprensa e jogadores, principalmente Michael Laudrup, que se ausentou da seleção justamente na Eurocopa de 1992. Adepto do futebol defensivo, mas também eficiente no ataque, Nielsen soube mesclar a juventude e a experiência de seus jogadores e construir uma equipe vencedora, que jamais será esquecida pelos torcedores.


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Comentários encerrados

7 Comentários

  1. Me emocionou muito uma história do Kim ViltorD que durante a Euro 92 foi embora duas vezes da concentração para ver sua filha com câncer. E foi mandado por ela as duas vezes para retornar e assim acabou fazendo um dos gols na final. Sua filha Morreu 5 semanas depois da conquista. Retratado no Filme “Verão de 92” e só encontrado também no Wikipédia inglês essa informação. Mas que me deixa muito emocionado.

  2. Só não concordo com a afirmação de que a Dinamarca “não possua tradição no Futebol”…!
    A Dinamarca tem tradição no Futebol, sim, e muita!

    Possui, além de tudo o que foi dito nessa matéria, três Bronzes olímpicos, conquistados em tempos nos quais o Torneio Olímpico de Futebol era uma verdadeira COPA DO MUNDO!

    No mais, parabéns!

Técnico Imortal – Vittorio Pozzo

Esquadrão Imortal – São Caetano 2000-2002